RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO INTRODUÇÃO A doença cardíaca decorre dos seguintes mecanismos: falência da bomba (disfunção sistólica ou diastólica), obstrução do fluxo, fluxo regurgitante, desvio do fluxo, distúrbios da condução cardíaca e ruptura do coração ou de um grande vaso. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA (ICC) Falência do coração que não consegue produzir debito suficiente para satisfazer as demandas dos tecidos. Majoritariamente resultante de disfunção sistólica. Como resultado, observa-se aumento do volume diastólico finas, débito inadequado e congestão da circulação venosa. Essa redução da contratilidade miocárdica é compensada por alguns mecanismos homeostáticos, como o Mecanismo de Frenk-Starling, ativação dos sistemas neuro-humorais e aumento da massa muscular cardíaca. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ESQUERDA As principais causas são cardiomiopatia isquêmica, hipertensão sistêmica, doença da valva aorta ou valva atrioventricular esquerda e doenças primarias do miocárdio. Ocorre uma diminuição da perfusão sistêmica e elevação das pressões de retorno dentro da circulação pulmonar. Na macroscópica pode-se observar infarto do miocárdio ou deformidades valvares, ventrículo esquerdo hipertrofiado e dilatado e aumento do átrio esquerdo. Na microscopia observa-se hipertrofia dos miócitos e fibrose intersticial. Como manifestações clinicas, é comum a presença de dispneia, cardiomegalia, taquicardia, terceira bulha, regurgitação mitral e sopro sistólico. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA Resulta da IC esquerda, doença da valva atrioventricular ou da valva do tronco pulmonar e hipertensão pulmonar grave, a cor pulmonale, que apresenta miocárdio do átrio e ventrículo direito dilatado e hipertrófico. Manifestações clinicas: congestão venosa portal e sistêmica, edema periférico, derrame pleural e ascite. CARDIOPATIA CONGÊNITA Anomalias do coração presentes ao nascimento. Cirurgia é efetiva para corrigir alterações hemodinâmicas. Decorre de causa ambientais, como rubéola congênita, agentes teratogênicos e diabetes materno e fatores genéticos. AS consequências clinicas podem ser: Shunt da esquerda para direita: causa hipertrofia do ventrículo direito e insuficiência cardíaca por aumento da resistência vascular pulmonar. Incluem os defeitos do septo atrial e ventricular, forame oval patente e ducto arterial patente. Shunt da direita para esquerda: causa cianose. Incluem a Tretralogia de Fallot e transposição das grandes artérias. Malformações que causam obstrução do fluxo vascular: causa o estreitamento de camarás, valvas ou principais vasos sanguíneos. Incluem a Coarctação da Aorta. 1 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO CARDIOPATIA ISQUÊMICA Engloba varias síndromes relacionadas a isquemia do miocárdio, um desequilíbrio entre o suprimento sanguíneo cardíaco e as necessidades de oxigênio e nutrientes do miocárdio. É a principal causa de morte nos países desenvolvidos. Na maioria dos casos a CI são as manifestações tardias de uma aterosclerose coronariana que se desenvolveu gradualmente. Pode resultar, ainda, do aumento da demanda, diminuição do volume sanguíneo, diminuição da oxigenação ou redução da capacidade de transportar oxigênio. A apresentação clinica pode incluir angina pectoris, infarto agudo do miocárdio (IAM), CI crônica com ICCC e morte súbita cardíaca. A trombose associada a uma placa rompida desencadeia com frequência as síndromes coronarianas agudas, caracterizadas por angina instável, infarto e morte súbita cardíaca. A vasoconstrição compromete o diâmetro do lúmen e o espasmo vascular pode potencializar a ruptura de uma placa. São denominadas placas vulneráveis aquelas que contem núcleos ateromatosos grandes e cobertos por capsulas fibrosas finas, tendo maior propensão a ruptura. O infarto do miocárdio consiste na necrose do musculo cardíaco que resulta de isquemia. Sua frequência sobre progressivamente com o aumento da idade e dos fatores de risco ateroscleróticos, afetam igualmente negros e brancos e acometem mais homens (mulheres protegidas durante a vida reprodutiva). O infarto pode ser microscópico, subendocárdico ou, quando a isquemia é mais prolongada, transmural (ondas Q negativas e elevação de ST no ECG). Resposta do miocárdio a isquemia: segundos