a música no desenvolvimento da criança na educação infantil

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A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Mirtes Antunes Locatelli Strapazzon
RESUMO
A importância da música no desenvolvimento da criança na educação infantil é o tema deste artigo.
Integram esta pesquisa bibliográfica os devidos referenciais teóricos sobre a história da
educação infantil, sobre a música e o desenvolvimento infantil através de educadores
musicais; sobre a musicalização na prática pedagógica do docente da educação infantil; um
breve relato sobre a história da Educação Infantil relacionando com a prática pedagógica,
com a musicalização e com o desenvolvimento da criança. Estudar os pensadores da
Pedagogia e associar seus trabalhos aos pedagogos musicais faz parte desta pesquisa a fim
de averiguar tais concepções e centrar-se a respeito da criança no mundo diferenciado do
adulto, pois a música pode ser uma das disciplinas e um recurso didático pedagógico de
ensino e aprendizagem da criança de forma lúdica, possibilitando o desenvolvimento dos
aspectos físico, cognitivo, emocional e propiciando a interação social. A Pedagogia e a
Música podem ser de grande importância para o desenvolvimento infantil.
Palavras-chave: Música; Educação Infantil; Desenvolvimento Infantil.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo é o resultado da pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo identificar a
importância da música no desenvolvimento da criança no processo da Educação Infantil. Os
objetivos específicos buscam pesquisar referencias teóricos sobre a música e o
desenvolvimento infantil, através de educadores e musicalizadores ou “pedagogos musicais”;
escrever sobre a musicalização na prática pedagógica no processo da Educação Infantil; fazer
um breve relato sobre a história da Educação Infantil e relacionar a prática pedagógica com a
musicalização e o desenvolvimento infantil.
A Educação Infantil e a infância estão intrinsecamente ligadas. Conhecer o processo
histórico da Educação Infantil remete-se a pesquisar o comportamento da criança nos aspectos
social, cultural, econômico, psíquico, familiar, entre tantos outros, sendo fundamental para o
trabalho do pedagogo. Saber de teorias científicas da educação implica neste conhecimento
também, assim como os das leis que gerem este processo. Refletir sobre as instituições sejam
particulares ou públicas, sobre o pensamento assistencialista ou educacional faz parte deste
estudo. Disciplinas como a música desde a antiguidade é relacionada com a Educação Infantil
2
e com o desenvolvimento da criança. Atualmente sabe-se de estudos científicos que
comprovam a relação da música com desenvolvimento lógico, sensório-motor e emocional da
criança.
Segundo CARVALHO (1997) a musicalização infantil desenvolve na criança os
campos: físico, mental, cognitivo e emocional. A música como linguagem pode expressar
idéias e sentimentos. A infância se caracteriza pela ação e pelo ato concreto. Ao pensar ou
expressar verbalmente uma idéia, a criança se encontra num processo de representação. A
música pode proporcionar a vivência da linguagem musical como um destes meios de
representação, interagir com o meio ambiente, incluindo os sons, as canções e outras
manifestações, é também um excelente meio no desenvolvimento da aptidão criativa e lúdica,
que é parte integrante da infância.
Outro fator é que desde a aprovação da lei 11.769 (em 18/08/2008), sobre a
obrigatoriedade da música na escola, muito se tem comentado sobre quais são os profissionais
que irão atuar, qual será o currículo, que formação se dará, entre outras questões. Segundo a
biblioteca digital, Sérgio Figueiredo (2008)– ex-presidente da ABEM (Associação Brasileira
de Educação Musical) muitas pessoas estão desapontadas em razão do veto ao parágrafo que
incluía a necessidade de professores com formação específica em música. Figueiredo afirma
que:
O segundo parágrafo do veto parece lógico, na medida em que nenhuma área tem
esta indicação na LDB, o que seria um precedente dentro do que diz a lei para todas
as áreas do currículo. O problema foi o primeiro parágrafo do veto que estabelece
uma grande confusão, já que menciona o artigo 62 da LDB, que trata da formação
em nível superior em curso de licenciatura para atuação na educação básica, e ao
mesmo tempo considera a possibilidade de pessoas sem titulação poderem atuar na
escola com a área de música.
