A evolução do Pensamento Geográfico1: implicações e conceitos Solange Oliveira da Silva Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano -IFBAIANO Campus Santa Inês [email protected] Resumo: O presente artigo sintetiza os resultados das experiências teóricas-práticas vivenciadas na disciplina Evolução do Pensamento Geográfico. Destarte, sabemos que os avanços científicos e tecnológicos decorrente da globalização ocasionaram grandes interações e transformações existindo a necessidade de reformular os métodos educacionais assinalados como dogmáticos e mecânicos, pois o ensino da Geografia vem sofrendo mudanças constantes, rápidas e permanentes tornando-se imprescindível a atuação de profissionais maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas que saibam motivar e dialogar; trazendo a realidade, o cotidiano e a própria comunidade como parte de uma metodologia efetiva, complementando os conteúdos didáticos fixos, para compreendermos o mundo que vivemos. Destarte a disciplina “Evolução do Pensamento Geográfico” permitiu leituras de pensadores que possibilitaram o movimento de evolução com reflexões e discussões que revelaram conceitos e aspectos referentes ao objeto de estudo e origem da Ciência Geográfica trazendo à tona questões que refletem o viver em sociedade exigindo atitudes e atos coletivos. A disciplina foi contextualizada no sentido de confrontarmos teoria e realidade quando o professor levou em consideração experiências trazidas por discentes, ocupando o cargo de mediador durante aulas expositivas, seminários, filmes e estudos desenvolvendo habilidades de compreensão crítica e construtiva, pois ao debruçamos na tarefa de aprender com a leitura de imagens, documentos, ou registros, conhecemos inúmeras realidades identificando diferenças culturais entre espaços, paisagens e lugares. Palavras-chave: Ciência. Objeto. Conceitos. Disciplina. 1 Disciplina Evolução do Pensamento Geográfico, I Semestre, ministrada pelo Ms. Cleidnilson de Jesus Cunha. Introdução Este texto procede de reflexões nascidas a partir de uma experiência de estudo com pesquisa bibliográfica e o resultado de aulas expositivas. Foram realizados seminários, exposição de filmes, estudos teóricos e encontros para orientação e produção de artigos; assim, quando nos debruçamos na tarefa de ler, aprender com a leitura, seja ela de imagens, documentos, ou registros; estamos nos permitindo conhecer inúmeras realidades identificando diferenças entre espaços, paisagens ou lugares. Somos levados a lidar com culturas diferentes da nossa por meio da Geografia e da disciplina Evolução do Pensamento Geográfico, decorrente da necessidade de adquirir conhecimento; informações que nos fará ver o mundo de outra maneira e até mesmo sermos outros profissionais, mais conscientes e mais críticos na construção do espaço de vivencia em meio à pluralidade e diversidade de conceitos, crenças e credos no universo da sala de aula. No intuito de introduzir os graduandos em Geografia, Ciências Humanas, às reflexões e discussões sobre o que foi e vem sendo o pensamento geográfico, a partir de definições e conceitos que ajudaram os estudantes a conhecerem aspectos referentes ao campo de conhecimento da disciplina Geografia, de forma simples, com linguagem clara e objetiva nos deleitamos sobre as leituras de pensadores que deram o pontapé inicial para as definições e discussões acerca da Evolução Geográfica, igualmente pretende-se apresentar uma pesquisa enfocando questões referentes ao objeto de estudo e origem da Geografia enquanto ciência. Na perspectiva da evolução do “Pensamento Geográfico” e sabendo que pensamento geográfico refere-se ao conjunto de literatura produzida a partir do espaço ocupado abordando, a educação do Brasil, podemos descobrir que o ensino formal no Brasil tem seu inicio, com os Padres Jesuítas, quando eles tentam construir por escrito o registro de linguagens indígenas; foi assim que a educação escolar no Brasil teve seu apogeu com a “Companhia de Jesus” dos Padres Jesuítas, na qual os seus representantes tentaram catequizar os índios, por meio de estratégias diversas, visando garantir a colonização. O fator de maior destaque para afirmar a utilidade da Geografia foi a expansão dos impérios coloniais, assim a geografia