após a obstrução vascular, a glicólise aeróbica cessa e há o acumulo de metabolitos potencialmente nocivos, resultando na perda da contratilidade após um minuto. Essas alterações inicias são potencialmente reversíveis. Após 20-40min, os danos passam a ser irreversíveis, como morte dos miócitos e necrose de coagulação. Períodos de isquemia ainda mais longos resultam em lesão vascular e trombose na microvasculatura. Essas alterações contribuem para a instabilidade elétrica e o aparecimento de arritmias nas regiões isquêmicas, podendo levar a morte por fibrilação ventricular (80-90% dos casos). As áreas de lesão passam por alterações morfológicas que englobam necrose por coagulação, inflamação aguda e crônica e fibrose (cicatrização). 2 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Quanto mas cedo for realizada a reperfusão, maior a quantidade de tecido miocárdico salva. Pode se dar por trombólise, angioplastia ou cirurgia de revascularização do miocárdio. Contudo, pode ocorrer a lesão por reperfusão, resultando em miócitos necróticos com faixas de contração (sarcômeros hipercontraídos devido a entrada excessiva de cálcio). Sendo assim, a reperfusão pode salvar as células com lesões reversíveis e alterar a morfologia das células com lesões irreversíveis. Na avaliação laboratorial do IAM observa-se elevação sanguínea das macromoléculas miglobina, troponinas cardíacas e CK-MB. A CK-MB tem especificidade e sensibilidade elevadas para lesão miocárdica e atingem seu pico 24-48 horas apos a lesão. TnI e TnT atingem valores máximos apos 48 horas e permanecem elevados a mais de uma semana. Após um IAM, é comum os pacientes apresentarem uma ou mais das seguintes complicações: disfunção contrátil, disfunção dos músculos papilares, infarto do ventrículo direito, ruptura do miocárdio, arritmias, pericardite, dilatação das câmaras, trombo mural, aneurisma ventricular e insuficiência cardíaca tardia progressiva. ARRITMIAS Podem ser causadas por alterações isquêmicas ou estruturais no sistema de condução ou por instabilidade elétrica nos miócitos. Normalmente resultam de mutações que afetam os canais de íons e causam distúrbios na repolarização ou despolarização. A morte súbita cardíaca frequentemente resulta de doença arterial coronariana que leva a isquemia. A irritabilidade miocárdica normalmente resulta de isquemia não fatal ou fibrose preexistente que leva a lesão miocárdica previa. Pode também, menos frequentemente, decorrer da ruptura aguda de uma placa seguida de trombose que provoca arritmia rapidamente fatal. 3 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO CARDIOPATIA HIPERTENSIVA Pode afetar ambos os ventrículos. Quando afeta o ventrículo direito, o distúrbio é denominado cor pulmonale, que resulta da hipertensão pulmonar resultando em hipertrofia do átrio e ventrículo direitos, podendo ter dilatação associada. Há aumento da espessura e rigidez da parede decorrentes da hipertrofia dos miócitos e fibrose intersticial provocadas pelas pressões elevadas. Uma sobrecarga de pressão persistentemente elevada pode causar insuficiência ventricular com dilatação. DOENÇA CARDÍACA VALVAR Acarreta estenose ou insuficiência valvar. Estenose é a falha de um valva em se abrir totalmente, obstruindo o fluxo para frente. Insuficiência é a falha de uma valva em se fechar totalmente, permitindo assim a regurgitação (refluxo) de sangue. A maioria das doenças valvares acometem a valva atrioventricular esquerda. Pode ocorrer calcificação das valvas, que normalmente provoca estenose, degeneração mixomatosa e insuficiência decorrentes da síntese e renovação anormais da matriz. As doenças inflamatórias valvares provocam neovascularização pós-inflamatória e cicatrização. A cardiopatia reumática resulta da reação cruzada de anticorpos antiestreptococos com os tecidos cardíacos e afeta principalmente a valva atrioventricular esquerda, sendo responsável por ((% dos casos de estenose mitral adquirida. A endocardite infecciosa pode ser agressiva e destruir rapidamente valvas normais (na forma aguda) ou pode ser pouco ativa e causar destruição mínima em valvas previamente anormais (na endocardite infecciosa subaguda). A formação de êmbolos sistêmicos pode produzir infartos sépticos. A endocardite trombótica não bacteriana ocorre em valvas previamente normais como resultado de estados de