UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL MACROANÁLISE DE UMA JAZIDA DE ROCHA EM SANTA MARIA/RS E CARACTERIZAÇÃO DE SEU MATERIAL GRANULAR TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO EM ENGENHARIA CIVIL Ana Helena Back Santa Maria, RS, Brasil. Dezembro, 2015 MACROANÁLISE DE UMA JAZIDA DE ROCHA EM SANTA MARIA/RS E CARACTERIZAÇÃO DE SEU MATERIAL GRANULAR Ana Helena Back Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), com requisito parcial para obtenção de grau de Engenharia Civil. Orientador: Prof. Dr. Rinaldo José Barbosa Pinheiro Santa Maria, RS, Brasil. Dezembro, 2015. Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia Curso de Engenharia Civil A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso MACROANÁLISE DE UMA JAZIDA DE ROCHA EM SANTA MARIA/RS E CARACTERIZAÇÃO DE SEU MATERIAL GRANULAR Elaborado por Ana Helena Back Como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil COMISSÃO EXAMINADORA: Rinaldo José Barbosa Pinheiro (Presidente/Orientador) Andréa Valli Nummer (UFSM) (Avaliadora) Fernando Dekeper Boeira (URI) (Avaliador) Santa Maria, dezembro de 2015 AGRADECIMENTOS Agradecer se torna uma palavra fraca e inexpressiva para o sentimento de gratidão atribuído aos meus pais Maria Dolores Back e Mauro Back bem como minhas irmãs Marina Back e Daniela Back Kich e cunhado Rafael Kich por me oferecerem uma oportunidade de estudo e por seguirem meus passos durante a caminhada pela Engenharia Civil, desviando e menosprezando quaisquer dificuldades que adentraram durante esta caminhada. Obrigada a todos por estarem presentes na minha vida. Em segundo lugar, agradeço ao meu orientador Rinaldo J. B. Pinheiro que gentilmente aceitou meu pedido para a realização deste trabalho de conclusão de curso, adentrando nessa jornada mesmo com a inexistência de colaborações passadas. À Professora Andrea Nummer, ofereço meu apreço pelo auxílio cedido para a realização deste trabalho. Obrigada aos dois professores pela confiança depositada em mim e pelo apoio dos senhores durante o semestre. Expresso minha gratidão ao meu namorado Lucas Bueno que em muitos momentos da graduação tomou meus anseios para si e me guiou com sabedoria para as respostas. Minhas lindas e amadas colegas Nathalia Beckert, Jessica Anversa e Tairine Rodrigues que me alegraram, auxiliaram e me confortaram em todos os momentos necessários, amo todos vocês. A todos os bolsistas do Laboratório de Materiais de Construção Civil que em algum momento contribuíram para o cumprimento dos ensaios laboratoriais, agradeço pela colaboração e pela companhia. Por fim, gratulo a Construtora Continental de São Paulo Ltda. pelo material cedido a mim permitindo dessa forma a realização do presente estudo. Resumo Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Graduação em Engenharia Civil Universidade Federal de Santa Maria MACROANÁLISE DE UMA JAZIDA DE ROCHA EM SANTA MARIA/RS E CARACTERIZAÇÃO DE SEU MATERIAL GRANULAR AUTOR: ANA HELENA BACK ORIENTADOR: RINALDO JOSÉ BARBOSA PINHEIRO Data e Local da Defesa: 11 de dezembro de 2015, UFSM. O presente trabalho possui como objetivo a caracterização do material rochoso de duas pedreiras localizadas na cidade de Santa Maria/RS, ambas pertencentes ao mesmo maciço rochoso, porém, em diferentes cotas altimétricas. Com base na realização de ensaios laboratoriais de caracterização do agregado bem como de análises macro e microscópicas do maciço e de seus minerais constituintes, busca-se comparar as qualidades apresentadas laboratorialmente com o grau de alteração apresentado no momento da visitação. A caracterização foi realizada no laboratório LMCC da Universidade Federal de Santa Maria empregando ensaios capazes de determinar propriedades como a resistência mecânica da rocha na condição saturada e seca, o grau de absorção que o material detém, o tipo de forma que o agregado tende a gerar quando britado, a quantidade de degradação sofrida pela rocha quando há incidência de agentes químicos, entre outros. Os ensaios laboratoriais juntamente com as análises macro e microscópicas apresentaram resultados semelhantes e de extrema relevância para justificar a ausência de algumas propriedades por parte da Pedreira “A” que também apresentou elevada fragmentação de seu maciço bem como elevado índice intempérico. No caso da Pedreira “B” não ocorreu tamanha degradação no que diz respeito à rocha, fato que acarretou um melhor desempenho por parte de seu agregado nos ensaios de caracterização. LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 - Minerais Comumente Encontrados nas Rochas Ígneas. ....................... 22 Tabela 2.2 - Minerais Comumente Encontrados nas Rochas Sedimentares. ........... 25 Tabela 2.3 - Minerais Comumente Encontrados nas Rochas Metamórficas. ............ 27 Tabela 3.1 - Normas Brasileiras e Internacionais Existentes para Avaliação das Propriedades Tecnológicas do Presente Trabalho. ................................................... 35 Tabela 4.1 - Frações Granulométricas das Pedreiras Estudadas. ............................ 56 Tabela 4.2 - Resultados Obtidos para os Ensaios de Forma dos Agregados. .......... 57 Tabela 4.3 - Resultado dos Ensaios de Resistência Mecânica e Química. ............... 58 Tabela 4.4 - Resultados dos Ensaios de Absorção e Massas Específicas. .............. 60 Tabela 4.5 - Valores Referentes aos Ensaios de Massa Unitária e Índice de Vazios. .................................................................................................................................. 61 Tabela 4.6 - Resultado de Ensaios de Caracterização de Algumas Pedreiras da Região. ...................................................................................................................... 62 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Províncias Geomorfológicas do Rio Grande do Sul. .............................. 15 Figura 2.2 - Basalto, o Principal Exemplo de Rocha Extrusiva.................................. 21 Figura 2.3 - Conjunto de Diversas Ocorrências Magmáticas. ................................... 21 Figura 2.4 - Formação Rochosa do Tipo Sedimentar. ............................................... 24 Figura 2.5 - Exemplo do Metamorfismo. ................................................................... 26 Figura 2.6 - Vista Lateral de um Britador Primário. ................................................... 28 Figura 3.1 - Mapa de Localização da Jazida Boca do Monte .................................... 33 Figura 3.2 - Material Coletado das Pedreiras Sendo Transportado Para o Laboratório .................................................................................................................................. 34 Figura 3.3 - Britador Utilizado para Diminuir a Graduação dos Materiais .................. 36 Figura 3.4 - Representação Convencional de Curvas Granulométricas. ................... 37 Figura 3.5 - Dimensões do Agregado Ensaiado ........................................................ 38 Figura 3.6 - Grade de Lamelaridade ......................................................................... 39 Figura 3.7 - Procedimentos Necessários Para a Obtenção das Massas Específicas e Absorção do Agregado Graúdo ................................................................................. 40 Figura 3.8 - Ensaio Realizado para Determinação da Massa Específica .................. 41 Figura 3.9 - Recipiente Utilizado para Ensaio de Massa Unitária (Pedreira “A”) ....... 42 Figura 3.10 - Tambor Utilizado Para o Ensaio........................................................... 44 Figura 3.11 - Ensaio de Sanidade com Agregado da Pedreira "A” ........................... 45 Figura 3.12 - Confecção das Lâminas Delgadas. ...................................................... 47 Figura 3.13 - Material Utilizado para o Ensaio de Esmagamento. ............................. 48 Figura 3.14 - Rochas da Pedreira "A" sendo Ensaiadas. .......................................... 49 Figura 3.15 - Relação das Dimensões dos Provetes. ............................................... 49 Figura 4.1- Mapa de Localização de Cada Pedreira. ................................................ 52 Figura 4.2 - Lâmina Petrográfica da Pedreira "A" sob incidência de luz natural. ....... 55 Figura 4.3 - Curvas Granulométricas das Pedreiras. ................................................ 57 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT= Associação Brasileira de Normas Técnicas. ANEPAC= Associação Nacional de Entidades de Produtores de Agregados para Construção Civil. DAER= Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem. DNER= Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNIT= Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. DNPM= Departamento Nacional de Produção Mineral. ES= Especificação de Serviço. IBGE= Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IE= Instruções de Ensaio. ISRM= International Society Of Rock Mechanics. LMCC= Laboratório de Materiais de Construção Civil. ME= Método de Ensaio. NBR= Norma Brasileira. RS= Rio Grande do Sul. UFSM= Universidade Federal de Santa Maria. UTM= Universal Transversa de Mercator. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11 1.1. Objetivos ...................................................................................................... 12 1.2.1. Objetivos gerais ........................................................................................ 12 1.2.2. Objetivos específicos ................................................................................ 12 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 14 2.1. Contexto Geológico do Rio Grande do Sul .................................................. 14 2.1.1 Escudo Rio-Grandense.............................................................................. 15 2.1.2 Planície Costeira ........................................................................................ 16 2.1.3 Planalto de Derrames ................................................................................ 17 2.1.4 Depressão Periférica ................................................................................. 19 2.2. 3. Diferentes Tipos de Rochas e Seus Minerais .............................................. 20 2.2.1. Rochas Ígneas ou Magmáticas.............................................................. 20 2.2.2. Rochas Sedimentares ........................................................................... 23 2.2.3. Rochas Metamórficas ............................................................................ 25 2.3. Obtenção de Agregados a Partir de Pedreiras............................................. 27 2.4. Agregados para Uso em Obras de Engenharia ........................................... 30 METODOLOGIA ................................................................................................. 32 3.1. Etapa de Campo ............................................................................................. 32 3.1.1. Análise Macroscópica dos Materiais Rochosos ........................................ 33 3.1.2. Coleta dos Materiais ................................................................................. 33 3.2. Etapa de Laboratório....................................................................................... 34 3.2.1. Ensaios de Caracterização Geotécnica .................................................... 35 3.2.1.1. Granulometria ..................................................................................... 35 3.2.1.2. Índice de Forma e Índice de Lamelaridade......................................... 37 3.2.1.3. Absorção do Agregado Graúdo / Massas Específicas ....................... 39 3.2.1.5. Massa Unitária.................................................................................... 41 3.2.1.6. Resistência à Abrasão Los Angeles ................................................... 43 3.2.1.7. Alterabilidade (Sanidade). .................................................................. 44 3.2.1.8. Lâmina Petrográfica ........................................................................... 45 3.2.1.9. Resistência ao Esmagamento de Agregado Graúdo .......................... 47 3.2.1.10. Compressão Puntiforme ................................................................... 