Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS GEOGRAFIA DO CRIME: UMA ANÁLISE ESPACIAL SOBRE A CRIMINALIDADE NO BAIRRO DO JADERLÂNDIA - CASTANHAL-PA. Guilherme Cezar Sousa VIEIRA1 Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR2 Juliana Maciel da SILVA3 Fabiane Noleto da SILVA4 Clay Anderson Nunes CHAGAS5 Resumo A violência e a criminalidade deixaram de ser um problema dos grandes centros urbanos, nas últimas décadas acontece no Brasil um rápido processo de interiorização desse problema na direção de pequenas e médias cidades. Uma rápida visualização nos índices de criminalidade no Estado do Pará é o suficiente para verificar com esse fenômeno até a década de 1960, restrito, quase que exclusivamente a cidade de Belém consegue rapidamente, na velocidade do processo de urbanização, atinge as cidades interioranas do Pará. A partir dessa questão temos como objetivo analisar a espacialidade criminal no bairro do Jaderlândia, na Cidade de CastanhalPA, bem como, explicar como a ciência geográfica pode contribuir para o entendimento da criminalidade e violência. Palavras-chave: Espaço. Território. Geografia do Crime. GEOGRAPHY OF CRIME: A SPATIAL ANALYSIS ON CRIME IN THE DISTRICT OF JADERLÂNDIA-CASTANHAL-PA. Abstract It`s not newness that the violence and criminality have astonished every kind of classes around the society. The fear sensation when walking on the street, if you’re going to get alive from the place where you work, fearing to go to the supermarket, to school or to the square with your family has left the society even more sicken. About this question, this paper goals to analyze the criminal spatiality in Jaderlândia suburb, in Castanhal City-Pa and, in addition, explain how the Geographic Science can contribute to combat the criminality in its main categories which are: Space and Territory. KeyWords: Space. Territory. Geography of Crime. GEOGRAFÍA DEL CRIMEN: UNA ANÁLISI ESPACIAL SOBRE LA CRIMINALIDAD EN EL BARRIO JADERLÂNDIA- CASTANHAL-PA Resumen La violencia y la criminalidad dejaron de ser un problema de los grandes centros urbanos, en las últimas décadas acontece en el Brasil un rápido proceso de internacionalización de ese problema en la dirección de pequeñas y 1 Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Voluntário no Projeto de Pesquisa: Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região Metropolitana de Belém. Email: [email protected] 2 Graduando do Curso de Geografia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Bolsista do Projeto de Pesquisa: Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região Metropolitana de Belém. Email: [email protected] 3 Graduanda do Curso Bach/Lic. em Geografia da Universidade Federal do Pará. Bolsista do Projeto de Pesquisa: Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região Metropolitana de Belém. Bolsista do PIBEX. Email: [email protected] 4 Graduanda em Geografia, pela Universidade do Estado do Pará, Campus Belém. Email: [email protected] 5 Professor Doutor do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará. Coordenador do Projeto de Pesquisa: Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região Metropolitana de Belém. Email: [email protected] Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 24 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS medias ciudades. Una rápida visualización en los índices de criminalidad en lo estado del Pará es lo suficiente para verificar con ese fenómeno hasta la década de 1960, restrictivo, casi que, exclusivamente la ciudad de Belém consigue rápidamente en la velocidad del proceso de urbanización, atinge las ciudades de lo interior del Pará. A partir de esa cuestión tenemos como objetivo analizar la especialidad criminal en lo barrio del Jaderlandia, en la ciudad de Castanhal-PA, bien como, explicar como la ciencia geográfica puede contribuir para lo entendimiento de la criminalidad y violencia. Palabras-clave: Espacio. Territorio. Geografía del Crimen. 1. INTRODUÇÃO Não é de hoje que a violência e a criminalidade têm assombrado a sociedade. Em toda a história fatos e episódios são apresentados a partir do momento que um Estado, reino, grupo dominante busca expandi suas fronteiras sobre as áreas periféricas, buscando nas palavras de Raffestin (1993) os trunfos do poder. Assim, a existência da Humanidade é marcada pela luta por controle do território, população e recursos, como também a existência e a manutenção do capitalismo são marcadas pelo controle e subjugação de uma classe sobre a outra. Essas vias gerais apresentadas acima são uma forma de abrir o discurso para se fazer pensar o tema sobre a violência e a criminalidade no ceio da humana, cuja existência parece não ter sentido. Quando se estuda as sociedades no reino animal é percebido que entre os membros do elo evolutivo do grande bioma global existem episódios de disputas e até de ações que implicam em morte a uma ou ambas as partes envolvidas, motivadas pelo domínio de um dado território em questão, ou mesmo pela preservação da espécie. É intrigante imaginar que a espécie humana não foge a esse destino, de disputas por territórios ou domínios de outros gêneros como no universo coorporativo. Intrigante porque tem-se a ideia objetiva de que por sermos a espécie mais evoluída ou mais adaptável poderíamos mudar certos padrões ou paradigmas da raiz primitiva. Mesmo com o patamar que a humanidade atingiu no que concerne o desenvolvimento tecnológico e intelectual, a grosso modo, vê-se uma espécie na busca por domínio de território e preservação de legados - em substituição a preservação da espécie, já que todos são espécie humana. Cada qual, em sua época e espécie, tem suas motivações aparentes que justificam, para àquelas épocas e espécies, suas ações. Entretanto, na civilização moderna e pós-moderna e mesmo antes, tais motivações são injustificáveis para um nível de aceitação razoável. E pensando nas motivações que levam o ser humano a ações não tão racionais é que surge a Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 25 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS necessidade de procurar uma compreensão para os índices de violência e de criminalidade no contexto atual em que nos encontramos. Munidos da visão geral acerca da problemática “Violência e Criminalidade”, este trabalho terá a pretensão de analisar o assunto direcionando para a realidade nacional brasileira e especificar para o contexto do bairro Jaderlândia, na cidade de Castanhal, Estado do Pará. O tema, em particular será: “Geografia do Crime: Uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia - Castanhal-PA”. Temos como objetivo geral desse trabalho analisar a problemática da criminalidade buscando entendê-la a partir das discussões de território, produção do espaço urbano, violência e criminalidade. Bem como, observar como a dinâmica do território e produção do espaço interfere no comportamento criminal no Jaderlândia no período de 2011 a 2014, e identificar os principais tipos de crimes praticados. No que tange ao assunto em questão, às pesquisas foram configuradas no arcabouço da Ciência Geográfica, nos estudos sobre a Geografia e a violência. Atualmente se convencionou denominar de “Geografia do Crime”. Também, no combo da abordagem, foram consultadas literaturas que direcionassem a discussão para a espacialização das situações de violência e crime além de dados coletados pelo Serviço de Segurança Pública (SEGUP). No Brasil, o foco dos geógrafos acerca das situações de violência e crime é um esforço novo e de grande interesse para essa ciência. 