A FONOAUDIOLOGIA E AS DISFUNÇÕES DA ARTICULAÇÃO

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CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
MOTRICIDADE ORAL
A FONOAUDIOLOGIA E AS DISFUNÇÕES DA
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR
Stela Maris Szuminski
São Paulo
1999
RESUMO
Essa monografia é um estudo sobre a Articulação Temporomandibular
(ATM) e suas disfunções.
A ATM é uma articulação bilateral, complexa e com movimentos peculiares.
Este tema está sendo pauta de estudo por vários profissionais da área de saúde,
inclusive pelos fonoaudiólogos.
Neste trabalho descreveremos a ATM, sua anatomia, seus movimentos
normais e suas disfunções. Relatamos, ainda, a anamnese, avaliação,
diagnóstico, tratamento e encaminhamento a outros profissionais.
Procuramos discorrer sobre como cada profissional envolvido atua com
pacientes com Disfunções Temporomandibulares. Enfocamos, principalmente, de
que forma o trabalho fonoaudiológico pode ser realizado de modo benéfico e
positivo para com esses pacientes.
Pretendemos, com este estudo, mostrar aos fonoaudiólogos a importância
da saúde das ATMs para o bom funcionamento do Sistema Estomatognático.
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SUMMARY
This monography is a study about Temporomandibular Joint (TMJ) and its
disfunctions.
The temporomandibular Joint is a bilateral articulation, complex and with
pealiar movements.
This theme has been studied for many professionals of health area including
speech pathologiests.
In this work (study) we describe Temporomandibular Joint is, and its
anatomy, simple movements and its disfunctions. We also relate, anamnesis,
evaluation, treatment and the guide to other professionals.
We try to consider about how each professional envolved works with their
patients with Temporomandibular Joint Disfunctions. We enfocate, mainly how the
threatment can be done in a beneficial and positive way.
We intend with this study to show how the health of the Temporomandibular
Joint is important for the good function of the Sthomatognathic System.
3
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO
5
2.
ANATOMIA DAS ARTICULAÇÕES TEMPOROMANDIBULARES ( ATMs) 7
2.1
Definição
7
2.2
Componentes
9
2.3
Movimentos normais das Articulações Temporomandibulares
19
3.
DISFUNÇÕES DAS ARTICULAÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
21
4.
ANAMNESE
28
5.
AVALIAÇÃO
30
6.
DIAGNÓSTICO
33
7.
TRATAMENTO
34
8.
ENCAMINHAMENTO
43
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
43
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
46
4
INTRODUÇÃO
Ao analisarmos a evolução humana e o seu sistema estomatognático,
verificamos a ocorrência de profundas modificações no decorrer dos tempos.
Uma importante mudança surge na função da mastigação.
O homem primitivo era obrigado a fazer maior uso funcional do seu
aparelho mastigatório , pois sua alimentação era basicamente de alimentos rígidos
e não utilizavam utensílios domésticos para cortá-los. O aparelho mastigador era
arma de ataque e de defesa. O mesmo não ocorre na vida atual já que os
alimentos passam por fases preparatórias, apresentando-se, com mais freqüência,
em forma pastosa ou pré - triturados, tornando cada vez menos necessária a
trituração fisiológica. Com isso, o sistema mastigatório é cada vez menos utilizado,
causando uma decadência anatomofisiológica e aumentando as possibilidades de
perturbações e adaptações.
Bianchini (1998) relata que a mastigação é a única função estomatognática
consciente, corresponde à fase inicial do processo digestivo e é dependente de
inúmeros fatores.
A mastigação é iniciada aos sete meses, com a erupção dos primeiros
dentinhos, e continua até o fim da vida.
Marchesan (1993) acredita que a textura e a natureza dos alimentos têm
influência direta nas características mastigatórias e que se adaptam de acordo
com o tipo de alimento que introduzimos na boca.
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Para uma boa alimentação são necessários dentes sadios e dispostos de
forma regular. Existe uma crença de que com a idade avançada é normal a perda
dentária, que se inicia com o primeiro molar e ocasiona perda da dimensão vertical
posterior, além de distalizar a mandíbula. Este fator pode resultar em problemas
das Articulações Temporomandibulares (ATMs) (Marchesan, 1998).
O sistema estomatognático identifica um conjunto de estruturas que são:
ossos, maxilar e mandibular, articulações, dentes, músculos, ligamentos, língua,
lábios, espaços orgânicos, mucosas, vasos e nervos. Estas estruturas, atuando
em conjunto e controladas pelo Sistema Nervoso, realizam as funções
estomatognáticas que são: respiração, postura, sucção, mastigação, deglutição e
fala.
Todas essas funções têm como característica a participação do único osso
móvel do esqueleto crâniofacial, a Mandíbula (Bianchini, 1998).
A mastigação tem sua movimentação realizada através das ATMs e, por
isso, é importante a estabilidade e saúde destas articulações.
Atualmente, o estudo das Disfunções Temporomandibulares (DTMs) está
se tornando mais conhecido e de maior interesse entre os diversos profissionais
da áreas
afins, tais como: odontólogos, ortodontistas, fonoaudiólogos e
psicólogos. Alguns pacientes procuram o fonoaudiólogo em busca de uma solução
para seus problemas e existe, por parte destes profissionais, certa dificuldade com
relação ao tratamento das DTMs.
O trabalho teórico tem por objetivo auxiliar os fonoaudiólogos no estudo das
Articulações Temporomandibulares. Esperamos que, através desse estudo, os
6
profissionais compreendam melhor a anatomia, as funções e algumas disfunções
das ATMs.
Neste, procuramos enfocar sobre anamnese, diagnóstico, tratamento
multidisciplinar, tratamento fonoaudiológico e encaminhamento.
Portanto, esperamos que este estudo possa ser útil ao fonoaudiólogo que,
já em muitos casos, faz parte da equipe multidisciplinar.
2.-
ANATOMIA
DAS
ARTICULAÇÒES
TEMPOROMANDIBULARES
(ATMs).
2.1.- Definição
Tenório-Cabezas (1997) descreve que as
ATMs são elementos do
aparelho estomatognático constituídos por um sistema dinâmico e classificadas
como articulação ou diartrose. Seu mecanismo funcional é baseado nos princípios
de uma articulação côncava - convexo na qual, em cada articulação, existem duas
articulações: o compartimento superior e inferior e o disco que a divide entre o
osso temporal e o côndilo mandibular.
As ATMs ligam a mandíbula, que é o único osso móvel, ao osso temporal.
As ATMs possibilitam os movimentos da mandíbula como o de abrir, fechar,
lateralizar, protruir, retrair e os movimentos
movimentos da mastigação (Bianchini, 1998).
7
rotatórios que são os próprios
As ATMs não constituem uma articulação comum; pois, por se localizarem
uma em cada extremidade do osso da mandíbula, cada côndilo impõe limitações
de movimentos sobre o outro.
As ATMs têm movimentos próprios para cada lado, porém simultâneos. É
como se nós uníssemos as mãos direita e esquerda e, sem dobrar os punhos e
cotovelos, realizássemos movimentos com os membros superiores; a articulação
do ombro direito não se movimentaria sozinha; isto é, sem a movimentação da
articulação do ombro esquerdo.
Há uma relação de interdependência das ATMs com a oclusão dos dentes
de ambos os arcos, o que a torna especial e funcionalmente complexa (Madeira,
1999).
As
ATMs parecem ser o apoio de todas as questões relacionadas às
Disfunções Temporomandibulares (DTMs) (Rodrigues da Silva e Felício, 1994).
Para Cabezas (1997), a articulação superior localiza-se entre a fossa mandibular
do temporal, a eminência articular e o disco. A mesma apresenta um movimento
de deslocamento, onde se dá a translação.
A articulação inferior, por ser articulação giratória, apresenta movimento de
rotação.
