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Geografia do crime: uma análise espacial sobre a criminalidade no bairro do Jaderlândia Castanhal-PA.
DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p24-48
Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA;
Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS
GEOGRAFIA DO CRIME: UMA ANÁLISE ESPACIAL SOBRE A
CRIMINALIDADE NO BAIRRO DO JADERLÂNDIA - CASTANHAL-PA.
Guilherme Cezar Sousa VIEIRA1
Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR2
Juliana Maciel da SILVA3
Fabiane Noleto da SILVA4
Clay Anderson Nunes CHAGAS5
Resumo
A violência e a criminalidade deixaram de ser um problema dos grandes centros urbanos, nas últimas décadas
acontece no Brasil um rápido processo de interiorização desse problema na direção de pequenas e médias
cidades. Uma rápida visualização nos índices de criminalidade no Estado do Pará é o suficiente para verificar
com esse fenômeno até a década de 1960, restrito, quase que exclusivamente a cidade de Belém consegue
rapidamente, na velocidade do processo de urbanização, atinge as cidades interioranas do Pará. A partir dessa
questão temos como objetivo analisar a espacialidade criminal no bairro do Jaderlândia, na Cidade de CastanhalPA, bem como, explicar como a ciência geográfica pode contribuir para o entendimento da criminalidade e
violência.
Palavras-chave: Espaço. Território. Geografia do Crime.
GEOGRAPHY OF CRIME: A SPATIAL ANALYSIS ON CRIME IN THE DISTRICT OF
JADERLÂNDIA-CASTANHAL-PA.
Abstract
It`s not newness that the violence and criminality have astonished every kind of classes around the society. The
fear sensation when walking on the street, if you’re going to get alive from the place where you work, fearing to
go to the supermarket, to school or to the square with your family has left the society even more sicken. About
this question, this paper goals to analyze the criminal spatiality in Jaderlândia suburb, in Castanhal City-Pa and,
in addition, explain how the Geographic Science can contribute to combat the criminality in its main categories
which are: Space and Territory.
KeyWords: Space. Territory. Geography of Crime.
GEOGRAFÍA DEL CRIMEN: UNA ANÁLISI ESPACIAL SOBRE LA CRIMINALIDAD EN EL
BARRIO JADERLÂNDIA- CASTANHAL-PA
Resumen
La violencia y la criminalidad dejaron de ser un problema de los grandes centros urbanos, en las últimas décadas
acontece en el Brasil un rápido proceso de internacionalización de ese problema en la dirección de pequeñas y
1
Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Voluntário no Projeto de Pesquisa:
Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região
Metropolitana de Belém. Email: [email protected]
2
Graduando do Curso de Geografia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Bolsista do Projeto de
Pesquisa: Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região
Metropolitana de Belém. Email: [email protected]
3
Graduanda do Curso Bach/Lic. em Geografia da Universidade Federal do Pará. Bolsista do Projeto de Pesquisa:
Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região
Metropolitana de Belém. Bolsista do PIBEX. Email: [email protected]
4
Graduanda em Geografia, pela Universidade do Estado do Pará, Campus Belém. Email:
[email protected]
5
Professor Doutor do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará. Coordenador do Projeto de Pesquisa:
Território, Produção do Espaço e Violência Urbana: uma leitura geografia da criminalidade na Região
Metropolitana de Belém. Email: [email protected]
Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 2448. jan./jun. 2016.
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Guilherme Cezar Sousa VIEIRA; Sérgio Lima da SILVA JÚNIOR; Juliana Maciel da SILVA;
Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS
medias ciudades. Una rápida visualización en los índices de criminalidad en lo estado del Pará es lo suficiente
para verificar con ese fenómeno hasta la década de 1960, restrictivo, casi que, exclusivamente la ciudad de
Belém consigue rápidamente en la velocidad del proceso de urbanización, atinge las ciudades de lo interior del
Pará. A partir de esa cuestión tenemos como objetivo analizar la especialidad criminal en lo barrio del
Jaderlandia, en la ciudad de Castanhal-PA, bien como, explicar como la ciencia geográfica puede contribuir para
lo entendimiento de la criminalidad y violencia.
Palabras-clave: Espacio. Territorio. Geografía del Crimen.
1. INTRODUÇÃO
Não é de hoje que a violência e a criminalidade têm assombrado a sociedade. Em toda
a história fatos e episódios são apresentados a partir do momento que um Estado, reino, grupo
dominante busca expandi suas fronteiras sobre as áreas periféricas, buscando nas palavras de
Raffestin (1993) os trunfos do poder. Assim, a existência da Humanidade é marcada pela luta
por controle do território, população e recursos, como também a existência e a manutenção do
capitalismo são marcadas pelo controle e subjugação de uma classe sobre a outra. Essas vias
gerais apresentadas acima são uma forma de abrir o discurso para se fazer pensar o tema sobre
a violência e a criminalidade no ceio da humana, cuja existência parece não ter sentido.
Quando se estuda as sociedades no reino animal é percebido que entre os membros do
elo evolutivo do grande bioma global existem episódios de disputas e até de ações que
implicam em morte a uma ou ambas as partes envolvidas, motivadas pelo domínio de um
dado território em questão, ou mesmo pela preservação da espécie. É intrigante imaginar que
a espécie humana não foge a esse destino, de disputas por territórios ou domínios de outros
gêneros como no universo coorporativo. Intrigante porque tem-se a ideia objetiva de que por
sermos a espécie mais evoluída ou mais adaptável poderíamos mudar certos padrões ou
paradigmas da raiz primitiva.
Mesmo com o patamar que a humanidade atingiu no que concerne o desenvolvimento
tecnológico e intelectual, a grosso modo, vê-se uma espécie na busca por domínio de território
e preservação de legados - em substituição a preservação da espécie, já que todos são espécie
humana.
Cada qual, em sua época e espécie, tem suas motivações aparentes que justificam, para
àquelas épocas e espécies, suas ações. Entretanto, na civilização moderna e pós-moderna e
mesmo antes, tais motivações são injustificáveis para um nível de aceitação razoável. E
pensando nas motivações que levam o ser humano a ações não tão racionais é que surge a
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necessidade de procurar uma compreensão para os índices de violência e de criminalidade no
contexto atual em que nos encontramos.
Munidos da visão geral acerca da problemática “Violência e Criminalidade”, este
trabalho terá a pretensão de analisar o assunto direcionando para a realidade nacional
brasileira e especificar para o contexto do bairro Jaderlândia, na cidade de Castanhal, Estado
do Pará. O tema, em particular será: “Geografia do Crime: Uma análise espacial sobre a
criminalidade no bairro do Jaderlândia - Castanhal-PA”.
