Propostas de Resolução da Prova Escrita de História A – 12º Ano – 2012 (2ª Fase) GRUPO I 1. Documento: diagnóstico do general Sinel de Cordes sobre a situação de Portugal no pós I Grande Guerra e explicitação das consequências desta para o País, avisando para os riscos de morte da nação. Estas consequências estiveram, de resto, presentes na falência do regime republicano, que se explica pelos seguintes fatores: – a forma impreparada como Portugal entrou no conflito mundial de 1914-1918 (doc.2); – a dependência da “circulação fiduciária ou dos créditos da Inglaterra”, uma vez que o País não aproveitou recursos financeiros internacionais (“empréstimos de guerra”) disponibilizados; – “uma pavorosa crise financeira”; – a desorganização económica com desfecho imprevisível; – a incapacidade do País de aproveitar o facto de integrar o grupo dos países vencedores pelo que no final da mesma se encontrava “em piores condições económicas e financeiras do que os vencidos”; – a crise moral; – o clima de descontentamento popular e militar, agravado pelas cisões no seio do PRP. ____ Nota: A questão exige a referência apenas a três dos fatores enunciados. 2. Documentos: caricaturização dos comportamentos belicistas dos líderes das potências vencedoras da guerra (doc. 1) e diagnóstico da situação de Portugal no pós I Grande Guerra (doc. 2), quadro potenciador de sérias ameaças à paz mundial, concretamente: – a imposição aos países vencidos de condições duras nos tratados de paz, verdadeiros diktats, sentidos por estes como atos de humilhação; – a incapacidade da Sociedade das Nações (SDN) para solucionar pacificamente os conflitos políticos e disputas territoriais entre os Estados em diferentes pontos do globo (doc. 1), em particular pela não inclusão de nenhum dos países vencidos nem da Rússia soviética comunista; – a crítica e isolacionismo dos EUA (doc. 1) por não aceitarem a dureza das imposições aos vencidos, pelo que não ratificaram o tratado de Versalhes nem aderiram à SDN fragilizando-a; – as ambições territoriais de países europeus vencedores, membros da SDN, à custa dos países vencidos (doc. 1); – a incoerência no traçado das fronteiras, sem respeito pelas minorias nacionais, que reivindicavam o respeito pelo princípio das nacionalidades; – a intensificação dos nacionalismos nos países mais devastados pela guerra; – o clima de descontentamento até de países vencedores, entre os quais Portugal, por não ser devidamente contemplado pelas reparações de guerra exigidas aos vencidos (doc. 2), e a Itália, defraudada nas suas ambições territoriais. ____ Nota: A questão exige a referência apenas a três das ameaças. © Edições ASA GRUPO II 1. Documento 1: cartaz austríaco relativo ao Plano Marshall enunciado pelos EUA proclamando três grandes objetivos: a Paz, a Liberdade e o Bem-Estar, concretamente: – auxiliar a reconstrução da Europa, devastada pela Segunda Guerra Mundial, procurando, desta forma, contribuir para a sua recuperação económica e o “bem-estar” dos seus povos (doc. 1); – contribuir para a defesa da “paz”, ameaçada pela grave crise económica e financeira do pós II Guerra Mundial (docs. 1); – responder à contestação social e política verificada nos países da Europa Ocidental; instabilidade acentuada pelos efeitos do inverno rigoroso de 1946/47; – conter o comunismo na Europa Oriental, preservando o modelo capitalista ocidental (doc. 1), concretizando, desta forma, os objetivos da doutrina Truman; – afirmar a liderança dos EUA na defesa do “Mundo Livre” (doc. 1), reforçando os laços económicos e políticos entre os EUA e os países da Europa Ocidental, como a Áustria (doc. 1) (acoplamento euroatlântico); – estimular a economia norte-americana através da abertura dos mercados europeus às exportações e capitais dos EUA. 2. Documentos 3 e 4: apresentação de perspetivas claramente divergentes acerca do papel do Estado nas sociedades capitalistas, objetivamente: – o documento 3 – excerto da Declaração do Congresso da Internacional Socialista (1992) – exprime a perspetiva do modelo socialista do Estado-Providência; por seu turno, o documento 4 – excerto do Manifesto do Congresso da Internacional Liberal – expressa a do modelo liberal do Estado mínimo; – o documento 3, numa lógica concetual socialista, defende que o Estado deve combater os efeitos da desregulação dos mercados com o objetivo de combater a distribuição socialmente injusta dos rendimentos, das “oportunidades de emprego” e do capital; o documento 4 defende que o Estado deve promover “a responsabilidade individual” e o funcionamento do mercado livre, suscetíveis de criarem riqueza, bem-estar, ultrapassando, deste modo, a pobreza no mundo; – o documento 3 refere que o Estado deve promover uma política social que assegure a igualdade de oportunidades e a justiça social, apoiando trabalhadores, desempregados, doentes e idosos; o documento 4 considera que cada