No movimento de translação ocorre o deslizamento do côndilo ao longo da
cavidade condilar, até a eminência articular do osso temporal. No movimento de
rotação ocorre o giro do côndilo em torno do seu próprio eixo.
Bianchini (1998) comenta o trabalho de Savalle (1996), o qual descreve que
no movimento de lateroclusão, também conhecido como movimento de
lateralidade, os côndilos executam padrões motores diferentes. Se o movimento
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for para o lado direito, o côndilo direito realiza um pequeno movimento para fora e
um pequeno deslocamento para trás e para cima. O côndilo esquerdo desliza para
frente e para baixo e levemente em direção à linha mediana.
As ATMs diferenciam-se das outras articulações por não serem revestidas
de cartilagem hialina. Elas são revestidas por uma fina camada de tecido fibroso
avascular, sendo resistentes a compressão.
Todas as superfícies articulares e disco são recobertos por fibrocartilagem,
não possuindo sistema vásculo nervoso nas áreas que suportam pressão, como o
disco.
Bianchini (1998) , Junqueira (1990) e Madeira (1998) definiram as ATMs
como articulações duplas e bilaterais com movimentos próprios para cada lado,
porém sincronizados como as duas articulações, podendo ser consideradas como
uma única articulação.
De acordo com Rodrigues da Silva e Felício (1994), cada côndilo impõe
sobre o outro limitações de movimentos.
As ATMs estão posicionadas à frente do Meato Auditivo Externo e são
limitadas, anteriormente, pelo processo articular do osso zigomático.
2.2 - Componentes
Segundo Bianchini (1998), Junqueira (1990), Cabezas (1997) , Felício
(1994) e Madeira (1998), os componentes das ATMs são: Côndilo mandibular,
fossa mandibular, eminência articular, disco articular, cápsula articular, ligamentos,
membrana sinovial, vascularização, inervação temporomandibular e músculos.
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Os
ligamentos,
considerados
músculos,
componentes
das
cartilagem
ATMs,
uma
articular
vez
e
que
inervação
não
são
conseguem
desempenhar corretamente suas funções sem a coordenação integral de todos
seus elementos.
As articulações temporomandibulares estão relacionadas com as funções
do sistema estomatognático.
A mastigação, deglutição, fala e postura dependem da saúde, estabilidade
e função das ATMs.
Para melhor entendermos o funcionamento das ATMs, descrevemos, a
seguir, cada componente:
Côndilo Mandibular: É composto pela cabeça e pescoço. A parte superior
do côndilo é a superfície que articula, junto às ATMs, com a fossa do osso
temporal.
Ao abrir e fechar a boca, os dois côndilos formam um eixo comum,
funcionando como dobradiças de porta. Assim, nenhum movimento é unilateral e
todas as pressões sobre o côndilo devem ser acompanhadas por correta
coordenação muscular (Felício ,1994).
Disco Articular: Localiza-se entre as superfícies articulares e nele
encontramos fibras elásticas. Por ser formado por tecido conjuntivo denso fibroso
é menos suscetível ao desgaste e é mais fácil de se regenerar.
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Tem como funções: Melhor adaptação entre os ossos, evitando o contato
dessas estruturas ósseas; estabilizar o côndilo na cavidade glenóide e permitir a
amplitude e regulação dos movimentos.
Cápsula Articular: É formada por tecido conjuntivo denso e envolve toda a
articulação (Bianchini 1998)
Fossa Mandibular: É formada pela porção escamosa do osso temporal e
se localiza abaixo e na frente ao Meato Auditivo Externo (MAE). É limitada ao
meio, pela fissura escamotimpânica e, atrás, pelo tubérculo pós-glenóide do osso
temporal.
A porção timpânica do osso temporal encontra-se atrás da ATM e, com o
tubérculo pós-glenóide, evita um deslocamento posterior que pode causar
traumatismo nesta área.
Sua função é servir como receptor para o côndilo, quando aproxima a
mandíbula da maxila.
Membrana Sinovial: É uma fina camada de tecido conjuntivo que reveste
as superfícies das ATMs, especialmente nas regiões mais vascularizadas e
inervadas da zona retrodistal.
Este tecido produz o líquido sinovial, o qual é viscoso, nutritivo, lubrificante
e deslizante.
Quando a articulação encontra-se sob maior pressão e os números de
movimentos mandibulares se intensificam, há aumento da quantidade do líquido
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sinovial , promovendo lubrificação e nutrição a toda superfície da ATM, facilitando
os movimentos de uma superfície sobre a outra (Madeira,1998).
Ligamentos: São responsáveis pela limitação e restrição dos movimentos
articulares
e
são
denominados:
ligamento
capsular,
colaterais,
temporomandibulares e estilomandibular. Protegem a placa timpânica, os tecidos
moles e evitam o deslocamento do côndilo para fora da eminência articular.
Vascularização e Inervação Temporomandibular:
As
ATMs
são
vascularizadas através da circulação colateral. Possui terminações de Paccini,
terminações livres e receptores de Golgi e Paccini, sendo responsáveis pela
percepção de movimentos e pressão firme, condição, posição, movimento,
comprimento muscular e tensão.
Para haver harmonia no Sistema Estomatognático, há necessidade de que
ambos os côndilos estejam alinhados adequadamente com seus discos e o
conjunto côndilo-disco esteja posicionado na fossa glenóide em relação cêntrica.
As
ATMs
são revestidas por fibrocartilagem, que proporciona grande
capacidade de reparação. Portanto, provoca modificações em suas superfícies
articulares , em razão das necessidades ou possibilidades funcionais.
As
ATMs de um recém- nascido são bastante planas; sua morfologia
define-se entre 7 e 10 anos de idade (Douglas ,1994).
Existem autores que defendem a teoria de que a forma final é estabelecida
após o surto puberal de crescimento e com a presença de todos os dentes
permanentes.
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Outros autores, segundo Bianchini (1998), acreditam que as
ATMs
chegam a sua morfologia final após a erupção do 3 molar permanente.
Dentre as espécies animais podemos verificar a relação anatômica das
ATMs com suas funções . Nos estudos de Douglas (1994), os movimentos
mandibulares são determinados pelo deslizamento do côndilo dentro da cavidade
condilar e variam de acordo com a conformação anatômica da articulação.
Com isso, os herbívoros ou ruminantes, por possuírem cavidade condilar
ampla e plana, exercem deslizamento lateral do côndilo.
Os roedores possuem cavidade condilar estreita e alongada no sentido
ântero-posterior, exercendo movimento condilar neste sentido.
Os carnívoros possuem articulações como dobradiças, com cavidade
condilar profunda, apresentando movimento condilar de rotação.
Os humanos possuem cavidade condilar ampla no sentido lateral e ânteroposterior e relativamente profunda, combinando as três descrições anteriores.
Dessa forma efetuam movimentos de rotação, translação e deslizamento.
Músculos : Para entendermos as funções das ATMs, é importante
conhecermos os músculos.
Todos os músculos que se inserem na mandíbula têm influência nos seus
movimentos e posições. Fazem parte de dois grupos: os matigatórios ou
elevadores da mandíbula e os músculos supra-hioideos ou abaixadores da
mandíbula.
Dos músculos abaixadores da mandíbula somente o músculo estilohioideo
não atua diretamente sobre a mandíbula; mas, indiretamente, influenciando
13
nesses movimentos junto com os músculos infrahioideos, na estabilidade do osso
hióide.
Os músculos da mandíbula agem nela própria.
Músculos da mastigação
Marchesan (1993) define os músculos mastigatórios como elementos ativos
e dinâmicos do Sistema Estomatognático. Movimentam a mandíbula em diversos
sentidos, dependendo das características de inserção e orientação de suas fibras.
Para Ash, Ranfjord e Schmidseder (1998), os músculos mastigatórios
apresentam funções complexas e integradas.
