Ausência de um Único Elemento Natural no Setor Posterior com e sem Rebordo Suficiente Fase Protética JOSÉ CÍCERO DINATO LEANDRO SOEIRO DE SOUZA NUNES O tratamento do paciente parcialmente edêntulo tem sido um grande desafio na odontologia. Diversas técnicas foram preconizadas e aplicadas, no entanto poucas atingem todas as expectativas dos pacientes. Com a descoberta do fenômeno da osseointegração, grandes mudanças no planejamento da clínica odontológica foram aplicadas. Os implantes osseointegrados foram inicialmente utilizados na reabilitação de pacientes totalmente edêntulos e, atualmente, também estão sendo amplamente aplicados no tratamento de edentulismos parciais e unitários. A qualidade e a quantidade óssea, na região que receberá o implante são variáveis importantes que afetam o sucesso da osseointegração. A região posterior é conhecida por ter osso de pobre qualidade e volume reduzido (Lekholm & Zarb31). Esta é a maior razão do alto índice de falha dos implantes osseointegrados, quando comparado à região anterior. Estas condições criaram a necessidade de um planejamento diferente para implante unitário na região posterior, levando a mudanças no desenho do implante, no tratamento da superfície, com o objetivo de aumentar a área de contato osso-implante (Carvalho et al.11), e um protocolo protético buscando uma adaptação precisa, além de um equilíbrio oclusal adequado. A obtenção e a manutenção da estabilidade do implante são pré-requisitos para o sucesso clínico das próteses sobre implantes. A estabilidade primária é conseqüência direta do contato osso-implante e depende da densidade óssea, da técnica cirúrgica e da morfologia macroscópica e microscópica do implante utilizado. A estabilidade secundária é determinada pela resposta do tecido ósseo à cirurgia e à superfície do implante (Dinato et al.18). Além das considerações sobre a qualidade e a quantidade óssea disponível, que são de interesse cirúrgico e restaurador, os aspectos oclusais são de extrema importância na região de molares. Substituir um molar perdido com implante representa um desafio biomecânico. Forças laterais criam um momento de flexão relativo ao implante, sobre o osso marginal, e as forças axiais causam flexão a partir do longo eixo do implante em uma direção mésio-distal ou vestíbulo-lingual. Combinando esses fatores com o fato das forças oclusais estarem em sua maior parte na região de molares, podemos ter um nível de 9 220 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA estresse elevado sobre os componentes e sobre o osso. Além disso, nas restaurações unitárias cimentadas o parafuso do pilar é que está mais suscetível ao afrouxamento, porque o torque relativo ao eixo do implante deverá ser anulado pela própria união do parafuso, enquanto que em pontes fixas os implantes adjacentes realizam essa função. Outros fatores tais como a presença de dentes naturais e implantes em um mesmo quadrante, a inclinação das cúspides da restauração, o material restaurador, o tipo de antagonista e a presença de parafunções, como o bruxismo, influenciam na longevidade das restaurações sobre implantes, e devem ser levadas em consideração no planejamento e execução do tratamento. Balshi et al.3 consideram esses fatores e sugerem a colocação de dois implantes para a reposição de um primeiro molar, sempre que houver espaço suficiente. De acordo com a literatura científica consultada, pode-se utilizar implantes osseointegrados na reposição de molares unitários permanentes nas seguintes situações: 1. Presença de dentes vizinhos e espaço protético mésio-distal apropriado; 2. Presença de dentes vizinhos e necessidade de tratamento ortodôntico pré-implantar para corrigir o espaço mésio-distal a ser restaurado; 3. Utilização de implante como ancoragem ortodôntica; 4. 5. 6. 7. 8. Reposição de uma raiz de molar; Extremo livre; Implante em enxerto ósseo; Colocação imediata pós-exodontia; Provisório imediato. As diversas situações clínicas acima citadas devem ser consideradas durante o planejamento multidisciplinar na busca de um resultado efetivo a longo prazo. A seguir, serão descritos alguns pontos importantes a serem avaliados durante o planejamento, considerando-se cada condição individualmente. PRESENÇA DE DENTES VIZINHOS E ESPAÇO PROTÉTICO MÉSIO-DISTAL APROPRIADO A reposição unitária, pela característica de apresentar dentes vizinhos, requer do cirurgião habilidade e segurança para a correta colocação do implante (Dinato et al.18). A inclinação ânteroposterior, mésio-distal e o posicionamento apical da plataforma do implante em relação aos dentes vizinhos são de extrema importância no resultado protético (Saadoun et al.40). Na reposição de um molar unitário com implante, as dimensões da coroa são substancialmente maiores do que o diâmetro da fixação, criando a possibilidade de movimentos de flexão em todas as direções, conforme a Fig. 9.1 (Pa- FIG. 9.1 Possibilidade de flexão em todas as direções, devido a diferença de diâmetro entre a coroa e o implante. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE lacci et al.35). O eixo axial do implante deve estar posicionado no centro da superfície oclusal, para aumentar a resistência biomecânica da restauração, como se vê nas Figs. 9.2A e 9.2B (Rangert e Renouard37). A colocação de implantes na região de molares exige mudanças nos procedimentos de diagnóstico, planejamento, protocolo cirúrgico e reabilitação protética (Becker et al.5). Duas opções de tratamento podem ser consideradas: a utilização de dois implantes de plataforma regular (Figs. 9.3-9.5) ou a colocação de um único implante, seja de plataforma larga (Figs. 9.6-9.9) ou regular (Figs. 9.10 e 9.11). O espaço mésio-distal entre os dentes vizinhos é determinante na escolha do tipo de reabilitação. Se a anatomia óssea permitir, um implante com 5 mm de diâmetro com plataforma larga (wide) é o indicado para suportar a restauração de um dente posterior, visto que eles aumentam a área de contato osso-implante, e a estabilidade primária (Quadro 9.1). 9.2A 9.2B FIGS. 9.2A-B Diferente biomecânica de acordo com o eixo axial do implante. FIG. 9.3 Dois implantes de plataforma regular para a reposição de um molar. FIG. 9.4 Prova da estrutura metálica soldada a laser. 221 222 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA FIG. 9.5 Coroa metalo-cerâmica aparafusada sobre dois implantes plataforma regular. FIG. 9.7 Aspectos radiográficos demonstrando a adaptação do pilar CeraOne ao implante. FIG. 9.6 Pilar CeraOne sobre implante unitário de plataforma larga. FIG. 9.8 Coroas metalo-cerâmicas para reabilitação de dois molares unitários. Observe a diferença de diâmetro entre a plataforma do implante e a superfície oclusal. FIG. 9.9 Aspectos clínicos após cimentação da coroa metalo-cerâmica. 223 AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.10 Radiografia periapical, evidenciando a ausência do primeiro molar. FIG. 9.11 Aspectos radiográficos após a reabilitação protética sobre um pilar CeraOne e um implante de plataforma regular. QUADRO 9.1 - Limitações e fatores de risco para um implante de plataforma larga (BoRangert e Renaurd37). Reduzir em 1 mm se o implante utilizado for de plataforma regular. Limitação Bom Razoável Perigoso Distância mésio-distal 8 a 12 mm 7 mm < 7 mm Espessura do rebordo alveolar 8 mm 6 mm < 5 mm Altura entre a crista óssea e o dente antagonista 7 mm 6 mm < 6 mm Segundo Davarpanah et al.15, implantes largos têm indicação para espaços de 8 a 11 mm, na região posterior, com uma altura disponível de pelo menos 8 mm. Griffin e Cheung26 avaliaram o índice de sucesso de implantes largos, colocados na região de molares superiores e inferiores com altura óssea reduzida. Um total de 168 implantes com 6 mm de diâmetro e 8 mm de altura foram colo- cados em 167 pacientes. Destes, 128 suportaram coroas unitárias. Após um acompanhamento de 68 meses, o índice de sucesso foi de 100%. Com isso, os autores concluíram que a utilização de implantes com diâmetro largo é uma alternativa previsível para a reabilitação de áreas com pouca altura óssea e espessura adequada. 224 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA Schwartz-Arad et al.43 reabilitaram 55 pacientes com 78 implantes unitários na região de molares. Desses, 75 foram colocados na mandíbula e o índice de sucesso após um ano de acompanhamento foi de 93,6%. Dos 6 implantes que falharam, somente um foi após a colocação de carga. Complicações protéticas, tais como perda do abutment e/ou da coroa, fratura do parafuso do pilar e fratura da porcelana, ocorreram em 14% dos casos. Fugazzoto et al.22 colocaram 979 implantes, com 7 a 9 mm de comprimento, na região de FIG. 9.12 Radiografia panorâmica inicial. Observe a ausência do primeiro molar inferior direito. FIG. 9.14 Prova dos copings Procera® de óxido de alumínio sobre o pilar CeraOne e dente natural. Vista vestibular. molares superiores. Todos foram reabilitados com coroas unitárias. O índice de sucesso cumulativo dos implantes em função foi de 95,1%, após um acompanhamento de 84 meses. O sistema Procera permite a reabilitação de elementos unitários sobre implantes de plataforma larga e dentes naturais com coroas totalmente cerâmicas, oferecendo resistência e estética (Figs. 9.12-9.18). Os pilares de zircônia permitem a confecção de coroas individualizadas na região posterior com aplicação cerâmica diretamente sobre o FIG. 9.13 Pilar CeraOne sobre um implante de plataforma larga na reabilitação do espaço protético. FIG. 9.15 Vista lingual dos copings Procera® de alumina. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.16 Copings Procera® de óxido de alumínio (alumina). FIG. 9.17 Estética final após cimentação das coroas ceramo-cerâmicas. Vista vestibular. FIG. 9.18 Estética final após cimentação das coroas ceramo-cerâmicas. Vista lingual. pilar. Dessa forma, quando os implantes utilizados forem maiores ou iguais a 13 mm de comprimento e o travamento inicial for maior do que 35 Ncm, pode-se reabilitar de forma individual os elementos posteriores (Figs. 9.19-9.26). Em 1990, Balshi2 sugeriu a colocação de dois implantes na reposição do primeiro molar para compensar a pobre qualidade óssea encontrada na região posterior. A utilização de dois implantes imita a anatomia das raízes dos molares e duplica a área de ancoragem. Outras vantagens incluem: eliminação do cantilever ântero-posterior; redução das forças de rotação e redução da perda de para- fusos. Entretanto, a higiene oral diária pode ser dificultada e esta é a maior limitação do uso de dois implantes para a reposição de um elemento posterior. Independente do número de implantes utilizados na reabilitação, os cuidados com a manutenção são de suma importância para a longevidade do tratamento. Os pacientes devem receber instruções de higiene oral com escovas unitufo, interdentais com revestimento plástico e fio dental superfloss. Além disso, devem ser realizadas consultas periódicas com um profissional especializado, que deverá utilizar instrumentos plásticos (Figs. 9.27-9.38). 