Março 2015 Volume 14 | Número 1 Relatório de Estabilidade Financeira Março 2015 Volume 14 | Número 1 ISSN 2176-8102 CNPJ 00.038.166/0001-05 Relatório de Estabilidade Financeira Brasília v. 14 nº 1 mar. 2015 p. 1-68 Relatório de Estabilidade Financeira Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 14, nº 1. Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos. Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil. Divisão de Atendimento ao Cidadão Banco Central do Brasil Deati/Diate SBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo 70074-900 Brasília – DF DDG: 0800 9792345 Fax: (61) 3414-2553 Internet: <http://www.bcb.gov.br/?FALECONOSCO> Sumário Prefácio5 Sumário executivo 6 1 Ambiente macroeconômico e financeiro 8 1.1Introdução____________________________________________________________________ 8 1.2 Mercados financeiros internacionais________________________________________________ 8 1.3 Mercado financeiro nacional_____________________________________________________ 13 2 Sistema bancário 2.1Introdução___________________________________________________________________ 2.2 Liquidez_____________________________________________________________________ 2.3 Crédito______________________________________________________________________ 2.4 Rentabilidade_________________________________________________________________ 2.5 Solvência____________________________________________________________________ 2.6 Testes de estresse de capital______________________________________________________ 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas_____________ 2.6.2 Análise de sensibilidade____________________________________________________ 3 Sistema de Pagamentos Brasileiro 17 17 17 19 25 28 30 30 31 41 3.1 Desempenho do sistema de transferência de fundos sistemicamente importante_____________ 41 3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio nos quais há uma entidade atuando como contraparte central___________ 42 4 Organização do Sistema Financeiro Nacional 4.1Introdução___________________________________________________________________ 4.2 Instituições bancárias___________________________________________________________ 4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional_______________________________ 4.4 Instituições não bancárias_______________________________________________________ 4.5 Participações estrangeiras no Sistema Financeiro Nacional_____________________________ 4.6 Participações de instituições financeiras brasileiras no exterior__________________________ 48 48 48 50 51 51 52 5 Regulação do Sistema Financeiro Nacional 5.1Introdução _________________________________________________________________ 5.2 Prestação de informações referentes ao registro de títulos e valores mobiliários_____________ 5.3 Registro de operações de cessão de créditos relativas a empréstimos pessoais sem consignação e de financiamentos para a aquisição de bens móveis ___________________ 5.4 Emissão de letra financeira por cooperativas de crédito________________________________ 5.5 Evolução das regras prudenciais__________________________________________________ 5.6 Regulamentação sobre aplicações no Brasil de investidor não residente___________________ 53 53 53 54 54 55 56 Boxes Shadow Banking no Brasil__________________________________________________________ 33 Câmara BM&FBovespa____________________________________________________________ 46 Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade financeira__________________________ 57 Apêndice58 Anexo 63 Conceitos e metodologias___________________________________________________________ 63 Conceitos e metodologias – Estresse de capital__________________________________________ 65 Prefácio O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN), especialmente com respeito a sua dinâmica recente, às perspectivas e ao grau de resiliência a eventuais choques na economia brasileira ou no próprio sistema. Esta edição concentra-se nos eventos ocorridos no segundo semestre de 2014. O relatório é constituído por cinco capítulos. No primeiro – Ambiente macroeconômico e financeiro –, é realizada a análise dos principais mercados internacionais e o seu reflexo no mercado financeiro nacional. O segundo capítulo – Sistema bancário – apresenta um panorama da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência das instituições e dos conglomerados que compõem o sistema bancário brasileiro. Os testes de estresse de risco de mercado e de crédito e seus reflexos sobre a situação de solvência das instituições estão incluídos nesse capítulo. No terceiro capítulo – Sistema de Pagamentos Brasileiro –, são descritos os resultados da avaliação acerca do funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de liquidação, as principais atividades e os avanços ocorridos no período, o comportamento da liquidez intradia e o resultado dos testes de estresse dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário. O quarto capítulo – Organização do Sistema Financeiro Nacional – analisa as principais alterações ocorridas no controle acionário de instituições financeiras. O quinto capítulo – Regulação do Sistema Financeiro Nacional – trata das principais normas aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o funcionamento do SFN. dos trabalhos para discussão publicados no semestre que versam sobre estabilidade financeira. O relatório em PDF está disponível no endereço eletrônico <www.bcb.gov.br/?relestab>. Também está disponível nesse mesmo endereço a base de dados utilizada para a elaboração dos gráficos e tabelas do capítulo 2, além de outros dados de interesse, como a matriz de migração de classificação de crédito e comparativos internacionais dos principais Financial Soundness Indicators (FSIs). Adicionalmente, as séries temporais relacionadas à estabilidade financeira podem ser encontradas em <www4.bcb.gov.br/pec/series/port/aviso.asp>. Esta edição apresenta, também, boxes tratando do shadow banking no Brasil e da integração das câmaras da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa), além Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 5 Sumário executivo O ambiente externo permaneceu complexo, com a atividade econômica global crescendo de forma gradual e desigual – e, em importantes economias, abaixo do que se antecipava – no segundo semestre de 2014. Enquanto as autoridades monetárias da Área do Euro e do Japão explicitaram o compromisso de adotar políticas consideradas necessárias para a promoção do crescimento e para a minimização do risco de deflação, de maneira distinta, o banco central dos Estados Unidos da América (EUA) – Federal Reserve – encerrou em outubro seu programa de compra de ativos, ainda que sinalizando a continuidade de política monetária acomodatícia por tempo considerável. Nos mercados emergentes, permaneceu o foco na desaceleração econômica da China, e outras importantes economias seguiram apresentando moderação no ritmo de atividade. Ressalte-se que, no período analisado, cresceram as incertezas associadas ao declínio acentuado dos preços do petróleo, contribuindo para um cenário desinflacionário e com impactos assimétricos na atividade econômica de distintos países. Adicionalmente, as crises geopolíticas na Rússia e na Ucrânia e no Oriente Médio seguiram como fontes de risco. Nesse contexto, os riscos à estabilidade financeira global permanecem elevados, apesar da baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais. Internamente, somaram-se os desafios impostos pelos resultados fiscais, pela persistência de elevadas expectativas de inflação, pelo baixo crescimento econômico e pelas incertezas associadas às eleições presidenciais. Com a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres – o balanço de riscos para a inflação tornouse menos favorável. Nesse cenário, o BCB, depois de ter aumentado a taxa básica de juros em 3,75 pontos percentuais (p.p.) entre abril de 2013 e abril de 2014, para 11,0%, voltou a elevar a taxa Selic a partir do final de outubro de 2014, atingindo 11,75% em dezembro. Em dezembro, o BCB anunciou a extensão, com ajustes, do programa de leilões de câmbio. Diante desses condicionantes externos e internos, as taxas de juros domésticas apresentaram grande volatilidade; a partir de setembro, a taxa de câmbio registrou desvalorização, e o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) reverteu a tendência de alta. Não obstante esse cenário, o sistema bancário brasileiro continua apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência, análise essa corroborada pelo incremento dos ativos líquidos detidos pelas instituições financeiras, pelos resultados dos testes de estresse e pelas simulações de adoção dos requerimentos de Basileia III, prevista para conclusão em 2019. O risco de liquidez de curto prazo manteve-se baixo, inclusive com elevação do estoque de ativos líquidos das instituições financeiras. Além disso, o risco de liquidez estrutural também permaneceu baixo, uma vez que os recursos estáveis mantiveram-se suficientes para suportar o estoque de crédito. Acerca do mercado de crédito, destaca-se a continuidade das principais tendências observadas no primeiro semestre: crescimento do estoque em ritmo menor, elevação das taxas de juros aos tomadores, relativa estabilidade do nível de inadimplência e do índice de cobertura da inadimplência. A elevação das taxas de juros aos tomadores começou a produzir efeito positivo na rentabilidade da carteira de crédito e contribuiu para impulsionar o resultado. O avanço do resultado de crédito e a significativa ampliação dos ganhos em participações societárias favoreceram o incremento no retorno sobre o patrimônio líquido. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 6 A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. para minimizar o risco sistêmico do shadow banking, sem prejudicar eventuais benefícios do setor para a economia doméstica e para o bom funcionamento do SFN. Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) funcionou de forma eficiente e segura no segundo semestre de 2014. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garantiu que as liquidações ocorressem com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR). Conforme tratado em um boxe, entrou em operação a Câmara BM&FBovespa, concluindo a primeira etapa da integração dos sistemas de pós-negociação operados pela BM&FBovespa, proporcionando economias de liquidez para alguns participantes da câmara. A análise realizada pelo BCB constatou que tal redução na exigência de garantias individuais não resultaria em maior exposição da contraparte central, ou dos demais participantes da infraestrutura, aos riscos originados das posições individuais, uma vez que decorreu do aumento da eficiência do novo modelo de gerenciamento de riscos. Outro boxe deste relatório, que aborda a questão do shadow banking no Brasil, conclui que, até o momento, não foram identificados riscos relevantes relativos ao shadow banking brasileiro, em especial no que se refere à avaliação de riscos das entidades e de contágio para o restante do sistema financeiro. Ainda assim, as autoridades reguladoras nacionais continuam atuando Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 7 Ambiente macroeconômico e financeiro 1.1Introdução O ambiente externo permanece complexo, apesar da baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais. A economia global segue crescendo de forma gradual e desigual. O ritmo de atividade cresceu mais rapidamente nos Estados Unidos da América (EUA), foi menor que o antecipado na Área do Euro e decresceu no Japão, marcando período recessivo. Do ponto de vista dos preços, a inflação, que já estava em patamar reduzido, recuou ainda mais nas economias avançadas, parcialmente refletindo a redução no preço do petróleo. Em dezembro, registrou-se deflação interanual de 0,2% na Área do Euro. As autoridades monetárias das principais economias avançadas adotaram decisões de política monetária de caráter distinto: enquanto o Federal Reserve (Fed) encerrou, em outubro, seu programa de compra de ativos, ainda que sinalizando a continuidade da sua política monetária acomodatícia por tempo considerável, o Banco Central Europeu (BCE)1 e o Banco do Japão (BoJ)2 explicitaram o compromisso de adotar políticas consideradas necessárias para a promoção do crescimento e minimização do risco de deflação. Em relação aos mercados emergentes, o foco permanece na intensidade da desaceleração econômica chinesa. Outras importantes economias emergentes seguem apresentando moderação 1/ O BCE anunciou, em setembro, dois novos programas de compra de ativos, e, no mês seguinte, o terceiro programa de compra de obrigações cobertas (covered bonds). Além disso, sinalizou sua intenção de expandir significativamente seu balanço, se necessário, para combater a persistência da baixa inflação ou mesmo a deflação. Nesse sentido, em janeiro de 2015, o BCE anunciou a expansão dos programas de compras de ativos, com a inclusão da compra de títulos públicos e de compartilhamento de risco. 2/ O Japão apresentou recessão técnica no terceiro trimestre de 2014. Em outubro, o BoJ elevou o volume e o prazo de seu programa de compra de ativos. O Institute for International Finance (IIF), no Global Economic Monitor (novembro de 2014), estima que o total de ativos adquiridos pelo BoJ atinja 60% do PIB e 76% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 e 2015, na ordem. 1 no ritmo de atividade, parcialmente explicada por recuo nos preços de commodities, impedimentos estruturais, condições de financiamento mais apertadas, incertezas de ordem política e desequilíbrios macroeconômicos. Ressalte-se que, ao longo do semestre, cresceram as incertezas associadas ao declínio acentuado dos preços do petróleo em cenário de oferta global abundante e arrefecimento da demanda. No campo geopolítico, os conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio também adicionaram incerteza aos mercados financeiros. Nesse contexto, permanecem elevados os riscos à estabilidade financeira global, fato corroborado pela percepção de recuperação da economia mundial mais lenta que a antecipada e, em grande medida, ainda sustentada pela ampla liquidez internacional, o que também estimula a subprecificação do risco e o aumento da alavancagem financeira. Adicionalmente, intensificaram-se os alertas de acumulação de riscos no shadow banking system (sistema bancário paralelo). 1.2 Mercados financeiros internacionais Os mercados financeiros se caracterizaram pelo aumento da volatilidade ao longo do segundo semestre de 2014. Esse comportamento refletiu, por um lado, aspectos macroeconômicos, tais como a recorrente frustração das expectativas de crescimento de importantes economias maduras (em especial, o Japão e a Área do Euro) e emergentes, bem como o crescente risco de deflação em algumas economias – notadamente na Área do Euro. No campo geopolítico, os conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu também adicionaram incerteza aos mercados financeiros, com os indicadores macroeconômicos e financeiros da Rússia sendo impactados pelo embargo econômico imposto ao país. As incertezas associadas ao processo eleitoral na Grécia, Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 8 que culminaram com a eleição do partido de oposição, também contribuíram para o aumento da volatilidade nos mercados financeiros, sobretudo na Europa. Figurou, ainda, como fonte de tensão, o rápido declínio no preço do barril de petróleo – refletindo o crescimento da oferta em ambiente de demanda reprimida, juntamente com a negativa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de reduzir a sua produção – fato que resultou, no setor privado, na perda de valor acionário e no aumento do risco de crédito de empresas do setor energético e também precipitou a elevação do risco soberano e a desvalorização de moedas de países exportadores de petróleo. Os preços das demais commodities também recuaram,3 em especial os das metálicas, o que favoreceu a desvalorização das moedas de países exportadores de matérias-primas. Nesse cenário, ao longo do semestre, ocorreram diversos picos de aversão ao risco, afetando negativamente ativos de economias percebidas como mais vulneráveis a esse novo ambiente e aumentando a demanda por instrumentos considerados mais seguros, tais como os papéis soberanos de dez anos de economias maduras. Ressalte-se que, no caso da Alemanha e do Japão, a redução nos rendimentos também foi favorecida pelo aprofundamento da postura expansionista das políticas monetárias da Área do Euro e do Japão, respectivamente. Dessa forma, os rendimentos anuais dos títulos dos EUA, do Reino Unido, do Japão e da Alemanha recuaram, na ordem, 14 pontos-base (p.b.), 34 p.b., 42 p.b. e 57 p.b., para 2,17%, 1,76%, 0,33% e 0,54% (gráfico 1.2.1). Gráfico 1.2.1 – Rendimento de títulos soberanos (10 anos) econômica na Área do Euro refletiu-se no aumento acentuado dos prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) de cinco anos (expressos em p.b.) das economias periféricas da Europa, com os prêmios associados à Itália e à Espanha aumentando, na ordem, de 95 e 66 para 137 e 97, no semestre (gráfico 1.2.2). Na mesma base de comparação, os prêmios dos CDS de economias emergentes relevantes aumentaram, com destaque para o da Rússia, de 184 para 476 (+159%) (gráfico 1.2.3), reflexo do impacto do declínio dos preços internacionais do petróleo e da intensificação de sanções econômicas. Também registraram elevações os CDS de Brasil, de 145 para 201 (+39%); México, de 67 para 103 (+54%); Chile, de 64 para 94 (+48%); e África do Sul, de 177 para 192 (+9%). Ressalve-se que, na Turquia, beneficiada pelo ambiente de maior acomodação monetária na Europa e pela redução nos preços do petróleo, a elevação foi mais moderada, de 177 para 184 (+4%). Gráfico 1.2.2 – CDS soberanos (5 anos) p.b. 320 256 192 128 64 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Alemanha Dez Mar 2014 França Mai Ago Out Espanha Dez 0 Itália Fonte: Bloomberg % a.a. 3,75 Gráfico 1.2.3 – CDS soberanos (5 anos) p.b. 3,00 600 2,25 480 1,50 360 0,75 240 Dez 2012 Mar 2013 Mai EUA Ago Out Alemanha Dez Mar 2014 Mai Ago Reino Unido Out Dez 0,00 Japão Fonte: Bloomberg O ambiente de maior aversão a risco e de desconfiança em relação à sustentabilidade da retomada da atividade 120 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out África do Sul Rússia Turquia Brasil México Chile Dez 0 Fonte: Bloomberg 3/ Com exceção dos preços da carne bovina. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 9 No segundo semestre de 2014, o dólar dos EUA apreciou-se acentuadamente,4 fruto de perspectivas mais favoráveis de crescimento dos EUA em comparação com outras importantes áreas econômicas e do aumento da divergência entre a orientação de política monetária do Federal Reserve vis-à-vis a do BCE e do BoJ. Nesse contexto, o dólar valorizou-se perante o iene, o euro e a libra esterlina, respectivamente, 18,2%, 13,2% e 9,8% (gráfico 1.2.4). Em relação às economias emergentes e/ ou exportadoras de commodities, o dólar valorizou-se em relação ao rublo russo5 (78,7%), real (20%), dólar australiano (15,5%), peso mexicano (13,8%) e peso chileno (9,7%) (gráfico 1.2.5). semestre, com destaque para as altas no S&P 500 (EUA) e Nikkei (Japão), respectivamente, de 5% e 15,1%.6 Na Europa, enquanto o índice DAX (Alemanha) estabilizou-se, os índices CAC 40 (França) e FTSE 100 (Reino Unido) recuaram, na ordem, 3,4% e 2,6% (gráfico 1.2.6). Gráfico 1.2.6 – Bolsas de valores Economias desenvolvidas 31.12.2012 = 100 180 162 144 126 Gráfico 1.2.4 – Taxas de câmbio de economias avançadas 31.12.2012 = 100 150 108 Dez 2012 138 126 114 102 Dez Mar 2012 2013 Mai Ago Out Euro/dólar Dez Mar 2014 Mai Ago Iene/dólar Out Dez 90 Libra/dólar Fonte: Bloomberg Gráfico 1.2.5 – Taxas de câmbio EMEs e/ou países exportadores de commodities versus dólar dos EUA Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez EUA – S&P 500 Reino Unido – FTSE 100 Alemanha – DAX Japão – NIKKEI 225 Fonte: Bloomberg Os mercados acionários de importantes economias emergentes também registraram comportamentos díspares, com os índices do México, da Índia, da Turquia e da China em altas respectivas de 1%, 8,2%, 9% e 57,9%,7 enquanto os índices de África do Sul e do Brasil recuaram, na mesma sequência, 2,3% e 5,9% (gráfico 1.2.7). Gráfico 1.2.7 – Bolsas de valores Economias emergentes 31.12.2012 = 100 31.12.2012 = 100 150 240 134 210 118 180 102 150 86 120 Dez Mar 2012 2013 Mai Ago Real brasileiro Peso mexicano Out Dez Mar 2014 Mai Dólar australiano Rublo russo Ago Out Dez 90 Peso chileno Fonte: Bloomberg Os índices acionários de economias desenvolvidas registraram movimentos díspares ao longo do segundo 4/O Dollar Index (índice cambial do dólar ante as divisas de seus principais parceiros) elevou-se 13,2% no segundo semestre e 12,8% no ano. 5/ A queda nos preços dos ativos russos e do rublo refletiu a restrição de liquidez no respectivo sistema bancário e a elevada demanda por divisas para o pagamento de dívida externa. Após a perda de US$100 bilhões de suas reservas internacionais, o banco central russo permitiu a flutuação cambial. 90 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Brasil África do Sul China Índia México Turquia 70 Fonte: Bloomberg 6/ Nos EUA, a alta no S&P 500 foi impulsionada pelas evidências de vigor na economia do país. No Japão, a desvalorização do iene, com reflexos positivos nas companhias exportadoras, e também no direcionamento de recursos para a compra de ações pelo fundo governamental previdenciário, impulsionou o mercado acionário. 7/ O índice Xangai Composto (China) subiu 57,9% no semestre, refletindo a evolução positiva do processo de abertura financeira e, especialmente, a vinculação efetiva entre as bolsas de valores de Xangai e de Hong Kong, o que permitiu investimentos estrangeiros em ações do mercado chinês. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 10 O índice Chicago Board Options Volatility Index (VIX), que afere o sentimento dos investidores a partir da volatilidade implícita de curto prazo dos preços das opções do índice S&P 500, subiu de 11,6 pontos (em 30 de junho) para 19,2 pontos no final do semestre, tendo alcançado, em meados de outubro, o patamar de 26,3 pontos (nível mais alto desde 1º de junho de 2012, quando atingiu 26,7 pontos), em razão de incertezas sobre a sustentabilidade da retomada do crescimento mundial (gráfico 1.2.8). Após significativo declínio no primeiro semestre, os custos médios de proteção contra default (CDS) de bancos relevantes9 voltaram a subir na Alemanha (1,8%), na França (2,2%), na Itália (12%) e nos EUA (4,2%). De forma contrária, houve recuo nos prêmios dos CDS de bancos do Reino Unido (15,7%) e da Espanha (11,5%) (gráfico 1.2.10). Gráfico 1.2.10 – CDS de 5 anos – Bancos Prêmios médios de países selecionados1/ p.b. gráfico para apresentação do diretor Gráfico 1.2.8 – CBOE Volatility Index – VIX Índice de volatilidade 450 360 pontos 30 270 26 180 22 90 18 14 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez 10 Fonte: Bloomberg Os índices Morgan Stanley Capital International (MSCI)8 para bancos da Europa e de economias emergentes recuaram 4,4% e 4,7%, na ordem, no segundo semestre de 2014, comparativamente à estabilidade e ao decréscimo de 4,7%, respectivamente, no semestre anterior. Esse comportamento está em linha com os desempenhos econômicos abaixo do esperado na Europa e nas economias emergentes. O índice MSCI para bancos dos EUA, por sua vez, elevou-se 8,8% no segundo semestre (alta de 4,4% no semestre anterior), em linha com o melhor desempenho da economia estadunidense (gráfico 1.2.9). Gráfico 1.2.9 – MSCI bancos 31.12.2012 = 100 150 136 122 108 94 Dez 2012 Mar 2013 Mai EUA Ago Out Dez Europa Mar 2014 Mai Ago Out 80 Dez Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Espanha França Alemanha Reino Unido EUA Itália 0 Fonte: Bloomberg 1/ Calculados pela média aritmética dos prêmios de CDS dos dois maiores bancos pelo critério de capitalização de mercado de cada país. Exceção nos EUA: JPM Chase e Bank of America. De forma prospectiva, os riscos para a estabilidade financeira global permanecem elevados, em que pesem as diversas medidas de caráter regulatório que vêm sendo tomadas desde a crise de 2008,10 com o intuito de criar ambiente em que os mercados estejam mais preparados para enfrentar eventuais aumentos de volatilidade. Contribuem para essa perspectiva, entre outros, as sucessivas revisões para baixo nas perspectivas de crescimento econômico global; os crescentes riscos de deflação em importantes economias; os conflitos geopolíticos (no Leste Europeu e no Oriente Médio) e, mais recentemente, as incertezas associadas ao processo eleitoral grego, que culminou com a eleição do partido oposicionista, e o forte recuo no preço do petróleo. Eventual elevação abrupta da percepção de risco ou do ritmo esperado para a normalização da política monetária (em especial nos EUA) elevaria risco de desequilíbrios financeiros associados à sensibilidade dos portfolios dos agentes econômicos aos riscos de variações nas taxas de câmbio ou de juros globais. Esses riscos são tanto maiores quanto mais alavancados estiverem os agentes econômicos. Ressalte-se que se, por um lado, os Economias emergentes Fonte: Bloomberg 8/ Os índices refletem médias ponderadas dos preços das ações das respectivas indústrias bancárias. 9/ Média aritmética dos dois maiores bancos de cada país pelo critério de capitalização de mercado. 10/ Entre as medidas, incluem-se o aumento do capital mínimo e a criação de mecanismos para garantir a liquidez (ex post) mesmo em momentos de maior aversão ao risco. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 11 elevados níveis de alavancagem em alguns segmentos do mercado reduzem a capacidade de novos endividamentos para a sustentação de crescimento econômico mais vigoroso, por outro, a permanência de taxas de juros em patamares excessivamente baixos por longo período segue encorajando a subprecificação do risco e o aumento da alavancagem em alguns segmentos. No período pós-crise, enquanto o setor financeiro global reduziu seu endividamento total (como proporção do Produto Interno Bruto [PIB]), o setor não financeiro (que inclui governo, famílias e corporações não financeiras) aumentou seu nível de endividamento.11 Nas economias avançadas, enquanto o setor público aumentou o nível de endividamento, os demais segmentos reduziram-no (com destaque para as reduções nos endividamentos das famílias e do segmento financeiro ocorridas nos EUA). Em relação às economias emergentes, houve significativa aceleração da alavancagem – embora a partir de base mais baixa – das corporações não financeiras com altas taxas de retorno (high yields), notadamente por meio da emissão recorde de títulos (tanto em moeda doméstica quanto estrangeira) em adição aos empréstimos bancários. Em menor proporção, o endividamento das famílias também aumentou nos mercados emergentes. Na agenda regulatória internacional, há pontos ainda em aberto, como a questão do shadow banking.12 De acordo com a estimativa mais ampla fornecida pelo Comitê de Estabilidade Financeira (FSB – sigla em inglês) a partir de informações dos ativos de outros intermediários financeiros, a intermediação financeira não bancária alcançou US$63,8 trilhões em 2013 (US$60,2 trilhões em 2012).13 Desde 2007, observou-se relativa redução na participação dos EUA e ligeiro incremento na da Área do Euro e do Reino Unido no shadow banking global, além de elevação mais acentuada na das economias emergentes (especialmente na China). Nesse grupo, a intermediação cresceu mais de 10% em 2013, mas sobre base relativamente 11/ Vide o relatório Capital Markets Monitor, de dezembro de 2014, do Institute of International Finance (IIF). Os dados incluem Área do Euro, EUA, Reino Unido, Japão, África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Hungria, Índia, Indonésia, México, Polônia, República Tcheca, Tailândia e Turquia. As informações vão do primeiro trimestre de 2009 ao segundo trimestre de 2014 (<https://www.iif.com/publication/capital-markets-monitor/december2014-capital-markets-monitor-deleveraging-mixed-picture>). 12/ Vide o boxe Shadow Banking no Brasil. 13/ Engloba informações de 25 jurisdições nacionais. Enquanto os ativos do sistema bancário representavam 46% do total do sistema financeiro em 2013, os ativos dos intermediários financeiros não bancários, monitorados pelo FSB, situavam-se em 25% do total, equivalentes a 120% do PIB das economias. Vide Global Shadow Banking Monitoring Report 2014, FSB, de 30 de outubro de 2014. pequena.14 O Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu Global Financial Stability Report (GFSR) de outubro de 2014, examinou o crescimento global do shadow banking e concluiu que sua contribuição para os riscos sistêmicos (basicamente domésticos) é maior nos EUA que na Europa. Entretanto, existem limitações na disponibilização de dados de shadow banking, o que, por si só, consiste em risco para o adequado monitoramento dessa atividade.15 Ressalte-se que, desde a crise, houve grande esforço internacional – envolvendo, entre outros, o FSB e o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (BCBS – sigla em inglês) – para melhor compreender esse segmento e identificar os potenciais riscos para a estabilidade financeira.16 O desafio atual é adotar medidas práticas, seja pela via da regulamentação, seja pela da intensificação do monitoramento desse segmento. Na Área do Euro, a despeito do compromisso das autoridades com o aprofundamento da união bancária, importantes avanços ainda são necessários para a desvinculação entre os riscos do sistema bancário e o risco soberano e para a contenção da fragmentação financeira.17 Nesse contexto, desde 14 de novembro de 2014, o BCE assumiu as funções de supervisão bancária18 no âmbito do Mecanismo Único de Supervisão, após a finalização da avaliação abrangente dos sistemas bancários da região realizada com o objetivo de verificar a solidez de 130 bancos nos dezenove países do bloco econômico, cobrindo aproximadamente 82% dos 14/ Com base em contas financeiras nacionais, o FSB estima o volume de intermediações financeiras não bancárias (excluindo-se companhias seguradoras, fundos de pensão e instituições financeiras públicas) (<http:// www.financialstabilityboard.org/wp-content/uploads/r_141030.pdf>). 15/ Vide Shadow banking around the globe: how large, and how risky. GFSR, outubro de 2014. Disponível em <http://www.imf.org/external/pubs/ft/ gfsr/2014/02/pdf/c2.pdf>. 16/ Para lista dos desenvolvimentos recentes de caráter regulatório nessa área, vide o capítulo 2, anexo 2.4., p. 99-101, de outubro de 2014. 17/ A fragmentação financeira se manifesta pela migração de fluxos de não residentes dos países mais vulneráveis da Área do Euro (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal) para seus mercados domésticos, assim como pela transferência de depósitos de residentes dessas economias para outras consideradas mais seguras. 18/ Destaque-se que, no início de 2015, parecer inicial da Corte de Justiça da União Europeia confirmou a legalidade da compra definitiva de títulos soberanos no mercado secundário pelo BCE (Outright Monetary Transactions [OMT]), no âmbito de programa de ajuste macrofinanceiro da Área do Euro, fortalecendo o papel do BCE como guardião da estabilidade financeira do bloco. A decisão final do plenário da corte está prevista para o fim do primeiro semestre de 2015. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12 ativos bancários (€22 trilhões).19 Com o aumento da transparência sobre a situação dos sistemas bancários, o BCE espera, entre outros efeitos, reduzir a fragmentação financeira e favorecer, em última instância, a elevação do crédito bancário e o aquecimento da atividade econômica no bloco. Em síntese, os principais fatores de risco para a estabilidade financeira internacional são surtos de volatilidade 20 e ajustes abruptos na inclinação da curva de juros em economias maduras associados à publicação de novos indicadores e/ou sinalizações feitas por autoridades que apontem aceleração do processo de normalização das condições monetárias em grandes economias, em particular nos EUA. Na pauta de riscos relevantes, destacam-se ainda pronunciada deterioração nas condições de crescimento econômico de importantes áreas econômicas, com eventuais riscos de deflação prolongada em economias maduras, em especial na Europa. Adicionalmente, o recuo abrupto nos preços do petróleo, ainda que possa beneficiar o crescimento econômico de países importadores, pode agravar desequilíbrios nas economias com alto grau de dependência das exportações da commodity, com desdobramentos financeiros adversos, em especial nos mercados de câmbio e de dívida soberana, em economias mais vulneráveis, bem como potencializar os riscos de deflação presentes em algumas economias. Nesse sentido, o desempenho das principais áreas econômicas será determinado por sua capacidade de enfrentar esses novos desafios domésticos e externos. 1.3 Mercado financeiro nacional O Banco Central do Brasil (BCB) voltou a elevar a taxa básica de juros no final de outubro de 2014, após mantê-la em 11,0% desde abril. Essa taxa já havia sido aumentada em 3,75 p.p. entre abril de 2013 e abril de 2014. Em outubro, o Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou que o balanço de riscos para a inflação havia se tornado menos favorável em função da intensificação do realinhamento de preços relativos – tanto domésticos em relação aos internacionais, como administrados em relação aos livres – e elevou em 0,25 p.p. a taxa Selic. A despeito do recuo dos índices mensais de inflação no início do semestre, as expectativas para a inflação21 e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em doze meses não só permaneciam acima da meta de 4,5%22, bem como continuavam em ascensão.23 No início de dezembro, o Copom elevou novamente a taxa Selic, agora em 0,50 p.p., para 11,75%. No mercado futuro de taxas de juros, houve reversão da trajetória de queda registrada no semestre anterior. As taxas referentes aos prazos mais curtos parcialmente anteciparam o movimento e em seguida acompanharam a alta da taxa básica, enquanto as taxas para prazos mais longos apresentaram maiores oscilações, que se refletiram em alterações expressivas na inclinação da curva de juros ao longo do semestre (gráfico 1.3.1). Gráfico 1.3.1 – Evolução das taxas de juros Taxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano, 2 e 5 anos % a.a. 13,5 A conjunção desses fatores, em contexto de mudanças estruturais nos mercados de crédito (crescimento do shadow banking), tem elevado os riscos de mercado e de crédito nos sistemas financeiros. Tais condições seguem demandando monitoramento contínuo e coordenado por parte das autoridades reguladoras em nível mundial. 19/ Principais resultados da avaliação completa dos 130 bancos de maior dimensão da Área do Euro: deficit de fundos próprios no montante de €25 bilhões, em 25 dos bancos abrangidos; necessidade de os valores dos ativos dos bancos necessitam serem ajustados em €48 bilhões, dos quais €37 bilhões não geraram deficit de fundos próprios; deficit de €25 bilhões e ajustamento do valor dos ativos em €37 bilhões implicam impacto global de €62 bilhões; detectou-se saldo adicional de €136 bilhões de inadimplência; cenário adverso do teste de esforço erodiria os fundos próprios dos bancos em €263 bilhões, reduzindo a relação média de fundos próprios principais de nível 1 (CET1) de 12,4% para 8,3% (<http://www. ecb.europa.eu/press/pr/date/2014/html/pr141026.pt.html>). 20/ A alta sensibilidade dos mercados financeiros internacionais pode ser mensurada pelo impacto expressivo da decisão do banco central da Suíça de, em 15 de janeiro de 2015, abolir o piso cambial de CHF1,2/EUR, provocando intensa volatilidade nos mercados cambiais e acionários, com valorização intradia histórica do franco suíço ante o euro e o dólar dos EUA. 12,7 11,9 11,1 10,3 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Taxa Selic 1 ano Jun Jul Ago 3 meses 2 anos Set Out Nov Dez 9,5 6 meses 5 anos Fontes: BM&FBovespa e BCB 21/ A mediana das expectativas de inflação (IPCA) acumulada para os próximos doze meses (suavizada) subiu mês a mês, de 5,90% em junho para 6,61% em dezembro de 2014. 22/ As resoluções nº 4.095, de 28 de junho de 2012, nº 4.237, de 28 de junho de 2013, e nº 4.345, de 25 de junho de 2014, do Conselho Monetário Nacional (CMN), fixaram, respectivamente, as metas de inflação para 2014, 2015 e 2016 em 4,5%, e os intervalos de tolerância em 2,0 p.p. abaixo e acima da meta. 23/ O IPCA foi de apenas 0,01% em julho e 0,25% em agosto, mas atingiu 0,78% em dezembro. O acumulado em doze meses, entretanto, após atingir 6,75% em setembro, encerrou o ano em 6,41%. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13 As oscilações nas taxas longas no mercado futuro de juros no Brasil durante o segundo semestre de 2014 foram influenciadas pelos acontecimentos nos mercados internacional e doméstico. No cenário externo, o principal fator que explica esse comportamento foi a iminência do fim do programa de compra de ativos por parte do Fed, confirmado no final de outubro, acompanhada das expectativas quanto à elevação de sua taxa básica de juros e o consequente movimento sobre a curva dos treasuries. Além desse fator, as tensões geopolíticas, a acentuada queda no preço das commodities, particularmente o petróleo, acompanhada da expressiva desvalorização da moeda russa (rublo) em dezembro, complementaram a caracterização do cenário de complexidade e de maior incerteza no qual operou a política monetária. Já no cenário doméstico, os principais fatores foram a desaceleração da atividade econômica; a depreciação cambial, a partir de setembro; o decrescente resultado primário do setor público consolidado, acumulado em 12 meses, a partir de maio; e as incertezas tanto do cenário das eleições presidenciais quanto, subsequentemente, da indefinição da nova equipe econômica. desvalorização do real, o resultado fiscal26 e a persistência da inflação em níveis elevados constituíram, até o final do semestre, fatores subjacentes a esse movimento de elevação das taxas de juros. Por sua vez, a complexidade que envolve a política monetária do Fed, diante da postura expansionista do BCE e do BoJ, acompanhado da desaceleração da economia chinesa27 e das revisões em baixa do crescimento mundial, bem como as incertezas decorrentes das eleições presidenciais, explicam as grandes oscilações das taxas de juros de prazos mais longos no mercado futuro de juros no Brasil. Gráfico 1.3.2 – Volatilidade das taxas de juros % a.a. 4,0 3,2 2,4 1,6 0,8 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Curto Jun Jul Ago Médio Set Out Nov Dez 0,0 Longo No início do segundo semestre, mediante alteração de compulsórios e das regras macroprudenciais de requerimento de capital, o BCB buscou melhorar a distribuição da liquidez na economia e adequar a uma realidade diferente da vigente quando da adoção original dessas medidas.24 Concomitantemente, as taxas de juros no mercado futuro apresentavam trajetória declinante, num cenário de manutenção da taxa básica de juros e de enfraquecimento do nível de atividade econômica. Esse declínio foi interrompido pontualmente ao final de julho, acompanhando o movimento, também pontual, de abertura da curva dos treasuries, apreciação do dólar e maior aversão ao risco. Somente no início de setembro25 as taxas do mercado futuro de juros no Brasil exibiram uma trajetória claramente ascendente, embora as de longo prazo apresentassem oscilações mais acentuadas. A As taxas de juros domésticas apresentaram maior volatilidade no segundo semestre de 2014, porém ainda inferior ao nível alcançado em junho de 2013. A volatilidade das taxas de médio e de longo prazo foi resultado dos bruscos movimentos das taxas de juros de prazos mais longos, com flattenings da curva seguidos de steepenings. Os desafios impostos pelo decrescente resultado primário do setor público consolidado, acumulado em 12 meses, a partir de maio, bem como a persistência de elevadas expectativas de inflação e o baixo crescimento econômico, colocaram em foco os possíveis rumos da política econômica do próximo governo. Nesse ambiente, a acirrada disputa eleitoral 24/ A Circular BCB nº 3.712, de 24 de julho de 2014, reduziu os depósitos compulsórios, enquanto a Circular BCB no 3.715, de 20 de agosto de 2014, aumentou em 10 p.p., para 60%, o recolhimento compulsório relativo a depósitos a prazo que podem ser cumpridos com operações de crédito. A Circular nº 3.714, de 20 de agosto de 2014, alterou os critérios relativos ao requerimento mínimo de capital para risco de crédito, dando continuidade ao processo de convergência da regulação brasileira aos parâmetros internacionais de Basileia. 25/ Em 9 de setembro, a agência de classificação de risco Moody´s rebaixou a perspectiva da nota de Baa2 de rating soberano do Brasil de estável para negativa. 26/ O impacto de uma atividade econômica mais moderada, as medidas para os problemas do setor elétrico e a defasagem acumulada dos preços administrados adicionaram incertezas à condução da política fiscal. No ano, o resultado fiscal acumulado do setor público consolidado alcançou deficit de R$32,5 bilhões (-0,63% do PIB), ante superavit de R$91,3 bilhões (1,90% do PIB) no ano anterior. A meta de superavit fiscal de 2014 foi alterada para meta de resultado pela Lei n° 13.053, de 15 de dezembro de 2014. A dedução prevista de até R$67 bilhões, relativas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi ampliada para considerar até o montante das desonerações de tributos e dos gastos relativos a esse programa. 27/ Em 21 de outubro, o Banco Central chinês (PBoC) se colocou ao lado do BCE e do BoJ ao adotar medidas de estímulo, como a redução da taxa de juros de empréstimo de um ano em 0,4 ponto porcentual, para 5,6%, e da taxa de depósito de um ano em 0,25 p.p., para 2,75%. Fontes: BM&FBovespa e BCB Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14 de outubro pela presidência da República adicionou incerteza ao mercado futuro de taxa de juros e se refletiu em fortes oscilações da curva de juros. Também contribuíram para maior volatilidade as flutuações nas taxas dos treasuries, a depreciação do real e o aumento de volatilidade da taxa de câmbio R$/US$. O anúncio da nova equipe econômica reduziu as incertezas, mas, ainda assim, em 16 de dezembro houve novo repique da volatilidade, decorrente da alta de 6,50 p.p. da taxa de juros russa e do movimento de aversão a risco em âmbito global.28 Esse movimento de maior volatilidade, entretanto, logo arrefeceu, principalmente devido às medidas de contenção de gastos anunciadas pela nova equipe econômica e pelo discurso mais ortodoxo do ministro da Fazenda. Quanto à volatilidade das taxas de juros de prazo mais curto, o repique ocorrido no final de outubro espelhou a surpresa com que o mercado recebeu o início no novo ciclo de aperto monetário, rapidamente incorporado nas previsões subsequentes (gráfico 1.3.2). A taxa de câmbio iniciou o semestre relativamente estável, apresentando, entretanto, forte desvalorização a partir de setembro. O real encerrou o ano cotado a R$2,66/US$,29 com desvalorização de 20,6% no semestre. No cenário externo, as incertezas em relação às recuperações das economias norte-americana e europeias, a perspectiva de desaceleração do crescimento da economia chinesa, o aumento das tensões geopolíticas ligadas à Rússia e a incerteza quanto ao início do ciclo de elevação de juros nos EUA aumentaram a aversão global ao risco, o que ocasionou a valorização do dólar norte-americano em relação a maioria das moedas. A volatilidade do câmbio aumentou a partir de setembro e, refletindo as incertezas do período de disputa eleitoral, só recuou após seu término, permanecendo, entretanto em patamar superior ao registrado no primeiro semestre. Parte da volatilidade observada pode ser atribuída às incertezas em relação à continuidade do programa de leilões de câmbio, mas, em dezembro, a maior parte dos agentes de mercado já esperava que o programa de leilão de câmbio não fosse prorrogado novamente, encerrando-se ao final do mês. Em 16 de dezembro, entretanto, diante da forte desvalorização do rublo e sua repercussão sobre as moedas dos países emergentes e, principalmente, devido ao seu impacto no aumento da 28/ Alguns vértices, como o Jan/16 e o Jan/17 chegaram a atingir o limite diário de oscilação imposto pela BM&F (80 p.b.). 29/ Cotação da taxa de câmbio R$/US$ divulgada pelo BCB (PTAX) calculada segundo metodologia divulgada pela Circular BCB n° 3.506, de 23 de setembro de 2010, e atualizada conforme Circular BCB n° 3.537, de 25 de maio de 2011. demanda por hedge, o BCB anunciou a continuidade do programa de leilões cambiais.30 Gráfico 1.3.3 – Taxa de câmbio R$/US$ EUR/US$ 0,83 2,75 0,81 2,63 0,79 2,51 0,77 2,39 0,75 2,27 2,15 0,73 Jan Fev 2014 Mar Abr Mai Jun R$/US$ Jul Ago Set Out Nov Dez 0,71 EUR/US$ No semestre, o BCB efetuou leilões de swap cambial tradicional31 no valor nocional equivalente a US$75,5 bilhões (incluídas as rolagens de vencimentos), terminando o ano com uma posição líquida em swap passiva em câmbio de US$109,6 bilhões, ante US$89,9 bilhões em junho. O BCB também realizou leilões de linha com recompra no valor de US$10,3 bilhões em dezembro. Frente ao euro, no mesmo período, a desvalorização do real foi de apenas 7,0%, principalmente em razão da expectativa quanto ao início do programa de compra de ativos pelo BCE (gráfico 1.3.3). O saldo de câmbio contratado registrou fluxo negativo de US$13,4 bilhões no segundo semestre de 2014 e foi composto por entrada de US$1,2 bilhão no comercial e por saída de US$14,7 bilhões no financeiro. O volume líquido de investimento estrangeiro direto (IED) foi de US$33,2 bilhões. Já as reservas internacionais, no conceito de caixa, encerraram o semestre em US$363,6 bilhões, com decréscimo de 2,7% em relação ao final de junho de 2014, fundamentalmente em decorrência dos leilões de venda de dólares com compromisso de recompra. 30/ Em 30 de dezembro de 2014, o BCB formalizou a extensão do programa de leilões de câmbio até pelo menos 31 de março de 2015 nas seguintes condições: realização de leilões de swap de segunda-feira a sexta-feira, com oferta de US$100 milhões por dia; realização de leilões de venda de dólares com compromisso de recompra em função das condições de liquidez do mercado de câmbio; e, sempre que necessário, realização de operações adicionais de venda de dólares por meio dos instrumentos ao alcance do BCB. 31/ Operação de swap cambial na qual o Banco Central assume posição passiva em câmbio mais cupom cambial e posição ativa na taxa de juros doméstica (taxa Selic). Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15 Gráfico 1.3.4 – Índice Bovespa Pontos (mil) 64 60 56 52 48 Jan Fev 2014 Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 44 Fonte: BM&FBovespa No mercado acionário, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) continuou a trajetória de alta iniciada no semestre anterior até 2 de setembro, acumulando ganhos de 16,4% em dois meses. A partir de então, houve reversão dessa tendência, e o Ibovespa fechou o semestre com queda de 5,9% (gráfico 1.3.4), influenciada pela queda de 41% no valor das ações da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras).32 A volatilidade do Ibovespa foi influenciada, principalmente, pelas incertezas quanto à disputa eleitoral. Em novembro, a bolsa ensaiou uma recuperação na expectativa da nomeação de uma nova equipe econômica. No entanto, a persistente queda do preço do petróleo no semestre e os adiamentos na publicação do balanço da Petrobrás33, juntamente com as repercussões da desvalorização do rublo, fizeram com que o Ibovespa acumulasse perdas de 11,6% até 16 de dezembro. Quanto ao fluxo de investimentos estrangeiros, houve ingresso líquido de R$9,6 bilhões no terceiro trimestre. Entretanto, o aumento das volatilidades externa e interna provocou uma reversão parcial desse fluxo, encerrando o semestre em R$8,1 bilhões. No último quadrimestre, o ambiente externo mostrou-se complexo: os bancos centrais das principais economias desenvolvidas adotaram políticas monetárias distintas; os preços das commodities caíram de forma significativa, com destaque para o do petróleo; e os conflitos geopolíticos no Oriente Médio e no Leste Europeu se acirraram. Internamente, o nível da atividade desacelerou e houve piora dos indicadores fiscais. Ainda assim, os índices de preços domésticos e as expectativas para a inflação continuaram em patamares elevados. Em outubro, o BCB avaliou que o balanço de riscos para inflação havia se tornado menos favorável e começou a elevar novamente a taxa Selic. O processo eleitoral colocou em foco os possíveis rumos da política econômica do próximo governo, adicionando incertezas que contribuíram para o aumento das taxas de juros bem como para a elevação das volatilidades do câmbio e dos juros e para a reversão da trajetória de alta do Ibovespa, que encerrou o semestre em queda. Em síntese, os condicionantes externos e internos foram mais favoráveis nos meses de julho e agosto, resultando em flattening da curva de juros doméstica, relativa estabilidade da taxa de câmbio e das volatilidades das taxas de juros, além de expressiva alta do Ibovespa. Desde então, houve reversão desse quadro. 32/ Como a nova metodologia de cálculo do Ibovespa, adotada em maio de 2014, que considera o valor de mercado das empresas, a participação relativa da Petrobras caiu de 14,2% (quarto trimestre de 2014) para 7,9% (primeiro trimestre de 2015), menor nível desde 1998. 33/ Em 12 de dezembro, após o encerramento das negociações, a Petrobras adiou novamente a divulgação do balanço não auditado do terceiro trimestre. Assim, no dia seguinte, o preço das ações da empresa chegou a cair mais de 10% em relação ao preço inicial, o que fez com que as ações da empresa fossem levadas a leilão. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16 2 Sistema bancário 2.1Introdução No segundo semestre de 2014, o sistema bancário brasileiro continuou apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência. O risco de liquidez de curto prazo manteve-se baixo, com elevação do estoque de ativos líquidos das instituições financeiras. Além disso, o risco de liquidez estrutural também permanece baixo, uma vez que os recursos estáveis mantêm-se suficientes para suportar o estoque de crédito. Acerca do mercado de crédito, destaca-se a continuidade das principais tendências observadas no primeiro semestre: crescimento do estoque em ritmo menor, elevação das taxas de juros aos tomadores e relativa estabilidade do nível de inadimplência e do índice de cobertura da inadimplência. Entretanto, há distinções entre as tendências quando segmentadas por tipo de controle (público ou privado), porte de tomador e produto. Em particular, destaca-se o aumento da inadimplência das pequenas e médias empresas e a elevação das renegociações de créditos habitacionais em bancos públicos. Aspectos adicionais que podem afetar as tendências futuras do crescimento do crédito e da inadimplência incluem a evolução do ambiente econômico nacional e internacional, os efeitos na capacidade de pagamento das empresas investigadas na Operação Lava Jato e em sua cadeia de fornecedores, bem como o cenário de incerteza sobre as condições e custos da oferta de energia elétrica e de água. A elevação nas taxas de juros aos tomadores começou a produzir efeito positivo na rentabilidade da carteira de crédito e contribuiu para impulsionar o resultado. O avanço do resultado de crédito e a significativa ampliação dos ganhos em participações societárias favoreceram o incremento no retorno sobre o patrimônio líquido. A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. Destaque-se que, para efeito deste capítulo, o sistema bancário é constituído pelas instituições banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica, banco de câmbio e banco de investimento, e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 Crédito, na qual as análises envolvem todo o Sistema Financeiro Nacional (SFN). 2.2Liquidez O risco de liquidez de curto prazo do sistema bancário brasileiro, que já se apresentava em baixo patamar, reduziu-se ainda mais no segundo semestre de 2014, evento fortemente influenciado pela elevação do estoque de ativos líquidos34 nas instituições financeiras (IF). O 34/ Para definição de ativos líquidos e de fluxo de caixa estressado, vide “Conceitos e Metodologias”, itens a e d. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17 risco de liquidez estrutural35 também permaneceu baixo, pois o estoque de recursos estáveis36 manteve-se em montante suficiente para suportar o estoque do crédito. No semestre, o montante de ativos líquidos das IF aumentou em cerca de R$82 bilhões, influenciado principalmente pela mudança no mix das captações, que inclusive reduziu o volume das exigibilidades de compulsório. A elevação foi acompanhada de melhora na distribuição do risco de liquidez das instituições, caracterizada pela redução da representatividade no sistema das IFs com IL abaixo de um e também pelo aumento da participação das IFs com IL acima de dois (gráfico 2.2.2). Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o índice de liquidez1/ % dos ativos do sistema Apesar do crescimento do estoque das captações, o fluxo de caixa estressado (de curto prazo) manteve-se praticamente inalterado no período, efeito do ganho de estabilidade proporcionado pela mudança no mix de captações. Esses movimentos resultaram na elevação do índice de liquidez (IL)37 do sistema de 1,71 para 2,02 no semestre (gráfico 2.2.1). 55 72 33 7 22 18 <0,8 6 3 0,8-1,0 6 800 2,10 640 1,68 480 1,26 320 0,84 160 0,42 Jul Jan 2013 Jul 9 7 8 1,0-1,2 1,2-1,4 22 63 10 1,4-1,6 8 1,6-1,8 11 9 1,8-2,0 ≥2,0 0 Índice de liquidez un. R$ bilhões Jan 2012 4 11 Gráfico 2.2.1 – Índice de liquidez 0 44 Jan 2014 Jul Dez 0,00 Ativos líquidos Fluxo de caixa estressado Índice de liquidez Base de dados Junho 2014 Dezembro 2014 1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com índice de liquidez pertencente ao intervalo correspondente. Base de dados Com variações equiparadas dos estoques de captação e de crédito domésticos, a menor proporção do compulsório em relação ao estoque de recursos captados resultou no aumento dos ativos líquidos no semestre e consequente redução do risco de liquidez (gráfico 2.2.3). Gráfico 2.2.3 – Relação compulsório versus captações domésticas e variações semestrais dos estoques domésticos de captações e crédito % 20 35/ Liquidez estrutural de uma IF refere-se à relação entre operações ativas de prazos mais longos e as fontes de recursos suficientemente estáveis para suportá-las. Quanto maior a estabilidade dos recursos, menor o risco futuro de insuficiência de recursos. 36/ Recursos estáveis são aqueles com risco reduzido de corrida bancária em situação de estresse: a) primeiramente pela perspectiva do aplicador (principal) são estáveis as captações de varejo (detentores não institucionais) e b) de forma complementar, pela perspectiva do prazo efetivo do instrumento de captação, são estáveis quando maior que um ano. Indicador modificado e adaptado do conceito do Financial Soundness Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Detalhes da definição, ver “Conceitos e Metodologias”, item b. 37/ O IL relaciona o volume de ativos líquidos disponíveis para a instituição com o fluxo de caixa estressado (desembolso dos 30 dias/21 dias úteis subsequentes em cenário de estresse). O fluxo de caixa estressado simula desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar esse cenário de estresse. Como a metodologia simula um cenário de trinta dias em que os ativos líquidos teriam de ser convertidos em dinheiro, eles são marcados a mercado e/ou sofrem ponderação que simula redução de preço no caso de venda forçada. Essa métrica de liquidez tem por base os mesmos conceitos subjacentes ao Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por Basileia III. No Brasil, o LCR deve ser calculado e divulgado a partir de 2016, conforme Resolução CMN nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e Circular BCB nº 3.749, de 5 de março de 2015. 16 12 8 4 Jan 2012 Jul Jan 2013 Jul Jan 2014 Jun Dez 0 Relação compulsório versus captações domésticas Variação semestral do estoque de captações domésticas Variação semestral da carteira de crédito doméstica Base de dados O crescimento do funding estável permaneceu compatível com o aumento de prazo médio e do volume da carteira de crédito, mantendo o risco de liquidez estrutural baixo. Entre os instrumentos de captação de maior estabilidade, destacam-se a poupança, a letra financeira (LF) e a letra de crédito imobiliário (LCI) (gráfico 2.2.4). Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18 2.3Crédito Gráfico 2.2.4 – Captações de recursos estáveis sobre crédito e seu prazo médio % meses 40 130 36 104 32 78 28 52 24 26 20 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 0 Captação estável versus crédito (%) Prazo médio da carteira de crédito doméstica (meses) Base de dados Permanece baixa a dependência por funding externo. A captação externa total reduziu-se em US$8 bilhões no semestre, com destaque para a diminuição em aproximadamente US$16 bilhões dos recursos captados e mantidos no exterior38. Essa redução, entretanto, não é verificada nos estoques em reais devido à depreciação frente ao dólar verificada no período (gráfico 2.2.5). Gráfico 2.2.5 – Perfil das captações externas como percentual da captação total % 15 12 9 6 Os principais destaques sobre o crédito39 no segundo semestre de 2014 referem-se à continuidade de tendências observadas no primeiro semestre, especialmente o ritmo menor de crescimento do estoque, a elevação das taxas de juros aos tomadores e a manutenção relativa do nível de inadimplência,40 oscilando em torno de 3,0%. O índice de cobertura da inadimplência (ICI)41 também permaneceu relativamente estável, próximo a 1,7, o que, em conjunto com o menor crescimento das carteiras e a inadimplência estável até o momento, aponta para a manutenção da resiliência do sistema de crédito na perspectiva agregada. Há, no entanto, diferenças entre esses indicadores e suas tendências quando segmentados por tipo de controle, porte de tomador ou produto de crédito. Acesso mais restrito a financiamentos pelas empresas investigadas no contexto da Operação Lava Jato e seus fornecedores, bem como indefinições quanto às condições e custos de oferta de energia elétrica e de água, ensejam atenção relativamente aos seus impactos potenciais sobre a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito. Analisando especificamente a variação do estoque do crédito doméstico, no segundo semestre manteve-se a tendência de redução no ritmo de crescimento das carteiras, encerrando o ano com aumento de 11,3% em relação a dezembro de 2013. Além disso, esse crescimento teria sido ainda menor em relação ao observado, se não fosse pelos efeitos da desvalorização cambial sobre as operações referenciadas em moeda estrangeira.42 3 Dez 2010 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 0 Dez Captações externas mantidas no exterior versus captações totais Captações externas que ingressam (vinculadas) versus captações totais Captações externas que ingressam (livres) versus captações totais Base de dados Em suma, o risco de liquidez permanece baixo tanto em perspectiva de curto quanto de médio prazo. O volume de ativos líquidos do sistema mostra-se compatível com a estrutura de passivos, bem como o funding estável com a carteira de crédito. Ademais, a desaceleração do crescimento dessa carteira tende a reforçar essa constatação. 38/ Além dos recursos captados e mantidos no exterior, ainda compõem as captações externas aquelas que ingressam no país. Subdividem-se em: 1) recursos externos vinculados a operações de comércio exterior ou empréstimos e; 2) recursos externos livres: demais recursos que ingressam no país. Essa redução advém essencialmente dos bancos públicos, que continuaram a diminuir suas taxas de crescimento de carteira. Essa queda, no entanto, foi menos significativa que nos dois semestres anteriores, encerrando o ano com crescimento de 16,5% nas carteiras domésticas.43 Diferentemente, os bancos privados não retomaram o ritmo de crescimento do estoque de crédito, mantendo 39/ Refere-se ao crédito bancário doméstico. 40/ Inadimplência mensurada pela relação do saldo total de operações de crédito com parcelas vencidas há mais de noventa dias, com o valor total da carteira de crédito. 41/ O índice de cobertura da inadimplência mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias. 42/ Do total de operações de crédito, 7,9% eram representadas por operações referenciadas em moeda estrangeira em dezembro de 2014, basicamente o dólar dos EUA. A desvalorização de 13,4% do real frente ao dólar dos EUA no ano foi responsável por 0,4 p.p. do crescimento anual das operações de crédito. 43/ Em junho, o crescimento anual dos bancos públicos foi de 17,1%, enquanto em dezembro de 2013 havia sido de 22,6%. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19 suas taxas de crescimento levemente abaixo de 6% ao ano (a.a.) ao longo da maior parte do segundo semestre (gráfico 2.3.1). Com isso, observou-se aumento da participação das instituições públicas no crédito doméstico total, atingindo 53,6% em dezembro de 2014. Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual do crédito por controle % 50 40 30 20 10 0 Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Público Privado A inadimplência da carteira de crédito doméstico oscilou entre 3,0% e 3,1% entre junho e novembro, atingindo 2,9% em dezembro de 2014. Entretanto, a inadimplência apresentou comportamentos diferentes nas instituições financeiras quando consideradas por tipo de controle: enquanto nos bancos privados houve melhora, com diminuição de 0,2 p.p. no semestre, nos bancos públicos houve aumentos de julho a novembro e queda apenas no mês de dezembro (gráfico 2.3.3). Ressalte-se, porém, que essa redução está associada a cessões de crédito45 e renegociações de operações inadimplentes, e não a mudanças efetivas no perfil da carteira. Sem esses eventos, a inadimplência nos bancos públicos teria mantido sua tendência e a do SFN teria encerrado o semestre estável. Gráfico 2.3.3 – Inadimplência por controle % Total 6,0 Base de dados As taxas de juros para o crédito livre se elevaram no semestre (gráfico 2.3.2), influenciadas pela continuidade dos aumentos da taxa Selic. 44 Foram observados aumentos nas principais modalidades de crédito, com mais intensidade naquelas que apresentam maior nível de inadimplência, como o cheque especial e o capital de giro. O início de 2015 tende a apresentar continuidade dos aumentos do custo para o tomador de crédito livre, em razão do aumento do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF) ocorrido em janeiro de 2014 e do provável repasse para o crédito dos aumentos da meta da taxa Selic. Gráfico 2.3.2 – Evolução das taxas de juros Recursos livres e direcionados, PF e PJ % a.a. 50 40 30 4,8 3,6 2,4 1,2 0,0 Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez 2011 2012 2013 2014 Público Privado Total Base de dados O ICI apresentou aumento de 0,07 p.p. de junho a dezembro de 2014 (gráfico 2.3.4), decorrente da diminuição da inadimplência nos bancos privados. Nos bancos públicos, o ICI praticamente não variou, em que pesem as cessões de crédito e renegociações realizadas. De qualquer modo, em ambos os casos o indicador continua em nível adequado, mesmo levando-se em conta os eventos citados no parágrafo anterior, permanecendo em patamar superior ao mantido pelas instituições financeiras da maioria dos países.46 20 10 0 Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez 2011 2012 2013 2014 Livre PJ Livre PF Direcionado PJ Direcionado PF Base de dados 44/ No primeiro semestre de 2014, a meta para a taxa Selic variou de 10,00% para 11,00%. No segundo semestre, variou de 11,00% para 11,75%. A existência de volume suficiente de provisões é, como no semestre anterior, corroborada por outras métricas, 45/ Houve volume relevante de cessões de operações inadimplentes para fora do SFN, sem retenção de risco, nos meses de setembro e dezembro. A cessão de créditos inadimplentes sem retenção de riscos implica a baixa contábil desses ativos, reduzindo o índice de inadimplência da instituição cedente. Note-se que a cessão e a renegociação de créditos são práticas usuais para gestão de riscos da carteira de crédito, mas o objetivo em ressaltar esses eventos é seu efeito na redução do indicador de inadimplência. 46/ Dados disponíveis no sítio do FMI, reproduzidos no Anexo Estatístico. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20 tais como a relação entre as provisões constituídas e os créditos baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou as provisões constituídas e o total da carteira de maior risco,47 composta pelas operações de crédito classificadas nos níveis de E a H (gráfico 2.3.5).48 Gráfico 2.3.4 – Índice de cobertura da inadimplência por segmento 3,0 2,4 de carteira, reforçando a avaliação de que o SFN, em geral, encontra-se com adequado nível de provisões. Na faixa de ICI inferior a 1,0, embora tenha havido aumento no número de bancos, a relevância dessa carteira sobre o SFN se manteve estável em relação a junho de 2014, em torno dos 2%. Por fim, salienta-se que, em dezembro de 2014, 97% da carteira de crédito no SFN encontrava-se no ativo de instituições com ICI superior a 1,3. Gráfico 2.3.6 – Distribuição de frequência para o índice de cobertura da inadimplência1/ 1,8 55 1,2 12 0,6 17 56 40% 32% 11 24% 11 0,0 Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez 2011 2012 2013 2014 16% 8% Público Privado Total 4 9 <0,7 Base de dados 12 11 25 15 0,7≤IC<1 1≤IC<1,3 Junho 2014 Gráfico 2.3.5 – Inadimplência, provisões e baixas para prejuízo % 3,6 2,4 1,2 0,0 Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez 2011 2012 2013 2014 Carteira de crédito classificada nos níveis de E até H Provisões Inadimplência Créditos baixados nos doze meses seguintes Base de dados A análise da dispersão do ICI por banco49 (gráfico 2.3.6) nas posições de junho e de dezembro de 2014 evidencia que o movimento mais expressivo no período foi o aumento das instituições com cobertura de provisões maiores do que 1,6, tanto em quantidade quanto em volume 47/ Os percentuais do gráfico 2.3.5 representam o valor de cada métrica dividido pelo valor total da carteira de crédito doméstico. 48/ O volume de provisões constituídas superior às baixas a prejuízo indica que as perdas materializadas são inferiores às perdas esperadas, denotando margem de segurança relevante nesse quesito. Também reforça esse entendimento o fato de a carteira E-H, que pode ser entendida como a fração da carteira mais sujeita à materialização de perdas esperadas, ter nível compatível com as provisões. 49/ Nesse teste, as cooperativas de crédito e as instituições financeiras não bancárias não foram consideradas, pois, apesar de seu grande número, respondiam somente por 3,2% do crédito doméstico total em dezembro de 2014. Além disso, só são considerados os bancos que têm carteira de crédito. ≥1,9 0% Dezembro 2014 1/ As barras indicam a representatividade da carteira e os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com índice de cobertura da inadimplência naquele intervalo. 6,0 4,8 1,3≤IC<1,6 1,6≤IC<1,9 Base de dados Analisando especificamente os principais aspectos do crédito à pessoa física, cabe destacar que a expansão das carteiras, embora em menor ritmo, não foi acompanhada de alterações significativas na capacidade de pagamento dos tomadores, quando avaliada com foco no comprometimento de renda. O comprometimento de renda é medido de duas formas: uma considerando toda a população e a partir dos agregados monetários medindo o comprometimento de renda das famílias (CRF)50, outra, considerando somente os tomadores de crédito e suas respectivas rendas, medindo o comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN (CRTC)51. 50/ Para mais detalhes sobre a metodologia, veja-se boxes no Relatório de Inflação (RI) “Evolução Recente do Crédito, da Inadimplência e do Endividamento das Famílias”, de setembro de 2008; “Evolução da Inadimplência, do Endividamento e do Comprometimento de Renda após a Crise”, de março de 2010; “Endividamento e Comprometimento da Renda das Famílias: Incorporação do Conceito de Massa Salarial Ampliada Disponível”, de setembro de 2010 e no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) “Endividamento e Comprometimento de Renda das Famílias com Dívidas Bancárias: Revisão Metodológica”, de setembro de 2011. Divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS) – Série 19.881. 51/ O comprometimento de renda dos tomadores de crédito considera apenas a renda das pessoas físicas que possuem endividamento junto ao SFN. É realizado o cálculo individualizado tomador a tomador e então é utilizada a mediana. Trata-se de métrica distinta do comprometimento de renda das famílias, divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais – Série 19.881, que computa a renda de toda a população conforme metodologia utilizada internacionalmente. Para mais detalhes sobre o comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN, ver seção “Conceitos e metodologias”, item c. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21 Embora os níveis não possam ser comparados em razão de diferenças metodológicas, ambas as séries indicam uma redução na comparação com doze meses antes. Gráfico 2.3.7 – Comprometimento de renda Pessoa física % 30 26 instituições, situa-se abaixo de 40% (gráfico 2.3.9).53 Esse dado indica que, no geral, as políticas de concessão de crédito das instituições financeiras têm observado limites razoáveis de comprometimento de renda total dos tomadores. Gráfico 2.3.9 – CRTC em todo o SFN por conglomerado1/ Pessoa física 60 22 18 % 48 30 41 36 14 24 Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez 10 Dez Jun 2014 CRF 12 20 CRTC CRTC abaixo de 30% CRTC de 30% a 40% CRTC acima de 40% 0 Base de dados Avaliando a evolução do CRTC nos últimos meses, observam-se tendências distintas de acordo com a faixa de renda do tomador de crédito, com a queda sendo observada apenas na faixa de menor renda (gráfico 2.3.8). Nesse caso, a queda do CRTC é explicada por um crescimento da renda levemente mais significativo na faixa até três salários mínimos e pelo aumento na quantidade de tomadores de crédito nesse grupo. Nas faixas mais altas, o leve aumento do CRTC, ainda em patamares relativamente baixos, decorre de maior participação do crédito imobiliário no serviço da dívida. Gráfico 2.3.8 – CRTC no SFN Pessoa física % 25 20 15 10 5 Até 3 s.m. 3 a 5 s.m. Dezembro 2013 5 a 10 s.m. > 10 s.m. Junho 2014 SFN 0 Dezembro 2014 Base de dados Outro aspecto importante é que, na maioria dos conglomerados financeiros52, o nível de comprometimento de renda de seus tomadores de crédito (CRTC), considerando-se todo o crédito tomado nas demais 52/ Foram consideradas apenas as instituições financeiras bancárias com carteira de crédito pessoa física. 1/ O rótulo de dados mostra a quantidade de conglomerados em cada faixa de CRTC. O eixo vertical mostra o percentual da carteira ativa total para cada faixa. Base de dados As instituições financeiras permanecem dando maior ênfase às modalidades de menor risco em suas políticas de crédito (gráfico 2.3.10). Observa-se a continuidade na redução das carteiras de veículos e na desaceleração do ritmo – já anteriormente baixo – dos empréstimos sem consignação. Por outro lado, o crescimento do crédito com consignação em folha de pagamento segue estável e acima da média da carteira, enquanto o crédito imobiliário prossegue em desaceleração, mas ainda mantendo taxa de crescimento elevada. O crédito consignado apresentou crescimento relevante após outubro de 2014, em razão de medidas do governo que elevaram o prazo máximo das operações para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)54 e para servidores públicos federais.55 As evidências indicam que, por vezes, os recursos do crédito consignado são utilizados para amortização de outras dívidas no SFN. Essa consequente melhora no perfil da dívida fica caracterizada pela constatação da redução na inadimplência das demais operações desses tomadores no mesmo período. O 53/ Para melhor compreensão do gráfico 2.3.8, suponha-se um devedor que comprometa 25% de sua renda líquida em um conglomerado A e 10% em um conglomerado B. Para ambos os conglomerados, o devedor entrará no cômputo do comprometimento de renda com o valor de 35%, pois o valor relevante é o do seu CRTC no Sistema Financeiro Nacional e não nos conglomerados individuais. O CRTC de cada conglomerado é calculado por meio da mediana do CRTC de seus clientes considerando-se sua dívida total no SFN. 54/ Resolução MPS/CNPS n° 1.324, de 25.09.2014. 55/ Decreto n° 8.321, de 2 de outubro de 2014. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22 aspecto negativo, nesse caso, é o comprometimento da renda desses tomadores por prazos mais longos, especialmente no caso dos servidores públicos federais. Gráfico 2.3.10 – Crescimento anual do crédito Principais modalidades PF % 40 30 20 10 0 Dez 2012 Mar 2013 Jun Set Dez Mar 2014 Imobiliário Cartão de crédito Veículos Jun Set -10 Dez Consignado Sem consignação A inadimplência da carteira de cartão de crédito e dos empréstimos sem consignação, modalidades mais sensíveis a eventuais pioras no cenário econômico pelo menor nível de robustez de suas garantias e pelo perfil do tomador59, manteve a tendência de elevação observada desde o início do ano, revertendo, assim, um ciclo de redução que vinha ocorrendo a partir do segundo semestre de 2012 (gráfico 2.3.12). Apesar disso, a participação das operações de cartão de crédito rotativo na carteira total de cartões e o nível médio de pagamento das faturas, que são indicadores antecedentes considerados no monitoramento, pelo BCB, do risco da carteira de cartões, mantiveram-se estáveis no semestre. Gráfico 2.3.11 – Inadimplência por faixa de renda Pessoa física % 10 Base de dados A carteira de veículos retraiu em 6,6% na comparação anual.56 Todavia, há na margem uma pequena retomada nas concessões, que cresceram 2,5% em relação ao ano anterior, crescimento esse favorecido principalmente pela antecipação das compras em dezembro, por conta do fim do benefício de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) naquele mês. Apesar do aumento das concessões, o volume ainda expressivo de baixas para prejuízo57 contribuiu para a retração da carteira. 8 6 4 2 Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez 0 Dez Jun 2014 Até 3 salários mínimos De 3 a 5 salários mínimos De 5 a 10 salários mínimos Maior que 10 salários mínimos Base de dados Quanto à inadimplência das operações com pessoas físicas, observou-se redução ao longo do segundo semestre de 2014. Esse efeito se mostrou presente em todas as faixas de renda dos tomadores de crédito58 (gráfico 2.3.11), com forte contribuição da redução da inadimplência na carteira de veículos. Há que se mencionar, no entanto, que a magnitude dessa melhora nas faixas menores de renda é, ao menos parcialmente, oriunda das cessões de crédito para fora do SFN realizadas no segmento de bancos públicos, anteriormente mencionadas. Gráfico 2.3.12 – Inadimplência PF Principais modalidades 10 8 6 4 2 Mar Jun 2011 56/ O saldo da carteira de veículos é mensurado a partir das séries temporais número 20581 e 20584, divulgadas no SGS, as quais se referem ao financiamento e ao arrendamento mercantil de veículos, respectivamente, adotando metodologia distinta para apuração do saldo daquela apresentada na Nota para a Imprensa sobre Política Monetária e Operações de Crédito do SFN, que considera apenas a série temporal 20581. 57/ Parte relevante desses créditos baixados para prejuízo é oriunda de contratos pactuados há alguns anos, durante o período de maior apetite a risco das instituições financeiras. 58/ Na inadimplência por faixa de renda e no comprometimento de renda dos tomadores de crédito são consideradas apenas modalidades de crédito ao consumo e financiamento imobiliário, o que não inclui as operações de financiamento rural. % Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Imobiliário Consignado Cartão de crédito Sem consignação 0 Dez Veículos Base de dados Nas demais modalidades de crédito a pessoa física, a inadimplência mostra sinais de arrefecimento ou de 59/ Parte importante do processo de inclusão financeira se dá por meio da modalidade cartão de crédito, na qual não há histórico conhecido do tomador. A mesma assertiva também é válida para o crédito sem consignação, no qual parte relevante é contratada com não clientes. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23 estabilidade. Destaca-se a continuidade do vigoroso ciclo de queda da inadimplência nos financiamentos de veículos, consequência do reposicionamento estratégico das instituições financeiras, que reduziram o apetite a risco para financiamentos de veículos usados em favor dos veículos novos e seminovos, resultando em critérios de concessão mais conservadores, especialmente no que se refere ao loan-to-value (LTV) e ao prazo das operações, que permaneceram estáveis. Também contribuíram para a queda da inadimplência dessa carteira as baixas para prejuízo das operações de alto risco concedidas em safras mais antigas, anteriores a 2012, cabendo destacar que as safras de concessão mais recentes vêm apresentando nível de inadimplência em patamares baixos e estáveis. Essa redução do risco da carteira de veículos teve contribuição importante na redução da inadimplência na carteira de pessoa física (PF), com efeito mais significativo nos bancos privados. participação no estoque total de crédito, de 45% em junho de 2014 para 42,5% em dezembro de 2014, consequência de crescimento cada vez menor da carteira de crédito para essas empresas (gráfico 2.3.13). Em relação ao crédito imobiliário, vale ressaltar que a carteira vinha apresentando tendência de aumento da inadimplência até novembro, a qual foi revertida em dezembro. No entanto, parte significativa dessa redução de inadimplência está associada à renegociação das operações, incluindo a repactuação de prazos e de outras condições contratuais dos financiamentos que se encontravam em atraso.60 Cabe contrapor, no entanto, que se trata de modalidade com baixo nível histórico de perdas, por conta de suas garantias. Nos bancos privados, a inadimplência apresentou uma leve queda ao longo do segundo semestre de 2014, ao passo que, nos bancos públicos, aumentou na mesma base de comparação, tendência esta observada ao longo do último ano (gráfico 2.3.14). Quanto às perspectivas para o mercado de crédito à pessoa física, a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil (PTCC) de dezembro/2014, realizada pelo BCB, indicou que uma potencial redução na oferta de crédito às pessoas físicas teria como principal fator a preocupação com o nível de emprego e com as condições salariais. Tais elementos podem impactar de forma mais acentuada a concessão e os riscos de crédito nas carteiras de crédito para pessoas físicas no início de 2015 e seus desdobramentos devem ser observados ao longo do ano. No que tange ao crédito à pessoa jurídica, a análise por porte dos tomadores de crédito aponta que pequenas e médias empresas (PME)61 continuaram perdendo 60/ Tal movimento de renegociação de contratos em atraso se concentrou especialmente nos bancos públicos. Caso as renegociações não tivessem sido realizadas, haveria um pequeno incremento da inadimplência do crédito imobiliário nesse segmento. 