Junqueira (1990) acredita que estes músculos, junto com os músculos
suprahioideos, atuam em grupos com os músculos do corpo, não sendo unidades
individuais.
Os músculos mastigatórios elevadores da mandíbula são: Masseter,
Temporal e Pterigoideo Medial. Têm como objetivo e função básica a elevação da
mandíbula e também participam de outros movimentos mandibulares (Marchesan,
1993 e Junqueira, 1990).
Os músculos mastigatórios depressores da mandíbula são: Pterigoideo
Lateral, Digástrico, Geniohioideo e Milohioideo. Têm como função básica deprimir
ou abaixar a mandíbula.
Segundo Bianchini (1998) existem terminologias diferentes para definição
de músculo mastigatório e de músculo da mastigação.
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Os músculos mastigatórios são os que realizam movimentos mandibulares.
São eles: Temporal, Masseter, Pterigoideo Lateral, Pterigoideo Medial e ventre
anterior do Digástrico.
Os músculos da mastigação são os que participam da função ou processo
mastigatório e são todos os músculos mastigatórios, os suprahioideos, os
infrahioideos, os quais estabilizam o osso hióide, a musculatura da língua,
bucinador e musculatura da mímica facial.
Segundo Bianchini (1998), Rodrigues da Silva (1994) e Felício (1994), as
ATMs apresentam seus movimentos de rotação, translação e rotação-translação
combinados, propiciados pelos músculos da mastigação e suprahioideos, nos
quais o conjunto côndilo-disco deve trabalhar em harmonia.
Podemos considerar que todos os músculos atuam em conjunto,
necessitando de contrações musculares de alguns e relaxamento de outros.
Faremos uma descrição simplificada dos músculos.
•
Músculo
Masseter: É um músculo curto e volumoso. É dividido em parte
superficial e profunda.
Ele é o mais superficial dos músculos mastigadores. É uma lâmina retangular
que vai do Arco Zigomático até a face externa do ramo da mandíbula (Junqueira,
1990).
Sua função é de potente elevador da mandíbula, aproximando-a do maxilar
e exercendo pressão sobre os dentes, principalmente nos molares.
Para Ash, Ramfjord, Schmidseder (1998) e Marchesan (1993), devido às
partes superficial e profunda, o masseter não é só responsável pela mastigação
vigorosa; é ativo na lateralidade e projeção anterior da mandíbula.
15
Para esses autores, o músculo masseter é freqüentemente o local de dor
durante as disfunções das ATMs / muscular. Junto com o músculo temporal, o
masseter
reflete, geralmente,
parafunção (bruxismo) por ser sensível
à
palpação.
•
Músculo Temporal: Em forma de leque, origina-se numa extensa área da face
lateral do crânio.
É um músculo que “corre “ da linha temporal inferior e da fossa temporal do
crânio para o processo muscular da mandíbula. Tem três ramos: anterior, médio e
posterior, que distinguem-se na direção das fibras e funções.
A função do músculo temporal na elevação da mandíbula é a de posicionála e puxá-la para trás. Este músculo é fundamental na determinação do tônus
muscular em repouso. Além da elevação da mandíbula, contrai os feixes
anteriores na abertura máxima e os feixes posteriores na retração ou retrusão
mandibular. Age, também, no deslocamento contralateral.
•
Músculo Pterigoideo Medial:
Está localizado na superfície medial da
mandíbula, sendo um complemento do músculo masseter funcionalmente.
Algumas fibras deste músculo entrelaçam-se com as fibras do masseter,
sendo sua estrutura composta de um arranjo muscular e tendinoso, permitindo um
aumento da força muscular. Podemos dizer que ele é sinérgico ao masseter.
Sua principal função é de elevação da mandíbula; mas, em ação sinérgica
com o pterigoideo lateral, é ativo no posicionamento lateral da mandíbula.
Em conjunto com o masseter, o pterigoideo medial atua na protrusão e
lateralidade da mandíbula, estando a boca fechada.
Nas DTMs / muscular este músculo é sensível à palpação.
16
•
Músculo Pterigoideo Lateral: Está localizado na fossa infratemporal e é dividido
em feixe superior e feixe inferior.
O feixe superior “corre “ paralelo à fossa infratemporal, inserindo no
menisco articular e atuando na estabilização do movimento de fechar a boca e
ranger os dentes. Ele atua no fechamento mandibular, estabilizando a articulação
e dentro da eminência articular, direcionando a força da mastigação.
O feixe inferior é mais externo e suas fibras “correm “ em sentido oblíquo ao
plano sagital, inserindo no colo do côndilo na porção anterior.
Este feixe é responsável pela abertura, protrusão, deglutição, ranger dos
dentes e retrusão passiva.
As fibras musculares superiores e inferiores entrelaçam-se com as fibras do
músculo pterigoideo medial e com as fibras do músculo temporal.
A função deste músculo é abertura, protrusão
e lateralização da
mandíbula.
A lateralidade mandibular é conseguida pela contração muscular unilateral
do lado oposto ao movimento.
Este músculo leva a cabeça da mandíbula e o disco articular para diante,
para baixo e para dentro, ao longo do plano inclinado posterior da eminência
articular.
•
Músculos Suprahioideos: São os digástrico, geniohioídeo, milohioideo e
estilohioideo. Situam-se entre o crânio, a mandíbula e o osso hióide.
Sua função é elevar o osso hióide e a laringe, ou abaixar a mandíbula.
Qualquer movimento deste músculo depende da ação de outros.
17
Se a mandíbula estiver fixada, pela ação dos músculos temporal e
pterigoideo medial, os músculos suprahioideos elevarão o osso hióide e a laringe.
Por outro lado; se o hióide estiver imobilizado pela contração dos músculos
infrahioideos e suprahioideos, estes últimos abaixam e retraem a mandíbula.
•
Músculo Digástrico: É um músculo suprahioideo composto pelo feixe
anterior e feixe posterior, que estão unidos por um tendão inserido ao osso hióide,
atuando como puxador.
O tendão não se une diretamente ao osso hióide; ele é circundado por uma
alça de fáscia muscular, permitindo que o tendão deslize pela alça durante os
movimentos funcionais da mandíbula.
Ambos os feixes do digástrico são ativados durante a abertura, protrusão,
retrusão e lateralização mandibular. Deve-se salientar que na abertura da boca, o
que inicia o movimento é o pterigoideo lateral, seguido pelo digástrico.
Sua principal função é estabilizar o osso hióide e auxiliar na abertura da
boca. É um músculo sensível a palpação nas DTMs muscular.
•
Músculo Geniohioideo: Localiza-se na porção mediana do músculo
milohioideo, da espinha
mentoniana ao corpo do osso hióide. Sua função é
promover depressão da mandíbula, puxar o osso hióide para cima, quando a boca
está fechada, diminuindo o soalho bucal, facilitando a deglutição e a retração da
mandíbula.
•
Músculo Milohioideo: Forma, com seu homônimo do lado oposto, o soalho
muscular da cavidade bucal.
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Insere-se em três pontos : na face interna do corpo da mandíbula; no osso
hióide em uma rafe fibrosa mediana que vai da espinha mentoniana ao osso
hióide.
É composto pelo feixe posterior e anterior.
A porção posterior dirige verticalmente da mandíbula ao hióide.
A porção anterior quando contraída, eleva o soalho bucal e a língua,
favorece a deglutição quando puxa o osso hióide para cima e deprime a
mandíbula quando o osso hióide está fixado.
•
Músculo Estilohioideo: É um músculo fino e cilíndrico que converge, junto
ao ventre posterior do músculo digástrico, para baixo e para frente.
Sua função é elevar e retrair o osso hióide e também fixá-lo junto aos outros
músculos.
2.3 - Movimentos Normais das Articulações Temporomandibulares
Para
estudarmos
as
Disfunções
Temporomandibulares
(DTMs)
é
importante termos conhecimento sobre os movimentos normais das ATMs.