Temos como objetivo geral desse trabalho analisar a problemática da criminalidade
buscando entendê-la a partir das discussões de território, produção do espaço urbano,
violência e criminalidade. Bem como, observar como a dinâmica do território e produção do
espaço interfere no comportamento criminal no Jaderlândia no período de 2011 a 2014, e
identificar os principais tipos de crimes praticados.
No que tange ao assunto em questão, às pesquisas foram configuradas no arcabouço da
Ciência Geográfica, nos estudos sobre a Geografia e a violência. Atualmente se convencionou
denominar de “Geografia do Crime”. Também, no combo da abordagem, foram consultadas
literaturas que direcionassem a discussão para a espacialização das situações de violência e
crime além de dados coletados pelo Serviço de Segurança Pública (SEGUP). No Brasil, o
foco dos geógrafos acerca das situações de violência e crime é um esforço novo e de grande
interesse para essa ciência.
2. TERRITÓRIO, ESPAÇO E VIOLÊNCIA: UM ENTENDIMENTO GEOGRÁFICO
DA CRIMINALIDADE
Entender a violência e a criminalidade apenas por um ponto de vista é uma tarefa
quase que impossível, a dinâmica de como a violência se manifesta no espaço é bastante
ampla e seu entendimento não se dá apenas da visão de um prisma, pelo contrário, as
situações que envolvem a violência são diversas e podem ser iniciadas através de uma simples
discussão em um jogo amistoso de futebol até a ocorrência mais extrema como a de
homicídio. Nessa linha de pensamento, discorreremos sobre o entendimento geográfico da
criminalidade bem como a espacialidade, pois, através do conceito de espaço geográfico
como sendo um conjunto indissociáveis de objetos e ações. (SANTOS, 1997), é possível
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compreender as desigualdades que ocorrem no território e termos o entendimento dos motivos
que geram a violência e fazem da criminalidade uma prática sócio espacial.
A criminalidade e a violência são uma temática ainda nova na geografia brasileira,
porém, tem sido a grande preocupação da sociedade contemporânea. Essa preocupação não é
sem fundamento, pois há pesquisas e estatísticas que mostram o aumento da criminalidade,
principalmente os crimes que envolvem a pratica de violência contra a pessoa, como os
homicídios, furtos, latrocínios e os roubos com armas de fogo.
Sobre o assunto, é válido ressaltar que existem diferenças entre a criminalidade e a
violência. O crime faz parte de uma das modalidades da violência, porém temos que entender
que nem toda a violência é crime. Contudo, todo o crime é uma certa forma de violência.
Durante muito tempo, houve uma relação quase direta da pobreza e a miséria como
geradoras da violência e da criminalidade. Porém, está se tornando cada vez mais evidente de
que a relação é outra: a urbanização desordenada e mais a miséria são os condicionantes mais
lógicos que influenciam a violência e a criminalidade criando novos territórios. Nessa lógica
corroboramos com Chagas (2012, p.14), quando ele afirma:
Os precários indicadores sociais, associado à baixa perspectiva de ascensão social da
população mais jovem, além do processo de migração do crime de áreas
tradicionalmente violentas e periferias das cidades, produzem assim novas
territorialidades.
Deve-se levar em conta e ressaltar que não é somente a pobreza que é uma
condicionante da violência, isso porque temos vários municípios e países com pobreza
extrema que apresentam os índices de violência mínimos. Mas, aliada a urbanização
desordenada e condições de vida precárias, a falta de policiamento, serviços de saúde e
educação, se torna um nicho propício a criminalidade aumentando ainda mais esses índices.
Compreender a criminalidade a partir do entendimento geográfico, permite que o
geógrafo assuma um papel importante para a compreensão do fenômeno da criminalidade
urbana assim como suas relações com o espaço a partir da visão da ciência geográfica. É
necessário reforçar a importância do estudo da violência como um elemento fundamental na
dinâmica e na construção do espaço urbano.
Partindo do pensamento sobre violência, é possível compreender com mais ênfase
segundo Chagas (2012), quando se fala em violência, logo criamos uma relação direta com o
território. Podemos dizer que a primeira é um recorte da segunda, ou seja, a violência é parte
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do território como um todo, e pode ser identificada através dos contextos e suas
peculiaridades. A ciência geográfica tem essa tarefa de estudar a criminalidade buscando
compreender as relações dos agentes que produzem o espaço.
3. A GEOGRAFIA E A CRIMINALIDADE
No cenário em que vivemos, é impossível encontrar alguém que não se preocupe, ou
que, não tenha medo da violência e da criminalidade, seja ela no trânsito, ou até mesmo
dentro das próprias casas. A criminalidade ao longo dos anos vem sofrendo variadas
metamorfoses. É um fenômeno social, já identificado no século XIX, como um fator próprio
da existência humana, portanto, fator social.
Diversas ciências têm buscado entender a temática da criminalidade e não é por acaso
que vemos em diversos noticiários e palestras no mundo, vários psicólogos, sociólogos,
filósofos, advogados, antropólogos tentando entender as causas da violência, porém, a
geografia assim como as demais ciências também estuda esse fenômeno na sociedade. No
entanto, diferente das outras ciências, a geografia estuda a sociedade através de um modo
particular Corrêa (1986), ou seja, por meio de suas categorias de análises como o espaço,
território, paisagem, região e lugar. Não é somente a geografia que estuda a violência e a
criminalidade, no entanto, a violência é uma prática sócio espacial, que é a área exclusiva da
geografia. Nesse sentido Straforini (2004, p.175), afirma que a ciência geográfica:
[...] deve buscar a compreensão do espaço geográfico, esse entendido como uns
sistemas indissociável de sistema de objetos e sistemas de ações. Para que os objetos
e ações permaneçam indissociáveis o espaço não pode perder o sentido de totalidade
de mundo.
Ou seja, como o espaço geográfico é a totalidade que envolve sociedade e natureza, a
ciência geográfica tem como função ser interpretadora da produção do espaço construído pela
sociedade capitalista, feita com desigualdades, contradições e várias lutas de classes.
Na geografia, principalmente a brasileira, encontramos uma produção científica cada
vez mais crescente sobre a geografia da criminalidade e da violência urbana, porém, esses
estudos não têm um grau muito aprofundando ou detalhado do assunto proposto comparado a
complexidade do problema. Fica cada vez mais evidente que a grande preocupação da ciência
geográfica é identificar os principais fatores que levam a prática da violência buscando
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entender as causas e suas distribuições no espaço e no território. A preocupação dos geógrafos
sobre a violência e criminalidade é compreender a evolução desse tipo de pesquisas, que antes
parecia ser mais estudos da sociologia, direito, psicologia, e que atualmente começa também a
ser preocupação das outras ciências humanas, principalmente da geografia.