passou à se justificar em prol da dominação e colonização de povos. Com esse relato podemos definir que a geografia surge exatamente para ajudar o Estado a se apropriar das terras, inclusive terras indígenas, apesar de ter pouco rigor científico nessa época. Em “1837 O Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, é a primeira escola brasileira a incluir Geografia nas disciplinas obrigatórias. A intenção é criar uma elite nacional capaz de ocupar quadros políticos e administrativos” 2. Com relação aos colégios, pouca atenção era dada a educação e apenas a elite dominante era privilegiada, pois era necessário para manter o controle social e cultural, desta forma, os colégios não contribuíam para o aprendizado muito menos para o acesso de todos à educação. Já em “1934 O departamento e o curso superior de Geografia são criados na Universidade de São Paulo. A maioria dos professores era da escola francesa e defendia a abordagem tradicional”3. Durante muito tempo, os saberes de cunho geográfico foram desconsiderados enquanto disciplina escolar, pois a escola nesta época, no final do século XVII, dava muita importância à moral e à religião, ao domínio da palavra, ao latim e a outros símbolos da tradição que se queria preservar. Porém quando diferentes saberes começam a ser propagados na escola, após o Período da Independência no Brasil, eles começam a ser repassados como forma de reprodução ideológica, tanto da Igreja quanto do Estado. Em 1971 Durante o período militar, Geografia e História são aglutinadas na disciplina Estudos Sociais. O governo acredita que o conhecimento dessas áreas é uma ameaça à hegemonia nacional. O objetivo dos educadores é a expansão da rede escolar, para isso formavam a consciência nacional patriótica dando maior ênfase ao aspecto cívico. Em “1900 a área de geografia começa a ganhar espaço nas escolas de todo o país. Acredita-se que, conhecendo as características físicas do local, o sentimento de nacionalismo e patriotismo será despertado nos estudantes” 4. Destarte, repassavam-se apenas os saberes sagrados e os de cunho político cívico, por tal motivo surgem os debates em torno do que deveria ou não ser o ensino de Geografia no Brasil, parece-nos ser este um dos principais conflitos existente no texto referente ao ensino e aprendizagem de Geografia, pois essa situação ocasionou um período de debates que envolveram 2 PCN - O Ensino de Geografia no XXI, de J. W. Vessentini, e R. L. Corrêa. PCN - O Ensino de Geografia no XXI, de J. W. Vessentini, e R. L. Corrêa. 4 PCN - O Ensino de Geografia no XXI, de J. W. Vessentini, e R. L. Corrêa. 3 profundamente os liberais e conservadores, alcançando maior espaço e repercussão por meio da imprensa, gerando descontentamentos e revolta por parte da elite dominante. Durante o século XIX várias reformas escolares foram realizadas, em “1993 Inaugurado o Núcleo de Pesquisa Sobre Espaço e Cultura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que divulga estudos e pesquisas realizados de acordo com essa abordagem” 5. Com estas inovações estabelecidas, procurou-se melhorar os métodos de ensino de Geografia nas escolas, o acesso à cultura, e pouco a pouco ocorreram reivindicações prioritárias, uma verdadeira mudança no ensino de Geografia como um todo. Em 1998 instituem-se diretrizes e parâmetros curriculares para o ensino de Geografia, “a publicação dos PCN’s lista os objetivos da disciplina. Assim, os estudantes da disciplina de geografia tinham que compreender as relações entre a formação da sociedade e o funcionamento da natureza como base na paisagem”6. A geografia e a ciência positivista Faz-se mister sabermos que as maiores apreensões no campo da geografia científica começaram surgir a partir do século XIX, por meio das viagens e observações de Alexandre Humboldt, ao notar as relações entre agregações vegetais e condições do clima e solo, ele também observou as relações humanas de exploração da terra, também as relações de dominação, dominantes e dominados. Igualmente no século XIX Karl Ritter, preocupou-se em estudar os sistemas de organização do espaço terrestre, assim fazendo comparações entre povos, instituições e uso de recursos. Consideram-se estes dois pensadores como sendo os criadores da Geografia - Alexandre von