XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Diversidade Genética do Beijupirá (Rachycentron canadum) na costa Nordeste do Brasil. Mondrian Rodrigues de Sales1, Marcos Antonio Pergentino da Silva2, Maria Raquel Moura Coimbra3 Introdução O beijupirá (Rachycentron canadum) é um peixe pelágico economicamente importante e distribuído em águas tropicais e subtropicais quentes, com produção aquícola ainda incipiente no Brasil. Em aquicultura, uma das formas de melhor aproveitar o potencial de uma espécie é explorar a heterose por meio do cruzamento de reprodutores que pertençam a grupos genéticos distintos, de tal sorte que o acesso à variação genética existente em populações selvagens é uma informação essencial. A ocorrência de estratificação genética populacional ao longo da costa brasileira pode ser aproveitada na exploração da heterose, que costuma estar associada ao aumento da sobrevivência e da adaptabilidade na aquicultura. Dessa forma, identificar populações genéticas distintas é fundamental na formação de plantéis. Os marcadores moleculares microssatélites permitem investigar diferenças genéticas entre populações, constituindo ferramentas informativas e necessárias para a obtenção de parâmetros genéticos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a diversidade genética em uma população de 22 beijupirás da costa do Rio Grande do Norte (RN) e otimizar a amplificação de 8 loci de microssatélite nesta população. Material e métodos Foram coletados vinte e dois exemplares de beijupirá, na costa do Rio Grande do Norte, e retirado um pedaço de tecido da nadadeira caudal, para extração de DNA. O DNA foi extraído com o kit DNeasy Blood and Tissue kit (Qiagen), de acordo com o protocolo do fabricante e quantificados em um espectrofotômetro do tipo nanovue. Foram selecionados 25 loci de marcadores de microssatélite desenvolvidos por Renshaw (comunicação pessoal) e por Pruett et., al (2005). Tais marcadores foram inicialmente otimizados para temperatura de anelamento e concentração de magnésio em uma população de 22 indivíduos. Os produtos de PCR foram separados em gel de agarose a 1% e posteriormente em gel de poliacrilamida, a 4 ou 5%, dependendo do locus. As reações tiveram volume final de 10 uL, consistindo de 1 uL ou 2 uL de DNA (20-40 ng/uL), 1X Tampão de PCR (20 mM Tris-HCl (pH 8.0), 40 mM NaCl), 1U de Taq DNA polimerase recombinante, 10 pmol/uL de cada primer, 200uM de dNTP, 1,5 ou 2,5 mM de MgCl2 Os ciclos de PCR consistiu de uma desnaturação inicial de 94 ° C por 4 minutos, seguido de 35 ciclos de 94 ° C durante 30 segundos, temperatura de anelamento otimizado durante 30 segundos, extensão a 72 ° C durante 1 minuto e uma extensão final a 72 ° C durante 40 minutos. Os produtos de PCR foram aquecidos para desnaturação da fita de DNA e formamida foi adicionada para impedir a reunião das fitas de DNA. A separação dos alelos de cada locus de microssatélite foi feito em gel de poliacrilamida (Fig. 2) com programação de 1500 v 60 mA e 55 W. Inicialmente foi feita uma pré-corrida com duração de 30 - 40 min para aquecimento uniforme do gel e, em seguida, uma eletroforese com duração de 1h30 min - 2 horas foi conduzida com os mesmos parâmetros da pré-corrida. Após a eletroforese, os géis foram corados com nitrato de prata a 2% e revelados com carbonato de sódio e fixados em ácido acético 10%. As imagens dos alelos foram registradas em um scanner e o tamanho dos alelos foi estimado a partir da comparação da altura dos alelos com um marcador de 10 bp (Invitrogen) e calculados em um software Kodak (Kodak MI). Os parâmetros genéticos como número de alelos (A), Heterozigosidades observadas (Ho) e esperadas (He),Coeficiente de endogamia (FIS), Equilibrio de Hardy-Weinberg (HWE), Desequilíbrio de ligação (LD), índice de diferenciação populacional (FST) foram calculadas no programa Genepop 4.0 (Raymond & Rousset, 1995). Alelos Nulos foram calculados por meio do Microchecker (Oosterhout et al., 2004) e o Número de Alelos Efetivos (Ae), através do Genealex (Peakall & Smouse, 2006). Resultados e Discussão Um total de 57 alelos foi encontrado em oito marcadores microssatélite, variando de 1 a 14 (Tab.1). Números similares de alelos foram encontrados por Pruett et., al (2005) e Gold et., al (2013) que avaliaram populações do Golfo 1 Primeiro Autor é Graduando em Engenharia de pesca, Departamento