225 226 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA FIG. 9.19 Munhões de transferência aparafusados diretamente na plataforma dos implantes. Vista lingual. FIG. 9.21 Posicionamento dos análogos e munhões de transferência na moldagem. FIG. 9.23 Prova dos pilares Procera® personalizados de zircônia sobre a plataforma regular dos implantes. FIG. 9.20 Munhões de transferência aparafusados diretamente na plataforma dos implantes. Vista vestibular. FIG. 9.22 Aplicação de gengiva artificial para reproduzir a margem gengival. FIG. 9.24 Prova da porcelana aplicada diretamente sobre os pilares Procera®. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.25 Aspectos finais das coroas ceramo-cerâmicas Procera® zircônia. FIG. 9.26 Aspectos radiográficos da adaptação dos pilares/coroas aos implantes de plataforma regular. FIG. 9.27 Radiografia periapical evidenciando a ausência do primeiro molar inferior direito. FIG. 9.28 Corte axial de tomografia computadorizada dental CT, utilizada para planejamento. FIG. 9.29 Corte coronal de tomografia computadorizada dental CT. 227 228 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA 9.30 9.31 FIGS. 9.30-9.31 Reconstrução transversal da região do primeiro molar inferior, evidenciando o real volume ósseo e a altura entra a crista óssea e o canal do nervo alveolar inferior. FIG. 9.32 Aspectos radiográficos após a colocação dos pilares e reabilitação protética. FIG. 9.34 Escova interdental, com revestimento plástico, posicionada entre os implantes FIG. 9.33 Sondagem periodontal com sonda plástica. FIG. 9.35 Cureta periodontal plástica utilizada na manutenção dos implantes. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.36 Sondagem periodontal com instrumento plástico de implante unitário. FIG. 9.37 Escova interdental, com revestimento plástico, posicionada entre o implante e o dente natural. FIG. 9.38 Utilização do fio dental superfloss no controle periimplantar (reabilitação protética do caso apresentado nas Figs. 9.10 e 9.11). De acordo com Saaduon et al.41, um mínimo de 12,5 a 14 mm de espaço interdental é necessário para utilizar dois implantes regulares na reposição de um molar. Balshi et al.3 compararam o uso de um implante largo com dois implantes regulares para a reposição de um molar unitário. O índice de sucesso cumulativo após 3 anos foi de 99%, com 0,1 mm de perda óssea marginal para um implante e 0,24 mm para dois implantes. No entanto, o exame clínico constatou um tecido mole muito saudável, sem sangramento. A mobilidade da prótese e a perda de parafuso foram as complicações mais comuns para o grupo de um implante largo (48%) e reduziu-se a 8% no grupo de dois implantes. Bahat e Handelsman1 relataram índices de insucesso mais altos para implantes largos (2,3%) quando comparados com dois implantes (1,6%) colocados na região posterior. Recentemente a empresa Nobel Biocare substituiu os parafusos de ouro por parafusos TorqTiteTM. A nova tecnologia de lubrificação sólida do parafuso TorqTiteTM aumenta a superfície de contato do parafuso de titânio ao pilar, permitindo que o mesmo mantenha-se apertado e mais resistente à fadiga, resultando numa união mais estável entre o pilar e o implante e, conseqüentemente, diminuindo o risco de desaparafusamento do mesmo. O parafuso TorqTiteTM alcança uma força de aparafusamento entre o pilar e o implante duas vezes superior ao parafuso de titânio convencional (Dinato et al.19). Quando apertado a 35 Ncm, um parafuso de liga de titânio atinge uma pré-carga de 34% do limite de carga do parafuso, enquanto que o parafuso TorqTiteTM atinge uma pré-carga de 75% de seu limite, um nível tido como ideal para conexões 229 230 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA aparafusadas submetidas à altas amplitudes de cargas cíclicas, conforme se pode observar no Gráfico 9.1 (Trilling47). O parafuso TorqTiteTM apresenta um coeficiente de fricção menor que a metade do coeficiente de fricção de um parafuso de liga de titânio, permitindo que o parafuso TorqTiteTM receba um torque mais longo durante o apertamento, resultando numa maior pré-carga, como constata no Gráfico 9.2 (Burguete et al.8). Segundo Hurson30, pela medição através de torque de remoção observa-se que o parafuso TorqTiteTM permanece por mais tempo apertado quando comparado com parafuso de liga de titânio ou liga de ouro submetidos a forças laterais acima de 5,000,000 ciclos (Gráfico 9.3). A empresa não permite a reutilização do parafuso TorqTiteTM dentro do seu protocolo de indicação, devido à deformação que ocorre no mesmo durante o aparafusamento, mesmo que este grau de deformação mostre-se inferior ao que ocorre no parafuso de ouro (Nobel Biocare). No sentido vertical, a relação com o dente antagonista deve apresentar um espaço mínimo de 6 mm, para permitir a colocação de um abutment e da restauração unitária. O estresse oclusal recebido pelo implante osseointegrado é muito importante para determinar o sucesso a longo prazo. A diminuição da superfície oclusal no sentido vestíbulo-lingual reduz a carga sobre a restauração. Além disso, a diminuição da altura das cúspides reduz a carga recebida na direção horizontal. De acordo com Engelman 20, a restauração de um molar unitário deve estar fora de oclusão nos movimentos de lateralidade e protusão, principalmente em pacientes com hábitos parafuncionais. Cantilever mésio-distal, vestíbulo-lingual e uma proporção coroa-implante desfavorável podem levar ao insucesso da reabilitação. GRÁFICO 9.1 - Ótima pré-carga. GRÁFICO 9.2 - Menor coeficiente de fricção (em micrômetros). GRÁFICO 9.3 - Maior torque de remoção. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE PRESENÇA DE DENTES VIZINHOS E NECESSIDADE DE TRATAMENTO ORTODÔNTICO PRÉ-IMPLANTAR PARA CORRIGIR O ESPAÇO MÉSIO-DISTAL A SER RESTAURADO Nessa situação, o espaço mésio-distal é menor que o necessário para a colocação de um implante, devido a migração e/ou inclinação mesial do segundo molar. Há necessidade de correção ortodôntica antes da realização da cirurgia para a colocação do implante. A distância ideal entre as coroas e raízes do segundo molar e segundo prémolar é de 8 a 9 mm. Se a distância interdental presente for de 11 a 12 mm devemos reduzir orto- FIG. 9.39 Implante de plataforma regular, com pilar CeraOne, colocado na região de primeiro molar inferior direito. Observe o espaço reduzido entre o segundo pré-molar e o segundo molar. donticamente o espaço para permitir a colocação de um implante de plataforma regular ou larga, ou aumentar o espaço para permitir a colocação de dois implantes de plataforma regular, determinado pela relação oclusal do paciente. O tempo, os custos e os benefícios do tratamento ortodôntico devem ser levados em consideração e discutidos com o paciente, assim como o tipo de má oclusão associado a ausência de um elemento posterior. Muitas vezes, em situações com limite de espaço, e oclusões equilibradas, o paciente poderá optar por não se submeter ao tratamento ortodôntico, e a restauração sobre implante na região de primeiro molar poderá ter a anatomia de um pré-molar (Figs. 9.39-9.41). FIG. 9.40 Vista interna das coroas ceramo-cerâmicas e metalo-cerâmicas. FIG. 9.41 Aspectos finais após cimentação individual das coroas cerâmicas. Devido ao reduzido espaço protético, a anatomia da reabilitação é semelhante a de um pré-molar. 231 232 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA UTILIZAÇÃO DE IMPLANTE COMO ANCORAGEM ORTODÔNTICA A ancoragem é uma consideração importante quando se planeja movimentação dentária, sendo um pré-requisito para o tratamento ortodôntico com aparelhos fixos. Movimentações dentárias indesejadas, conhecidas como perda de ancoragem, podem trazer efeitos negativos ao resultado do tratamento (Harry e Sandy27). Roberts et al.38 foram os primeiros a descreverem a utilização de implante osseointegrado na região retromolar, com o objetivo de servir como ancoragem para a movimentação do segundo e terceiro molar para mesial, fechando o espaço do primeiro molar permanente perdido. É freqüente a situação clínica onde a perda precoce do primeiro molar proporciona espaço para a erupção do terceiro molar, mas com o efeito de mesialização do segundo molar. Esse movimento dentário natural e espontâneo raramente leva ao fechamento por completo do espaço edêntulo do primeiro molar, causando uma diminuição do mesmo, a ponto de se tornar difícil a restauração protética. Freqüentemente, a oclusão desses pacientes é boa, sem a necessidade de um extenso tratamento ortodôntico. A ancoragem necessária para a mesialização completa do segundo e terceiro molares é grande, e o movimento mecânico é complexo, necessitando, em muitos casos, de aparelhos extrabucais. A utilização de um implante osseointegrado na região retromolar permite uma ancoragem segura e a colocação de aparelhos ortodônticos intrabucais, devido a alta capacidade de suporte mecânico que ele possui. Após o tratamento ortodôntico, o implante poderá ser sepultado ou removido, mantendo os elementos naturais, sem a necessidade de prótese. Implantes osseointegrados, podem ser utilizados como uma fonte muito segura de ancoragem (Drago16). Nos últimos anos, o uso de implantes osseointegrados para ancoragem ortodôntica tem aumentado sua popularidade. Implantes com tamanhos reduzidos têm sido desenvolvidos para ancoragem ortodôntica. Os mini-implantes são pequenos o suficiente para a colocação em qualquer posição do processo alveolar, até mesmo em espaços interdentais, e apresentam as vantagens de baixo custo, técnica cirúrgica simples e alta versatilidade. Costa et al.14 utilizaram mini-implantes de 2 mm de diâmetro como ancoragem para diversos tipos de movimentações dentárias e obtiveram um índice de sucesso de 87,5%. Ohmae et al.34 provaram, em cães beagles, a efetividade de mini-implantes com 1 mm de diâmetro como ancoragem para intrusão ortodôntica. Os autores mostraram que esses implantes são capazes de suportar forças intrusivas de 150 g por 12 a 18 semanas. Em 2004, Cheng et al. 12 utilizaram miniimplantes de titânio com 2 mm de diâmetro e 5 a 15 mm de comprimento, para a ancoragem ortodôntica. Foram colocados 140 mini-implantes