Humbolt e Karl Ritter também difundiram a geografia por meio do magistério. A Geografia tradicional tem no positivismo, o seu alicerce teórico-metodológico. Pois, a partir dessa corrente teórica que o pensamento geográfico tradicional eleva suas bases e continua sustentando as falas de alguns geógrafos e professores em sala de aula ainda hoje. A Geografia enquanto ciência foi uma forma de manifestação das diferenças ideológicas entre Alemanha e França. Sendo Friedrich Ratzel e Vidal de La Blache representantes da geografia tradicional respectivamente representavam as escolas Alemã 5 PCN - O Ensino de Geografia no XXI, de J. W. Vessentini, e R. L. Corrêa. PCN - O Ensino de Geografia no XXI, de J. W. Vessentini, e R. L. Corrêa. 6 e Francesa. Assim, a partir da segunda metade do século XIX a Geografia se desenvolveu apoiada pelo Estado francês sendo colocada em sala de aula como disciplina; nessa época também vimos surgir as cátedras e os institutos de Geografia no sentido de o Estado desenvolver os estudos em Geografia, visto que na guerra entre França e Alemanha havia colocado para a classe dominante francesa a necessidade de se pensar o espaço. Essa necessidade de pensar o espaço proporcionou um expansionismo que acabou por deslegitimar a reflexão geográfica alemã. Paulo Vidal de La Blache foi o constitucional formulador da Escola francesa da Geografia, e por meio deste, a ciência positivista cumpriu um papel importante, nesse movimento ideológico: Foi posta como distante dos interesses sociais, envolvida num manto de neutralidade. E, através dessa pretensa objetividade, legitimou autoritárias doutrinas da ordem. Assim, a França foi o país que demonstrou, de modo mais claro, as etapas de avanço, domínio e consolidação da sociedade burguesa. (MORAES, 2005, p. 22). Desta forma, podemos afirmar que o pensamento geográfico francês nasceu com a tarefa de combater a Geografia de Ratzel, que lamentavelmente demonstrava-se de modo autoritário ao tratar abertamente de questões políticas. Tanto Ratzel quanto La Blache difundiu através do discurso científico o interesse das classes dominantes de seus respectivos países. Assim: A proposta de Ratzel exprimia o autoritarismo, que permeava a sociedade alemã; o agente social privilegiado, em sua análise, era o Estado, tal como na realidade que este autor vivenciava. A proposta de Vidal manifestava um tom mais liberal, consoante com a evolução francesa, e sua análise partiu do homem abstrato do liberalismo. (MORAES, 2005, p. 23). Entretanto através das criticas que La Blache disseminou à Ratzel, mais propriamente a sua Antropogeografia é que este pode cumprir com a função ideológica que estava destinada à Geografia enquanto disciplina, numa concepção humanística onde privilegiava o elemento humano nas relações com o meio geográfico, passando então há busca de entender como e porque surgem os grupos humanos em determinadas regiões. Numa concepção positivista naturalista, o homem era visto apenas como um elemento a mais na paisagem, apenas um dado do lugar, mais um elemento na superfície terrestre, deixando de lado o relacionamento entre os homens, as relações sociais não tinham destaque, sobressaindo apenas as relações estabelecidas entre homem e natureza. Contudo, a geografia enquanto Ciência Positivista não permitiu que Vidal rompesse com os pensamentos de Ratzel, não havia como o mesmo se manter neutro, e este antes de tudo deu prosseguimento ao pensamento Positivista de Ratzel, porém não se isentou de estabelecer inúmeras críticas dentre elas podemos destacar: Crítica à politização explícita do discurso de Ratzel, pois as teses ratzelianas tratarem abertamente de questões políticas. Análise à minimização do elemento humano, nesse sentido, defendeu o componente criativo (a liberdade) contido na ação humana que não seria apenas uma resposta às imposições do meio. Crítica de Vidal à Antropogeografia, onde atacou a concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza. Assim, a partir destas criticas Vidal conseguiu construiu sua proposta e fundamentos, por meio de um diálogo crítico, articulando o que seria a Geografia francesa, com uma nova visão, indo além das enumerações e dos relatos de viagem. Pois através de suas produções se articula a Geografia francesa