ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE PRESIDENTE PRUDENTE: Um estudo sobre o patrimônio histórico-cultural COSTA, KORINA; RODRIGUES, LUANA; ALONSO, FLORIAN; POMPEI, MARIANA; PIFFER, FERNANDO [email protected] RESUMO Este estudo, diz respeito à estação de trem de Presidente Prudente, fazendo parte do Projeto de Pesquisa sobre as Estações de Trem da Estrada de Ferro Sorocabana, o interesse pela temática surgiu do fato de muito se falar sobre a colonização da cidade, porém, pouco se aprofunda nas suas origens, anterior à chegada dos coronéis, entre o final do séc. XIX e começo do séc. XX, estimulando a vinda de muitas pessoas, bens e serviços, assim como a venda e aquisição de terras em toda a região. Neste sentido, conforme consta no Arquivo, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, a construção da estação do Município de Presidente Prudente surge para dar suporte à ferrovia neste trecho, contendo serviços de manutenção da mesma e ao serviço de carga e descarga de mercadorias, passageiros e animais. Desta forma, em 1919, com o incentivo do Governo Federal, um edifício sede foi construído na Praça da Bandeira, na Rua Júlio Tiezzi, ao fim da Avenida Washington Luiz e início do Viaduto Comendador Tannel Abud. Alguns anos mais tarde, o primeiro edifíciosede foi demolido para dar lugar a uma nova estação, mais moderna em relação ao edifício já existente e que oferecesse assistência à crescente demanda de transporte de cargas e pessoas na cidade e região, sendo erigida com novas características arquitetônicas, conhecida como estilo Art Decô., que hoje encontra-se com outro uso, podendo sofrer degradações, tal pesquisa visa fomentar as discussões sobre a sua representatividade para a configuração urbana e cultural do município, assim como a preservação da edificação para que gerações futuras também possam ter contato com a história local. Objetiva-se pesquisar a relevância da linha férrea e da estação ferroviária para a formação do município e o valor que foi construído historicamente para a memória cultural da cidade de Presidente Prudente e apresentar os estudos sobre a primeira edificação construída, verificando sua importância para a época e buscan do parâmetros para compreender os condicionantes de sua demolição e substituição por outra edificação, assim como o da atual, destacando o que ela mantém de original, o que sofreu intervenções e adaptações e ao fim do estudo, direcionar as possibilidades de preservação e de conservação do mesmo, para tanto, pesquisar as teorias e conceitos sobre a preservação do patrimônio histórico cultural, visando compreender quais são os direcionamentos futuros. Sendo uma pesquisa qualitativa do tipo revisão bibliográfica, estudando os autores e teóricos da temática, contando com pesquisa em órgãos e instituições que abrigam as informações técnicas, históricas e documentais da cidade, visitas ao local e estudos iconográficos. Assim, espera-se com a sequência do estudo, promover a documentação necessária para se iniciar o processo de tombamento da atual edificação e com ela a preservação de boa parte da memória coletiva. Palavras-Chave: Estação Ferroviária, Patrimônio Histórico Cultural, Presidente Prudente. INTRODUÇÃO O presente trabalho visa fazer uma abordagem sobre a significância da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) e suas construções arquitetônicas, discutindo sobre a importância e o valor da mesma para história e para a cultura da cidade de Presidente Prudente – SP, cujo surgimento se dá em meados de 1920, e resulta no desenvolvimento urbano-territorial da cidade, estimulando também a especulação imobiliária e valorização das terras da região. Para apresentar sua significância para a localidade, o presente estudo fará uma revisão bibliográfica em autores vinculados a conceitos de valorização da memória e da definição do patrimônio histórico e cultural, assim como daqueles que promoveram estudos sobre a história da cidade de Presidente Prudente. Para em seguida destacar a relação da linha férrea e suas edificações para o crescimento urbano e para a configuração de uma memória cultural representativa, através da explanação de suas duas estações, uma primeira, que possuía características de rusticidade e a atual, que possui características Art Déco, esta deixou de funcionar com a desativação do transporte ferroviário de passageiros na região, tendo ficado