61/ A segregação por porte utilizou como proxy o valor devido das operações de crédito doméstico. As PME são aquelas cujas dívidas são inferiores a R$100 milhões, e as grandes, as com dívidas iguais ou superiores a R$100 milhões. Gráfico 2.3.13 – Crescimento anual do crédito Pessoa jurídica – Pequenas e médias empresas % 35 27 19 11 3 Dez 2011 Jun 2012 Dez Público Jun 2013 Dez Privado Jun 2014 -5 Dez Total Base de dados Gráfico 2.3.14 – Inadimplência Pessoa jurídica – Pequenas e médias empresas % 6 5 4 3 2 Dez 2011 Jun 2012 Dez Público Jun 2013 Privado Dez Jun 2014 1 Dez Total Base de dados Apesar da elevação da inadimplência das PMEs nos bancos públicos, a inadimplência das pessoas jurídicas como um todo teve leve queda no segundo semestre de 2014, em razão da relativa estabilidade dos atrasos das PMEs nos bancos privados e do aumento da participação das carteiras das grandes empresas (57,5%), cuja inadimplência ficou relativamente estável, oscilando entre 0,4 e 0,5% (gráfico 2.3.15). Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24 Para as grandes empresas, a taxa de crescimento anual do crédito ficou em patamar próximo ao do ano anterior62 (gráfico 2.3.15), sem grandes diferenças entre os bancos de controle privado ou público. Entre os setores econômicos mais representativos, o crédito para os grandes tomadores cresceu mais em setores como energia e governo,63 ao longo do segundo semestre de 2014. No geral, para o início de 2015, há incerteza do comportamento do crédito para as grandes empresas, principalmente no que tange às concessões para as atividades das indústrias de petróleo e de construção pesada. Gráfico 2.3.15 – Crescimento anual do crédito e inadimplência Pessoa jurídica – Grandes empresas % % 0,6 25 0,5 20 0,4 15 0,3 10 0,2 5 0,1 0,0 Dez 2011 Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 0 Crescimento anual do crédito Inadimplência (eixo da esquerda) Base de dados Para o universo das empresas, a PTCC apontava para uma expectativa de oferta menor de crédito para as grandes empresas ao longo dos meses iniciais de 2015, basicamente em razão das condições gerais da economia doméstica; no caso das micro, pequenas e médias empresas, os níveis de inadimplência e de tolerância ao risco são os principais limitadores à oferta de crédito no início do ano. Para essas empresas, do ponto de vista da demanda, o principal fator de impacto para a tomada de crédito é a alteração das taxas de juros. De um modo geral, a conjunção de tais fatores é determinante para o comportamento da aprovação de crédito às empresas, ao menos para o início do ano corrente. Por fim, o menor ritmo de crescimento das carteiras, dinâmica predominante no crédito doméstico no segundo semestre e, em um horizonte mais amplo, ao longo de 2014, tende a continuar presente no início de 2015. O fraco ritmo de crescimento do crédito nos 62/ Crescimento de 19,5% em 2014 ante 18,5% em 2013. 63/ O setor governo é constituído principalmente pela administração direta. Entre os devedores que mais aumentaram o endividamento no último ano estão principalmente governos estaduais. bancos privados, a contínua desaceleração dos bancos públicos, inclusive considerando-se um cenário de maior restrição de recursos orçamentários ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bem como as tendências para demanda e oferta de crédito, sugerem a manutenção do baixo crescimento do estoque nos próximos meses, eventualmente em ritmo até menor que o observado no semestre em análise. Se em períodos anteriores diversos agentes expressaram preocupação com o ritmo excessivo de crescimento, em particular dos bancos públicos, então o atual arrefecimento não é indesejável na perspectiva da estabilidade financeira. Resta, porém, que a retomada do crescimento do crédito nas instituições privadas se mostraria oportuna a fim de assegurar um sistema de crédito diversificado em termos de agentes, de produtos e de fontes de recursos. Quanto à inadimplência, não se esperam variações abruptas, não obstante as incertezas derivadas do ambiente econômico nacional e internacional e dos elementos do mercado doméstico apresentados nos parágrafos anteriores. Ainda assim, e mesmo que as alterações do cenário possam resultar em alguma elevação mais significativa da inadimplência, o SFN, em geral, apresenta adequados fundamentos para fazer frente a esse ambiente, notadamente o elevado nível de provisões, mas também a adoção de políticas de risco saudáveis. Os principais fatores a serem observados quanto a seus impactos e tendências são, além da evolução do ambiente econômico interno e externo, os efeitos da Operação Lava Jato na solvência de setores específicos e o cenário de incerteza sobre as condições e custos da oferta de energia elétrica e de água, bem como a evolução da inadimplência das instituições financeiras de controle público. 2.4Rentabilidade O retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL)64 do sistema bancário avançou 0,3 p.p. no semestre e atingiu 13,0% a.a. em dezembro de 2014, ampliando sua vantagem em relação à proxy para taxa livre de risco65 (gráfico 2.4.1). 64/ A partir deste REF, os instrumentos de dívida elegíveis a capital principal, conforme Resolução nº 4.192 de 2013, artigo 16, § 2º, contabilizados no passivo exigível, estão sendo considerados como PL para fins de cálculo do RSPL. 65/ Para efeito de comparação com o RSPL, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para minimizar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médio da carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25 Esse avanço foi determinado pela atuação dos bancos privados, cujo lucro líquido (LL) cresceu R$4,3 bilhões. O LL dos bancos públicos manteve-se estável (gráfico 2.4.2). Gráfico 2.4.3 – Composição do resultado, antes de tributos sobre faturamento e lucro Acumulado nos últimos doze meses R$ bilhões R$ bilhões Gráfico 2.4.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido anual Acumulado nos últimos doze meses un. % 18 2,2 125 200 160 95 120 65 80 2,0 15 1,8 12 1,6 9 6 1,4 1,2 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 3 35 40 5 0 -40 Dez 2012 Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez -25 Resultado com crédito Resultado com tesouraria Receitas com serviços Outros resultados operacionais e não operacionais RSPL anual Resultado de participação societária Proxy para taxa livre de risco Despesas administrativas (eixo da esquerda) RSPL anual / proxy para taxa livre de risco (eixo da esquerda) Base de dados Base de dados Gráfico 2.4.2 – Lucro líquido e RSPL anual por controle acionário Acumulado nos últimos doze meses R$ bilhões % 70 26 56 22 42 18 28 14 14 10 0 Dez Jun 2009 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 6 LL bancos públicos (eixo da esquerda) LL bancos privados (eixo da esquerda) RSPL bancos privados RSPL bancos públicos Base de dados Não obstante a opção por limitar a expansão da carteira de crédito, os bancos têm aumentado o foco em outros negócios, tais como seguros, previdência, capitalização e adquirência, 66 os quais têm ganhado crescente participação no LL do sistema. No segundo semestre de 2014, o resultado de participações societárias avançou 21,9%, impulsionando o avanço do LL do sistema bancário (gráfico 2.4.3). 66/ O negócio de adquirência, cujo resultado entra no sistema bancário via participação societária, refere-se ao credenciamento de lojistas para captura de transações com cartões. Os bancos atuam no mercado de meios de pagamento, também, por meio da emissão de cartões, gerando receitas de serviços. A elevação no resultado de intermediação financeira67 também contribuiu para o melhor desempenho do sistema no semestre. Apesar do aumento de R$4,4 bilhões em despesas de provisão,68 interrompendo a trajetória de redução observada nos últimos três semestres, e do menor avanço no resultado de tesouraria quando comparado a junho de 2014, o resultado de intermediação líquido cresceu R$8,0 bilhões. No segundo semestre de 2014, a rentabilidade bruta da carteira de crédito dos bancos públicos voltou a subir, acompanhando a elevação dos custos de captação. Isso permitiu a interrupção da acentuada queda da margem líquida, a qual se manteve praticamente estável (gráfico 2.4.4). Desse modo, houve leve avanço do resultado das operações de crédito desses bancos, o que não acontecia havia dois semestres, contribuindo para melhorar o resultado de intermediação financeira. O resultado das operações de crédito dos bancos privados manteve a trajetória de crescimento, beneficiando-se do movimento de reestruturação de suas carteiras iniciado em 2012. Se, por um lado, os ganhos com o volume das operações tornaram-se menos expressivos, por outro lado, menores despesas de provisões têm ajudado a manter a margem líquida estável, permitindo avanços contínuos no resultado. 67/ O resultado de intermediação financeira é composto pelo resultado com crédito e pelo resultado com tesouraria. 68/ Considera-se o resultado de despesas de provisão líquido de reversões, de recuperação de crédito e de descontos concedidos em renegociação. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26 Gráfico 2.4.4 – Margem de crédito, por controle acionário Acumulado nos últimos doze meses % 17 14 11 8 5 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 2 Dez Rentabilidade líquida das operações: bancos privados Rentabilidade líquida das operações: bancos públicos Custo de captação: bancos privados Custo de captação: bancos públicos Margem líquida de crédito: bancos privados Margem líquida de crédito: bancos públicos Base de dados Gráfico 2.4.5 – Taxa anual de crescimento de despesas administrativas e receitas de serviços Acumulado nos últimos doze meses % 20 16 12 8 4 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Considerando as instituições individualmente, verificouse redução no número de instituições com prejuízo acumulado nos últimos doze meses (gráfico 2.4.6). Essa melhora deve-se, principalmente, a um grupo de instituições que conseguiu reverter prejuízos em razão de rendas com títulos e valores mobiliários, câmbio e aplicações em moedas estrangeiras. Gráfico 2.4.6 – Distribuição de frequência do RSPL anual1/ Adicionalmente, as receitas de serviços do sistema bancário (gráfico 2.4.5) continuam a crescer, impulsionadas pelo mercado de cartão de crédito, e especificamente nos bancos públicos também pela atividade de administração de fundos e programas de governo e loterias. As despesas administrativas, por sua vez, seguem controladas com rigor pelos bancos privados e crescem abaixo da inflação, contribuindo para aumentar a eficiência. Nos bancos públicos, o crescimento das despesas administrativas ainda é elevado quando comparado ao incremento de resultado, o que leva à piora na eficiência. No entanto, percebe-se que nesses bancos houve contenção de despesas administrativas ao longo de 2014, com a redução do crescimento na despesa mais representativa, a de pessoal. Dez 2010 Destaque-se que o avanço do lucro líquido foi possível mesmo com a significativa redução em outros resultados operacionais e não operacionais (gráfico 2.4.3), decorrente basicamente de menores ganhos com a reversão de provisões para contingências fiscais69 e com a venda de participações acionárias, o que sugere melhora na qualidade da composição do resultado. Dez Jun 2014 Despesas administrativas: bancos privados 0 Dez % dos ativos do sistema 100 60 60 80 60 40 35 37 25 RSPL < 0 20 47 0 < RSPL < 0,85 * Selic Junho 2014 RSPL > 0,85 * Selic 0 Dezembro 2014 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual pertencente ao intervalo correspondente. Base de dados Para 2015, se confirmadas a expectativa do mercado para crescimento do PIB e as previsões dos maiores bancos para crescimento da carteira de crédito, não haverá ganho expressivo no volume de operações. O custo de captação continuará em elevação, pressionando a margem líquida de crédito, cujo comportamento dependerá, principalmente, da dinâmica da inadimplência. Esse cenário deve dificultar avanços significativos no resultado de intermediação financeira. Desse modo, desconsiderando fontes não recorrentes de resultado, os ganhos de rentabilidade passam a depender mais dos ganhos de eficiência, a partir da ampliação de receitas de serviços e de receitas em outros negócios e da limitação das despesas administrativas. Despesas administrativas: bancos públicos Receita de serviços: bancos privados Receita de serviços: bancos públicos Inflação doze meses IPCA/IBGE Base de dados 69/ Em 2013, a adesão ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis) gerou ganhos extraordinários de aproximadamente R$5 bilhões com reversões de provisões. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27 2.5Solvência A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. Em dezembro de 2014, o Índice de Basileia (IB) atingiu 16,7% (gráfico 2.5.1), aumento absoluto de 1,2 p.p. em relação a junho de 2014, influenciado por mudanças regulatórias 70 que visaram a adequar o arcabouço normativo à fase atual do ciclo de crédito no Brasil. O índice de capital principal, que, isoladamente, supera os três requerimentos regulatórios, apresentou aumento de 1,4 p.p. no período, para 12,3%, influenciado por aditamento, nos bancos públicos, de instrumentos elegíveis a capital adquiridos pela União, de forma que passaram a atender aos requisitos para enquadramento como capital principal nos termos da Resolução nº 4.192, de 1º de março de 2013, e por retenção de resultados do exercício. Gráfico 2.5.1 – Índices de capitalização e exigência regulatória1/ 13 12,9 11,8 Os ativos ponderados pelo risco (RWA) reduziram 0,6% para R$3.979,2 bilhões71 em dezembro de 2014, influenciados principalmente por mudanças regulatórias que reverteram as medidas macroprudenciais72 adotadas a partir de 2010 e trouxeram alterações que visam a dar continuidade ao processo de convergência da regulação brasileira aos parâmetros internacionais de Basileia. Em linha com os dados agregados do sistema, verifica-se melhora na capitalização de instituições financeiras entre junho e dezembro de 2014 (gráfico 2.5.2), inexistindo em dezembro qualquer instituição com nível de capital principal inferior a 7% do RWA, que será o nível requerido em 2019, caso o adicional de capital principal73 mantenha-se nos limites inferiores estabelecidos no art. 8º, incisos de I a IV, da Resolução nº 4.193, de 2013. Gráfico 2.5.2 – Distribuição de frequência para o índice de capital principal ponderado por ativos1/ 18 80 15 124 12,3 12 11 118 8 5,5 5 4,5 Nov 2013 Jan 2014 Jun 2 Dez Índice de capital principal Índice de patrimônio de referência nível I Índice de Basileia % 100 % 16,7 16,6 O Patrimônio de Referência (PR) atingiu R$663,4 bilhões em dezembro de 2014, aumento de R$43,9 bilhões em relação a junho de 2014. Destacaram-se como contribuição positiva para a variação do PR a retenção de resultados de aproximadamente R$18 bilhões, a emissão de R$11,2 bilhões em instrumentos elegíveis a capital de nível II e o ganho oriundo de aditamento de instrumentos híbridos de capital e dívida emitidos por bancos públicos comerciais (R$7,2 bilhões). 10 1 0 <4,5 0 0 4,5 - 5,125 Junho 2014 3 8 7 - 10,5 40 20 0 5,125 - 7 60 >10,5 0 Dezembro 2014 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice de capital principal pertencente àquele intervalo. Base de dados 1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentes níveis de capital. Base de dados 70/ As principais alterações trazidas pelas circulares nº 3.711 e de 3.714, de 25 de julho de 2014 e 20 de agosto de 2014, respectivamente, são: a ampliação dos critérios de exposição e de receita máximas para classificação de operações como varejo; a introdução do mitigador de risco de crédito para empréstimo consignado do INSS e de servidores públicos; a extinção dos fatores de ponderação de risco (Fpr) aplicados a algumas exposições de crédito (150% e 300%); a redução dos fatores de conversão em crédito de operações de comércio exterior e de garantias de performance; e a redefinição de Fprs para exposições a risco soberano. 71/ 89,5% do RWA correspondem ao risco de crédito. 72/ As circulares nº 3.515 e 3.563, de 3 de dezembro de 2010 e 11 de novembro de 2011, respectivamente, criaram Fprs de 150% e 300% para modalidades de crédito de prazo mais dilatado. 73/ A circular nº 3.741, de 29 de dezembro de 2014, que dispõe sobre a fixação do valor do Adicional de Capital Principal (ACP), estabeleceu nos limites inferiores o valor do ACP que vigorará a partir de 1º de janeiro de 2016. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28 Quando se simula a aplicação dos ajustes regulatórios de Basileia III em sua totalidade74 aos dados de junho75 e de dezembro de 2014, fica evidenciada estabilidade no nível de capitalização do sistema. O IB projetado, caso as regras que entrarão em vigor até 2019 estivessem válidas imediatamente, apresentaria aumento de 0,3 p.p., para 13,5%, enquanto a necessidade total de capital do SFN para atender aos requerimentos futuros76 aumentaria de R$2,1 bilhões em junho de 2014 para R$4 bilhões77 em dezembro, equivalente a 0,6% do PR do SFN ou a 6,5% do lucro anual do sistema em 2014. Simulações indicam que o índice de alavancagem para o SFN em dezembro de 2014 seria de 7,1%, 0,2 p.p. abaixo do índice obtido com os dados de junho, embora bem superior ao potencial requerimento inicial de 3% estabelecido no arcabouço internacional.78 Gráfico 2.5.4 – Distribuição de frequência para a razão de alavancagem ponderada por ativos1/ 80 64 1 11 116 117 32 2 5 0 0-3 0 <4,5 0 40 20 0 4,5-5,125 5,125-7 Junho 2014 – Proj. 2019 7-10,5 >10,5 99 3-5 Junho 2014 % 10 3 16 95 17 6 5-7 7-9 Dezembro 2014 >9 0 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com razão de alavancagem pertencente àquele intervalo. 30 4 48 13 Base de dados 50 12 14 13 Ainda com base nas simulações de Basileia III, verificase a estabilidade no nível de capitalização quando se considera as instituições individualmente (gráfico 2.5.3), em linha com o dado agregado do sistema. Gráfico 2.5.3 – Distribuição de frequência para a projeção do índice de capital principal ponderado por ativos1/ % 0 Dezembro 2014 – Proj. 2019 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice de capital principal pertencente àquele intervalo. Base de dados É também possível aferir a solidez do SFN por meio da comparação de indicadores com outras jurisdições. Para esse fim, avaliou-se o IB e a relação capital/ativos, uma medida mais simples de alavancagem, para uma amostra de países componentes do G-20.79 Esse exercício corrobora a percepção de robustez do SFN, colocando o Brasil entre as economias que apresentam maior IB e menor alavancagem – maior capital/ativos (gráfico 2.5.5). Gráfico 2.5.5 – Capital/ativos e IB Últimos dados disponíveis1/ AR USA A sólida situação de solvência do SFN é constatada quando se analisa a posição brasileira em relação à razão de alavancagem (gráfico 2.5.4), futuro requerimento regulatório que teve a metodologia de cálculo definida pela Circular nº 3.748, de 27 de fevereiro de 2015. 74/ Os ajustes regulatórios de Basileia III têm cronograma de implantação que vigerá até 2018, conforme a Resolução nº 4.192 de 2013. 75/ Nesse exercício, para os dados de junho, as alterações normativas promovidas pelas circulares nº 3.711 e 3.714, de 2014, são consideradas. Elas afetam os índices de capitalização e realinham o requerimento de capital para algumas modalidades de exposição. Também já se consideram como capital principal os instrumentos híbridos de capital e dívida adquiridos pela União e emitidos pelos bancos públicos comerciais, em virtude de readequação das cláusulas e nova autorização do BCB, nos termos da Resolução nº 4.192, de 2013. 76/ Em 2019, considera-se requerimento de 7% do RWA constituído sob a forma de capital principal, 8,5% do RWA sob a forma de capital de nível I e 10,5% do RWA sob a forma de PR, contemplando o limite inferior do adicional de capital principal, conforme a Resolução nº 4.193, de 1° de março de 2013. 77/ As projeções de capitalização para 2019 revelam que doze instituições não atenderiam a pelo menos um dos requerimentos de capital regulatório em junho e seis em dezembro de 2014. Capital/ativos (%) SA KO IT JP CH IN 10 12 TU RU AU 15 ID CA 12 14 MX 9 BR2/ FR 16 6 GE UK 3 18 20 0 IB (%) Fonte: FMI. 1/ As siglas acima correspondem a: AR = Argentina; AU = Austrália; BR = Brasil; CA = Canadá; CH = China; FR = França; GE = Alemanha; ID = Indonésia; IN = Índia; IT = Itália; JP = Japão; KO = Coreia do Sul; MX = México; RU = Rússia; SA = África do Sul; TU = Turquia; UK = Reino Unido; e USA = Estados Unidos da América. 2/ As informações divergem dos dados encontrados em <http://fsi.imf.org>, em razão de serem utilizados dados de dezembro de 2014 do BCB, ainda não disponíveis no referido sítio. Base de dados 78/ Para a versão final da norma internacional de alavancagem, ver <http:// www.bis.org/publ/bcbs270.htm>. 79/ G-20 é o grupo constituído em 1999, composto pelas dezenove maiores economias mundiais e pela União Europeia. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29 Concluindo, a solvência do sistema bancário continua elevada, com níveis de capitalização adequados para suportar os riscos assumidos. Grande parte da variação nominal dos referidos índices é resultado de retenção de resultados e de alteração no método de cálculo do RWA, para torná-lo mais compatível com as recomendações internacionais. Simulações da plena implementação de Basileia III – considerando o mesmo arcabouço normativo – e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem reforçam a conclusão acerca da estabilidade da solvência em patamar elevado. 2.6 Testes de estresse de capital80 Com a finalidade de mensurar a resistência, bem como a capacidade de absorção de perdas causadas pela materialização dos principais riscos a que o sistema bancário se encontra exposto, foram simuladas alterações extremas e adversas nas principais variáveis econômicas e financeiras. Os resultados obtidos permitem concluir que o sistema bancário brasileiro apresenta adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos por seis trimestres consecutivos; mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, ou na inadimplência; ou queda generalizada dos preços dos imóveis residenciais. 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas A análise de cenário baseia-se em modelo estatístico que relaciona o risco de crédito da carteira de empréstimos e financiamentos dos bancos a cenários macroeconômicos. Essa análise contempla quatro cenários para um horizonte de seis trimestres consecutivos e projeta a inadimplência e o crescimento da carteira de crédito a partir desses cenários. Todos se fundamentam na projeção da atividade econômica e das taxas de juros, de câmbio e de inflação, além de choques externos medidos pelo prêmio de risco Brasil e pelos juros americanos. Na tabela 2.6.1 podem ser observadas as variáveis que compõem cada cenário: cenário-base, VAR estressado, quebra estrutural e pior histórico. As inadimplências projetadas podem ser vistas no gráfico 2.6.1. Os resultados do VAR estressado revelam que a inadimplência projetada atingiria o máximo de 5,9%, superando as provisões constituídas em dezembro de 2014 em 0,9 p.p. Para o cenário de quebra estrutural, o máximo seria de 6,1%. Ambos seriam atingidos em junho de 2016. Apesar de as projeções das variáveis macroeconômicas no cenário VAR estressado serem mais desfavoráveis Tabela 2.6.1 – Cenários de estresse macroeconômico (junho de 2016) Dez 2014 Cenário base1/ Atividade econômica (IBC-Br) 0,0% Juros (Selic) Cenários Adversos VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico 0,5% -4,2% -4,2% 0,2% 11,2% 11,8% 12,7% 24,7% 12,5% Câmbio (R$/US$) 2,55 2,84 3,76 3,96 3,30 Inflação (IPCA) 6,2% 5,7% 4,3% 17,4% 12,1% Desemprego (PME-IBGE) 5,1% 4,3% 9,7% 9,7% 5,7% 243 243 243 243 352 2,3% 3,7% 5,0% 5,0% 2,1% Prêmio de risco 2/ (EMBI+ Br) Juros americanos (Treasury 10 anos) 1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus são a previsão para o PIB, para a Selic, para o câmbio e para a inflação. As demais variáveis são mantidas constantes por todo o período de projeção. 2/ Para o VAR estressado e quebra estrutural, o prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) máximo, igual a 467, é atingido em junho de 2015, retornando gradativamente ao valor inicial em junho de 2016. Base de dados 80/ Para detalhes sobre o conceito de teste de estresse e a metodologia relacionada aos testes e cenários, veja-se o anexo Conceitos e Metodologias – Estresse de Capital. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30 em relação às mesmas projeções realizadas em junho de 2014, houve significativa redução da necessidade de capital (gráfico 2.6.2) por conta dos efeitos das circulares nº 3.711 e 3.714, do tratamento dos Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida (IHCDs) nos bancos públicos, da retenção de resultados e da redução da projeção do crescimento do crédito. Em todos os cenários, o sistema bancário permanece com seus índices de capitalização acima dos mínimos regulamentares. Gráfico 2.6.1 – Estresse macroeconômico Inadimplência projetada % 7,0 5,6 Gráfico 2.6.3 – Necessidades de capital VAR estressado Índice de Basileia (%) % do PR 18,0 6 14,4 5 10,8 4 7,2 2 3,6 1 0,0 Dez 2014 Mar Jun 1,4 Dez 2014 Mar Jun Set Dez Mar 2015 Cenário Focus VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico Provisões constituídas (dez/2014) 0,0 Jun 2016 Base de dados Gráfico 2.6.2 – Necessidades de capital VAR estressado – Evolução % do PR 3,0 2,4 1,8 1,2 0,6 0 1 2 3 4 5 6 0,0 Trimestres Data base junho 2014 Data base dezembro 2014 Base de dados Assim, num cenário de seis trimestres de deterioração macroeconômica, a necessidade estimada de capitalização do sistema para que nenhum banco ficasse desenquadrado81 seria de 0,39% do patrimônio de referência atual do sistema (gráfico 2.6.3). 