em 44 pacientes. A carga aplicada aos implantes foi estimada entre 100 e 200 g. As direções das forças foram, principalmente, laterais. Forças de extrusão e de torque foram evitadas. Os critérios de sucesso para os mini-implantes foram: (1) ausência de inflamação, (2) ausência de mobilidade detectada clinicamente, (3) capacidade de sustentar as forças durante o tratamento ortodôntico. O índice de sucesso dos implantes foi de 89% (125/140). Com isso, os autores concluíram que os mini-implantes são efetivos para ancoragem ortodôntica. Implantes provisórios, de ligas de titânio, também podem ser utilizados como ancoragem ortodôntica. São auto-rosqueáveis, apresentam, em média, 2 mm de diâmetro, 14 mm de comprimento e podem ser ativados imediatamente. Após a verticalização do segundo molar e recuperação do espaço protético, o implante provisório poderá ser substituído imediatamente à sua remoção, por um implante osseointegrado de plataforma adequada (Figs. 9.42-9.55). AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.42 Aspectos clínicos na ausência de um primeiro molar inferior esquerdo. Vista vestibular. FIG. 9.44 Vista lateral esquerda, demonstrando a mesialização do segundo molar inferior esquerdo, impedindo a reabilitação protética. FIG. 9.46 Implante provisório (IPI, Nobel Biocare) colocado na região de primeiro molar inferior esquerdo, com a finalidade de distalizar os dentes posteriores. FIG. 9.43 Aspectos clínicos na ausência de um primeiro molar inferior esquerdo. Vista oclusal. FIG. 9.45 Aspectos radiográficos da mesialização do segundo molar inferior esquerdo com espaço insuficiente para reabilitação. FIG. 9.47 Vista oclusal do implante provisório. Observe o reduzido espaço protético presente. 233 234 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA FIG. 9.48 Ancoragem do aparelho ortodôntico no implante provisório. FIG. 9.50 Vista vestibular após a distalização do segundo e terceiro molares. FIG. 9.52 Radiografia panorâmica após a colocação do implante MkIII TiUNite (Nobel Biocare) de plataforma regular. FIG. 9.49 Aspectos radiográficos após a montagem do aparelho ortodôntico. FIG. 9.51 Aspectos radiográficos após a colocação do implante MkIII TiUnite (Nobel Biocare) de plataforma regular. FIG. 9.53 Aspectos finais da reabilitação protética. Vista lingual. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.54 FIG. 9.55 Aspectos finais da reabilitação protética. Vista oclusal. Aspectos finais da reabilitação protética. Vista vestibular. REPOSIÇÃO DE UMA RAIZ DE MOLAR mésio-distal ou sobre a quantidade e qualidade óssea favorável, devemos remover a raiz e reabilitarmos a região apenas com implante. Muitas vezes, somos obrigados a remover uma das raízes de molares devido a problemas como cárie extensa, lesão apical ou lateral de caráter endodôntico ou devido a fatores iatrogênicos. As soluções, nesses casos, não são muito previsíveis. As alternativas incluem: uma coroa apoiada somente na raiz remanescente repondo o espaço; o desgaste do segundo molar e a confecção de uma prótese parcial fixa; ou, ainda, uma prótese mista com uma coroa na raiz do primeiro molar e uma adesiva no segundo. Porém, com o desenvolvimento da osseointegração, um planejamento mais conservador e previsível pôde ser implementado. Assim, confeccio namos uma coroa com núcleo para raiz remanescente e um implante com coroa individual na região da raiz removida. É importante lembrarmos que devemos respeitar um espaço mínimo entre as coroas e raízes dos dentes vizinhos de aproximadamente 6 a 7 mm. Se houver alguma dúvida sobre a integridade da raiz remanescente, a adequação do espaço EXTREMO LIVRE A reabilitação de um molar em extremo livre, isto é, quando o paciente apresenta dentes até o segundo pré-molar e a restauração do primeiro molar representa o último dente na arcada dentária, é a situação que mais exige do implante devido a forte concentração das cargas oclusais sobre a coroa. O excesso de carga pode causar fratura do parafuso do pilar, do revestimento cerâmico (Figs. 9.569.58) ou até mesmo a perda do implante. Segundo Engelman20, quando o único dente faltante for o molar mais distal, deve-se utilizar dois implantes ao invés de um, devido à alta demanda oclusal (Figs. 9.59-9.65). As estruturas anatômicas presentes na região posterior, seio maxilar e canal do nervo alveolar inferior, normalmente impedem a colocação de implantes longos. Além disso, a pobre qualidade óssea dessa região muitas vezes nos leva a modificar o planejamento das reabilitações. 235 236 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA FIG. 9.56 Aspecto radiográfico da reabilitação de extremo livre com implante unitário. FIG. 9.58 Porcelana fraturada, devido ao excesso de carga sobre o implante unitário. Vista lingual. FIG. 9.60 Reconstrução tomográfica transversal na ausência dos molares inferiores direito. FIG. 9.57 Porcelana fraturada, devido ao excesso de carga sobre o implante unitário. Vista oclusal. FIG. 9.59 Radiografia periapical evidenciando a ausência dos molares inferiores direito. FIG. 9.61 Reconstrução tomográfica transversal na ausência dos molares inferiores direito. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.62 Aspectos finais da reabilitação protética. Vista vestibular. FIG. 9.63 Aspectos finais da reabilitação protética. Vista lingual. FIG. 9.64 Aspectos finais da reabilitação protética. Vista oclusal. 