em desuso e hoje abrigando o Procon. Sobre a manutenção ou não da infraestrutura que a compõe, Vieira (2011) diz que é considerado o maior crime contra o patrimônio nacional a retirada de trilhos do leito ferroviário ou a falta de cuidado com as estações de ferro, pois a constituição determina patrimônio histórico ou artístico o conjunto de bens moveis e imóveis existentes no pais defendendo que a conservação é de interesse publico, que faz referencia a fatos memoráveis da historia do Brasil. Conforme O Tombamento DECRETO-LEI N°25 de Novembro de 1937. Capitulo 1: Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes nopaís e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Fazendo parte da Constituição Brasileira conforme cita o Art.1° mencionado acima a historia da cidade de Presidente Prudente-SP tem como patrimônio histórico e artístico o edifício pertencente ao (EFS), e tem como ainda patrimônio Nacional Brasileiro toda linha da estrada da Estrada de Ferro Sorocabana que fez parte da IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG historia e progresso deste país segundo a lei Federal que se refere à Definição de Patrimônio Cultural artigo 215 e 216 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Segundo a Carta de Veneza definida no ll° Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumento Histórico, reunidos em Veneza de 25 a 31 de maio de 1964 com o principio de transmitir as gerações futuras a riqueza da sua autenticidade atreves de alguns pontos que nos permite classificar como: Cultural, Artístico, Histórico, Sociais e Científicos os patrimônios da humanidade. A (EFS) de Presidente Prudente-SP após seu primeiro edifício sede construído em meados de 1920 sofreu algumas modificações em 1944, o primeiro edifício-sede é demolido e dá lugar a uma nova estação desenvolvida nos moldes do Art Déco Ao passar dos anos o edifício sofreu algumas pequenas reformas para conservação e manutenção, porém nada que viesse a comprometer as características tidas como relevantes para o seu estilo arquitetônico. Neste intervalo de tempo sem data especificas o edifício é tombado como Patrimônio Histórico Cultural registrado com o número: NP710685, e em 2009 passa a sediar a Fundação PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) administrada pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, onde sofre mais uma reforma sem nenhum cuidado com o tombamento sofrendo algumas alterações físicas em sua maioria interna, onde sofre com divisórias de fórmica e gesso, para atender o plano de necessidades da fundação ali implantada, e atendendo as leis de acessibilidade NBR-9050, estado este, que mantém nos dias atuais. DISCUSSÃO ACERCA DA RESTAURAÇÃO E DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO- CULTURAL A cidade desde seus primeiros resquícios é, por excelência, o espaço que condiciona a vida e as relações sociais de diversas formas, e onde de forma concreta, as vontades humanas – ocasionadas pelos seus entrecruzamentos – podem atuar em conjunto encontrando-se a si mesmo e aos outros como uma possibilidade miraculosa no espaço (CF. ANSAY SCHOONBRODT, 1989:63). Como resultado das diversas intervenções humanas ao longo da história e do tempo sobre o espaço urbano, a cidade passa a concentrar um conjunto de patrimônio IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG histórico e cultural intrínseco à cultura daquela população ou região, cada qual se tornando referência simbólica para quem o vivencia, constituindo a imagem e a memória da cidade. O Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (assim conceituado pelo IPHAN), originado através dos eventos humanos é composto de bens de natureza material e imaterial, que correspondem respectivamente às obras, edificações e sua ambiência, conjuntos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos (bens imóveis) e, ainda, os bens móveis como documentos, esculturas e quadros; e correspondentes aos saberes de determinado povo, dos modos de se fazer ou criar, de suas formas de expressão, celebrações e lugares que são transformados por alguma prática social constante. A prática da preservação do patrimônio cultural busca manter as marcas e os remanescentes da cultura e da memória da cidade, como bens de valor afetivo para a população e que garantam a identidade do local para as diversas gerações futuras. Um dos meios para a promoção da preservação dos bens é