A Solidão de Jesus

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A Solidão de Jesus
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46b).
A História revela que os grandes homens de
todos os tempos sempre foram, em certo grau, homens solitários. Eles produziram suas obras memoráveis e pensaram seus pensamentos excepcionais
dentro de limites de estilos de vidas que poucos entendiam. Essa característica também pertenceu ao
nosso Salvador, a quem Isaías descreveu profeticamente como um homem “desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o
que é padecer... um de quem os homens escondem
o rosto...” (Isaías 53:3a, b).
A solidão de Jesus nunca ficou mais evidente do
que na cruz, onde Ele foi desprezado pelo homem e
também desamparado pelo próprio Deus. O clamor
pungente de Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?” veio após seis horas de agonia
na cruz. Essa é a única afirmação dEle na cruz registrada tanto em Mateus (27:46) como em Marcos
(15:34). Jesus enfrentara Seus sofrimentos sozinho,
e perto do fim dessa morte vivificante, Ele citou o
primeiro versículo do Salmo 22 para exprimir a escuridão e o horror pelos quais estava passando. Nos
Salmos, que enchiam o coração do nosso Senhor,
encontramos uma das interpretações mais claras de
Sua vida e dos Seus propósitos messiânicos. Dois
escritores do evangelho, devido à força e importância da pergunta de Jesus, registraram exatamente
as palavras que Ele proferiu: “Eli, Eli1, lama sabactani”. A seguir, esses escritores deram a tradução:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Certamente, esse clamor é uma revelação da angústia espiritual e física que o nosso Senhor levou por
1 Mateus 27:46 usa o nome hebraico “Eli, Eli”, enquanto
Marcos 15:34 traz o aramaico “Eloi, Eloi”.
nós e é a maior prova de Seu amor por este mundo
de pecadores.
Quando refletimos nessa indagação saindo dos
lábios do nosso Salvador, pisamos no santo dos santos da paixão de Cristo. Temos de ponderar individualmente cada palavra do Seu clamor.
A primeira palavra desta afirmação, “Eli”, foi
pronunciada duas vezes. Jesus exclamou: “Deus
meu, Deus meu”. Os escritores do evangelho registraram sete frases que saíram dos lábios de Jesus durante o tempo em que Ele esteve na cruz. Três delas
eram orações. Em meio a espasmos de agonia que
certamente compeliram os anjos a suspirar com espanto, nosso Salvador orou um dos lamentos mais
breves e perplexos de todos os tempos.
A segunda palavra é “por que”. Esse momento, um lapso de segundos entre duas eternidades,
é o único registrado nos Evangelhos em que Jesus
olhou para o céu e perguntou a Deus: “Por quê?”
Contemplando isto, podemos simplesmente dizer que Aquele que estava morrendo não era um
homem comum. A morte dEle não era uma crucificação como as outras. O que poderia ser tão penetrante, tão devastador, a ponto de o Filho de Deus
transpassar a abóbada do céu com aquela pergunta
dilacerante para qualquer coração?
A terceira palavra é o pronome oculto “Tu”. Jesus poderia facilmente ter dito: “Judas, por que você
me traiu?” Ou: “Pedro, como você pôde me negar
três vezes?” Também poderia ter dito a todos os
discípulos: “Onde vocês estavam quando eu mais
precisei de vocês? Por que fugiram?” Para nossa surpresa, Jesus não fez nenhuma dessas perguntas.
Não! Ele fez uma pergunta a Deus! Virou os olhos
em direção ao todo-poderoso Deus — Aquele que
sempre cuida dos Seus; Aquele que defende os órfãos, as viúvas e os maltratados; o grande Deus que
nunca deixou nem deixará de cumprir uma promessa. Ele fez essa pergunta intrigante Àquele que é o
Amigo dos justo e o Salvador dos pecadores. Como
Deus Pai poderia ter abandonado Jesus, Seu próprio
Filho unigênito?
A quarta palavra é “me”. Seria fácil imaginar o
ladrão que foi desobediente a Deus até seu último
suspiro indagar: “Deus, por que me desamparaste?” Quando ele galgasse os últimos degraus desta
vida e avistasse uma eternidade vazia, sem esperança e sem Deus, certamente poderia ter interrogado a
Deus sobre o terror de ficar separado dEle para sempre. Mas não Jesus! Jamais poderíamos esperar essa
pergunta dos lábios de Jesus! Todavia, é verdade.
Quem estava clamando era Jesus, o Filho de Deus, o
Divino, o Messias, Aquele que ressuscitara Lázaro,
o Operador de Curas, o Médico dos médicos. Quem
estava orando ali era o puro, perfeito, sem pecado,
obediente, fiel Filho do Homem. Quem pode compreender isto?
A quinta palavra é o verbo “desamparaste”. A
experiência torturante na cruz estava prestes a virar
história. A pergunta não foi: “O Senhor vai me desamparar?, mas: “Por que me desamparaste?” (grifo
meu). Jesus Se referia a algo que já havia acontecido com Ele. Jesus estava demarcando a jornada que
Ele havia concluído, o vale que Ele havia atravessado. Estava dando voz à descrição da noite solitária
e misteriosa que Ele havia enfrentado. Aqui está o
único lugar nas Escrituras em que Jesus, escolhendo
Suas próprias palavras, retratou como estava sendo
a Sua crucificação! Jesus não estava fazendo uma
pergunta sobre disciplina. Ele não estava exigindo
uma resposta demorada ou uma resposta que estava sendo reservada para um momento mais oportuno. Jesus estava orando sobre estar completamente
abandonado pelo Pai. A fagulha mais ardente de dor
que nossas mentes podem compreender é a de estar
separado do Pai. Jesus — o santo Filho de Deus, o
segundo membro da Divindade — jamais experimentara um momento de separação da comunhão
com o Pai. Para ele experimentar esse isolamento
frio e trágico da Pessoa e da providência de Deus
deve ter sido o aspecto mais horrendo da cruz.
O clamor agonizante de Jesus indica que ocorreu na cruz mais do que o sofrimento físico. Sim,
houve sofrimento — mais sofrimento que podemos
entender, mas o significado da cruz foi além do
sofrimento. A cruz não foi apenas o que Jesus sentiu;
foi também o que Ele fez. Ocorreu ali um importantíssimo evento, relacionado a Deus e ao homem, o
ponto de convergência da eternidade e do tempo.
Jesus entregou-Se para ser crucificado, suportando
espontaneamente a ira do céu e a ira do inferno, à
medida que Se oferecia pelos nossos pecados. Jesus
levou sobre Si o pecado de todos os tempos — as
violações da vontade de Deus desde o primeiro pecado de Adão e Eva, passando por cada momento
da história. Ele levou os pecados acumulados por
cada um de nós, colocou-os nas costas e carregou-os
para sempre para longe da presença de Deus, como
se estivessem num imenso cesto de perdão.
Eddie Cloer
Autor: Eddie Cloer
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