hipercoagulabilidade; a formação de êmbolos é uma complicação importante. MIOCARDIOPATIAS É uma doença intrínseca do musculo cardíaco e pode ter causa intrínseca ou idiopática. Podem ser dilatada (90% dos casos), hipertrófica e restritiva. A miocardiopatia dilatada provoca disfunção sistólica (contrátil). As causas incluem miocardite, exposição a agentes tóxicos e gravidez. EM 20-50% dos casos é causada por mutações que afetam proteínas do citoesqueleto. Na macroscopia observa-se aumento de volume e peso do coração, dilatação dos compartimentos, parede adelgaçada e trombos murais e na microscopia núcleos aumentados com fibrose intersticial. A miocardiopatia hipertrófica provoca disfunção diastólica (relaxamento). Quase todos os casos se devem a mutações autossômicas dominantes que afetam as proteínas que compõem o aparelho contrátil. Observa-se células desorientadas, fibrose miocárdica e espessamento das artérias coronárias. 4 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO A miocardiopatia restritiva torna o miocárdio endurecido, não complacente, resultando em função diastólica anormal. Pode resultar da deposição de substâncias (ex: amiloidose), de fibrose intersticial aumentada ou da cicatrização do endo-miocárdio. Miocardite: lesão do miocárdio por infiltrados inflamatórios resultantes de infecções ou de reações imunes. Clinicamente, pode ser assintomática, dar origem a uma insuficiência cardíaca aguda ou evoluir para CMD. DOENÇA VASCULAR HIPERTENSIVA Hipertensão essencial: (90 a 95% dos casos) Hipertensão secundária: Renal: glomerulonefrite aguda, doença renal crônica, doença policística, estenose da artéria renal, vasculite renal, tumores produtores de renina; Endócrina: Hiperfunção adrenocortical (Síndrome de Cushing, aldosteronismo primário, hiperplasia congênita da suprarrenal, ingestão de alcaçuz), Hormônios exógenos (glicocorticoides, estrogênio, incluindo o induzido pela gravidez e por contraceptivos orais, simpatomiméticos e alimentos contendo tiramina, inibidores da monoamina oxidase), feocromocitoma, acromegalia, hipotireoidismo (mixedema), hipertireoidismo (tireotoxicose), induzida pela gravidez. Cardiovascular: coarctação da aorta, poliarterite nodosa, aumento do volume intravascular, aumento do débito cardíaco, rigidez da aorta; Neurológica: psicogênica, hipertensão intracraniana, apneia do sono, estresse agudo, incluindo cirurgia. PATOLOGIA VASCULAR NA HIPERTENSÃO A Hipertensão se associa a duas formas de doença de pequenos vasos: arteriosclerose hialina e arteriosclerose hiperplásica. Arteriosclerose Hialina: As arteríolas mostram espessamento hialino homogêneo e róseo com estreitamento luminal associado. Essas alterações se original de vazamento de proteínas plasmáticas através das células endoteliais lesadas e do aumento da síntese da matriz de células musculares lisas em resposta ao estresse hemodinâmico crônico. Embora os vasos de pessoas idosas (normo ou hipertensas) também frequentemente mostrem arteriosclerose hialina, esta é mais generalizada e intensa nos indivíduos com hipertensão. As mesmas lesões também são uma característica comum da microangiopatia diabética; neste caso, a etiologia subjacente é a disfunção de células endoteliais induzida pela hiperglicemia. Na nefrosclerose causada por hipertensão crônica, o estreitamento arteriolar da arteriosclerose hialina causa comprometimento difuso da irrigação renal e cicatrizes glomerulares. Arteriosclerose hiperplásica: Esta lesão ocorre na hipertensão grave (maligna); os vasos exibem “lesões em casca de cebola”, caracterizadas por espessamento concêntrico e 5 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO laminado das paredes e estreitamento luminal. As laminações consistem em células musculares lisas com membranas basais espessadas e reduplicadas; na hipertensão maligna, são acompanhadas por depósitos fibrinoides e necrose da parede dos vasos (arteriolite necrosante), particularmente no rim. Aterosclerose: As estrias gordurosas são as lesões mais precoces da aterosclerose. São compostas por macrófagos espumosos cheios de lipídios. Começando como múltiplas manchas amarelas planas e diminutas, finalmente coalescem em estrias alongadas com 1 cm ou mais de comprimento. Essas lesões não são significativamente elevadas e não causam desequilíbrio de fluxo. A aorta de lactentes com menos de 