2. TERRITÓRIO, ESPAÇO E VIOLÊNCIA: UM ENTENDIMENTO GEOGRÁFICO DA CRIMINALIDADE Entender a violência e a criminalidade apenas por um ponto de vista é uma tarefa quase que impossível, a dinâmica de como a violência se manifesta no espaço é bastante ampla e seu entendimento não se dá apenas da visão de um prisma, pelo contrário, as situações que envolvem a violência são diversas e podem ser iniciadas através de uma simples discussão em um jogo amistoso de futebol até a ocorrência mais extrema como a de homicídio. Nessa linha de pensamento, discorreremos sobre o entendimento geográfico da criminalidade bem como a espacialidade, pois, através do conceito de espaço geográfico como sendo um conjunto indissociáveis de objetos e ações. (SANTOS, 1997), é possível Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 26 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS compreender as desigualdades que ocorrem no território e termos o entendimento dos motivos que geram a violência e fazem da criminalidade uma prática sócio espacial. A criminalidade e a violência são uma temática ainda nova na geografia brasileira, porém, tem sido a grande preocupação da sociedade contemporânea. Essa preocupação não é sem fundamento, pois há pesquisas e estatísticas que mostram o aumento da criminalidade, principalmente os crimes que envolvem a pratica de violência contra a pessoa, como os homicídios, furtos, latrocínios e os roubos com armas de fogo. Sobre o assunto, é válido ressaltar que existem diferenças entre a criminalidade e a violência. O crime faz parte de uma das modalidades da violência, porém temos que entender que nem toda a violência é crime. Contudo, todo o crime é uma certa forma de violência. Durante muito tempo, houve uma relação quase direta da pobreza e a miséria como geradoras da violência e da criminalidade. Porém, está se tornando cada vez mais evidente de que a relação é outra: a urbanização desordenada e mais a miséria são os condicionantes mais lógicos que influenciam a violência e a criminalidade criando novos territórios. Nessa lógica corroboramos com Chagas (2012, p.14), quando ele afirma: Os precários indicadores sociais, associado à baixa perspectiva de ascensão social da população mais jovem, além do processo de migração do crime de áreas tradicionalmente violentas e periferias das cidades, produzem assim novas territorialidades. Deve-se levar em conta e ressaltar que não é somente a pobreza que é uma condicionante da violência, isso porque temos vários municípios e países com pobreza extrema que apresentam os índices de violência mínimos. Mas, aliada a urbanização desordenada e condições de vida precárias, a falta de policiamento, serviços de saúde e educação, se torna um nicho propício a criminalidade aumentando ainda mais esses índices. Compreender a criminalidade a partir do entendimento geográfico, permite que o geógrafo assuma um papel importante para a compreensão do fenômeno da criminalidade urbana assim como suas relações com o espaço a partir da visão da ciência geográfica. É necessário reforçar a importância do estudo da violência como um elemento fundamental na dinâmica e na construção do espaço urbano. Partindo do pensamento sobre violência, é possível compreender com mais ênfase segundo Chagas (2012), quando se fala em violência, logo criamos uma relação direta com o território. Podemos dizer que a primeira é um recorte da segunda, ou seja, a violência é parte Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 27 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS do território como um todo, e pode ser identificada através dos contextos e suas peculiaridades. A ciência geográfica tem essa tarefa de estudar a criminalidade buscando compreender as relações dos agentes que produzem o espaço. 3. A GEOGRAFIA E A CRIMINALIDADE No cenário em que vivemos, é impossível encontrar alguém que não se preocupe, ou que, não tenha medo da violência e da criminalidade, seja ela no trânsito, ou até mesmo dentro das próprias casas. A criminalidade ao longo dos anos vem sofrendo variadas metamorfoses. É um fenômeno social, já identificado no século XIX, como um fator próprio da existência humana, portanto, fator social. Diversas ciências têm buscado entender a temática da criminalidade e não é por acaso que vemos em diversos noticiários e palestras no mundo, vários psicólogos, sociólogos, filósofos, advogados, antropólogos tentando entender as causas da violência, porém, a geografia assim como as demais ciências também estuda esse fenômeno na sociedade. No entanto, diferente das outras ciências, a geografia estuda a sociedade através de um modo particular Corrêa (1986), ou seja, por meio de suas categorias de análises como o espaço, território, paisagem, região e lugar. Não é somente a geografia que estuda a violência e a criminalidade, no entanto, a violência é uma prática sócio espacial, que é a área exclusiva da geografia. Nesse sentido Straforini (2004, p.175), afirma que a ciência geográfica: [...] deve buscar a compreensão do espaço geográfico, esse entendido como uns sistemas indissociável de sistema de objetos e sistemas de ações. Para que os objetos e ações permaneçam indissociáveis o espaço não pode perder o sentido de totalidade de mundo. Ou seja, como o espaço geográfico é a totalidade que envolve sociedade e natureza, a ciência geográfica tem como função ser interpretadora da produção do espaço construído pela sociedade capitalista, feita com desigualdades, contradições e várias lutas de classes. Na geografia, principalmente a brasileira, encontramos uma produção científica cada vez mais crescente sobre a geografia da criminalidade e da violência urbana, porém, esses estudos não têm um grau muito aprofundando ou detalhado do assunto proposto comparado a complexidade do problema. Fica cada vez mais evidente que a grande preocupação da ciência geográfica é identificar os principais fatores que levam a prática da violência buscando Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 28 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS entender as causas e suas distribuições no espaço e no território. A preocupação dos geógrafos sobre a violência e criminalidade é compreender a evolução desse tipo de pesquisas, que antes parecia ser mais estudos da sociologia, direito, psicologia, e que atualmente começa também a ser preocupação das outras ciências humanas, principalmente da geografia. Dentre as várias facetas, a geografia do crime se configura da seguinte forma, como Francisco Filho (2004, p. 27) afirma: O espaço