Segundo Tenório Cabezas (1997) , Ash, Ramfjord e Schmidseder (1998),
as
ATMs são conhecidas como articulações ginglimoartrodistais. Realizam
movimentos de “dobradiças “e “deslocamento “.
Para Felício (1994) os dois côndilos formam um eixo comum, funcionando
como dobradiças de uma porta; pois assim, nenhum movimento será unilateral.
19
As ATMs apresentam movimentos de rotação e translação, propiciados
pelos músculos da mastigação e suprahioideos, os quais o conjunto côndilo-disco
devem trabalhar harmoniosamente.
Para simplificar seu mecanismo, Tenório-Cabezas (1998) dividiram
a
articulação em duas:
a) Articulação Inferior: Constituída pelo côndilo e disco articular, inseridos
por ligamentos onde ocorre o movimento de rotação.
b) Articulação Superior: Formada pelo complexo côndilo-disco articulando
com a fossa mandibular; ocorrendo o movimento de translação.
Nos trabalhos de Felício (1994) e Bianchini (1998), no início da abertura
da boca o côndilo realiza rotação e não sai da cavidade condilar .Na abertura
final, o côndilo realiza o movimento de translação , continua rodando e translada
até a eminência articular. O côndilo movimenta-se para frente e para baixo. No
fechamento da boca a mandíbula é puxada para trás, o côndilo é puxado para
cima e mantido contra a eminência. Quando a mandíbula faz a lateralização ( por
exemplo, à direita, sendo este o lado do trabalho), o côndilo direito realiza rotação
sobre seu eixo horizontal, translação para o lado de fora e rotação sobre seu eixo
vertical. Ao mesmo tempo, o côndilo do lado esquerdo (o do balanceio) realiza
movimentos de translação para a frente, para baixo e para dentro.
Okenson (1997) relata que o côndilo articula na zona intermediária do disco
e é mantido nesta posição pela pressão interarticular constante, causada pelos
músculos elevadores da mandíbula (masseter, temporal, pterigoideo medial) e
pelos ligamentos articulares.
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Sempre uma pressão é mantida para prevenir separações das superfícies
articulares. Se o contato entre elas for perdido, há possibilidade de deslocamento.
Felício (1994) define a teoria de que todas as pressões sobre o côndilo são
acompanhadas por uma correta coordenação muscular e não devemos exceder
aos limites dos movimentos.
3- DISFUNÇÕES DAS ARTICULAÇÒES TEMPOROMANDIBULARES
As ATMs são responsáveis pelos movimentos mandibulares, associados à
ação dos músculos mastigatórios. A liberdade dos movimentos mandibulares
possibilita as funções de respiração e postura, sucção, mastigação, deglutição,
fala e produção da voz.
Uma desordem na harmonia do sistema estomatognático pode provocar
uma Disfunção Temporomandibular, em que os músculos e as articulações não
trabalham harmonicamente, causando comprometimentos musculares como:
espasmo, tensão, dor e comprometimento das estruturas ósseas (TenórioCabezas , 1997).
As disfunções das ATMs manifestam-se através de sinais e sintomas. A
dor é o sintoma mais comum; dor nas ATMs, nos músculos mastigatórios e na
região auricular.
Outras
manifestações
ruídos
na
movimentação
mandibular,
que
apresentam-se como estalos que é uma incongruência disco-côndilo e crepitações
(ruído de areia); limitações na abertura bucal; desvios mandibulares na fala, na
deglutição, na mastigação ou simplesmente na abertura e fechamento bucal;
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alterações nas funções mastigatórias e zumbidos ou sensação de ouvido tapado,
também fazem parte de um quadro de Disfunções Temporomandibulares. (
Bianchini ,1998).
Para Procópio (1992), é grande a incidência das DTMs que acometem o
sistema estomatognático.
Bianchini (1998) relata que as DTMs trazem limitações ao trabalho
fonoaudiológico, dificultando a adequação das funções estomatognáticas.
Ash, Ramfjord, Schmidseder (1998), Bianchini (1998), Junqueira (1990),
Procópio (1992), Paiva e Vieira (1998) e Felício (1994) , acreditam que as DTMs
são de etiologia multifatorial, não existindo causa única, podendo ser causadas
por problemas oclusais, estresse, hábitos parafuncionais, alterações musculares,
problemas psicológicos e há predomínio em mulheres com idades entre 25-40
anos.
Por muitos anos, acreditou-se que existia apenas uma única causa para as
DTMs; seria a má oclusão ou o estresse ou o desgaste dos músculos.
Paiva e Vieira (1996) relatam que o desequilíbrio oclusal pode acarretar um
desdobramento da atividade muscular. Tal fato desencadeia uma fadiga e diminui
a eficiência mastigatória, que é um dos fatores etiológicos potenciais das mialgias.
Os autores mencionam que Ahlgren (1982) relatou que, durante a
mastigação normal, os músculos elevadores e depressores da mandíbula atuam
sinergicamente, dando a cada ciclo mastigatório características harmônicas, que
quando quebradas podem levar às DTMs.
22
Hoje, através de estudos, acredita-se que as DTMs incluem várias
condições relacionadas à mandíbula, causadas por multifatores e necessitando
de diferentes tratamentos( Junqueira 1990, Okeson 1998, Bianchini 1998).
Okeson (1998), Ash (1998), Ramfjor (1998) e Schmidseder (1998)
descrevem dois tipos de dor relacionados à dor de ATM:
A
dor crônica,
persistente por mais de seis meses, que se inicia devagar ao longo da patologia e
a dor aguda, iniciada subitamente.
Como já relacionamos, além da má oclusão, estresse
e
desgastes
musculares, vários outros fatores podem ocasionar o desequilíbrio das ATMs.
Podem, ainda, causar prejuízo ao Sistema Estomatognático os seguintes
fatores: problemas degenerativos(artrite, distonia,
múltipla) ;
osteoporose e esclerose
traumas na articulação causados por acidentes de trânsito ou
esportivos; alterações esqueléticas; problemas oclusais (os quais durante toda a
vida do indivíduo estão em freqüentes modificações por perdas ou desgastes
dentários, cáries, próteses mal-adaptadas e restaurações dentárias inadequadas)
e Radioterapia (Bianchini ,1998).
Os fatores emocionais trazem alimentos da atividade muscular através da
tensão, gerando espasmo, fadiga muscular e prejudicando a harmonia do sistema.
Hoje
em
dia,
o
aspecto
psicológico
influencia
no
aparecimento,
desenvolvimento e manutenção das DTMs, principalmente em indivíduos que
vivem em
grandes centros urbanos, onde o estresse e a competição estão
sempre presentes (Procópio , 1992).
23
Acredita-se que a dor crônica, decorrente das DTMs, produz um impacto
na
vida
do
paciente
e
no
desenvolvimento
de
comportamentos
doentios(Junqueira, 1990; Schmidseder, 1998 e Okeson, 1997).
Como uma das últimas causas de transtornos das ATMs, podemos observar os
hábitos nocivos ou maus hábitos, caracterizados por pressões anormais habituais
tais como: chupar dedo; chupeta; língua; lábios e
hábitos diretamente
relacionados aos músculos mastigatórios que são: onicofagia; (roer unhas e
objetos); briquitismo (apertamento dental ); morder lábios e bochechas e bruxismo.
Paiva e Vieira (1998), relatam que o uso excessivo de goma de mascar
pode ser considerado um hábito parafuncional e, como tal, trazer prejuízo ao
funcionamento normal e harmônico do sistema estomatognático.
Barros (1994) aponta Tavell e Simons (1993) relatando que o bruxismo
causa sobrecarga aos músculos mastigatórios, tornando um importante ativador e
perpetuador do Trigger Point.
