JC Relations - Jewish

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Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Staikos, Michael | 01.02.2005
O relacionamento da Igreja Ortodoxa ao Judaísmo1
Michael Staikos
Quando, na primavera de 2001, esta palestra foi combinada, não sabíamos o que, alguns meses
depois, viria à humanidade e quão necessário iria ser o diálogo religioso. Será sempre importante
que consideremos a situação concreta da vida, e isso também com todos os dados sócio-culturais e
políticos nos respectivos países e estados. Nesse sentido, queria falar hoje sobre o relacionamento
da Igreja Ortodoxa ao Judaísmo - sob certo respeito da situação concreta na Áustria. Sabemos que
na Áustria não vivem somente pertencentes às Igrejas cristãs, embora esse país seja, na sua
maioria, cristão e majoritariamente católico, mas também pertencentes a outras confissões, p. ex.
cristãos ortodoxos que podem ter uma história de quase 300 anos, e pertencentes a outras religiões,
em que a comunidade de culto judaica e gravemente provada joga um papel grande.
Quando agora chegar ao assunto das minhas reflexões modestas e ao relacionamento da Igreja
greco-ortodoxa, a qual, na Áustria é chamada de greco-oriental, e da Ortodoxia em geral ao
Judaísmo, quererei falar, de um lado, sobre o papel do Judaísmo na vida litúrgica e na fé da minha
Igreja e, de outro, sobre o diálogo religioso entre a Ortodoxia e o Judaísmo.
1. O culto na Igreja Ortodoxa
Unidade dos dois Testamentos
Para a Igreja Ortodoxa, a sagrada Escritura é a fonte principal da fé. Na Sagrada Escritura, Deus
mesmo, pela Sua palavra, encontra a pessoa humana. Quando Deus de muitos modos falou antes da
encarnação de Cristo aos pais é evidente que, com isso também se entende a continuidade do falar
ou, formulado de outro modo, a continuidade da revelação de Deus. A unidade do Antigo e do Novo
Testamento está sendo tomada muito séria como conseqüência lógica nos Padres de Igreja. Atanásio
de Alexandria enfatiza, p. ex., com energia: Toda a nossa Escritura, … a antiga e a nova, está
inspirada por Deus e útil para o ensinamento"2. São Atanásio, porém, está ainda mais concreto e
determinado, quando exorta: "Se deve, porém, desaprovar aqueles que separarem a escritura antiga
e nova, porque não poderão louvar a Deus na Igreja, quando não tiverem as fontes de Israel, nem o
seu Senhor, porque também ousam a separar a Divindade."3 Se, então, a junção dos Testamentos
Antigo e Novo é importante para a mensagem cristã, isso significará, não a unidade de dois livros,
também não a unidade de duas épocas como um problema diacrônico, mas sim a continuidade e
unidade também das pessoas humanas que viveram nesses tempos e dos quais a Sagrada Escritura
fala, se bem que como de fases diferentes com sinais muitos e próprios da sua existência.
Havia, então também nesse tempo "pré-cristão" a possibilidade de revelação de Deus e do
conhecimento de Deus, e isso não somente como coisa de teoria de conhecimento, mas sim como
pressuposição da salvação, logo no sentido soteriológico.
Por essa razão, temos, na Igreja Ortodoxa, muitos dias de festa também para santos do tempo
antigotestamentário sem qualquer discriminação qualitativa na hagiologia ou veneração de santos.
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Estão sendo até apresentados como exemplos para os cristãos.4 Na liturgia de Crisóstomo está
sendo manifestado, no centro da celebração da Eucaristia, exatamente essa comunhão salvadora
sem quaisquer marcos de discriminação, quando diz: "Ainda oferecemos esse serviço espiritual pelos
pais da humanidade, pais, patriarcas, profetas, apóstolos, anunciantes, evangelistas, mártires,
confessores, ascetas e por cada espírito reto, que cumpriu a sua vida na fé. Especialmente pela
nossa muito louvada Senhora Maria, pelo santo profeta, precursor e batista João, os santos apóstolos
… " Se trata, então, aqui de fato da pertença à mesma comunidade de fé numa forma contínua, se
bem em fases e categorias diferentes. A universalidade da salvação está sendo, por isso, expressa,
com o que a questão pela universalidade da salvação deve ser respondida positivamente.