urbano se apresenta como algo complexo, campo onde as relações humanas se estabelecem e se cristalizam nas suas formas e nas relações entre elas. É nesse espelhamento entre as ações e sua dinâmica no território que surge uma geografia do crime, em que cada ação de quebra da ordem e, consequentemente, de um ato de violação dos direitos do cidadão, adquire uma dinâmica e personalidade própria, estabelecendo um conjunto de ações que se interligam a outros fenômenos urbanos, interferindo e moldando a percepção que cada indivíduo passa a ser do espaço onde vive, estabelecendo novas texturas e morfologias no crescimento do tecido urbano, como consequência final de todo o processo. Falar em violência, portanto, e estabelecer sua geografia, é entender como o crime adquire uma organização, uma estrutura própria que faz seu reflexo no espaço urbano se sentir presente. A produção do espaço urbano, onde a sociedade utiliza-se para moradias ou trabalho, produz várias formas de conflitos que consequentemente acabam resultando em algum tipo de violência. Nesse contexto, Corrêa (1995, p. 114) fala a respeito do espaço urbano e seus condicionantes afirmando que: O espaço urbano capitalista, fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campos de lutas, é produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela emergem. A ciência geográfica tem como responsabilidade estudar e tentar explicar os fenômenos criminosos e as violências causadas pelos agentes envolvidos na produção do espaço urbano, onde muitas das vezes são atos praticados por uma parcela da população onde não tiveram seus direitos ao mínimo respeitado e sequer tem o direito de viver na cidade de forma digna Lefebvre. (2001). Continuando a discussão sobre a violência, acerca dessa relação entre geografia e criminalidade, a temática da violência e criminalidade tem ganhado a atenção da geografia em função das abordagens que consideram as manifestações espaciais do crime e dos espaços Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 29 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS diferenciados que surgem a partir da violência, sobre a importância da geografia na compreensão desses estudos a autora ainda enfatiza que: A análise geográfica pode levar a interessantes e relevantes hipóteses da espacialização da criminalidade, já que além da lei, do ofensor e do alvo, a localização das ofensas é uma importante dimensão que caracteriza o evento criminal (...). Se a dinâmica criminal pode ser um dos fatores de transformação e reorganização espacial (o crime transforma o espaço e seus significados) e a ciência geográfica tem potencial para colaborar no planejamento urbano metropolitano, deve-se inserir em suas análises a dimensão da criminalidade. (FÉLIX, 2002, p. 78). A criminalidade contemporânea mobiliza a sociedade e as autoridades públicas e privadas em todo o Brasil. A violência e a criminalidade geram, além dos prejuízos materiais e financeiros, prejuízos psicológicos a sociedade. Por esse problema, a sociedade é obrigada a mudar seus hábitos para viver com o medo e a insegurança, diminuindo assim, a qualidade de vida da população. É um fenômeno que afeta todas as classes da sociedade, seja pelo medo da insegurança ou pela abordagem de algum indivíduo em uma rua a qualquer momento. No Brasil, as grandes metrópoles sofrem com essa preocupação, no entanto, as cidades médias também vêm apresentando significativos níveis de criminalidade em seu território. O grande interesse por estudar a violência e criminalidade é justificado pelos desenfreados casos de ocorrências que têm abalado a qualidade de vida dos cidadãos. Um dos fatores de transformações do espaço urbano é representado pela dinâmica da violência criminal nas cidades. As classes burguesas em busca de um conforto e segurança, buscam moradias mais seguras, muitas vezes em condomínios fechados, tendo uma ideia de “segurança”. Nesse contexto, Chagas (2014, p. 18) afirma que: O aumento demasiado da violência nos últimos tempos, possibilitou o surgimento da ideia de que nos espaços pobres e periféricos a violência aparece de forma mais intensa, quando comparada aos espaços elitizados, porém o que acontece é que a violência se apresenta em determinados lugares de acordo com a espacialidade e as peculiaridades dos mesmos, o que depende da relação do homem e da territorialidade nos espaços. Dessa forma, os agentes imobiliários de certo modo, usam a problemática da violência, criminalidade e do medo, para conseguir convencer as pessoas em comprar seus imóveis que são representados em condomínios fechados. Esses agentes usam informações que muitas das vezes não são verídicas. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 30 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS Taback (1979, p.68 apud BODIN, 2010, p. 55), analisa o processo de violência e criminalidade com a urbanização no Brasil, afirmando que: A relação existente entre expansão urbana e criminalidade tem sido destacada por diferentes especialistas, e são numerosas as pesquisas empíricas levadas a cabo nestas últimas décadas, com o objetivo principal de analisar a influência que as condições de vida urbana podem exercer sobre os indivíduos. Existe um consenso generalizado de que o aumento do número de habitantes numa determinada área introduz modificações sensíveis nas relações que se estabelecem entre as pessoas e no próprio caráter da comunidade. Além disse, o aumento da densidade populacional reforça ainda mais o efeito anterior, pois contribui para diversificar as atividades desenvolvidas, o que torna as cidades mais complexas. É fato que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Analisamos e comprovamos isso quando consultamos o mapa da violência 2015. Na tabela abaixo vemos o Brasil com uma taxa de homicídios de 21,9 por arma de fogo por cada 100 mil habitantes. Isso significa que no ano de 2012 o país teve um total de 40.077 mortes por homicídios. Com esses dados o país ocupa a posição 11º no ranking de 90 países analisados. Tabela 01 - Números de Óbitos por Arma de Fogo País Ano Homicídios por AF 2009 Venezuela 2010 Ilhas Virgens EUA 2011 El Salvador 2008 Trinidad e Tobago 2012 Guatemala 2011 Colômbia 2008 Iraque 2010 Bahamas 2010 Belize 2010 Puerto Rico 2012 BRASIL 2011 Panamá 2012 México 2010 Ilhas Cayman 2012 Santa Lúcia 2012 São Vicente e Gran. Estados Unidos da A. 2010 2010 Uruguai 2010 República Dominicana 2010 Bermudas Fonte: Mapa da Violência (2015) 8.563 48 2.765 448 3.182 13.093 1.772 76 74 869 40.077 596 15.936 7 20 11 11.169 85 630 6 Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 31 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS O tipo de violência que mais incomoda a sociedade brasileira é a prática por bandidos como roubos, furtos e homicídios. É assustador o número de homicídios, responsáveis por ceifar a vida de mais de 40 mil pessoas por ano. Os dados apontam que a grande maioria das vítimas são jovens, na faixa etária entre 14 e 25 anos, negros, do sexo masculino e moradores em áreas que apresentam