Bianchini (1998) acredita que os hábitos anteriormente relacionados
solicitam demais os músculos mastigatórios que, em hiperfunção, podem
apresentar dores e coordenação diminuída, contribuindo para alteração
neuromuscular e nas ATMs. A autora ainda relata que o osso (por ser um tecido
plástico) é reagente às pressões e os maus hábitos podem causar problemas
ortodônticos ou posição incomum da mandíbula, trazendo desarmonia ao sistema
estomatognático , podendo desencadear as Disfunções Temporomandibulares.
Segundo Americal Academy of Oral Pain (1993), as disfunções são
divididas em desordens musculares e desordens internas.
24
Nas desordens musculares estão incluídas as desordens dolorosas e as
não dolorosas.
A dor miofacial é caracterizada por dor muscular associada às áreas
localizadas nos músculos sensíveis à palpação. O paciente queixa-se de dores na
mandíbula, no músculo temporal, nas faces, nas áreas pré-articulares ou no
ouvido, tanto estando em repouso como em função ou à palpação.
Nas desordens internas temos o deslocamento de disco; ou seja, o disco
desloca-se de sua posição de origem.
Há três tipos ou grupos de desordens internas por deslocamento de disco.
a) Deslocamento do Disco com Redução.
O disco desloca-se de sua posição entre o côndilo e a eminência, para uma
posição anterior e medial ou lateral, com redução de abertura bucal, geralmente
apresentando estalos. O disco escapa e recaptura.
b) Deslocamento do Disco sem Redução e com Abertura Limitada.
O disco desloca-se da posição normal para a posição mais anterior e
medial ou lateral, não sendo recapturado, associado a uma abertura bucal
limitada, desvios mandibulares e ausência ou presença de ruídos articulares.
c) Deslocamento do Disco sem Redução e sem Abertura Limitada.
Há deslocamento do disco de sua posição entre o côndilo e eminência para
um posicionamento anterior e medial ou lateral, não associado à abertura bucal
limitada. O paciente queixa-se de limitação na abertura bucal, desvios
mandibulares, presença de ruídos nas ATMs e os exames por imagem revelam o
disco sem redução.
25
Temos também como desordens internas:
•
Artralgias: É uma desordem interna que apresenta dor e sensibilidade na
cápsula articular e/ ou revestimento sinovial das ATMs. O paciente relata dor em
um lado ou nos dois lados da ATM durante a palpação e durante os movimentos
mandibulares. A dor é na região ou dentro das ATMs.
•
Artrite: Inflamação interna das ATMs, resultante de condição degenerativa
das estruturas articulares. O paciente relata dor durante palpação e movimentação
mandibular na região das ATMs ou dentro delas; como também são notáveis
crepitações.
Durante o exame de tomografia notamos esclerose de partes ou total do
côndilo e eminência articular, achatamento de superfície articular e formação
osteofítica.
•
Artrose: Caracteriza-se por desordens degenerativas das ATMs em que
formas e estruturas não são normais. O paciente não relata dor nas ATMs, na
palpação e nem durante os movimentos mandibulares. Entretanto, apresentam
crepitações nas articulações.
Na tomografia encontramos os mesmos sintomas da artrite.
É importante ressaltarmos que essas desordens causam desarmonia em
todo o sistema estomatognático, sendo os músculos mastigatórios os mais
atingidos.
Junqueira (1990) refere-se a Americal Academy of Craniomandibular
Disorders (A A C D – U S A ), para classificar as disfunções em três grandes
grupos:
26
a)
Distúrbios Craniomandibulares de Origem Orgânica ou Estrutural: Nestes
encontramos os problemas articulares (ou intra-articulares), como deslocamento
do côndilo, artrite degenerativa, inflamações, deslocamento do disco articular,
entre outros. Apresentam ainda problemas não articulares (ou extra-articulares),
como inflamação do ligamento e problemas musculares (mialgia, espasmo, trismo,
miosite, etc.. ).
b)
Distúrbios Craniomandibulares de Origem Não orgânica ou Funcional: A
síndrome da Dor e Disfunção Miofacial é caracterizada pela ausência de sinais
clínicos, radiográficos ou bioquímicos de alterações orgânicas das ATMs .
c)
Distúrbios Craniomandibulares de Origem Não- orgânica com Alterações
Secundárias Orgânicas Reais: Um problema extra-articular pode, no decorrer do
tempo, levar a um problema intra-articular.
Nas disfunções temporomandibulares, a dor é o sintoma mais comum que
induz o paciente a procurar um profissional da área. Em geral, a dor é agravada
durante a mastigação e, às vezes, ao acordar de manhã devido ao bruxismo
noturno.
É freqüente dor de cabeça bilateral e frontal relacionada à tensão emocional
e, em outros casos, as não locais, mas irradiadas por outros grupos musculares.
Para Felício (1994), o preocupante é que as pessoas não conseguem
descobrir o que se passa com elas, mesmo quando procuram diversos
especialistas
da
área
de
saúde,
como
neurologista,
ortopedista,
otorrinolaringologista, psiquiatra e cirurgiões - dentistas. Pode ocorrer que, na
busca de soluções, estes profissionais efetuem diagnósticos e tratamentos
inadequados provocando iatrogenias .
27
Além da dor, outros sintomas em pacientes com DTMs são crepitações,
ruídos nas ATMs, limitações na abertura bucal, travamento articular, desvios
mandibulares, alterações dos Orgãos Fonoarticulatórios (OFA), zumbido ou
sensação de ouvido tapado e alterações funcionais (mastigação, deglutição, fala e
voz).
Devemos relembrar e salientar que nem sempre todos esses sintomas
estão presentes no paciente. Muitos hábitos parafuncionais podem estar
relacionados a problemas emocionais, necessitando de um encaminhamento ao
psicólogo .
4- ANAMNESE
A anamnese dá ao paciente a oportunidade de relatar sua queixa e dizer o
quanto é urgente o tratamento. Neste caso, os profissionais devem tentar extrair
do paciente toda sua história natural e pregressa.
Felício (1994) comenta o trabalho de Gelb e Bernstein relatando que a
história contada pelo paciente, às vezes, oferece o diagnóstico e o caminho para o
tratamento. Esse fato possibilita uma boa interação profissional – paciente ,
construindo um clima de confiança.
Vários autores são unânimes em afirmar que, para se obter um diagnóstico,
devem ser investigados os seguintes aspectos:
Relativos à dor – início, localização, freqüência, duração, qualidade, fatores
desencadeantes, o que produz alívio; e
28
Relacionados à vida pessoal – história médica (através de descrição de
doenças associadas), história odontológica e pessoal do paciente.
Bianchini (1998) acha necessário que o paciente descreva a dor, para
diferenciar os casos traumáticos dos casos progressivos ou casos de otites.
Precisamos saber, também, se a dor é iniciada ao acordar, se o estalo é
freqüente e audível, se a dor e abertura bucal pioram no decorrer do dia, entre
outras particularidades.
Felício (1994) refere Damante relatando a importância da anamnese, do
exame clínico e, em casos de dor facial, adverte que Raio X não capta a dor.
Devemos questionar na anamnese sobre a alimentação ( a preferência do
lado mastigatório,
dificuldades na mastigação e na deglutição); fadiga; maus
hábitos ( ranger dentes, morder objetos, sugar língua); posição corporal de dormir,
trabalhar e escrever; uso de instrumento de sopro e outros. Temos que observar
se existe fator respiratório alterado; neste caso, segundo Correia (1991), há
predomínio da respiração costal superior.
Na anamnese devemos “olhar “o paciente como um todo, observar, ainda,
se existem os seguintes fatores: emocional, alterações de humor, ansiedade,
depressão, entre outros.
A anamnese pode ser realizada em entrevista direta com o paciente ou
através de questionário ( Ash, Ramfjord e Schmidseder , 1998 ) .
29
5- AVALIAÇÃO
As
Disfunções Temporomandibulares (DTMs), por serem de etiologia
multifatorial, devem ser avaliadas por profissionais das áreas afins.