o ato do tombamento, realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, – realizado pelo IPHAN (Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional) – estadual ou municipal, como meio de impedir a destruição ou a perda das principais características dos bens tombados. Segundo o Art. 17, do DECRETO-LEI Nº 25, de 30 de Novembro de 1937: As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano causado. Quanto à esfera da preservação e manutenção dos conjuntos de patrimônios históricos e culturais, foi principalmente a partir de meados do séc. XX, que a relativa preocupação começou a se desenvolver, sendo hoje, não somente uma preocupação compartilhada pelos meios acadêmicos ou técnicos, pelo intermédio de historiadores, arquitetos, urbanistas, arqueólogos, antropólogos, etnólogos, cientistas sociais e ainda psicólogos; mas cada indivíduo faz-se historiador de si mesmo e do grupo em que está inserido e participando de maneira mais ativa nas discussões relativas à preservação do patrimônio seja em diversas instâncias (CUNHA, 2004). À esta discussão acerca dos bens é imprescindível considerar a contribuição de importantes teóricos que dissertam sobre a questão do restauro e da conservação destes. Um destes, embasado no positivismo, EugèneViollet Le Duc(1814-1879) passou a desenvolver um conceito e metodologia específicos para o restauro baseado na razão científica que o conhecimento da obra em estudo propiciava. Para ele, a análise da obra e conhecimento minucioso de suas características essenciais, dava ao restaurador a IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG possibilidade de refazê-la assim como na época em que foi concebida originalmente, visando a busca pela “inteireza” da edificação a fim de transmitir seu sentido completo, aplicando um “modelo ideal” para seu trabalho, mesmo que muitas de suas obras de restauração resultarem em edifícios completamente diferentes do original (SANTOS, 2005). Contrário ao pensamento de Le Duc, o romântico John Ruskin (1819-1900) acreditava que o processo de restauração era a mais completa e bárbara destruição que o edifício poderia estar sujeito, pregando não ser possível restituir o que foi belo e grandioso um dia através da suposição de como faria o primeiro construtor, e alegando ainda, que uma restauração e intervenção de outra época elevaria o edifício a uma nova edificação (OLIVEIRA, 2008). Ainda segundo Ruskin os edifícios detinham um tempo de vida ao longo da história, e deveriam, assim como na natureza, envelhecer e até “morrer”, entendendo que os processos de degradação faziam parte da sua história, e qualquer modo de intervenção seria considerado uma agressão própria. Em alguns casos, sua teoria prega que pequenas práticas de intervenção são permitidas para evitar que estruturas prematuras venham a cair (OLIVEIRA,2008). Por fim, preconizava o uso constante dos edifícios como maneira mais viável e recomendada para sua manutenção periódica a fim de prolongar o tempo de vida da edificação. Camillo Boito (1836-1914) desenvolve sua teoria com base nos dois principais estudiosos sobre o assunto até a época, Viollet Le Duc e Ruskin, ora distanciando, ora aproximando-se de algum destes. Boito prega a diferença entre a conservação e a restauração, explicitando que os conservadores são tidos como “homens necessários e beneméritos” ao passo que os restauradores são quase sempre “supérfluos e perigosos”.Sua teoria sugere que se deve agir no sentido de tentar conservar o edifício como ação preventiva, reservando o edifício ao mínimo possível das intervenções da restauração, já que a prática está sujeita a arbitrariedades e consequentemente a enganos (ARAÚJO, 2005). Acredita ainda que, no caso das intervenções feitas nos casos necessários, não se deve tentar exprimir um caráter antigo tal qual como a obra era na época de sua concepção, mas transparecer a real época em que a intervenção se deu. Outra teoria acerca da restauração é a de Cesare Brandi (1906-1988), que divide a restauração sob as instâncias estética e histórica e atesta os princípios da distinguibilidade. Para o teórico, os refazimentos só devem acontecer sendo facilmente reconhecidos como pertencentes à época atual (ou que a integração foi feita), não tentando se passar por antigo, visto que o alega como falso histórico, e ainda que fossem reversíveis, permitindo possíveis intervenções futuras (CUNHA, 