Nesse sentido, devemos também entender a expressão no nosso credo, onde reza que cremos no
Espírito Santo, "que falou pelos profetas". O profeta não só fala antecipando sobre aquilo que será
realizado mais tarde, mas fala em nome de Deus sobre aquilo que acontece ou deve acontecer no
seu tempo. Portanto, os profetas eram os porta-vozes de Deus, respectivamente do Espírito Santo,
para a história da salvação também no seu tempo deles.
Qual importância a Sagrada Escritura, como fonte da revelação divina, ocupa na vida da Igreja
Ortodoxa, descreve um bispo romeno assim: "Na Igreja Ortodoxa, um significado múltiplo compete à
Bíblia: É a fonte principal da revelação e a palavra de Deus às pessoas humanas.
A Bíblia é o dom de Deus como sinal da Sua aliança, não só com cada um, mas sim com toda a
Igreja.
É dom do Espírito Santo, o qual inspirou os autores, preservando-os de qualquer confusão.
O culto ortodoxo é como uma árvore grande, cheia de galhos e frutas, mas se radica na semente da
Sagrada Escritura, sendo crescido sob o cuidado do Espírito Santo o qual inspirou os santos autores.
Os fiéis ouvem, na igreja, também os textos do Antigo Testamento com grande piedade; muitas
vezes se ajoelham ou ficam de pé em atenção devota. A leitura da Palavra de Deus pelos Profetas
forma uma parte importante do culto."6
A Igreja Ortodoxa usa o Antigo Testamento na sua tradução grega do texto hebraico, como essa foi
transmitida na assim chamada "Septuaginta" [Setenta], a qual, segundo a tradição, teria sido
confeccionada por 70 sábios no 3º século antes de Cristo na Alexandria, e a qual estava de uso
comum na Igreja antiga.
A base para as formas litúrgicas do culto ortodoxo é a oração dos salmos e a recitação de leituras
dos livros do Antigo Testamento. E, quando se fala da beleza e esplendor especiais do culto
ortodoxo, será isso devido também à magnificência da língua poética e inspirada por Deus do Antigo
Testamento, cuja atualidade permanente sentimos continuamente.
Tradições vivas - judaicas
A fé ortodoxa é fé bíblica, pois está pensada biblicamente a partir da criação até à salvação. E essa
fé bíblica se manifesta continuamente, seja no pôr os vestidos litúrgicos ou em muitas formas rituais,
as quais têm uma origem judaica, p. ex. no casamento, ou num lugar ortodoxo de culto, o qual,
como o Templo de Salomão, está dirigido também hoje, em regra, para o oriente, significando como
símbolo da esperança e da vida. Pela sua tripartição, o espaço eclesial ortodoxo preservou marcos
do Templo antigotestamentário. Também a designação grega para a casa de Deus ortodoxa (naós)
significa templo. Na porta régia aberta, se depara o candelabro de sete braços no altar, o qual, como
as figuras dos profetas na parede dos ícones, pertencem aos sinais e figuras simbólicos que atuam
para cá do Antigo Testamento. O olhar da ortodoxia, porém, não está voltado para trás, se bem que
não esqueceu, mas manteve em vida e doutrina que a Antiga Aliança é em cujo espaço e margem o
mandamento e aquelas promissões começaram a soar, os quais ambos se cumpriram em Cristo.
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Vou agora citar alguns versículos das orações dos ritos ortodoxos que têm idade entre 1000 e 1500
anos, para mostrar o valor de posição do Antigo Testamento na vida da Igreja Ortodoxa.
Assim se reza, p. ex., na consagração do óleo para o batismo: "Senhor, Deus dos nossos pais, que
enviaste àqueles que estavam na arca de Noé uma pomba, a qual tinha um ramo de oliveira no bico
como símbolo da reconciliação e salvação do dilúvio, pré-formando assim o mistério da graça; que
deste o fruto da oliveira para o cumprimento dos Teus santos mistérios, que, por através disso,
também aqueles que estavam sob a Lei encheste de Espírito Santo e aqueles que estão sob a graça
aperfeiçoas, abençoa Tu mesmo esse óleo …!"
