Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. Recebido em: 10.04.2012. Aprovado em: 03.07.2012. ISSN 2177-3335 FATORES DE RISCO EM MULHERES COM CÂNCER DE MAMA ATENDIDAS NO CENTRO DE DIAGNÓSTICO NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO EM SANTA MARIA-RS1 RISK FACTORS IN WOMEN WITH BREAST CANCER ASSISTED AT NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DIAGNOSIS CENTER IN SANTA MARIA, RS Aliane Bernardes dos Santos2 e Maria do Carmo Araújo3 RESUMO O câncer de mama é o mais prevalente nas mulheres, sendo a principal causa de mortalidade por câncer na população feminina. Esta doença está associada a vários fatores de risco. Este estudo identificou os principais fatores de risco que estão relacionados com o diagnóstico de câncer de mama em pacientes acompanhadas no Centro de Diagnóstico Nossa Senhora do Rosário em Santa Maria no período de 2000 a 2010. Por meio de um estudo descritivo e quantitativo, foram analisadas as informações de 293 mulheres portadoras de câncer de mama a partir do fichário clínico. Constatou-se a ocorrência de todos os fatores de risco para o câncer de mama já preconizados na literatura. Dentre estes, fizeram-se prevalentes a idade e o uso de anticoncepcional oral. A presença de história de câncer de mama na família foi referida por 26% das mulheres. Os resultados encontrados confirmam dados já referenciados em estudo prévios. O conhecimento destes índices para região de Santa Maria poderá nortear ações educativas para reduzi-los. Palavras-chave: hábitos de vida, população feminina. ABSTRACT Breast cancer is the most prevalent in women and it is the leading cause of cancer mortality among females. This disease is associated to several risk factors. This Trabalho de Iniciação Científica - UNIFRA. Acadêmica do Curso de Farmácia - UNIFRA. 3 Orientadora - UNIFRA. E-mail: [email protected] 1 2 64 Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. study identified the main risk factors that are related to the diagnosis of breast cancer in patients assisted at the Nossa Senhora do Rosório Diagnosis Center in Santa Maria, RS, from 2000 to 2010. Through a descriptive and quantitative study, it is analyzed the information from a clinical file of 293 women with breast cancer. It is noticed the occurrence of all risk factors for breast cancer already mentioned in the specialized literature. Among these, it is prevalent the age and oral use of contraceptive. The presence of a history of breast cancer in the family is mentioned by 26% of women. The results confirm data already referenced in previous studies. The knowledge of these indexes for the region of Santa Maria may guide educational activities to reduce them. Keywords: lifestyle, female population. INTRODUÇÃO O câncer de mama é considerado a mais frequente neoplasia que acomete mulheres em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os fatores de risco são multifatoriais e responsáveis por uma reprodução celular descontrolada e a um rápido crescimento das células cancerígenas na mama, o que muitas vezes tem relação direta com os hábitos de vida das pacientes. Entre os diversos fatores de risco desatacam-se a história familiar, menarca precoce ou menopausa tardia, reposição de hormônios, nuliparidade ou primeira gravidez após 30 anos de idade entre outros. O câncer de mama é relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima dessa faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente (POLLOCK et al., 2006, p.2). Dessa forma, as situações que aumentam as chances de uma pessoa vir a desenvolver uma determinada doença ou sofrer um determinado agravo podem ser encontradas no ambiente físico, ser herdados ou representar hábitos ou costumes próprios de um determinado ambiente social e cultural. A cada ano, cerca de 20% dos casos novos de câncer em mulheres são de mama (INCA, 2010). Em razão disso, é hoje uma doença de extrema importância para saúde pública em nível mundial, motivando ampla discussão em torno de medidas que promovam seu diagnóstico precoce e, consequentemente, a redução em sua morbidade e mortalidade. A frequência de distribuição dos diferentes tipos de câncer apresenta-se variável em função das características de cada região, o que enfatiza a necessidade do estudo das variações geográficas e fatores de risco padrões desta doença perpassando pelas particularidades regionais. Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. 65 Dessa forma, no presente trabalho teve-se como objetivo conhecer quais os fatores de risco com maior ocorrência para o câncer de mama na região de Santa Maria. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo caracteriza-se como descritivo quantitativo e retrospectivo. A amostra foi constituída por 293 mulheres portadoras de câncer de mama encaminhadas pelas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Estratégia da Família ao Centro de Diagnóstico Nossa Senhora do Rosário em Santa Maria, RS, no período compreendido entre 2000 a 2010. Os dados foram obtidos por meio da análise dos prontuários clínicos das pacientes preenchidos no decorrer das consultas com o mastologista. Foram analisadas as variáveis relacionadas aos fatores de risco, para a neoplasia de mama, incluindo a idade das pacientes, a história familiar para o câncer de mama, o uso de anticoncepcional oral, terapia de reposição hormonal, idade da menarca e última menstruação, número de gestações e idade com que teve o primeiro filho, amamentação e uso ou não de álcool e fumo. A análise estatística descritiva dos dados obtidos foi realizada utilizandose o Programa EPINFO VERSÃO 3.32. Este estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, de acordo com o parecer 407.2010.