indivíduo deve ser responsabilizado pelo combate à sua própria pobreza, negando que seja função do Estado fazê-lo, substituindo-se a cada indivíduo; – o documento 3 defende que o Estado deve promover a existência de uma rede de segurança social como apoio do governo para construir uma “sociedade equilibrada”; o documento 4 defende que o Estado deve possuir sistemas de promoção do bem-estar “flexíveis e administrados a um nível tão local quanto possível”; – o documento 3 considera que o Estado deve promover o investimento em recursos humanos através de programas para a saúde, serviços sociais e salários justos, mais produtivos do que as políticas monetaristas; o documento 4 defende que o Estado deve abdicar de políticas sociais que sobrecarregam os orçamentos, “abafam a iniciativa privada” e acumulam dívidas para as gerações futuras; – o documento 3 afirma que o Estado deve promover o investimento público para criação de empregos; o documento 4 refere que o Estado deve evitar substituir-se à iniciativa privada na promoção do desenvolvimento; – o documento 3 considera que o Estado deve contribuir para a qualidade e a sustentabilidade do crescimento e para a distribuição dos benefícios próprios de uma “sociedade moderna”; o documento 4 considera que é uma prioridade do Estado limitar o âmbito da sua ação e reduzir a despesa pública, vista como uma séria ameaça a uma “sociedade livre”. © Edições ASA 3. Desenvolvimento com clareza e organização do tema “Desenvolvimento económico e progresso social no mundo ocidental do segundo pós-guerra aos anos 90 do século XX”, abordando três dos aspetos a seguir referidos para cada um dos três tópicos de orientação da resposta propostos: Prosperidade económica a partir do final da Segunda Guerra Mundial: – o aproveitamento pelo mundo ocidental dos recursos financeiros disponibilizados pelo Plano Marshall (doc. 1), um plano de apoio à reconstrução e crescimento económico da Europa, cujos resultados estão patentes na evolução dos indicadores PIB e Exportações no período 1951-73 (doc. 2); – o intervencionismo estatal traduzido na criação do Estado social e num “esforço de investimento público” (doc. 3); – o incremento das relações económicas internacionais, com a criação de organismos internacionais promotores da liberalização e cooperação, como o GATT, o BIRD e o FMI, que constituíam a base do denominado “sistema de Bretton Woods”; – o acesso a matérias-primas e recursos energéticos baratos, designadamente o petróleo; – o investimento na modernização e estruturação dos sistemas produtivos, quer ao nível da organização da produção, quer do trabalho e consumo, designadamente a concentração industrial, o desenvolvimento tecnológico e a redução dos custos de produção e comercialização; – expansão das empresas multinacionais; – investimento na educação e na investigação científica; – forte crescimento do PIB das economias ocidentais (doc. 2); – reforço do Estado Social, que adota políticas ativas de fomento do emprego e do consumo interno (doc. 3); – aproveitamento de uma mão de obra cada vez mais numerosa e mais qualificada; – liberalização do comércio internacional e aumento do volume do comércio mundial (doc. 2); – desenvolvimento da produção em massa e da sociedade de consumo, num contexto de forte crescimento demográfico; – incremento das trocas internacionais com países exportadores de matérias-primas baratas, com reflexos no reforço da dicotomia Norte-Sul. Construção do Estado-Providência no segundo pós-guerra: – defesa de políticas de intervenção do Estado na economia e no equilíbrio social, através do reforço do papel do Estado regulador e promotor do bem-estar e da justiça social, construtor, de “uma sociedade equilibrada” (doc. 3); – influência das conceções sociais democratas, defensoras da conjugação da economia de mercado com o alargamento das funções sociais do Estado, “força motriz da construção das estruturas de segurança social” (doc. 3); – outros contributos teóricos para a edificação do Estado-Providência, designadamente da democracia-cristã baseada na doutrina social da Igreja, promotora dos valores da equidade, solidariedade e justiça social (doc. 3); – desenvolvimento e consolidação do Estado-Providência na Europa Ocidental, materializado na criação e generalização dos sistemas públicos de educação, de segurança social e de saúde tendo por base a regra da gratuitidade; – crescimento das estruturas governamentais, do funcionalismo público, elevação das despesas dos Estados e da dívida pública (doc. 4). © Edições ASA Afirmação do neoliberalismo a partir da década de 1980: A crise económica dos anos 70 (doc. 2), estreitamente relacionada com os choques petrolíferos de 1973 e 1979, o aumento das dívidas do setor público, os surtos inflacionistas e o aumento da carga fiscal favoreceram a emergência do neoliberalismo como reação ao keynesianismo, doutrina basilar