9.65A 9.65B FIGS. 9.65A-B Aspectos radiográficos finais, após o aparafusamento das coroas sobre os implantes de plataforma regular. Observe a excelente adaptação dos pilares e manutenção da altura da crista óssea. 237 238 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA Quando for utilizado apenas um implante na reposição do último molar, deve-se fazer uma anatomia oclusal menor no sentido vestíbulo-lingual (Figs. 9.66-9.70). O ajuste oclusal deve ser minuciosamente executado lembrando que, devido à ausência do ligamento periodontal, podemos mascarar FIG. 9.66 Reabilitação com implantes plataforma regular, na ausência dos segundos molares inferiores. FIG. 9.68 Aspectos finais da coroa Procera® cimentada sobre o pilar CeraOne. Vista vestibular. a posição correta da restauração. O ajuste deve ser feito com um forte contato oclusal, permitindo todo o movimento do ligamento periodontal dos dentes adjacentes. Dessa forma, quando os dentes sofrerem movimentos durante o ciclo mastigatório, o implante não receberá as cargas oclusais isoladamente. FIG. 9.67 Pilar CeraOne sobre o implante inferior direito. FIG. 9.69 Pilar CeraOne sobre implante inferior esquerdo. FIG. 9.70 Aspectos finais da coroa Procera® cimentada sobre o pilar CeraOne. Observe a superfície oclusal reduzida no sentido vestíbulo-lingual, com o objetivo de diminuir a mecânica sobre o implante. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE IMPLANTE EM ENXERTO ÓSSEO Procedimentos de enxertos ósseos têm sido desenvolvidos para aumentar o volume ósseo em pacientes com reabsorção alveolar avançada e conseqüente impossibilidade de colocação de implantes. Boyne e James7 publicaram, em 1980, uma técnica para o levantamento do assoalho do seio maxilar, que permitiria a colocação de enxerto ósseo removido da crista ilíaca, e posterior colocação de implantes. Desde então, muitos autores publicaram alterações na técnica cirúrgica e, principalmente, em relação ao material utilizado no enxerto. O ramo mandibular, o mento e a tuberosidade são áreas doadoras intra-orais que tem apresentado resultados excelentes. A perda de espessura pela reabsorção óssea vestibular na região posterior de maxila é uma condição anatômica que cria problemas para a reabilitação protética. A colocação de implantes nessas condições pode resultar num posicionamento palatinizado e a conseqüente criação de um cantilever vestibular. A avançada reabsorção vertical do rebordo alveolar na região posterior de maxila e/ou a pneumatização do seio maxilar podem impedir a confecção de próteses com uma adequada proporção coroa-implante. Sendo assim, a melhor alternativa de tratamento é o aumento da espessura residual do rebordo alveolar, com a utilização de enxertos ósseos e levantamento de seio maxilar. Com isso, se permite a colocação dos implantes numa posição adequada, planejada previamente através de exames radiográficos, tomográficos, modelos de estudo e enceramento diagnóstico, criando condições favoráveis para a reabilitação protética (Figs. 9.71-9.74). FIG. 9.71 Aspectos radiográficos iniciais, demonstrando a insuficiente quantidade óssea para a reabilitação com implantes 9.72 9.73 FIGS. 9.72-9.73 Aspectos radiográficos após a realização de levantamento de seio maxilar bilateral e enxerto de osso autógeno, colocação de implantes plataforma regular e reabilitação protética. 239 240 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA FIG. 9.74 Tomada radiográfica panorâmica após reabilitação protética. Após a colocação dos implantes, o planejamento das próteses provisórias deve ser realizado cuidadosamente. De acordo com o Consenso da Conferência sobre Levantamento de Seio Maxilar da Academia de Osseointegração, a maior parte dos implantes colocados em enxertos de seio é perdida no primeiro ano. Isto pode ocorrer devido a utilização prematura de uma prótese parcial removível provisória que podem causar micromovimentos dos implantes e pressão sobre a área cirúrgica. Zinner e Small49 recomendam que a prótese removível provisória seja reembasada com condicionador de tecido (silicone por adição) e inserida somente 3 semanas após a primeira fase cirúrgica. As próteses parciais removíveis provisórias estão indicadas na ausência de todos os dentes posteriores. Quando um ou mais pré-molares estiverem presentes, as próteses provisórias sobre a região de seio maxilar podem utilizar esses dentes como pilares, permitindo, assim, provisórios fixos. Nesse caso, os provisórios devem ser reforçados com uma estrutura metálica, por incorporarem um ou mais pônticos. Para reduzir a carga sobre os dentes, esses provisórios não devem estar em oclusão, isto é, são utilizados somente para fins estéticos. As próteses provisórias fixas podem ser colocadas no mesmo dia da cirurgia, já que não exercerão pressão sobre a área cirúrgica. Após a 2ª fase cirúrgica e a fixação do pilar, será confeccionada uma prótese provisória sobre o implante. Esse provisório transmitirá cargas oclusais ao implante e tecido ósseo circundante. A seleção do material para a confecção da prótese provisória é muito importante. Segundo Binnon e Sullivan6, o uso de prótese provisória de resina acrílica permite a absorção de