indicadores de grande vulnerabilidade social. A violência se especializa difundindo o medo e a insegurança entre as pessoas afetando as relações de convívio. Entre os jovens e contra eles, a violência está se ampliando cada vez mais, mostrando múltiplas faces que se concretizam desde o aliciamento para o tráfico de drogas até a manutenção das redes de exploração sexual. E, embora não possamos responsabilizar totalmente a globalização pela abrangência do fenômeno da violência, não ignoramos que o aumento das desigualdades sociais, da ampliação da miséria, do sofrimento, da fome e do desemprego acompanharam este processo. Sobre essa questão Chauí (1985, p. 3), afirma que: A violência é hoje uma das grandes preocupações em nível mundial, afetando grupos ou famílias e ainda o indivíduo de forma isolada. Fazendo parte da chamada questão social, ela revela formas de dominação e opressão desencadeadora de conflitos. Como um fenômeno complexo, polissêmico e controverso, a violência é perpetrada por indivíduos contra outros indivíduos, manifestando-se de várias maneiras, assumindo formas de relações pessoais, sociais, políticas ou culturais. Para Chauí (1985, p. 3), define a violência de forma multifacetada quando afirma que a violência é usada quando é utilizado a força de algum ser. Em suas palavras a autora afirma: Violência significa: tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar); todo o ato de força, contra a espontaneidade, à vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); todo o ato de violação da natureza de alguém e de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar); todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito (...) violência é um ato de brutalidade, servicia e abuso físico ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e terror. A violência opõe a ética porque trata de seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, mudos e inertes ou passivos. Embora a compreensão do fenômeno da violência e criminalidade seja difícil, podemos, diante mão, analisar que as situações que envolvem a violência e a criminalidade são resultados de todas as ações humanas em uma sociedade muito desigual que se reproduz no espaço onde vivem. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 32 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS 4. ESPAÇO E TERRITÓRIO DO PODER Falar sobre território na ciência geográfica não é uma tarefa muito simples, o conceito de território é bastante amplo e ao mesmo tempo complexo, esse conceito é intrinsicamente ligado a outro conceito com uma maior complexidade ainda que é o espaço, porém, é uma tarefa impossível compreender a sociedade sem observar e analisar seu espaço e território bem como estudar os comportamentos que seus agentes interagem entre elas. O conceito de território não é somente estudado pela ciência geográfica, várias outras ciências utilizam-se esse conceito para fazer uma análise mais detalhada e eficiente. Para os biólogos o conceito de território serve como recurso para análise do hábitat. Os antropólogos usam o conceito de território para descrever e limitar o espaço em que transcorrem relações e interações de determinados grupos sociais. Para os economistas e planejadores utilizam o conceito de território para entender em que medida a localização espacial de determinado recurso ou atividade produtiva pode influenciar no seu custo e na formação dos preços relativos dos produtos. Mas e a ciência geográfica? O conceito de território para a geografia possui um crescente debate por vários intelectuais, tendo em vista que é de fundamental importância. Esse conceito serve para se ter o norte de alguns estudos geográficos. E principalmente como um instrumento de leitura e interpretação de diversos prisma da realidade. Em nosso estudo sobre a violência e criminalidade utilizaremos o conceito de território para definir as relações de poder. Dessa forma, o Professor Marcelo Lopes de Souza (2003) enfatiza que o território é um espaço definido e delimitado por e a partir das relações de poder, desta maneira o território seria as relações de poder que se dão em um determinado espaço. Em outra afirmação Haesbaert (2004) enfatiza que o território é o produto das relações que desiguais de forças, as quais envolvem o domínio ou o controle do espaço político-econômico e sua apropriação simbólica, sendo ele conjugado e reforçado entre forças mútuas, ou desconectados, porém, contraditoriamente articulados. Assim como as outras ciências, a geografia estuda a sociedade de um modo particular, pois ela analisa a sociedade com suas categorias de análises que são: espaço, paisagem, lugar, Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 33 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS região e território como já citado anteriormente. Por isso, alguns pesquisadores entendem que o território é tema central da compreensão geográfica. Mas, é impossível falar sobre a questão do território antes de entender o espaço em que ele está inserido, por isso Raffestin (1993), enfatiza que o espaço antecede ao território. É a partir do espaço que o território é produzido, ou seja, o espaço se transforma em território à medida que ocorre a apropriação material ou simbólica do espaço pelos sujeitos que estão nele inseridos. Este processo pode ser denominado de territorialização do espaço. Assim ele enfatiza que: É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço. Tendo uma noção da complexidade dessas categorias de análise geográfica: espaço e território, compreendemos que em um texto cuja intensão é a compreensão do conceito de espaço e território é, antes de tudo, uma tarefa bastante complexa e difícil, principalmente quando é preciso trabalhar com grandes intelectuais de concepções condicionadas e construídas em lugares diferentes. 5. O TERRITÓRIO DA VIOLÊNCIA A violência é uma ação humana que sempre foi percebida em todas as sociedades que se tem conhecimento e em todas as épocas que se têm registros da história como forma de resolver conflitos entre pessoas, famílias, comunidades, grupos e os países. Mas atualmente se convive com as formas tradicionais de violência, conhecidas durante a evolução da história humana, e as novas formas, que ainda provocam surpresa entre o consciente coletivo da sociedade, num tom de perplexidade. É comum o entendimento em que a violência é composta pelas ações de natureza criminal, tais como roubos, vandalismo, desrespeito a ordem natural do meio social e homicídios, que seria o caso mais grave de ação criminal. Entretanto, os atos que ferem os direitos humanos, como os de natureza sexual, maus-tratos, discriminação de gênero e de raça vêm se somando aos conhecidos padrões históricos de violência, englobando não apenas a agressão física, mas também situações de humilhação, exclusão, ameaças Waiselfisz (2000). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 34 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS E esse episódio na história da sociedade dos homens tem ganhado notoriedade nos espaços de maior concentração de pessoas, as grandes cidades e os grandes centros urbanos. Tema de grande complexidade e inúmeras facetas, a violência urbana abrange uma multiplicidade de fatores. Há muito excedeu o âmbito policial e se coloca para a sociedade o desafio de compreender suas motivações e sua linguagem. É certo que sua abrangência e complexidade atingem todos os níveis da sociedade, tanto no que diz respeito às classes sociais como fatores espaciais. A importância da pauta “violência” não se resume a uma questão quantitativa pelo número de sujeitos atingidos, mas na abrangência e complexidade do fenômeno em questão, que na atualidade, é o que mais preocupa. É a nova faceta da criminalidade ligada ao crime organizado que gera insegurança nos cidadãos, interfere na organização do território e se torna um poder paralelo ao do Estado, que ocorre em detrimento a ausência ou a incompetência deste. O desafio coletivo em encontrar soluções para um dos problemas que mais aflige os cidadãos e absorve as atenções dos políticos e administradores comprometidos com o bem comum das cidades requer um esforço de entendimento, que direcione os rumos para uma prática eficiente de combate e prevenção. Para tanto, faz-se necessário atentar para os diferentes aspectos da complexidade da violência, confrontando as diversas abordagens e assimilando novos olhares sobre o atual cenário no intuito de adquirir uma concepção holística da problemática. É nesse sentido que se coloca a presente contribuição - este trabalho de pesquisa - à discussão da problemática, mostrando como a violência, tratada sob diferentes enfoques, se instala no território e o papel do espaço urbano no processo de produção e reprodução desse fenômeno. O trabalho enfoca a violência a partir do ponto de vista geográfico, ou seja, a territorialização: a formação do território da violência, o reduto de poder do crime organizado, seu exército formado pela população excluída que se liga à rede da droga e da contravenção e o que mais compõe os artefatos desse cenário da depredação social, implantação do caos. Para Raffestin (1993, p. 160) a territorialidade é mais que uma simples relação entre homem e território, argumentando que para além da demarcação de parcelas individuais existe a relação social entre os homens. Dessa forma, a territorializaçao seria: “um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 35 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS autonomia possível, compatível com os recursos do sistema". Considerando-se a dinâmica dos fatores envolvidos na relação, seria possível a classificação de vários tipos de territorialidade, desde as mais estáveis às mais instáveis. Embora a violência cotidiana nem sempre termine em morte, esta revela a violência na sua faceta mais grave. Os homicídios são a parte visível de uma realidade complexa, espelho de uma sociedade em crise com seus entes em suas relações. Por outro lado, o dado de mortalidade por homicídio a partir de óbitos registrados é mais fácil de se obter e passível de comparação. Ainda quanto a violência, pode-se olhar a problemática do ponto de vista do sistema econômico e não somente do social como se costumam discutir. Pois o espaço urbano é produzido pelos agentes sociais de forma excludente, desigual e injusta, coerente com a lógica capitalista que comanda o desenvolvimento das nossas cidades. As cidades são “produto, meio e condição” das lutas e conflitos sociais e espaciais que se formam ao longo da história. (CARLOS, 1994, p. 84). Assim, no espaço urbano estão, de um lado, os espaços elitizados das classes dominantes e do outro, os espaços periféricos das classes populares e as excluídas. Entre eles forma-se no tecido urbano o espaço da classe média. Esse processo origina um tecido urbano fragmentado, segmentado e contraditório, porém, extremamente articulado. Os espaços elitizados das classes dominantes caracterizam-se pelo consumo de bens e de infraestruturas com alto padrão de qualidade e de técnica, financiados pelos governos. Nos espaços periféricos predomina a cultura da pobreza e sua dinâmica para reduzir os efeitos devastadores do desemprego e das necessidades habitacionais imediatas. Sem opção no mercado imobiliário, com pouco ou nenhum financiamento público ou privado, predomina a informalidade e a autoconstrução, que não atende às exigências mínimas de uma habitação digna de se morar o cidadão de bem, que segundo a Constituição Federal de 1988, possui o direito à moradia digna. Mais uma prova do descaso do Estado para essa parcela da sociedade. Pode-se dizer que são os espaços-conteúdos da cultura da subsistência. Com isso, criam-se, dentro do tecido urbano, espaços desvalorizados, onde a ausência do Estado e das instituições públicas faz com que sejam abandonados pela lei e onde o contrato social é rompido. São esses locais que abrigam a população excluída socialmente e espacialmente marginalizada, redutos de todas as formas de violência, desde a discriminação ao homicídio. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 36 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS O processo de urbanização sem planejamento e sem justiça social, coloca a distância social entre os indivíduos a uma pequena distância territorial. A proximidade física no território confronta as diferenças sociais em termos de direitos do indivíduo. Volta-se à Constituição de 1988 e lembremo-nos das garantias do Estado a todo cidadão à sobrevivência, à saúde, ao trabalho, à vida, etc. A segregação do pobre, espacialmente próximo das condições da vida moderna urbana e socialmente tão longe dela, fruto da periferização, que o torna duplamente distante, dificulta a mobilidade social. Cria-se uma barreira espacial que reproduz a pobreza, como um fator a mais. A pobreza segregada fica mais pobre, tornando mais difícil a mobilidade social e com isso mais vulnerável às ações criminosas. Espaços de exclusão da lei e da ordem social, abrigo da população segregada, reduto da violência em seus diferentes aspectos, são apropriados pelas organizações criminosas ou mesmo ilegais que os faz seus espaços de poder. A violência chegou ao ponto de adquirir uma arquitetura elaborada e complexa, não por articulação dos entes sociais que colaboram para ela, mas por ser amplo o seu alcance e regular suas causas e efeitos, pelos tipos de violência e notoriedade de suas vítimas. A violência adquiriu um corpo, digamos assim. Ou seja, a violência estrutural desses territórios vem-se articular a violência organizada do crime na atualidade. Cria-se, assim, o território da violência, porções do espaço urbano apropriadas pelas organizações criminosas que exercem seu poder sobre eles transformando-os em redutos de poder do crime organizado que daí comanda sua atuação na cidade, enfrenta o Estado e manobra o seu exército formado pela população excluída que habita esses locais. O bom senso, a moralidade e o senso de justiça são alterados em detrimento aos ideais dos líderes desses guetos. A forma de contemplar o mundo e as pessoas é guiada por um tom de ameaça da perda de