1 ano de idade pode exibir estrias gordurosas, e tais lesões são vistas virtualmente em todas as crianças com mais de 10 anos, independentemente de geografia, raça, sexo ou ambiente. É incerta a relação das estrias gordurosas com as placas ateroscleróticas; embora possam evoluir para precursores das placas, nem todas as estrias gordurosas são destinadas a se tornarem lesões avançadas. Todavia, as estrias gordurosas, nos mesmos locais anatômicos que, mais tarde, tendem a desenvolver placas. Placa aterosclerótica: Os processos fundamentais na aterosclerose são o espessamento da íntima e o acúmulo de lipídios. As placas ateromatosas invadem a luz da artéria e têm um aspecto macroscópico branco a amarelo; o trombo superposto às placas ulceradas é castanho-avermelhado. O diâmetro das placas varia de 0,3 a 1,5cm, mas podem coalescer e formar placas maiores. As lesões ateroscleróticas são focais, geralmente envolvendo apenas uma parte de qualquer dada parede arterial, e raramente são circunferenciais; no corte transversal, as lesões, portanto, parecem “excêntricas”. A focalidade das lesões ateroscleróticas – apesar da exposição uniforme das paredes vasculares a fatores como as toxinas dos cigarros, LDL elevado, hiperglicemia, etc – é atribuível aos caprichos da hemodinâmica vascular. Os desequilíbrios locais do fluxo levam a aumento da susceptibilidade de certas porções da parede de um vaso à formação de placa. Embora focal e esparsamente distribuídas a princípio, as lesões ateroscleróticas podem se tornar mais numerosas e mais difusas com o passar do tempo. No homem, a aorta abdominal tipicamente é envolvida num grau muito maior do que a aorta torácica. Em ordem descendente, os vasos mais extensamente envolvidos são a parte inferior da aorta abdominal, as artérias coronárias, as artérias poplíteas, as artérias carótidas internas e os vasos do círculo de Willis. Os vasos das extremidades superiores geralmente são poupados, assim como as artérias mesentéricas e renais, exceto em seus óstios. Todavia, num caso individual, a intensidade da aterosclerose em uma artéria não prediz sua intensidade em outra. Além disso, em qualquer vaso, costumam coexistir lesões em vários estágios. As placas ateroscleróticas têm três componentes principais: células, incluindo células musculares lisas, macrófagos e células T; MEC, incluindo colágeno, fibras elásticas e proteoglicanos; e lipídios intra e extracelulares. Esses componentes ocorrem em proporções e configurações variáveis em diferentes lesões. Tipicamente, há uma cápsula fibrosa superficial composta por células musculares lisas e colágeno relativamente denso. Abaixo da cápsula e ao lado dela (o “ombro”), há uma área mais celular contendo macrófagos, linfócitos T e células musculares lisas. Profundamente à cápsula fibrosa, há um centro necrótico que contém lipídios (primariamente colesterol e ésteres do colesterol), restos de células mortas, células espumosas (macrófagos carregados de lipídios e células musculares lisas), fibrina, trombo com organização variável e outras proteínas plasmáticas; o colesterol frequentemente está presente como agregados cristalinos lavados durante o processamento da rotina do tecido e que deixam para trás apenas “fendas” vazias. A periferia das lesões mostra neovascularização (pequenos vasos em proliferação). Os ateromas típicos contêm abundantes lipídios, mas algumas placas (“placas fibrosas”) são compostas quase que exclusivamente por células musculares lisas e tecido fibroso. 6 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO As placas, em geral, continuam a mudar e aumentam de volume progressivamente por morte e degeneração das células, síntese e degradação (remodelação) da MEC e organização do trombo. Além disso, os ateromas costumam sofrer calcificação. As placas ateroscleróticas são susceptíveis às seguintes alterações clinicamente importantes: Ruptura, ulceração ou erosão da superfície da íntima de placas ateromatosas expõem o sangue a substâncias altamente trombogênicas e induzem trombose. Tal trombose pode ocluir parcial ou completamente a luz e levar à isquemia distal. Se o paciente sobreviver à oclusão trombótica inicial, o coágulo poderá tornar-se organizado e ser incorporado à placa em crescimento. Hemorragia em uma placa. A ruptura da cápsula fibrosa sobrejacente ou dos vasos com paredes