cargas e limita o estresse sobre o implante, melhorando o remodelamento ósseo. A oclusão dessa prótese deve permitir carga na direção vertical, enquanto que as forças laterais devem ser evitadas. Segundo Zinner e Small49, se a reabilitação protética incluir somente implantes colocados em enxertos ósseos, as próteses provisórias devem ser utilizadas por cerca de 1 ano antes da confecção das próteses definitivas, a fim de permitir a maturação dos materiais enxertados. De acordo com Rangert e Renouard37, o uso de prótese provisória deve permitir a avaliação da estética, higiene oral e oclusão do paciente. O desenho do provisório deve eliminar cantilevers e minimizar a largura para obter proteção do implante durante a fase de cicatrização e remodelamento ósseo. IMPLANTE IMEDIATO PÓS-EXODONTIA De acordo com Martinez et al.32, um aumento da largura do implante, do tamanho da plataforma ou a forma da fixação podem aumentar o contato osso-implante, resultando numa melhor estabilidade inicial. Um implante cônico, com forma de raiz, permite boa adaptação em alvéolos de dentes recém-extraídos e locais com pouco volume ósseo, aumentando a estabilidade inicial. A colocação imediata de implantes osseointegrados em alvéolos de dentes recém-extraídos tem sido descrita na literatura como uma técnica previsível e com ótimos resultados nas regiões anteriores. Entretanto, a imediata reposição de um molar unitário com implantes ainda é um desafio (Figs. 9.75 e 9.76). Scwartz-Arad et al.44 relataram a colocação de 56 implantes imediatamente após extrações de molares superiores e inferiores. Quarenta e seis molares foram reabilitados com um implante, e cinco, com dois implantes. O índice de sucesso após 5 anos foi de 89%. As conclusões dos autores foram de que AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE FIG. 9.75 FIG. 9.76 Radiografia panorâmica inicial, apresentando remanescente radicular na região de primeiro molar esquerdo. Radiografia periapical da região inferior esquerda após a remoção do remanescente radicular e a colocação imediata do implante. a colocação imediata de implantes na região posterior é uma técnica previsível e que o prognóstico dos implantes inferiores (92% de sucesso) é melhor do que o dos superiores (82% de sucesso). Vergara e Caffesse 48 relataram a colocação imediata de implantes após a exodontia em oito pacientes. O protocolo aplicado consistia na extração atraumática, avaliação do alvéolo e colocação do implante. Os implantes utilizados eram de plataforma larga e, quando o espaço entre as paredes dos alvéolos e o implante era muito grande, realizava-se enxerto nessa região. Em todos os casos, a cicatrização de tecidos moles e duros foi excelente. Com isso, os autores concluíram que o protocolo descrito é viável para a reabilitação de molares superiores, evitando procedimentos de levantamento de seio maxilar. envolvem múltiplos implantes, unidos rigidamente por uma imediata estrutura metálica protética, resultando na diminuição da carga e deslocamentos sobre qualquer implante individual. Atualmente, alguns autores têm relatado que a restauração imediata de um implante unitário é viável, desde que o caso seja devidamente selecionado, a fixação apresente uma boa estabilidade primária e seja feito um alívio oclusal a fim de reduzir micromovimentos prematuros devido à carga funcional. Dinato et al.17 sugerem que o respeito aos princípios básicos no planejamento e o conhecimento acumulado ao longo dos anos permite que, em casos selecionados, possa ser indicada a carga imediata. A partir da década de 90, muitos pesquisadores têm trabalhado no desenvolvimento de novas texturas de superfície. Vários autores demonstraram evidências científicas que sugerem que as propriedades da superfície do implante influenciam na resposta óssea. Uma maior superfície de contato osso-implante e maior resistência às forças de torque, freqüentemente são descritas para os implantes com superfície rugosa, quando comparados com implantes de superfície lisa9,24,51. Isso implica dizer que essas superfícies conduzem a um maior sucesso em osso poroso e/ou enxertos ósseos e que o período de cicatrização é reduzido pela obtenção de resposta óssea mais favorável (Sennerby e Miyamoto45). Misch33 recomenda, para osso tipo I e II, o emprego de implantes com a superfície sem revestimento e para osso tipo III e IV, implantes com tratamento de superfície. PROVISÓRIO IMEDIATO Recentemente, uma mudança no protocolo clássico de Bränemark tem sido sugerida. Após vários estudos realizados com o desejo de diminuir o tempo de espera para a realização da prótese sobre implante e o procedimento cirúrgico em dois estágios, surgiu a proposta de utilização da técnica de carga imediata. Nesta técnica, a aplicação da carga funcional sobre os implantes pode variar de poucas horas a alguns dias. As primeiras publicações de carga imediata na literatura ocorreram na década de 90 e relatavam casos de pacientes edêntulos totais ou parciais4,13,17,28,36,42,46. Estes relatos 241 242 IMPLANTODONTIA CONTEMPORÂNEA Gottlow et al.25 compararam histologicamente e biomecanicamente os implantes com superfície oxidada (TiUnite, Nobel Biocare) e com ataque ácido duplo (Osseotite, 3i Implant Innovations), em coelhos, após seis semanas de cicatrização. A conclusão