Dentre as várias facetas, a geografia do crime se configura da seguinte forma, como
Francisco Filho (2004, p. 27) afirma:
O espaço urbano se apresenta como algo complexo, campo onde as relações
humanas se estabelecem e se cristalizam nas suas formas e nas relações entre elas. É
nesse espelhamento entre as ações e sua dinâmica no território que surge uma
geografia do crime, em que cada ação de quebra da ordem e, consequentemente, de
um ato de violação dos direitos do cidadão, adquire uma dinâmica e personalidade
própria, estabelecendo um conjunto de ações que se interligam a outros fenômenos
urbanos, interferindo e moldando a percepção que cada indivíduo passa a ser do
espaço onde vive, estabelecendo novas texturas e morfologias no crescimento do
tecido urbano, como consequência final de todo o processo. Falar em violência,
portanto, e estabelecer sua geografia, é entender como o crime adquire uma
organização, uma estrutura própria que faz seu reflexo no espaço urbano se sentir
presente.
A produção do espaço urbano, onde a sociedade utiliza-se para moradias ou trabalho,
produz várias formas de conflitos que consequentemente acabam resultando em algum tipo de
violência. Nesse contexto, Corrêa (1995, p. 114) fala a respeito do espaço urbano e seus
condicionantes afirmando que:
O espaço urbano capitalista, fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social,
cheio de símbolos e campos de lutas, é produto social, resultado de ações
acumuladas através do tempo, e mercado invisível ou processos aleatórios atuando
sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica
de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de
produção, e dos conflitos de classe que dela emergem.
A ciência geográfica tem como responsabilidade estudar e tentar explicar os
fenômenos criminosos e as violências causadas pelos agentes envolvidos na produção do
espaço urbano, onde muitas das vezes são atos praticados por uma parcela da população onde
não tiveram seus direitos ao mínimo respeitado e sequer tem o direito de viver na cidade de
forma digna Lefebvre. (2001).
Continuando a discussão sobre a violência, acerca dessa relação entre geografia e
criminalidade, a temática da violência e criminalidade tem ganhado a atenção da geografia em
função das abordagens que consideram as manifestações espaciais do crime e dos espaços
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diferenciados que surgem a partir da violência, sobre a importância da geografia na
compreensão desses estudos a autora ainda enfatiza que:
A análise geográfica pode levar a interessantes e relevantes hipóteses da
espacialização da criminalidade, já que além da lei, do ofensor e do alvo, a
localização das ofensas é uma importante dimensão que caracteriza o evento
criminal (...). Se a dinâmica criminal pode ser um dos fatores de transformação e
reorganização espacial (o crime transforma o espaço e seus significados) e a ciência
geográfica tem potencial para colaborar no planejamento urbano metropolitano,
deve-se inserir em suas análises a dimensão da criminalidade. (FÉLIX, 2002, p. 78).
A criminalidade contemporânea mobiliza a sociedade e as autoridades públicas e
privadas em todo o Brasil. A violência e a criminalidade geram, além dos prejuízos materiais
e financeiros, prejuízos psicológicos a sociedade. Por esse problema, a sociedade é obrigada a
mudar seus hábitos para viver com o medo e a insegurança, diminuindo assim, a qualidade de
vida da população. É um fenômeno que afeta todas as classes da sociedade, seja pelo medo da
insegurança ou pela abordagem de algum indivíduo em uma rua a qualquer momento.
No Brasil, as grandes metrópoles sofrem com essa preocupação, no entanto, as cidades
médias também vêm apresentando significativos níveis de criminalidade em seu território. O
grande interesse por estudar a violência e criminalidade é justificado pelos desenfreados casos
de ocorrências que têm abalado a qualidade de vida dos cidadãos.
Um dos fatores de transformações do espaço urbano é representado pela dinâmica da
violência criminal nas cidades. As classes burguesas em busca de um conforto e segurança,
buscam moradias mais seguras, muitas vezes em condomínios fechados, tendo uma ideia de
“segurança”. Nesse contexto, Chagas (2014, p. 18) afirma que:
O aumento demasiado da violência nos últimos tempos, possibilitou o surgimento da
ideia de que nos espaços pobres e periféricos a violência aparece de forma mais
intensa, quando comparada aos espaços elitizados, porém o que acontece é que a
violência se apresenta em determinados lugares de acordo com a espacialidade e as
peculiaridades dos mesmos, o que depende da relação do homem e da
territorialidade nos espaços.
Dessa forma, os agentes imobiliários de certo modo, usam a problemática da
violência, criminalidade e do medo, para conseguir convencer as pessoas em comprar seus
imóveis que são representados em condomínios fechados. Esses agentes usam informações
que muitas das vezes não são verídicas.
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Taback (1979, p.68 apud BODIN, 2010, p. 55), analisa o processo de violência e
criminalidade com a urbanização no Brasil, afirmando que:
A relação existente entre expansão urbana e criminalidade tem sido destacada por
diferentes especialistas, e são numerosas as pesquisas empíricas levadas a cabo
nestas últimas décadas, com o objetivo principal de analisar a influência que as
condições de vida urbana podem exercer sobre os indivíduos. Existe um consenso
generalizado de que o aumento do número de habitantes numa determinada área
introduz modificações sensíveis nas relações que se estabelecem entre as pessoas e
no próprio caráter da comunidade. Além disse, o aumento da densidade
populacional reforça ainda mais o efeito anterior, pois contribui para diversificar as
atividades desenvolvidas, o que torna as cidades mais complexas.
É fato que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Analisamos e
comprovamos isso quando consultamos o mapa da violência 2015. Na tabela abaixo vemos o
Brasil com uma taxa de homicídios de 21,9 por arma de fogo por cada 100 mil habitantes.
Isso significa que no ano de 2012 o país teve um total de 40.077 mortes por homicídios. Com
esses dados o país ocupa a posição 11º no ranking de 90 países analisados.
Tabela 01 - Números de Óbitos por Arma de Fogo
País
Ano Homicídios por AF
2009
Venezuela
2010
Ilhas Virgens EUA
2011
El Salvador
2008
Trinidad e Tobago
2012
Guatemala
2011
Colômbia
2008
Iraque
2010
Bahamas
2010
Belize
2010
Puerto Rico
2012
BRASIL
2011
Panamá
2012
México
2010
Ilhas Cayman
2012
Santa Lúcia
2012
São Vicente e Gran.