48 4. ESTUDO DO CASO ........................................................................................... 51 4.1. Identificação e Caracterização Regional da Área de Estudo .......................... 51 4.2. Apresentação e Análise dos Resultados ......................................................... 53 4.2.1. Jazida Boca do Monte – Pedreira “A” e “B” ........................................... 53 4.2.2. Análise Comparativa entre Pedreiras da Região. .................................. 62 5. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 64 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 66 1. INTRODUÇÃO A distribuição geográfica dos diferentes tipos de rochas no território brasileiro é consequência de processos tectônicos que agiram na crosta terrestre. A idade relativa dos maciços rochosos pode ser obtida observando-se as marcas dos eventos nelas registrados, a ordem natural da superposição das camadas sedimentares e os fósseis que elas contêm (OLIVEIRA E BRITO, 1998). As rochas de acordo com o seu modo de formação, constituem três grandes grupos: ígneas, sedimentares e metamórficas, cada qual com suas características peculiares. No procedimento de investigação de estruturas geológicas dos maciços rochosos, a meta principal é identificar e destacar as características específicas que o agregado deve apresentar para sua futura utilização em um projeto de engenharia, visando obras bem planejadas e com menores custeios. Em geral, um maciço rochoso íntegro e homogêneo raramente é encontrado, e a principal preocupação são as feições geológicas que representam ou induzem zonas de fraquezas mecânicas. Planos bem definidos de separação da rocha como as juntas e falhas são exemplos típicos de descontinuidades em maciços rochosos. Estas provocam uma redução na qualidade mecânica do maciço, ocasionando uma condição desfavorável ao material, uma vez que há perda de rigidez e resistência do material quando comparado a uma massa rochosa sã. Para Oliveira e Brito (1998), um estrato pouco consolidado no interior de uma sequência sedimentar, ou de uma forma mais generalizada, corpos rochosos que se distinguem por uma litologia mais branda também podem ser descritos como unidades de comportamento geomecânico diferenciado. No que se diz respeito às análises laboratoriais, os estudos petrográficos são fundamentais para a correta determinação mineralógica, juntamente com a correta classificação da rocha. Estes aspectos são importantes para o entendimento das características mecânicas e previsão do desempenho dos diferentes tipos rochosos. Isto é, as propriedades físicas exibidas pelo maciço rochoso refletem os efeitos combinados de sua origem juntamente com seus processos de alteração, fatores estes, que estão diretamente ligados com a história evolutiva da região. A macroanálise da jazida aliado aos ensaios de lâmina petrográfica e de caracterização do material rochoso que serão apresentados neste trabalho, são 12 alternativa de controles tecnológicos que visam evitar possíveis deficiências estruturais em projetos de engenharia além da obtenção de unidades rochosas mais homogêneas e de grande valor econômico. A contínua mineração destas unidades rochosas gerou um elevado desenvolvimento do país, não somente como gerador de riquezas, mas também como mecanismo de progresso e desenvolvimento de diversas regiões brasileiras. Porém, a análise dos maciços rochosos imprescinde ensaios de caracterização tecnológica e de desempenho do material granular feitas através de técnicas apropriadas que permitem conhecer as propriedades das rochas isoladamente ou em conjunto, garantindo dessa forma a segurança e a vida de projeto da estrutura. 1.1. Objetivos 1.2.1. Objetivos gerais Esta pesquisa possui como objetivo geral a caracterização dos materiais granulares das Pedreiras “A” e Pedreira “B” pertencentes a um mesmo maciço rochoso, porém localizadas em níveis distintos de derrames vulcânicos. Buscou-se realizar análises comparativas entre os resultados obtidos laboratorialmente, bem com realizar uma análise comparativa entre as Pedreiras “A” e “B” com as demais jazidas encontradas na cidade de Santa Maria. Com a colaboração da Geóloga Andréa Valli Nummer, buscou-se realizar uma análise macro e microscópica de ambas as cavas e de seus materiais correspondentes. 1.2.2. Objetivos específicos • Realizar ensaios de Lâminas Petrográficas para fins de verificação com relação à existência de minerais instáveis, alterados ou possivelmente deletérios; 13 • Realizar análises visuais e descrever a estrutura de ambas as pedreiras que embora se encontram em um mesmo maciço rochoso, localizam-se em níveis de derrames distintos; • Realizar ensaios de caracterização do material granular a fim de descobrir a melhor pedreira, em termos qualitativos. • Realizar uma análise comparativa dos resultados laboratoriais entre as duas cavas, juntamente com uma comparação de ambos os resultados com as normas vigentes e pedreiras da região; 14 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Contexto Geológico do Rio Grande do Sul Do Arqueano Precoce aos tempos Cenozoicos, os processos magmáticos, metamórficos e sedimentares, aliados aos movimentos tectônicos, foram concebendo uma crosta cada vez mais diferenciada e mais estável, com predomínio, de modo geral crescente, da atividade sedimentogênica sobre as atividades ígneometamórficas (TERRA et al, 2009). A evolução geológica do estado do Rio Grande do Sul registra uma história prolongada de colisões entre continentes, assoalhos oceânicos, arcos de ilhas, vulcões e bacias sedimentares, hoje fazendo parte do registro geológico das rochas que compõem a superfície do nosso estado. Dentro desses limites, as rochas evoluíram de diversas formas e em vários ambientes, como montanhas, geleiras, rios, desertos, desembocaduras de rios e vulcões (VIERO, 2010). O estado do apresenta, em sua maior parte, relevo baixo, com setenta por cento de seu território a menos de 300 m de altitude. A única porção elevada, com mais de 600 m de altitude, no Nordeste, compreende 11% da superfície total. No estado, existem quatro ambientes típicos: os altiplanos no norte do estado; as coxilhas mais íngremes do sul; a região de coxilhas suaves na região central e a região plana e costeira. Esses ambientes geomorfológicos costumam apresentar ocorrências semelhantes de rochas, delineando o que se define por “região” ou “província” geológica. No estado gaúcho, quatro grandes domínios morfoestruturais são reconhecidos a partir das características geológicas e estruturais das rochas e modelados da superfície. Ao Norte, encontra-se o Planalto Meridional ou Planalto de Derrames, formado por extenso platô de rochas basálticas e riodacíticas, com altitudes de até 1378 m. A Depressão Periférica, situada no entorno da fralda do platô, apresenta relevo de coxilhas suaves e planícies fluviais. Esse domínio estende-se num estreito corredor em direção ao Oeste, até a fronteira com o Uruguai, é composta por rochas sedimentares paleozoicas e mesozoicas da Bacia 15 do Paraná, no qual são mais antigas do que as rochas do platô (MENEGAT et al., 1998). Na porção Sudeste do estado encontra-se o Escudo Rio-Grandense, trata-se de um planalto formado por rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. E na costa Leste situa-se o domínio da Província Costeira, formada por um rosário de pequenas lagoas isoladas encravadas em depósitos arenosos (MENEGAT et al., 1998). As localizações das quatros províncias geomorfológicas do Rio Grande do Sul estão demonstradas na Figura 2.1. Figura 2.1 - Províncias Geomorfológicas do Rio Grande do Sul. Fonte: Atlas Sócio - Econômico do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria da Coordenação e Planejamento – 1998. 2.1.1 Escudo Rio-Grandense O Escudo Sul-Rio-Grandense é caracterizado pelo conjunto de rochas PréCambrianas e Cambrianas, as quais compõem a parte sul da Província Mantiqueira. Possui uma composição englobando rochas de idades variadas desde o Arqueano até o Eopaleozóico e apesar de ser espacialmente restrito, apresenta associações 16 de rochas metamórficas, ígneas e sedimentares, de idade, origem e evolução diversas (ROISEMBERG et. al, 2008). Também denominado impropriamente Serras de Sudeste, o planalto dissecado de sudeste compreende um conjunto de ondulações cujo nível mais alto não ultrapassa 600 m. Trata-se de um planalto antigo, cuja superfície tabular só foi preservada entre alguns rios. Com coxilhas e cristas de rochas graníticas, de idade pré-cambriana, cobertas de campos e matas (MENEGAT et al., 1998). Esta província é constituída por associações de rochas ígneas de composição dominantemente granítica, as quais, são intrusivas em um conjunto de rochas metamórficas, representadas por extenso complexo de gnaisses, rochas máficoultramáficas de assoalho oceânico, xistos e mármores de composição metapelítica, que, por sua vez, estão recobertas por um pacote com cerca de 5000 m de espessura de rochas sedimentares intercaladas a rochas vulcânicas, cujas afinidades variam entre magma básicos a ácidos na forma de lavas e rochas pirocásticas (VIERO, 2010). É delimitada ao norte, oeste e sudoeste pela Bacia do Paraná, e a leste pela Bacia de Pelotas, também conhecida como Província Costeira do Rio Grande do Sul. 2.1.2 Planície Costeira A Porção Leste do estado do Rio Grande do Sul é formada pela cobertura sedimentar quaternária da Planície Costeira. Corresponde a uma faixa arenosa de 622 km, apresentando relevo muito baixo próximo do nível do mar, se caracterizando pela grande ocorrência de lagunas e lagoas, entre as quais se destacam a Laguna dos Patos e Mirim (KAUL, 1990). Esta planície é formada por unidades sedimentares marinhas e flúviolacustres inconsolidadas pertencentes à Bacia de Pelotas que se descreve sendo uma bacia marginal do tipo aberta, desenvolvida no extremo sul da margem continental brasileira, resultante dos processos de abertura e expansão do Atlântico Sul durante o Cretáceo. (ROISENBERG et al., 2008) Apoiada sobre um embasamento composto pelo complexo cristalino précambriano e pelas sequências sedimentares e vulcânicas, paleozóicas e mesozóicas da Bacia do Paraná, a Bacia de Pelotas teve sua origem relacionada 17 com os movimentos tectônicos que, a partir do Cretáceo, conduziram à abertura do oceano Atlântico Sul (VILLWOCK & TOMAZELLI, 1995). De acordo com Roisenberg et al. (2008), a Bacia de Pelotas se diferencia das demais bacias da margem continental brasileira por registrar apenas o último estágio evolutivo, o oceânico. Segundo esse autor, os registros dos estágios anteriores deveriam ocorrer mais afastados da linha de costa, e estariam encobertos por espessos pacotes sedimentares. Na parte central e sul da Planície Costeira, os depósitos sedimentares assentam sobre um embasamento (área fonte dos sedimentos) representado, por rochas ígneas e metamórficas pré-cambrianas do Escudo Uruguaio-Sul-RioGrandense e, na parte norte, por rochas sedimentares e vulcânicas da Bacia do Paraná, de idade paleozóica e mesozoica. Seu registro sedimentar ao longo do Quaternário, constitui um laboratório de campo para estudos sedimentológicos, estratigráficos e evolutivo (ROISENBERG et al., 2008). 2.1.3 Planalto de Derrames A porção norte e oeste do estado é ocupada pelo Planalto Basáltico, que descreve uma meia-lua em torno da depressão central. Esse planalto, que tem como traço marcante a estrutura geológica, é formado pelo acúmulo ou empilhamento de sucessivos derrames vulcânicos mesozóicos, intercalados muitas vezes por camadas de arenito (VIERO, 2010). Os primeiros derrames ocorreram sobre as areias de dunas que, mais tarde, dariam origem aos arenitos arcoseanos da formação Botucatu. Com a ocorrência de novos derrames, essas dunas móveis acabaram presas entre as rochas basálticas, dando origem a outro tipo de arenito, conhecido como arenito intertrápico. Esses arenitos são muito semelhantes aos arenitos da formação Botucatu, porém aparecem em cotas mais altas e são mais afetados pelo intemperismo. Por outro lado, os derrames intermediários são os mais organizados como o fenômeno durou cerca de 20 milhões de anos, alguns desses derrames sofreram intemperismo e foram parcialmente transformados em solos residuais, e também parte desse solo foi erodida, produzindo assim depósitos sedimentares (BOEIRA, 2014). 