A aprovação da nova legislação em Educação Musical que obriga as escolas no
ensino de séries iniciais e fundamental a ministrarem aulas curriculares de Música no prazo de
três anos a partir da referida promulgação (Agosto de 2011) e ainda sabendo-se da falta desse
professor licenciado em música se faz necessárias publicações de materiais para divulgação e
propagação de como trabalhar a música no currículo escolar; em razão destes pressupostos,
resulta esta pesquisa.
2 UMA BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
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Conhecer a criança no seu desenvolvimento humano é parte fundamental no processo
educacional da mesma. Alinhar as concepções da Educação Infantil desde que a mesma foi
construída é essencial para se trabalhar com a criança no contexto atual e globalizado do
século XXI, entretanto, é importante saber a origem deste processo histórico.
Segundo Wolff (2008) “a criança necessita de alguém que dela cuide e a ensine [...]
ela passa a aprender e desenvolver o seu potencial individual com a concivência social”, a
partir dos cuidados e ensinamentos que recebe. Platão já preocupava-se com a escolaridade da
criança em 390 a.C.
No século XVII, num contexto social de trabalho humano forçado na produção
agrícola, onde pedagogos marginalizavam tal reflexão, é Comênius ( 1592-1657) de
nacionalidade tcheca, considerado o maior educador; pois se preocupou com a formação
infantil até seis anos de idade criando o Plano da Escola Materna. Em seu trabalho fez
referencias pontuais a responsabilidade dos pais em relação as crianças, que para a época foi
um avanço. Além disso, ampliou sua contribuição nas áreas científicas como: “a Metafísica,
Ciências Físicas, Óptica, Astronomia, Geografia, Cronologia, História, [...] Poesia, Música,
Economia Doméstica, Política Moral, Religião e da Piedade”. (WOLFF, 2008, p. 5)
A sociedade burguesa do século XVIII exigiu o aumento de produção com a atuação
da mulher e da criança no mercado de trabalho. Refere-se aqui específica e essencialmente o
trabalho na fábrica. Ao mesmo tempo que a criança se integrava numa família trabalhadora e
era envolvida na produção econômica como adulto, os estudiosos fundamentaram teorias da
criança quanto a sua “natureza infantil”.
Lima (2009) cita que:
[...] a era pré-industrial e industrial necessitava das massas com um mínimo de
estabilidade e, para isso, família estável seria um instrumento útil para a sujeição.
Assim surge uma nova organização social da família, e essa é fruto da evolução
política e econômica da época moderna. Dessa forma, percebe-se que esse
sentimento surgiu quando a sociedade passou a ter consciência da particularidade
infantil, particularidade essa que distingue essencialmente a criança do adulto.
Nomes como o filósofo Rousseau (1712-1772) e o pedagogo Pestalozzi (1746-1827
desenvolveram seus ideais sobre educação e incluindo a educação infantil sendo como um
período distinto e específico no desenvolvimento humano, em que se vê, se pensa e se sente o
mundo de uma maneira talvez única e própria. Para Pestalozzi a educação estaria baseada no
amor e na bondade, mas com disciplina, onde o aluno estaria numa posição ativa no processo
para poder observar, investigar, coletar materiais e experimentar. Talvez por esta razão
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“psicologizou” a educação mesmo com pouquíssimo conhecimento desta área que até o
momento não era ciência, entretanto, foi o suficiente para fazê-lo definir as funções e
necessidades do desenvolvimento da criança.
De acordo com Oliveira (2002, p.14) citado por Lima (2009):
Pestalozzi em 1774, criou um orfanato para crianças pobres em Stanz, e defendia
que a educação deveria ocorrer em um ambiente o mais natural possível, sob um
clima de disciplina estrita mas amorosa, o que contribuiria para o desenvolvimento
do caráter infantil. [...] Para Pestalozzi a organização da escola era feita da seguinte
maneira: uma classe com os que tinham menos de oito anos, outra com os meninos
de oito a onze anos e a terceira com os alunos de doze a dezoito anos.
As contribuiçoes de Pestalozzi não se retringiram apenas ao processo pedagógigo do
passado, atualmente estuda-se suas teorias, inclusive referente ao conhecimento musical.
Segundo Wolff (2008) no século XIX, Fröebel (1782-1852) é o educador alemão que
criou os “Kindergartens” ( jardins de infância) que tinha a compreensão do brinquedo e
atividades lúdicas como um processo para o educação infantil. Criou um rico material
pedagógico para trabalhar o sensório motor ( pintura, colagens, recortes, entre outros) e o jogo
( educação física e dramatização) como fator de expressão para a criança.