propriamente dita através dos fundamentos positivistas. Já no Brasil, a ruptura entre teorias e práticas geográficas causou isolamento da geografia no campo das ciências sociais, com isso a produção geográfica no Brasil voltouse exclusivamente para a produção do espaço brasileiro. Neste contexto, a escravidão estava sendo criticada por não favorecer uma concentração de progresso, pois a mesma acabava gerando certo atraso industrial, fator que não privilegiava as relações capitalistas na época. Geografia como estudo seria o campo da ciência que envolveria todos os demais conhecimentos científicos produzidos, sabemos que por meio da interdisciplinaridade, no que se refere à Geografia enquanto disciplina isso será aceitável. Porém, levando-se em consideração que a Geografia Tradicional enquanto uma ciência de base positivista é bastante rigorosa, não é neutra e a produção do conhecimento não esta isenta de interesses, desta forma ela não admite suposições, só admite o que foi provado, na medida em que se podem comprovar experimentalmente os fatos. Pois é nesta percepção filosófica e metodológica que: (...) os geógrafos vão buscar suas orientações gerais (as que não dizem respeito especificamente à Geografia). Os postulados do positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não-dialéticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade. Uma primeira manifestação dessa filiação positivista está na redução da realidade ao mundo dos sentidos, isto é, em circunscrever todo trabalho científico ao domínio da aparência dos fenômenos. Assim, para o positivismo, os estudos devem restringir-se aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpáveis. (MORAES, 2005, p. 7). Em vista disso, não se faz pesquisa, nem se constrói conhecimento cientifico sem domínio teórico e metodológico, pois são os ingredientes fundamentais para a compreensão e dialogo da realidade prática; teoria e método são lentes que ajudam a ter um olhar de cima, dando uma visão privilegiada dos fatos geográficos para uma melhor compreensão dos conceitos. Pois, a geografia na visão Positivista nada mais é que: “uma ciência empírica, pautada na observação, (...) uma ciência de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade, (...) uma ciência de síntese, (...) uma prática social referida ao espaço terrestre.” (MORAES, 2005, p.7-8). Podemos perceber que, na idéia positivista, o pesquisador em analogia ao objeto sente-se limitado, pois suas lentes não lhes permitiam uma visão ampliada com inúmeros ângulos a partir do seu interesse ou do interesse que deseja a sociedade. Assim, por meio dos interesses diversos, o conhecimento muitas vezes é contestado, ou mantido se não haver comprovações contrarias à idéia posta anteriormente. Ainda em tempo, faz-se oportuno ressaltar, as dualidades presentes no pensamento geográfico tradicional, onde ou se dava ênfase aos fenômenos humanos ou naturais; ou se prioriza a visão global do planeta ou se busca a individualidade dos lugares; ou se aprofunda no estudo à nível superficial do elemento ou se aprofunda o estudos em uma classes de elementos. Desta forma era necessário sempre priorizar uma parte em detrimento de outra, não abarcando o todo, era feito apenas estudos limitados. Imprecisão quanto ao objeto de estudo na geografia Em cada ciência, o que a diferencia das demais é o seu objeto. Cada ciência contribui para a compreensão da ordem e da estrutura existentes, e o setor da Geografia é o das organizações espaciais. A abordagem da geografia científica está baseada na observação empírica, verificação de seus enunciados e na importância de isolar aos fatos de seus valores. Ao separar os valores atribuídos aos fatos dos próprios fatos, a ciência procura ser objetiva e imparcial (CHRISTOPOLETTI, 1985, p.16). Os objetos de estudo nas Ciências Humanas diferem muito se comparados às ciências naturais devido a sua complexidade, assim de acordo com MORAES, 2005, temos a (...) Geografia como o estudo da superfície terrestre, (...) Geografia como o estudo da paisagem, (...) Geografia como estudo da individualidade dos lugares,(...) Geografia, como estudo da diferenciação de áreas. Na área de humanas, o pesquisador tanto pode ser influenciado e/ou influenciar o seu objeto de estudo devido