Chame o médico, não o Doutor

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REVISTA AMF – EDIÇÃO 23 – PAG. 04
Identificação
CHAME O M ÉDICO, N ÃO O DOUTOR
Paulo Cesar Geraldes*
Considerando que o paciente, seja pela Constituição Federal ou por lei estadual, tem o
direito de saber o nome e por qual profissional está sendo atendido, o Cremerj aprovou, no
dia 9 de janeiro, a Resolução nº 213/06, que dispõe sobre a obrigatoriedade de
identificação do profissional médico em todas as unidades de saúde do Estado do Rio de
Janeiro. A resolução estabelece que, no crachá de identificação, a denominação do cargo do
profissional deverá ser médico e não doutor.
O médico sempre foi chamado de doutor porque, antigamente, quando terminava o seu
curso de graduação, ele defendia uma tese. Esse modelo de defesa de tese na graduação
passou para as outras profissões e, hoje, não acontece mais em medicina. Na realidade, só
existe obrigatoriedade de defesa de tese para quem está fazendo doutorado. Até no
mestrado só se exige uma dissertação. Mesmo assim, virou tradição chamar o médico de
doutor.
No entanto, quando as outras profissões da área da saúde começaram a ser reconhecidas, os
profissionais eram chamados de enfermeiro fulano de tal, psicólogo fulano de tal, etc. Com
o passar do tempo, esses profissionais começaram a considerar que essa forma de
tratamento, sem o uso do título doutor, era uma diminuição em relação ao médico, já que
existe a concepção enganosa de que todos os profissionais são iguais dentro da equipe de
saúde.
Com isso, os conselhos das demais profissões baixaram resoluções autorizando o uso do
título de doutor para seus respectivos profissionais. Hoje, nos hospitais, todo mundo é
doutor: psicólogo é doutor, enfermeiro é doutor, fonoaudiólogo é doutor e o médico
também. Como todos esses profissionais escrevem no jaleco que são doutores, o grande
problema é que o pacie nte não sabe por quem está sendo atendido. Muitas vezes, os outros
profissionais não se identificam para os pacientes, ou porque querem realmente se passar
por médicos, ou porque querem se esconder sob a idéia de serem médicos.
A questão é que quando há algum erro ou problema que interfere na relação do paciente
com o profissional de saúde, a culpa acaba recaindo sobre o doutor, que o paciente acredita
ser o médico. Quando está tudo bem, todos os profissionais são doutores. Quando está
ruim, doutor é o méd ico.
O objetivo da Resolução nº 213/06 é fazer a diferenciação de quem é médico, até mesmo
porque estamos reivindicando planos salariais e de carreiras diferenciados para estes
profissionais. No Espírito Santo, por exemplo, isso já acontece. Lá, o médico faz parte de
uma categoria salarial separada dos outros profissionais de saúde. O que acreditamos ser
muito justo, já que o médico é o responsável pelo tratamento do paciente e detém o
conhecimento fundamental dentro da área da saúde para fazer o diagnóstico, elaborar o
processo terapêutico e, até mesmo, para indicar os profissionais de saúde que vão participar
do tratamento.
É o médico quem diz se o paciente vai precisar do atendimento de psicólogo, de
fisioterapeuta, de fonoaudiólogo, etc.
Nos hospitais universitários, todo mundo é chamado de professor doutor, mas pode ser
professor doutor de Biologia, de Química ou de Serviço Social. Nesse caso, se o médico
quiser colocar no jaleco “professor doutor” ou “PhD”, não há qualquer problema, contanto
que também conste que ele é médico.
Não estamos proibindo os médicos de se identificarem como professores doutores, mas
estamos querendo que eles também se identifiquem como médicos.
* Presidente do Cremerj
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