domínio do território. A autoridade pública ao se omitir das obrigações elementares “entrega as ruas e as favelas ao império da violência e da lei do mais forte”. (ABRANCHES, 1994, p. 128). As comunidades faveladas e mais pobres são facilmente dominadas pelos grupos criminosos que nelas se instalam porque elas são mais vulneráveis e não têm qualquer capacidade de resistência. Não conseguem segurança pública suficiente para garantir ao cidadão desses locais uma sensação de tranquilidade, de paz. Os “governos locais” (os chefes do crime organizado) exploram as carências sociais e materiais da comunidade a seu favor, fundamentalmente pela ação armada. Esses espaços tornados territórios da violência são parte Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 37 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS ativa no desenvolvimento do poder constituído pelo crime organizado e pela violência a ele atrelada. E, dessa forma, realimentam os processos sociais responsáveis pela violência urbana. O pobre é o indivíduo da sociedade pós-moderna que mais é violentado vivendo nas favelas e periferias. A desigualdade social tem sido e é a raiz desse cenário de angústia. São esses locais abandonados pela lei e à margem dos requisitos da urbanização moderna que abrigam a população excluída socialmente e espacialmente periferizada. Essa população adere ao crime organizado como resposta radical à violência que lhe foi imposta pelo sistema legal. Assim, nas cidades definidas como o lugar essencial da pobreza e das desigualdades sociais crônicas, a violência é um dos seus aspectos mais visíveis. Juntos esses elementos compõem as manifestações das formas sociais produzidas nos últimos anos, e que emergem como a dinâmica mais contundente da relação sociedade-espaço. A territorialização da violência implica em realimentar a violência pela via da inércia espacial e pelo papel do espaço no processo social. Não basta, então, retirar uma favela de um local, desmontar um território, porque a mesma forma espacial vai aparecer em outro lugar, desde que os processos que lhe deram origem persistam. Para Abranches (1994), as raízes da violência urbana possuem uma matriz multifatorial que abrange duas dimensões diferentes: primeiro a social e a segunda moral. Essas dimensões se manifestam no macro e no microambiente social e espacial. No plano macro ambiente vê-se a caracterização pela institucionalidade vigente, pela ordem pública constituída, onde se realiza os processos gerais da urbanização brasileira. O microambiente é visto pela estrutura da convivência nas comunidades locais, e se realiza produzindo e consumindo um determinado espaço. No microambiente sócio espacial se articulam as condições locais favoráveis à apropriação desses espaços pelas quadrilhas criminosas. Tem-se então a formação do território da violência, “quando sua institucionalidade, isto é, as regras e normas de convivência definidas pela comunidade, são distorcidas, por inúmeras razões, a ponto de eliminar a barreira moral e legal entre pessoas honestas e bandido; ela se torna uma fonte independente de reprodução das condições sociais e pessoais para a droga, a violência e o crime”. (ABRANCHES, 1994, p. 130). As teorias da crescente pobreza da população e da recessão econômica, por si mesmas, não são suficientes para explicar causas e determinantes da escalada da violência e da criminalidade nas cidades brasileiras. O que é importante salientar é que, nesse contexto de Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 38 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS desorganização sócio espacial do crescimento urbano, existe uma interação de processos, sejam econômicos, sociais, espaciais, institucionais, políticos e culturais, que contém e estão contidos no cotidiano da vida urbana, que somente pode se realizar produzindo e consumindo um espaço. Nesses territórios, assim constituídos, grupos criminosos – de menor ou maior organização e armamentos – apropriam-se desse espaço, se instalam, dominam a população e o local, e ali se fortalecem para desenvolver suas ações. A criminalidade se impõe porque esses grupos criminosos submetem a comunidade a toda espécie de usos e abusos, aterrorizando a população, principalmente os jovens. Nesse contexto ainda não se pode esquecer a ação de grupos de policiais corruptos, envolvidos na extorsão dos lucros obtidos com a atividade criminosa, tráfico de drogas, sequestros, assaltos, receptação de objetos roubados. Portanto, é o conjunto de carências sociais e morais que criam, nas cidades, territórios propícios ao surgimento de “padrões inconformistas de comportamento, de manifestações violentas de insatisfação e de transgressões criminosas”. (ABRANCHES, 1994, p.134), que estão indissoluvelmente articulados às carências materiais da urbanização excludente. Um estudo crítico da criminalidade e da violência não pode se ater à análise de variáveis, investigando causas e consequências, sem questionar a que novos fatos levaria o quadro atual da violência urbana, ou que novos processos teriam origem na deterioração crescente das condições de existência social e material das populações urbanas. Em seus estudos sobre a urbanização brasileira. (SANTOS, 1993, p. 10). Chama a atenção para o caráter excludente da nossa urbanização que produziu a cidade, especialmente a grande cidade, como polo de pobreza. A cidade em si, como relação social e como materialidade, torna-se criadora de pobreza, tanto pelo modelo socioeconômico de que é o suporte como por sua estrutura física, que faz dos habitantes das periferias (e dos cortiços) pessoas ainda mais pobres. A pobreza não é apenas o fato do modelo socioeconômico vigente, mas, também, do modelo espacial Olhar para esse cenário e buscar compreender os problemas urbanos, com tantas necessidades recorrentes e outras nem tanto, porém não menos graves, leva a parar um instante e refletir no momento atual afim de dissecar o contexto da realidade mergulhada no caos “organizado” da criminalidade e da violência. Ou seja, faz-nos entrar em um momento Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 39 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS de busca por uma profunda análise dos processos formadores da urbanização, em seus diversos contextos históricos, políticos e culturais. Esse entendimento mais amplo deve incluir a análise das diversas modalidades do uso do território para identificar as especificidades do fenômeno da violência e, a partir daí, mensurar sua problemática. A violência urbana, entendida como um processo amplo, que vai além da criminalidade, “surge e se avoluma à medida que as cidades crescem e se tornam mais complexas, mais dominadas pela multidão e pela anomia”. (ABRANCHES, 1994, p. 125). A urbanização excludente cria um crescimento anárquico que permite a produção de espaços onde impera “o mandonismo característico das quadrilhas que tiranizam as periferias urbanas e as favelas, exercido fundamentalmente pela violência armada e pela intimidação física, sem qualquer resquício de legitimidade – é intrinsecamente criminoso”. (ABRANCHES, 1994, p. 127). A ordem espacial assim resultante é a da urbanização perversa, da cidade excludente, na qual essa ordem espacial está sendo permanentemente recriada, no sentido de sua própria reprodução, realimentando a violência e a criminalidade, pela territorialização das mesmas. A luta pelo uso do espaço da cidade coloca a questão da criminalidade e da violência como um problema coletivo, uma situação que, no mínimo, precisa ser regulada e controlada. Por isso começa a ser pensada como forma de obter uma resposta integrada, na qual se articulam os diversos segmentos sociais, públicos e privados. 