Estados Unidos da A. 2010
2010
Uruguai
2010
República
Dominicana
2010
Bermudas
Fonte: Mapa da Violência (2015)
8.563
48
2.765
448
3.182
13.093
1.772
76
74
869
40.077
596
15.936
7
20
11
11.169
85
630
6
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O tipo de violência que mais incomoda a sociedade brasileira é a prática por bandidos
como roubos, furtos e homicídios. É assustador o número de homicídios, responsáveis por
ceifar a vida de mais de 40 mil pessoas por ano. Os dados apontam que a grande maioria das
vítimas são jovens, na faixa etária entre 14 e 25 anos, negros, do sexo masculino e moradores
em áreas que apresentam indicadores de grande vulnerabilidade social.
A violência se especializa difundindo o medo e a insegurança entre as pessoas
afetando as relações de convívio. Entre os jovens e contra eles, a violência está se ampliando
cada vez mais, mostrando múltiplas faces que se concretizam desde o aliciamento para o
tráfico de drogas até a manutenção das redes de exploração sexual. E, embora não possamos
responsabilizar totalmente a globalização pela abrangência do fenômeno da violência, não
ignoramos que o aumento das desigualdades sociais, da ampliação da miséria, do sofrimento,
da fome e do desemprego acompanharam este processo. Sobre essa questão Chauí (1985, p.
3), afirma que:
A violência é hoje uma das grandes preocupações em nível mundial, afetando
grupos ou famílias e ainda o indivíduo de forma isolada. Fazendo parte da chamada
questão social, ela revela formas de dominação e opressão desencadeadora de
conflitos. Como um fenômeno complexo, polissêmico e controverso, a violência é
perpetrada por indivíduos contra outros indivíduos, manifestando-se de várias
maneiras, assumindo formas de relações pessoais, sociais, políticas ou culturais.
Para Chauí (1985, p. 3), define a violência de forma multifacetada quando afirma que
a violência é usada quando é utilizado a força de algum ser. Em suas palavras a autora afirma:
Violência significa: tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum
ser (é desnaturar); todo o ato de força, contra a espontaneidade, à vontade e a
liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); todo o ato de
violação da natureza de alguém e de alguma coisa valorizada positivamente por uma
sociedade (é violar); todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade
define como justo e como um direito (...) violência é um ato de brutalidade, servicia
e abuso físico ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e
sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e terror. A violência opõe a
ética porque trata de seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de
liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, mudos e inertes ou passivos.
Embora a compreensão do fenômeno da violência e criminalidade seja difícil,
podemos, diante mão, analisar que as situações que envolvem a violência e a criminalidade
são resultados de todas as ações humanas em uma sociedade muito desigual que se reproduz
no espaço onde vivem.
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4. ESPAÇO E TERRITÓRIO DO PODER
Falar sobre território na ciência geográfica não é uma tarefa muito simples, o conceito
de território é bastante amplo e ao mesmo tempo complexo, esse conceito é intrinsicamente
ligado a outro conceito com uma maior complexidade ainda que é o espaço, porém, é uma
tarefa impossível compreender a sociedade sem observar e analisar seu espaço e território
bem como estudar os comportamentos que seus agentes interagem entre elas.
O conceito de território não é somente estudado pela ciência geográfica, várias outras
ciências utilizam-se esse conceito para fazer uma análise mais detalhada e eficiente. Para os
biólogos o conceito de território serve como recurso para análise do hábitat. Os antropólogos
usam o conceito de território para descrever e limitar o espaço em que transcorrem relações e
interações de determinados grupos sociais. Para os economistas e planejadores utilizam o
conceito de território para entender em que medida a localização espacial de determinado
recurso ou atividade produtiva pode influenciar no seu custo e na formação dos preços
relativos dos produtos. Mas e a ciência geográfica? O conceito de território para a geografia
possui um crescente debate por vários intelectuais, tendo em vista que é de fundamental
importância. Esse conceito serve para se ter o norte de alguns estudos geográficos. E
principalmente como um instrumento de leitura e interpretação de diversos prisma da
realidade.
Em nosso estudo sobre a violência e criminalidade utilizaremos o conceito de território
para definir as relações de poder. Dessa forma, o Professor Marcelo Lopes de Souza (2003)
enfatiza que o território é um espaço definido e delimitado por e a partir das relações de
poder, desta maneira o território seria as relações de poder que se dão em um determinado
espaço. Em outra afirmação Haesbaert (2004) enfatiza que o território é o produto das
relações que desiguais de forças, as quais envolvem o domínio ou o controle do espaço
político-econômico e sua apropriação simbólica, sendo ele conjugado e reforçado entre forças
mútuas, ou desconectados, porém, contraditoriamente articulados.
Assim como as outras ciências, a geografia estuda a sociedade de um modo particular,
pois ela analisa a sociedade com suas categorias de análises que são: espaço, paisagem, lugar,
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região e território como já citado anteriormente. Por isso, alguns pesquisadores entendem que
o território é tema central da compreensão geográfica.
Mas, é impossível falar sobre a questão do território antes de entender o espaço em
que ele está inserido, por isso Raffestin (1993), enfatiza que o espaço antecede ao território. É
a partir do espaço que o território é produzido, ou seja, o espaço se transforma em território à
medida que ocorre a apropriação material ou simbólica do espaço pelos sujeitos que estão
nele inseridos. Este processo pode ser denominado de territorialização do espaço. Assim ele
enfatiza que: É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território
se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático
(ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço.
Tendo uma noção da complexidade dessas categorias de análise geográfica: espaço e
território, compreendemos que em um texto cuja intensão é a compreensão do conceito de
espaço e território é, antes de tudo, uma tarefa bastante complexa e difícil, principalmente
quando é preciso trabalhar com grandes intelectuais de concepções condicionadas e
construídas em lugares diferentes.
5. O TERRITÓRIO DA VIOLÊNCIA
A violência é uma ação humana que sempre foi percebida em todas as sociedades que
se tem conhecimento e em todas as épocas que se têm registros da história como forma de
resolver conflitos entre pessoas, famílias, comunidades, grupos e os países. Mas atualmente se
convive com as formas tradicionais de violência, conhecidas durante a evolução da história
humana, e as novas formas, que ainda provocam surpresa entre o consciente coletivo da
sociedade, num tom de perplexidade.
É comum o entendimento em que a violência é composta pelas ações de natureza
criminal, tais como roubos, vandalismo, desrespeito a ordem natural do meio social e
homicídios, que seria o caso mais grave de ação criminal. Entretanto, os atos que ferem os
direitos humanos, como os de natureza sexual, maus-tratos, discriminação de gênero e de raça
vêm se somando aos conhecidos padrões históricos de violência, englobando não apenas a
agressão física, mas também situações de humilhação, exclusão, ameaças Waiselfisz (2000).
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E esse episódio na história da sociedade dos homens tem ganhado notoriedade nos espaços de
maior concentração de pessoas, as grandes cidades e os grandes centros urbanos.