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO A idade das mulheres com a neoplasia mamária segundo a literatura é fator determinante para o prognóstico. No Brasil, segundo dados referentes aos fatores de risco disponibilizados pelo INCA, 2010, a idade média das mulheres com esta neoplasia é de 52,4 anos e o pior prognóstico estaria reservado às mulheres jovens com idade inferior a 35 anos e ou estado de pré-menopausa e também àquelas cujo diagnóstico venha ser estabelecido a partir dos 75 anos e ou pós-menopausa. Na amostra estudada, a idade mínima e máxima observada foi de 27 anos e 96 anos com a idade de média de 54, 4 anos o que evidencia associação positiva entre idade superior a 50 anos e o câncer de mama. Das 293 pacientes analisadas, 75 (25,6%) apresentaram menarca precoce (antes dos 12 anos de idade). A média de idade da menarca foi de 12,5 anos. Essa frequência está de acordo com a encontrada por Pinho e Coutinho (2007), 23,4% e Lamas e Pereira (1999), 29,3%, 66 Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. em estudos com pacientes de Teresópolis (RJ) e Brasília (DF), respectivamente. O risco parece ser mais elevado em meninas que tiveram a menarca aos 16 anos, quando comparadas com aquelas que apresentaram 2 a 5 anos mais precocemente, e estas revelaram maiores riscos de desenvolverem câncer de mama de 10 a 30% (CIBEIRA; GUARAGNA, 2006). A idade média da menopausa na amostra estudada foi de 46 anos. Os dados encontrados neste estudo relacionam-se aos de Oliveira et al. (2008), onde a média de idade foi de 49,1 ± 4,6 anos. De acordo com Vogel (2000), mulheres que entraram na menopausa entre os 45 e 55 anos como grupo referência, mulheres que tiveram a menopausa aos 55 anos ou mais, possuíram 50% mais chances de desenvolverem o câncer de mama, e mulheres que cessaram a menstruação aos 45 anos ou mais jovens tiveram 30% menos chances de desenvolvê-lo. A explicação provável para essa observação seria o elevado nível de estrógenos circulantes, aos que a mulher é exposta entre a menarca e a menopausa. O desenvolvimento da primeira gravidez representa um importante evento no processo de maturação das células da mama, tornando-as potencialmente mais protegidas em relação à ação de substâncias cancerígenas. Porém, um estudo realizado com mulheres de Recife e Fortaleza, após a análise multivariada dos fatores investigados, a idade na última gestação se mostrou mais significativa no risco para a doença do que a idade na primeira gestação, mesmo controlando por esta última, pois muitas mulheres só tiveram um filho (KALACHE et al. 1993). Considerando o histórico reprodutivo das pacientes com câncer de mama, 36 (12,39%) eram nulíparas e 257 (87,7%) tiveram filhos. Dessas, 28 (10,8%) tiveram o primeiro filho após os 30 anos de idade . Estudos realizados na China e Japão onde a lactação prolongada é mais frequente foi evidenciada uma importante redução no risco de desenvolver este tipo de doença, estando associada à maior duração no tempo da lactação (CUNHA, 2001). Porém, no presente estudo, a maioria das pacientes relatou ter amamentado por menos de um ano, sendo que 208 pacientes (80,93%) amamentaram seus filhos e 49 (19,07%) informaram nunca ter amamentado. Numa ampla revisão da literatura, os indícios demonstram que a amamentação pode ser um fator de proteção, já que a prática do aleitamento materno prolongado e exclusivo até os seis meses pode proteger a mulher contra o câncer de mama. Um dos benefícios para a mãe é que a amamentação oferece uma proteção adicional à mulher onde se percebe também a perda de peso ou gordura corporal (CUNHA, 2001). Resultados apresentados na reunião Anual de 2011 da American Society of Clinical Oncology (2011) relatam que o risco de câncer de mama invasivo é maior Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. 67 nas mulheres fumantes em relação as não fumantes. Este risco aumenta em relação ao número de anos em que este hábito se fez presente entre os hábitos de vida. Mulheres que já estão em maior risco para a doença apresentam um risco adicional. Entre as avaliações dos prontuários analisados verificou-se que 89 (30,38%) eram fumantes, e 204 (69,62%) não fumantes. Uma diminuição no número de fumantes foi observada nos últimos anos. Fato este que pode ser explicado devido às inúmeras campanhas realizadas no Brasil contra o uso do fumo. O alcoolismo é um fator de risco amplamente confirmado para câncer de mama (DUMITRESCU; COTARLA, 2005). Esse risco é dose-dependente em consumos acima de 60 g por dia, e para cada 10 g de incremento de dose por dia, o risco pode aumentar em 9%. O aumento dos