E a oração de despedida do batismo reza: "Senhor, nosso Deus, …abençoa essa criança! E e a Tua
bênção desça na sua cabeça,e como, pelo profeta Samuel abençoaste o rei Davi, abençoa também a
cabeça do Teu servo, sobrevindo sobre ele pelo Teu espírito santo, para que aumente de idade e,
também na idade avançada, Te manda louvor para cima e veja a felicidade de Jerusalém todos os
dias da sua vida!"7
Na imposição das mãos na ordenação de bispo, reza-se pelo candidato o seguinte: "Senhor, nosso
Deus, corrobora o Teu servo, como ungiste os reis e consagraste os Sumos Sacerdotes …"8
Na solenidade do casamento rezamos o seguinte: "Senhor nosso Deus, acompanhaste o servo do
patriarca Abraão à Mesopotâmia, quando foi enviado para solicitar uma noiva para o seu senhor
Isaac, revelando-lhe pelo meio de tirar água a esposar Rebeca; abençoa Tu mesmo os esponsais dos
Teus servos e apóia a palavra que falaram! … Tu mesmo agora, Senhor nosso Deus, que mandaste
de cima a verdade à herança e a Tua promissão aos Teus servos, os nossos pais, Teus eleitos, de
geração em geração, abençoa e apóia os esponsais dos Teus servos! … . Com um anel foi dado ao
José o poder no Egito, com um anel Daniel foi honrado na terra da Babilônia, com um anel a verdade
foi revelada em Tamar, com um anel o nosso Pai celeste Se fez gracioso ao filho perdido … Esta Tua
direita protegeu Moisés no Mar Vermelho, pois pela Tua palavra de verdade os céus e a terra são
fundados …" Na grande oração de bênção do matrimônio reza entre outras coisas: "Senhor nosso
Deus, abençoa esses Teus servos, como abençoaste Abraão e Sara, Isaac e Rebeca, Jakob e todos os
patriarcas, José e Asenet, Moises e Séfora, Joaquim e Ana, Zacarias e Isabel … Protege-os, Senhor
nosso Deus, como protegeste Noé na arca, Jonas no ventre do monstro marítimo, os três jovens do
fogo, enviando-lhe orvalho do céu para baixo …" E antes de que o novo casal sair da igreja, será
proferida a bênção seguinte: "Seja louvado, noivo, como Abraão e abençoado como Isaac e te
aumenta como Jacó, andando na paz e observando retamente os mandamentos de Deus! E tu,
noiva, seja louvada como Sara e alegre com Rebeca e te aumenta como Raquel, alegrando-te no teu
homem observando os limites da lei; pois nisso Deus se alegra!"9
Tais e outros elementos do culto de aliança antigotestamentário, no qual YHVH aparece no Templo
renovando, numa festa de aliança, cada vez, ficaram até hoje eficientes na história da liturgia. Numa
espécie de tipologia antigotestamentária que significa, não uma realidade no sentido de
representação, mas sim um presságio e anúncio do acontecimento eucarístico, com gestos, ações e
citações, os quais são todos quase exclusivamente tirados do Antigo Testamento, está sendo
liturgicamente indicada a história de salvação no escondido, na confiança firme de que essa será
representada e revelada na liturgia divina seguinte. O culto ortodoxo, em cujo âmbito o cristão
ortodoxo evolui a sua vida mental espiritual é culto de teofania no Espírito Santo.
O mesmo Espírito Santo guia judeus e cristãos
Aqui queria ainda salientar algo cuja formulação que foi incluído no credo, no qual os Padres de
Igreja do Oriente decisivamente participaram, certamente não por acaso: O Espírito Santo é aquele
que falou pelos profetas, pelos profetas do Antigo Testamento. É, portanto, o mesmo Espírito Santo
que as duas épocas do Antigo e do Novo Testamento liga para a única grande história de salvação,
que faz do Antigo e do Novo Testamento uma única Escritura Sagrada. Rezamo-lo no nosso credo
cristão ecumênico único. O amor divino é mais forte que a fraqueza da pessoa humana.
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Na Carta aos Hebreus diz: "Muitas vezes e de muitos modos Deus outrora falou aos pais pelos
profetas" (Hb 1,1), o que pode propriamente ser entendido como lugar paralelo ao nosso credo, onde
se diz outra vez do Espírito Santo: "o qual falou pelos profetas". O mesmo Espírito Santo, então, é
aquele que, também neste tempo, quer guiar as pessoas do Antigo Testamento, o povo judaico, sem
discriminação das pessoas. Santo Atanásio salienta a isso: "Pois o mesmo Espírito está em todos e,
na medida da graça que lhe foi dada, ele serve à ela e a realiza, seja por profecia, seja por legislação
ou na lembrança do que aconteceu ou pela graça dos Salmos." Muitos profetas chegam a ser
mencionados para mediadores do fruto de conhecimento e da revelação do Espírito Santo.