A educação infantil no século XX foi “reformulada” por pedagogos, pensadores,
psicólogos, médicos como: Dewey (1859-1952); Montessori (1870-1952); Decroly (18711932); Claparède (1873-1940); Freinet (1896-1966); Wallon (1879-1962); Piaget (18961980); Vygotsky (1896-1934) e Ferreiro (1936) os quais, são referências no processo de
desenvolvimento da criança até noso século.
O americano Dewey renovou a prática pedagógica com foco maior no ato de aprender
do que para o ensinar. É conhecido por contribuir com o “método de projetos”; pois
trabalhava com as crianças de forma que tivessem conhecimento experimentando e
convivendo socialmente. “deveria subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal maneira que o
conhecimento fosse trabalhado de forma experimental, socialmente, desde a infância, com o
intuito de torná-la um bem comum.” (WOLFF, 2008, p. 10)
A escola Montessoriana é “biológico”, isto é, baseia todas as informações científicas
sobre o desenvolvimento infantil. “Segundo a metodologia, a evolução mental da criança
acompanha seu crescimento biológico e pode ser identificada claramente por fases bem
definidas. Tem material especifico para o trabalho pedagógico.” (Muller, 2008)
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De acordo com Wolff (2008) a psiquiatra italiana Maria Montessori criou um método
em que busca a educação da vontade,da atenção e do auto-controle. Realizou várias
experiências na chamda casa-escola que criou, dando enfoque a concepção biológica de
crescimento e desenvolvimento, além do aspecto psicológico e social da criança.
Wallon médico grego teorizou sobre a passagem do orgânico ao psíquico, individual e
social que se interligam a emoção, a motricidade, a imitação e a relação social.
A teoria de Wallon diz que:
O sujeito como pessoa completa e integrada, em que os aspectos motor, afetivo e cognitivo
se constituem como conjuntos funcionais vinculados entre si, cujas intenções estão em
constante movimento. [...] Portanto, o desenvolvimento da pessoa se dá pela maturidade
biológica e pela influência do meio em que vive.” (Wallon apud Sugahara, 2006)
Suas preocupações concentram-se em focar o confronto do individuo com a sociedade,
que segundo ele, o levará à construçaõ da inteligência.
A teoria de Piaget é designada como “desenvolvimento intelecutal”. Segundo Wolff
(2008) para Piaget, “o desenvolviemnto é um processo progressivo e contínuo, o qual consiste
na passagem de um estágio de menor equilíbrio para outro de equilíbrio maior [...] O
individuo está em constante enteração com o meio que o cerca.” A educação infantil que
segue esta teoria propicia um ambiente rico em estimulação e acomodação do exercício de
suas capacidades mentais.
Vygotsky dedicou seus estudos a Pedologia – “ciência da criança, voltada para o
estudo do desenvolvimento humano, articulando aspectos psicológicos, antropológicos e
biológicos.” (WOLFF, 2008, p. 17) Seus estudos e preocupações estavam voltadas para a
interação social do indivíduo, para a compreensão das origens sociais e das bases culturais
para o desenvolvimento individual do ser humano. Seu trabalhado atualmente é extremamente
valorizado.
É muito importante para o educador compreender a criança como ser biológico, social,
cultural intelectual, suas fases, suas demandas, suas dificuldades e os seus anseios, além do
meio em que se encontra, para tanto é necessário que se conheça as origens da educação
infantil e as teorias científicas da mesma.
3 A EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO MUSICAL
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Sabe-se que a música é fator importantíssimo na educação infantil, mas a sociedade e
neste contexto a própria escola, ainda vêem a música como meio de entretenimento e lazer, e
não como uma fonte de formação aos indivíduos.
Musicalizar refere-se ao sentido de educar pela música, com o “objetivo de contribuir
na formação e desenvolvimento da personalidade do indivíduo, pela ampliação da cultura,
pelo enriquecimento da inteligência e pela vibração da sensibilidade musical”. (CARVALHO,
1997)
As primeiras informações sobre o ensino formal da música vieram da Europa. Porém,
mais recentemente, um dos países que exerceram grande influência sobre o campo do ensino
musical no Brasil foram os Estados Unidos, principalmente no que diz respeito a métodos e
processos, bem como na melhor compreensão do papel da música na educação em geral. Esse
país, entretanto, também recebeu influência de origem européia a começar por Lowell Mason,
que pioneiramente aplicou, em 1829, o método pedagógico de Pestalozzi ao ensino da música,
onde o professor deveria sistematizar o trabalho de incitar a curiosidade para os novos
elementos apresentados a cada melodia e o aluno aprenderia fazendo ou experimentando. O
fato de as melodias serem apresentadas sem claves, sem compassos, sem divisão rítmica,
apoiava-se nas premissas de que as informações deveriam ser acrescentadas passo a passo, de
acordo com que o aluno pudesse perceber. E à medida que as percebesse, compreenderia a
razão de utilizá-las e a sua lógica de uso na escrita musical.