2004). IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG A principal marca da obra de Brandi é o rigor crítico-cultural que situa o ato derestauro como responsável pelas futuras interpretações estilísticas e históricas da obrade-arte. Se for executada sem critérios, a restauração pode causar danos à obra que irão perpetuar-se por várias gerações. Neste contexto, a antiga estação ferroviária de Presidente Prudente-SP é considerada um importante agente na promoção do valor de memória da cidade, haja vista que sua construção em meados de 1920 propiciou maior desenvolvimento do núcleo urbano prudentino – originado através da instalação do trecho da Estrada de Ferro Sorocabana – e da região, condicionando um dos principais meios de locomoção de passageiros e cargas, quando o automóvel ainda era pouco difundido. O local em si, que hoje sedia a Fundação PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) administrada pela Prefeitura Municipal, na época de seu funcionamento como estação representava um dos principais pontos de encontros sociais entre as pessoas - da própria cidade ou não - associada à praça de fronte à edificação, portanto, é cabível enfatizar a importância deste patrimônio, não só como bem material imóvel, mas também como palco, no auge de sua atividade, de práticas imateriais a partir do dinamismo social constante que se criava. PRIMEIROS PASSOS DA ESTAÇÃO SOROCABANA NA REGIÃO As origens da cidade de Presidente Prudente remontam desde a primeira iniciativa conhecida da vinda dos trilhos da Sorocabana, em 1870, devido aos desbravamentos em busca de terras férteis para o cultivo do café. De acordo com Abreu (1972) apud Silva e Costa (2006), a motivação de sua construção na região ocorreu devido aos incentivos de Luiz Matheus Maylasky, sendo para a exportação de ferro produzido pela fábrica São João do Ipanema, abastecendo todo o país. Segundo Ronaldo Macedo (2006), foi enviado uma planta baixa de São Paulo pelo Engº Sebastião Ferraz, responsável pelo trecho, para se construir a estação no local de um telégrafo instalado em um vagão de trem, que já servia como embarque e desembarque. Como consta nos registros históricos do município, a primeira estação ferroviária surgiu no ano de 1919, possuindo um estilo rudimentar, de arquitetura pioneira, pois contava com a participação da população pra sua execução. Com o avanço da linha sorocabana na região e pelo motivo de sua estrutura não se adequar para a nova modernidade da época, além da demanda de passageiros que crescia, este edifício foi totalmente demolido, em 1941. IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG FIGURA 01- Esplanada da estação ferroviária em 1938 Fonte - Acervo Museu Municipal de Presidente Prudente O local se situa na frente da Avenida Washington Luiz, na Rua Júlio Tiezzi, com o atual Viaduto Tannel Abud, dividindo dois bairros importantes para a formação da cidade, a Vila Marcondes, fundada por José Soares Marcondes e a Vila Goulart, que surgiu através de Francisco de Paula Goulart hoje o Centro Administrativo da cidade. O local representa o marco de início do surgimento de Presidente Prudente, pois possui dominância no local por ser um edifício antigo num local movimentado, o que o faz se tornar ponto de referência para a população. Possui um grande valor histórico, juntamente com os demais edifícios em suas imediações, sendo eles os barracões de carga e descarga que faziam parte da estação, o Centro Cultural Matarazzo e mais adiante a antiga SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro), formando assim um passeio histórico cultural situado próximo ao complexo da Estação. Foi um referencial urbano em escala regional, pois foi o embrião do surgimento da cidade. Conforme registros históricos e fotográficos, a primeira estação, em 1941, foi totalmente demolida, dando lugar em 1944 a um novo prédio com a característica arquitetônica mais influente na época, o Art Decô. O novo prédio foi construído dentro dos mesmos limites do prédio anterior, porém com especificidades decorrentes do novo programa de necessidades, como a construção em dois pavimentos, uma escadaria imponente no saguão e fachada envidraçada contribuindo para o aspecto moderno da edificação no contexto de sua execução. FIGURA 2 - A estação atual, recém-construída, 1943. Foto do relatório da Sorocabana, 1944 IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG Fonte - Acervo