81/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a pelo menos um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital Nível 1 (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP). Dez Mar Jun 2016 Capital principal (dir.) Complementar (dir.) Nível 2 (dir.) Índice de Basileia 0 Base de dados 4,2 2,8 Set 2015 2.6.2 Análise de sensibilidade A análise de sensibilidade consiste na aplicação de variações incrementais nos principais fatores de risco a que está exposto o SFN e a avaliação dos efeitos isolados das alterações em cada uma dessas variáveis sobre o capital e os índices de capitalização dos bancos, mantendo-se os demais fatores de risco inalterados. Os fatores de risco analisados são taxas de juros, taxa de câmbio, inadimplência e redução nos preços de imóveis residenciais. Os testes de sensibilidade às taxas de câmbio e de juros revelam que os impactos seriam irrelevantes para o sistema. O resultado dos testes de sensibilidade à materialização do risco de crédito, sumarizados no gráfico 2.6.4, indica que, caso se repita a maior inadimplência já observada no sistema bancário brasileiro desde dezembro de 2000, próxima a 7%, a representatividade dos ativos das instituições bancárias desenquadradas seria de 1,0% do total de ativos do sistema bancário. Em uma situação de inadimplência extrema, próxima de 14,2%, as instituições desenquadradas necessitariam de um aporte de capital de 3,7% do patrimônio de referência do sistema para que se evitasse o desenquadramento. Na simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis, 82 somente após 30% de queda – variação semelhante à depreciação acumulada em três anos 82/A primeira análise do impacto dos preços dos imóveis no sistema bancário foi publicada no Relatório de Estabilidade Financeira, Volume 13, Número 1 (Março 2014), no boxe intitulado “Análise de Sensibilidade do Sistema Financeiro Nacional a Variações Negativas dos Preços de Imóveis Residenciais”. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31 ocorrida na última crise imobiliária norte-americana – uma instituição ficaria desenquadrada. Em relação à insolvência, seria necessária uma queda de mais de 50% para que uma instituição ficasse com seu capital principal negativo. O gráfico 2.6.5 detalha os resultados. As análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada resistência, uma vez que o índice de Basileia do conjunto de instituições bancárias só ficaria levemente abaixo do mínimo regulamentar em situações extremamente adversas. Gráfico 2.6.4 – Análise de sensibilidade Risco de crédito 12 160 156 26,9 152 148 144 140 136 10 132 2,5 128 124 1,0 0,0 0,0 16,7 120 116 112 8 108 104 100 12,8 96 92 88 84 6 80 76 72 68 64 60 56 4 Provisão Maior inadimplência observada constituída (desde dez/2000) atual 52 48 44 40 36 32 2 28 24 20 16 1,9 0,6 1,2 12 8 4 0 0 3 5 7 9 11 Inadimplência média do sistema (%) 13 Necessidade de capital (% do capital total): Bancos desenquadrados (% do ativo total) Nível II Complementar Bancos em insolvência (% do ativo total) Principal IB estressado (%) Base de dados Gráfico 2.6.5 – Análise de sensibilidade Risco de crédito imobiliário residencial 100 160 98 156 96 94 148 144 86 84 140 136 82 132 80 128 78 76 74 72 124 116 112 108 66 64 104 96 92 56 52 84 80 48 44 42 76 72 68 40 64 38 60 36 34 32 56 52 30 48 28 44 26 24 40 22 36 20 32 18 16 14 12 20 16 8 12 4 13,9 0,6 28 24 10 6 10,1 Queda percentual acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise do subprime (abr/06 a mai/09) 88 50 46 16,7 100 60 58 54 0,0 120 70 68 62 18,3 152 92 90 88 22,1 8 2 4 0 0 0 10 20 30 40 50 60 Queda no preço dos imóveis (%) Necessidade de capital (% do capital total): Nível II Complementar Principal 70 80 90 Bancos desenquadrados (% do ativo total) Bancos em insolvência (% do ativo total) IB estressado (%) IB Estressado (%) Base de dados Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32 Shadow Banking no Brasil 1 Introdução Um dos fatores de amplificação da última crise financeira internacional foi a existência de ativos financeiros escriturados fora do balanço dos bancos. Além disso, várias entidades, com pouca ou nenhuma regulação, empreendiam intermediação financeira similar à bancária, mas ficavam “à sombra” da regulação e da supervisão. Nesse contexto, surgiu o termo shadow banking system1 para designar o conjunto de tais entidades e atividades. Em 2010, o G20 atribuiu ao Comitê de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) o desafio de desenvolver propostas para reduzir os riscos relacionados ao shadow banking. Assim, o FSB, juntamente com o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (BCBS, na sigla em inglês) e a Organização Internacional das Comissões de Valores (IOSCO, na sigla em inglês), vem empreendendo esforços com vistas a ampliar o entendimento do conceito de shadow banking, bem como das entidades e atividades a ele relacionadas, com intuito de desenvolver recomendações de políticas efetivas para proteger o sistema financeiro e a economia real. A definição atualmente adotada por esses organismos estabelece o shadow banking como um sistema de intermediação de crédito que envolve atividades e entidades fora do sistema bancário tradicional2. Por um lado, tais atividades podem ser complementares ou concorrentes às desempenhadas pelo sistema bancário tradicional, ampliando o acesso ao crédito e provendo fontes alternativas de investimento, contribuindo, dessa forma, para uma maior eficiência do mercado financeiro. Por outro lado, o shadow banking pode ser fonte de risco sistêmico, por envolver, sem a devida supervisão e regulação, riscos tipicamente bancários, tais como alavancagem, transformações de maturidade e de liquidez e transferência de risco de crédito. Além disso, suas conexões com os bancos podem implicar na transferência de riscos desse setor para o sistema bancário tradicional, razão pela qual os organismos internacionais têm desenvolvido estudos e recomendações com o objetivo de reduzir as oportunidades de arbitragem regulatória e de mitigar a disseminação de riscos entre os diversos setores do sistema financeiro. 2 Estimativas do shadow banking O esforço de mapeamento do shadow banking global, coordenado pelo FSB, produz uma estimativa dos ativos de todas as entidades e atividades que, numa interpretação ampla, enquadram-se no conceito de shadow banking. Posteriormente, um refinamento é empreendido com vistas a manter apenas instituições cujas atividades – em particular, transformação de maturidade ou de liquidez, transferência imperfeita de risco de crédito ou 1/ Também conhecido como sistema bancário paralelo, bancos-sombra ou market-based financing. Utilizaremos o termo shadow banking por ser o mais difundido internacionalmente. 2/ Para maiores detalhes, vide Shadow Banking: Strengthening Oversight and Regulation, publicado pelo FSB em outubro de 2011, e disponível em http://www.financialstabilityboard.org/wp-content/uploads/r_111027a.pdf. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33 alavancagem – de fato contribuem para o aumento do risco sistêmico ou indicam alguma arbitragem regulatória que esteja minando os benefícios da regulação financeira. 2.1 Estimativa ampla A estimativa ampla dos ativos do shadow banking global é de US$63,8 trilhões em dezembro de 20133. No caso brasileiro, essa estimativa compreende uma vasta gama de participantes4 do Sistema Financeiro Nacional (SFN), tais como fundos de investimento5, veículos estruturados ou estruturas de securitização – fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC), certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) –, fundos de investimento imobiliário (FII), intermediários de mercado6 e companhias financeiras7 (gráfico 1). Gráfico 1 – Estimativa ampla do shadow banking brasileiro Dezembro 2013, ativos em R$ milhões 53.809 2% 31.701 1% 1.572 0% 49.473 2% 127.529 5% Fundos de investimento Veículos estruturados Fundos imobiliários Intermediários de mercado 2.360.870 90% Companhias financeiras Outros1/ Fontes: BCB, CVM, Cetip, Susep, BM&F 1/ Sociedades de capitalização, credenciadoras e emissores não bancários de cartão de crédito. Base de dados A estimativa ampla dos ativos do shadow banking brasileiro era de R$2,6 trilhões (US$1,1 trilhão) ao final de 2013, valor correspondente a 1,8% da estimativa ampla global do FSB – participação que pouco variou nos últimos anos –, a 54,2% do PIB doméstico, e a 46,1% dos ativos do sistema bancário tradicional brasileiro,8 3/ No último relatório anual de mapeamento do shadow banking global, o citado refinamento empreendido pelo FSB, que resultou numa estimativa de US$34,9 trilhões, contemplou a exclusão dos fundos de ações, das operações de self-securitisation e das entidades típicas de shadow banking que são prudencialmente consolidadas em conglomerados bancários. Este relatório está disponível em http://www.financialstabilityboard.org/wp-content/ uploads/r_141030.pdf, apenas em inglês. 4/ As seguradoras, reguladas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), e os fundos de pensão, regulados pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), não são incluídos no conceito de shadow banking pelo FSB e pelo BCB, tendo em vista que não estão envolvidos em significativa transformação de maturidade ou de liquidez. 5/ Os fundos de investimento regidos pela Instrução CVM nº 409/2004 (atual ICVM 555/2014, que entrará em vigor em julho de 2015), regulados e supervisionados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foram incluídos na estimativa ampla do shadow banking por se classificarem como veículos coletivos de investimento, a princípio, estando sujeitos a corridas, além de poderem se envolver em transferência de risco de crédito, em transformação de maturidade e de liquidez e em alavancagem. 6/ Correspondem basicamente às corretoras de câmbio e às corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, que foram incluídas na estimativa ampla do shadow banking para fins de harmonização com os padrões internacionais, segundo a qual entidades semelhantes envolvem-se em financiamentos a clientes com recursos captados no mercado financeiro. 7/ O conceito de “companhias financeiras”, que compreende entidades que financiam clientes ou negócios com funding de curto prazo, no Brasil, corresponde às sociedades de arrendamento mercantil, às sociedades de crédito imobiliário repassadoras e às sociedades de crédito ao microempreendedor que não pertencem a conglomerado bancário. Embora essas entidades sejam reguladas e supervisionadas pelo BCB de forma similar às entidades bancárias, foram incluídas na estimativa ampla do shadow banking por estarem envolvidas na concessão de crédito e não possuírem acesso direto ao BCB nem ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), em linha com os padrões internacionais. 8/ Neste caso, o sistema bancário tradicional é composto por bancos e conglomerados bancários; por entidades similares por terem acesso ao BCB ou a fundos garantidores de crédito, inclusive as cooperativas de crédito, as sociedades de crédito, financiamento e investimento, as associações de poupança e empréstimo, os conglomerados não bancários de crédito, as companhias hipotecárias; e por instituições de controle governamental: os bancos de desenvolvimento e as agências de fomento. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34 razão esta próxima à média dos países participantes do exercício internacional. Todavia, o crescimento mais vigoroso do sistema bancário tradicional nos últimos anos (gráfico 2) tem concorrido para uma redução da importância relativa da estimativa ampla do shadow banking no país. Gráfico 2 – Sistema bancário tradicional e shadow banking – Estimativa ampla Crescimento acumulado dos ativos, 2005 = 100 400 340 280 220 160 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Sistema bancário tradicional 2011 2012 100 2013 Shadow banking amplo Fontes: BCB, CVM Base de dados 2.2 Estimativa estrita Além do refinamento nas estimativas iniciado pelo FSB, as autoridades brasileiras9 têm se empenhado no sentido de melhorar a estimativa do shadow banking, com vistas a uma medida estrita que seja mais representativa dos riscos que essas entidades e atividades podem trazer ao SFN. Análise dos fundos de investimento apontou que a indústria brasileira aplica seus recursos predominantemente em ativos de alta liquidez, como títulos públicos federais e operações compromissadas garantidas por esses mesmos títulos (gráfico 3), o que reduz sobremaneira as preocupações com transformação de liquidez e com transferência de risco de crédito. Além disso, o grau de alavancagem dos fundos brasileiros é baixo, com a razão contábil entre ativos e patrimônio líquido (PL) em torno de 103%. Gráfico 3 – Ativos dos fundos de investimento Dezembro 2013, ativos em R$ milhões 158.600 7% 215.296 9% 257.362 11% 325.502; 14% Títulos públicos federais (TPFs) 834.134 35% Compromissadas com TPFs Títulos bancários Ações 569.976 24% Títulos privados de nãofinanceiras Outros1/ Fonte: CVM 1/ Inclui principalmente ativos no exterior e derivativos. Base de dados Contudo, essa análise agregada não permite avaliar riscos que estão individualmente presentes nos balanços dos fundos de investimento. Procurou-se, então, identificar um conjunto mais restrito de entidades com atividades 9/ O BCB e a CVM são responsáveis pela coleta de informações para os grupos de trabalho internacionais coordenados pelo FSB. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35 características de shadow banking, ou seja, que poderia estar envolvido em transferência de risco de crédito, alavancagem e transformações de maturidade e de liquidez. Nesse sentido, a CVM desenvolveu uma metodologia de refinamento dos fundos de investimento que compõem a estimativa ampla do shadow banking10, que consistiu na exclusão daqueles que não apresentam esses riscos, que poderiam levar a corrida na indústria de fundos – risco típico de setor bancário tradicional. Assim, foram retirados, por exemplo, os fundos: (i) fechados e exclusivos, por não serem sujeitos a corridas; (ii) de curto prazo, por não apresentarem transformação de maturidade ou de liquidez, nem alavancagem; (iii) de ações, dada a inexistência de intermediação de crédito; e (iv) de elevada liquidez e de baixa alavancagem11, com ativos líquidos12 superiores a 30% dos ativos totais e, ao mesmo tempo, alavancagem inferior a 125%. Empreendido esse refinamento, R$256,9 bilhões – somente 10,9% do total da indústria brasileira de fundos de investimento – corresponderam àqueles que poderiam apresentar alguma característica típica de shadow banking. Além disso, do grupo de entidades que compõe a estimativa ampla, foram excluídos mais R$139,0 bilhões, referentes a: fundos de investimento imobiliário, por investirem predominantemente em propriedades imobiliárias; FIDCs fechados, por não estarem sujeitos a corridas; e CRIs e CRAs, por inexistência de transformações de maturidade e de liquidez. Por fim, ao somar os ativos das demais entidades não pertencentes à indústria de fundos, a estimativa estrita dos ativos do shadow banking brasileiro alcança R$382,0 bilhões (gráfico 4), correspondendo a apenas 6,7% dos ativos do sistema bancário tradicional brasileiro, proporção bem abaixo da média dos países participantes do exercício internacional do FSB. Gráfico 4 – Estimativa estrita do shadow banking no Brasil Dezembro 2013 R$ bilhões 2.500 543,6 110,2 2.000 280,8 1.500 2.625,0 1.092,9 1.000 76,5 A B C D A = Medida ampla do shadow banking E F 139,0 G 500 382,0 0 H E = Fundos líquidos e sem alavancagem B = Fundos fechados e exclusivos F = Deduções adicionais C = Fundos de curto prazo G = FII + FIDCs fechados + CRI + CRA D = Fundos de ações H = Medida estrita do shadow banking Fontes: BCB, CVM Base de dados 10/ De forma geral, essa metodologia está em linha com as discussões empreendidas no FSB, mas com enfoque maior nas atividades (funções econômicas) típicas a ele relacionadas, independentemente do tipo de entidade que as empreende. A CVM tem ressaltado a estrutura regulatória aplicável aos fundos de investimento como fator crucial a ser levado em consideração. O fato de todos os fundos serem registrados na Autarquia e de existirem disposições normativas sobre administração do risco de liquidez, bem como outros dispositivos sobre precificação a valor de mercado e restrições de alavancagem em diversas categorias de fundos, mitiga, já na partida, a suscetibilidade dos fundos à corrida por parte de seus cotistas. 11/ Razão entre ativos e patrimônio líquido. 12/ Para este fim, foram considerados ativos líquidos as disponibilidades de caixa, os títulos públicos federais e as operações compromissadas garantidas por esses títulos. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36 3 Interconectividade do shadow banking com o sistema bancário Outra preocupação recorrente relacionada ao shadow banking global no âmbito das discussões internacionais diz respeito à materialização de riscos nessas entidades e sua possível transmissão para o sistema bancário tradicional. Por esse motivo, em cada jurisdição, as autoridades buscam mensurar o grau de interconectividade entre esses dois setores. No caso brasileiro, apenas 0,6% dos ativos financeiros13 do sistema bancário estão aplicados nas entidades shadow banking compreendidas na medida estrita, enquanto as captações provenientes desse setor representam apenas 2,4% dos ativos financeiros bancários (tabela 1), indicando que a possibilidade de transferência de riscos pelo canal de contágio direto para o sistema bancário é irrelevante. Tabela 1 – Interconectividade entre o sistema bancário e o shadow banking estrito Dezembro 2013 Ativos financeiros % dos ativos bancários % dos ativos do SB Bancos investindo no SB SB investindo em bancos 0,6 2,4 7,6 30,3 Fonte: BCB Base de dados Existem outros possíveis canais de contágio, por meio dos quais o estresse de um setor pode ser transmitido ao outro, podendo, inclusive, voltar de forma amplificada ao primeiro por retroalimentação. Um exemplo é o chamado canal indireto ou de mercado, que ocorre em situações nas quais entidades dos dois setores investem em um mesmo mercado, onde eventuais rupturas ou situações de estresse ocasionadas pela ação de uma delas podem provocar vendas em massa dos ativos, deprimindo seus preços e causando prejuízos à outra. O contágio indireto é tradicional fonte de preocupação das autoridades reguladoras, haja vista os riscos para a estabilidade financeira. A despeito das dificuldades para mapeá-lo, avaliações preliminares apontam que as entidades que compõem a estimativa estrita do shadow banking brasileiro possuem uma participação não desprezível no mercado de títulos privados do país. Por fim, a gestão e a administração de recursos de terceiros, predominantemente desempenhadas pelos conglomerados bancários no Brasil, podem resultar, em tese, em diversos tipos de riscos, tais como: i) a instabilidade econômico-financeira de um gestor de ativos, elevando a volatilidade nos mercados em que atua ou aumentando a probabilidade e a magnitude de resgates dos fundos por ele geridos; ii) contrapartes que podem não distinguir entre exposições aos fundos e ao gestor em situações de estresse, buscando a mitigação de riscos e agravando a situação do gestor; iii) a administração de inúmeros fundos sem o devido monitoramento do risco operacional, resultando em perdas para os fundos; e iv) a materialização destes ou outros riscos sobre as cotas dos fundos, acarretando percepções negativas sobre a capacidade de gestão de ativos da instituição financeira e, em última instância, sobre sua reputação e imagem. Todavia, cabe mencionar que não há evidências de que tais riscos, embora válidos do ponto de vista teórico, tenham se materializado na indústria de fundos brasileira, mesmo em momentos de estresse. Apesar de, até o momento, não terem identificado riscos relevantes provenientes do shadow banking para a estabilidade financeira, as entidades reguladoras, como o BCB e a CVM, têm se dedicado ao aprimoramento dos conhecimentos sobre o tema e ao aperfeiçoamento de métricas de avaliação dos riscos presentes nas entidades por eles regulados, tais como os referentes à administração de recursos de terceiros, aos fundos de investimento, aos intermediários de mercado, às companhias financeiras e às medidas de contágios direto e indireto. 13/ Ativos financeiros são classificados de acordo com o art. 2º da Resolução CMN nº 3.534, de 1º de janeiro de 2008. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 37 4 Regulação e supervisão O perímetro regulatório brasileiro é bastante abrangente e as entidades identificadas no shadow banking, inclusive em sua estimativa ampla, estão sob regulação e supervisão de autoridades com jurisdição nacional, principalmente do CMN, da CVM e do próprio BCB. O quadro 1 resume as principais medidas e informações coletadas que visam mitigar os riscos oferecidos pelas entidades mais relevantes que compõem a medida ampla do shadow banking no país. Destaca-se que, em relação aos fundos de investimentos e seus administradores e gestores, a regulamentação brasileira é extensiva, inclusive com disposições sobre composição de carteiras, alavancagem, política de resgates e administração de riscos, como a compatibilização da liquidez das carteiras com os passivos14. No Brasil, não há diferenças materiais entre a regulação e a supervisão aplicáveis às instituições bancárias e as que recaem sobre entidades não-bancárias classificadas como intermediários de mercado e companhias financeiras. Ademais, recentemente, foi ampliado o escopo de consolidação prudencial das entidades que compõem o sistema bancário, passando a incluir, entre outros, as sociedades securitizadoras controladas, as sociedades de objeto exclusivo controladas e os fundos de investimento nos quais exista retenção substancial de riscos e benefícios por parte do conglomerado bancário15. A coleta de informações detalhadas permite análises apropriadas das características tanto das entidades em si quanto dos canais de transmissão de riscos para o sistema bancário. O mencionado refinamento das estimativas, recomendado pelos organismos internacionais, só foi possível devido à vasta gama de informações colhidas pelos supervisores e, no caso específico dos fundos de investimentos, disponibilizadas publicamente. Além disso, a interconectividade com o sistema bancário pode ser determinada a partir das informações fornecidas pelos serviços de registro, liquidação e custódia de títulos e derivativos, disponíveis em bases diárias para as autoridades supervisoras. O BCB e a CVM participam de fóruns internacionais16 de estudos e de discussão sobre o shadow banking, fornecendo dados, trazendo e contribuindo com experiências que permitem aprimorar o ambiente regulatório. Adicionalmente, o Coremec (Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização), que inclui, além da CVM e do BCB, a Susep e a Previc, tem a finalidade de promover a coordenação e o aprimoramento da atuação das entidades da administração pública federal que regulam e fiscalizam as atividades relacionadas à captação pública da poupança popular. Por seu turno, o Sumef (Subcomitê de Monitoramento da Estabilidade do SFN) mantém o Coremec informado sobre a evolução dos mercados e as suas interconexões, além de sinalizar as situações que possam comprometer a estabilidade do SFN e em que seja necessária a atuação conjunta ou coordenada das entidades-membro. Por fim, no âmbito do BCB, está constituído o Comef (Comitê de Estabilidade Financeira), responsável por definir as estratégias e as diretrizes da Autarquia para a condução dos processos relacionados à estabilidade financeira, além de orientar a sua atuação no Coremec. 14/ A Instrução CVM nº 522, de 8 de maio de 2012, incluiu o artigo 65-B à Instrução CVM nº 409, ampliando os requerimentos sobre as políticas, práticas e controles internos dos fundos de investimentos – incluindo testes de estresse periódicos – para garantir a liquidez necessária para fazer face aos resgates de cotas e às obrigações do fundo. 15/ A Resolução CMN nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, em vigor a partir de 1º de janeiro de 2014, instituiu o novo Conglomerado Prudencial aplicável às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, exceto cooperativas de crédito. 16/ Por exemplo: no FSB, no BCBS e na IOSCO. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 38 Quadro 1 – Mitigadores dos riscos relacionados às principais entidades que compõem a medida ampla do shadow banking brasileiro Instituições/ativos shadow banking Regulador/ supervisor Alguns mitigadores de risco Transformação de liquidez/risco de corrida Alavancagem Companhias financeiras Sociedade de crédito ao microempreendedor Sociedade de crédito imobiliário Sociedade de crédito imobiliário repassadora Sociedade de arrendamento mercantil Intermediários de mercado Sociedade corretora de TVM* Sociedade distribuidora de TVM* • Exigência de estruturas de gerenciamento de riscos (resoluções CMN nº 3.380, nº 3.464, nº 3.721 e nº 4.090) • Envio trimestral de informações contábeis (Circular BCB nº 3.402) • Remessa mensal de dados para cálculo de limites de capital realizado, patrimônio líquido, endividamento e risco de crédito por cliente (Resolução CMN nº 3.567; Circular BCB nº 3.398) CMN/BCB • Exigência de estruturas de gerenciamento de riscos de liquidez, mercado, crédito e operacional (resoluções CMN nº 3.380, nº 3.464, nº 3.721 e nº 4.090) • Envio mensal/trimestral de informações contábeis (Circular BCB nº 3.402) e remessa mensal de informações prudenciais para realização do monitoramento/supervisão direta e indireta (resoluções CMN nº 4.192 e nº 4.193 e circulares BCB nº 3.398 e nº 3.429) • Dependendo da relevância, tem os mesmos requerimentos que os bancos quanto a capital mínimo, riscos de mercado, crédito e operacional (Basileia III) (resoluções CMN nº 4.192 e nº 4.193 e circulares BCB nº 3.429, nº 3.644, nº 3.640 e nº 3398) Sociedade corretora de Câmbio Fundos de investimento ICVM 409 FIDCs • Exigência de marcação a mercado dos ativos dos fundos (Instrução CVM nº 438) • Requerimento de controle de liquidez por parte do gestor • Envio diário de informações a CVM • Obrigatoriedade de os administradores suspenderem os resgates em situação de extrema iliquidez em que um pedido de resgate puder prejudicar os demais cotistas • Resgates em espécie em casos específicos • Testes de estresse com cenários para saques, liquidez, passivos e concentração de cotistas • Mudança do administrador/gestor por deliberação em assembleia na qual cada cota tem direito a um voto. (Todos esses itens referem-se à Instrução CVM nº 409) • Não podem tomar/conceder empréstimos (Instrução CVM nº 409) • Aluguel de ativos somente por meio de contraparte central (Resolução CMN nº 3.539; Instrução CVM nº 441) • Limites de concentração de ativos/emissores também valem para derivativos e repos (Instrução CVM nº 409) • Todos os derivativos devem ser registrados em câmaras (Lei nº 12.543, de 2011; Resolução CMN nº 3.505; Instrução CVM nº 409) • Algumas categorias de fundos só podem usar derivativos para proteção (Instrução CVM nº 409) • Subscrição ou aquisição de cotas de FIDCs apenas por investidores qualificados (Instrução CVM nº 356) • Informe mensal à CVM de dados sobre os fundos, como carteira, inadimplência, retenção de riscos CMN/CVM (Instrução CVM nº 489) • Uso de derivativos apenas para proteção (Instrução CVM nº 356) • Mesma estrutura de exigências da Instrução CVM nº 409 para os FIDCs (ex.: controles do risco de liquidez, testes de estresse, etc.) • Em determinados casos há limites para concentração por devedor da carteira de recebíveis (Instrução CVM nº 356) • O originador dos recebíveis não pode ser parte relacionada ao gestor, administrador, custodiante ou consultor do fundo (Instrução CVM nº 356) Fundos de investimento imobiliário (FII) • Constituídos somente sob a forma de condomínio fechado, não permitem resgate de cotas • Integralização de imóveis e direitos relativos a estes deve ser feita com base em laudo de avaliação elaborado por empresa especializada e com informações asseguradas pelo administrador • Envio períodico de informações à CVM, tais como carteira de ativos, balancetes, parecer de auditor independente etc., e aos cotisas, neste caso do valor do patrimônio e das cotas e de movimentações ocorridas etc. (Instrução CVM nº 472) CRI/CRA • Exigência de termo de securitização, levando a uma estrutura de pass-thru , na qual o fluxo de caixa gerado pelos ativos do lastro é repassado aos investidores, sem transformação de maturidade e liquidez • Instituição de regime fiduciário apartando os ativos que são lastros de um CRI do patrimônio da securitizadora e do lastro de outras emissões de CRI. (Todos esses itens estão na Lei nº 9.514, de 1997 e na Instrução CVM nº 414) * Também são reguladas/supervisionadas pela CVM em sua área de atuação. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 39 5 Conclusões Diferentemente de outros países, o shadow banking brasileiro compreende basicamente entidades que são reguladas e supervisionadas pelo BCB e pela CVM. A regulação dessas entidades segue as melhores práticas internacionais, demonstrando ser um eficiente mitigador dos riscos potenciais do shadow banking, fato também verificável pela experiência empírica durante as crises financeiras recentes. Além disso, o Brasil encontra-se em posição privilegiada quando se trata da disponibilidade de dados detalhados, permitindo refinamentos que melhor identifiquem as atividades e entidades expostas a riscos típicos de shadow banking, bem como suas interconexões com o restante do sistema financeiro. Infere-se que, atualmente, não há riscos relevantes para o sistema bancário tradicional decorrentes do shadow banking brasileiro, em razão da abrangência da regulação e da supervisão sobre as diversas entidades que o compõem, do seu pequeno tamanho relativo e da sua baixa interconectividade. No entanto, o processo de monitoramento e de supervisão ainda se encontra em fase de desenvolvimento, especialmente no que se diz respeito ao refinamento da estimativa estrita, ainda sujeito a aperfeiçoamentos que podem alterar a percepção das autoridades reguladoras acerca do risco do shadow banking no Brasil. A interconectividade por meio do canal de mercado é outro assunto que merece ser explorado mais a fundo, com vistas a uma melhor avaliação dos seus riscos. Por fim, o tamanho da indústria de fundos de investimento e o grau de concentração das atividades de administração e gestão de recursos recomendam a continuidade e mesmo o aprofundamento dos estudos quanto aos seus riscos para a estabilidade financeira. Por isso, prossegue o aprimoramento dos processos de monitoramento do shadow banking, em especial no que se refere à avaliação de riscos e ao contágio para o restante do sistema financeiro. Desta forma, as autoridades reguladoras vêm atuando para minimizar o risco sistêmico do shadow banking, sem prejudicar eventuais benefícios do setor para a economia doméstica e para o bom funcionamento do SFN. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 40 3 Sistema de Pagamentos Brasileiro O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)83 funcionou de forma eficiente e segura no segundo semestre de 2014. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. No que tange às garantias exigidas nesses sistemas, não foi observada deficiência de cobertura do risco de crédito apresentado pelos participantes. Os cenários utilizados para o cálculo de margem foram satisfatórios quando comparados às variações dos fatores de risco efetivamente ocorridas no mercado. Os demais sistemas de compensação e de liquidação de ativos (Selic, Cetip, CIP-C3 e Sistema de Registro da BM&FBovespa) também apresentaram funcionamento normal. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garante que as liquidações ocorram com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR). Os demais sistemas de transferência de fundos também apresentaram funcionamento normal. Com a publicação da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, os arranjos de pagamento e as instituições de pagamento passaram a integrar o SPB, consistindo em mais um passo para melhorar sua eficiência e sua segurança. Além disso, esses entes têm o potencial de facilitar a inclusão financeira da população brasileira não atendida. Em 2 de dezembro de 2014 terminou o prazo para que os instituidores dos maiores arranjos de pagamento em atividade e as respectivas instituições de pagamento submetessem pedido de autorização ao Banco Central. Esses pedidos encontram-se atualmente em análise por esta Autarquia. 3.1 Desempenho do sistema de transferência de fundos sistemicamente importante Durante o segundo semestre de 2014, o funcionamento do STR foi normal, apresentando, ao final do período, índice de disponibilidade de 100,0%, dentro da meta regulamentar estabelecida para sistemas desse tipo, de, no mínimo, 99,8% de disponibilidade. Com relação à quantidade de transações (gráfico 3.1.1), o principal período de concentração, representando 26,1% do total, ocorreu entre 16h e 17h30. Gráfico 3.1.1 – STR Quantidade – Perfil intradia (2º semestre de 2014) % % acumulado 15 100 12 80 9 60 6 40 3 20 0 6:30 8:00 9:30 11:00 12:30 14:00 15:30 17:00 18:30 0 20:00 Faixa: média +/- desvio padrão 83/ O SPB compreende as entidades, os sistemas e os procedimentos relacionados com as atividades de registro, depósito centralizado, processamento e liquidação de operações de que tratam a Circular nº 3.057, de 31 de agosto de 2001 e a Circular nº 3.743, de 8 de janeiro de 2015. Desde outubro de 2013, com a edição da Lei nº 12.865, os arranjos e as instituições de pagamento passaram, também, a integrar o SPB. Percentual médio Percentual médio acumulado Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 41 Os títulos públicos permaneceram como a principal fonte de liquidez intradia do sistema no segundo semestre de 2014 (gráfico 3.1.2). Em média, a necessidade de liquidez intradia agregada do sistema ficou em 2,9% da liquidez intradia disponível. Gráfico 3.1.2 – Necessidade de liquidez intradia R$ bilhões 1.200 960 720 480 240 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov 0 Dez Títulos livres Compulsórios Reservas início de dia Necessidade efetiva de liquidez Não houve alterações significativas na distribuição da necessidade efetiva de liquidez intradia (tabela 3.1.1) entre o primeiro e o segundo semestre de 2014. Com 115 das 135 instituições financeiras na faixa de baixo percentual de necessidade de liquidez (inferior a 20%), dezessete na faixa de percentual intermediário de necessidade de liquidez (entre 20% e 80% do potencial) e três com necessidade de liquidez acima de 80% do potencial, mas com apenas 0,3% dos pagamentos totais efetuados, o cenário de distribuição de liquidez permanece confortável para garantir a fluidez dos pagamentos. O volume e a distribuição de liquidez foram adequados para garantir a liquidação das ordens de transferência de fundos, não havendo ocorrência de travamento de pagamentos (gridlock) no período considerado. Tabela 3.1.1 – STR Necessidade efetiva de liquidez Percentual da necessidade efetiva de liquidez em relação à disponibilidade total de liquidez 2014 2014 1º semestre 2º semestre Nº de IF % 1/ Nº de IF % 1/ De 0 a 10% 98 89,7 103 89,6 De 10 a 20% 12 3,7 12 3,8 De 20 a 30% 7 1,9 6 2,0 De 30 a 40% 5 1,7 4 1,0 De 40 a 50% 3 1,2 2 0,8 De 50 a 60% 2 0,9 2 0,9 De 60 a 70% 1 0,5 2 0,8 De 70 a 80% 1 0,3 1 0,8 De 80 a 90% 1 0,1 1 0,2 De 90 a 100% 2 0,1 2 0,1 132 100,0 135 100,0 Total 1/ Participação percentual dos pagamentos efetuados pelas instituições que se enquadram na classe em relação ao giro financeiro total. 3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio nos quais há uma entidade atuando como contraparte central Na análise de backtesting da Câmara de Ações da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Ações), o valor máximo de Risco Financeiro (RF) 84 para os dois participantes com maiores posições devedoras foi de R$ 7,0 bilhões em 10 de dezembro de 2014. No mesmo dia, o Risco Financeiro Líquido (RFL)85 para os dois participantes mais críticos (gráfico 3.2.1) atingiu seu valor máximo (R$ 41,6 milhões, o equivalente a 6,3% das salvaguardas adicionais disponíveis).86 Para a Câmara de Derivativos da BM&FBovespa (Câmara BM&FBovespa)87, o valor máximo de RF foi verificado no dia 3 de outubro de 2014 (R$ 2,8 bilhões) e o valor máximo de RFL (gráfico 3.2.2) ocorreu no dia 25 de agosto (R$ 10,4 milhões). Nesse dia, o RFL correspondeu a 1,4% das salvaguardas adicionais disponíveis. Para a Câmara de Câmbio da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Câmbio), o maior valor de RF para os dois participantes com maiores posições devedoras em um dia específico foi de R$ 114 milhões, no dia 18 de dezembro de 2014, enquanto o valor do RFL foi nulo em todo o período, visto que as garantias individuais foram suficientes para cobrir as exposições geradas pelos participantes. Com relação ao risco de liquidez em reais, houve sete dias em que as linhas de liquidez contratadas pela 84/ O RF representa o custo de reposição da câmara em relação a uma eventual inadimplência de um participante a cada dia, com base nas variações reais dos preços dos ativos. 85/ O RFL representa o custo em que a câmara iria incorrer para encerrar a carteira de um determinado participante, caso se tornasse inadimplente, subtraído do total de garantias por ele constituídas, com base nas variações reais dos preços dos ativos. Representa, pois, a parcela de exposição ao risco que não é coberta pelas garantias individuais do participante. Para cada dia, são considerados os dois participantes aos quais a câmara esteja mais exposta, isto é, os dois participantes que apresentarem maior valor de RFL. 86/ Cada câmara dispõe de um fundo de liquidação composto por contribuições dos participantes e da própria câmara, cuja regra de utilização consta dos regulamentos e manuais de cada sistema. 87/ Como parte do processo de integração da BM&FBovespa, em agosto de 2014, o Banco Central autorizou o funcionamento da Câmara BM&FBovespa, que incorporou as operações da antiga Câmara de Derivativos, cuja autorização de funcionamento foi cancelada. O boxe Câmara BM&FBovespa descreve esse processo de integração de forma mais detalhada. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 42 BM&FBovespa não seriam suficientes para converter, em reais, os dólares entregues pelos participantes adimplentes e cobrir a inadimplência simultânea dos dois maiores devedores (gráfico 3.2.3). No entanto, cabe destacar que o montante das garantias depositadas suportaria o risco de crédito. federais. As garantias depositadas junto à BM&FBovespa – Câmbio foram compostas, majoritariamente, por títulos públicos federais, oscilando entre 60,8% e 100,0% das garantias totais depositadas no período. As demais garantias foram compostas por moeda estrangeira (dólar). Tabela 3.2.1 – BM&FBovespa – Ações Garantias por tipo de ativo1/ Gráfico 3.2.1 – BM&FBovespa – Ações Risco financeiro líquido % R$ milhões 45 45 36 36 27 27 18 18 2014 Discriminação Jul 9 0 0 Jul 2014 Ago Set Out Nov Dez Fontes: BM&FBovespa e BCB 12,0 9,6 9,6 7,2 7,2 4,8 4,8 2,4 2,4 Ago Set Out Nov 0,0 Dez Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 3.2.3 – BM&FBovespa – Câmbio Deficit de liquidez R$ milhões Dez Ações 55,2 54,1 51,4 46,2 48,1 46,8 39,7 40,6 43,0 50,2 48,0 49,1 3,0 3,1 2,6 1,9 2,2 2,6 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,3 0,5 0,5 0,4 0,4 0,4 0,8 Dinheiro 0,7 0,8 1,7 0,6 0,5 0,2 Outros 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,2 Título internacional CFI CDB 3/ 2/ Carta de fiança interbancária. 3/ Certificado de depósito bancário. Tabela 3.2.2 – Câmara BM&FBovespa Garantias por tipo de ativo % 2014 Discriminação Títulos públicos federais Jul Ago Set Out Nov Dez 92,9 92,0 93,1 93,2 93,8 94,3 Ações 3,6 4,3 3,6 3,6 3,4 2,8 Cartas fiança 2,1 2,0 1,9 1,6 1,5 1,5 CDB 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 Dinheiro 0,6 0,7 0,6 0,8 0,4 0,5 Outros 0,1 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 Fontes: BM&FBovespa e BCB 1.000 1.000 800 800 600 600 400 400 200 200 0 Nov 1/ Consideram-se apenas garantias vinculadas. R$ milhões 12,0 Jul 2014 Out Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 3.2.2 – Câmara BM&FBovespa Risco financeiro líquido 0,0 Set Título público 2/ 9 Ago Jul 2014 Ago Set Falha de um membro da câmara Out Nov Dez No segundo semestre de 2014, as variações acumuladas de dois dias nos principais Fatores Primitivos de Risco (FPR)88 utilizados pela Câmara BM&FBovespa para cálculo de garantias mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (tabela 3.2.3). 0 Falha de dois membros da câmara As garantias depositadas junto à BM&FBovespa – Ações (tabela 3.2.1) foram compostas, majoritariamente, por ações e títulos públicos federais, enquanto as depositadas junto à Câmara BM&FBovespa (tabela 3.2.2) foram compostas, majoritariamente, por títulos públicos 88/ Fator primitivo de risco (FPR) associado a um contrato derivativo é a denominação dada à variável financeira relevante à formação do valor, ou preço, do contrato. Ao se determinar o valor de um contrato derivativo por meio de uma relação matemática bem definida envolvendo um conjunto de variáveis econômicas, como a que resulta da assunção do Princípio de Não Arbitragem, define-se que tais variáveis representam os fatores primitivos de risco do contrato. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 43 função da amostra ainda reduzida de dados coletados do novo sistema. Tabela 3.2.3 – Câmara BM&FBovespa Fatores Primitivos de Risco (FPR) Discriminação 1/ Mín 1/ Máx N 2/ Confiança do VaR Ibovespa à vista -38% 40% 0 99% Dólar à vista -33% 30% 0 99% Pré 42 -8% 33% 0 99% Pré 126 -10% 31% 0 99% Pré 252 -12% 22% 0 99% Pré 756 -27% 20% 0 99% DDI 180 4/ -25% 9% 0 99% DDI 360 -30% 10% 0 99% DDI 1080 -27% 12% 0 99% 3/ Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 3.2.4 – Câmara BM&FBovespa Risco de crédito1/ 100,0% 99,8% 99,6% 99,4% 99,2% Jul 2014 Ago Set Out Nov Dez 99,0% 1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais, realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias). 1/ Percentual atingido em relação aos cenários de baixa e alta no 2º semestre de 2014. 2/ N é o número de exceções observadas na amostra de tamanho T. 3/ Teste de Kupiec, T = 255 dias. 4/ Cupom cambial. A acurácia89 do modelo de risco utilizado pela Câmara BM&FBovespa na determinação dos níveis de garantias individuais dos seus participantes permaneceu acima dos 99% (gráfico 3.2.4) recomendados pelos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro.90 É importante mencionar que o salto visualizado no gráfico em agosto de 2014 decorre da entrada em funcionamento do novo modelo de gerenciamento de riscos, o Closeout Risk Evaluation (CORE), com métodos e procedimentos singulares e distintos do modelo anterior.91 Ressalta-se também que, no período de agosto a dezembro de 2014, os resultados apresentados no gráfico não apresentam razoável significância estatística, fundamentalmente em 89/ O nível de acurácia é definido como a proporção de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em um determinado período de tempo. No caso de câmara de liquidação atuando como CPC, o nível de acurácia é dado, simplificadamente, pelo número de vezes em que as garantias requeridas dos participantes foram superiores ao risco de fato incorrido pela CPC, dividido pelo número total de participantes que tiveram sua exposição ao risco verificada, em um determinado período de tempo. 90/ Os Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro (Principles for Financial Market Infrastructures [PFMI]) foram publicados em abril de 2012 pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS – sigla em inglês) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/ IOSCO – sigla em inglês). O propósito dos PFMI é reforçar a segurança e a eficiência das infraestruturas do mercado financeiro. PFMI 6, KC 3: “A CCP should adopt initial margin models and parameters that are risk-based and generate margin requirements sufficient to cover its potential future exposure to participants in the interval between the last margin collection and the close out of positions following a participant default. Initial margin should meet an established single-tailed confidence level of at least 99 percent with respect to the estimated distribution of future exposure.” 91/ O boxe Câmara BM&FBovespa apresenta maiores detalhes sobre a implementação e o funcionamento do CORE. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 44 Tabela 3.2.4 – Visão geral do Sistema de Pagamentos Brasileiro: 2º semestre de 2014 Principais operações Forma de Contraparte Giro – Valor Giro – Quantidade Poder de Economia liquidadas liquidação central Média diária Média diária compensação de liquidez R$ bilhões Mil operações Discriminação Média diária R$ bilhões Sistemas de Transferência de Fundos STR 1/ Selic, câmaras, TED e outros pagamentos - 1.198,2 151,2 15,6 952,1 - 13,1 LDL 4,3 LBTR Não opções e swaps LDL câmbio Câmbio interbancário LDL BM&FBovespa – Títulos públicos críticos 2/ LBTR 1/ Híbrido CIP-Sitraf TED CIP-Siloc Boleto de pagamento , - - 23.655,7 83,0 10,9 3.077,5 92,2 4,0 1.087,9 6,6 - - Sim 6,8 209,3 0,8 5,5 Sim 3,5 0,1 0,4 1,4 0,0 3/ 4/ cartão de pagamento e DOC Compe LDL 5/ Cheque Sistemas de compensação e liquidação de ativos Selic Títulos públicos federais BM&FBovespa Mercadorias, futuros, BM&FBovespa – ativos federais BM&FBovespa – Ações e outros títulos priv. ações Cetip Sim 0,0 0,0 0,0 Não 0,1 0,04 - - LDL Sim 8,0 964,1 0,9 7,3 Títulos privados, títulos estaduais e municipais e swaps CIP-C3 LDL LBTR Cessão de crédito LBTR Não 28,2 3,2 - - LDL Não 13,4 1,8 0,3 4,5 LBTR Não 0,2 0,0 - - 1/ Transferência eletrônica disponível que envolve cliente e por conta de IF. 2/ Incluída a liquidação bilateral de cheques de valor unitário igual ou superior a R$250 mil e de boletos de pagamentos com valor unitário igual ou superior a R$250 mil. 3/ CIP-Siloc liquida boletos de pagamento de valor unitário menor que R$250 mil. 4/ CIP-Siloc liquida alguns cartões de pagamento. 5/ Compe liquida cheques de valor unitário menor que R$250 mil. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 45 Câmara BM&FBovespa Desde 2008, iniciativas vêm sendo conduzidas pela BM&FBovespa no sentido de aproveitar sinergias decorrentes da fusão entre as antigas BM&F e Bovespa. Entre elas, citam-se a integração dos sistemas de negociação (PUMA) e de pós-negociação, esta última ainda em andamento. Dessa forma, a BM&FBovespa pretende oferecer, no futuro, um serviço unificado, a partir da integração de múltiplos manuais e regulamentos, de estruturas e cadastros de participantes, de infraestruturas de TI e de sistemas de gerenciamento de riscos. De fato, em 18.8.2014, entrou em operação a Câmara BM&FBovespa, concluindo a primeira etapa da integração dos sistemas de pós-negociação. A estratégia escolhida pela empresa foi criar uma infraestrutura, com novas regras e procedimentos e, paulatinamente, migrar as operações de cada uma das suas quatro câmaras para a Câmara BM&FBovespa. Na mesma data, a então Câmara de Derivativos foi extinta e suas operações migradas para a Câmara BM&FBovespa. Dentre as regras e procedimentos adotados pela Câmara BM&FBovespa, destaca-se o novo modelo de gerenciamento de riscos, denominado CORE (Closeout Risk Evaluation), cuja entrada em funcionamento proporcionou economias de liquidez para alguns participantes da câmara, em termos de menores montantes de garantias individuais exigidos para a cobertura de suas posições, se comparados com os montantes exigidos pelo modelo anterior. A análise realizada pelo Banco Central do Brasil (BCB) constatou que tal redução na exigência de garantias individuais não resultaria em maior exposição da contraparte central, ou dos demais participantes da infraestrutura, aos riscos originados das posições individuais, sendo decorrente do aumento da eficiência do novo modelo de gerenciamento de riscos. No modelo antigo, o risco de uma carteira de derivativos era calculado como a soma dos riscos existentes em três conjuntos de contratos distintos: futuros, opções e derivativos de balcão. Portanto, não se consideravam os efeitos da composição da carteira, principalmente os referentes à redução de risco em função da existência de possíveis hedges, ainda que parciais, originados por contratos derivativos pertencentes a conjuntos distintos, referenciados no mesmo fator de risco, mas em sentidos opostos. No CORE, a estratégia de encerramento de uma carteira inadimplente e a consequente margem requerida para suportar variações de preço no período de encerramento são resultantes de um problema de otimização. Nessa metodologia, os diversos contratos existentes em uma carteira são transformados em fluxos de caixa potenciais, considerando cerca de 10 mil cenários de variação dos fatores de risco, e o cenário mais restritivo, em termos de exigência de garantias, é selecionado, considerando-se a melhor estratégia de encerramento de cada cenário. Como resultado da formulação do problema, a solução ótima considera o efeito no cálculo do risco da carteira oriundo dos possíveis hedges existentes entre as diversas posições que a compõem, durante o horizonte temporal de seu encerramento. Ao deixar de exigir parcela de garantias para posições cujo risco se compensa, o modelo reduz os incentivos adversos para a constituição de hedges, notadamente em períodos de alta volatilidade do mercado, o que o torna menos pró-cíclico. Ademais, as restrições do problema de otimização consideram a liquidez de cada contrato a ser encerrado, respeitando a capacidade de absorção dos mercados sem impactar preços. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 46 Com a entrada em funcionamento da nova infraestrutura, foram liberadas garantias individuais no valor de R$ 7,7 bilhões. As carteiras mais diversificadas e com hedges internos, não considerados na metodologia antiga, foram as mais beneficiadas com a adoção do CORE. De fato, os exercícios realizados previamente apontavam que apenas quatorze carteiras, com 240 posições ou mais, responderiam por aproximadamente 70% da redução total de garantias. Já 88% das carteiras, relativamente pequenas e não diversificadas, apresentariam variações de exigência de garantias de até R$ 27,0 mil, para mais ou para menos. Finalmente, entre agosto e dezembro de 2014, o BCB revisitou seus procedimentos de backtesting, adaptando-os à nova realidade do CORE e não observou aumento de riscos para o SPB. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 47 Organização do Sistema Financeiro Nacional 4.1Introdução O segmento das instituições bancárias foi marcado no semestre por ocorrências de incorporações envolvendo instituições do mesmo conglomerado, pela transferência de controle do Banco Bamerindus (Bamerindus), que se encontrava em liquidação extrajudicial, para o Banco BTG Pactual (BTG) e por uma mudança de objeto social para banco múltiplo. No tocante às instituições não bancárias, merecem destaque a redução nos quantitativos das Cooperativas de Crédito e das Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). Em relação às cooperativas, a redução decorre de cancelamentos de autorização para funcionamento por inatividade, liquidações ordinárias e processos de incorporações. No caso das DTVMs, houve a diminuição no quantitativo de instituições autorizadas, em resultado de cancelamentos de autorização para funcionamento por mudanças de objeto social, de decretação de falência após um período de liquidação extrajudicial e de dissolução de sociedade. 4.2 Instituições bancárias Entre as movimentações envolvendo instituições bancárias destacam-se cinco incorporações de bancos múltiplos por instituições do mesmo conglomerado, a mudança de objeto social da Bonsucesso Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. (Bonsucesso DTVM) para banco múltiplo e a transferência de controle do Bamerindus para o BTG. A mudança de objeto social da Bonsucesso DTVM para banco múltiplo abrange uma das etapas da implementação do acordo de associação firmado entre os conglomerados Bonsucesso e Santander a fim de desenvolver atividades relacionadas com crédito consignado. 