Esses profetas são designados por Santo Atanásio como "boca" do Espírito Santo. Com textos do
Antigo e do Novo Testamento alicerça a sua convicção firme da ação do Espírito Santo naquele
tempo do Antigo Testamento, segundo o que os profetas, como os carismáticos de então, quiseram,
com exortações, advertências e profecias fogosas, quiseram mover o seu povo ao arrependimento e
mudança da mente (metánoia). Também São Basílio menciona a atuação do Espírito Santo nos
profetas em vários lugares. Ele está estimado como o próprio autor da pneumatologia, isto é da
doutrina do 2º Concílio Ecumênico sobre o Espírito Santo.
Mas se isso nos for cônscio, consideramos também as pessoas desses dois Testamentos, dessas
duas épocas, como equivalentes, como guiados e inspirados pelo mesmo Espírito Santo, se bem que
com cunho e intensidade diferentes! Também o próprio Jesus disse: "Não creiais que vim abolir a lei
e os profetas. Não vim os abolir, os remover, mas sim vim os completar, os cumprir" (Mt 5,17).
2. Diálogo das religiões
Consultações acadêmicas
Esse Espírito Santo, como creio, conduziu também à renovação teológica, especialmente a respeito
do relacionamento ao Judaísmo e ao povo judaico. Esse movimento alcançou, desde 1945, um
número considerável de Igrejas, entre elas também a grande família das Igrejas Ortodoxas. O
patriarcado de Constantinopla, com grande sabedoria e cuidado, cooperou, desde o começo, nesse
processo revolucionário do diálogo judaico ortodoxo como realidade ecumênica. Enquanto que a
Igreja mãe de todas as Igrejas ortodoxas autocéfalas e da diáspora grego-ortodoxa, o Patriarcado
Ecumênico, insistiu continuamente nesse processo, ela ganhou, pelo mundo inteiro, uma abertura e
credibilidade ecumênicas no diálogo inter-religioso.
Assim, se deve à Igreja de Constantinopla a tentativa de estimular de novo teologicamente o diálogo
judaico-cristão, que teologicamente estagnava em várias Igrejas. Isso levou, até agora, a três
consultações acadêmicas: 1977 em Lucerna, 1979 em Bucareste e 1993 em Atenas, onde, como o
assunto principal, foi escolhido o tratamento dialético duma questão que é de importância particular,
não só para cada um dos dois lados, mas também para os relacionamentos mais profundos das duas
religiões: "Continuidade e renovação". As exigências de "continuidade" como também de
"renovação" apontam, comparadas, muitos elementos comuns na experiência religiosa, embora, a
respeito do seu conteúdo como também a respeito da relação de Deus à pessoa humana e ao
mundo, se distingam essencialmente. Critérios para a interpretação da experiência religiosa são,
para o Judaísmo, a Lei (Toráh), e a vivência do Primeiro Testamento de Deus em Cristo que, na Igreja
cristã, está sendo experimentada como o cumprimento da Lei e dos Profetas do Antigo Testamento.
A publicação dos papéis de Atenas, o patriarca de Constantinopla a apresentou na sua visita em
Jerusalém na Comunidade Teológica Ecumênica de Pesquisa no maio de 1995. Quando o Patriarca
Ecumênico, depois do seu sermão notável, na qual encorajou para um aprofundamento do diálogo
judaico-cristão e da Ecumena em Jerusalém, a rogo dos organizadores judaicos, pôs todos os
presentes sob a sua bênção, era isso um momento que foi entendido de muitos como histórico e, de
mais pessoas ainda, como momento do Espírito Santo, como pode ser experimentado na Ecumena
plena.
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A declaração do Bósforo
Como mais uma ação nesse espírito queria aqui mencionar a iniciativa do Patriarca Ecumênica de
Constantinopla, Bartolomeu I, o qual convocou uma conferência inter-religiosa sobre paz e tolerância
em Istambul no ano de 1994, na qual cristãos - ortodoxos e católicos - judeus e moslins
participaram. Nessa consulta, despachou-se a "Declaração do Bósforo", a qual foi assinada pelo
Patriarca Ecumênico Bartolomeu, pelo presidente do Conselho Papal para Paz e Justiça e Cor Unum,
o cardeal Roger Etchegaray, e pelo presidente da Repartição Turca de Cultura, Nuri Yilmaz.