18 Para Peat (apud BOEIRA, 2014) a província denominada planalto de derrames, é dominado por basaltos e basaltos andesíticos de afinidade toleiítica distribuídos em uma pilha de derrames com até 2 km de espessura que perfaz mais do que 90% do vulcanismo. As unidades ácidas descritas genericamente como “riolitos” ocorrem intercaladas no topo da pilha vulcânica. Um aspecto saliente do planalto é a forma de transição para as terras mais baixas com que se articula. A nordeste, cai diretamente sobre a planície litorânea, com um paredão íngreme de quase mil metros de desnível. Os rios favorecidos pelo forte declive abriram profundas gargantas. Nesse trecho, próximo à divisa com Santa Catarina, a escarpa à borda do planalto corre paralela à costa desviando-se bruscamente para oeste e progressivamente começa a diminuir de altura (VILLWOCK E TOMAZELLI, 1995). A elevação de maior destaque no Planalto Meridional é a Serra Geral, que no Rio Grande do Sul termina junto ao litoral, formando costas altas como as que aparecem nas praias da cidade de Torres, compreendendo rochas de caráter basáltico, cujo material se torna um excelente agregado para as obras de engenharia. É caracterizada por vales rasos coxilhas suaves que sem transição são substituídas pelos paredões verticais de rochas basálticas oriundas do vulcanismo fissural da Bacia do Paraná (GUSMÃO et al., 1990). Segundo Kaul (1990), o vulcanismo fissural da Bacia do Paraná representa uma das maiores manifestações de vulcanismo continental do globo. Está representado por espessos e extensos derrames de lavas, bem como por dique e soleiras, com pequenos e eventuais corpos de rochas sedimentares associados. Tal conjunto de litologias constitui a Formação Serra Geral. A Bacia do Paraná corresponde a uma bacia intracratônica cujas unidades basais depositaram-se sobre o Escudo Sul Rio-Grandense, incluindo a Bacia do Camaquã (neoproterozoico). Em toda sua extensão é representada por sedimentos siliciclásticos e rochas vulcânicas, de idade desde o Ordoviciano ao Cretáceo. Um terço da área aflorante da Bacia do Paraná é composta por rochas sedimentares de idades que variam do Ordoviciano ao Siluriano enquanto que dois terços é coberta por fluxos de lava de idade Jurássica-Cretácica (ROISEMBERG et al., 2008). 19 2.1.4 Depressão Periférica A Depressão Periférica do RS é delimitada ao norte pelos leques aluviais e pela formação Serra Geral e ao sul, pelos patamares inferiores do Escudo representados pelas serras do Sudeste. São aspectos transicionais entre duas unidades e porque a depressão periférica teve sua gênese a uma evolução intimamente ligada à rede hidrográfica de uma extensa bacia fluvial: a do Jacuí (GUSMÃO et al., 1990). Seu relevo define-se por baixas cotas altimétricas onde ocorre a planície aluvial e os terraços fluviais. A área da planície aluvial está constituída principalmente por sedimentos recentes (Quaternário) que foram removidos de superfícies topograficamente mais elevadas e depositados nas áreas mais planas das margens dos cursos fluviais mais importantes sob o ponto de vista da atuação dos processos de acumulação. Modeladas sobre terraços fluviais em porções ao centro e sul ao sul da área, onde atuam processos de aplanamento e dissecação, ocorrem formas topograficamente um pouco mais elevadas constituindo as coxilhas·. Em alguns pontos formam-se coxilhas alongadas, apresentando-se na forma de pequenas encostas rampeadas. Nelas ocorrem com facilidade os processos de erosão hídrica a partir da atuação de canais incisivos (NASCIMENTO et al., 2012). A Depressão Periférica é caracterizada por terras de baixa altitude localizada ao sopé do Planalto apresentando relevo aplainado de coxilhas suaves com poucos afloramentos e planícies fluviais. Esta unidade é formada de rochas sedimentares da Bacia do Paraná e pertence a um extenso corredor que liga o Estado de oeste à leste (ROISENBERG et al., 2008). As formações sedimentares Rosário do Sul e Botucatu oriundas da sedimentogênese implantada na Bacia do Paraná pela cobertura sedimentar Gonduânica, correspondem individualmente a extensas e espessas sequências Riograndenses de sedimentos de granulação essencialmente fina, com intercalações de calcários e raríssimos conglomerados (KAUL, 1990). A formação Rosário do Sul reúne arenitos de granulação média a fina, siltitos argilosos e lamitos, que mostram colorações vermelha, castanho-avermelhada, cinza-avermelhada e branca com idade referente ao Triássico. No que diz respeito à 20 formação Botucatu é formada por arenitos de granulação fina a média, de coloração vermelha, rósea ou amarelo-clara, bem selecionada, com idade referente ao Jurássico (KAUL, 1990). 2.2. Diferentes Tipos de Rochas e Seus Minerais Conforme Chiossi (2013), rochas são agregados de uma ou mais espécies de minerais e constituem unidades mais ou menos definidas da crosta terrestre, contudo, há rochas que são constituídas de materiais vítreos, amorfos ou que possuem cores diversas, como é o caso das lavas vulcânicas. Ainda em relação às rochas, segundo o mesmo autor, elas podem ser formadas de três maneiras distintas: por resfriamento do magma; consolidação de depósitos sedimentares e metamorfismo, originando respectivamente as rochas ígneas ou magmáticas, sedimentares e metamórficas. 2.2.1. Rochas Ígneas ou Magmáticas As rochas ígneas podem ocorrer na crosta terrestre de duas maneiras distintas, a primeira dela é através do espraiamento do magma na superfície terrestre e consequentemente apresenta um rápido resfriamento de sua lava, originando dessa forma minerais cujos tamanhos variam de fino a muito fino, uma vez que não possuíram tempo para se desenvolver (CHIOSSI, 2013). Estes minerais dificilmente são identificados a olho nu (textura afanítica). São exemplos dessas rochas extrusivas os basaltos, dacitos, andesitos, vidro vulcânico. A Figura 2.2 apresenta uma rocha magmática extrusiva com textura afanítica. 21 Figura 2.2 - Basalto, o Principal Exemplo de Rocha Extrusiva. Fonte: TEIXEIRA et al. (2000) Caso o resfriamento do magma ocorrer internamente, ocorrerá o fenômeno de intrusão magmática e a rocha resultante será ígnea plutônica ou hipoabissal. Seus minerais apresentarão tamanhos de médios a grosseiros (textura fanerítica), pois houve tempo para se desenvolverem, indicando que o magma resfriou lentamente (MACIEL FILHO E NUMMER, 2014). Para Chiossi (2013), as formas intrusivas mais comuns nas formações geológicas brasileiras são os chamados Sills, que se caracterizam por camadas de magma que penetraram em rochas encaixantes, apresentando uma posição horizontal com superfícies paralelas relativamente pouco espessas. Intrusões de Sills são encontradas por toda região afetada pelo vulcanismo da Formação Serra Geral, caracterizando uma intensa atividade de natureza intrusiva. As formas de ocorrência das rochas magmáticas podem aparecer separados ou em conjuntos, a Figura 2.3 mostra um conjunto de diversas ocorrências magmáticas. Figura 2.3 - Conjunto de Diversas Ocorrências Magmáticas. Fonte: CHIOSSI (2013) 22 Geralmente os minerais não se apresentam como cristais, não possuindo uma forma geométrica, porém, para Chiossi (2013) as rochas magmáticas são as que possuem maior probabilidade de formar cristais com forma própria, pois seu ambiente de formação é fluido. Conforme Maciel Filho e Nummer (2014), as rochas ígneas podem ser classificadas como: ácidas quando apresentam uma predominância do mineral feldspato alcalino juntamente com uma concentração de quartzo maior ou igual a 5%; intermediárias quando há dominância dos minerais feldspato alcalino, plagioclásio, micas e anfibólios; básicas no caso de apresentarem predominância dos minerais plagioclásio e piroxênios; e ultrabásicas quando sobressaem piroxênios e olivina. As rochas ácidas dificilmente se alteram nas condições normais de uso, mesmo em meio aquoso. No que diz respeito às rochas básicas e ultrabásicas elas tendem a se alterar quando expostas às condições atmosféricas, podendo ocorrer desagregação mecânica ou decomposição em argilominerais, quase sempre expansivos (OLIVEIRA E BRITO, 1998). A Tabela 2.1 apresenta de uma maneira simplificada os principais minerais presentes nas rochas ígneas e algumas de suas propriedades. Tabela 2.1 - Minerais Comumente Encontrados nas Rochas Ígneas. Mineral Hábito Fratura Quartzo Prismático Concoide Feldspato Mica Anfibólios Zircão Magnetita Pirita Turmalina Topázio Caulim Cor incolor até cinza escuro Ortoclásio: creme e róseos Tabular Irregular Plagioclásios: cinzas, branco, pretos Moscovita: incolor, cinza, esverd. Foliáceo Biotita: preta, pardacenta Tremolita: branco, cinza Actinolita: verde Hornblenda: verde escuro, preto Prisma Tretagonal incolor, azulado, pardo Octaédrico Subconcóide cinza, preto Cúbico / Octaédrico amarelo Prima Triangular preto, castanho, verde, vermelha Prisma incolor, azul, laranja Hexagonal branca, colorida Brilho Dureza Vítreo 7 Vítreo 6 Acetinado 2,5 Vítreo Metálico Metálico 7,5 6 6,5 8 23 2.2.2. Rochas Sedimentares As rochas expostas às ações combinadas dos componentes químicos da atmosfera, às modificações mecânicas causadas pelas variações de temperatura, à atuação química e mecânica exercida pelos organismos têm seus componentes desintegrados e/ou decompostos, segundo fenômeno chamado intemperismo. Devido ao intemperismo, a rocha se desfaz em partículas de minerais e fragmentos de rochas, perdendo substancias solúveis e produz outros materiais in situ (OLIVEIRA E BRITO, 1998). Para Maciel Filho e Nummer (2014), entende-se por intemperismo como um processo de desintegração e decomposição (modificação da mineralogia e química das rochas) que ocorrem na superfície da crosta terrestre, em função do contato desta com a atmosfera. Rochas Sedimentares são as que se formaram tanto pela atividade mecânica como pela atividade química de agentes do intemperismo, sobre rochas preexistentes. São acúmulos do produto da decomposição e desintegração de todas as rochas presentes na crosta terrestre. Muitas vezes, esses produtos da decomposição ou desintegração são deixados no próprio local que se deram as transformações; porém, normalmente são transportados pelo vento ou pela água e depositados em regiões mais baixas. Tendo se formado sob condições diversas, as rochas sedimentares, também denominadas secundárias ou exógenas, podem mostras grandes variações em sua composição mineralógica e química, bem como em sua textura (CHIOSSI, 2013). Essas rochas são conhecidas como rochas brandas, pois em geral, apresentam baixas resistências mecânicas e, muitas vezes, são friáveis, devido à menor coesão dos minerais constituintes. Formam normalmente corpos tabulares. Tais corpos são depositados, originalmente, em camadas horizontais, mas localmente, esses estratos podem apresentar uma estratificação inclinada gerada pelo próprio processo deposicional, como é o caso da estratificação cruzada, típica de deposição eólica e fluvial (MACIEL FILHO E NUMMER, 2014), conforme Figura 2.4. 24 Figura 2.4 - Formação Rochosa do Tipo Sedimentar. Fonte: Kent (apud PRESS et al., 2013) Rochas sedimentares constituem importantes recursos econômicos podendo ser citados os calcários e dolomitos, matérias-primas para várias finalidades industriais: areia para vidros e construção civil além de carvão. São também pesquisadas por servirem de reservatórios de petróleo, ou ainda, por serem jazidas de minérios aluvionares como ouro e diamante (OLIVEIRA E BRITO, 1998). Este tipo de formação rochosa pode ser classificada conforme o tipo de agente que transportou os sedimentos para a bacia de deposição, dessa forma, é classificadas como: rochas de origem mecânica ou rochas detríticas; rochas de origem química e rochas de origem orgânica. Rochas detríticas são originadas do transporte por meio da ação separada ou conjunta da gravidade, vento, água e as substâncias mais comuns que atuam como material cimentante são a sílica, o carbonato de cálcio, a limonita e a barita. As rochas de origem química, por sua vez, abrangem todas as rochas sedimentares inorgânicas que se formaram por meio da precipitação de soluções químicas. No que diz respeito às rochas de origem orgânica, enquadram-se aquelas cuja origem se deve através do acúmulo e matéria orgânica da natureza, como é o caso das rochas calcárias e carbonosas (CHIOSSI, 2013). A ordem de cristalização dos minerais a partir de um magma, segundo Bowen (apud MACIEL FILHO E NUMMER, 2014) indica que os primeiros a se formarem, de alta temperatura, são também os mais instáveis às condições de superfície. A Tabela 2.2 apresenta de uma maneira simplificada os principais minerais presentes nas rochas sedimentares e algumas de suas propriedades. 