Tema de grande complexidade e inúmeras facetas, a violência urbana abrange uma
multiplicidade de fatores. Há muito excedeu o âmbito policial e se coloca para a sociedade o
desafio de compreender suas motivações e sua linguagem. É certo que sua abrangência e
complexidade atingem todos os níveis da sociedade, tanto no que diz respeito às classes
sociais como fatores espaciais.
A importância da pauta “violência” não se resume a uma questão quantitativa pelo
número de sujeitos atingidos, mas na abrangência e complexidade do fenômeno em questão,
que na atualidade, é o que mais preocupa. É a nova faceta da criminalidade ligada ao crime
organizado que gera insegurança nos cidadãos, interfere na organização do território e se
torna um poder paralelo ao do Estado, que ocorre em detrimento a ausência ou a
incompetência deste.
O desafio coletivo em encontrar soluções para um dos problemas que mais aflige os
cidadãos e absorve as atenções dos políticos e administradores comprometidos com o bem
comum das cidades requer um esforço de entendimento, que direcione os rumos para uma
prática eficiente de combate e prevenção. Para tanto, faz-se necessário atentar para os
diferentes aspectos da complexidade da violência, confrontando as diversas abordagens e
assimilando novos olhares sobre o atual cenário no intuito de adquirir uma concepção
holística da problemática. É nesse sentido que se coloca a presente contribuição - este trabalho
de pesquisa - à discussão da problemática, mostrando como a violência, tratada sob diferentes
enfoques, se instala no território e o papel do espaço urbano no processo de produção e
reprodução desse fenômeno.
O trabalho enfoca a violência a partir do ponto de vista geográfico, ou seja, a
territorialização: a formação do território da violência, o reduto de poder do crime organizado,
seu exército formado pela população excluída que se liga à rede da droga e da contravenção e
o que mais compõe os artefatos desse cenário da depredação social, implantação do caos. Para
Raffestin (1993, p. 160) a territorialidade é mais que uma simples relação entre homem e
território, argumentando que para além da demarcação de parcelas individuais existe a relação
social entre os homens. Dessa forma, a territorializaçao seria: “um conjunto de relações que se
originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior
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autonomia possível, compatível com os recursos do sistema". Considerando-se a dinâmica dos
fatores envolvidos na relação, seria possível a classificação de vários tipos de territorialidade,
desde as mais estáveis às mais instáveis.
Embora a violência cotidiana nem sempre termine em morte, esta revela a violência na
sua faceta mais grave. Os homicídios são a parte visível de uma realidade complexa, espelho
de uma sociedade em crise com seus entes em suas relações. Por outro lado, o dado de
mortalidade por homicídio a partir de óbitos registrados é mais fácil de se obter e passível de
comparação. Ainda quanto a violência, pode-se olhar a problemática do ponto de vista do
sistema econômico e não somente do social como se costumam discutir. Pois o espaço urbano
é produzido pelos agentes sociais de forma excludente, desigual e injusta, coerente com a
lógica capitalista que comanda o desenvolvimento das nossas cidades. As cidades são
“produto, meio e condição” das lutas e conflitos sociais e espaciais que se formam ao longo
da história. (CARLOS, 1994, p. 84). Assim, no espaço urbano estão, de um lado, os espaços
elitizados das classes dominantes e do outro, os espaços periféricos das classes populares e as
excluídas. Entre eles forma-se no tecido urbano o espaço da classe média. Esse processo
origina um tecido urbano fragmentado, segmentado e contraditório, porém, extremamente
articulado.
Os espaços elitizados das classes dominantes caracterizam-se pelo consumo de bens e
de infraestruturas com alto padrão de qualidade e de técnica, financiados pelos governos. Nos
espaços periféricos predomina a cultura da pobreza e sua dinâmica para reduzir os efeitos
devastadores do desemprego e das necessidades habitacionais imediatas. Sem opção no
mercado imobiliário, com pouco ou nenhum financiamento público ou privado, predomina a
informalidade e a autoconstrução, que não atende às exigências mínimas de uma habitação
digna de se morar o cidadão de bem, que segundo a Constituição Federal de 1988, possui o
direito à moradia digna. Mais uma prova do descaso do Estado para essa parcela da sociedade.
Pode-se dizer que são os espaços-conteúdos da cultura da subsistência. Com isso, criam-se,
dentro do tecido urbano, espaços desvalorizados, onde a ausência do Estado e das instituições
públicas faz com que sejam abandonados pela lei e onde o contrato social é rompido. São
esses locais que abrigam a população excluída socialmente e espacialmente marginalizada,
redutos de todas as formas de violência, desde a discriminação ao homicídio.
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O processo de urbanização sem planejamento e sem justiça social, coloca a distância
social entre os indivíduos a uma pequena distância territorial. A proximidade física no
território confronta as diferenças sociais em termos de direitos do indivíduo. Volta-se à
Constituição de 1988 e lembremo-nos das garantias do Estado a todo cidadão à sobrevivência,
à saúde, ao trabalho, à vida, etc. A segregação do pobre, espacialmente próximo das
condições da vida moderna urbana e socialmente tão longe dela, fruto da periferização, que o
torna duplamente distante, dificulta a mobilidade social. Cria-se uma barreira espacial que
reproduz a pobreza, como um fator a mais. A pobreza segregada fica mais pobre, tornando
mais difícil a mobilidade social e com isso mais vulnerável às ações criminosas. Espaços de
exclusão da lei e da ordem social, abrigo da população segregada, reduto da violência em seus
diferentes aspectos, são apropriados pelas organizações criminosas ou mesmo ilegais que os
faz seus espaços de poder.
A violência chegou ao ponto de adquirir uma arquitetura elaborada e complexa, não
por articulação dos entes sociais que colaboram para ela, mas por ser amplo o seu alcance e
regular suas causas e efeitos, pelos tipos de violência e notoriedade de suas vítimas. A
violência adquiriu um corpo, digamos assim. Ou seja, a violência estrutural desses territórios
vem-se articular a violência organizada do crime na atualidade. Cria-se, assim, o território da
violência, porções do espaço urbano apropriadas pelas organizações criminosas que exercem
seu poder sobre eles transformando-os em redutos de poder do crime organizado que daí
comanda sua atuação na cidade, enfrenta o Estado e manobra o seu exército formado pela
população excluída que habita esses locais. O bom senso, a moralidade e o senso de justiça
são alterados em detrimento aos ideais dos líderes desses guetos. A forma de contemplar o
mundo e as pessoas é guiada por um tom de ameaça da perda de domínio do território.