Museu Municipal de Presidente Prudente O novo aspecto apresenta aquela parte da cidade que se sentia prejudicada em sua estética pelo velho edifício; hoje a impressão é outra, dado o acabamento de linhas futuristas e sóbria que encerra o movimentado centro exportação e importação de Presidente Prudente. (Jornal O Imparcial, 16 de Abril de 1944.) O edifício compõe uma paisagem juntamente com a Praça da Bandeira, que abriga o funcionamento de um shopping popular, o Camelódromo. Seu uso atual abriga a sede do Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), porém sem qualquer reconhecimento histórico. A estação se situa num calçamento em paralelepípedos, um dos únicos restantes da cidade, incluindo o bebedouro de animais, que já foi tombado pelo órgão municipal, porém este se dissolveu e atualmente o bebedouro está em situação de abandono. Houve um tempo em que andarilhos utilizavam o local indevidamente, para dormir ou consumir drogas. Foi então colocado um gradil, impedindo essa entrada. Não possui ponto de encontro ou calçada para ônibus, pois estes passam pelo Viaduto, sendo um ponto de ônibus no Camelódromo, situado à 150m da Estação. O termo Art Deco, apesar de ter sido assinalado por Maria Lucia Bressan Pinheiro a partir da década de 1960, é mais apropriado e abrangente para categorizar uma determinada tendência que se difundiu no país entre a década de 1930 e meados dos anos 1950, expressada em pinturas, esculturas, prédios, móveis, rádios e objetos. Na arquitetura, recebeu investidas do cubismo, do futurismo, do expressionismo e de outros movimentos das artes plásticas, absorvendo influências com outros movimentos como o ecletismo. IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG Na época da construção da nova estação, foi encomendado uma planta baixa de São Paulo, já influenciada pelo estilo. O edifício ganhou novos materiais, dois pavimentos e formato arredondado na fachada envidraçada. Segundo o secretário de obras do município, foram feitas várias reformas, pela Fepasa e pela ALL para adequação das empresas, e posteriormente em 2009 uma nova reforma foi realizada pela prefeitura municipal para acomodar o Procon e o anexo onde se localiza a Casa do Artesão, onde foram removidas algumas paredes internas, mudanças de portas e janelas, adequação do banheiro de deficientes e colocação de paredes de madeira para divisões internas. O saguão permanece o original de 1944. FIGURA 03 – Planta Baixa do saguão principal do edifício Fonte –Levantamento do local de autoria própria FIGURA 04- Corte esquemático do edifício, onde se situa o saguão IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG Fonte – Levantamento do local de autoria própria FIGURA 05 - Recorte da fachada principal do edifício, situação atual Fonte – Levantamento do local de autoria própria Conforme registros fotográficos e levantamentos no local, seu aspecto físico consiste numa implantação junto ao lote, sem recuos, possuindo em sua lateral esquerda um conjunto de galpões que eram utilizados para carga e descarga de grãos e animais, hoje está funcionando como deposito de materiais da empresa Cimcal. FIGURA 06 – Planta baixa com setorização IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG Fonte – Levantamento do local de autoria própria Atrás do edifício ficam as linhas de trem e a casa de máquinas. O acesso é feito diretamente por uma escadaria no centro do edifício tendo outra pela Casa do Artesão, não há pilotis e possui na fachada elementos escalonados compondo um arco, com fechamento de vidro. Não possui muros por ser ainda hoje um edifício público. O edifício é monolítico com uma torre onde era usada o antigo relógio, com aproximadamente 4m de pé direito o salão principal e os demais com 3m, pintado internamente e externamente de tinta branca e azul e o piso com lajotas cerâmicas quebradas na cor marrom claro. IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG As esquadrias são metálicas, as janelas são do tipo basculante na cor azul e as portas mais novas são de vidro, enquanto as antigas são de madeira. A circulação interna é na maior parte horizontal, possuindo uma escadaria no saguão que leva às salas da fiscalização e administração, portanto as pessoas não a utilizam, pois é setorizado pelo atendimento ao público somente o térreo, com salas de reuniões e cozinha. A planta possui simetria com algumas particularidades de cada lado, por