4 A transferência de controle do Bamerindus para o BTG, outro movimento em destaque, envolveu o encerramento do regime de liquidação extrajudicial do Bamerindus, a aquisição pelo BTG de instrumentos patrimoniais referentes a 98% do capital social e votante do Bamerindus que se encontravam em poder do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e a mudança de denominação social do Bamerindus para Banco Sistema S.A. (ocorrida em 23.12.2014). Os movimentos orgânicos envolvendo o segmento bancário no semestre foram os seguintes: Mudança de objeto social • Bonsucesso Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. (de Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários para Banco Múltiplo), em 24.11.2014; Incorporações • Itaú Unibanco S.A. – Incorporação do Unibanco – União de Bancos Brasileiros S.A., em 3.10.2014; • Hipercard Banco Múltiplo S.A. – Incorporação do Unicard Banco Múltiplo S.A., em 21.11.2014; • Banco Itaucard S.A. – Incorporação do Banco Credicard S.A., em 3.12.2014; • Itaú Unibanco S.A. – Incorporação do Banco Dibens S.A., em 9.12.2014; • Banco Bradesco Cartões S.A. – Incorporação do Banco Bankpar S.A., em 17.12.2014; Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 48 Cancelamento de autorização para funcionamento • Banco BVA S.A. – Cancelamento da autorização para funcionamento, em decorrência de decretação de falência, em 23.10.2014. A tabela 4.2.1 contempla o número de movimentações ocorridas por tipos de instituições no semestre. • Banco Bamerindus do Brasil S.A. – Banco Múltiplo – Transferência do controle societário para Banco BTG Pactual S.A. – Mudança de denominação social para Banco Sistema S.A. – Publicado no DOU em 23.12.2014. Tabela 4.2.2 – Evolução do quantitativo de instituições financeiras autorizadas1/ 2/ Tabela 4.2.1 – Movimentação orgânica no SFN Tipo de instituição Processos aprovados e publicados no Diário Oficial da União Julho a dezembro de 2014 Eventos BM BC BI CFI DTVM CTVM CC SCI SCM SAM CH Coop Bancos Múltiplos 2011 2012 2013 2014 Dez Dez Dez Dez 139 137 132 130 Nacionais sem particip. estrang. 69 66 63 63 Autorização - - - - 1 - 2 - 1 - - 1 Nacionais com particip. estrang. 16 15 15 14 Cancelamento 1 - - - 5 - - 2 1 - - 8 Sob controle estrangeiro 54 56 54 53 Incorporação 5 - - 3 - - - - - 1 1 20 Comerciais e filiais de bancos Cisão - - - - - - 1 - - - - 1 20 22 23 22 Nacionais sem particip. estrang. 11 12 12 11 Nacionais com particip. estrang. 1 1 1 1 - Sob controle estrangeiro 2 3 4 4 - Filiais de bancos estrangeiros 6 6 6 6 4 4 4 4 14 14 14 14 2 2 3 3 1 1 1 1 30 30 29 27 59 58 58 55 42 40 38 40 14 12 11 9 Mudança de objeto social – entrada 1 – saída - - - - 1 - - - - - - - - Desenvolvimento Liquidação - - - - 1 1 1 - 1 - - - Intervenção - - - - - - - - - - - - RAET - - - - - - - - - - - extrajudicial estrangeiros - Fonte: Diário Oficial da União A tabela 4.2.2 informa os quantitativos relativos aos últimos quatro anos de instituições autorizadas por segmento. No tocante aos quantitativos de agências bancárias por região geográfica, conforme a tabela 4.2.3, observa-se que no semestre houve aumento de 2% na região Norte e comportamento estável nas demais regiões. Em relação aos quantitativos de agências por origem de capital das instituições, apresentados na tabela 4.2.4, observa-se comportamento similar ao do primeiro semestre de 2014. Nesse sentido, as redes de agências dos bancos públicos registraram aumento de 1,2% em seu quantitativo total, enquanto as demais mantiveramse estáveis. Investimento Câmbio Caixa Econômica Federal Sociedades Arrendamento mercantil 3/ Crédito, financiamento e investimento Crédito ao microempreendedor Crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimo e repassadoras Corretoras de títulos e valores mobiliários 3/ Corretoras de câmbio 99 94 93 92 49 57 62 66 126 118 116 108 16 16 16 16 7 7 8 7 1.309 1.254 1.209 1.163 Distribuidoras de títulos e valores mobiliários Agências de fomento 3/ Companhias hipotecárias 3/ Cooperativas 3/ Administradoras de consórcio Total 283 222 199 186 2.214 2.088 2.016 1.943 Fonte: Unicad e Capef 1/ Foram consideradas as instituições nas situações "Autorizada sem atividade", No semestre, foram autorizadas as seguintes transferências de controle envolvendo instituições do segmento bancário: "Autorizada em atividade", "Em intervenção", "Paralisada" e "Em Administração Especial Temporária". 2/ As instituições na situação "Paralisadas" e "Em Intervenção" passaram a ser levadas em consideração desde dezembro de 2013. 3/ Os valores referentes a dezembro de 2011 foram retificados. • Banco Industrial e Comercial S.A. – Banco Múltiplo – Transferência do controle societário para China Construction Bank Corporation – Publicado no Diário Oficial da União (DOU) em 18.09.2014; Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 49 Tabela 4.2.3 – Distribuição de agências bancárias por região Quantidade de agências Região Nordeste Norte Centro-Oeste Sudeste Sul Total 2010 2011 2012 2013 2014 Dez Dez Dez Dez Dez 2.828 3.215 3.474 3.609 3.665 832 985 1.067 1.106 1.135 1.512 1.610 1.698 1.820 1.848 10.851 11.386 11.725 12.024 12.105 3.790 4.080 4.254 4.359 4.373 19.813 21.276 22.218 22.918 23.126 Fonte: Unicad Tabela 4.2.4 – Número de agências bancárias1/ por origem de capital Quantidade de agências 2010 2011 2012 2013 2014 Dez Dez Dez Dez Dez Público 8.322 8.534 9.315 9.951 10.231 Privado nacional 7.998 9.124 9.206 9.200 9.164 Estrangeiro 3.493 3.618 3.697 3.767 3.731 Total 19.813 21.276 22.218 22.918 23.126 Discriminação Fonte: Unicad/Capef 1/ Bancos múltiplos, comerciais e Caixa Econômica Federal. 4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional Para o monitoramento sistemático dos níveis de concentração do segmento bancário do SFN o BCB utiliza o Índice de Herfindahl-Hirschmann (IHH)92 e a Razão de Concentração dos quatro maiores (RC4)93 e dos dez maiores participantes (RC10) nos ativos totais, nas operações de crédito e nos depósitos totais do segmento. Os valores dos indicadores de concentração do segmento bancário relativos a dezembro de 2014, para cada um dos três agregados contábeis considerados, são os seguintes: - Operações de crédito: 1.580; - Depósitos totais: 1.651; • RC4 - Razão de Concentração para os quatro maiores participantes: - Ativos totais: 70,59%; - Operações de crédito: 74,89%; - Depósitos totais: 76,33%; • RC10 - Razão de Concentração para os dez maiores participantes: - Ativos totais: 90,39%; - Operações de crédito: 91,81%; - Depósitos totais: 91,91%. Diante dos dados acima apresentados, percebe-se que, nos três agregados contábeis, o IHH manteve-se no intervalo considerado como de moderada concentração, segundo referência adotada pelo BCB (ver nota de rodapé relativa ao IHH), uma vez que os valores mantiveram-se entre 1.000 e 1.800. Os gráficos 4.3.1, 4.3.2 e 4.3.3 apresentam a evolução de dezembro de 2006 a dezembro de 2014 do IHH, do RC4 e do RC10, do segmento bancário para cada um dos agregados considerados. Em relação às evoluções apresentadas, merecem destaque as reduções no semestre no IHH (gráfico 4.3.1) e no RC4 (gráfico 4.3.2) relativos a ativos e a operações de crédito. Gráfico 4.3.1 – Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário Índice de Herfindahl-Hirschman – IHH IHH 1.800 • IHH - Índice Herfindahl-Hirschmann: 1.600 - Ativos totais: 1.388; 92/ O IHH é utilizado pelas autoridades nacionais e internacionais de defesa da concorrência como instrumento acessório na avaliação de níveis de concentração econômica. Conforme o Guia para Análise de Atos de Concentração, divulgado pelo Comunicado nº 22.366, de 27 de abril de 2012, o BCB considera que mercados que registraram valores para o IHH situados entre 0 e 1.000 são considerados de baixa concentração; entre 1.000 e 1.800 de moderada concentração; e acima de 1.800 de elevada concentração. O IHH é obtido pelo somatório do quadrado da participação de cada instituição financeira (IF) no mercado considerado: IHH = (IF1)2 + (IF2)2 +... + (IFn)2. 93/ O RC4 e o RC10 representam a participação acumulada dos quatro e dos dez maiores concorrentes, respectivamente, em cada mercado. 1.400 1.200 1.000 Dez 2006 Dez 2007 Dez 2008 Dez 2009 Ativos Março 2015 Dez 2010 Dez 2011 Operações de crédito | Dez 2012 Dez 2013 800 Dez 2014 Depósitos Relatório de Estabilidade Financeira | 50 Gráfico 4.3.2 – Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário Razão de concentração – RC4 RC4 % 80 74 68 62 56 Dez 2006 Dez 2007 Dez 2008 Dez 2009 Ativos Dez 2010 Dez 2011 Dez 2012 Operações de crédito Dez 2013 50 Dez 2014 Depósitos Gráfico 4.3.3 – Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário Razão de concentração – RC10 RC10 % 95 91 87 83 (1 ocorrência) após regime de liquidação extrajudicial ou por dissolução de sociedade (1 ocorrência). Além disso, houve decretação de liquidação extrajudicial em uma instituição e a autorização para funcionamento de outra. As autorizações de transferências de controle acionário envolvendo instituições do segmento não bancário no semestre foram as seguintes: • BGN Leasing S.A. - Arrendamento Mercantil – Transferência do controle societário para JSL Holding Financeira Ltda – Publicado no DOU em 5.8.2014; • Pacific Invest Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda – Transferência do controle societário para Pedro José Telesca, Silvana Luíza de Marco, Flávio Roberto de Marco e Daniel de Marco – Publicado no DOU em 3.10.2014; • Múltipla Crédito, Financiamento e Investimento S.A. – Transferência do controle societário para Ricardo Zema – Publicado no DOU em 5.12.2014. 79 Dez 2006 Dez 2007 Ativos Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Dez 2011 Operações de crédito Dez 2012 Dez 2013 75 Dez 2014 4.5 Participações estrangeiras no Sistema Financeiro Nacional Depósitos 4.4 Instituições não bancárias Entre as movimentações no semestre envolvendo o segmento das instituições não bancárias destacam-se as reduções nos quantitativos de Cooperativas de Crédito e de Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). O segmento das Cooperativas de Crédito apresentou redução de vinte e sete instituições em seu quantitativo, o que equivale a 2,3% do segmento. Este decréscimo advém, da mesma forma que em semestres anteriores, de processos de cancelamentos de autorização para funcionamento por inatividade operacional e por ingresso em liquidação ordinária. Além disso, também foram autorizados vários pleitos de incorporações, resultantes do processo fortalecimento do setor cooperativista em curso. Quanto à participação do capital estrangeiro na composição societária das instituições integrantes do SFN (tabela 4.5.1), merece ser destacada a transferência de controle para China Construction Bank, investidor de nacionalidade chinesa, do Banco Industrial e Comercial S.A. (banco múltiplo). Tabela 4.5.1 – Instituições financeiras com controle ou participação minoritária estrangeira no país1/ 2/ 3/ Discriminação 2010 2011 2012 2013 2014 Dez Dez Dez Dez Dez Com controle (> 50%) 133 129 130 131 133 41 49 43 41 40 174 178 173 172 173 Com participação (≥ 10% e < 50%) Total Fonte: Capef 1/ Instituições bancárias e instituições financeiras de outro tipo. 2/ Dados ainda não refletem mudanças na composição societária que eventualmente tenham sido encaminhadas ao Banco Central pelas instituições mas que se encontrem em processo de validação. No tocante ao quantitativo de instituições do segmento de DTVM, registrou-se decréscimo de seis instituições, redução equivalente a 5,6% do quantitativo total do segmento. Essa redução é resultado de cancelamentos de autorização para funcionamento por mudanças de objeto social (4 ocorrências), por decretação de falência 3/ Participação no capital votante. Em relação às participações minoritárias de estrangeiros no capital votante das instituições do SFN, não foi registrada nenhuma alteração relevante. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 51 4.6 Participações de instituições financeiras brasileiras no exterior Foi registrada a seguinte ocorrência: • Banco BTG Pactual S.A. – Autorização para constituição da subsidiária BTG Pactual Sociedad Fiduciaria S.A., com sede em Medellín, Colômbia – Publicado no Diário Oficial da União em 19.09.2014. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 52 Regulação do Sistema Financeiro Nacional 5.1Introdução A regulação da atividade de registro de ativos financeiros pode ser contextualizada na necessidade de se mitigarem as falhas de mercado inerentes à atividade de intermediação financeira, principalmente no que tange a questões relacionadas a assimetrias informacionais, à existência de externalidades e à necessidade de racionalização e coordenação dos agentes atuantes no sistema financeiro. Em última instância, a mitigação dessas falhas objetiva a promoção de um sistema financeiro mais transparente, seguro e eficiente, criando condições propícias para o estabelecimento de relações privadas favoráveis ao desenvolvimento socioeconômico. Nesse sentido, no segundo semestre de 2014, foram adotadas medidas regulatórias alinhadas à manutenção da estabilidade e à ampliação da eficiência do sistema financeiro, destacando-se a edição de normas complementares sobre prestação de informações referentes ao registro de títulos e valores mobiliários; registro de operações de cessão de créditos relativas a empréstimos pessoais sem consignação e de financiamentos para a aquisição de bens móveis; além de normas relativas à emissão de letra financeira por cooperativas de crédito. Essas normas são detalhadas nos tópicos a seguir. 5.2 Prestação de informações referentes ao registro de títulos e valores mobiliários 5 Entre as inovações trazidas por esse ato normativo, destacam-se a redução do limite de dispensa do registro dos títulos e valores mobiliários emitidos por uma mesma instituição em favor de um mesmo detentor, de R$50 mil para R$5 mil, e a obrigatoriedade de identificação do proprietário do ativo, pelo número de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) ou no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), para todos os ativos registrados. A medida regulatória prevê ainda que grande parte das operações de compra e venda e de empréstimo desses ativos seja registrada no mesmo dia de contratação da operação, o que confere maior grau de transparência e segurança às transações realizadas no mercado secundário. Outra exigência do novo ato normativo diz respeito ao código gerado por ocasião do registro, que deve ser único em cada sistema de registro e plenamente capaz de identificar o título ou valor mobiliário em cada transação registrada. Com essas regras, pretende-se aumentar a oferta de dados referentes às transações cursadas no mercado financeiro, bem como introduzir melhorias em relação à qualidade, fidedignidade e segurança das informações registradas. Ademais, ao se alterar o critério de apuração do valor utilizado como limite de isenção de registro, que passa a ser baseado no volume de emissões em uma mesma data, simplificam-se os procedimentos operacionais das instituições financeiras para a identificação e para o controle das informações a serem registradas. A Circular nº 3.709, de 18 de julho de 2014, aprimorou o tratamento regulatório concernente ao registro dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) e dos demais títulos ou valores mobiliários, exceto ações, de emissão, aceite ou garantia de instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 53 5.3 Registro de operações de cessão de créditos relativas a empréstimos pessoais sem consignação e de financiamentos para a aquisição de bens móveis A Diretoria Colegiada do BCB aprovou a Circular nº 3.736, de 27 de novembro de 2014, disciplinando as condições e o cronograma para registro, pelo cedente e pelo cessionário, das operações de cessão de créditos relativas a empréstimos pessoais sem consignação das prestações em folha de pagamento, bem como as relativas a financiamentos para a aquisição de bens móveis. A medida foi adotada em consonância com a Resolução nº 3.998, de 28 de julho de 2011, que obriga as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, tanto na qualidade de cedente, como na de cessionário, a registrar, em sistemas de registro e liquidação financeira de ativos, as operações de cessão de créditos e de cessão de arrendamento mercantil. O objetivo da Resolução nº 3.998, de 2011, foi aumentar a transparência e a segurança no mercado de crédito, como forma de mitigar os problemas relacionados à assimetria da informação e a suas consequências. Por ocasião de sua edição, optou-se por priorizar o registro apenas das operações de crédito com maior participação nas carteiras das instituições financeiras que utilizavam a cessão de crédito como instrumento de financiamento de suas atividades, quais sejam, as operações de cessão de créditos relativas a empréstimos e a financiamentos com consignação das prestações em folha de pagamento, bem como as relativas a financiamentos de veículos automotores. Os registros das operações de cessão das novas modalidades de crédito devem ocorrer a partir da entrada em vigor da Circular nº 3.736, de 2014, caso quaisquer das partes da operação de cessão tenha cedido fiduciariamente ao FGC créditos das modalidades mencionadas em garantia de depósitos a prazo com garantia especial ou, a partir de 1º de junho de 2015, nos demais casos. 5.4 Emissão de letra financeira por cooperativas de crédito O CMN aprovou em 18.11.2014 a Resolução nº 4.382, disciplinando a possibilidade de as cooperativas de crédito emitirem letra financeira exclusivamente para fins de composição do Patrimônio de Referência (PR). Essa medida tem por objetivo oferecer uma alternativa adequada às necessidades de capital e de fonte de financiamento de longo prazo para essas instituições, com vantagens de perenidade e previsibilidade, haja vista as limitações legais e regulamentares impostas para o resgate desse título. As cooperativas de crédito, embora sujeitas a exigências relacionadas à manutenção de níveis mínimos de capital regulamentar, não estavam autorizadas a emitir LF em virtude de esse tipo de instituição operar somente com seus associados, enquanto as letras financeiras, por serem títulos de crédito, têm como uma de suas características principais a livre negociação. O exame das possibilidades técnica e jurídica de o segmento cooperativista emitir LF evidenciou, no entanto, que os títulos porventura emitidos poderiam ser livremente negociados com não associados no mercado secundário. Diante do fato de que a legislação vigente não impede a emissão de LF por cooperativas de crédito, bem como em face das vantagens que esse título representa para o segmento cooperativista, particularmente no tocante à composição do PR, foi autorizado que tais instituições o emitissem para fins de composição de capital regulamentar, observados os critérios estabelecidos pela Resolução nº 4.192, de 1º de março de 2013, entre os quais figura a existência de cláusula de subordinação, com suas consequentes implicações sobre prazo e valor mínimo de emissão. Deve-se ressaltar, por fim, que a possibilidade de negociações do título entre não cooperados diz respeito tão somente a operações realizadas no mercado secundário. A colocação primária de letras financeiras por cooperativas de crédito, em observância às disposições da Lei Complementar nº 130, de 2009, permanece limitada ao respectivo quadro social. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 54 5.5 Evolução das regras prudenciais Em 20 de agosto de 2014, foi editada a Circular BCB nº 3.714, que excluiu os Fatores de Ponderação de Risco (Fpr) de 150% e 300%, utilizados na apuração do Ativo Ponderado pelo Risco (RWA – sigla em inglês), para as operações de crédito de varejo de longo prazo. Em consonância com o tratamento padronizado recomendado pelo Comitê de Basileia, foi reestabelecido o Fpr de 75% para essas operações, independentemente do prazo, em decorrência do cenário de acomodação do ritmo de expansão do crédito. Passaram ainda a ser consideradas como exposições de varejo (sujeitas a menor exigência de capital) operações de crédito contratadas com pessoa natural, cujas exposições de crédito com a instituição financeira totalizem até R$1,5 milhão, e operações de crédito contratadas com empresa de pequeno porte, cujas exposições com a instituição totalizem até R$3 milhões. Anteriormente, o limite para o total das exposições estava unificado em R$600 mil. Por sua vez, o valor do faturamento anual utilizado para caracterizar empresas como de pequeno porte foi elevado de R$3,6 milhões para R$15 milhões. A ampliação do limite para caracterização das empresas de pequeno porte buscou criar ambiente favorável à redução nos custos de captação e ampliação da oferta de crédito para esse segmento empresarial, especialmente no que tange a recursos destinados a capital de giro e para novos investimentos. Adicionalmente, a regulamentação prudencial passou a reconhecer a mitigação de risco proporcionada pelas condições estruturais das operações de crédito consignado, permitindo a aplicação do Fpr de 50% a essas operações. Foram também alteradas as regras para conversão das operações de prestação de aval, fiança e coobrigação em exposições de crédito para fins prudenciais, anteriormente sujeitas à aplicação de um Fator de Conversão de Crédito (FCC) fixo de 100%, no cálculo do RWA. Com a edição da Circular BCB nº 3.714, de 2014, as operações de comércio internacional de mercadorias, nas quais o embarque das mercadorias está associado à garantia da operação, passaram a receber o FCC de 20%. De modo semelhante, foi adotado o FCC de 50% na prestação de garantias de desempenho, tais como as garantias de proposta em processos licitatórios (bid bonds) e garantias de execução de serviços ou obras públicas (performance bonds). Essa medida, que segue as recomendações internacionais, considera o fato de as garantias oferecidas pelos agentes financeiros possuírem seu acionamento condicionado ao não cumprimento de compromissos não financeiros pela parte garantida. Com o objetivo de reduzir barreiras à internacionalização das instituições financeiras brasileiras, o tratamento das exposições a governos centrais de países estrangeiros também foi ajustado. Em linha com as recomendações de Basileia, exposições a países com classificação de risco equivalente ou superior a “AA-”, bem como exposições que tenham funding em moeda local com governos centrais de países com classificação de risco equivalente ao de grau de investimento, passaram a ser ponderadas com o Fpr de 0%. A Circular BCB nº 3.730, de 18 de novembro de 2014, promoveu o aprimoramento dos requerimentos mínimos de capital aplicáveis às cooperativas de crédito, de forma a reduzir seus custos operacionais e dotá-las de melhores condições para crescimento. Passou a ser aplicado requerimento de capital uniforme a todos os direitos representativos de operações realizadas dentro de um mesmo sistema cooperativo, correspondente ao Fpr de 20%. Já para as cooperativas do Regime Prudencial Simplificado (RPS), as alterações normativas significaram a redução do requerimento de capital aplicável às operações de crédito contratadas por cooperativas singulares, que passaram a receber um Fpr de 75%, em substituição ao de 85%, alinhando o requerimento de capital dessas exposições ao exigido das demais instituições financeiras. Foram alteradas as regras relativas aos limites de exposição por cliente, estabelecidas pela Resolução CMN nº 2.844, de 29 de junho de 2001, buscando antecipar aspectos da sistemática proposta pelo Comitê de Basileia em abril de 2014 para o tratamento do risco de concentração, cujo cronograma de implementação tem previsão de estender-se até 2019. Como medida inicial, foi alterada a conceituação de cliente para os fins da verificação do cumprimento dos referidos limites, passando a ser considerados clientes distintos, em se tratando do setor público: a União; a entidade controlada pela União que não mantenha relação de dependência econômica com outra entidade também controlada pela União; o conjunto das entidades controladas pela União que mantenham relação de dependência econômica entre si; o estado da Federação ou o Distrito Federal, em conjunto com as Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 55 entidades controladas por esse estado da Federação ou pelo Distrito Federal; e o município, em conjunto com as entidades controladas por esse município. Foi editada, ainda, a Circular nº 3.741, de 29 de dezembro de 2014, que fixou o valor do Adicional de Capital Principal (ACP), previsto na Resolução nº 4.193, de 1º de março de 2013. O ACP é formado por duas parcelas: a parcela de conservação, com valor fixo, e a parcela variável, que corresponde a um colchão adicional de capital a ser amealhado durante a fase de expansão do ciclo de crédito e a ser consumido durante sua fase de contração, diante de indícios de acúmulo de desequilíbrios sistêmicos e, consequentemente, de potenciais fontes de perdas generalizadas para o sistema financeiro quando da correção de tais desequilíbrios. Esse mecanismo permite, portanto, incorporar à estrutura de capital a cobertura de riscos sistêmicos latentes do ambiente de atuação das instituições financeiras. Um importante avanço regulatório foi a possibilidade de aplicações em moeda nacional mediante recursos mantidos em conta titulada pelo investidor não residente no país ou por meio de ordem de pagamento em reais oriunda do exterior, tal qual já ocorria nos investimentos externos diretos e nas operações de crédito externos. Destaque-se, também, a permissão para que os DRs possam ser lastreados não apenas em ações, mas em quaisquer valores mobiliários emitidos por companhias abertas brasileiras, sendo que, para as instituições financeiras e demais instituições de capital aberto autorizadas a funcionar pelo BCB, também em títulos de crédito elegíveis a compor seu PR. A resolução que será complementada por normas adicionais expedidas pelo BCB e pela CVM entrará em vigor em 30 de março de 2015. A moderação recente da expansão do crédito e o cenário esperado para os próximos anos apontam para um desenvolvimento sustentável do mercado brasileiro de crédito. Nesse sentido, para a parcela variável do ACP foi estabelecido o valor de 0% (zero por cento) do montante dos ativos ponderados pelo risco (RWA). Assim, o valor do ACP corresponderá apenas à aplicação dos percentuais já definidos para a parcela fixa do ACP, na Resolução nº 4.193, de 2013. Não obstante, o Banco Central do Brasil continuará monitorando continuamente o mercado de crédito, com vistas a efetuar eventuais ajustes na parcela variável do ACP, se necessário. 5.6 Regulamentação sobre aplicações no Brasil de investidor não residente O CMN aprovou, em 29 de setembro de 2014, a Resolução n° 4.373, dispondo sobre aplicações de investidor não residente no Brasil nos mercados financeiros e de capitais no país, inclusive os realizados por meio de Depositary Receipts (DRs). A norma editada, que revisou integralmente a regulamentação anterior, agregando em um único normativo as disposições relativas a aplicações em portfólio de investidores residentes no exterior, simplificou procedimentos e conferiu maior clareza às regras existentes, contribuindo, assim, para a redução dos custos de observância e aumento da segurança jurídica das operações. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 56 Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade financeira Os trabalhos para discussão não devem ser citados como representando o ponto de vista do BCB. As opiniões expressas nos trabalhos são exclusivamente do(s) autor(es) e não refletem necessariamente a visão do BCB. 365. Banking Systemic Risk, Foreign Funding, Exchange Rate Exposure and Carry Trade: is there a relation? Bruno Freitas Boynard de Vasconcelos e Benjamin Miranda Tabak Outubro/2014 Resumo Texto completo 368. Asymmetric Transmission of a Bank Liquidity Shock Rafael Felipe Schiozer e Raquel de Freitas Oliveira Novembro2014 Resumo Texto completo 374. Do Interconnections Matter for Bank Efficiency? Solange Maria Guerra, Benjamin Miranda Tabak e Rodrigo Cesar de Castro Miranda Dezembro/2014 Resumo Texto completo 375. Capital Requirements, Liquidity and Financial Stability: the case of Brazil Sergio R. Stancato de Souza Dezembro/2014 Resumo Texto completo 377. Avaliação do Processo de Concentração-Competição no Setor Bancário Brasileiro Marcos Soares da Silva Dezembro/2014 Resumo Texto completo 378. Macroeconomic and Financial Consequences of the After Crisis Government-Driven Credit Expansion in Brazil Marco Bonomo, Ricardo Brito e Bruno Martins Dezembro/2014 Resumo Texto completo Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 57 Apêndice Administração do Banco Central do Brasil Siglas Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 58 Administração do Banco Central do Brasil Diretoria Colegiada Alexandre Antonio Tombini Presidente Aldo Luiz Mendes Diretor Altamir Lopes Diretor Anthero de Moraes Meirelles Diretor Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo Diretor Luiz Awazu Pereira da Silva Diretor Luiz Edson Feltrim Diretor Sidnei Corrêa Marques Diretor Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 59 Siglas a.a. ao ano ATA Ativo total ajustado BC Banco comercial BCB Banco Central do Brasil BCBS Comitê de Supervisão Bancária da Basileia BCE Banco Central Europeu BI Banco de investimento BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIS Bank for International Settlements BM Banco múltiplo BM&FBovespa Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros BM&FBovespa – Ações Câmara de Ações da BM&FBovespa BM&FBovespa – Câmbio Câmara de Câmbio da BM&FBovespa BM&FBovespa – Derivativos Câmara de Derivativos da BM&FBovespa BoJ Banco do Japão BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CDB Certificado de depósito bancário CDS Credit Default Swap Cetip Central de Liquidação e Custódia de Títulos Privados CMN Conselho Monetário Nacional Comef Comitê de Estabilidade Financeira Copom Comitê de Política Monetária Coremec Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização CPC Contraparte central CRA Certificado de recebíveis do agronegócio CRI Certificado de recebíveis imobiliários CRF Comprometimento de renda das famílias CRTC Comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN CTVM Corretora de títulos e valores mobiliários CVM Comissão de Valores Mobiliários C3 Central de Cessões de Crédito DI Depósito interfinanceiro DPGE Depósito a Prazo com Garantia Especial do FGC DTVM Distribuidora de títulos e valores mobiliários EMBI+Br Emerging Markets Bond Index Plus EUA Estados Unidos da América Fed Federal Reserve Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 60 FGC Fundo Garantidor de Crédito FIDC Fundo de investimento em direitos creditórios FII Fundo de investimento imobiliário Finame Agência Especial de Financiamento Industrial FMI Fundo Monetário Internacional FPR Fator Primitivo de Risco Fpr Fator de ponderação de risco FSI Financial Soundness Indicator GFSR Global Financial Stability Report IB Índice de Basileia IBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco Central IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Ibovespa Índice da Bolsa de Valores de São Paulo ICI Índice de cobertura da inadimplência ICP Índice de Capital Principal IED Investimento estrangeiro direto IF Instituição financeira IHCD Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida IHH Índice de Herfindahl-Hirschman IIF Institute of International Finance IL Índice de liquidez IOF Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários IOSCO Organização Internacional das Comissões de Valores IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo IPR1 Índice de Capital de nível I LCR Liquidity Coverage Ratio LF Letra Financeira LL Lucro líquido Opep Organização dos Países Exportadores de Petróleo p.b.Pontos-base PF Pessoa física PIB Produto Interno Bruto PJ Pessoa jurídica PME Pequena e média empresa p.p. Ponto percentual PR Patrimônio de Referência Previc Superintendência Nacional de Previdência Complementar RC4 Razão de concentração dos quatro maiores RC10 Razão de concentração dos dez maiores RDB Recibo de depósito bancário REF Relatório de Estabilidade Financeira RF Risco Financeiro RFL Risco Financeiro Líquido RSPL Retorno sobre o Patrimônio Líquido RWA Risk-weighted assets (ativos ponderados pelo risco) SAM Sociedade de Arrendamento Mercantil SCM Sociedade de crédito ao microempreendedor SCI Sociedade de crédito imobiliário SCR Sistema de Informações de Crédito do BCB Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 61 Selic Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SFN Sistema Financeiro Nacional SGS Sistema Gerenciador de Séries Temporais Sitraf Sistema de transferência de fundos Siloc Sistema de Liquidação Diferida das transferências interbancárias de ordens de crédito SPB Sistema de Pagamentos Brasileiro STR Sistema de Transferência de Reservas Sumef Subcomitê de Monitoramento da Estabilidade do SFN Susep Superintendência de Seguros Privados TPF Título público federal VAR Vetor autorregressivo VIX Chicago Board Options Volatility Index Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 62 Anexo Conceitos e metodologias a) Ativos líquidos – Recursos líquidos disponíveis para cada conglomerado/instituição honrar seu fluxo de caixa estressado dos próximos trinta dias. Os ativos líquidos são o somatório dos ativos de alta liquidez, compulsório liberado e recursos suplementares. i. Ativos de alta liquidez – Incluem títulos públicos federais (TPFs), excedente de garantias em bolsas, ações Ibovespa, cotas de fundos de investimento, folga de caixa e margem de compulsório. a. TPFs em poder da instituição compreendem o montante em poder da instituição nas posições livre ou recebido como lastro de operações compromissadas (posição doadora/bancada) e o montante excedente do valor depositado em garantia nas câmaras de negociação (somente se TPF). b. Valor presente do estoque de ações que fazem parte do Ibovespa. c. Valor presente de cotas dos fundos de investimento regulados pela Instrução Normativa CVM nº 409. d. Folga de caixa compreende a diferença entre o saldo da conta caixa e o encaixe mínimo obrigatório. ii. Compulsório liberado – Montante de depósito compulsório que será retornado à instituição em decorrência da saída de depósitos estimada no fluxo de caixa estressado. iii. Recursos suplementares – Outras opções para realização de caixa no horizonte do cenário. a. Títulos privados – Certificado de depósito bancário (CDB), recibo de depósito bancário (RDB), depósito interfinanceiro (DI), posições ativas em estratégias de box, posições doadoras em operações compromissadas lastreadas em títulos privados, depósito a prazo com garantia especial do FGC (DPGE) (após o prazo de carência para resgate antecipado) com vencimento superior ao horizonte de trinta dias. b. Cotas de fundos menos líquidas – Cotas seniores de fundos de investimentos em direitos creditórios ou de investimento em cotas desses fundos, regidos pela Instrução CVM nº 356. c. Potencial para cessão de créditos – Montante de recursos a serem obtidos por meio de cessão da carteira de créditos, estimada com base nos critérios passíveis de serem adquiridos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 63 d. Disponibilidades no exterior. b) Captações estáveis – Pela perspectiva do aplicador (principal), considera as captações por depósitos, títulos e operações compromissadas que não sejam provenientes de “depositantes” institucionais, instituições financeiros e fundos de investimento; pela perspectiva secundária (do instrumento de captação), acrescenta o saldo de instrumentos reconhecidamente de longo prazo (maior que um ano) como obrigações por empréstimos no exterior, obrigações por repasses (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [BNDES]), obrigações por repasses (Agência Especial de Financiamento Industrial [Finame]), obrigações por repasses (outras instituições oficiais), repasses do exterior, dívidas subordinadas, outras dívidas subordinadas e instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD). Indicador modificado e adaptado do conceito do Financial Soundness Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). c) Comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN (CRTC) – Com a implementação da nova versão do Sistema de Informações de Crédito do Banco Central do Brasil (SCR2) em 2012, as instituições financeiras passaram a informar a renda de cada cliente pessoa física, de acordo com as oito faixas similares ao utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tais informações permitiram o desenvolvimento de uma metodologia de comprometimento de renda individualizada para cada tomador de crédito no SFN. O componente relativo ao numerador, que é o serviço da dívida mensal, corresponde aos valores informados ao SCR da carteira ativa a vencer em até trinta dias, exceção feita ao financiamento habitacional e às modalidades com caráter rotativo, estimados, respectivamente, pelo sistema de amortização constante e Price. Contempla todas as modalidades de crédito à pessoa física, exceto crédito rural, cartão de crédito à vista/parcelado lojista e aquelas cujas características tenham natureza de financiamento empresarial, apesar de contratadas com pessoas físicas. Para a renda, com exceção das faixas “até 1 salário mínimo (s.m)” e “acima de 20 s.m.”, é utilizado o ponto médio dos intervalos de s.m. de cada porte pessoa física informado ao SCR, descontada estimativa da contribuição previdenciária e do imposto de renda. Uma vez que as informações de renda podem divergir, quando provenientes de diferentes IF, adotou-se a moda como critério para definir a renda única de cada cliente. O CRTC individual é calculado pela divisão do serviço da dívida de cada cliente pela sua respectiva renda líquida estimada. Como a distribuição dos clientes é mais concentrada nas faixas mais baixas de CRTC, o conceito de mediana é utilizado para obter o CRTC do SFN e para cada faixa de renda. Realiza-se um tratamento de outliers para excluir CRTCs elevados em razão das limitações das informações disponíveis, pois há casos em que a renda considerada na concessão do crédito é a familiar, e não a individual, e, ainda, por não ser possível determinar a renda na faixa “acima de 20 s.m.”. Assim, são excluídos clientes com CRTC maior que o terceiro quartil adicionado de três vezes a distância entre o primeiro e o terceiro quartil. d) Fluxo de caixa estressado – Estimativa do montante de recursos de que as instituições necessitariam dispor no horizonte de trinta dias, sob o cenário de estresse. As análises consideram o perfil dos depósitos, as perspectivas de resgate antecipado, a análise do estresse de mercado, o fluxo contratado e demais ativos e obrigações. i. Perfil dos depósitos – Estima o valor necessário para cobrir a possibilidade de saque de clientes em depósitos, poupança, operações de box, títulos de emissão própria e operações compromissadas sem TPF. ii. Resgate antecipado – Estimativa do valor necessário para cobrir a possibilidade de solicitação de resgate antecipado das posições passivas efetuadas com as três maiores contrapartes de mercado. iii. Estresse de mercado – Cenário de crise – Estima o valor necessário para cobrir perdas decorrentes do impacto de oscilações de mercado (todos os fatores de risco considerados para cálculo de capital) nas posições de ativos líquidos ou naquelas que podem gerar saída de recursos da instituição. As perdas compreendem: a. chamadas adicionais de margem de garantias depositadas em câmaras; Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 64 b. desembolsos em posições de mercados derivativos em virtude de pagamentos de ajustes ou liquidação de contratos vincendos no horizonte do cenário de estresse; c. perda de valor de ativos líquidos; iv. Fluxo contratado – Vencimentos e ajustes de posições em derivativos e posições ativas e passivas com agentes de mercado, com vencimento dentro do horizonte do cenário. v. Demais passivos e obrigações – Resgate de outras posições passivas e obrigações não monitoradas diariamente, compreendendo captações no exterior, outros passíveis exigíveis, linhas de crédito concedidas e não utilizadas, créditos concedidos a liberar, acordos de compra de créditos e outros compromissos. e) Índice de Basileia – Conceito internacional definido pelo Comitê de Basileia que recomenda a relação mínima de 8% entre o PR e o RWA. No Brasil, até setembro de 2013, a relação mínima exigida era dada pelo fator “F”, de acordo com a Resolução nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, do CMN, e com a Circular nº 3.360, de 12 de setembro de 2007, do BCB. Devia-se observar o valor de 11% para instituições financeiras e para as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, exceto para as cooperativas de crédito singulares não filiadas a cooperativas centrais de crédito. A partir de outubro de 2013, a relação mínima exigida passou a ser dada pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, que define um calendário de convergência, o qual especifica a exigência de 11% do RWA de outubro de 2013 a dezembro de 2015; 9,875% em 2016; 9,25% em 2017; 8,625% em 2018; e 8% a partir de 2019. A esse requerimento soma-se o adicional de capital principal, conforme mencionado no Índice de Capital Principal. f) Índice de Capital de nível I (IPR1) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi criado um requerimento mínimo para o capital nível I a partir de outubro de 2013, correspondendo a 5,5% do RWA, de outubro de 2013 a dezembro de 2014, e a 6% a partir de janeiro de 2015. A esse requerimento soma-se o adicional de capital principal, conforme mencionado no Índice de Capital Principal. g) Índice de Capital Principal (ICP) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 1º de março de 2013, foi criado um requerimento mínimo para o capital principal a partir de outubro de 2013, correspondendo a 4,5% dos ativos ponderados pelo risco (RWA). Além desse requerimento, foi criado o adicional de capital principal, com requerimentos entre: 0,625% e 1,25% de janeiro de 2016 a dezembro de 2016; 1,25% e 2,5% de janeiro de 2017 a dezembro de 2017; 1,875% e 3,75% de janeiro de 2018 a dezembro de 2018; e entre 2,5% e 5% a partir de janeiro de 2019. Conceitos e metodologias – Estresse de capital Os testes de estresse de capital são utilizados para estimar as potenciais perdas e a nova exigência de capital das instituições financeiras causadas por grandes oscilações nas taxas de juros e de câmbio (risco de mercado) e pelo aumento do risco de crédito. Podem ser aplicados choques individualmente para cada fator de risco ou simultaneamente para vários fatores de risco. Para cada cenário de estresse, são calculados os novos índices de exigência de capital: IB, IPR1 e ICP. Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a qualquer um dos três índices de exigência de capital Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 65 e insolvente no caso de perda total do capital principal. É avaliada a relevância das instituições que ficariam desenquadradas e/ou tecnicamente insolventes, e o capital adicional necessário para que nenhum banco viesse a desenquadrar-se é calculado. A relevância é apurada a partir da representatividade do ativo total ajustado (ATA) da instituição em relação ao universo analisado. O método assume como premissa que o lucro/prejuízo é o impacto resultante do choque aplicado sobre o fator de risco, que incide diretamente sobre o capital da instituição. Além disso, os efeitos positivos dos possíveis acionamentos dos gatilhos de nível II e de capital complementar, em que os valores são convertidos em capital principal, são considerados como receita. Finalmente, são consideradas as potenciais alterações de constituição e de uso de crédito tributário e suas implicações na apuração do requerimento de capital (RWA), de acordo com a Resolução nº 4.192 do CMN, de 1º de março de 2013, e alterações posteriores. Estresse para risco de mercado – Análise de sensibilidade As exposições sujeitas à variação de taxas de juros (taxas de juros prefixadas e taxas dos cupons de moedas estrangeiras, índices de preços e taxa de juros) classificadas na carteira de negociação são estressadas. As posições por vértices (de 21 dias úteis a 2.520 dias úteis) são recalculadas após a aplicação de choques, e o impacto financeiro sobre o patrimônio é avaliado. Além do impacto sobre o patrimônio, as posições estressadas classificadas na carteira de negociação originam novas parcelas de requerimento de capital para risco de taxas de juros (RWAJUR1, RWAJUR2, RWAJUR3, RWAJUR4). No caso das taxas prefixadas (RWAJUR1), a cada curva de juros gerada por um choque, novos parâmetros regulamentares de exigência de capital são calculados. As exposições em ouro, em moeda estrangeira e em ativos e passivos sujeitos à variação cambial são estressadas, e o impacto financeiro sobre o patrimônio e a nova parcela de requerimento de capital (RWACAM) provocados pelas oscilações das taxas de câmbio são recalculados. Assume-se que todas as exposições sujeitas à variação cambial seguem as oscilações percentuais ocorridas para o cenário de estresse do dólar americano. Os choques alteram, individualmente, as taxas de juros e de câmbio em degraus de 10%, variando-as para baixo até 10% e para cima até 200% da taxa original. Após os impactos, são calculados novos índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e de solvência das instituições. Estresse para risco de crédito 1) Análise de sensibilidade – Aumentos na inadimplência média Essa análise busca medir o efeito do aumento da inadimplência (créditos em atraso superior a noventa dias em relação à carteira de crédito total) sobre o PR e o PRE das instituições. Em incrementos percentuais, a inadimplência é elevada a até 350% de seu valor original. No caso de a provisão contabilizada ser insuficiente para cobrir a inadimplência estressada, o PR e o RWACPAD sofrerão impactos decorrentes do aumento da provisão. Após esses impactos, são calculados os novos índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições. 2) Análise de sensibilidade – Redução de preços de imóveis residenciais O objetivo da análise é estimar os impactos de quedas nos preços de imóveis residenciais sobre o patrimônio das instituições financeiras que possuem carteiras de financiamento habitacional às pessoas físicas. Para isso, considera-se que os preços dos imóveis são atualizados, antes das simulações, pelo Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R). Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 66 Aplicam-se choques adversos nos preços, simulando uma sequência de quedas em degraus de 5 p.p.; Para cada queda, consideram-se como inadimplentes os financiamentos em que o valor do imóvel dado em garantia seja inferior a 90% do saldo devedor. Estima-se que a perda em cada financiamento inadimplente é igual à diferença entre o saldo devedor e o valor presente do montante recuperado com a venda do imóvel em leilão. Para se apurar o montante recuperado, tomase os preços dos imóveis residenciais após a aplicação dos choques, descontando-se os impostos, as despesas de manutenção e as relacionadas ao leilão. Adicionalmente, considera-se que a venda em leilão somente ocorrerá mediante aplicação de deságio proporcional à queda de preço provocada pelo choque aplicado. O valor presente desse montante é obtido descontando-o pela taxa de juro futuro de um ano negociada na BM&FBovespa.. Os novos índices de capital regulatório de cada instituição são calculados, considerando as perdas estimadas associadas a cada degrau de queda de preços dos imóveis. 3) Análise de cenário 3.1) Construção de cenários São projetados quatros cenários macroeconômicos para os seis trimestres seguintes em relação à data de referência com base em informações do mercado, em um modelo de vetor autorregressivo (VAR) ou na repetição de variações históricas. As variáveis endógenas do VAR são a atividade econômica (média trimestral do Índice de Atividade Econômica do Banco Central [IBC-Br]), a taxa de câmbio do dólar americano (média trimestral da paridade real versus dólar), a taxa de juros (média trimestral da Selic) e a inflação (Índice de Preços ao Consumidor Amplo [IPCA] acumulado em doze meses). São variáveis exógenas: o prêmio de risco Brasil (média trimestral do spread EMBI+Br calculado pelo J.P. Morgan Chase) e os juros americanos de dez anos (média trimestral do yield das Treasuries com vencimento para dez anos). O desemprego é tratado como uma variável externa ao modelo VAR (média trimestral). O cenário-base é construído a partir da mediana das expectativas do mercado (Focus) para as seguintes variáveis componentes do VAR: atividade econômica, juros, taxa de câmbio e inflação. A correlação entre o Produto Interno Bruto (PIB) (expectativa Focus) e o IBC-Br (VAR) é considerada igual a 1. O prêmio de risco Brasil é considerado constante durante os seis trimestres de projeção. Já os juros americanos de dez anos assumem trajetórias de acordo com o cenário baseline desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System em seu relatório “2014 Supervisory Scenarios for Annual Stress Tests Required under the Dodd-Frank Act Stress Testing Rules and the Capital Plan Rule”1. O cenário VAR estressado assume a pior inadimplência obtida a partir de quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. Em cada uma dessas projeções, considera-se individualmente a trajetória da previsão de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) a um nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa: atividade econômica mais baixa e câmbio, juros e inflação mais altos). As demais variáveis são estimadas pelas funções impulso-resposta, que contêm as relações de dependências entre elas, com o objetivo de manter a consistência de cada projeção. O cenário de quebra estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) a um nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa, de maneira análoga a apresentada acima). O intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis. 1/ Vide <http://www.federalreserve.gov/bankinforeg/bcreg20131101a1.pdf>. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 67 O cenário histórico simula a repetição do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 1998. Cada uma dessas janelas de cenário é inserida no painel dinâmico para previsão da inadimplência seis trimestres à frente. O cenário histórico refere-se à previsão que resulta na pior inadimplência projetada dentro desse conjunto de projeções. Os cenários VAR estressado e quebra estrutural assumem trajetórias para a yield das Treasuries de dez anos de acordo com o cenário adverso desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve2. A trajetória do EMBI+Br é projetada simulando a repetição da maior variação histórica ocorrida, enquanto para o desemprego assume-se uma trajetória de aumento linear de dois desvios padrões, da série iniciada em setembro de 1994, em relação ao valor da data base. 3.2) Projeção do crédito e da inadimplência Os cenários macroeconômicos gerados são utilizados como entrada nos modelos de painel dinâmico para previsão do crédito e da inadimplência de cada instituição financeira. As carteiras de crédito com as respectivas inadimplências foram segmentadas em: 1) crédito para pessoa física, excluindo o crédito imobiliário; 2) crédito para pessoa jurídica; e 3) crédito imobiliário para pessoa física. Para cada segmento de carteira, são estimados painéis para o crescimento do crédito e outro para a inadimplência, totalizando seis painéis. Para os painéis de crescimento do crédito, o modelo tem como variável dependente a diferença entre o crescimento do crédito e a tendência do crescimento do crédito calculado pelo filtro Hodrick-Prescott com parâmetro lambda igual a 1.600. As variáveis exógenas incluem a variável dependente defasada, variáveis macroeconômicas (e as respectivas defasagens) e variáveis de controle (e.g. público vs. privado). O crescimento do crédito é controlado pela disponibilidade de capital existente. Nesse sentido, o crescimento do crédito de cada instituição financeira (ex ante os impactos de ajuste de provisão dada a nova inadimplência) fica limitado a montantes que não impliquem índices de capitais (IB, IPR1 e ICP) em desacordo com os limites regulamentares. Para os painéis da inadimplência, a variável dependente é a taxa de inadimplência do segmento transformada por uma função logística. As variáveis exógenas incluem a variável dependente defasada, variáveis macroeconômicas (assim como as respectivas defasagens) e variáveis de controle (e.g. público vs. privado). O crescimento do crédito do segmento e suas respectivas defasagens são considerados como variáveis predeterminadas. 3.3) Mensuração dos impactos Para cada cenário e para cada instituição financeira, ao longo dos seis trimestres seguintes, caso a provisão constituída seja insuficiente para cobrir a inadimplência projetada, o capital é impactado pela nova necessidade de provisão. Em decorrência da evolução da carteira de crédito projetada, a nova parcela de requerimento de capital (RWACPAD) é calculada. Assim, são estimados novos índices de exigência de capital para as instituições financeiras e o sistema. 2/ Vide <http://www.federalreserve.gov/bankinforeg/bcreg20131101a1.pdf>. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 68