A autoridade pública ao se omitir das obrigações elementares “entrega as ruas e as
favelas ao império da violência e da lei do mais forte”. (ABRANCHES, 1994, p. 128). As
comunidades faveladas e mais pobres são facilmente dominadas pelos grupos criminosos que
nelas se instalam porque elas são mais vulneráveis e não têm qualquer capacidade de
resistência. Não conseguem segurança pública suficiente para garantir ao cidadão desses
locais uma sensação de tranquilidade, de paz. Os “governos locais” (os chefes do crime
organizado) exploram as carências sociais e materiais da comunidade a seu favor,
fundamentalmente pela ação armada. Esses espaços tornados territórios da violência são parte
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ativa no desenvolvimento do poder constituído pelo crime organizado e pela violência a ele
atrelada. E, dessa forma, realimentam os processos sociais responsáveis pela violência urbana.
O pobre é o indivíduo da sociedade pós-moderna que mais é violentado vivendo nas
favelas e periferias. A desigualdade social tem sido e é a raiz desse cenário de angústia. São
esses locais abandonados pela lei e à margem dos requisitos da urbanização moderna que
abrigam a população excluída socialmente e espacialmente periferizada. Essa população adere
ao crime organizado como resposta radical à violência que lhe foi imposta pelo sistema legal.
Assim, nas cidades definidas como o lugar essencial da pobreza e das desigualdades sociais
crônicas, a violência é um dos seus aspectos mais visíveis. Juntos esses elementos compõem
as manifestações das formas sociais produzidas nos últimos anos, e que emergem como a
dinâmica mais contundente da relação sociedade-espaço.
A territorialização da violência implica em realimentar a violência pela via da inércia
espacial e pelo papel do espaço no processo social. Não basta, então, retirar uma favela de um
local, desmontar um território, porque a mesma forma espacial vai aparecer em outro lugar,
desde que os processos que lhe deram origem persistam.
Para Abranches (1994), as raízes da violência urbana possuem uma matriz
multifatorial que abrange duas dimensões diferentes: primeiro a social e a segunda moral.
Essas dimensões se manifestam no macro e no microambiente social e espacial. No plano
macro ambiente vê-se a caracterização pela institucionalidade vigente, pela ordem pública
constituída, onde se realiza os processos gerais da urbanização brasileira. O microambiente é
visto pela estrutura da convivência nas comunidades locais, e se realiza produzindo e
consumindo um determinado espaço. No microambiente sócio espacial se articulam as
condições locais favoráveis à apropriação desses espaços pelas quadrilhas criminosas. Tem-se
então a formação do território da violência, “quando sua institucionalidade, isto é, as regras e
normas de convivência definidas pela comunidade, são distorcidas, por inúmeras razões, a
ponto de eliminar a barreira moral e legal entre pessoas honestas e bandido; ela se torna uma
fonte independente de reprodução das condições sociais e pessoais para a droga, a violência e
o crime”. (ABRANCHES, 1994, p. 130).
As teorias da crescente pobreza da população e da recessão econômica, por si mesmas,
não são suficientes para explicar causas e determinantes da escalada da violência e da
criminalidade nas cidades brasileiras. O que é importante salientar é que, nesse contexto de
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desorganização sócio espacial do crescimento urbano, existe uma interação de processos,
sejam econômicos, sociais, espaciais, institucionais, políticos e culturais, que contém e estão
contidos no cotidiano da vida urbana, que somente pode se realizar produzindo e consumindo
um espaço. Nesses territórios, assim constituídos, grupos criminosos – de menor ou maior
organização e armamentos – apropriam-se desse espaço, se instalam, dominam a população e
o local, e ali se fortalecem para desenvolver suas ações. A criminalidade se impõe porque
esses grupos criminosos submetem a comunidade a toda espécie de usos e abusos,
aterrorizando a população, principalmente os jovens. Nesse contexto ainda não se pode
esquecer a ação de grupos de policiais corruptos, envolvidos na extorsão dos lucros obtidos
com a atividade criminosa, tráfico de drogas, sequestros, assaltos, receptação de objetos
roubados. Portanto, é o conjunto de carências sociais e morais que criam, nas cidades,
territórios propícios ao surgimento de “padrões inconformistas de comportamento, de
manifestações violentas de insatisfação e de transgressões criminosas”. (ABRANCHES,
1994, p.134), que estão indissoluvelmente articulados às carências materiais da urbanização
excludente.
Um estudo crítico da criminalidade e da violência não pode se ater à análise de
variáveis, investigando causas e consequências, sem questionar a que novos fatos levaria o
quadro atual da violência urbana, ou que novos processos teriam origem na deterioração
crescente das condições de existência social e material das populações urbanas. Em seus
estudos sobre a urbanização brasileira. (SANTOS, 1993, p. 10). Chama a atenção para o
caráter excludente da nossa urbanização que produziu a cidade, especialmente a grande
cidade, como polo de pobreza.
A cidade em si, como relação social e como materialidade, torna-se criadora de
pobreza, tanto pelo modelo socioeconômico de que é o suporte como por sua estrutura física,
que faz dos habitantes das periferias (e dos cortiços) pessoas ainda mais pobres. A pobreza
não é apenas o fato do modelo socioeconômico vigente, mas, também, do modelo espacial
Olhar para esse cenário e buscar compreender os problemas urbanos, com tantas
necessidades recorrentes e outras nem tanto, porém não menos graves, leva a parar um
instante e refletir no momento atual afim de dissecar o contexto da realidade mergulhada no
caos “organizado” da criminalidade e da violência. Ou seja, faz-nos entrar em um momento
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de busca por uma profunda análise dos processos formadores da urbanização, em seus
diversos contextos históricos, políticos e culturais.
Esse entendimento mais amplo deve incluir a análise das diversas modalidades do uso
do território para identificar as especificidades do fenômeno da violência e, a partir daí,
mensurar sua problemática.
A violência urbana, entendida como um processo amplo, que vai além da
criminalidade, “surge e se avoluma à medida que as cidades crescem e se tornam mais
complexas, mais dominadas pela multidão e pela anomia”. (ABRANCHES, 1994, p. 125). A
urbanização excludente cria um crescimento anárquico que permite a produção de espaços
onde impera “o mandonismo característico das quadrilhas que tiranizam as periferias urbanas
e as favelas, exercido fundamentalmente pela violência armada e pela intimidação física, sem
qualquer resquício de legitimidade – é intrinsecamente criminoso”. (ABRANCHES, 1994, p.
127). A ordem espacial assim resultante é a da urbanização perversa, da cidade excludente, na
qual essa ordem espacial está sendo permanentemente recriada, no sentido de sua própria
reprodução, realimentando a violência e a criminalidade, pela territorialização das mesmas.