Aspectos a serem analisados:
Além do exame odontológico, o paciente pode ser encaminhado para outras
avaliações, como: a psicológica, para que sejam identificados possíveis fatores
psíquicos na etiologia do problema e a fisioterápica, que examina possíveis
alterações posturais e sintomatológicas, que desencadeiam distúrbios de tônus
muscular e motricidade das regiões cervicais e facial;
como as
artralgias,
mialgias e edemas (Felício , 1994).
A avaliação fonoaudiológica, de maneira geral, compreende aspectos
comuns da Motricidade Oral, acrescidos de observações e avaliação odontológica
já realizadas. Muitos dados são fornecidos pelo odontólogo. (Bianchini , 1998).
A avaliação tem início já na sala de espera, onde devemos observar o
paciente em situações espontâneas como: o sentar, o andar , os movimentos
corporais, a fala, as assimetrias corporais e a posição da cabeça e dos ombros em
repouso.
Em seguida, já em sala de terapia, devemos observar a morfologia, a
tonicidade
e
mobilidade
dos
orgãos
fonoarticulatórios,
as
funções
neurovegetativas e o sistema fonêmico.
Bianchini (1998) salienta que na avaliação da musculatura, deve ser
realizada a palpação digital dos Músculos temporal; feixes anterior, médio
posterior, Músculo masséter, origem, inserção e corpo, ATM com boca aberta e
30
fechada, Vertex, Face orbitário e zigomático, Região submandibular ou músculos
suprahioideos, Região cervical e Peitoral e testes funcionais.
Para esta avaliação é
fundamental
que o fonoaudiólogo tenha
conhecimento da anatomia e seja firme nos toques, tendo em vista que tal
palpação pode produzir dor ou desconforto.
Ao avaliar o paciente, o fonoaudiólogo deve observar os seguintes
aspectos: postura em repouso (se há interposição), tonicidade, movimentação e
funções dos lábios, língua, bochechas, mandíbula, palato mole e duro, gengivas,
amígdalas, músculos temporal, masseter, bucinador, orbicular dos lábios e
mentoniano..
Na constatação de alterações na tonicidade muscular, observar se são
bilaterais ou unilaterais; se os músculos mastigatórios são sensíveis à palpação e
à movimentação e se os músculos esternocleidomastoideo e trapézio ( que
geralmente estão hipertônicos ) são sensíveis à palpação e
movimentos
(Anelli,1994).
O profissional deve avaliar e classificar as oclusões observando: o tipo
facial; as perdas dentárias; o estado geral dos dentes ( para que, se necessário, o
paciente seja encaminhado ao dentista ); os movimentos mandibulares ( padrão
vertical, extensão máxima de abertura, desvio corrigido ou não corrigido para a
direita ou esquerda; suave ou interrompido, ruído e percurso condilar), se há
desvio da linha média em repouso ou em movimentos de retrusão, propulsão e
durante as funções de mastigação, deglutição e fala.
Se houver desvio
mandibular em repouso, pode estar ocorrendo uma desarmonia nas forças
musculares , dos músculos elevadores e abaixadores da mandíbula.
31
O limite de abertura bucal no comer, cantar, bocejar, tocar algum
instrumento de sopro, entre outros, também devem ser observados.
As funções estomatognáticas devem ser avaliadas; pois, é provável que
sejam encontrados distúrbios na respiração que, associados à sintomatologia
dolorosa, são comuns padrões respiratórios superior torácico e superficial
(Correia,1991).
Através da postura, é perceptível o predomínio de inclinação lateral da
cabeça, modificando o eixo corporal e resultando na presença de tensão facial e
cervical (Bianchini,1998; Anelli,1994).
A
mastigação
apresenta
com
ritmo
lento,
os
movimentos
são
predominantemente verticais e há presença de dor ou ruídos. Devemos notar se
há trituração dos alimentos pelos dentes ou se são esmagados pela língua contra
o palato. Em casos de mastigação unilateral, avaliar se é por hábito ou por alguma
interferência.
A deglutição, se há movimentos mandibulares, interposição lingual,
contração da musculatura perioral e movimentos de ombro pescoço e cabeça.
Para Bianchini (1998), a deglutição realiza-se com várias adaptações. É
comum a presença de movimento brusco de elevação da laringe, contração da
musculatura perioral e compensação póstero-anterior da cabeça. A autora
defende que a alteração na deglutição é devido ao prejuízo na mastigação .
Pela fala, podemos observar se há interposição ou sigmatismo anterior ou
posterior para os sons /t / d / n / l / s / z /, e se ocorrem desvios mandibulares.
Devemos avaliar se o paciente apresenta tensão na articulação ou
travamento articulatório.
32
Bergel e Anelli (1997), Bianchini (1998) e Felício (1994) relatam a
importância da avaliação vocal; pois, o paciente pode apresentar disfonia devido
à tensão cervical, incoordenação respiratória e redução da amplitude articulatória,
apresentando uma qualidade vocal monótona, áspera ou rouca.
Devemos analisar os maus hábitos, se presentes, qual a freqüência, a
intensidade e a duração. Podemos avaliar o quanto eles são prejudiciais para um
funcionamento coordenado e sem dor das ATMs.
Na avaliação, pedimos ao paciente que tente localizar e descrever a dor.
Às vezes isso não é possível, pois a dor é presente em mais de uma fonte.
6- DIAGNÓSTICO
Como a etiologia das Disfunções Temporomandibulares é multifatorial, o
diagnóstico deve ser multidisciplinar.
Felício (1994), Anelli (1997), Wanderlene (1997), Bianchini (1998), Ash,
Ramfjord, Schmidseder (1998) são unânimes em afirmar que é necessário um
diagnóstico diferencial de outras patologias, que podem produzir dores faciais ou
musculares
e
outros
sintomas
parecidos
como:
neuralgias,
carcinoma
nasofaríngea, isquemia do miocárdio, doenças de glândulas salivares, tumor do
nervo acústico, neuralgia trigeminal por esclerose múltipla e outras.
É de suma importância que o diagnóstico seja correto, pois é através dele
que coletamos e integramos maiores informações sobre o paciente.
Para Steenks (1996) e Junqueira (1990), o diagnóstico costuma ser mais
fácil quando estão presentes ruídos, dores e limitações na mobilidade da ATM.
33
Porém, pode surgir superposição de sintomas, devido a outros fatores etiológicos
atuantes em outras regiões, dificultando o diagnóstico.
Felício (1994) relata a preocupação dos profissionais que atuam com DTMs
e a dificuldade que as pessoas tem para descobrir o que se passa com elas.
Procurando vários especialistas, na busca de uma solução, ficam sujeitas a
diagnósticos e tratamentos inadequados que provocam iatrogenias.
O terapeuta deve assumir o papel de “escuta “ da história contada pelo
paciente, integrando essas informações ao exame clínico, radiográfico, psicológico
e neurológico, quando necessários, chegando a um diagnóstico adequado.
Aos exames como eletromiografia, sonografia, tomografia computadorizada
entre outros, somam-se os já realizados ajudando no diagnóstico, na opinião de
autores como Felício (1994), Okeson (1998), Ash, Ramfjord e Schmidseder (1998)
.
7- TRATAMENTO
O tratamento da Disfunções Temporomandibulares (DTMs) envolve
profissionais da área de saúde como; odontólogos, ortodontistas, fonoaudiólogos,
psicólogos e fisioterapeutas.
O tratamento exige um conhecimento profundo da etiologia do problema,
assim como uma capacidade para obter informações sobre a disfunção. Deve-se
obter um eficaz conhecimento sobre neurofisiologia, métodos de diagnóstico,
comportamento do paciente, faixa etária, sexo afetado e métodos de tratamento.
