Maria e a mulher do Apocalipse 1. Refrão de música: Uma mulher no céu foi vista. (bis) / De doze estrelas coroada,/ Toda vestida de sol/ e com a lua calçada (bis) 2. Texto: O livro do Apocalipse está repleto de símbolos e de figuras que nos assustam. Ele se assemelha a um sonho. Quando a gente sonha, as coisas parecem sem nexo. As pessoas, os lugares, as pessoas, os fatos aparecem muito diferentes da realidade. Há sonhos que primam pela beleza. Outros nos metem medo e terror. Nos sonhos a pessoa refaz, a partir do seu inconsciente, as suas memórias passadas, as suas experiências presentes, seus desejos e suas esperanças. Não é fácil compreender um sonho, pois a história aparece cercada de enigmas, que necessitam ser interpretados. No sonho, uma mesma imagem diz muitas coisas, dependendo do contexto. A água, por exemplo, pode significar prazer, relação com a mãe, origem, afeto, emoção ou mesmo perigo. Você já deve ter visto certos filmes ou novelas, nos quais a história não segue a linha do tempo. O passado mistura-se com a atualidade e com as possibilidades futuras. Assim também acontece no Apocalipse. Engana-se quem pensa que ele foi escrito para prever o fim do mundo. Na realidade, João se dirige aos cristãos perseguidos pelo império romano, e assediados pelas suas religiões. Então, ele combina imagens do passado, como a da serpente, com a situação atual da comunidade. O Apocalipse pinta a realidade com cores fortes. O autor imagina a história humana como um jogo, uma grande luta entre “o time de Deus” e “o time do Mal”. Do lado de Deus jogam os cristãos que são constantes na sua fé. Lutam para anunciar o nome de Jesus e defender o Bem. Eles contam com o apoio da equipe de Deus, os seus anjos. Do lado do time do Mal jogam as pessoas injustas, o poder político do imperador de Roma e os anjos do Tentador. Olhando à primeira vista, o jogo está feio. O time de Deus está perdendo por uma grande diferença. O outro time mostra muita força. É desonesto e até “comprou” os juizes desse mundo. Ele usa de violência para perseguir e destruir os aliados de Deus. João do Apocalipse nos diz que, apesar disso tudo, o time de Deus vai vencer, pois o capitão, Jesus Cristo, tem nas mãos a chave da vitória. Ele mesmo passou pela experiência da morte. Foi assassinado pelas forças do mal, mas triunfou com a ressurreição (Ap 1,8.17s). Nos bastidores, na concentração, que o autor chama de “céu”, Deus já venceu. Ele é o “dono da bola” da história. Mesmo que o poder do Mal aterrorize, intimide, seduza, engane e mate, tem os seus dias contados. Vai acabar. Resta aos cristãos perseverar, resistir e confiar. Apocalipse 12 começa como um sonho lindo. Um grande sinal aparece no céu: uma mulher com a glória e o poder de Deus, pois está vestida de sol e brilha. Submete os poderes da natureza, pois tem a lua debaixo dos pés. Já recebeu de Deus a certeza da vitória, pois carrega uma coroa de doze estrelas. Mas nem tudo é bonito no sonho. A mulher está grávida, vai dar à luz. Passa por momentos confusos e difíceis, de muita dor, mas sabe que eles são preparação para um novo tempo. Assim é o povo de Deus nesse mundo. Recebe do Senhor glória e poder, para poder gerar o novo na história. Mas experimenta um parto doloroso. Vê-se também aí também a figura de Maria, a mãe de Jesus, que deu à luz ao messias e presenciou o tempo novo do Reino de Deus e da ressurreição de Jesus (Ap 12,1s) O sonho se transforma em pesadelo. Aparece um dragão, um bicho de sete cabeças, cheio de poder e força. Intimida com a violência de dez chifres. Carrega na cabeça um diadema, sinal que é respeitado com uma autoridade. Quer devorar o filho da mulher, como as forças do mal fizeram com Jesus, na sua paixão e morte (Ap 12,3s). Mas agora o Senhor ressuscitado já está junto de Deus. O mal não pode com Ele. A mulher vai para o deserto, onde Deus lhe prepara um lugar e lhe alimenta por um tempo limitado. Quem é a mulher? A Igreja, os seguidores de Jesus que, como Maria, fazem a sua vontade de Deus e dão à luz ao messias (Ap 12,3-6). Enquanto estamos nesse mundo, passamos pelas durezas de deserto. Mas não estamos sós, pois Deus nos alimenta, nos nutre com sua palavra e seu Espírito. O dragão, o chefe do time do Mal, combate com os anjos de Deus e perde a luta, lá nos bastidores (Ap 12,7-9). Deus já venceu a peleja. E os cristãos também, especialmente os que, como Jesus, são capazes até de morrer para ser fiel ao bem e à verdade (Ap 12,11). Mas a luta na terra vai ficar ainda mais intensa (Ap 12,12). A mulher é levada para o deserto, lugar de provação e encontro com Deus. É perseguida de novo pelo dragão, que lhe quer destruir. Mas Deus lhe vem em auxílio (12,13-17). Do ponto de vista teológico, a mulher de Apocalipse 12 é, em primeiro lugar, a comunidade cristã. Mas também se aplica a Maria, mãe do messias e figura perfeita daqueles que aderem a Jesus inteiramente. João Paulo II sublinha, na Encíclica sobre Maria, que há um vínculo especial, que une a Mãe de Cristo à Igreja. Maria, presente na Igreja como Mãe do Redentor, participa maternalmente no duro combate contra os poderes das trevas que se trava ao longo de toda a história humana. Maria glorificada é a imagem realizada da Igreja (RM 47). Muitas vezes nos sentimos como essa mulher no deserto, frágil, desprotegida, cercada pelo poder da maldade, mas envolvida e salva por Deus. O Apocalipse foi escrito para alimentar nossa esperança. Sabemos que, como Maria, recebemos a glória e o poder de Deus. Mas estamos situados num mundo pecador, cheio de violência e de mal. Aliás, cada um de nós carrega um pouco de mulher e de dragão, de bem e mal, de ternura e de violência. À medida que crescemos na fé, na esperança e no amor solidário, vamos passando de forma mais clara para o time de Jesus. Deixamos a arquibancada e entramos no jogo para valer. Maria, nossa mãe e companheira, nos assegura, junto com Jesus, que a vitória será de Deus. Amém! 3. Música ao final: A mulher é a Igreja,/ Sua força é a fraqueza,/ Poder de Deus e assim:/ Neste mundo desterrada/ Sempre a marchar sem parada/ Pras regiões do sem-fim. Salve, ó Virgem Maria,/ Da Igreja modelo e guia,/ Mãe desta gente mestiça!/ A graça do Cristo, teu Filho,/ E a força do Santo Espírito/ Façam reinar a justiça.