25 Tabela 2.2 - Minerais Comumente Encontrados nas Rochas Sedimentares. Mineral Hábito Fratura Quartzo Fluorita Caulim Prismático Concoide Cúbico/ Octaédrico Hexagonal Anfibólios Zircão Calcita Pirita Turmalina Prisma Tretagonal Romboedros Cúbico / Octaédrico Prima Triangular Cor Brilho Dureza incolor até cinza escuro branca, amarela, verde, vermelha. branca, colorida Tremolita: branco, cinza Actinolita: verde Hornblenda: verde escuro, preto incolor, azulado, pardo incolor, branca, amarela, cinza. amarelo preto, castanho, verde, vermelha Vítreo 7 Vítreo 7,5 Vítreo/Sedoso 3 Metálico 6,5 2.2.3. Rochas Metamórficas As rochas metamórficas podem ser formadas a partir de rochas ígneas, sedimentares ou até mesmo metamórficas, preexistentes, submetidas a novas condições de pressão e temperatura. Quando as rochas, através de processos geológicos, são submetidas a condições diferentes de temperatura e pressão das quais foram formadas, ocorrem modificações denominadas de metamorfismo (ALMEIDA E LUZ, 2009). No caso das transformações serem puramente mecânicas, o resultado se traduz pela deformação dos minerais constituintes e uma consequente mudança da sua estrutura e textura. Conforme Chiossi (2013), podemos evidenciar a ocorrência de metamorfismo metassomático quando há uma mudança de composição química da rocha, evidenciada ela formação de minerais novos e não existentes anteriormente. Do contrário, classifica-se como metamorfismo normal como sendo o fenômeno no qual não ocorre qualquer adição ou perda de novo material à rocha, sua composição química inicial continua a mesma, apenas houveram recristalizações de seus minerais. Chiossi (2013) cita como exemplo de metamorfismo normal os arenitos, que são rochas moles e com camadas horizontais que passam a se tornar quartzitos (Figura 2.5), que por sua vez, são rochas de dureza apreciável e com estrutura maciça ou em camadas inclinadas, dobrados e fraturadas. 26 Figura 2.5 - Exemplo do Metamorfismo. Fonte: PRESS et al. (2013) A atividade química das soluções aquosas e gases que circulam nos espaços existentes nas rochas, a pressão e temperatura são os principais fatores da ocorrência do metamorfismo, sendo esta última a principal responsável pelas associações mineralógicas encontradas nas rochas metamórficas (ALMEIDA E LUZ, 2009). Mármores, quartzitos e gnaisses são bastantes utilizados como agregados, já o xisto, pode fornecer agregados lamelares, não muito apropriado para esse uso. Os mármores por sua beleza e preço acessível, são muito utilizados em revestimentos internos, tempos de pias e mesas. Os xistos são empregados em revestimentos e paredes em razão de sua beleza e de seu brilho, conferido pela presença de micas. Dentre as rochas metamórficas, o mármore é um dos exemplos mais comuns, sendo constituído por calcita; o quartzito por quartzo; o anfibolito pelo anfibólio. O quartzito frequentemente apresenta-se foliado. O granulito é constituído por minerais equigranulares, como quartzo e feldspato, sem minerais micáceos ou anfibólios, e é um produto do metamorfismo regional (MACIEL FILHO E NUMMER, 2014). A Tabela 2.3 apresenta, de uma maneira simplificada, os principais minerais presentes nas rochas metamórficas e algumas de suas propriedades. 27 Tabela 2.3 - Minerais Comumente Encontrados nas Rochas Metamórficas. Mineral Hábito Fratura Quartzo Prismático Concoide Cor incolor até cinza escuro Ortoclásio: creme e róseos Feldspato Tabular Irregular Plagioclásios: cinzas, branco, pretos Moscovita: incolor, cinza, esverd. Mica Foliáceo Biotita: preta, pardacenta Tremolita: branco, cinza Anfibólios Actinolita: verde Hornblenda: verde escuro, preto Zircão Prisma Tretagonal incolor, azulado, pardo Magnetita Octaédrico Subconcóide cinza, preto Pirita Cúbico / Octaédrico amarelo Hematita Hexagonais Irregular preta metálica, vermelha Calcita Romboedros incolor, branca, amarela, cinza. Talco Granular/Laminar branca, esverdeada, parda 2.3. Brilho Dureza Vítreo 7 Vítreo 6 Acetinado 2,5 Vítreo Metálico Metálico Metálico Vítreo/Sedoso Graxo 7,5 6 6,5 5,5 3 1 Obtenção de Agregados a Partir de Pedreiras A primeira etapa na prospecção de agregados é a definição do tipo de material rochoso necessário que irá guiar a pesquisa mineral para determinados ambientes geológicos. A utilização dos mapas geológicos e as visitas às possíveis jazidas irão indicar: a espessura do material rochoso potencial para a extração; a relação com rochas encaixantes para estimativa da espessura e tipo de estéril; a presença de estruturas geológicas como dobras, falhas, fraturas; a composição do material rochoso e o grau de intemperismo. Essas informações irão definir o potencial geológico na região para o determinado tipo de material rochoso (ALMEIDA E LUZ, 2009). No entanto, a prospecção de novas áreas potenciais para a exploração de agregados deverá levar em consideração principalmente a distância do mercado, já que o transporte é o fator determinante para a extração de materiais de baixo valor. Outros fatores determinantes serão: a presença de estradas; a disponibilidade de suprimento de água e combustível; dentre outros. O propósito básico da exploração de uma pedreira é o desmonte da rocha sã por meio de explosivos e, através da utilização de diversos britadores, reduzir o material de modo a produzir os agregados utilizáveis na execução de um pavimento ou edificação. Também é desejável produzir um agregado britado que tenha formato cúbico e não achatado e lamelar (BERNUCCI et al., 2008). 28 A Figura 2.6 exemplifica a instalação de um britador primário em uma pedreira, tendo a capacidade de redução mecânica inicial de 8” (200 mm) para 1” (25,4mm), posteriormente armazenando o agregado na pilha pulmão. Figura 2.6 - Vista Lateral de um Britador Primário. Fonte: BERNUCCI et al. (2008) Algumas rochas maciças, como os granitos e mármores, são extraídas de pedreira em grandes blocos que posteriormente são talhados em formas especiais, com serras que usam ferro, areia e água para o corte. Para os usos mais nobres, procuram-se maciços com descontinuidades muito largamente espaçadas. No caso das rochas sedimentares, como o arenito, a estratificação é aproveitada para a abertura em lajes ou blocos. No caso de rochas foliadas, como ardósias, xistos e alguns quartzitos, a foliação é usada com essa finalidade. O mesmo acontece com maciços em que há um diaclasamento paralelo dominante, estreitamente espaçado e horizontalizado, como em rochas vulcânicas ácidas da Bacia do Paraná (MACIEL FILHO E NUMMER, 2014). Quando a rocha é removida de várias localizações na pedreira, as propriedades físicas dos agregados podem variar, desse modo, o controle de qualidade durante as operações de britagem deve assegurar que as propriedades físicas dos agregados não variem excessivamente. Usualmente, são procuradas rochas duras como as rochas ígneas e metamórficas sãs, calcários e arenitos duros. Estes últimos juntamente com o 29 quartzito, desgastam excessivamente as mandíbulas dos britadores, provocando um alto custo de manutenção na praça de britagem e consequentemente um aumento no preço unitários no m³ do agregado britado (BERNUCCI et al., 2008). O desgaste será maior se for alto o teor de quartzo, de feldspato e de acessórios, do tipo zircão e turmalina, por apresentarem dureza maior que 5 (que se caracteriza pela dureza da maioria dos aços utilizados na fabricação das mandíbulas dos britadores). Rochas de textura fina e estrutura compacta, além de serem mais resistentes, expõem um maior número de pontos de contato com a superfície da mandíbula gerando um maior desgaste do britador, por outro lado, quanto mais alterada for a rocha mais facilmente a mesma será desagregada (SIRIANI apud FRAZÃO, 2002). As rochas ígneas são as que apresentam, em geral, melhor comportamento geomecânico e são as mais utilizadas na construção civil. As ígneas plutônicas, mais especificadamente, possuem uma alta resistência mecânica, devido à relativa homogeneidade dos corpos rochosos, forte coesão dos minerais e granulação mais grossa. Em contrapartida, rochas basálticas se possuírem minerais expansivos em sua composição, apresentam restrições ao seu emprego como material de construção, pois podem se desagregar quando expostas às intempéries ou a submersão periódica em reservatórios (OLIVEIRA E BRITO, 1998). Para Marques (2001), as características físicas dos agregados como resistência, abrasão e dureza são determinadas pela rocha de origem, entre outras palavras, ao quebrar uma rocha a forma ou o aspecto da superfície resultante da fragmentação dependerá diretamente de sua estrutura e textura. Porém, o processo de produção nas pedreiras também pode afetar significativamente a qualidade dos agregados, pela eliminação das camadas mais fracas da rocha e pelo efeito da britagem na forma da partícula e na graduação do agregado. Com relação aos aspectos jurídicos vigentes, os agregados para construção civil podem ser extraídos pelo regime de autorização e concessão ou por meio do regime de licenciamento, sendo facultado ao poder público o regime especial de registro de extração. No regime de extração a lavra pode ocorrer imediatamente após o registro, no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), da licença concedida pela prefeitura municipal e da licença ambiental, que também é uma exigência para as autorizações e concessões, tornando bastante ágil o processo de mineração (LA SERNA E REZENDE, 2009). 30 2.4. Agregados para Uso em Obras de Engenharia Os agregados rochosos são os mais antigos materiais de construção de que o homem dispõe. Estes fragmentos de rocha são materiais granulares pétreos, sem forma ou volume definidos, obtidos por fragmentação natural ou artificial, com dimensões e propriedades adequadas a serem empregados em obras de engenharia (OLIVEIRA E BRITO, 1998). Para Maciel Filho e Nummer (2014) a estrutura e textura são características que podem definir a anisotropia e dar ideia da resistência mecânica das rochas, resistência esta que irá variar com a distribuição dos minerais. A resistência mecânica exige resultados satisfatórios nos ensaios laboratoriais que determinam propriedades dos agregados como: cor (beleza); durabilidade; resistência ao intemperismo; resistência à ação dos ácidos; trabalhabilidade, entre outras. Muitas vezes, a trabalhabilidade e a estética preponderam sobre a resistência mecânica, como é o caso das grandes catedrais que foram construídas com calcário ou arenitos, rochas conhecidas por apresentarem resistência média, sem oferecer problemas de colapso (MACIEL FILHO E NUMMER, 2014). Agregados constituídos por partículas planas ou alongadas, apresentam alta porcentagem de poros sendo necessária uma maior utilização de cimento, areia e água. Este excedente de poros possui influência direta sobre fatores como durabilidade, resistência à abrasão, peso específico, alteração química. A escassez de poros, por outro lado, contribui para a compacidade da rocha, aumentando a resistência à abrasão. A textura superficial do agregado também deve ser observada, a existência de alteração superficial nos agregados pode prejudicar consideravelmente as propriedades do concreto. Caso típico ocorre com a brita do granito, em decorrência da caulinização dos grãos e feldspato, o que diminui a capacidade de ligação dos grãos (CHIOSSI, 2013). A forma dos grãos e a conformação superficial influenciam significativamente a trabalhabilidade e as propriedades de aderência do concreto: agregados redondos e lisos facilitam a mistura e o adensamento do concreto; agregados com superfícies ásperas aumentam a resistência à tração (ALMEIDA, 2002). Os agregados grossos são, em geral, utilizados como ingrediente na fabricação do concreto, ou como constituinte de estradas. Devem reagir 31 favoravelmente com o cimento e o betume, resistir a cargas pesadas, alto impacto e abrasão severa e ser durável. Por essa razão, foram desenvolvidos testes empíricos e em laboratórios para prever o comportamento desse material. As propriedades testadas são resistência à compressão, absorção de água, resistência à abrasão, abrasividade, comportamento ao polimento, forma dos constituintes e resistência ao intemperismo (OLIVEIRA E BRITO, 1998). Os agregados médios e finos são, em geral, utilizados para preenchimento ou para proporcionar rigidez em uma mistura. Nesse caso, a granulometria, densidade relativa, a forma das partículas (grau de arredondamento e de esfericidade) e a composição mineralógica (presença de minerais carbonáticos, minerais em placas e partículas friáveis como carvão) são parâmetros importantes. Estes agregados podem apresentar seus fragmentos unidos por ligantes como cimento e betume, para uso como concreto hidráulico e betuminoso, respectivamente. Quando os fragmentos são usados, sem ligantes, servem para lastro de ferrovias, filtros e enrocamentos. Devido as características geológicas do território brasileiro, existe uma grande diversidade de rochas utilizadas como agregados. O tipo de rocha utilizada vai depender basicamente da disponibilidade local ou regional (ALMEIDA, 2002). A seguir são apresentados alguns exemplos: a) granito e gnaisse: são utilizadas na maioria dos estados brasileiros. b) basalto: regiões sul e sudeste (bacia do Paraná); c) calcários e dolomitos: Minas Gerais, Goiás, Bahia e norte fluminense; d) lateritas: Região Amazônica e Minas Gerais; e) areia/cascalho: maioria dos estados. 