O ensino musical, até então, tinha como finalidade a arte do canto, do instrumento e
introdução de harmonia e contraponto. Os pedagogos impunham aos seus alunos exercícios de
técnica instrumental, sem procurar desenvolver a sensibilidade e gosto, e afirmar a
personalidade. Assim, as escolas de música só serviam aos “dotados”, com vozes afinadas e
bons de ouvido. Foi neste contexto que o suíço Emile Jacques-Dalcroze (1865-1950) criou
seu método eurítmico. Percebeu que os alunos tocavam, mas não compreendiam, usou então o
corpo para trabalhar o ritmo e posteriormente aplicá-lo ao instrumento musical. A biblioteca
virtual Wikipédia (2010) diz que “transformar o corpo em um instrumento musical bem
afinado, Dalcroze sentia, era o melhor caminho para gerar uma sólida base musical vibrante.”
Na América do Sul, dois países se destacaram no movimento da Educação Musical: a
Argentina, onde a notável figura de Alberto Williams (1862 – 1952) se sobrepõe às demais,
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não só como educador, mas principalmente como compositor. O Chile, com os pioneiros
Humberto Allende e Domingo Santa Cruz.
O desenvolvimento musical no Brasil no que se refere ao ensino da música verifica-se
que José de Anchieta utilizava a música como veículo de educação geral e sempre houve um
divórcio entre educação e música. Quando muito, o estudo da arte musical era informativo,
profissional, com finalidade em si própria. Com o progresso da ciência psicológica e dos
novos conceitos sobre Educação, evidenciou-se o grande papel que as artes desempenham na
formação da personalidade dos indivíduos e em seu amadurecimento emocional.
A atividade musical e as demais artes unidas ao jogo recreativo formam o alicerce
sobre o qual se apóiam as escolas infantis. A prática e utilização da música são
oportuníssimas na passagem de um estágio para outro do desenvolvimento do ser humano
desde seu nascimento.
Outra expressão de um grande educador musical é o japonês Shi-ichi Suzuki (18981998) que estudou violino no Japão e na Alemanha. Em 1946, ele lançou o Movimento de
Educação para o Talento no Japão: a sua premissa é que todo indivíduo possui talentos que
podem ser desenvolvidos pela educação. O “Método Suzuki” para o ensino de violino criado
por ele mesmo nos anos 40, pouco depois da segunda guerra mundial, inspira-se na
observação da maneira como as crianças aprendem sua língua materna na primeira infância,
através da habilidade de comunicação entre os pais e a criança. “Toda criança japonesa fala
japonês!”, constata Suzuki. Este é o exemplo mais bem-sucedido de processo de
aprendizagem, pois tem cem por cento de eficiência: não há quem não aprenda (exceto raros
casos excepcionalmente patológicos).
Segundo a biblioteca virtual, Suzuki apud Goulart (2008) afirma, referindo-se ao seu
método, que não fez “nada mais do que uma adaptação dos princípios de aprendizagem da
língua materna à educação musical”. Alguns dos princípios como a motivação, as crianças
ficam fascinadas ao aprender; a alegria e a auto-confiança proposta pelo ambiente da escola e
familiar; a aprendizagem dentro do ritmo de cada um, respeitando as dificuldades; o
aprendizado com o objetivo de usar no dia-a-dia estes conhecimentos e habilidades; a
imitação dos modelos, que estão sempre disponíveis; a identificação com os mestres e afeto
são essenciais em seu método.
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A observação visual e auditiva de modelos é preferida à explicação verbal. Depois que
a criança já adquiriu as habilidades mais básicas no instrumento é que se introduz, de forma
criativa e adequada à idade e maturidade de cada um, a teoria musical e a leitura. A
participação dos pais é fundamental nesta metodologia: os pais freqüentam as aulas junto com
os filhos, recebem tarefas e instruções para melhorar sua atuação como professores em casa.