A luta pelo uso do espaço da cidade coloca a questão da criminalidade e da violência
como um problema coletivo, uma situação que, no mínimo, precisa ser regulada e controlada.
Por isso começa a ser pensada como forma de obter uma resposta integrada, na qual se
articulam os diversos segmentos sociais, públicos e privados.
6. A ESPACIALIZAÇÃO DA CRIMINALIDADE NO JADERLÂNDIA (2011-2014)
Como apresentado acima, o objetivo desse trabalho tem como o foco a espacialização
da criminalidade do bairro Jaderlândia como: Tráfico de drogas, Roubos, Arma de fogo
Apreendida e Homicídios nos anos de 2011 a 2014.
Esse bairro nos últimos quatros anos tem sido palco de diversos acontecimentos que
deixam a população ainda mais temerosa ao frequentarem esse lugar. Sobre a questão da
violência. (CHAGAS, 2014, p.4) afirma que:
O aumento demasiado da violência nos últimos tempos, possibilitou surgimento da
ideia de que nos espaços pobres e periféricos a violência aparece de forma mais
intensa, quando comparada aos espaços elitizados, porém o que acontece é que a
violência se apresenta em determinados lugares de acordo com a espacialidade e as
peculiaridades dos mesmos, o que depende da relação do homem e da
territorialidade nos espaços. Geralmente, nestes espaços elitizados, dependendo do
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tipo, a violência aparece de fora para dentro, oriunda da periferia, onde o indivíduo é
facilmente influenciado e excluído socialmente e acaba levando a violência para
outros lugares (lugares elitizados), ou seja, as organizações criminosas tomam o
poder nos espaços periféricos e o indivíduo passa a cometer delitos também nos
espaços elitizados com os indivíduos recrutados nas periferias pobres, difundindo
para toda a cidade, principalmente para os espaços elitizados, onde existem as
maiores atratividades.
Assim, é possível compreender que um lugar onde há uma baixa estrutura seja ela
familiar econômica ou até mesmo do Estado, possibilita que os locais mais afastados do
centro da cidade como o caso do Jaderlândia se tornem lugares mais propícios a criminalidade
e violência.
É importante ressaltar que o bairro Jaderlândia possui vários outras “invasões”, ou
seja, ocupações espontâneas, isso significa que essas invasões são mais propícias à
criminalidade do que as áreas devidamente registradas.
Nesses locais que são mais propícios a práticas ilícitas, daremos ênfase primeiramente
ao crime de Tráfico de drogas. É impressionante o quanto a polícia consegue apreender
diariamente vários indivíduos pelo crime dessa natureza. O tráfico e o consumo de drogas são
ações criminais que podem influenciar em outros tipos de crimes como, por exemplo, roubos
e furtos. Na tabela abaixo, veremos a evolução do crime dessa natureza se especializando
nesse bairro. É válido ressaltar que os dados apresentados são apenas das ocorrências
registradas na delegacia, ou seja, sabemos que existem muitos outros locais que ainda não
foram descobertos por uma investigação.
Tabela 02 - Tráfico de drogas no Jaderlândia (2011-2014)
ANO
2011
45
2012
112
2013
126
2014
168
Fonte: Segup (2014)
De acordo com as informações contidas na tabela, podemos concluir que o ano de
2014 teve um aumento de 123 ocorrências de tráfico de drogas comparado ao ano de 2011,
isso significa que houve um aumento percentual de 273,3% de ocorrências neste período. É
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perceptível a evolução do tráfico de entorpecentes nesse Bairro. Os tipos de drogas que são
mais apreendidas são: Cocaína pura e pasta base, maconha, limãozinho, OXI e pedra.
Sobre as causas que levam uma pessoa a se envolver com o tráfico de drogas,
Fernandez e Maldonado (1999 apud MELARA, 2008, p.54) afirmam que uma dessas razões
pode ter origem individual ou psíquica, como é o caso do sentimento de ambição, o ganho
fácil, a inveja, entre outras causas de cunho social seriam de natureza conjuntural/estrutural,
ligadas a fatores como pobreza, desemprego e ignorância.
Esse comércio ilegal tem crescido vertiginosamente. No Jaderlândia esse comércio
funciona de uma forma extremamente organizada, são subdivididos os horários do dia inteiro.
Segundo o dono do “ponto de tráfico” entrevistado, cada vendedor tem seu horário especifico,
fazendo jus a expressão “crime organizado”.
Eles possuem um acordo entre eles, caso a polícia consiga apreender algum deles
revendendo, em hipótese alguma eles poderão falar quem é o dono dos entorpecentes, caso
contrário, poderá pagar com a vida. Por noite cada “vendedor” ganha equivalente a R$ 700,00
reais. Mas por mais que seja um valor equivalentemente alto comparado o salário mínimo de
um trabalhador, o local e a vida dessas pessoas que revendem, são de uma precariedade
imensa. No mapa abaixo, enfatiza os principais pontos de entorpecentes apreendidos pela
polícia no bairro entre os anos de 2011 a 2014.
Figura 1 - Tráfico de drogas no Jaderlândia
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Fonte: Segup (2014)
Outro problema que esse bairro sofre é a questão dos roubos. Segundo a polícia
militar, é quase que impossível um final de semana que não haja ocorrência de roubo. A
maioria dos roubos é causada pela faixa etária de 13 aos 24 anos. Sobre esse assunto.
(BEATO, 2015, p.78), afirma que:
Isto pode estar acontecendo devido aos fatores “exposição”, “menor capacidade de
proteção” e “proximidade entre vítima e agressor”. Indivíduos mais jovens em sua
maioria são solteiros, frequentam mais lugares públicos sem se preocupar muito com
sua própria proteção. A proporção de agredidos na amostra vai diminuindo à medida
que consideramos as faixas etárias mais elevadas, o que pode estar indicando a
relação desse tipo de crime com o fator exposição.
Veremos a evolução do índice de roubo na tabela a seguir.
Tabela 03 - Roubos no Jaderlândia
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ANO
2011
2012
2013
2014
Fonte: Segup (2014)
194
288
251
348
Os roubos no bairro têm crescido de maneira progressiva. Em 2014 foram registrados
348 casos de roubos, 97 a mais que o ano de 2013. Isso significa que houve um aumento de
38%, e em relação a 2011, 79% de casos registrados. Nos dados que nos foram cedidos, não
estava esclarecido os tipos de roubos especificamente. Segundo o artigo 157 do código penal
brasileiro: “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de
resistência: pena – reclusão, de 04 (quatro) a 10 (dez) anos e multa”.
No bairro do Jaderlândia os roubos do tipo a transeunte, aquele que se enquadra como
crime que não deixa vestígios, não sendo possível identificar o autor da infração. Pois durante
o crime não existe testemunhas e provas para que seja indicado um suspeito, para ser
enquadrado no artigo 157.