ao meio social, causando modificações e interferências no resultado final das observações; visto que é praticamente impossível haver uma neutralidade, pois o mesmo encontra-se envolvido em suas interpretações exercendo influências diretas e indiretas. De acordo com LAVILLE e DIONNE, 1999, se compararmos a figura de um pesquisador à de um autor, percebemos que este ultimo tem livre arbítrio para pensar, agir e reagir de diversas maneiras; porém o pesquisador, logo assume a postura de uma suposta “neutralidade” passando a se adequar aos instrumentos de sua pesquisa, ele é aquele que usa livros, relatos, observações, entrevistas... Fazendo leituras e releituras de forma contextualizada para então chegar ao seu parecer e conclusões sobre o que foi analisado. Em vista disso podemos conceber a Geografia também como: (...) o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre a sociedade e a natureza. Assim, a especificidade estaria no fato de buscar essa disciplina explicar o relacionamento entre os dois domínios da realidade. Seria, por excelência, uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as humanas, ou sociais. (...) Geografia, como o estudo da relação entre o homem e a natureza, vão definir-lhe o objeto como a ação do homem na transformação deste meio. (...) dando o peso da explicação aos fenômenos humanos. (MORAES, 2005, p. 5-6). Destarte como as sociedades modernas, o objeto da Geografia caracteriza-se por sofrer mudanças constantes, rápidas e permanentes, mas todas essas mudanças de acordo com as correntes modernas do pensamento geográfico apontam para um ensino de geografia empenhado em incluir as “transformações ocorridas no espaço, fruto das relações do homem na sociedade e na natureza”. (VESENTINI, 1992). O geógrafo Richard Hartshorne, foi o que encontrou maior repercussão na Geografia estadunidense, apoiado nas especificidades da geografia tradicional, (...) ao propor uma Geografia unitária e sem um objeto próprio de estudo, encarregada de abordar fenômenos variados e estudados por outras ciências, mas, esse geógrafo abriu a perspectiva de trabalhar com um número muito elevado de elementos, o que acabou imprimindo uma versão mais moderna aos estudos geográficos7. Ao comunicar uma variante mais moderna dos estudos em geografia, Hartshorne concluiu as últimas tentativas de se impetrar uma Geografia tradicional, também fatores 7 Capítulo I - TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO. Educação a Distância (UESC). sócio-econômicos possibilitaram uma nova forma de se pensar a geografia de forma critica, rompendo-se com a geografia tradicional. Quando a tese são os conceitos Etimologicamente, a palavra Geografia está relacionada, aos gregos que criaram esta definição a partir da junção de dois radicais: Geo = terra; grafia = escrita, descrição, desta forma teríamos Geografia enquanto descrição da Terra. Assim, podemos conceber a Geografia como um campo do conhecimento científico onde, por existir inúmeras definições provoca controvérsias gerando enormes debates. Numerosos conceitos sobre o que é, ou vem a ser Geografia são apresentados demonstrando que os mesmos tiveram suas origens na Antiguidade Clássica, por meio de pensadores que realizaram estudos traçando aspectos sociais e naturais de lugares onde estiveram. A Geografia ao longo dos tempos se espalhou e se divulga por meio de um conjunto de conceitos que, assim como a ciência não se detém simplesmente em registrar os fatos, mas preferencialmente em fazer prognósticos seguros e validos universalmente. A Geografia enquanto ciência, ou seja, no que se refere à construção de conhecimentos; sempre se preocupou com a compreensão da relação entre homem e natureza (ar, água, solos, relevo, fauna e flora). Alguns conceitos geográficos a principio são considerados como iguais, por estarem sendo analisados de forma interligada, não isolada a exemplo do uso do conceito de espaço geográfico como paralelo ao de paisagem, entre outros. Os diferentes atendimentos do espaço geográfico possibilitaram para que os interesses desta disciplina sejam preservados e sintonizados com as grandes questões de ordem social, política e econômica da época. A concepção de Milton Santos8 (1997) afirma que o espaço geográfico é: Formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos 8 1978 Milton Santos (1926-2001), considerado o maior geógrafo do Brasil, publica o livro Por Uma Geografia Nova, no qual preconiza a importância do estudo das questões sociais. técnicos, mecanizados e, depois cibernéticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Essas transformações corridas se devem em grande parte aos avanços tecnológicos e científicos, pois os mesmos ocasionaram grandes mudanças visto que o estudo do espaço supõe a analise da sociedade e da natureza de forma interligada, destarte as correntes do pensamento geográfico estão constantemente fazendo usos de vários conceitos e várias definições teóricas no que se refere ao objeto de estudo da Geografia, como referência temos: (...) Geografia como o estudo do espaço. (...) o espaço seria passível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a análise geográfica. Tal concepção, na verdade minoritária e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e encerra aspectos problemáticos. (MORAES, 2005, p. 5). O espaço geográfico pode ser concebido de diferentes maneiras e ao longo da cultura e sociedade humana pode ser visto como sendo o lugar onde os seres vivos buscam estabelecer laços afetivos de harmonia, de respeito e também de temor. Esses laços afetivos vêm destacando o espaço como sendo palco das realizações humanas; independente das definições adotada tanto na ciência como na história para conceituá-lo, visto que o mesmo acolhe todas as partes do planeta onde são possíveis de serem analisadas, catalogadas e classificadas, em diferentes épocas apesar de suas transformações. Diante disto, a abordagem metodológica de Geografia, nota analiticamente a essencialidade de superar a ideologia que reproduz o conhecimento pela simples memorização de conceitos. Assim novos estudos são assimilados para possibilitar que o individuo construa o saber a partir da interpretação da realidade a fim de que possua noção do espaço geográfico e, sobretudo ter percepção e compreensão do mundo. Levando em consideração que o espaço é um dos objetos de estudo da Geografia, e por conseqüência disto engloba ações sociais, humanas e também os aspectos físicos, averigua que o seu significado é bastante amplo, podendo ser confirmado pelo autor Antonio Carlos Castrogiovanni (2000) enquanto “um produto histórico, como um conjunto de objetos e ações que revela as práticas sociais dos diferentes grupos que vivem num determinado lugar, interagem, sonham, produzem, lutam e o (re) constroem.” Com apoio teórico de Castrogiovanni, notamos que para entender o espaço geográfico necessitamos nos envolver por meio de estudos aprimorando diferentes campos de conhecimento. Assim constatamos que tratar da espacialidade em geografia tem sido complexo por ser um tema contemplativo, e relacionado a diversos debates, que surge homogeneizado da percepção individual. Deste modo também são os demais assuntos de geografia como por exemplos: redes, meio, território, escalas, paisagem, região, lugar, que por serem bastante complexos, exige uma didática em sala de aula a partir do concreto, para que os educandos possam entender a totalidade – mundo, ou seja, tornar-se imprescindível que abordemos uma Geografia unificada e não fragmentada. Nesta perspectiva tornar-se necessário, contextualizar os fundamentos reais e esboça-los na valorização do local para com o global e vice-versa, esquematizando transversalmente a relação entre o embasamento teórico e a prática, buscando aprimoramento lógico entre o espaço vivido e o concebido. Nesta perspectiva de conceituação para um melhor alicerce entre teoria e prática podemos notar que “Determinismo geográfico ou escola determinista”, seriam as influências que as condições naturais exerciam sobre a humanidade, ou seja, o homem seria marcado pela natureza que o cerca, o meio natural seria uma entidade definidora da fisiologia e psicologia humana. Logo, Possibilismo refere-se ao meio natural como fornecedor de possibilidades para modificação humana, não determinando a evolução das sociedades, sendo o homem o principal agente geográfico. A geografia enquanto disciplina Sempre lamentei que a imagem das ciências sociais seja pulverizada: aprende-se a ser historiador, geógrafo, economista, sociólogo, etnólogo, mas