de Pesca e Aquicultura, Laboratório de Genética aplicada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é Graduando em Engenharia de pesca, Departamento de Pesca e Aquicultura, Laboratório de Genética aplicada Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 3 Terceiro Autor é Professor Associado do Departamento de Pesca e Aquicultura, Laboratório de Genética aplicada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. do México e Atlântico Norte-ocidental. A heterozigosidade média esperada e observada encontradas foi de 0,6528 e 0,5714, respectivamente. Gold et., al (2013) encontrou uma heterozigosidade esperada média de 0,6592 para os oito loci aqui avaliados em quatro populações, sendo uma população do Atlântico Norte-ocidental, duas populações do Golfo do México e uma outra de Taiwan. Três dos nossos marcadores com repetições tetranucleotídicas (Rca1B-F06, Rca1B-H09 e Rca1B-C06) foram comparados com dados brutos de Gold et., al (2013) e os resultados mostraram um compartilhamento de alelos e suas frequências, sugerindo um intenso fluxo gênico retratado por um F ST de 0,0088 entre a população do Rio Grande do Norte e aquelas do Atlântico Norte-ocidental e Golfo do México. Os resultados mostraram que a população do Rio Grande do Norte e aquelas do Golfo do México e do Atlântico Norte-ocidental fazem, na verdade, parte uma única população. A avaliação de populações mais ao sul do Rio Grande do Norte poderá revelar alguma estratificação genética, uma vez que nesta região a corrente do Brasil é predominante. Agradecimentos Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Referências Benetti DD, Alarcon JF, Stevens O’Hanlon B, Rivara JA, Banner-Stevens G, Rotman FJ (2003) Advances in hatchery and growout technology of marine finfish candidate species for offshore aquaculture in the Caribbean. Proceedings of the Gulf and Caribbean Fisheries Institute, 54, 473 – 487. Bridger CJ, Costa-Pierce BA (2002) Sustainable development of offshore aquaculture in the Gulf of Mexico. Gulf Carib. Fish. Inst. 53: 255-265. Gold JR , Giresi MM , Renshaw MA, Gwo J. Population Genetic Comparisons among Cobia from the Northern Gulf of Mexico, U.S. Western Atlantic, and Southeast Asia. North American Journal of Aquaculture 2013, 75:1, 57-63 Oosterhout WFV, Hutchinson DP, Willis M, Shipley P (2004). Micro-Checker: software for identifying and correcting genotyping errors in microsatellite data. Mol. Ecol. Notes 4: 535-538. Peakall R, Smouse PE GenAlEx 6: Genetic Analysiz in Excel Population genetics software for teaching and research. Mol. Ecol. Notes. 2006; 6: 288-295. Pruett CL, Saillant E, Renshaw MA, Patton JC, Rexroad CE, Gold JR. Microsatellite DNA markers for population genetic studies and parentage assignment in cobia, Rachycentron canadum. Molecular Ecology Notes 2005, v. 5, 84-86. Raymond M, Rousset F Genepop (version 1.2): population genetics software for exact tests and ecumenicism. Journal of Heredity. 1995; 86: 248-249. Renshaw A. Microsatellite Markers for Cobia, Rachycentron canadum. Comunicação pessoal Shaffer RV, Nakamura EL (1989) Synopsis of the biological data on the cobia, Rachycentron canadum (Pisces: Rachycentridae). US Department of Commerce, NOAA Technical Report NMFS 82. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1. Ilustração da espécie de beijupirá (Rachycentron canadum). Figura 2. Aplicação de amostras em gel de Poliacrilamida. Tabela 1. Parâmetros Genéticos Estatística Rca1-A11 Rca1B-F06 Rca1B-H09 Rca1-B12 Rca1B-C06 Rca1B-A10 Rca1-D04 Rca1-D08 N 22 22 22 22 22 22 22 22 Tamanho alelos 166-196 264-300 178-226 171-183 357-421 171-201 123-129 172 A 8 10 11 3 14 6 4 1 Ho 0,5000 0,5909 0,6818 0,4545 0,7272 0,5909 0,4545 0 He 0,7285 0,7376 0,8592 0,3816 0,7610 0,6629 0,4390 0 FIS 0,3714 0,2036 0,2105 -0,1966 0,0456 0,1111 -0,0363 - HWE * * * NS NS NS NS * Ae 5,158 8,100 8,243 1,595 10,452 3,106 1,815 1 Alelos nulos Sim Não Sim Não Não Não Não - N= Tamanho amostral,Tamanho dos alelos em pares de base, A= número de alelos por locus, Ho= heterozigosidade observada, He= Heterozigosidade esperada, FIS = Coeficiente de endogamia, HWE = Equilíbrio de Hardy Weinberg, * = P<0,05, NS =Não significante, Ae= Numero de Alelos efetivos. Tabela 2. Índice de diferenciação genética populacional Microssatélite Fst Rca1B-C06 0.0236 Rca1B-F06 0.0004 Rca 1B-H09 0.0023 Fst Total 0,0088