dos autores foi que a superfície TiUnite resultou em um contato osso-implante e uma estabilidade significativamente maiores, medidas por freqüência de ressonância e valores de torque de remoção. Henry et al.29 compararam o torque necessário para a remoção de implantes maquinados (controle) e com tratamento de superfície TiUnite (teste), colocados em cães, dez semanas após a primeira fase cirúrgica. Concluíram que o grupo teste apresentou valores maiores para a remoção dos implantes, implicando numa maior ancoragem. Além da textura da superfície, o desenho do implante é muito importante para o planejamento de carga imediata. A fixação Mk IV (Nobel Biocare) possui anatomia cônica e duplas roscas. Essas características permitem ao operador alcançar compressão e ancoragem progressiva durante a instalação do implante. Wennerberg et al.50 relataram maior estabilidade inicial dos implantes Mk IV quando comparados com implantes lisos e com superfícies rugosas. Friberg et al.21 compararam os implantes Mk IV com implantes lisos do sistema Bränemark, colocados em 44 pacientes, com osso tipo IV, na posição mais distal, tanto direita quanto esquerda, do arco dentário. Os implantes do grupo teste (Mk IV) mostraram maior torque de inserção e uma estabilidade primária significativamente maior do que os implantes controles (maquinados). No entanto, na reabertura para a colocação dos pilares e após um ano de acompanhamento, ambos os grupos apresentaram valores similares de estabilidade secundária. O índice de sucesso após um ano foi de 93,1% para os implantes Mk IV e 88,4% para os implantes lisos. Rompem et al.39 estudaram em cães a aplicação de testes de freqüência de ressonância em implantes com superfície oxidada e com superfície lisa com rosca dupla, seis semanas após a colocação. Os implantes oxidados mantiveram uma alta estabilidade primária durante as seis semanas de cicatrização. Os resultados desse estudo sugerem que a adição de uma superfície oxidada ao design dos implantes testados pode ser uma maneira de otimizar a osseointegração e, possivelmente, a função clínica do implante. Glauser et al.23 realizaram 51 reconstruções protéticas em trinta e oito pacientes. Todas as pró- teses provisórias foram colocadas no mesmo dia da cirurgia. Destas, vinte eram reabilitações unitárias e a maioria dos implantes foi colocada na região posterior (88%). O índice de sucesso após um ano de acompanhamento foi de 97,1%. Com isso, os autores concluíram que o protocolo de carga imediata utilizando um implante cônico, rosqueável e com superfície modificada (Mk IV TiUnite, Nobel Biocare) demonstrou ser uma alternativa de tratamento bem-sucedida, até mesmo em regiões de osso de baixa qualidade. Calandriello et al.10 avaliaram a utilização de carga imediata sobre implantes Bränemark (Mk IV, TiUnite, plataforma larga) na reabilitação de molares inferiores unitários. Foram colocados 50 implantes e todas as coroas provisórias foram colocadas no mesmo dia da cirurgia. Nenhum implante foi perdido em um ano de acompanhamento. A análise de freqüência de ressonância demonstrou alta estabilidade dos implantes e nenhum problema biomecânico foi relatado. Os autores concluíram que, apesar do pouco tempo de acompanhamento, os resultados encorajam a utilização de carga imediata em molares unitários inferiores utilizando implantes com superfície TiUnite e plataforma larga. CONCLUSÕES Este capítulo tratou da reabilitação protética na ausência de um único elemento natural na região posterior. As oito situações clínicas descritas devem ser consideradas durante o planejamento multidisciplinar na busca de um resultado efetivo de longo prazo, considerando-se cada condição individualmente. Além destas situações específicas, uma boa saúde geral do paciente, a utilização de um sistema de implantes reconhecido e a experiência do profissional são condições fundamentais para um resultado final positivo na reabilitação do paciente. A perspectiva da osseointegração tem agregado novos horizontes e alternativas para o tratamento odontológico, e está cada vez mais acessível para o clínico e para a população em geral. Porém, como em tudo, o planejamento e a consideração prévia das condições individuais do paciente são determinantes para um adequado encaminhamento do caso. O bom senso do cirurgião-dentista, suas condições de trabalho, a tecnologia disponível e um bom uso das ferramentas e do conhecimento acumulado sobre os implantes osseointegrados são elementos a serem equacionados com sabedoria. AUSÊNCIA DE UM ÚNICO ELEMENTO NATURAL NO SETOR POSTERIOR COM E SEM REBORDO SUFICIENTE REFERÊNCIAS 1. Bahat O, Handelsman M. Use of wide implants and double implants in the posterior jaw: a clinical report. Int J Oral Maxillofac Implants, v.11; p.379-386, 1996. 2. Balshi TJ. First molar replacement with an osseointegrated implant. Quintessence Int, v.21; p.61-65, 1990. 3. Balshi T, Hernandez R et al. A comparative study of one implant versus two replacing a single molar. Int J Oral Maxillofac Implants, v.11; p.372-378, 1996. 4. Balshi TJ, Wolfinger GJ. Immediate loading of Bränemark implants in edentulous mandibles: a preliminary report. Implant Dent, v.6;p.83-88, 1997. 5. Becker W, Becker B, Alsuwyed A, Al-Mubarak S. 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