finas nas áreas de neovascularização pode causar hemorragia intraplaca; um hematoma contido pode expandir a placa ou induzir ruptura da placa. Ateroembolia. A ruptura da placa pode descarregar resíduos ateroscleróticos na corrente sanguínea, produzindo microêmbolos. Formação de aneurisma. A pressão induzida pela aterosclerose ou a atrofia isquêmica da média subjacente, com perda de tecido elástico, causa fraqueza que resulta em dilatação aneurismática e potencial ruptura. ANEURISMA DA AORTA ABDOMINAL (AAA) Geralmente posicionados abaixo das artérias renais e acima da bifurcação da aorta, os AAAs podem ser saculares ou fusiformes, ter até 15cm de diâmetro e até 25cm de comprimento. Tipicamente, a superfície da íntima do aneurisma mostra aterosclerose complicada intensa, com destruição e diminuição da espessura da média da aorta subjacente; o aneurisma frequentemente contém um trombo mural de pequena consistência, laminado e pouco organizado, que pode preencher uma parte do ou todo o segmento dilatado. Ocasionalmente, o aneurisma pode afetar as artérias renais e as mesentéricas superior ou inferior, seja produzindo pressão direta, seja estreitando ou ocluindo os óstios dos vasos com trombos murais. Não é infrequente que os AAAs sejam acompanhados por aneurismas menores das artérias ilíacas. Duas variantes merecem menção especial: AAAs inflamatórios: caracterizam-se por densa fibrose periaórtica, contendo abundante reação inflamatória linfoplasmocitária com muitos macrófagos e, frequentemente, células gigantes. Sua causa é incerta. AAAs micóticas: são lesões que se infectaram pelo alojamento de microorganismos circulantes na parede, particularmente em bacteremia por um gastroenterite primária por Salmonella. Em tais casos, a supuração destroi a média, potencializando a dilatação rápida e a ruptura. DISSECÇÃO DA AORTA Na maioria dos casos, não se identifica patologia causal subjacente específica na parede aórtica. A lesão preexistente mais frequente histologicamente detectável é a degeneração cística da média; a inflamação está caracteristicamente ausente. No entanto, podem ocorrer dissecções na situação de degeneração trivial da média e é incerta a relação das alterações estruturais com a patogenia da dissecção. 7 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Uma dissecção aórtica geralmente se inicia com uma laceração da íntima. Na maioria das dissecções espontâneas, a laceração é encontrada na aorta ascendente, geralmente a 10cm da valva aórtica. Tais lacerações são tipicamente transversas ou oblíquas e têm 1 a 5cm de comprimento, com bordas agudas e serrilhadas. A dissecção pode estender-se ao longo da aorta, retrogradamente em direção ao coração, bem como distalmente, algumas vezes entrando nas artérias ilíaca e femoral. O hematoma dissecante se propaga, caracteristicamente, ao longo dos planos laminares da aorta, geralmente entre os terços médio e externo. Ele frequentemente se rompe através da adventícia, causando hemorragia maciça. Em alguns casos, o hematoma dissecante reentra na luz da aorta por mio de uma segunda laceração distal na íntima, criando um novo canal vascular e formando uma “aorta de dois canais”, havendo um falso canal. Isso evita uma hemorragia extra-aórtica fatal. No decorrer do tempo, os falsos canais podem ser endotelizados e se tornar dissecções crônicas. ARTERITE DAS CÉLULAS GIGANTES Os segmentos envolvidos desenvolvem espessamento nodular da íntima (com ocasionais tromboses) que reduz o diâmetro da luz. As lesões clássicas exibem inflamação granulomatosa da média que leva à fragmentação da lâmina elástica; há um infiltrado de células T e macrófagos. As células gigantes multinucleadas são encontradas em mais de 75% dos espécimes adequadamente biopsiados. Ocasionalmente, os granulomas e células gigantes são raros ou ausentes, e as lesões mostram apenas uma pan-arterite inespecífica composta predominantemente por linfócitos e macrófagos. As lesões inflamatórias não são contínuas ao longo do vaso e longos segmentos de artéria relativamente normal podem ficar interpostos. O estágio resolvido é marcado por um cicatriz da média e espessamento da íntima, tipicamente com fragmentação do tecido elástico residual. ARTERITE DE TAKAYASU A arterite de Takayasu classicamente envolve o arco aórtico. Em um terço dos pacientes, também afeta o restante da