6. A ESPACIALIZAÇÃO DA CRIMINALIDADE NO JADERLÂNDIA (2011-2014) Como apresentado acima, o objetivo desse trabalho tem como o foco a espacialização da criminalidade do bairro Jaderlândia como: Tráfico de drogas, Roubos, Arma de fogo Apreendida e Homicídios nos anos de 2011 a 2014. Esse bairro nos últimos quatros anos tem sido palco de diversos acontecimentos que deixam a população ainda mais temerosa ao frequentarem esse lugar. Sobre a questão da violência. (CHAGAS, 2014, p.4) afirma que: O aumento demasiado da violência nos últimos tempos, possibilitou surgimento da ideia de que nos espaços pobres e periféricos a violência aparece de forma mais intensa, quando comparada aos espaços elitizados, porém o que acontece é que a violência se apresenta em determinados lugares de acordo com a espacialidade e as peculiaridades dos mesmos, o que depende da relação do homem e da territorialidade nos espaços. Geralmente, nestes espaços elitizados, dependendo do Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 40 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS tipo, a violência aparece de fora para dentro, oriunda da periferia, onde o indivíduo é facilmente influenciado e excluído socialmente e acaba levando a violência para outros lugares (lugares elitizados), ou seja, as organizações criminosas tomam o poder nos espaços periféricos e o indivíduo passa a cometer delitos também nos espaços elitizados com os indivíduos recrutados nas periferias pobres, difundindo para toda a cidade, principalmente para os espaços elitizados, onde existem as maiores atratividades. Assim, é possível compreender que um lugar onde há uma baixa estrutura seja ela familiar econômica ou até mesmo do Estado, possibilita que os locais mais afastados do centro da cidade como o caso do Jaderlândia se tornem lugares mais propícios a criminalidade e violência. É importante ressaltar que o bairro Jaderlândia possui vários outras “invasões”, ou seja, ocupações espontâneas, isso significa que essas invasões são mais propícias à criminalidade do que as áreas devidamente registradas. Nesses locais que são mais propícios a práticas ilícitas, daremos ênfase primeiramente ao crime de Tráfico de drogas. É impressionante o quanto a polícia consegue apreender diariamente vários indivíduos pelo crime dessa natureza. O tráfico e o consumo de drogas são ações criminais que podem influenciar em outros tipos de crimes como, por exemplo, roubos e furtos. Na tabela abaixo, veremos a evolução do crime dessa natureza se especializando nesse bairro. É válido ressaltar que os dados apresentados são apenas das ocorrências registradas na delegacia, ou seja, sabemos que existem muitos outros locais que ainda não foram descobertos por uma investigação. Tabela 02 - Tráfico de drogas no Jaderlândia (2011-2014) ANO 2011 45 2012 112 2013 126 2014 168 Fonte: Segup (2014) De acordo com as informações contidas na tabela, podemos concluir que o ano de 2014 teve um aumento de 123 ocorrências de tráfico de drogas comparado ao ano de 2011, isso significa que houve um aumento percentual de 273,3% de ocorrências neste período. É Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 41 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS perceptível a evolução do tráfico de entorpecentes nesse Bairro. Os tipos de drogas que são mais apreendidas são: Cocaína pura e pasta base, maconha, limãozinho, OXI e pedra. Sobre as causas que levam uma pessoa a se envolver com o tráfico de drogas, Fernandez e Maldonado (1999 apud MELARA, 2008, p.54) afirmam que uma dessas razões pode ter origem individual ou psíquica, como é o caso do sentimento de ambição, o ganho fácil, a inveja, entre outras causas de cunho social seriam de natureza conjuntural/estrutural, ligadas a fatores como pobreza, desemprego e ignorância. Esse comércio ilegal tem crescido vertiginosamente. No Jaderlândia esse comércio funciona de uma forma extremamente organizada, são subdivididos os horários do dia inteiro. Segundo o dono do “ponto de tráfico” entrevistado, cada vendedor tem seu horário especifico, fazendo jus a expressão “crime organizado”. Eles possuem um acordo entre eles, caso a polícia consiga apreender algum deles revendendo, em hipótese alguma eles poderão falar quem é o dono dos entorpecentes, caso contrário, poderá pagar com a vida. Por noite cada “vendedor” ganha equivalente a R$ 700,00 reais. Mas por mais que seja um valor equivalentemente alto comparado o salário mínimo de um trabalhador, o local e a vida dessas pessoas que revendem, são de uma precariedade imensa. No mapa abaixo, enfatiza os principais pontos de entorpecentes apreendidos pela polícia no bairro entre os anos de 2011 a 2014. Figura 1 - Tráfico de drogas no Jaderlândia Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 42 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS 43 Fonte: Segup (2014) Outro problema que esse bairro sofre é a questão dos roubos. Segundo a polícia militar, é quase que impossível um final de semana que não haja ocorrência de roubo. A maioria dos roubos é causada pela faixa etária de 13 aos 24 anos. Sobre esse assunto. (BEATO, 2015, p.78), afirma que: Isto pode estar acontecendo devido aos fatores “exposição”, “menor capacidade de proteção” e “proximidade entre vítima e agressor”. Indivíduos mais jovens em sua maioria são solteiros, frequentam mais lugares públicos sem se preocupar muito com sua própria proteção. A proporção de agredidos na amostra vai diminuindo à medida que consideramos as faixas etárias mais elevadas, o que pode estar indicando a relação desse tipo de crime com o fator exposição. Veremos a evolução do índice de roubo na tabela a seguir. Tabela 03 - Roubos no Jaderlândia Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS ANO 2011 2012 2013 2014 Fonte: Segup (2014) 194 288 251 348 Os roubos no bairro têm crescido de maneira progressiva. Em 2014 foram registrados 348 casos de roubos, 97 a mais que o ano de 2013. Isso significa que houve um aumento de 38%, e em relação a 2011, 79% de casos registrados. Nos dados que nos foram cedidos, não estava esclarecido os tipos de roubos especificamente. Segundo o artigo 157 do código penal brasileiro: “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistência: pena – reclusão, de 04 (quatro) a 10 (dez) anos e multa”. No bairro do Jaderlândia os roubos do tipo a transeunte, aquele que se enquadra como crime que não deixa vestígios, não