em parte alguma adquire-se uma visão de conjunto das disciplinas que analisam o homem em sociedade. (CLAVAL, 1980 apud LAVILLE. DIONNE, p. 44, 1999). Em função do avanço cientifico e tecnológico, estipulados pela globalização, o sistema de informatização e robótica evoluem constantemente, objetivando na interação mundial e na transformação dos fenômenos econômicos, sociais e culturais. Em circunstâncias eventuais, surge a necessidade de reformular os métodos educacionais, alterando desta maneira o modelo escolar tradicional - que é caracterizado como dogmático e mecânico ensino-aprendizagem. - para articular novos paradigmas no processo Assim o educador precisa desenvolver em sala de aula, práticas pedagógicas que instrumentalize os educandos a terem noção de espaço e de sua dimensão; saber se localizar; se orientar; interpretar e representar escalas; ler mapas. Como podemos notar: Ensinar Geografia tem sentido para o aluno compreender o mundo em que vive e buscar sua transformação, utilizando-se da tecnologia, visando a qualidade de vida ambiental e humana, sendo usuário das linguagens necessárias à interpretação geográfica, com destaque para a visual e, no interior desta, a representação gráfica e cartográfica. Os conhecimentos geográficos o ajudarão a tomar decisões diante de situações concretas, demonstrando sua capacidade de percepção e de estabelecimento de relações com a vida cotidiana, numa perspectiva interdisciplinar.9 O ensino de Geografia conservar-se voltado para a expectativa de promover aos discentes, a conquista e o respeito do espaço social com alteridade, compromisso e autonomia. A Geografia a ser ensinada hoje é uma ciência que estuda aquilo que é marcado no território, que expressa o espaço como resultado das lutas, das disputas, do jogo de interesses e de poder dos povos, das sociedades e dos homens. Homens concretos, historicamente situados no espaço e no tempo, não apenas na dimensão de uma extensão (horizontalidade), mas na sua condição de posicionamento social (verticalidade) numa sociedade hierarquizada, compreendendo sua identidade de classe. (SANTA CATARINA, 1998, apud DUTRA, 2006 p.16). Assim como as sociedades modernas, o ensino da Geografia caracteriza-se por sofrer mudanças constantes, rápidas e permanentes, mas todas essas mudanças de acordo com as correntes modernas do pensamento geográfico apontam para um ensino de geografia empenhado em incluir as “transformações ocorridas no espaço, fruto das relações do homem na sociedade e na natureza”. (VESENTINI, 1992). O estudo da Geografia permitiu um grande avanço na idéia de integração curricular. Porém sabemos que todas as transformações ocorridas na educação não são respostas aos problemas do sistema de ensino, mas todas as ações visam atender a interesses externos. Em vista disso, faz-se necessário uma melhor compreensão do processo de ensino-aprendizagem e uma prática docente coerente, associada com a econômica nacional e internacional e com a rede global de comunicações. As transformações na educação são lentas e deixa muito a desejar, da mesma forma que deixa a desejar o ensino de Geografia, por isso é 9 Grupo de Desenvolvimento Profissional, participante do PDP 2004. Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.asp?id_projeto=27&id_objeto=38807&tipo=ob&cp=3D8E33 &cb=&n1=&n2=Proposta%20Curricular%20%20CBC&n3=Fundamental%20%206%C3%82%C2%BA%20a %209%C3%82%C2%BA&n4=Geografia&b=s necessário entender e valorizar a geografia na escola, fazendo aumentar o interesse dos educandos de forma que possamos atingir esses objetivos com base na analise do contexto político educacional no Brasil; visto que é impossível dissociar o contexto político da crise da Educação, pois sabemos que é visível a ausência de infra-estruturas e de recursos didáticos, também a desvalorização do magistério é algo “gritante”. CASTROGIOVANNI (2007 p. 43) diz que: “(...) Professores, atenção! É fundamental estarmos refletindo atentamente sobre o que é e o que deve ser a ciência geográfica, não somente como ciência, mas também como pratica escolar, pratica de vida, pratica que os alunos (nós!) praticam (mos)”. A educação é um “processo complexo” que depende da consciência e ação política. Ao professor, não basta apenas ensinar