Na maioria dos casos, o trabalho multidisciplinar é necessário e cabe ao
fonoaudiólogo integrante da equipe multidisciplinar (após anamnese e avaliação),
34
cuidar bem de seu paciente e, junto com a equipe, estabelecer as prioridades do
plano de tratamento (Steenks ,1996).
O autor refere que os pacientes reagem de formas diferentes ao tratamento,
devido ao processo sociológico e psicológico.
Para Crivello Jr (1987) é importante adequarmos o tratamento ao paciente.
Em primeiro lugar devemos levar ao conhecimento do paciente os mecanismos e
sintomas das DTMs e, se necessário, explicar sobre a importância, também, do
tratamento psicológico.
Como a etiologia é multifatorial e o tratamento multidisciplinar, passamos a
descrever, resumidamente, o tratamento odontológico. Em seguida, com mais
detalhes, o tratamento fonoaudiológico adequado e benéfico a pacientes
portadores das DTMs.
Felício (1994) relata o enfoque predominante do tratamento odontológico e
analisa Santos Jr. que preconiza um trabalho de controle sintomatológico em que
são utilizados:
a) Font plateau (espaçador anterior) que provoca a desoclusão posterior.
É indicado para casos de dor aguda, com limitação de abertura bucal. Não deve
ser usado por mais de duas semanas.
b) Sprays refrigerantes aplicados na região dolorosa ou injeções de
substâncias anestésicas e uso de compressas úmidas e quentes sobre a
musculatura que promove a circulação sanguínea, aliviando o espasmo e a dor.
c) Dieta alimentar macia para evitar sobrecarga muscular.
d) Exercitação da musculatura mastigatória, principalmente com exercícios
contra-resistência, promovendo fortalecimento e relaxamento.
35
Molina (1995) também é adepto a tratamentos miorrelaxantes, três vezes
ao dia, após compressas úmidas e quentes. O autor refere-se aos tratamentos de
reabilitação onde existem faltas dentárias, a utilização das placas e férulas
oclusais, o uso de desgaste seletivo e técnicas cirúrgicas, se necessário. Referese, também, que se a tensão emocional for o estímulo principal, o objetivo destes
tratamentos pode não ser alcançado.
Felício (1994) comenta o trabalho de Greene, que acredita que a terapia
deve ser miofuncional; não apenas para relaxar e fortalecer músculos, mas
também para reeducar as funções reflexo-vegetativas e fonação, estabelecendo
um meio muscular bucofacial harmonioso, quando eliminadas as pressões
danosas sobre os dentes e articulações.
e)Fármacos indicados como analgésicos.
f)Estimulação Elétrica Transcutânea (TENS) de nervos e músculos.
Acredita-se que esta estimulação tem como efeito a interrupção do ciclo dorespasmo-dor, por doze horas, relaxando a musculatura.
g) Biofeedback Eletromiográfico que consiste em um treino de relaxamento
muscular, a fim de dar condições ao paciente dele mesmo controlar a sua tensão
psicossomática.
h) Placa Oclusal: Feita de acrílico, recobre uma das arcadas dentárias, com
o objetivo de corrigir a relação côndilo-fossa. A placa pode ser miorrelaxante,
modificadora ou protrusiva e, afirma Crivello Jr. (1987), que é o método mais
utilizado, devido à simplicidade e eficácia na sintomatologia dolorosa.
Santos Jr. acredita que, após a fase de tratamento do controle da
sintomatologia, podem ser indicadas terapêuticas irreversíveis, sendo necessário
36
o ajuste da oclusão, pelo desgaste de contatos prematuros, desgaste seletivo,
tratamento ortodôntico ou cirurgias ortognáticas.
Para Ash, Ramfjord e Schmidseder (1998) a psicoterapia deve ser realizada
pois, em muitos casos, pode ser o tratamento principal.
Os autores ainda relatam que, antigamente, o tratamento oclusal era
realizado para todos os pacientes de Disfunções Temporomandibulares. Este
tratamento deveria eliminar a causa das DTMs, permitindo uma saúde normal.
Mas, como a etiologia é multifatorial, nenhuma metodologia tem sido estabelecida.
Com isso, o tratamento inicial não deve ter qualquer alteração irreversível
no sistema mastigatório.
Outras sugestões terapêuticas são: massagens, acupuntura, miomonitor,
auto-sugestão e laserterapia.
As massagens fazem aumentar a circulação sangüinea, aliviando o
espasmo e a dor.
A acupuntura estimula a produção de substâncias químicas endógenas,
aliviando a dor (Rezende e Teixeira,1991 e 1992).
O miomonitor é um aparelho elétrico que produz contrações isotônicas,
relaxando a musculatura.
A auto-sugestão é a repetição de frases ditas pelo paciente. Tem como
objetivo educá-lo a não apertar ou ranger os dentes e conscientizá-lo das
conseqüências que tais hábitos podem acarretar (Felício, 1994).
A laserterapia melhora a microcirculação, favorecendo a drenagem linfática
com liberação de substâncias tóxicas.
37
De acordo com o parecer de vários autores, o sucesso do tratamento das
DTMs depende, em grande parte, do envolvimento que o profissional tem com o
paciente. Tanto paciente, quanto profissional precisam estar embuídos em
desempenhar seus diferentes, mas importantes, “papéis” que levam ambos ao
mesmo objetivo, a cura.
Crivello Jr. (1987) comenta que o tratamento cirúrgico só é efetuado se
fracassarem todos os tratamentos conservadores.
O objetivo do tratamento fonoaudiológico é adequar a tonicidade e
mobilidade muscular, adaptando as funções estomatognáticas para alívio da dor
muscular em repouso ou em função.
Cabe ao fonoaudiólogo indicar ao paciente o consumo de uma dieta
alimentar mais mole e pastosa, bem como orientá-lo sobre o limite de abertura
bucal, pois podem ocorrer dor ou ruídos articulares durante os movimentos
mandibulares.
Para Felício (1994), o objetivo do tratamento fonoaudiológico é, além da
eliminação da sintomatologia, o da educação do paciente para com a sua saúde,
conscientizando-o e envolvendo-o como colaborador para a resolução do
problema.
A autora inicia o tratamento pelas técnicas de relaxamento, para que o
paciente tenha a percepção de seu próprio corpo e de seus pontos de tensão. Em
seguida, trabalha com a respiração, tornando-a diafragmática-abdominal e
expandindo a capacidade respiratória e controle pneumofonoarticulatório, evitando
hiperatividade muscular na região laríngea e na face durante a fonação. Trabalha,
38
ainda, com exercícios miofuncionais orais, com a cabeça ereta e estando o
paciente sentado.
O objetivo final da mioterapia nas DTMs é a adequação das funções
estomatognáticas; mas, o resultado imediato da mioterapia é o alívio da dor.
Em cada terapia deve-se levar em consideração o que é possível realizar
naquele determinado momento, discutindo o caso com outros profissionais
envolvidos.
Faz-se necessário que as funções adequadas tornem-se padrões utilizados
diariamente, mantendo a harmonia muscular e favorecendo o equilíbrio do sistema
estomatognático.
Para Altman e Bergel (1990) analisadas por Junqueira (1990), o tratamento
tem como objetivo propiciar um relaxamento muscular global e orofacial,
adequando também as funções motoras. Ë importante retirar as interposições
linguais que ajudam a manter e agravar as disfunções.
Altman (1990) acredita que os músculos mais comprometidos nas DTMs
são os elevadores da mandíbula e a função mais comprometida é a mastigação.
Bergel (1990) relata que a deglutição é a função mais comprometida e os
músculos da língua são os mais comprometidos nas DTMs.
Devem ser executados exercícios mioterápicos, trabalhando a mobilidade
de cada orgão com as funções, atuando na respiração do paciente e enfatizando o
trabalho com a mandíbula e com a mastigação. Utilizam-se exercícios isotônicos
para a musculatura da mastigação e isométricos para a musculatura labial e da
língua.