Logo no início dessa declaração, se afirma enfaticamente a constatação de que "um crime em nome
da religião é um crime contra a religião"10 -" Nós, os assinantes, recusamos qualquer tentativa de
corromper os princípios da nossa fé por interpretações falsas e por nacionalismo desenfreado. Nós
nos posamos determinadamente contra aqueles que violarem a santidade da vida humana e que
seguirem uma política que ludibria todos os valores morais. Recusamos a idéia que seja possível tais
ações, em qualquer conflito armado, justificar em nome de Deus."11
É importante salientar aqui o "nós". "Nós, os assinantes" é que significa a convicção comum e a
obrigação comum de cristãos, judeus e moslins, a qual será mais importante que a mera disposição
para diálogo.
Essa declaração do Bósforo representa uma primeira pedra importante de diálogo inter-religioso, e,
além disso, um modelo duma cooperação efetiva e clara para conflitos existentes e possíveis nos
países nos quais essas religiões existirem.
Tomadas de posição ecumênicas: Unidade da humanidade
Com esse espírito inter-religioso e essa atitude, a Igreja Ortodoxa contribui também nos diálogos
teológicos bilaterais com outras Igrejas cristãs. Em novembro de 1079, o papa João Paulo II visitou o
Patriarca Ecumênico Dimítrio I em Constantinopla. O patriarca Dimítrio disse na sua alocução de
saudação, entre outras coisas, verbalmente: "E àqueles dos não-cristãos, os quais se tiverem
perguntado o que significa a unidade cristã para eles, poderemos responder que a unidade cristã
aspirada não se dirige contra ninguém, mas sim que, antes, representa uma oferta positiva e aquela
diaconia para todas as pessoas humanas, independente do sexo, independente da raça,
independente da religião, independente da camada social, segundo o princípio cristão fundamental
de que não há diferença entre judeus e cristãos, entre escravos e livres, entre homem e mulher (Gl
3,28)."12
A manifestação de tais concepções ortodoxas as quais, graças a Deus, hoje acontecem não só na
ortodoxia, é muito clara nas atividades comuns de organizações ecumênicas, p. ex. da conferencia
das Igrejas européias. Assim a primeira Reunião Ecumênica Européia em Basiléia em maio de 1989
frisa na sua mensagem com ênfase entre outras coisas: "Cada pessoa humana, independente de
sexo, raça, nação e língua, carrega a imagem de Deus em si sendo, portanto, membro de direitos
iguais da sociedade."13 Esse texto tem o seu fundamento num documento de todas as Igrejas
ortodoxas do ano de 1986, no qual se salienta explicitamente que cada pessoa humana
"independente de cor, religião, raça, nacionalidade e língua carrega em si a imagem de Deus, o
nosso irmão ou a nossa irmã e membro de diretos iguais da família humana"14
A concepção fundamental sobre a necessidade do diálogo inter-religioso foi, então, também
expressa, de modo impressionante, em Graz (Áustria) em junho de 1997, na Segunda Reunião
Ecumênica Européia, na qual os cristãos ortodoxos de toda a Europa jogaram um papel decisivo, ao
recomendar o diálogo com as religiões e culturas, a proteção da liberdade religiosa e direitos
humanos e a determinação de um dia, o qual seja dedicado ao diálogo com o Judaísmo e o encontro
com a fé viva judaica. Motivação: O encontro entre pessoas humanas não se dá somente no nível
intelectual, ele precisa de dimensão simbólica, para ser profundo e capaz. Na mensagem final de
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Graz, se recomenda "A continuação de diálogos inter-religiosos sérios, cientes que, mesmo na
Europa, pessoas individuais e Igrejas estão sofrendo, ainda, por causa da sua fé."15
17 de janeiro - Dia do Judaísmo: Contribuição para a dignidade humana
Também a Carta Ecumênica de 22 de abril de 2001, a qual contém guias essenciais para a
cooperação crescente entre a Igrejas na Europa, constata que "uma comunhão sem par nos liga ao
povo de Israel". As Igrejas se obrigam "a se opor a todas as formas de anti-semitismo e antijudaismo em Igreja e sociedade; a intensificar o diálogo com os nossos irmãos e irmãs judaicos em
todos os níveis"16.