geografia, mas é imprescindível oferecer uma geografia investigadora, estimulante, provocativa, dinâmica, ativa desde o começo e em todos os níveis de ensino, mostrando que é possível acontecer mudanças na educação, em especial no ensino de Geografia, onde existe a todo tempo a necessidade de atualização dos conteúdos juntos à realidade do país. A educação como um todo, deve como prioridade ter educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas entusiasmadas, abertas que saibam motivar e dialogar; trazendo a realidade, o cotidiano e a própria comunidade como parte integrante de uma metodologia geográfica efetiva, assim complementando os conteúdos didáticos fixos, para então compreendermos o mundo em que vivemos. Assim, a prática pedagógica e didática eficaz envolve a contextualização do conhecimento evocando fatos da vida pessoal, social e cultural com temas geográficos que devem ser facilmente desenvolvidos visando a veiculação da realidade local, traduzindo preocupações de todos no dia-a-dia, deste modo envolvendo a criança, a família, a escola, o mundo animal, o mundo vegetal, o mundo geográfico enfim, um universo de coisas que podem ser socializadas adequando uma leitura do mundo e desenvolvendo o aprendizado e respeito a cultura dos estudantes. E o ensino da Geografia, que outrora estivera diretamente destinado a fortalecer o sentimento nacionalista, atualmente se encarrega de promover a análise profunda e concreta do espaço com suas múltiplas relações estabelecidas pelo homem na “sociedade global”. (DUTRA, 2006, p.6). Através da leitura do espaço geográfico que nos cerca que podemos analisar a realidade social e cultural de nossos alunos, possibilitando aos meninos e meninas uma maior compreensão desses fenômenos, de forma real e contextualizada, permitindo a construção de competências e habilidades necessárias ao convívio social. Hoje com a pedagogia de projetos existe uma grande necessidade de aproximar o ensino da realidade e para tal no Japão, por exemplo, todas as escolas são obrigadas, a realizar um trabalho de campo, um projeto de pesquisa - “um estudo do meio, uma excursão, visitas a fábricas ou museus etc. – por semana” (VESSENTINI, 2004, p.11). O professor por prioridade é considerado o profissional da reconstrução do conhecimento, e tem como prática educativa a pesquisa, assim o compromisso do educador com relação ao estudante e fazer com que o mesmo aprenda através do conhecimento e da prática de realidades. Essa forma de ensinar pela prática, coloca constantemente o educando em contato com o espaço e a paisagem em que vive, podendo os mesmos ser capazes de analisar e experimentar momentos e formas que vão ganhando os objetos passados e presentes, ou seja, suas heranças resultado das relações entre os homens e a natureza, descobrindo os valores e as transformações concebidas ao passar dos tempos. Considerações finais O ensino de Geografia de modo geral, equivale entre o compreender e aplicar, entre o gerir e intervir nas questões de ordem social, política e cultural; tanto regionais quanto mundiais. Desta forma o professor necessita levar em considerações as experiências trazidas por discentes, ocupando o cargo de mediador da construção do conhecimento. Pois, numa perspectiva sócio-interacionista, os professores devem auxiliar os educandos nas suas descobertas e valorização da cultura do lugar onde moram, enfim, a nossa realidade e identidade de alguma forma deve transparecer e ser revelada no ideário geográfico. Pois, Geografia é o lugar, o espaço, território, a relação de poder, a trajetória, a viagem, o percurso, é a nossa autobiografia, a autobiografia do nosso povo é a nossa identidade como raça ou etnia; como estudo por meio da interdisciplinaridade e pesquisa abarcaria todos os demais conhecimentos científicos produzidos. Referências: CASTROGIOVANNI, A. C. Para entender a necessidade de práticas prazerosas no ensino de geografia na pós-modernidade. In: REGO, N. CASTROGIOVANNI, A. C.; KAERCHER, N. A. Geografia. Porto Alegre: Artmed, 2007. CHRISTOPOLETTI, A. Perspectivas da Geografia. 2ª ed. São Paulo: DEFEL, 1985. DUTRA, A. A Influência do Ensino da Geografia no Fortalecimento da Identidade Cultural Nacional. 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