39
Para Anelli (1994) o objetivo é conscientizar o paciente quanto a sua
postura e a necessidade de modificá-la, encaminhando-o, quando necessário, ao
ortopedista ou fisioterapeuta.
O relaxamento global necessita atingir, principalmente, a região cervical e a
escapular. As musculaturas com tensão devem ser trabalhadas utilizando técnicas
com massagens, shiatsu, entre outras.
O relaxamento facial é alcançado através de massagens, com ênfase nos
movimentos mandibulares, massageando, principalmente, os músculos masseter
e temporal. Indica-se o uso de bolsas de água quente como compressas na região
dolorida.
A autora orienta, também, como eliminar os hábitos parafuncionais, tão
prejudiciais às DTMs.
Ainda relata trabalhos miorrelaxantes e a necessidade de não provocar
dores durante exercícios de estiramento.
O trabalho com as funções estomatognáticas também são realizados.
Para Bianchini (1998) a atuação fonoaudiológica é interdisciplinar,
abrangendo o trabalho de conscientização e propriocepção do paciente, para que
ele
colabore
no
tratamento.
Durante
o
tratamento
o
paciente
deve,
necessariamente, efetuar repouso articular.
Enfatiza que a atuação fonoaudiológica é importante, devendo ser bem
específica, diferente da atuação com pacientes com problemas ortodônticos.
A
terapia
envolve:
conscientização
massagens, mioterapia e terapia miofuncional.
40
e
propriocepção,
termoterapia,
A evolução e necessidade de cada trabalho depende das possibilidades do
paciente e da etapa do trabalho fonoaudiológico.
A explicação sobre o que são
ATMs, como funcionam, quais seus
movimentos e como os hábitos parafuncionais atuam nas articulações, tem como
finalidade conscientizar o paciente sobre o seu problema; relata Bianchini (1998).
O trabalho com a musculatura tem por objetivo reduzir os espasmos
musculares e aliviar as tensões localizadas, diminuindo as dores e contrações
musculares, quebrando o ciclo dor-espasmo-dor.
Para esta quebra utiliza-se as termoterapias, em que o calor é indicado
para casos crônicos onde exista tensão muscular aumentada e crises de algia. É
contra- indicado em casos agudos com processos inflamatórios e com alterações
neurológicas.
O calor úmido é realizado bilateralmente na região das ATMs, músculos
temporais e masseteres.
A autora indica a crioterapia, na qual o frio é indicado para casos de
limitações
articulares
pós-traumáticas
e
pós-operatórias,
relaxamento
de
espasmos musculares e processos agudos. São indicados também:
-
Massagens
esternocleidomastoideo),
na
região
cintura
cervical
escapular
e
(nos
facial,
músculos
utilizando
trapézio
e
toques
e
deslizamentos. As massagens devem ser realizadas, também, pelo paciente e
seguidas de relaxamento da cabeça, ombro e pescoço.
Há necessidade de cuidado para não provocar dor, porque a dor leva a uma
contratura muscular.
41
Inicia-se a massagem pela região que está mais mole ou mais
descontraída.
-
Mioterapia - é realizada após exame e diagnóstico, com uma
programação específica, envolvendo exercícios leves para desenvolvimento e
manutenção do controle neuromuscular. Durante os exercícios o paciente não
deve sentir dor, mas sim, ter sensação de conforto. Os exercícios são realizados
com a musculatura cervical, facial, lingual e mastigatória .
Os exercícios podem ser indicados para relaxar músculos e/ou para
melhorar função e tônus.
-
Terapia
Miofuncional - deve ser incentivada durante todo o
processo, respeitando as limitações do indivíduo. O paciente deve ser orientado
sobre a respiração, a mastigação, a dieta alimentar, a deglutição, a fala e a voz.
O treino da fala e voz envolve percepção das tensões associadas ao
abuso vocal e utilização das caixas de ressonância.
Segundo Felício (1994) “A dor do corpo faz chegar a consciência o alerta
de que algo vai mal, mas não é suficiente, é preciso decifrá-la”.
Com esta afirmação, chegamos à conclusão de que cabe ao fonoaudiólogo,
não apenas reabilitar as funções alteradas visando somente as Disfunções
Articulares, mas compreender e analisar o paciente como um todo e ajudá-lo a
entender o significado da dor que tanto o incomoda.
42
8- ENCAMINHAMENTO
O trabalho multidisciplinar é importante no tratamento de pacientes com
Disfunções Temporomandibulares.
Quando o paciente nos procura, devemos ouvi-lo com atenção, avaliá-lo e
ajudá-lo num diagnóstico diferencial.
Às
vezes,
esses
pacientes
vêm
encaminhados
por
dentistas,
otorrinolaringologistas e devemos encaminhá-los, se necessário, a outros
profissionais como neurologistas, psicólogos e / ou fisioterapeutas.
Em alguns casos devemos priorizar as etapas de tratamento orientando
bem nossos pacientes.
9- CONSIDERAÇÒES FINAIS
O objetivo desta pesquisa teórica é a
Articulações Temporomandibulares
e
realização de um estudo sobre
suas disfunções e como estas são
fundamentais para a harmonia funcional do Sistema Estomatognático.
A qualquer momento de nossas vidas estamos sujeitos a distúrbios que
podem causar desarmonia neste sistema.
Estes distúrbios, na maioria das vezes, só são detectados pelos pacientes
quando sentem dor ou percebem estalos ao abrir e fechar a boca, embora não
sejam somente estes os sintomas e sinais presentes.
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O motivo que me incentivou a escrever sobre as ATMs foi o fato de que
este assunto está
muito em pauta atualmente; mas, na realidade, é pouco
conhecido pelos fonoaudiólogos, dentistas e ortodontistas.
Constatei que muitos pacientes com sensação de ouvido tapado e dores na
região das ATMs, no ouvido, dores de cabeça, dores irradiadas, zumbidos e
limitações na abertura bucal procuram dentistas, médicos otorrinolaringologistas,
neurologistas, fisioterapeutas, psicólogos e, por último, os fonoaudiólogos.
Os autores pesquisados concordam que a etiologia é multifatorial ,
agravando-se com o estado emocional do paciente e que cada área tem sua
importância de atuação, mas, nem sempre, atuando no mesmo momento. Às
vezes é necessário um plano de trabalho de equipe, estabelecendo hierarquias e
prioridades.
Muitos pacientes, quando procuram o fonoaudiólogo, depositam nele suas
últimas esperanças pois já passaram por vários tratamentos sem sucesso.
Cabe enfatizar que os
fonoaudiólogos estão no início dos estudos e
tratamento das DTMs; existindo, ainda, poucas publicações a respeito.
Este trabalho é dirigido especialmente a fonoaudiólogos que desejam
compreender as ATMs e como tratar os pacientes com DTMs. Para tanto, são
abordados temas como
anatomia, movimentos normais das ATMs, músculos
envolvidos, algumas disfunções, anamnese, diagnóstico, diferentes tratamentos
(particularmente o fonoaudiológico) e encaminhamentos.
Acredito que os fonoaudiólogos possam trabalhar, com sucesso, junto a
pacientes portadores de DTMs, desde que sejam realizados os devidos estudos,
e que conheçam e dominem as técnicas necessárias.
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Ao recebermos estes pacientes em nossos consultórios, devemos escutálos com atenção e interesse, avaliá-los e juntar cada informação como peças de
quebra-cabeça, as quais darão forma a um diagnóstico adequado.
Devemos visualizar o paciente como um todo e não somente nos ater às
suas disfunções nas ATMs ou boca.
É a função do fonoaudiólogo propiciar ao paciente o seu bem- estar geral,
tendo em vista que ele é um indivíduo possuidor de histórico de vida, além de
físico, também emocional.
Para isso, é importante que todos os profissionais da equipe tenham um
bom relacionamento e estejam cientes das etapas de prioridade de tratamento,
visando o bem-estar do paciente como um todo.
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10- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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