Nesse sentido, a declaração do Conselho Ecumênico das Igrejas na Áustria ao Dia dos Cristãos de
1999 diz: "Oramos que a reconciliação também determine o relacionamento entre judeus e cristãos,
e que todas as Igrejas percebam que o caminho da salvação do Primeiro Testamento continua
válido, rompendo, assim, com todas as formas seculares do ódio aos judeus."
Os 14 membros do Conselho Ecumênico das Igrejas na Áustria determinaram ainda para o "Dia do
Judaísmo" em 17 de janeiro outras coisas. Um encontro cristão-judaico na sinagoga de Viena já teve
lugar e aos pontos culminantes da minha presidência do Conselho Ecumênico na Áustria pertence a
vista oficial do rabino-chefe Eisenberg na reunião plenária dessa organização e, com isso, a
ampliação sinalizada, respectivamente intensificação do diálogo cristão-judaico na Áustria.
Na atitude oficial do Patriarcado Ecumênico e da Igreja Ortodoxa a respeito do Judaísmo, a qual está
sendo criticada por fanáticos - que há em todos os lados - e nessa atitude ortodoxa, a qual é
também uma atitude ecumênica cristã na Europa inteira, jaz a base para todos os direitos humanos,
a consideração e o respeito mútuos do humano como pessoa humana em dignidade indivisa:
Direitos humanos sem dignidade humana não são possíveis. Portanto, o desprezo e desdém da
pessoa humana e da sua dignidade são degraus básicos para a violação dos direitos humanos. Isso
vale para pessoas humanas individuais, mas também para grupos inteiros, até para povos inteiros.
Isso vale para cada minoria, seja ela, étnica, lingüista ou religiosa. "Uma minoria … deve ser
respeitada na sua diferença. A liberdade da pessoa humana está ligada inseparavelmente com a
liberdade da comunidade à qual pertence. Cada comunidade se precisa poder desdobrar na medida
das suas propriedades características. Um tal pluralismo deveria propriamente determinar a vida de
todos os países. A unidade duma nação, dum país ou dum estado deveria, portanto, incluir o direito
da diversidade da sociedade humana."17
Solidariedade em tempos de perseguição
Quando se considerar o Judaísmo dessa perspectiva teológica ortodoxa, a qual é a única posição
oficial e legítima da ortodoxia a respeito do Judaísmo, não se precisa enquadrar os textos eclesiais
da Semana Santa, os quais usam uma linguagem muito dura e crítica contra o povo dos judeus, no
sentido do anti-semitismo habitual. Nesse caso, a Igreja Ortodoxa não se dirige contra o povo de
Israel, e a palavra expressa poeticamente dura não é de modo nenhum um prado de processo antisemítico, mas sim é erupção da decepção contra pessoas concretas dum tempo concreto por não
terem visto o cumprimento do tempo e por não terem reconhecido os sinais do tempo. Qualquer
outra atitude ou interpretação é para ser condenada, porque não corresponde ao espírito positivo da
Igreja Ortodoxa a respeito do Judaísmo, sendo o resultado triste de circunstâncias externas, quer
dizer políticas, econômicas e outras.
Assim, p. ex., a Igreja Ortodoxa da Grécia e na diáspora ortodoxa, não denunciou os judeus durante
a Segunda Guerra Mundial, mas os tentou a salvar com todos os meios. O historiador e autor
Albertos Nar, cuja área de interesse, antes de tudo, jaz na história e costumes da comunidade
judaica de Tessalonica, escreve a isso: "Em 15 de março de 1943, o primeiro trem foi embora em
direção aos campos de extermínio de Auschwitz e Birkenau. Em apenas poucas semanas, os judeus
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foram levados de Tessalonica aos lugares da sua destruição. Nesse lugar deve ser salientado o
altruísmo dos nossos irmãos e irmãs não-judaicos, os quais, arriscando a própria vida, deram a
muitos judeus um lugar de refúgio. Antes de todos, o clero, o grupo de resistência nacional e as
forças de segurança tentavam ajudar. Havia uma carta oficial do arcebispo, a qual assinaram 29
presidentes de outras organizações, entre eles os presidentes da academia, das universidades e das
câmaras. O documento salientou a ligação inseparável de judeus greco-ortodoxos e judeus gregos.