32 3. METODOLOGIA A metodologia utilizada nessa pesquisa consistiu em duas etapas de trabalho onde foram desenvolvidas as seguintes atividades: (a) etapa de campo: consiste no reconhecimento dos tipos de derrames rochosos presentes em cada uma das pedreiras estudadas juntamente com uma análise macroscópica de seu material. Em adição, foram coletados cincos sacos de material rochoso correspondentes a cada cava para posterior realização dos ensaios; (b) etapa de laboratório: foram realizados os ensaios de caracterização do material rochoso bem como a análise petrográfica dos minerais constituintes das mesmas. A necessidade de avaliação das duas frentes de serviço e a comparação entre seus resultados laboratoriais originou-se da maior alterabilidade e fragmentação que a Pedreira “A” apresentou durante a análise macroscópica, possuindo um material mais heterogêneo em virtude do resfriamento mais acelerado do derrame de magma. 3.1. Etapa de Campo Todos os insumos necessários para a realização deste trabalho foram fornecidos gratuitamente pelas Empresas Construtora Continental de São Paulo Ltda. / Construtora Cotrel Pavimentações e Terraplanagem, ambas pertencentes ao Grupo Cotrel. O material pétreo foi coletado da Jazida Boca do Monte localizada na Picada 13 de Maio - Distrito Boca do Monte/RS interseção com a BR 287/RS, como mostra a Figura 3.1. 33 Figura 3.1 - Mapa de Localização da Jazida Boca do Monte Fonte: Google Earth (15/11/2015) 3.1.1. Análise Macroscópica dos Materiais Rochosos A primeira parte da Etapa de Campo foi realizada no dia 15 de setembro de 2015. Caracterizou-se pela descrição macroscópica dos afloramentos rochosos, baseados na normativa da ABNT NBR 7389-2 (Agregados - Análise Petrográfica de Agregado para Concreto Parte-2: Agregado Graúdo) onde se classificou propriedades geológicas como: composição mineralógica, estrutura, textura, micro fraturas, estado e grau de alteração existente, elementos mineralógicos, entre outros. Também houve a verificação de cotas altimétricas e coordenadas geográficas, além de registros dos afloramentos através de fotografias dos mesmos. 3.1.2. Coleta dos Materiais A segunda parte da Etapa de Campo ocorreu no dia 18 de setembro de 2015 e durante o trabalho de campo buscou-se coletar amostras em diferentes níveis dos horizontes do talude da Pedreira “A” a fim de se obter uma amostragem significativa 34 do derrame, uma vez que esta cava apresenta um material com maior índice intempérico. Sendo assim, as amostras foram coletadas em diferentes horizontes, do nível inferior que é a base, chão ou cota mínima da Pedreira “A”, até o nível intermediário da pedreira, local este que já apresentava um alto grau de dificuldade na coleta. A obtenção das amostras em diferentes níveis topográficos da pedreira foi de maior dificuldade na cava “B” visto a presença de uma enorme parede rochosa sem presença de degraus, dessa forma, o material coletado originou-se do repé da parede basáltica. Quantitativamente, foi coletado 80 kg de rocha correspondentes a cada pedreira, este material foi armazenado em sacos brancos com sua devida identificação e posteriormente levados ao laboratório para a realização dos ensaios de caracterização. A Figura 3.2 apresenta o material coletado durante o transporte para o laboratório. Figura 3.2 - Material Coletado das Pedreiras Sendo Transportado Para o Laboratório 3.2. Etapa de Laboratório Para Frascá e Frazão (apud ALMEIDA E LUZ, 2009), a caracterização tecnológica e ensaios de alterabilidade das rochas para futura utilização em obras de engenharia envolvem uma variada gama de ensaios e testes que possuem o objetivo de obter parâmetros químicos, físicos, mecânicos e petrográficos do material rochoso. Esses procedimentos podem ser normatizados por diversos 35 órgãos, porém, o presente trabalho irá basear-se pelas normas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e também pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), como mostra a Tabela 3.1. Tabela 3.1 - Normas Brasileiras e Internacionais Existentes para Avaliação das Propriedades Tecnológicas do Presente Trabalho. Propriedades Concreto Pavimentos Granulometria Índice de Forma Índice de Lamelaridade Absorção Graúdo Massa Específica Graúdo Massa Específica Miúdo Massa Unitária Abrasão Los Angeles Sanidade Lâmina Petrográfica Esmagamento Graúdo Compressao Puntiforme NBR NM 248 NBR 7809/1983 np NBR NM 53/2009 NBR NM 53/2009 NBR NM 52/2009 NBR NM 45/2006 NBR NM 51/2001 np NBR 12768/92 NBR 9938/2013 np DNER-ME 083/98 DNER-ME 086/94. DAER/RS - EL 108/01 DNER-ME 195/97 DNER-ME 195/97 DNER-ME 194/98 DNER-ME 152/95 DNER-ME 035/98 DNER-ME 089/94 DNER - IE 006/94 DNER-ME 197/97 ISRM - 1985 Notas: np= não pertinente. 3.2.1. Ensaios de Caracterização Geotécnica Na parte inicial da etapa de trabalhos laboratoriais foram realizados os ensaios de caracterização do material rochoso bem como a análise petrográfica dos minerais constituintes das mesmas. 3.2.1.1. Granulometria Uma vez que as amostras coletadas das pedreiras consistiam em materiais resultantes da desagregação da parede rochosa por parte dos explosivos e não submetidos a qualquer processo de britagem por parte da pedreira, houve a 36 necessidade de diminuição na graduação dos mesmos para haver a possibilidade de realização dos ensaios de caracterização, pois no momento da coleta a praça de britagem da empresa estava em processo de construção. Com o auxílio do britador presente no laboratório LMCC (Figura 3.3), regulouse a mandíbula do britador com uma abertura intermediária e então foi realizada a britagem de aproximadamente 10 kg de material rochoso, com o intuito de se obter a curva granulométrica do material e a determinação de suas características físicas. Figura 3.3 - Britador Utilizado para Diminuir a Graduação dos Materiais O peneiramento manual deste agregado e dos demais que se sucederam no decorrer dos ensaios, foi realizado baseando-se na norma da ABNT NBR NM 248/2013 (Agregados – Determinação da Composição Granulométrica), no qual foram utilizadas peneiras das séries normais e intermediárias através da sequência de malha adotada em ordem crescente da base para o topo, com o fundo adequado ao conjunto. A sequência de malha quadrada foi adotada com base na norma DNITES 141/2010 (Pavimentação – Base Estabilizada Granulometricamente: Especificação de serviços), uma vez que este material posteriormente à britagem seria transformado em brita graduada simples, havendo a possibilidade de ser utilizado como camada de base para pavimentação, além da necessidade de classificação da curva granulométrica para ensaios posteriores. 37 Uma vez que a massa da fração de partículas retida em cada peneira foi determinada e comparada com a massa total da amostra, a distribuição é expressa como porcentagem em massa de cada tamanho de malha de peneira. Determina-se assim, o traçado da curva granulométrica para cada fração e, dessa forma, apresenta-se a distribuição granulométrica dos materiais. A Figura 3.4 apresenta a subdivisão da graduação em algumas classes, afim de melhor classificação com relação à curva encontrada. Figura 3.4 - Representação Convencional de Curvas Granulométricas. Fonte: Bernucci et al. (2008) 3.2.1.2. Índice de Forma e Índice de Lamelaridade. Para a determinação do Índice de Forma do material, inicialmente houve a necessidade de redução da amostragem presente no laboratório através da normativa NBR NM-27/2001 (Agregados – Redução da Amostra de Campo para Ensaios de Laboratório). O segundo passo foi garantir a secagem em estufa do agregado até atingir massa constante e iniciar a aferição das medidas de cada agregado conforme a ABNT NBR 7809/1983 (Agregado Graúdo – Determinação do Índice de Forma pelo Método do Paquímetro). Com relação à graduação e 38 dimensões do material ensaiado, foram medidos os materiais retidos nas peneiras de abertura: 25 mm; 19 mm; 12,5 mm e 9,5 mm. O índice se baseia na medida da relação entre o comprimento e a espessura dos grãos do agregado, permitindo avaliar a qualidade de um agregado graúdo em relação à forma dos grãos, como é exemplificado na Figura 3.5, sendo “c” o comprimento de um grão (maior dimensão possível de ser medida e define a direção do comprimento) e “e” a espessura de um grão (maior distância possível entre dois planos paralelos à direção do comprimento do grão). Figura 3.5 - Dimensões do Agregado Ensaiado O Índice de Lamelaridade em vigência pela norma DAER/RS - EL 108/01 (Determinação do Índice de Lamelaridade) nos permite classificar o agregado conforme sua lamelaridade, porem, para ser uma partícula lamelar a espessura do agregado deve ser menor que 0,6 da sua dimensão nominal (média das aberturas das peneiras limites da fração onde a partícula ocorre). O ensaio compreende em passar as partículas de cada fração na abertura correspondente da placa de lamelaridade (vide Figura 3.6), classificando-a em dois grupos: as passantes e as retidas. Na sequência, deve-se determinar o peso das partículas que passaram em cada fração, em suma, o índice de lamelaridade corresponde ao quociente da massa das partículas lamelares passantes na grade pela massa total da amostra, expressando esse valor em percentagem. 39 Figura 3.6 - Grade de Lamelaridade 3.2.1.3. Absorção do Agregado Graúdo / Massas Específicas A porosidade de um agregado graúdo é normalmente indicada pela quantidade de água que ele absorve quando imerso, já a sua absorção é o aumento de massa do agregado devido ao preenchimento de seus poros permeáveis por água (vide Equação 3.1). Descrito na norma NBR NM 53:2009 (Agregado Graúdo – Determinação de massa específica, massa específica aparente e absorção), a determinação da absorção do agregado graúdo permite estabelecer parâmetros como massas específicas real e aparente dos agregados. = ( ) ∗ 100 (3.1) Onde: a= Absorção de água, (%). B= Massa da amostra na condição saturada superfície seca, (g). A= Massa da amostra seca, (g). A massa específica do agregado em condição seca, é determinada considerando-se o material como um todo sem descontar os vazios, avaliando sua forma aparente. É definida através do quociente entre a massa do material em estado seco pelo volume do agregado, que nada mais é que o volume do agregado 40 sólido em adição ao volume dos poros permeáveis. Deve ser lembrado que a massa específica se refere somente ao volume de partículas individuais e que não é fisicamente possível compactar essas partículas sem que exista vazios entre elas. Para a obtenção da massa específica aparente geralmente expressa em g/cm³, divide-se a massa em condição seca pelo volume real, que é constituído do volume dos sólidos desconsiderando-se o volume de quaisquer poros ou capilares que são preenchidos pela água após embebição de 24 horas. Com relação ao procedimento para obtenção da massa específica na condição de superfície saturada seca é definido pela norma NBR NM 53:2009, que apresenta todos os ensaios citados neste item baseando-se nas determinações de massa de três amostras: (A) condição seca; (B) condição superfície saturada seca; (C) imerso em água – condição saturada, como apresenta a Figura 3.7. Figura 3.7 - Procedimentos Necessários Para a Obtenção das Massas Específicas e Absorção do Agregado Graúdo A fração miúda do agregado inicialmente britado também deve ser ensaiada baseando-se na norma NBR NM 52/2006 (Agregado Miúdo – Determinação de massa específica e massa específica aparente) cujo ensaio realiza-se conforme Figura 3.8 e origina valores de massa específica do agregado na condição seca. 41 Figura 3.8 - Ensaio Realizado para Determinação da Massa Específica 3.2.1.5. Massa Unitária A massa unitária é definida pela NBR NM 45:2006 (Agregados – Determinação da Massa Unitária e Volume de Vazios – Método C) como a relação entre a massa não compactada do material e o seu volume. Esta difere da massa específica real, que representa a massa absoluta, sem considerar a presença dos vazios. A massa unitária depende do nível de compactação do agregado e, portanto, para um material com determinada massa específica, a massa unitária dependerá da granulometria e da forma das partículas. Partículas de uma única dimensão podem ser compactadas até certo limite, mas partículas menores podem ser adicionadas aos vazios entre as maiores, aumentando assim, a massa unitária. A Figura 3.9 exemplifica um recipiente utilizado para o cálculo da massa unitária. 