aorta e seus ramos. A artéria pulmonar é envolvida em metade dos casos; as artérias coronárias e renais podem ser afetadas de maneira semelhante. Há espessamento irregular da parede dos vasos com hiperplasia da íntima; quando o arco aórtico é envolvido, os lúmens dos grandes vasos podem ficar acentuadamente estreitados ou até obliterados. Tal estreitamento explica a fraqueza dos pulsos periféricos. As alterações histológicas variam de infiltrados mononucleares da adventícia com manguito perivascular dos vasa vasorum à intensa inflamação mononuclear na média, à inflamação granulomatosa, repleta de células gigantes e com necrose focal da média. O aspecto histológico é indistinguível daquele da arterite de células gigantes. À medida que a doença evolui, ocorrem cicatrizes colagenosas, com infiltrados inflamatórios crônicos mistos em todas as três camadas da parede do vaso. Ocasionalmente, o envolvimento da raiz da aorta causa insuficiência aórtica. POLIARTERITE NODOSA (PAN) 8 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO A PAN clássica caracteriza-se por inflamação necrosante transmural segmentar de artérias de pequeno e médio calibres. Os vasos dos rins, coração, fígado e trato gastrointestinal estão envolvidos em ordem decrescente de frequência. As lesões geralmente afetam apenas parte da circunferência do vaso e mostram uma predileção por pontos de ramificação. O processo inflamatório enfraquece a parede arterial e pode levar a aneurismas ou até à ruptura. O comprometimento da perfusão, resultando em ulcerações, infartos, atrofia isquêmica ou hemorragia na distribuição dos vasos afetados, pode ser o primeiro sinal de doença. Durante a fase aguda, há inflamação transmural da parede arterial, com infiltrado misto de neutrófilos, eosinófilos e células mononucleares, frequentemente acompanhadas por necrose fibrinoide. Pode ocorrer trombose luminal. Mais tarde, o infiltrado inflamatório agudo é substituído por espessamento fibroso (ocasionalmente nodular) da parede do vaso que pode se estender à adventícia. Caracteristicamente, todos os estágios de atividade (do inicial ao tardio) coexistem em diferentes vasos ou até dentro do mesmo vaso, sugerindo agressões constantes e recorrentes. DOENÇA DE KAWASAKI Como com a poliarterite nodosa, as lesões exibem pronunciada inflamação, afetando a espessura inteira da parede do vaso; entretanto, a necrose fibrinoide geralmente é menos proeminente. Embora a vasculite aguda desapareça espontaneamente ou em resposta ao tratamento, pode sobrevir a formação de aneurisma com trombose. Como com outras causas de arterite, as lesões resolvidas podem ter espessamento da íntima obstrutivo. As alterações patológicas fora do sistema cardiovascular raramente são significativas. POLIANGIITE MICROSCÓPICA A poliangiite microscópica caracteriza-se por necrose fibrinoide segmentar da média, com lesões necrosantes transmurais segmentares; está ausente a inflamação granulomatosa. Essas lesões se assemelham morfologicamente à poliarterite nodosa, mas tipicamente poupam artérias de médio e grande calibres; consequentemente, são incomuns os infartos macroscópicos. Em algumas áreas (tipicamente vênulas pós-capilares), somente são vistos neutrófilos infiltrativos e fragmentados, dando origem ao termo vasculite leucocitária. Embora possam ser demonstrados imunoglobulinas e componentes do complemento nas lesões iniciais da pele, vê-se pouca ou nenhuma imunoglobulina na maioria das lesões. GRANULOMATOSE DE WEGENER As lesões do trato respiratório alto variam de sinusite inflamatória com granulomas de mucosa a lesões ulcerativas do nariz, palato ou faringe, rodeadas por granulomas com padrões geográficos de necrose central e vasculite acompanhando. Os granulomas necrosantes são cercados por uma zona de proliferação fibroblástica com células gigantes e infiltrado de leucócitos reminiscentes de infecções micobacterianas ou fúngicas. Múltiplos granulomas podem coalescer para produzir nódulos radiograficamente visíveis que também podem cavitar; a doença em estágio avançado pode ser marcada por envolvimento granulomatoso necrosante extenso do parênquima; a hemorragia alveolar pode ser proeminente. Por fim, as lesões podem sofrer fibrose e organização progressivas. 