O sistema imunológico é a chave para a cura do câncer?

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Fonte: veja.abril.com.br | Data: 26.10.2016 | Jornalista: Giulia Vidale | Ir para o site
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O sistema imunológico é a chave para a cura do câncer?
Há alguns anos, os imunoterápicos, medicamentos que utilizam o próprio sistema imunológico do paciente para
combater o câncer, têm sido os grandes protagonistas dos congressos médicos sobre o assunto e a grande
aposta de médicos e pesquisadores. Essa semana, houve outra grande vitória no avanço de tratamentos
contra a doença.
Na segunda-feira, a Food and Drug Administration (FDA), agência americana que regula fármacos, aprovou
uma nova droga para o tratamento de câncer de pulmão. Trata-se do pembrolizumabe, medicamento indicado
como primeira linha de tratamento para pacientes com tumores pulmonares em estágio de metástase.
A aprovação é importante pois essa é a primeira vez que um fármaco imunoterápico é indicado como primeiro
tratamento para pacientes com esse diagnóstico, em vez da tradicional quimioterapia. A FDA também expandiu
a aprovação para o tratamento de pessoas com a doença que tenham realizado quimioterapia.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que entre 2016 e 2017 haverá 28.190 novos
casos de câncer de pulmão no país. Um estudo conduzido pela Sociedade Americana do Câncer em parceria
com a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), aponta que o câncer de pulmão é a principal
causa de morte pela doença entre homens e mulheres em países desenvolvidos.
Segundo uma matéria publicada em VEJA dessa semana, o medicamento é uma esperança para os pacientes
diagnosticados com o letal câncer de pulmão. Dos 30 000 brasileiros que recebem o diagnóstico a cada ano,
apenas 6 000 sobreviverão à doença em cinco anos. Estudos com pembrolizumabe mostraram que o composto
reduziu pela metade o risco de progressão da doença e em 40% o risco de morte.
"São resultados que representam uma quebra de paradigma", diz o oncologista Artur Katz, chefe do serviço de
oncologia clínica do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
O medicamento age bloqueando a PD-1, proteína presente nas células de defesa do corpo humano, os
linfócitos T, mas que, em pessoas com câncer, permite que o tumor se esconda do sistema imunológico. Ao
bloquear a PD-1, o medicamento faz com que os linfócitos-T ataquem o câncer.
Para Philip Greenberg, chefe de imunologia do Centro de Pesquisa de Câncer Fred Hutchinson em Seattle, nos
Estados Unidos, a imunoterapia já é o quarto pilar do tratamento anticâncer, ao lado da radioterapia,
quimioterapia e cirurgia, segundo informações da rede americana CNN. "Há momentos em que ela será usada
sozinha, e haverá momentos em que será usada em conjunto com outras terapias, mas há muito pouco a
questionar que esta vai ser uma parte importante do tratamento do câncer daqui para frente.", disse Greenberg.
Surgimento da imunoterapia
No verão de 1890, a jovem de 17 anos Elizabeth Dashiell, carinhosamente chamada de "Bessie", prendeu sua
mão entre dois assentos de um trem e mais tarde notou um nódulo doloroso na área que ficou presa, de acordo
com o Instituto de Pesquisa do Câncer dos Estados Unidos. As informações são da rede americana CNN.
Em Nova York, ela procurou o médico William Coley, com 28 anos na época, para tratar a lesão. Após a
realização de uma biópsia, em vez encontrar pus na massa colhida, como esperado, ele encontrou uma
pequena massa cinzenta no osso. Era um tumor maligno conhecido como sarcoma.
Para tratar o câncer, Elizabeth teve seu braço amputado. Mas, mesmo com a medida, a doença se espalhou
rapidamente para o resto do seu corpo e ela faleceu em janeiro de 1891. Coley ficou devastado e dedicou sua
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carreira à investigação do câncer. Hoje, o médico é conhecido como "pai da imunoterapia do câncer", de
acordo com o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, nos Estados Unidos.
Durante sua carreira, Coley percebeu que infecções em pacientes com câncer foram associadas com a
regressão da doença. A surpreendente descoberta o levou a especular se produzir intencionalmente uma
infecção em um paciente poderia ajudar a tratar o câncer. Para testar a ideia, ele criou uma mistura de
bactérias e usou esse 'coquetel' para criar infecções em pacientes com câncer em 1893.