As instituições que usam o método publicam livros e apostilas com “instruções para os pais”,
onde descrevem minuciosamente atitudes e estratégias a serem adotadas.
A educação musical segundo Edgar Willens voltava-se ao estudo da psicologia como
fundamento básico de seu método. O livro As bases psicológicas da Educação Musical, de
Edgard Willens, mostra a “importância primeira à natureza dos elementos fundamentais da
música e às suas relações com a natureza humana, tais como eles aparecem nas experiências
musicais, particularmente no campo da educação.” (WILLENS, 29, p.12) Nesta obra Willens
relata o seguinte: Existem os rudimentos, que são os princípios do ensino musical, sem
discriminação do seu valor psicológico. As bases, por sua vez, referem-se à educação, e
dizem respeito ao começo de seus princípios fundamentais, válidos desde o começo até o fim
dos estudos. Muitos professores podem dar os primeiros rudimentos da música às crianças,
porém, poucos possuem condições de enraizar as bases na vida musical. A idade de 3 ou 4
anos da criança, é ideal para que um professor de música faça um trabalho de preparação
musical. Antes disso, o papel de atrair a atenção das crianças aos fenômenos sonoros e
rítmicos e ensinar as primeiras canções é da mãe.
“O ouvido musical, a imaginação sonora e a conseqüência directa dos dois – a
melodia - devem constituir os elementos de base, o centro do desenvolvimento musical”.
(WILLENS, 1929, p.28). A melodia é o elemento musical que permanecerá sempre, é
essencial e o mais característico da música para as crianças. Ritmo e som, por sua vez, estarão
unidos no canto. Os pauzinhos de madeira são eficazes e devem ser apresentados às crianças
como instrumentos rítmicos para que elas exercitem, com este auxílio, os movimentos e os
ritmos. Podem ser associados posteriormente ao canto, nas canções. “É muito importante que
a criança viva os factos musicais antes de tomar consciência deles” (WILLENS, 1929, p.20).
O canto precisa impreterivelmente estar presente na iniciação musical das crianças.
Ele contribui para o desenvolvimento da audição interior e, na metodologia de Willens, o
papel mais importante nesta fase da educação musical é do canto. O canto em cânone, por
exemplo, prepara para o estudo da harmonia e o canto a duas vozes. O desenvolvimento da
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musicalidade infantil muito se deve ao canto. Segundo Willens (1929) as canções populares
serão instrumentos de aprendizagem musical infantil, visto que são originadas da sua raça. É
preciso, porém, ter um cuidado posterior com a escolha do repertório de canções populares do
ponto de vista musical, ou seja, a questão do ritmo, intervalos, acordes ou modos. O
instrumento eficaz – que deve ser o ponto de partida na educação musical – e que
acompanhará o aluno em seu desenvolvimento mesmo em seu estudo instrumental e de
harmonia na perspectiva de Willens, é o canto, pois este, é a expressão mais natural da
música.
4 A MÚSICA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Dizer que a criança tem potencialidades e aptidões musicais principalmente na
primeira infância não é errôneo, entretanto as pesquisas em universidades comprovam este
fato, pois neste período que os esquemas de aprendizagem estão abertos a aprender a arte, a
segunda língua, a música ou o que se pretenda ensinar à criança.
Silva apud Pires (2008) faz um comentário sobre as experiências de Schlaug, da
Escola de Medicina de Harvard (EUA), e Gaser, da Universidade de Jena (Alemanha) citando
que:
Estas experiências revelaram que, ao comparar cérebros de músicos e não músicos, os do
primeiro grupo apresentavam maior quantidade de massa cinzenta, particularmente nas
regiões responsáveis pela audição, visão e controle motor. Esses pesquisadores [...]
afirmaram que tocar um instrumento exige muito da audição e da motricidade fina das
pessoas, e que a prática musical faz com que o cérebro funcione ‘em rede’. Ter um cérebro
funcionando em rede significa que o indivíduo, ao ler determinado sinal na partitura,
necessita passar essa informação (visual) ao cérebro, que em seguida transmitirá à mão o
movimento necessário (tato) e, ao final disso, o ouvido acusará se o movimento feito foi o
correto ( audição).
Outras pesquisas realizadas sob o aspecto de apreciação musical também acusam
estímulos cerebrais intensos e ao corpo humano. Tais estimulações geram assimilação de
novas informações, conseqüentemente, nova aprendizagem.