9 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Pode ser visto um espectro de lesões renais. Nos estágios iniciais, os glomérulos exibem apenas necrose focal com trombose de alças capilares glomerulares isoladas; há proliferação mínima de células parietais na cápsula de Bowman. As lesões glomerulares mais avançadas caracterizam-se por necrose difusa e proliferação de células parietais. TROMBOANGIITE OBLITERANTE (DOENÇA DE BUERGER) A tromboangiite obliterante caracteriza-se por uma vasculite nitidamente segmentar aguda e crônica das artérias de médio e pequeno calibres, predominantemente nas extremidades. Microscopicamente, há inflamação aguda e crônica, acompanhada por trombose luminal. Tipicamente, o trombo contém pequenos microabscessos compostos por neutrófilos cercados por inflamação granulomatosa; o trombo finalmente pode organizar-se e recanalizar. O processo inflamatório se estende às veias e nervos contíguos e, com o passar do tempo, todas as três estruturas são envolvidas por tecido fibroso. TUMORES BENIGNOS E AFECÇÕES SEMELHANTES A TUMOR Os hemangiomas capilares são vermelho-vivo a azuis e variam de alguns milímetros a vários centímetros de diâmetro; os hemangiomas podem ser nivelados com superfície da pele ou discretamente elevados e têm um epitélio sobrejacente intacto. Histologicamente, eles são agregados não encapsulados de capilares firmemente dispostos e com paredes finas, geralmente cheios de sangue e revestidos por endotélio plano; os vasos são separados por escasso estroma de tecido conjuntivo. Os lúmens podem estar parcial ou completamente trombosados e organizados. A ruptura dos vasos é responsável pelo pigmento de hemossiderina nessas lesões, bem como pelas cicatrizes focais. Os hemangiomas cavernosos são massas vermelho-azuladas moles e esponjosas com 1 a 2cm de diâmetro; raras formas gigantes podem afetar grandes áreas subcutâneas da face, das extremidades ou de outras regiões corporais. Histologicamente, a massa é nitidamente definida, mas não encapsulada, e é composta por grandes espaços vasculares cavernosos cheios de sangue, separados por um modesto estroma de tecido conjuntivo. É comum a trombose vascular com calcificação distrófica associada. As lesões do tumor do glomus são nódulos redondos, discretamente elevados, azulavermelhados e firmes (geralmente com menos de 1cm de diâmetro) que inicialmente se assemelham a um foco minúsculo de hemorragia. Histologicamente, eles são agregados, ninhos e massas de células especializadas do glomus estreitamente associados a canais vasculares em ramificação, todos dentro de um estroma de tecido conjuntivo. As células tumorais individuais são pequenas, uniformes e redondas ou cuboides, com citoplasma escasso e características ultraestruturais ligadas às das células musculares lisas. As lesões da pele são pápulas e nódulos eritematosos ou massas subcutâneas redondas; histologicamente, há proliferação capilar, e as células endoteliais epitelioides proeminentes exibem atipia nuclear e mitoses. As lesões contêm neutrófilos, fragmentos nucleares e as bactérias causais. Embora difíceis de crescer no laboratório, as bactérias podem ser inequivocadamente demonstradas usando-se métodos moleculares, como a reação em cadeia da polimerase com primers específicos para a espécie. 10 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia RESUMO – CORAÇÃO E VASOS SANGUÍNEOS PATOLOGIA SISTÊMICA | ATLAS VIRTUAL DE PATOLOGIA FAMERP – FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO TUMORES MALIGNOS Os angiossarcomas cutâneos podem começar múltiplos nódulos eritematosos enganosamente pequenos, bem delimitados e assintomáticos; a maioria finalmente se transforma em grandes massas carnosas de tecido vermelho-bronzeado a cinza-esbranquiçado. As margens se misturam imperceptivelmente com as estruturas em torno. São frequentes as áreas centrais de necrose e hemorragia. Microscopicamente, podem ser vistos todos os graus de diferenciação, de células endoteliais arredondadas e anaplásicas, mas reconhecíveis, produzindo canais vasculares, a tumores imensamente indiferenciados com um aspecto de células fusiformes e sem vasos sanguíneos definidos. 11 Todos os direitos reservados. É proibida a utilização total ou parcial deste resumo sem prévia autorização. Autores: Raissa Mendes Pinto Gonçalves, Carolina Antunes Marques, Ana Carolina dos Reis e Guilherme Hirassawa Sacillotto Disponível em www.disciplinas.famerp.br/patologia