O crime nesse bairro está se manifestando também em relação às armas de fogo. São
inúmeras armas de fogo apreendidas, a maioria dessas armas apreendidas está sob o poder de
um adolescente com a idade menor que 18 anos. Na tabela abaixo podemos perceber essa
evolução do porte ilegal de armas de fogo.
Tabela 04 - Arma de fogo aprendido (2011-2014)
ANO
2011
2012
2013
2014
Fonte: Segup (2014)
15
27
14
39
Na tabela acima, podemos perceber que houve um aumento de 160% das armas
apreendidas pela polícia no ano de 2014 em relação a 2011, quando houve apenas 15 armas
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apreendidas. Sobre essa questão, Beato (2015), afirma que uma pessoa que está armado tem
maiores chances de ser roubado e esse roubo pode se tornar um latrocínio.
A apreensão de uma arma de fogo é uma vitória para a sociedade, pois terá menos uma
arma circulando nas ruas. Mas para quem empresta a arma é uma perda enorme. Em uma
conversa sobre esse assunto com uma pessoa que perdeu a arma para a polícia, ela nos
relatava que funciona assim: “O dono da arma dificilmente sai da casa dele, ele empresta a
arma para alguém, e essa pessoa só divide o roubo, e assim ele não precisa ficar saindo de sua
casa. Mas quando a polícia apreende essa arma, se o indivíduo que foi preso for condenado
por porte ilegal de arma de fogo, quem vai pagar a arma apreendida é a família do acusado.”
Ou seja, não existe negociação, uma arma vale muito para esses indivíduos que dependem
dela.
Outra questão que está sendo muito discutida com as autoridades de segurança pública
e sociedade é a questão dos homicídios. Segundo pesquisas de Segurança Pública, Castanhal
está entre as 10 cidades que mais têm homicídio no Pará, e a grande parte desses homicídios
está no bairro do Jaderlândia. São inúmeras as causas dos homicídios nesse bairro, mas muitas
dessas podem estar relacionadas ao tráfico de drogas. Na tabela abaixo poderemos ver a
evolução dos homicídios nesse bairro.
Tabela 05 - Taxa homicídios no bairro (2011-2014)
ANO
2011
67
2012
30
2013
25
2014
28
Fonte: Segup (2014)
Se compararmos as ocorrências em 2014 em relação ao ano de 2011 podemos chegar a
uma conclusão que realmente houve uma diminuição de mais de 58,2%. Mas, se comparar o
mesmo ano em relação ao ano de 2013 podemos afirmar que houve um aumento de mais de
12%. É um fato que a sociedade está diante de um problema que é muito maior do que
construir uma cadeia para solucionar os problemas ou colocar mais policiais nas ruas. Claudio
Beato (2015) analisa a problemática típica do bairro Jaderlândia como “problema de natureza
institucional”. Segundo este autor, os fatores estruturais como aspectos sociais e econômicos,
influenciam antecedentes e, fatores organizacionais não funcionam como deveriam.
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Fabiane Noleto da SILVA; Clay Anderson Nunes CHAGAS
CONSIDERAÇÕES
Na sociedade atual, acompanhamos um surto de crimes e violências em todas as
classes e setores. A violência se manifesta de todas as formas, no entanto, percebemos que os
locais onde há uma baixa infraestrutura estatal, há uma maior possibilidade para que as
ocorrências de criminalidade aconteçam de forma mais intensa, e assim, a sociedade vai se
moldando aos diversos crimes, haja vista que as políticas públicas não parecem surtir efeitos
desejados pela sociedade que constantemente sofre com o medo.
A cidade de Castanhal dentro desse contexto se insere como um polo, ou seja, por ela
ser o centro ou o nó como Raffestin (1993) analisa, essa cidade recebe diariamente pessoas de
todos os lugares da zona bragantina, em busca de uma condição financeira melhor. Sua
economia é bastante alta em relação às demais cidades. No entanto, esses aglomerados de
pessoas, se tornam ao mesmo tempo um aglomerado de exclusão, pois as pessoas oriundas de
outras localidades passam a se mudar para Castanhal se alojando nas periferias.
Em uma dessas periferias se localiza o bairro Jaderlândia, nesse local, os moradores,
sofrem estigma de serem os mais violentos, essa marca que esse bairro carrega tem a ver com
o abandono por parte do Estado e na utilização do território por parte de grupos interessados
no lucro ilícito.
Novamente, ressaltamos que lugares mais pobres, não é um fator determinante para
que as pessoas que moram ali sejam criminosos, nesses locais existem milhares de pessoas
que trabalham todos os dias e conseguem seu dinheiro digno sem ter relação alguma com o
crime. Porém, esses lugares podem influenciar a criminalidade, haja vista que, o poder do
Estado é mínimo ou quase inexistente.
O que podemos perceber nas assembleias extraordinárias que os secretários e entes de
segurança pública propõem mais policia nas ruas e mais presídios para determinado lugar.
Mas o incrível é que em uma pesquisa feita em belo horizonte no ano de 2007, mostra que um
presidiário custa 11 vezes a mais que um estudante de nível superior. Os custos anuais com os
presidiários ultrapassam os bilhões de reais. Então sabemos que essa não é uma opção
inteligente, entendemos que uma educação de qualidade, onde tem professores que possam
ser inspirações a ser seguido, com certeza, isso irá gerar cidadãos críticos e com ética na
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sociedade, que não precisaram pegar em uma arma para subtrair alguma coisa de alguém.
Todavia, uma educação onde os próprios mentores são descriminados pelo Estado, onde há
falta de respeito com o profissional, dificilmente será um modelo a ser seguido pelas
gerações. Tendo como oportunidade o dinheiro fácil pela venda de drogas e pelo roubo
usando a força da violência.
Em relação aos homicídios, em uma pesquisa publicada pelo IPEA (Instituto de
Planejamento Econômico e Social), afirma que uma pessoa na sua vida produtiva pode
produzir equivalente a R$ 400 mil reais ao Estado, isso significa que se uma pessoa morre, o
Estado terá esse valor a menos. Ou seja, a geografia tem como objetivo através de suas
categorias de estudo combater esses tipos de crime. Pois os espaços onde a violência é
produzida faz parte do território, e ambos são objetos de estudos da ciência geográfica.
Daí a importância de nós como geógrafos, entender as causas das criminalidades nos
lugares, como o caso do Jaderlândia, para que geografia possa ser usada de maneira correta
para os estudos e para devidas soluções sobre esse problema que muitas outras ciências
apenas subjugam apenas como um fenômeno da sociedade.
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