42 Figura 3.9 - Recipiente Utilizado para Ensaio de Massa Unitária (Pedreira “A”) O cálculo para a obtenção da massa unitária está representado na Equação 3.2 e a fórmula para a determinação do índice de vazios na Equação 3.3. = (3.2) Onde: = Massa unitária do agregado, (kg/m³). V = Volume do recipiente, (m³) = massa do recipiente com o agregado, (kg). = massa do recipiente vazio, (kg). = {( ∗ ∗ ) !} Onde: Ev= índice de volume de vazios nos agregados, (%). # = massa específica relativa do agregado seco, (kg/m³). = massa unitária média do agregado, (kg/m³). (3.3) 43 $= massa específica da água, (kg/m³). 3.2.1.6. Resistência à Abrasão Los Angeles Uma rocha será tanto mais desgastável ou abrasível, quanto menor for a dureza dos seus minerais constituintes e do grau de compacidade da rocha. O desgaste à Abrasão Los Angeles é a propriedade que a rocha possui de resistir à remoção de constituintes de sua superfície. Quanto maior for o percentual de massa perdida, mais desgastável é a rocha. No presente ensaio, regido pelas normas NBR NM 51/2001 (Agregado graúdo - Ensaio de abrasão "Los Angeles") e DNER-ME 035/98 (Agregado graúdo - Ensaio de abrasão "Los Angeles"), os agregados são submetidos a algum tipo de degradação mecânica e posteriormente ocorre a medição quantitativa da alteração ocorrida ao final da degradação. A representatividade desse ensaio está intimamente ligada à graduação do material ensaiado, assim, de posse da graduação da amostra, se encaixa na tabela presente em ambas as normas de modo a obter a quantidade de material necessária e sua fração pertencente juntamente com o número de rotações necessárias do tambor. Fixada a graduação B a ser utilizada no ensaio, ocorreu a pesagem das massas parciais deste material, obtendo-se assim a massa da amostra seca antes do ensaio. Posteriormente, se introduziu o agregado e as esferas no tambor induzindo impactos nas partículas para as 500 revoluções desta máquina à velocidade de 30 a 33 rpm, a Figura 3.10 exemplifica o equipamento usado no ensaio. O desgaste que é convencionalmente expresso pela porcentagem, em peso, do material que passa após o ensaio, conforme a Equação 3.4. %&% = ' ' ' ( 100 Onde: ALA = Abrasão “Los Angeles” da graduação escolhida, (%). M= Massa total da amostra seca, colocada na máquina, (g). M = Massa da amostra lavada e seca, após o ensaio, (g). (3.4) 44 Figura 3.10 - Tambor Utilizado Para o Ensaio 3.2.1.7. Alterabilidade (Sanidade). Alguns agregados que inicialmente apresentam boas características de resistência podem sofrer processos de desintegração química quando expostos às condições ambientais no pavimento. A característica de resistência à desintegração química é quantificada através de ensaio que consiste em atacar o agregado com solução saturada de sulfato de sódio ou de magnésio aumentando a desintegração da amostra simulando o efeito do tempo, conforme método DNER-ME 089/94 (Agregados - Avaliação da durabilidade pelo emprego de soluções de sulfato de sódio ou de magnésio). A Figura 3.11 apresenta alguns elementos do ensaio. 45 Figura 3.11 - Ensaio de Sanidade com Agregado da Pedreira "A” O ensaio ocorre em cinco ciclos de imersão do agregado na solução permanecendo submerso de 16 a 18 horas, seguidos de secagem em estufa até a constância de peso. Com base na análise granulométrica do material, a amostra ensaiada foi constituída por 300 g de material retido na peneira Nº 4, 330 g de agregado retido na peneira 3/8” e 670 g de material retido na peneira 1/2”. A Equação 3.5 introduz a fórmula para o cálculo da alterabilidade do material. += ( ∗ ) (3.5) Onde: S= perda de massa, (%). A= % retida das frações da composição granulométrica, (%). B= média ponderada entre o peso da fração da amostra antes e depois do ensaio, (%). 3.2.1.8. Lâmina Petrográfica A descrição microscópica é feita através da análise em lâmina delgada que deverá indicar características como granulação, textura e estrutura, composição 46 mineralógica, modos de ocorrência e minerais secundários. Também deve indicar o estado e o estágio de alteração dos minerais primários, os diferentes tipos de microfissuras e suas densidades, presença de vazios ou poros, natureza dos materiais, sílica na forma amorfa, presença de vidros vulcânicos, e minerais do tipo expansivo. Análises petrográficas mais detalhadas, como a de lâmina delgada, devem ser mais utilizadas na prática da pavimentação, uma vez que a quantidade de informações obtida é elevada e de grande importância. Este tipo de método é extremamente difundido quando ensaiadas rochas ornamentais (NBR 12.768/92 - Rochas para Revestimento, Análise Petrográfica) onde há a necessidade de durabilidade da cor nas placas de revestimento, esta, que está diretamente ligada a presença de minerais que se decompõem facilmente liberando substâncias que mancham as rochas, comprometendo não só o material de revestimento esteticamente, mas também em sua durabilidade. Para o meio rodoviário, a norma em vigência para o ensaio de lâmina petrográfica é a DNER- IE 006/94 (Materiais Rochosos Usados em Rodovias – Análise Petrográfica), seus principais parâmetros apresentados na descrição petrográfica são: identificação dos minerais, análise quantitativa dos minerais, textura e estruturas, granulometria, relação entre grãos e alteração de minerais. A descrição da rocha se inicia em campo, onde devem ser observados com o auxílio de um geólogo os seguintes aspectos da rocha: composição mineralógica, cor, granulometria, homogeneidade, estruturas, grau de fraturamento e de alteração. A amostragem da rocha em campo é muito importante para a confiabilidade e boa representatividade dos resultados obtidos durante a fase de caracterização. A Figura 3.12 apresenta alguns materiais utilizados para a fabricação e leitura do ensaio de lâmina petrográfica. 47 Figura 3.12 - Confecção das Lâminas Delgadas. 3.2.1.9. Resistência ao Esmagamento de Agregado Graúdo A norma NBR 9938/2013 (Agregados — Determinação da resistência ao esmagamento de agregados graúdos — Método de ensaio) avalia o desempenho do agregado ao desgaste pelo atrito interno simulando compressão imposta pelos rolos compactadores durante a construção ou posteriormente, no próprio pavimento construído, sendo ainda mais aplicável para áreas de estacionamentos de equipamentos de grande porte, como no caso dos aeroportos ou parques industriais. Os grãos compreendidos entre as peneiras de abertura 9,5 mm e 12,5 mm, previamente peneirados e secos, são pré-compactados num cilindro de aço rígido por meio de um soquete, em seguida, este material deve ser submetido a uma carga uniforme de 400kN à razão de 40kN por minuto, como é exemplificado na Figura 3.13. 48 Figura 3.13 - Material Utilizado para o Ensaio de Esmagamento. A resistência do agregado ao esmagamento (ESM) é determinada pela Equação 3.6. + = − . / 100 (3.6) Onde: ESM= resistência do agregado ao esmagamento, (%). = massa inicial da amostra seca antes do ensaio, (g). . = massa final do material retido na peneira 2,4 mm, (g). 3.2.1.10. Compressão Puntiforme O ensaio de resistência à compressão puntiforme foi realizado de acordo com o método proposto pela ISRM - “International Society of Rocks Mechanics” (1985). Nesse ensaio as amostras de rocha secas e saturadas são carregadas pontualmente através de dois cones metálicos e sua ruptura é provocada pelo desenvolvimento de fraturas de tração paralelas ao eixo de carregamento, conforme mostra a Figura 3.14. 49 Figura 3.14 - Rochas da Pedreira "A" sendo Ensaiadas. No presente ensaio podem ser testados não só provetes cilíndricos comprimidos diametralmente, mas também axialmente, e ainda provetes com outras formas, regulares ou irregulares desde que obedeçam aos critérios inferidos nas normativas e apresentados na Figura 3.15. Figura 3.15 - Relação das Dimensões dos Provetes. O índice de resistência à carga pontual é padronizado para um diâmetro de 50 mm e para se obter esse valor é necessário calcular o valor do índice de resistência à carga pontual e multiplicar por um fator de correção, que é função da relação entre o diâmetro da amostra e o diâmetro padronizado (50 mm), utilizando as Equações 3.7, Equação 3.8 e Equações 3.9. 12 (3 ) = 4∗5 67 (3.7) 50 9=: #; < 50 (#6 ). = ,>3 >∗@∗ A Onde: F= Fator de correção de tamanho. De= Diâmetro equivalente, (mm²) P= Carga de ruptura, (N) 12 (3 ) = Índice de resistência corrigido, (MPa). (3.8) (3.9) 51 4. ESTUDO DO CASO Neste capitulo serão apresentadas a identificação e caracterização regional da área de estudo escolhida; a análise dos resultados da caracterização geotécnica das pedreiras e a análise comparativa entre pedreiras da região. 4.1. Identificação e Caracterização Regional da Área de Estudo O município de Santa Maria apresenta uma área com aproximadamente 1.781,75 km² situada no centro geográfico do Estado do Rio Grande do Sul, entre as encostas da Serra Geral e a Depressão Central Gaúcha (Depressão Periférica), distante 290 km de Porto Alegre, possuindo uma população estimada de 276.108 habitantes (IBGE, 2015). A cidade se encontra inserida no domínio morfoestrutural dos depósitos sedimentares quaternários com subdomínio morfoestrutural dos depósitos sedimentares interioranos. Os depósitos sedimentares quaternários compreendem amplas superfícies, geralmente planas e baixas, resultantes da acumulação de sedimentos arenosos e areno-argilosos, depositados em ambientes marinhos, fluviais, lagunares, eólicos e colúvio-aluvionares. O município de Santa Maria caracteriza-se por um relevo diversificado típico da transição entre a Depressão Periférica Sul-Rio-grandense e o Planalto da Bacia do Paraná. No contato entre essas duas zonas, encontra-se o Rebordo do Planalto, profundamente dissecado e constituído por escarpas e morros, com seus testemunhos mantidos por camadas de rochas vulcânicas da formação Serra Geral, intercaladas por arenitos “intertraps” da formação Botucatu ou Caturrita. Mercê de sua localização geográfica no sopé do Planalto Sul-rio-grandense, amplo domínio de rochas basálticas e riodacíticas, esta cidade dispõe de diversas pedreiras comerciais instaladas a poucos quilômetros do centro da área urbana. Os materiais utilizados para o presente trabalho pertencem a uma destas pedreiras comerciais, denominada Jazida Boca do Monte localizada na Picada 13 de Maio/RS. O substrato em torno da jazida estudada é formado essencialmente por rochas ígneas da Formação Serra Geral, basaltos e riolitos, sua sequência inferior 52 tem uma constituição que varia de basalto a andesito. Admite-se a existência de cinco derrames sendo que o primeiro assenta por vezes diretamente sobre a Formação Caturrita, estes derrames formam corpos tabulares, mas não necessariamente contínuos e de mesma espessura, inexistindo em alguns lugares. O acesso a esta área, a partir da sede do município, se dá pela Rodovia Federal BR-287, percorrendo a partir desta pela Estrada Municipal de acesso ao Distrito de Boca do Monte, seis quilômetros até a sede do distrito e aproximadamente um quilômetro até o local, pela Estrada Municipal de acesso a localidade de Lageadinho, como pode ser observado na Figura 4.1. Figura 4.1- Mapa de Localização de Cada Pedreira. Fonte: Google Earth (15/12/2015) O presente estudo engloba a caracterização qualitativa do material de duas pedreiras, localizadas num mesmo maciço rochoso. Como mostrado na Figura 4.1 denominou-se Pedreira “A” como sendo a cava detentora da maior altitude em relação ao nível do mar, sendo ela 161 metros e coordenada geográfica UTM: 22J 53 0216599 / 6718444 e classificou-se como Pedreira “B” a cava que possui cota altimétrica de 154 metros e coordenada UTM: 22J 0216606 / 6718443. 