níveis de estrogênio em mulheres alcoólatras pré-menopausadas também é citado. Wrensch et al. (2003) fizeram um estudo epidemiológico dos fatores de risco associados ao câncer de mama em Marin County, Estados Unidos, e encontraram maior incidência de câncer de mama associado ao maior consumo de álcool (CANTINELLI et al. apud WRENSCH et al., 2003). Porém, não houve relatos de consumo de bebidas alcoólicas nas pacientes estudadas. A correlação do câncer de mama e a terapia de reposição hormonal na amostra estudada, 58 mulheres (20%) fez uso da terapia enquanto 232 (80,00%) relataram não ter feito. Davis et al. (2005) apontam que a terapia hormonal pós-menopausal, assim como o uso em longo prazo de terapia oral com estrogêniosprogestagênios parece estar associado a pequeno, porém estatisticamente significativo, aumento no risco de câncer de mama invasivo. Os resultados divulgados entre 2003 e 2007, confirmam também a associação entre a administração de hormônios e a ocorrência de câncer de mama (INCA, 2007). Porém, há estudos contraditórios os quais demonstram que não há influência da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) na maior incidência de câncer de mama. Em países ocidentais há consenso emergente de que a TRH não tem influência sobre o aumento de incidência de câncer de mama quando o tempo de uso não ultrapassa 8 a 10 anos. O risco em períodos mais longos de uso da TRH é pequeno entre 10 e 15 anos e aumenta após 15 anos (DE LUCA et al., 1998). A associação do uso de contraceptivos orais com o aumento do risco para o câncer de mama, apontando para certos subgrupos de mulheres como as que usaram pílulas com dosagens elevadas de estrogênio, as que fizeram uso da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional em idade precoce, antes da primeira gravidez ainda é controversa (INCA, 2010). 68 Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. O risco parece ser mais elevado entre as mulheres de idade jovem e quando o uso de longa duração iniciou precocemente na menacme (CRIPPA et al., 2003). Entre as pacientes analisadas, a maioria (52,05%) relatou uso de anticoncepcional oral ao longo da sua vida e como pode ser evidenciado na figura 4 seu uso apresentou um discreto aumento nos últimos 10 anos. A história familiar de câncer de mama é um dos fatores mais importantes, o risco está aumentado principalmente quando mãe, irmã ou filha já teve este tipo de doença antes dos 50 anos de idade. Quem já teve câncer em uma das mamas ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária, também apresenta maior risco. Essa doença de caráter familiar corresponde a aproximadamente 10% do total de casos de cânceres de mama (INCA, 2007). No período de 2000-2010 no Centro de Diagnóstico Nossa Senhora do Rosário, as 293 mulheres pesquisadas com câncer de mama 26% (n=76) relataram ter algum familiar com câncer de mama. Destes 56,6% (n=43) ligados de forma antecedente, sendo 22,4% (n=17) diretamente e 34,2% (n=26) indiretamente. A ocorrência de câncer de mama entre irmãos foi de 27,6 % (n=21) no grupo de relações de parentesco ou histórico familiar. Além disso, 87 pacientes relataram ainda ter algum familiar com câncer em outras localidades. CONCLUSÃO Estima-se que cerca de 30% de todas as neoplasias podem ser prevenidas caso as pessoas mudem alguns de seus hábitos, reduzindo assim alguns fatores de risco. O câncer de mama é uma neoplasia de fácil prevenção, pois os fatores de risco mais importantes já estão estabelecidos e inúmeras campanhas e ações educativas são preconizadas no âmbito nacional e internacional. Contudo é a neoplasia mais frequente nas mulheres. Na amostra estudada, constatou-se a ocorrência de todos os fatores de risco para o câncer de mama já preconizados na literatura. Dentre estes, fizeram-se prevalentes a idade e o uso de anticoncepcional oral. Esta pesquisa identificou os fatores de risco presentes em uma população específica de mulheres, desta forma possibilitando a elaboração de estratégias de intervenção próprias e adequadas a fim de intensificar a prevenção e minimizar a relação câncer de mama e fator de risco. Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 13, n. 1, p. 63-70, 2012. 69 REFERÊNCIAS AMERICAN SOCIETY OF CLINICAL ONCOLOGY (ASCO). Annual Meeting: ABSTRAT 1505, 6, 2011. CIBEIRA, G. H..; GUARAGNA, R. M. Lipídio: fator de risco e prevenção do câncer de mama. Revista de Nutrição. v. 19, n.1, p. 65-75, 2006. CRIPPA C. G. et al. Perfil Clínico e Epidemiológico do Câncer de Mama em Mulheres Jovens, 2003. Disponível em: <http://www.acm.org.br/revista/pdf/ artigos/146.pdf.>. Acesso em: out 2011. CUNHA, L. N. Diet book: Gestante. São Paulo: Mandarim, 2001. cap. 3, p. 91-122. DAVIS, S. R. et al. Postmenopausal hormone therapy: from monkey glands to transdermal patches. Journal of Endocrinology, v. 185, p. 207-22, 2005. DE LUCA, L. A. et al. Terapêutica de reposiçäo hormonal e câncer de mama / Hormonal replacement therapy and breast câncer. Revista Brasileira Mastologia, v. 8, p. 42-51,1998. DUMITRESCU, R. G.; COTARLA, I. Understanding breast cancer risk where do we stand in 2005. 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