Ciclagem de nitrogênio em ecossistemas tropicais: Amazônia e Cerrado Profa. Dra. Gabriela Bielefeld Nardoto Universidade de Brasília 25 de junho 2014 BIOTA EDUCAÇÃO - FAPESP Estabilidade do Holoceno (últimos 10.000 anos): agricultura e sociedades complexas Vulnerabilidade dos solos Fonte: UNEP Nos últimos 150 anos: Aumento da expansão e produtividade agrícola e industrial Mais da metade da área da maioria dos ecossistemas terrestres foi convertida Fonte: MEA (2005) Impactos diretos e indiretos das atividades humanas sobre os ecossistemas Vitousek et al. (1997) Ecologia de Ecossistemas Estudo das interações entre organismos e seu ambiente físico como um sistema integrado Fonte: Chapin III et al (2011) Serviços do Ecossistema Base Ecológica: Desenvolvimento do solo Ciclagem de nutrientes Produção primária Decomposição MO Fonte: MEA (2005) Proporciona: Alimento Água Madeira e fibra Combustível • Regulação: ▫ Climática ▫ Alimentar ▫ Doenças ▫ Água • Cultural: ▫ Estética ▫ Educacional ▫ Recreativa Processos que controlam o fluxo de energia e matéria nos ecossistemas Fotossíntese: CO2 + H2O + energia CH2O + O2 Respiração: CH2O + O2 CO2 + H2O + energia Associação solo-vegetação Fonte: Brady & Well (2010) Como as plantas adquirem nutrientes minerais? Absorção através das folhas Deposição úmida (epífitas) Associações micorrízicas Fungos auxiliam na absorção radicular Absorção pelas raízes Bonato et al (1998) Transporte na planta Os nutrientes atuam nos processos bioquímicos e fisiológicos da planta como ativadores enzimáticos Tipos de ciclos de nutrientes Ciclo Geoquímico entradas e saídas de nutrientes do ecossistema Ciclo Biogeoquímico circulação de nutrientes dentro do ecossistema Ciclo Interno conservação de nutrientes nas plantas Entradas e saídas de nutrientes dos ecossistemas Entradas de nutrientes: Intemperismo de rochas Atmosfera (ex. CO2, N2) Deposição úmida e seca (importante em áreas com longa estação seca) Cursos de água Saídas de nutrientes: Erosão Retirada de biomassa Fogo Perdas gasosas Lixiviação Cursos de água Na maioria dos ecossistemas as entradas e saídas de nutrientes são menores quando comparadas com a ciclagem biogeoquímica e interna Fonte do nutriente para a planta (% total) Nutriente Deposição/f intemperismo ixação Reciclagem Floresta temperada N 7 0 93 P 1 < 10 >89 K 2 10 88 Ca 4 30 65 N 4 0 96 P 4 1 96 Tundra Chapin et al (2011) Ciclo global do nitrogênio (1 teragram = 1012 g) (Chapin et al. 2002) 1. Fator limitante da produção primária na maioria dos ecossistemas Limita a aquisição de carbono e assim regula a estrutura e dinâmica da maioria dos ecossistemas 2. É extremamente móvel na natureza (estado de oxidação varia de -5 a +3) com importante fase gasosa 3. Como fator limitante na agricultura, o N passa a ter um valor de mercado 4. O homem, na busca de alimento, tem exercido enorme influência na sua N reativo) Nitrogen nitrogênio % dinâmica (N inerte % 99.635 100 80 60 40 20 0 0.365 14 Mass massa 15 N2 NH3 N N N2 + 3H2 + Energia 2NH3 Disponibilidade de nitrogênio (Davidson et al. 2000) Principais alterações no ciclo do N causadas pelo Homem (1) Produção de fertilizantes nitrogenados (Haber-Bosch) (2) Cultivo de leguminosas (3) Produção de energia (combustíveis fósseis) 6.5 População (bilhões de hab.) 6.0 5.5 5.0 4.5 N-fert. escala industrial 4.0 3.5 3.0 Haber-Bosch 2.5 2.0 1.5 0 10 20 30 40 50 60 Décadas 70 80 90 100 Destino do N originado do processo de Haber-Bosch Fertilizante nitrogenado produzido N consumido 100 14 14% do N produzido por Haber-Bosch entra no corpo humano… Galloway & Cowling (2002) N2 N2 N2 N2 N2 N2 N2 Floresta terra-firme 3 a 7 kg N ha-1 ano-1 Soja 70 a 250 kg N ha-1 ano-1 N2 N2 1º INVENTÁRIO NACIONAL DE EMISSÕES ATMOSFÉRICAS POR VEÍCULOS AUTOMOTORES RODOVIÁRIOS (MMA, 2011) Balanço global de nitrogênio em 1860 e em 2000 ( Tg N ano-1) NOy 5 N2 1860 8 6 7 6 0.3 6 NHx 12 0 9 11 8 15 27 2000 NOy 5 N2 33 16 21 110 25 25 6 NHx 23 26 18 39 100 N2 + 3H2 2NH3 48 Galloway et al (2003) “Limites planetários” Rockstrom et al. (2009) - Nature Ciclo do nitrogênio Perda de Biodiversidade Nitrogênio na América Latina Aumento na emissão de N2O para a atmosfera Tg N Crescimento do cultivo de soja, queima de vegetação natural e sistemas inadequados de tratamento de esgoto Desde a década de 1990, o plantio de soja se expande na AL: 40% da produção mundial 150 mil km2 de áreas nativas são queimados anualmente transferindo grande quantidade de N reativo para a atmosfera Austin et al (2013) Floresta Amazônica Dinâmica de nitrogênio na Amazônia Dep. Atm. = 3-4 kg N ha-1 ano-1 (Lara et al 2001) N2O = 6-7 kg N ha-1 ano-1 (Keller et al 2005) Serapilheira produzida = 12 Mg ha-1 ano-1 (Rice et al 2004) Fluxo N via serapilheira = 176 kg ha-1 ano-1 Modelo conceitual para disponibilidade de nitrogênio no sistema solo-planta Maior δ15N Menor δ15N Planta Planta 14N 2 14N O 2 14NO 15N 14N Serapilheira Serapilheira Solo N orgânico 14N 2 14N O 2 14NO Solo 15NH + 3 15NH + 4 15NO 2 15NO 3 Maior disponibilidade de N N orgânico A 15NH + 3 15NH + 4 15NO 2 15NO 3 Menor disponibilidade de N B Fonte: Reis & Nardoto (2013) Florestas Tropicais e savanas 14 Florestas 10 6 2 ( ‰)N 15 -2 -6 -10 Savanas (n = 3420) -14 0 1 2 3 4 5 6 N (%) Nardoto et al. (não publicados) Floresta Amazônica x Mata Atlântica 14 Floresta Amazônica 12 10 8 ( ‰)N 15 6 4 2 Mata Atlântica 0 -2 0 1 2 3 4 5 6 N (%) Nardoto et al. (não publicados) Nitrogênio na Amazônia Padrões de ciclagem de nitrogênio ao longo da Bacia Amazônica: como a disponibilidade de N varia em diferentes escalas espaciais: Regional (precipitação) Local (tipo de solo) como essas variações na disponibilidade de N estão integradas com as variações encontradas para diferentes grupos funcionais de plantas: Leguminosas Não-leguminosas Diferentes regimes de precipitação na Amazônia São Gabriel Manaus Santarém Porto Velho Ji-Paraná Fonte: Sombrek (2001) Diferentes regimes de precipitação: florestas de terra-firme sobre Latossolo 15N (‰ ) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Rico em N profundidade (cm) 0 Santarém Porto Velho 10 20 30 40 Ji-Paraná ● Santarém ■ Manaus ◆ São Gabriel São Gabriel 50 Manaus São Gabriel Pobre em N Menos úmido Mais úmido Nardoto et al. (2008) Toposequência na Amazônia Central (tipos de solo) Ribeiro et al. (1999) Tipo de solo influencia a disponibilidade de N em escala local (toposequência em Manaus): plateau 5 Manaus-plateau campinarana Manaus-campinarana 4 15N (‰) baixio Manaus-baixio platô 3 2 1 0 campinarana baixio Manaus - toposequence Nardoto et al (2008) Relação solo-vegetação na Amazônia (Rainfor) Quesada et al (2010) Nardoto et al (2014) Padrões de disponibilidade de N na Amazônia Os padrões encontrados de disponibilidade de nitrogênio em florestas de terra-firme amazônica indicam que: as maiores restrições na disponibilidade de N está diretamente relacionada com: quantidade de fósforo disponível no solo duração da estação seca ao longo da Bacia Amazônica FBN na Amazônia Florestas de terra-firme amazônica em Rondônia: 4 – 7 kg N ha-1 ano-1 (Cleveland et al. 2010) Florestas de terra-firme amazônica - 65 plots (RAINFOR): 3 kg N