sendo possível identificar o autor da infração. Pois durante o crime não existe testemunhas e provas para que seja indicado um suspeito, para ser enquadrado no artigo 157. O crime nesse bairro está se manifestando também em relação às armas de fogo. São inúmeras armas de fogo apreendidas, a maioria dessas armas apreendidas está sob o poder de um adolescente com a idade menor que 18 anos. Na tabela abaixo podemos perceber essa evolução do porte ilegal de armas de fogo. Tabela 04 - Arma de fogo aprendido (2011-2014) ANO 2011 2012 2013 2014 Fonte: Segup (2014) 15 27 14 39 Na tabela acima, podemos perceber que houve um aumento de 160% das armas apreendidas pela polícia no ano de 2014 em relação a 2011, quando houve apenas 15 armas Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 44 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS apreendidas. Sobre essa questão, Beato (2015), afirma que uma pessoa que está armado tem maiores chances de ser roubado e esse roubo pode se tornar um latrocínio. A apreensão de uma arma de fogo é uma vitória para a sociedade, pois terá menos uma arma circulando nas ruas. Mas para quem empresta a arma é uma perda enorme. Em uma conversa sobre esse assunto com uma pessoa que perdeu a arma para a polícia, ela nos relatava que funciona assim: “O dono da arma dificilmente sai da casa dele, ele empresta a arma para alguém, e essa pessoa só divide o roubo, e assim ele não precisa ficar saindo de sua casa. Mas quando a polícia apreende essa arma, se o indivíduo que foi preso for condenado por porte ilegal de arma de fogo, quem vai pagar a arma apreendida é a família do acusado.” Ou seja, não existe negociação, uma arma vale muito para esses indivíduos que dependem dela. Outra questão que está sendo muito discutida com as autoridades de segurança pública e sociedade é a questão dos homicídios. Segundo pesquisas de Segurança Pública, Castanhal está entre as 10 cidades que mais têm homicídio no Pará, e a grande parte desses homicídios está no bairro do Jaderlândia. São inúmeras as causas dos homicídios nesse bairro, mas muitas dessas podem estar relacionadas ao tráfico de drogas. Na tabela abaixo poderemos ver a evolução dos homicídios nesse bairro. Tabela 05 - Taxa homicídios no bairro (2011-2014) ANO 2011 67 2012 30 2013 25 2014 28 Fonte: Segup (2014) Se compararmos as ocorrências em 2014 em relação ao ano de 2011 podemos chegar a uma conclusão que realmente houve uma diminuição de mais de 58,2%. Mas, se comparar o mesmo ano em relação ao ano de 2013 podemos afirmar que houve um aumento de mais de 12%. É um fato que a sociedade está diante de um problema que é muito maior do que construir uma cadeia para solucionar os problemas ou colocar mais policiais nas ruas. Claudio Beato (2015) analisa a problemática típica do bairro Jaderlândia como “problema de natureza institucional”. Segundo este autor, os fatores estruturais como aspectos sociais e econômicos, influenciam antecedentes e, fatores organizacionais não funcionam como deveriam. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 45 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS CONSIDERAÇÕES Na sociedade atual, acompanhamos um surto de crimes e violências em todas as classes e setores. A violência se manifesta de todas as formas, no entanto, percebemos que os locais onde há uma baixa infraestrutura estatal, há uma maior possibilidade para que as ocorrências de criminalidade aconteçam de forma mais intensa, e assim, a sociedade vai se moldando aos diversos crimes, haja vista que as políticas públicas não parecem surtir efeitos desejados pela sociedade que constantemente sofre com o medo. A cidade de Castanhal dentro desse contexto se insere como um polo, ou seja, por ela ser o centro ou o nó como Raffestin (1993) analisa, essa cidade recebe diariamente pessoas de todos os lugares da zona bragantina, em busca de uma condição financeira melhor. Sua economia é bastante alta em relação às demais cidades. No entanto, esses aglomerados de pessoas, se tornam ao mesmo tempo um aglomerado de exclusão, pois as pessoas oriundas de outras localidades passam a se mudar para Castanhal se alojando nas periferias. Em uma dessas periferias se localiza o bairro Jaderlândia, nesse local, os moradores, sofrem estigma de serem os mais violentos, essa marca que esse bairro carrega tem a ver com o abandono por parte do Estado e na utilização do território por parte de grupos interessados no lucro ilícito. Novamente, ressaltamos que lugares mais pobres, não é um fator determinante para que as pessoas que moram ali sejam criminosos, nesses locais existem milhares de pessoas que trabalham todos os dias e conseguem seu dinheiro digno sem ter relação alguma com o crime. Porém, esses lugares podem influenciar a criminalidade, haja vista que, o poder do Estado é mínimo ou quase inexistente. O que podemos perceber nas assembleias extraordinárias que os secretários e entes de segurança pública propõem mais policia nas ruas e mais presídios para determinado lugar. Mas o incrível é que em uma pesquisa feita em belo horizonte no ano de 2007, mostra que um presidiário custa 11 vezes a mais que um estudante de nível superior. Os custos anuais com os presidiários ultrapassam os bilhões de reais. Então sabemos que essa não é uma opção inteligente, entendemos que uma educação de qualidade, onde tem professores que possam ser inspirações a ser seguido, com certeza, isso irá gerar cidadãos críticos e com ética na Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016. 46 Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48 Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA; Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS sociedade, que não precisaram pegar em uma arma para subtrair alguma coisa de alguém. Todavia, uma educação onde os próprios mentores são descriminados pelo Estado, onde há falta de respeito com o profissional, dificilmente será um modelo a ser seguido pelas gerações. Tendo como oportunidade o dinheiro fácil pela venda de drogas e pelo roubo usando a força da violência. Em relação aos homicídios, em uma pesquisa publicada pelo IPEA (Instituto de Planejamento Econômico e Social), afirma que uma pessoa na sua vida produtiva pode produzir equivalente a R$ 400 mil reais ao Estado, isso significa que se uma pessoa morre, o Estado terá esse valor a menos. Ou seja, a geografia tem como objetivo através de suas categorias de estudo combater esses tipos de crime. Pois os espaços onde a violência é produzida faz parte do território, e ambos são objetos de estudos da ciência geográfica. Daí a importância de nós como geógrafos, entender as causas das criminalidades nos lugares, como o caso do Jaderlândia, para que geografia possa ser usada de maneira correta para os estudos e para devidas soluções sobre esse problema que muitas outras ciências apenas subjugam apenas como um fenômeno da sociedade. REFERÊNCIAS ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. BEATO, Claudio. Crime e cidades. Belo Horizonte: UFMG, 2012. 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