possuir utilidades diferentes. O lado esquerdo é usado para depósito e sala de reuniões, no centro está o saguão, que funciona como uma sala de espera do Procon, do lado direito se encontra as dependências da Medicina do Trabalho e a Casa do Artesão. O sistema construtivo inicialmente foi alvenaria com revestimento de concreto, já onde se encontra a Casa do Artesão, foi ampliado uma parede em tijolos de concreto com um fino revestimento em argamassa e pintado com tinta branca. A cobertura é de telhas de barro, e na Casa do Artesão são telhas de fibrocimento. FIGURA 07– Cobertura do antigo pátio da estação. No edifício original era feito com madeiramento e telhas de barro, porém com as intempéries precisou ser substituído. Fonte – Levantamento do local de autoria própria FIGURA 08 –Vagão abandonado nos trilhos ao lado da estação. Foi incendiado criminalmente em 2008, quando o edifício passou por uma nova reforma, assim abrigando a sede do Procon. IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG Fonte – Levantamento do local de autoria própria FIGURA 09 – Situação do piso do antigo pátio. A camada de cimento foi sobreposta ao antigo piso, de lajota de cerâmica em cacos. Fonte – Levantamento do local de autoria própria FIGURA 10 –A fachada principal do edifício, vista pelo interior. Fonte – Levantamento do local de autoria própria FIGURA 11 –Piso do saguão, de lajota de cerâmica em cacos. É um dos poucos locais totalmente preservados do edifício original. IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG Fonte – Levantamento do local de autoria própria FIGURA 12 –Luminária, seu contorno também permanece preservado originalmente, apenas com nova pintura. Fonte – Levantamento do local de autoria própria CONCLUSÃO Desde que foi implantada, em 30 de novembro de 1937 com a publicação do Decreto-Lei nº 25, a chamada Lei do Tombamento, muitos edifícios estão sendo poupados, porém no Oeste Paulista atualmente pouco se tem conhecimento sobre a necessidade de preservar um patrimônio. Para Celso Antônio Bandeira de Mello (2009) apud Holanda (2010), o tombamento é uma intervenção administrativa destinada a proteger o patrimônio histórico e artístico nacional, além de restringir certos usos, pois o proprietário pode fazer uso do local, mas não deve alterá-lo, além de ficar estabelecido no dever de mantê-lo em boa conservação. Assim como muitas cidades com o mesmo histórico de fundação decorrente da passagem da linha férrea, Presidente Prudente não possui uma identidade cultural com seus edifícios mais antigos (HIRAO, 2012). Isso ocorre pela distorção da mentalidade da IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG população no chamado “progresso”, além de refletir o “planejamento” dos atores políticos, que justificam ser a cidade muito recente para acumular as produções das várias gerações anteriores, procurando sustentar-se em nome desse progresso, em que não há espaço para a identidade histórica cultural da cidade. Ainda segundo Hélio Hirao (2012), conjuntos com grandes valores estéticos e artísticos, incluindo o Art Deco, Protomodernismo e Modernismo são dependentes do interesse público local para serem preservados. É extremamente necessário que desperte a consciência de cuidar do já construído, a fim de mostrar as futuras gerações o surgimento do próprio local de moradia, criando um sentimento de resguarda, entendendo que a linha férrea promoveu a criação. Assim como de valorização e conservação da história, da cultura e da memória, visando garantir às gerações futuras o convívio e conhecimento da importância que a edificação teve para a configuração da própria cidade. REFERÊNCIAS LIMA, Evelyn Furquim Werneck. (2005) Preservação do patrimônio: uma análise das práticas adotadas no centro do Rio de Janeiro. In: Revista Eletrônica do IPHAN. Nov. 2005. ANSAY, Pierre et SCHOONBRODT, René. Penserlaville. Choix de textesphilosophiques. Approches et enjeux de laphilosophie de laville. Bruxelles: 1989, p. 23-108. IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Tombamento. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12297&retorno=paginaIphan> Acesso em: 18 out. 2014. IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Patrimônio Cultural. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=20&sigla=Institucional&retorno=paginaIns titucional> Acesso em: 18 out. 2014. 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