ha-1 ano-1 (Nardoto et al. 2014) FBN = 3 a 7 kg N ha-1 ano-1 maioria das leguminosas não fixam N na Amazônia alta disponibilidade de N no solo baixas taxas de nodulação Dinâmica de nitrogênio na Amazônia Dep. Atm. = 3-4 kg N ha-1 ano-1 N2O = 6-7 kg N ha-1 ano-1 FBN = 3-7 kg N ha-1 ano-1 Fluxo N via serapilheira = 100-176 kg ha-1 ano-1 Mineralização de N no solo = 50-90 kg ha-1 ano-1 A disponibilidade de N nos ecossistemas terrestres é efêmera e pode ser modificada tanto por perturbações naturais como antrópica nas diferentes escalas temporais Fogo Desmatamento Pastagens Como o fogo influencia a ciclagem de nitrogênio no Cerrado? IMAGEM DE SATÉLITE mostra queima de biomassa South American and the two largest Brazilian biomes Caatinga Cerrado Pantanal Mata Atlantica Pampas Cerrado savana sazonal úmida 2 milhões de km² no Brasil Central (24% do território nacional) Segundo maior bioma da América do Sul Distribuição central – transições com outros 4 biomas brasileiros Dinâmica de nitrogênio no Cerrado Dep. Atm. = 4-7 kg N ha-1 ano-1 (Parron 2004; Resende 2001) FBN = ~20 kg N ha-1 ano-1 (Cleveland et al 1999) N2O = 0-1 kg N ha-1 ano-1 (Pinto et al 2002) Fluxo N via serapilheira = 12,7 kg ha-1 ano-1 (Nardoto et al 2006) Mineralização de N no solo = 14 kg ha-1 ano-1 (Nardoto & Bustamante 2003) Comparação entre a biomassa aérea e principais fluxos de nutrientes entre Cerrado e Amazônia Floresta de terra-firme amazônica Cerrado sentido restrito Produção anual de serapilheira em cerrado sentido restrito Cerrado s.s. sem queima o fluxo de nutrientes na serapilheira fica entre 60–80% menor na área queimada Cerrado s.s. queimada Nardoto et al (2006) Nitrogênio (mg kg-1) Cerrado s.s. sem queima N-NH4 N-NO3 Nitrogênio (mg kg-1) Cerrado s.s. queimada FOGO N inorgânico anualmente “mineralizado” (kg ha-1 ano-1): • área sem queima: 14,7 • área queimada: 3,8 Mês Nardoto et al. (2003) Modificações no uso da terra: Alteração na dinâmica de N no sistema solo-vegetação-atmosfera manutenção dos ecossistemas (serviços ecossistêmicos) Interação entre a população humana e os ecossistemas: Aspecto básico da sobrevivência humana Influência das C4 na alimentação Relação entre os fatores ambientais e aqueles que direcionam a mobilidade humana: Diferenças geográficas possíveis relações com as diferenças no acesso aos alimentos e nos hábitos alimentares afeta diretamente os ciclos do nitrogênio e do carbono Nardoto et al (2006); Martinelli et al. (2010); Nardoto et al. (2011) Centros urbanos x meio rural Fatores de Pressão Fatores de Estado (diagnóstico) Pressão humana sobre os ecossistemas Mudanças na estrutura e funcionamento dos ecossistemas Poluição Alteração de habitat Mudanças regime de distúrbio Herbivoria Invasões biológicas Redução da biodiversidade Estágios sucessionais iniciais Eutrofização Redução serviços ecossistêmicos Maiores riscos para saúde humana Fatores de Resposta (sociedade) Manejo dos ecossistemas Objetivos para reduzir os fatores de pressão Indicadores da saúde dos ecossistemas Monitoramento ambiental Begon (2010) Com isso... Desenvolver uma linguagem comum: Saber reconhecer a importância de se aplicar os conhecimentos sobre o funcionamento dos ecossistemas na manutenção e minimização dos impactos das mudanças ambientais com consequências para os ecossistemas Reconhecer as ferramentas necessárias para o diagnóstico do ecossistema Reconhecer e desenvolver estratégias de modo a permitir tanto a preservação como o manejo ambiental integrado “Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra” (Prof. Anísio Teixeira)