Segundo Jannibelli (1971) as atividades na prática pedagógica musical na escola são
exercidas por dois tipos de professores: o professor de classe ou o professor especializado. O
professor de classe tem atribuições de desenvolver as capacidades de seus alunos, para tanto
utilizam a Música como disciplina educativa e por vezes como recurso pedagógico.
Jannibelli (1971, p. 35) cita que:
O professor de classe utiliza-se da Música para educar e, conseqüentemente, acaba por
ensinar Música. Desprende-se daí que, em sua formação, há lugar para seu preparo neste
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terreno, não só como conteúdo próprio, musical artístico, mas principalmente, como
metodologia especial. [...]Na vida prática da rotina escolar, nem sempre os que deviam,
entendem o que na realidade pode o Professor de Classe fazer em mate´ria de ensino e
utilização da música. Ou se lhe exige o que está além das possibilidades de seu preparo real e
competência, ou então se considera que a atividade musical não deva nem mesmo ser travada
em classe, sem a presença do Professor Especializado.
Neste contexto é preciso enfatizar que a educação musical deveria ser comum a
qualquer indivíduo, entretanto, é fato que se o professor de classe não possui tal formação, o
mesmo pode realizar cursos e programas de educação continuada, a fim de que venha
compreender o valor real da música na formação e na personalidade das crianças, podendo
assim estabelecer sua pratica docente com a devida competência.
De outro lado o professor especializado como profissional em Música necessita
dominar com excelência os métodos e processos de ensino da música, pois existe um
preconceito em relação ao artista-músico e professor de música. Outra dificuldade é perceber
que a Música é uma disciplina que compreende conceitos e conteúdos a serem explicados,
vivenciados, explorados e compreendidos com os alunos, principalmente na educação infantil,
além do valor estético musical.
Jannibelli (1971, p. 35) declara que:
A dificuldade está em que, nem sempre estas exigências do trabalho escolar se equilibram.
Há uma ideia generalizada de que o artista-musicista forçosamente não é um bom professor.
Julgam-no, sempre, com seus interesses e energias voltados ao seu trabalho pessoal e que ,
somente um Artista, com qualidades excepcionais de comunicação e de magistério, pode
descer até os interesses dos alunos, compreendendo-os devidamente.
Outro fato relevante é que o professor de Educação Musical, de classe ou
especializado, deve procurar incutir na criança a consciência do som através das propriedades
sonoras: timbre, altura, intensidade e duração, assim como os elementos musicais: melodia,
ritmo e harmonia, através de atividades lúdicas envolvendo escutar, cantar e tocar
instrumentos de altura indefinida.
Por esta razão, é importante que os professores da educação infantil possam fazer
cursos de capacitação em Musicalização que trata deste conteúdo, entre outros.
Alguns autores escrevem livros com planos de aula específicos dando ao professor de
classe ideias e conteúdos prontos com cd gravado, a fim de propiciar o canto para geralmente
atender as festas comemorativas da escola. Porém, não fazer alusão ao conteúdo de música, ao
sensório e motor, ao cognitivo e ao emocional geram apenas o trabalho estético musical, o
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qual pode ser experimentado apenas com apreciação musical e não o fazer artístico-musical
das crianças.
ZAMBRIN apud YOGI (2003) faz a seguinte citação:
[...] independente das condições em que a criança vive, brincar é natural dela. A atividade
lúdica é fundamental, pois contribui para sua vida afetiva e intelectual. [...] teremos adultos
equilibrados. A presença de momentos lúdicos na vida escolar da criança leva-a a grandes
descobertas, à auto-suficiência, ao crescimento e ao desenvolvimento cognitivo, à construção
de julgamentos ético-morais, ao aprendizado de fazer escolhas. [...] Educação Musical é uma
proposta de socialização em grupo não apenas de formadora de conteúdos.
Um exemplo de material didático destinado ao pedagogo em formato de projetos e
trabalho inter disciplinar, utilizando a música como recurso didático e lúdico é o trabalho de
Chizuko Yogi, pois além das festas escolares trabalha a música nos conceitos e disciplinas da
Educação Infantil e Séries Iniciais. Entretanto, o mais interessante em sua obra é possibilidade
de trabalhar a formação de crianças autônomas e não com respostas automatizadas.