As bactérias, às vezes, estimulam o sistema imunológico de um paciente para atacar não só a infecção, mas
também qualquer outra coisa estranha ao corpo, incluindo um tumor. Em um caso, quando Coley injetou
bactérias estreptocócicas em um paciente com câncer para causar erisipela, uma infecção bacteriana na pele,
o tumor desse paciente desapareceu - presumivelmente porque foi atacado pelo sistema imunológico.
A hipótese levantada por Coley foi estudada por vários pesquisadores na década de 1900, mas não foi
amplamente aceita como uma abordagem de tratamento do câncer, até recentemente. "A imunoterapia passou
por uma espécie de revolução na última década no sentido de que algo que era experimental - e ainda havia
dúvidas sobre o papel que teria no caminho do tratamento do câncer - se tornou algo claramente eficaz ", disse
Greenberg.
Apesar do médico alemão Paul Ehrlich, ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1908, ter
proposto o uso do sistema imunológico na supressão da formação de tumores em uma hipótese chamada
"vigilância imunológica" - uma ideia semelhante à de Coley, foi somente no início dos anos 2000 que a hipótese
tornou-se amplamente aceita.
Uma revisão publicada na revista científica Nature Immunology, em 2002, apoiou a validade da vigilância
imunológica contra o câncer. "A imunoterapia do câncer se refere a tratamentos que usam o seu próprio
sistema imunológico para reconhecer, controlar e espero que, em última análise, curar cânceres", disse Jill
O'Donnell-Tormey, CEO do Instituto de Pesquisa do Câncer, durante uma conferência realizada em setembro
em Nova York, nos Estados Unidos.
A imunoterapia aparece em muitas formas de tratamento - vacinas, terapias de anticorpos e medicamentos que pode ser administradas através de uma injeção, comprimido, cápsula, pomada ou creme tópico e cateter.
Em 2010, a FDA aprovou a primeira vacina para o tratamento do câncer, chamada sipuleucel-T ou Provenge.
Ela estimula uma resposta do sistema imunológico a células de câncer de próstata e foi estudo clínicos
mostraram que ela aumenta a sobrevida de homens com um certo tipo de cancro da próstata em cerca de
quatro meses.
A FDA aprovou também algumas terapias com anticorpos. Os anticorpos são uma proteína do sangue que
desempenham um papel chave no sistema imunológico do paciente e podem ser produzidos em laboratório
para ajudar esse sistema a combater as células cancerosas,
Outro tipo de terapia aprovada são os chamados inibidores de checkpoint, que bloqueiam alguns dos danos
que as células cancerosas podem causar e enfraquecer o sistema imunológico. O Keytruda, nome comercial do
pembrolizumabe, fabricado pelo laboratório americano MSD, é uma dessas drogas. Além dela, também já
estão aprovadas o nivolumabe, fabricado pela Bristol-Myers Squibb com o nome de Opdivo, para tratar linfoma
Hodgkin, melanoma avançado, uma forma de câncer renal e câncer de pulmão avançado; Tecentriq para o
tratamento de câncer da bexiga e Yervoy para melanoma em estágio avançado. Muitos outros medicamentos,
com essas e outras formas de atuação já estão em desenvolvimento.
Desafios da imunoterapia
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Alguns dos principais desafios da imunoterapia são o preço elevado - algumas estimativas sugerem que um
tratamento com um inibidor de checkpoint, por exemplo, pode custar até 1 milhão de dólares por paciente - e os
terríveis efeitos colaterais. Estimular o sistema imunológico pode causar reações cutâneas, sintomas
semelhantes aos da gripe, palpitações cardíacas, diarreia, infecções e até artrite.
Outro desafio está em entender por que pacientes podem ter diferentes respostas à tratamentos
imunoterápicos e por que alguns têm recaídas e outros não. Para isso, os pesquisadores precisam entender
melhor não só o comportamento do nosso sistema imunológico, mas também dos tumores.
"Se há uma percepção de que é fácil, isso é um erro. Alguns pacientes estão antecipando que as coisas irão
mudar da noite para o dia e imediatamente uma terapia estará disponível. Não é assim. É preciso um bom
tempo, mas estou certo de que a imunoterapia vai ser extremamente útil. É só que, agora, estamos limitados no
que pode ser feito.", explicou Greenberg.
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