4.2. Apresentação e Análise dos Resultados Neste item serão apresentados e analisados os resultados dos ensaios de caracterização de ambas as pedreiras, bem como sua comparação com outras pedreiras da região. 4.2.1. Jazida Boca do Monte – Pedreira “A” e “B” Como dito anteriormente, a região do Distrito Boca do Monte se caracteriza pela existência de uma série de derrames vulcânicos. Estas lavas vulcânicas percolaram por entre as juntas e fendas dos derrames antecessores, formando rochas magmáticas intrusivas. A intrusão resultante pode ser classificada como Sill e apresenta uma posição horizontal com superfícies paralelas e relativamente pouco espessas, este derrame é mais bem observado na parede rochosa da Pedreira “A”. O corpo do derrame das rochas intrusivas é de pequenas espessuras de lava, o que provoca um rápido resfriamento do magma, e a partir deste resfriamento ocorre a retração da parede rochosa gerando fraturas ao longo do seu comprimento, fraturas denominadas disjunções verticais. Este faturamento do maciço irá incorporar futuramente ao agregado uma má adesividade, pois a face exposta da parede sempre estará presente em uma ou duas faces do agregado britado. Podendo se tornar ainda mais expressivo se houver percolação da água na parede rochosa provocando uma futura intemperização e oxidação do material. Através da análise macroscópica realizada na presença de um geólogo, também se pôde constatar que a Jazida Boca do Monte apresenta unidades de intenso faturamento horizontal em seu topo e na sua base, chamados de disjunções horizontais e apresenta abertura de aproximadamente 20 cm entre as fraturas. A rocha originalmente apresenta coloração cinza avermelhado, porém, suas paredes rochosas detém uma coloração amarelada, evidência esta de que esta face 54 assentiu à percolação da água permitindo a alteração de seu material, esta alteração ocorre em ambas frentes rochosas da Pedreira “A” e “B” em alguns pontos com maior incidência e em outros com menor incidência. Houve locais da Pedreira “A” que a intemperização era pronunciada até 2 m de profundidade, e se revelava pela fraca resistência de rocha alterada e pelo diaclaseamento paralelo à superfície, oriundo das disjunções. A Pedreira “A” nitidamente apresentou um maior estado de intemperização, sendo uma pedreira em desuso, já apresentava sinais de vegetação presente e argilominerais no topo de sua face rochosa. À olho nú, as rochas possuem uma textura de grãos finos característico do resfriamento acelerado da lava vulcânica, apresentando dificuldade de enxergar seus constituintes, sendo classificada como rocha ígnea intrusiva afanítica muito fina. Quando houve incidência de luz natural em ambas as lâminas delgada, pode-se observar praticamente o mesmo tipo de material e mineral presente, um detalhe de extrema significância detectado na rocha foi a ausência de veios em ambas as pedreiras, representando um ponto positivo e refletindo positivamente na resistência mecânica do maciço. A análise através do microscópio petrográfico possibilitou a visualização de constituintes incolores detentores de um relevo bem baixo, em um segundo momento, pode-se analisar um mineral de cor caramelo apresentando um relevo mais alto e de bordas bem marcadas e um último constituinte amorfo sem forma definida. Posteriormente à esta análise, trocou-se a luz de normal para polarizada, concentrando o feixe de luz na lâmina. O constituinte que possuía relevo baixo e incolor agora se apresenta com variação de cores entre cinza e branco dispondo-se sob forma de ripas, é denominado plagioclásio e apresenta duas fases de formação; o mineral que era castanho claro com bordas bem marcadas apresenta na luz polarizada cores vivas que tendem ao azul e vermelho são os chamados piroxênios e por fim, os minerais amorfos são os que apresentam coloração preta e são caracterizados por óxidos de ferro. Pode-se dizer que o material analisado se classifica como um típico basalto formado por 60% de plagioclásio (dureza 6) pertencente à família dos feldspatos, 30% de augita (dureza 5,5) da família dos piroxênios e 10 % minerais ferrosos como a magnetita (dureza 6,5) e ilmenita (dureza 5,5). 55 A lâmina delgada da Pedreira “A” apresentou os mesmos tipos de constituintes, apenas se difere na porcentagem de cada fração. Foi notória a grande quantidade de alteração intempérica oriunda de uma maior resolução dos óxidos ferrosos (minerais escuros) por parte dos minerais máficos e opacos, que por sua vez percolaram nas fraturas da rocha manchando a superfície dos minerais, apresentando uma maior oxidação da amostra por parte dos mesmos e também pela exolução dos piroxênios, a Figura 4.2 apresenta de forma maximizada a grande quantidade de óxidos ferrosos. Figura 4.2 - Lâmina Petrográfica da Pedreira "A" sob incidência de luz natural. Os ensaios de caracterização dos materiais rochosos se iniciaram através da obtenção da curva granulométrica do material britado de ambas as pedreiras, suas frações retidas e acumuladas se encontram na Tabela 4.1. 56 Tabela 4.1 - Frações Granulométricas das Pedreiras Estudadas. Pedreira "A" Peneiras Abertura Retido Retido Passando (mm) (g) (% ) (% ) 2'' 50 0 0% 100% 1'' 25 185,2 1,68% 98,32% 3/4'' 19 2044,1 18,54% 79,79% Pedreira "B" Retido Retido Passando (g) (% ) (% ) 0 0,00% 100% 721,2 5,87% 94,13% 3553 28,93% 65,20% 1/2'' Nº 4 Nº 10 Nº 40 Nº 200 12,5 4,75 2 0,425 0,075 Fundo Total: 3765,6 1691,5 823,1 630,7 355,1 34,15% 15,34% 7,46% 5,72% 3,22% 45,64% 18,78% 11,32% 5,60% 2,38% 3139 1598 737 524,2 433,6 25,56% 13,01% 6,00% 4,27% 3,53% 39,64% 15,86% 9,86% 5,60% 2,06% 262,3 11028 2,38% 100% 0,00% 253,6 2,06% 0,00% 12282 100% Por meio de uma análise mais específica, notamos que a britagem do material “A” produziu 54,4% de brita Nº 2; 26,9% em brita Nº 1 e 18,8% em pó de pedra. Em contrapartida, a Pedreira “B” gerou 60,4% do material britado em brita Nº 2; 23,8% em brita Nº 1 e 15,9% em pó de pedra. Pode-se perceber que as frações dos materiais ensaiados possuem grande semelhança de graduação, fato este relevante uma vez que ambos foram britados no britador mecânico do LMCC sem nenhuma central de controle que garantisse a devida abertura da mandíbula do britador. De posse dos valores passantes, gerou-se as referentes curvas granulométricas, como mostra a Figura 4.3. Ambas as curvas granulométricas apresentam graduação aberta, que consiste em uma distribuição granulométrica contínua, mas com pequena insuficiência de material fino para preencher os vazios entre as partículas maiores, resultando em maior volume de vazios exigindo uma maior quantidade de água e cimento, aumentando o custo de produção caso esse material fosse utilizado para fins de construção. 57 Curvas Granulométricas Pedreira "A" 100% Pedreira "B" Porcentagem Passante 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0,01 0,1 1 Abertura das Peneiras (mm) 10 Figura 4.3 - Curvas Granulométricas das Pedreiras. A forma dos fragmentos obtidos no agregado britado depende, em grande parte da presença e distribuição de superfície de fácil separação como os planos de fratura, xistosidades, disjunções. Se tais elementos faltarem, as possibilidades de fratura serão as mesmas em todas as direções, produzindo fragmentos equidimensionais. Pode-se perceber, através da Tabela 4.2, que as disjunções presentes no maciço rochoso influenciam diretamente na britagem do agregado, que se fratura em formatos mais lamelares, como pode ser observado nos resultados obtidos para o índice de forma que em quase todas as peneiras atinge o valor de 2,5, caracterizando um material com forma mais alongada e lamelar típica de rochas vulcânicas em virtude do fluxo horizontal que a lava gera após o derrame vulcânico. Tabela 4.2 - Resultados Obtidos para os Ensaios de Forma dos Agregados. Pedreira "A" Pedreira "B" Peneiras # 1" #3/4" #1/2" #3/8" #1/4" IF 2,77 2,67 2,91 2,36 3,70 IL (% ) 40,85 20,06 23,12 7,77 22,67 IF 2,64 2,98 3,17 2,48 3,6 IL (% ) 17,61 16,63 22,93 18,42 31,18 Obs: IF= Índice de Forma; IL= Índice de Lamelaridade. 58 Os agregados com grãos de forma cúbica, forma ideal para agregados britados, terão índice de forma próximo de um, no caso dos grãos lamelares ou formato não-cúbico, apresentarão valores mais elevados, sendo considerado aceitável o limite de 3. De uma maneira geral, considera-se que as partículas de elevada esfericidade, porém angulosas, são as mais desejáveis, isto é, as partículas mais indesejáveis são as lamelares e alongadas. Portanto, a percentagem de partículas lamelares deve ser limitada a 40% da amostra, o que seria um problema para a peneira de maior abertura da Pedreira “A”, a qual apresentou 40,85% de material lamelar, estando desclassificada para futuros usos. Vale ressaltar que a forma das partículas britadas varia com o seu tamanho, ou seja, partículas de menores dimensões como no caso dos agregados miúdos, apresentam tendência a serem mais lamelares. Este é o caso da última peneira ensaiada, onde os agregados das Pedreiras “A” e “B” excedem o valor do índice de forma permitido em 23,3% e 20%, respectivamente. Os resultados dos ensaios realizados referentes à resistência mecânica do agregado e de sua degradação química são apresentados na Tabela 4.3. Tabela 4.3 - Resultado dos Ensaios de Resistência Mecânica e Química. Pedreira "A" Pedreira "B" Ensaios Resistência ao Esmagamento (%) 19,70 21,50 Abrasão Los Angeles (%) 27,59 19,13 Resistência à Compressão Puntiforme: Seco (Mpa) 7,20 7,73 Resistência à Compressão Puntiforme: Saturado (Mpa) 4,54 7,40 Sanidade (%) 24,58 8,71 Os limites de aceitação para a abrasão Los Angeles dependem do tipo de aplicação do agregado e das exigências dos órgãos viários. Em revestimentos asfálticos, é desejável uma resistência ao desgaste relativamente alta, indicada por uma baixa abrasão. As especificações brasileiras que envolvem o uso de agregados em camadas de base e revestimento de pavimentos, normalmente limitam o valor máximo da abrasão Los Angeles entre 40 e 55%. No caso de basaltos com abrasão maior do que 20%, denota-se certo estado de alteração, como é o caso da Pedreira 59 “A”. Durante sua descrição macroscópica, esta pedreira apresentou parede rochosa mais fragmentada possuindo um maior número de disjunções e de planos de fraqueza que possivelmente se desagregaram sob a incidência das esferas metálicas. Como se localizam no mesmo maciço rochoso, possuem os mesmos minerais constituintes detentores da mesma dureza, todavia, podem não apresentar mesmo grau de compacidade. A Pedreira “B” também apresenta um valor de abrasão Los Angeles elevado, caracterizando uma certa alteração em seu material. Porém, devido a sua cota altimétrica inferior, essa pedreira possui frações de rochas mais sãs e mais compactas, se comparados com o material da Pedreira “A”. No que diz respeito aos valores do índice de resistência ao esmagamento, ambos os materiais apresentam traços que os caracterizam por possuir resistência de agregados não fracos cujo valor refere-se à índices menores do que 25%. O ensaio de compressão puntiforme foi realizado na tentativa de se obter uma correlação entre a resistência à compressão puntiforme e os índices físicos das rochas estudadas. Arnold, 1993 (apud GOMES, 2001) advoga que se a razão entre a resistência de corpos de prova imersos e secos ao ar for maior que 0,7, índica que o agregado apresenta esqueleto mineral resistente às solicitações internas gerados pela expansão de seus argilominerais. Desse modo, os valores encontrados para as pedreiras seriam 0,630 e 0,957 para a Pedreira “A” e “B” respectivamente apresentando novamente um mau desempenho nos resultados de caracterização da primeira pedreira. O resultado encontrado para a degradação através de agentes químicos da Pedreira “A” excede em 104% do valor adotado no meio rodoviário que se limita a 12%. O ensaio teve essa precedência negativa pela grande quantidade de óxidos ferrosos encontrados na lâmina petrográfica caracterizando um alto índice intempérico por parte da rocha, que em contato com os agentes químicos degradou seus constituintes ferrosos permitindo a percolação da água. Além da abertura de vazios, anteriormente ocupados pelos minerais amorfos, a água percolou por entre as pequenas fraturas características do resfriamento acelerado do magma, aumentando ainda mais a degradação por parte do agregado ensaiado. O fato não ocorreu em tamanha proporção na Pedreira “B” que se manteve mais compacta pois não apresentava grandes quantidades de óxidos ferrosos e fraturas, fato este que refletiu diretamente do ensaio de sanidade. 