Relacionando os pensadores e educadores ao longo da história da Educação Infantil e
associando aos pensadores e musicalizadores, pode-se chegar a fatos como o registro de
Comenius utilizar a música no período medieval como formação. Pestalozzi com o método
“aprender fazendo”, Propiciava à criança adquirir os primeiros elementos do saber de forma
natural, assim na música o professor atual poderia ensinar os sons antes dos sinais visuais, e
fazer com que a criança aprenda a cantar antes de aprender as notas na pauta, ou os seus
nomes.
Fröebel tinha a compreensão do brinquedo e das atividades lúdicas como um processo
para o educação infantil, trabalhando com o jogo e o sensório motor. Pode-se constatar que
Dalcroze como educador musical também associou este fatores com seu método rítmico
usando o corpo como expressão. Jogos musicais envolvendo a sonoridade e o ritmo são fontes
de expressão, de execução sensória e motora, pois os movimentos refletem a música através
da melodia e do ritmo.
Segundo Sugahara (2006) o bebê quando nasce encontra-se num estágio de
sincretismo com a mãe, Wallon apud Sugahara diz que este estágio chama-se impulsivoemocional, cuja predominância é motora e afetiva. À medida que os movimentos da criança
tornam-se intencionais, o seu interesse pelo mundo exterior passando a investigar e explorálo, este é o estágio sensório-motor e projetivo, o qual ocorre a aquisição da marcha e da
linguagem e a cognição é predominante. No estágio do personalismo, a criança adquire a
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consciência corporal e está desenvolvendo a capacidade simbólica (adquirida nas fases
anteriores) neste estágio ocorre a formação da pessoa e a construção da personalidade, voltase a predominância afetiva. Apesar de um ou outro aspecto (afetivo, cognitivo e motor) ficar
em evidência em cada estágio do desenvolvimento, eles se interligam e vinculam-se entre si
formando um conjunto funcional. Vem daí a importância da afetividade e da motricidade no
desenvolvimento da cognição. A educação da criança, no aspecto musical, pode ser realizada
escolhendo repertório e atividades de acordo com as necessidades e interesses de cada
momento e do seu meio cultural, respeitando assim o seu processo de desenvolvimento e
imitativo. E pode-se ainda afirmar que a música é um importante elemento na constituição da
pessoa completa e integrada a que se refere Wallon.
De acordo com a teoria de Piaget o cognitivo é propiciado através de um ambiente rico
em estimulação e acomadação dos exercícios das capacidades mentais das crianças. Poderia
ser associado nesta linha o musicalizador Suzuki. Quanto mais estimulado o ambiente,
motivarem a criança, ela aprenderá mais facilmente desenvolvendo duas aptidões congnitivas,
como falar uma nova língua. Assim, a nova língua seria a música num processo de
compreensão após a imitação, como aprender a língua materna. Afetividade e imitação
podeira se correlacionado com Wallon.
Vygotsky e Willens se encontram na ciência da Psicologia, no desenvolvimento
humano. Os estudos de Vygotsky estavam voltados para a interação social do individuo, para
a compreensão das origens sociais e para bases culturais do desenvolvimento individual do ser
humano. Willens na educação musical propôs o canto como fonte de reconhecer
culturalmente o indivíduo e por ser natural ao ser humano, ao cantar ele pode de forma
expontânea, interagir socialmente. O canto virá de “dentro para fora”, pois o ouvir interior é
desenvolvido pelo ato de cantar, antes de falar ou cantar, ocorre o pensamento.
Ao realizar as relações da história da educação infantil e da educação musical pode-se
constatar que os principios educacionais são praticamente os mesmos: desenvolvimento do ser
humano, dos zero aos 6 anos neste recorte. O foco é a individualidade, a personalidade, a
congnição, a formação e a interação social da criança, seja em ambiente familiar,escolar ou
social. Na atualidade marcada por transformações tecnológicas, científicas e ético-sociais, a
educação da criança vive um desafiador momento que é a revisão de valores, crenças,
princípios e ideais. A escola quer ser mais parceira da família e da comunidade, como
anteriormente não foi.
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A ação criadora é própria do ser humano como resultado de uma ação cognitiva, ou
seja, da aquisição de algum conhecimento. A música deve ser um dos meios para se alcançar
esta ação; pode-se oferecer à criança, através de recursos pedagógicos vivos e adequados, para
que ela possa expressar sua criatividade, desenvolver sua personalidade, suas emoções, seu
pensamento lógico e interagir no meio em que se situa. E a partir deste pressuposto utilizá-la
para em programas festivos e educacionais nas escolas.