do Estado-Providência – e a inflexão da evolução deste, traduzida nas seguintes políticas: – redução do papel do Estado na economia, uma vez que seria errada a “ideia de que é tarefa do governo organizar as coisas para que as pessoas sejam felizes”, pelo que seria “prioritário limitar o âmbito” da sua intervenção (doc. 4); – forte preocupação com a redução dos défices públicos através da redução das despesas do Estado (doc. 4); – adoção de programas de privatização de empresas estatais e redução do investimento público, como formas de garantir um “desenvolvimento realmente sustentável” (doc. 4); – adoção de políticas de redução da fiscalidade e de combate à inflação; – desregulação do mercado laboral, através da flexibilização das leis laborais e maior mobilidade da mão de obra assalariada; – quebra da influência social e política dos sindicatos; – liberalização das trocas comerciais e dos fluxos de capitais; – facilitação dos processos de concentração empresarial, reforçando-se, assim, o domínio das grandes empresas multinacionais ou transnacionais; – defesa do papel dos mercados globais abertos considerados “mais eficazes na promoção da prosperidade” (doc. 4); – crença no papel da iniciativa privada e do lucro, a “mão invisível” capaz de equilibrar o funcionamento dos mercados, a redistribuição do rendimento e o combate à pobreza (docs. 3 e 4); – forte investimento nos setores da investigação científica e das tecnologias de comunicação, estratégias consideradas essenciais para o aumento da produtividade e competitividade (doc. 4); – críticas ao neoliberalismo pelos efeitos causados no aumento das desigualdades sociais, no crescimento do desemprego e da pobreza (doc. 3) e denúncia da ameaça de destruição do Estado social construído após a Segunda Guerra Mundial, considerando os seus defensores que – ao contrário dos neoliberais - “não há mão “invisível” que assegure a igualdade de oportunidades e a justiça social” (doc. 3). GRUPO III 1. Documento: explanação de argumentos por Mário Soares em defesa do reforço das relações de Portugal nas comunidades Iberoamericana e CPLP, nomeadamente, opções possíveis após o “inegável sucesso” do 25 de Abril, que se ficou a dever aos aspetos seguintes: – o caráter pacífico e não violento da revolução, a “Revolução dos Cravos”, uma revolução “sem efusão de sangue”; – a mudança de regime político com o derrube da ditadura do Estado Novo e a instituição de um regime democrático e pluralista, realizando, deste modo, um dos seus objetivos: “democratizar”; – o reconhecimento do direito à autodeterminação dos povos das colónias, aspeto que permitiu a concretização do objetivo “descolonizar”; – o contributo para o progresso económico e social do país, realização do objetivo “desenvolver”; – a influência da “revolução portuguesa” na transição democrática espanhola; – a aproximação entre os Estados peninsulares e os povos ibéricos. ______ Nota: A questão exige a referência apenas a três destes aspetos. © Edições ASA 2. Documento: releva as alterações radicais da política externa portuguesa após a “Revolução dos Cravos” relativamente ao período anterior do Estado Novo protagonizado por Salazar, concretamente: – a adoção de uma política de abertura e de procura de reconhecimento internacionais, pondo fim ao isolamento de Portugal das décadas anteriores, traduzido no mito do “orgulhosamente sós” e no objetivo da autarcia; – o reconhecimento do direito à autodeterminação e independência das colónias, concretizando assim um dos principais objetivos da Revolução do 25 de Abril: “descolonizar” (doc.) e uma aspiração dos movimentos de libertação, considerados os representantes legítimos dos seus povos; – o início do processo de adesão de Portugal à então CEE – em paralelo com a vizinha Espanha - como membro de pleno direito (doc.), participando no aprofundamento da integração económica, social e política; – a aproximação com a Espanha, tornando “fluídas, natural e quase automaticamente” as relações políticas, diplomáticas e económicas entre os dois países vizinhos, que escolheram a democracia após um longo período de autoritarismo (doc.); – o reforço dos laços entre Portugal e a América Latina, no quadro da Comunidade Iberoamericana, tendo por base “uma certa unidade civilizacional e linguística”, um legado ibérico comum, visando desenvolver a cooperação e parcerias em vários domínios, estreitando paralelamente as relações desta com a União Europeia (doc.); – o estabelecimento de relações diplomáticas e de cooperação entre Portugal e as suas ex-colónias no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização lusófona de cooperação que integra Portugal, Brasil, Timor-Leste e os PALOP (doc.), com vista a promover a defesa da língua e a cooperação económica, política e cultural. ______ Nota: A questão exige a referência apenas a três das características enunciadas. FIM © Edições ASA