60 Uma rocha em seu estado natural se comporta como um conjunto de minerais interligados ocupando um determinado tamanho, constituído pelos minerais e pelos vazios entre eles. A maior ou menor quantidade de vazios gera menor ou maior compacidade da rocha, que refletira num maior ou menor massa especifica e consequentemente, uma maior ou menor porosidade. Agregados constituídos por partículas planas ou alongadas fornecem alta porcentagem de poros, sendo necessária uma maior porcentagem de cimento, agua e areia além de ligantes asfálticos. As frações ensaiadas de malha #1” #3/4” #1/2” da Pedreira “A” apresentaram índice de lamelaridade superiores se comparado às mesmas frações testadas da outra pedreira (vide Tabela 4.2), consequentemente, as amostras demonstraram nestas mesmas peneiras absorções mais elevadas, como pode ser notado na Tabela 4.4. Tabela 4.4 - Resultados dos Ensaios de Absorção e Massas Específicas. Peneiras a (% ) Pedreira "A" Pedreira "B" d (g/cm³) ds (g/cm³) da (g/cm³) a (% ) d (g/cm³) ds (g/cm³) da (g/cm³) # 1" 1,58 2,92 2,84 2,79 1,11 2,95 2,89 2,86 #3/4" 1,67 2,90 2,81 2,77 1,17 2,97 2,90 2,87 #1/2" 1,75 2,91 2,81 2,77 1,06 2,98 2,92 2,89 pó 2,91 2,96 Obs: a= Absorção; d= Massa Específica Agregado Seco; ds= Massa Específica Agregado Saturado Superfície Seca; da= Massa Específica Aparente. As propriedades das rochas são muito influenciadas pela absorção d’água. Rochas com alta absorção e porosidade, apresentam diminuição na massa específica aparente enquanto ocorre uma diminuição de sua resistência mecânica, porém rochas magmáticas intrusivas costumam apresentar baixas porosidade devido às grandes pressões de formação sofridas, fato este apresentado por ambas as pedreiras. A massa específica também é utilizada para classificação do agregado quanto à densidade. Baseando-se na Tabela 4.4, pode-se concluir que a Pedreira “A” detém valores de absorção superiores aos da “Pedreira B”. Estes resultados podem ser justificados através da análise de lâmina delgada. 61 A pedreira que possui cota altimétrica mais elevada também apresenta maiores porções fraturadas de rocha, nestas fraturas localizadas mais superficialmente acaba ocorrendo a percolação da água e assim, os óxidos ferrosos como a magnetita e ilmenita se decompõem originando um maior número de vazios. Esta fração que se tornou mais alterada através de processos intempéricos, pode apresentar formação de alguns argilo-minerais o que aumentaria a absorção do maciço. Rochas basálticas de topo de derrames geralmente apresentam grande quantidade de vesículas e amigdalas que influenciam diretamente na percolação da água podendo apresentar valores de absorção superiores a 2%. Deve-se tomar cuidado com rochas que excedem esse limite, pois essas podem apresentar absorção em demasia. Para agregados graúdos com determinada massa específica, um valor elevado de massa unitária implica a existência de poucos vazios a serem preenchidos pelos agregados miúdos e pelo cimento. Em suma, tem-se como base para valores de massa unitária de rochas basálticas 1323±73 kg/m³, para amostras com diâmetros inferiores à 50,8 mm. A Tabela 4.5 apresenta os resultados encontrados para os ensaios de massa unitária e índice de vazios. Tabela 4.5 - Valores Referentes aos Ensaios de Massa Unitária e Índice de Vazios. Pedreira "A" Pedreira "B" Peneiras MU (kg/m³) IV (% ) MU (kg/m³) IV (% ) #3/4" #3/8" pó 1345,32 1336,50 1690,31 53,64 42,01 1312,18 1383,81 1761,23 55,89 40,51 Obs: MU= Massa Unitária; IV= Índice de Vazios. Tomando como exemplo o seixo mais esférico e arredondado que se possa conseguir, este material irá apresentar um valor de compacidade de 0,67, o que corresponde a um índice de vazios de 33%. Desse modo, o material pulverulento da Pedreira “B” atingiu uma pequena fração de vazios durante o ensaio, se tornando ainda menor do que na Pedreira “A”, pois apresentou uma densidade relativamente maior (vide Tabela 4.4), possibilitando maior compactação entre seus grãos no 62 momento do ensaio. Fato este que se confirmou durante o ensaio, no momento em que uma maior quantidade, em peso de pó, foi colocada no recipiente da Pedreira “B”. Com relação à fração graúda, constatou-se que o Índice de Forma que caracteriza uma fração mais alongada apresentado pela Pedreira “B” (vide Tabela 4.2) influenciou diretamente para o maior número de vazios, tanto que a quantidade em quilos de material necessário para completar o volume do recipiente foi inferior à Pedreira “A”. 4.2.2. Análise Comparativa entre Pedreiras da Região. Através da obtenção de ensaios de caracterização realizados pelos LMCC em pedreiras da região de Santa Maria, procurou-se obter uma relação entre os derrames que ocorreram nesta localização geográfica, bem como tentar entender o tipo de maciço encontrado nas Pedreiras da Sultepa e da Brita Pinhal, ambas jazidas adicionadas ao trabalho. A Tabela 4.6 apresenta os resultados dos ensaios de alguma das pedreiras da Região de Santa Maria. Tabela 4.6 - Resultado de Ensaios de Caracterização de Algumas Pedreiras da Região. Pedreira "A" Pedreira "B" Sultepa Pinhal Ensaios Abrasão LA - Faixa "B" (%) 27,59 19,13 13,20 15,00 Sanidade (%) 24,58 8,71 2,863 Indice Forma - Graúdo 2,67 2,98 2,92 Massa especifica aparente (g/cm³) 2,77 2,87 2,48 Massa especifica real (g/cm³) 2,90 2,97 2,65 Absorção (%) 1,67 1,17 2,69 O percentual de perda por abrasão apresentado nas Pedreiras Sultepa e Pinhal são nitidamente inferiores aos da Jazida Boca do Monte, fato que permite a interpretação de que ambas as paredes rochosas apresentam menores índices de 63 alteração e fragmentação, possivelmente sem disjunções e planos de fraqueza, caracterizando derrames rochosos mais sãs. Muito possivelmente, as pedreiras da Sultepa e Pinhal foram originadas por derrames vulcânicos extrusivos que agregam à rocha uma textura fina, devido ao rápido resfriamento do magma na superfície exposta. Porém, se o derrame possuir uma grande espessura é provável que a parte central de seu maciço apresente constituintes mais grossos e uma melhor qualidade mecânica frente aos ensaios de caracterização, já que apresentaram excelentes resultados de resistência à abrasão. Derrames oriundos da mesma lava são rochas mais homogêneas, todavia, sendo ígneas extrusivas, as rochas acabam por não sofrer pressões de compressão por parte das camadas sucessoras, gerando um material com menor compacidade e maior absorção. Este fato pode ser nitidamente identificado na Tabela 4.6, a qual apresenta valores de absorção excedentes aos 2%, caracterizando assim infiltração de água em demasia no material. A Pedreira da Sultepa não possui valores de absorção arquivados, mas o alto índice de forma obtido nas amostras ensaiadas pode denotar uma elevada quantidade de poros e, possivelmente, uma absorção acentuada. A cor cinza que apresenta os agregados da Sultepa e Brita Pinhal impossibilita a análise a olho nú dos minerais constituintes da rocha, possuído uma textura afanítica comumente encontrada em rochas extrusivas. Essa ausência de demais tonalidades mostra o quão sã é a rocha de ambas as pedreiras, sendo evidente a ocorrência de pouco ou nenhum tipo de intemperismo nas amostras ensaiadas. A ausência de intemperismo denota que óxidos ferrosos talvez não façam parte da constituição dos minerais presentes nessas jazidas, consequentemente, apresentam excelente resistência aos ensaios químicos como no caso da alterabilidade (sanidade). 64 5. CONCLUSÃO De posse dos resultados obtidos nos ensaios de caracterização das pedreiras pertencentes à Jazida Boca do Monte realizados no laboratório LMCC, pode-se afirmar que mesmo pertencendo ao mesmo maciço rochoso a Pedreira “A” apresenta uma rocha com alto índice intempérico e consequentemente possui demasiada alterabilidade na rocha, além da presença de planos de fraturas e diaclases. As propriedades que esta rocha detém são de baixo valor econômico, uma vez que a mesma apresenta características insuficientes, possuindo baixa resistência mecânica e abrasiva, forma do agregado lamelar e alongada, além de um péssimo desempenho no combate às reações químicas. Todavia, algumas destas características podem trazer benefícios ao maciço em questão. Suas inúmeras fraturas agregam à rocha uma menor necessidade de explosivos e consequentemente diminuem o custo unitário do metro cúbico do agregado. Em contrapartida, a Pedreira “B” apresentou desempenho muito mais satisfatório do que o esperado, porém, comparando suas propriedades com as demais jazidas da região, estas acabam por deixar a desejar em praticamente todas as propriedades. Vale ressaltar que a Brita Pinhal além de apresentar um derrame mais espesso e consequentemente zonas mais sãs, seu material pétreo também detém um carácter relativamente ácido, porém, sua excessiva absorção denota um maior consumo de cimento e betume. Em suma, não se pode desconsiderar alguns itens positivos dessa jazida, como a ausência de vidro vulcânico que apresenta alta reatividade e alterabilidade e também a inexistência de vesículas que são típicas de rochas basálticas. A porção “A” não possui muitas possibilidades de utilização na construção por deter má qualidade, contudo, uma rocha com elevada dureza e fraturamento pode ser empregada na construção de poços artesianos. É pertinente a realização de novos ensaios após a retirada da atual parede rochosa, pois como a pedreira se encontra em desuso, as ações intempéricas dominaram a face exposta. Com relação à Pedreira “B”, seu material abrange maiores utilizações em obras da engenharia tais como reforço de subleito, sub-base e base de pavimentos, lastro, enrocamento e até mesmo revestimentos asfálticos. Porém, para um correto 65 consumo deste material é necessário a realização de ensaios mais específicos tais como adesividade, compressão uniaxial, entre outros. Por fim, para a realização de um correto controle tecnológico do material rochoso, é imprescindível a coleta de amostras representativas ao derrame em questão, o cuidado deve ser redobrado quando coletada as amostras das quais se originarão as lâminas delgadas. Visando uma adequada caracterização do material pétreo bem como o monitoramento da qualidade do agregado, é fundamental a presença de laboratórios localizados nos interiores das jazidas, garantindo o devido controle de qualidade durante as operações de britagem e assegurando que as propriedades físicas dos agregados não variem excessivamente. 66 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______ABNT. Rochas para Revestimento, Análise Petrográfica "- NBR 12.768/92. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1992. _______ABNT. Agregados - Análise Petrográfica de Agregado para Concreto Parte2: Agregado Graúdo - NBR 7389-2. Associação Brasileira de Normas Técnicas. _______ABNT. Agregados - Determinação da Composição Granulométrica - NBR NM 248/13. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2013. _______ABNT. Agregados - Determinação da Massa Unitária e Volume de Vazios – Método C - NBR NM 45/06. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2006. _______ABNT. 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