As crianças são o maior bem que a humanidade possui. É muito importante que os
governantes do país possam dar atenção a este fato, disponibilizar verbas para a Educação e
políticas adequadas no que se refere a educação continuada para professores. Entretanto, os
profissionais da educação, principalmente os da Educação Infantil devem aprofundar temas
relacionados a esta etapa da educação básica, podendo assim, com este conhecimento,
desempenhar seu trabalho com excelência e contribuir para a qualidade desta educação. Para
tanto, também é necessário o aprofundamento das diversas teorias pedagógicas aplicadas no
decorrer da História da Educação, uma vez que as mesmas já foram devidamente
comprovadas; além das novas possibilidades atuais.
A atividade musical é um dos meios para se educar e interagir com a criança nas suas
distintas fases. Assim como o educador deveria estudar os pensadores da educação, deveria
também conhecer os diversos educadores musicais e as áreas que atuaram complementando
assim o currículo do mesmo e aplicando na sua prática docente, independente de estar a
Música como disciplina obrigatória a partir de 2011.
5 CONCLUSÃO
Este artigo atingiu o objetivo geral proposto de identificar a importância da música no
desenvolvimento da criança no processo da Educação Infantil. Os referenciais teóricos
pesquisados foram sobre os pensadores, pedagogos e filósofos num contexto da Historia da
Educação focando a educação infantil. Foi escrito uma breve história da educação infantil e
no capitulo posterior foi descrito sobre as concepções da educação musical com enfoque na
criança de zero a seis anos de idade. A prática docente musical foi realizada num outro
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capitulo, onde a elaboração entre a prática pedagógica e a musicalização com o
desenvolvimento infantil foi realizada.
Foi verificado que no processo histórico da Educação Infantil os estudiosos
estiveram sempre preocupados com a pesquisar sobre o comportamento da criança nos
aspectos social, cultural, econômico, psíquico, familiar, os quais se julgam se relevante para o
exercício do pedagogo na escola. Assim como o estudo do comportamento humano e da
formação formal da criança no decorrer da história universal, a disciplina de música desde a
antiguidade também é relacionada com o desenvolvimento da criança, e que os conteúdos e a
aprendizagem musical estão relacionados aos estudos científicos do desenvolvimento lógico,
sensório, emocional, cultural e social da mesma.
A música é capaz de imprimir no cérebro a compreensão da melodia das próprias
palavras. A música como linguagem pode expressar as idéias e os sentimentos mais
intrínsecos das crianças, trabalhando o emocional e afetivo. Efetivamente, o que se concluiu
ainda, é que a música contribui muito se tratando do campo lógico, as porções cerebrais
responsáveis pela música e pela matemática estão próximas, no setor esquerdo do cérebro, o
que oferece uma percepção espacial e matemática mais adequada realizando conexões
cerebrais “em rede”, ou seja, a criança pode ler um símbolo musical, tocar um instrumento,
cantar uma melodia, ouvir colegas potencializando sua aprendizagem cognitiva e ainda
desenvolvimento o raciocínio abstrato. As percepções espaciais, auditivas e sociais se
desenvolvem com as atividades práticas e coletivas de musicalização.
A pesquisa trouxe também a reflexão sobre o educador musical e o pedagogo, ou
professor de classe e o especialista que mediante a aprovação da lei 11.769 (em 18/08/2008),
sobre a obrigatoriedade da música na escola, muito se tem comentado sobre quais são os
profissionais que irão atuar, qual será o currículo, que formação se dará, entre outras questões.
A aprovação da nova legislação em Educação Musical que obriga as escolas no ensino de
séries iniciais e fundamental a ministrarem aulas curriculares de Música a partir de agosto de
2011, ainda não promove uma preocupação notória no professor, pois ele também não teve
esta formação desde a pré-escola. Entretanto, é fato que a música voltou às escolas como
disciplina e que muitos terão que lecionar talvez sem a devida competência, uma vez que as
faculdades de música são poucas no país e cursos como Pedagogia tem apenas uma disciplina
de musicalização no decorrer da formação do pedagogo. O questionamento após esta pesquisa
é: Será que os futuros professores que irão atuar na disciplina de Música possuem o
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conhecimento sobre o que a música contribui para o desenvolvimento da criança na Educação
Infantil?
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