Em nenhum lugar na Europa ocupada houvera ação semelhante."18 Essa atitude foi várias vezes, e
ultimamente no ano de 2000, reconhecida pela comunidade israelita de culto na Grécia e no Estado
de Israel oficial e solenemente.
Naturalmente, estou também completamente cônscio de que não é fácil superar os muitos
problemas existentes, problemas, que são ligados com o mistério e da revelação da fé e não devem
ser de modo nenhum considerados como atitude anti-semita ou anticristã. Mas não devemos deixar
que seja trancado o caminho uns aos outros por esses problemas. Isso, portanto, significa diálogo,
no entanto, sem negação ou relativização da identidade própria.
Nenhuma alternativa ao diálogo
Tentei - pela primeira vez em Viena - expor brevemente o relacionamento da Ortodoxia ao Judaísmo
a partir da perspectiva da vida litúrgica, da eclesial e da religiosa, apontando para os resultados
positivos do diálogo inter-religioso. Embora se considerem muitas coisas judaicas como puramente
cristãs: o fato que existe e permanece é que a fé cristã e, com isso, também a ortodoxa, tem raízes
judaicas, as quais, para a ortodoxia, pela qual posso falar nesta noite, são dons de Deus, pois cada
dom bom e perfeito vem de cima, do Pai da luz e da vida.
O Patriarca Ecumênico Bartolomeu, na sua mensagem à comissão do diálogo com o Judaísmo
sublinhou, entre outras coisas, também os pontos seguintes: "Essa origem comum de cristãos e
judeus parece hoje, mais que nunca, oferecer um chão favorável para sacudir as conseqüências da
inimizade mútua, construindo um novo relacionamento uns com os outros, um relacionamento
genuíno e autêntico, o qual nasça da disposição interna de entender uns aos outros e conhecer
melhor … Hoje todos que crêem em Deus, muito especialmente os membros da mesma família
espiritual, convidados a oferecerem juntos e em diálogo o testemunho rico das suas tradições, com a
procura urgente pelo encontro das soluções mais úteis para os problemas grandes e sérios, os quais
experimentamos juntos, e os quais surgiram da decadência dos valores morais e espirituais em geral
e especialmente da violação da dignidade da pessoa humana, dessa imagem única e irrepetível de
Deus."
Isso é também a minha convicção pessoal, a saber, que o diálogo, embora essa palavra tenha sido
abusada muitas vezes, não tem alternativa. O diálogo genuíno sempre poderá ajudar, e ainda mais
quando os relacionamentos dos parceiros ou dos oponentes entrarem em crises mais profundas.
Portanto, não estimo, quando algumas repetidas vezes ameaçam com o rompimento dos colóquios
ou do diálogo, quando a situação ou os relacionamentos chegarem a serem mais críticos. Quando o
diálogo for recusado, a coexistência das pessoas humanas estará seriamente posta em perigo, pois
ao lado do Holocausto horrível dos seres humanos, há também o Holocausto das idéias e do espírito,
o Holocausto dos valores. Isso é a minha concepção básica como cristão e bispo ortodoxo, essa é a
minha posição também como membro do Conselho Ecumênico das Igrejas na Áustria e, com isso,
responsável por parte da Ortodoxia para a Ecumena e o diálogo com o Judaísmo na Áustria.
Por todas essas razões e no sentido duma existência pacífica e humanamente digna de todas as
pessoas humanas, a Igreja Ortodoxa considera o diálogo com o Judaísmo como assunto grande, de
sentido e necessário, na margem da sua contribuição e da sua responsabilidade para a formação e
promoção da Ecumena para o bem da humanidade e da pessoa humana, a qual, como pessoa, é
imagem do mesmo original.
7/9
Quero finalizar com o poema dum poeta, que não conheço, e que, por acaso, encontrei numa revista
conservativa cunhada eclesialmente de literatura do ano de 1953. Está dedicado "Ao Judeu", isso é
aos judeus gregos, às vítimas do Holocausto gregas das Ilhas Iônicas de Corfu, Kefallinia, Zakinthos e
Ítaca:
Povo gravemente provado! Mudas são as harpas,
Que penduraste desde tempos imemoriais nos salgueiros.
Na profundeza da tua alma ouviste o Seu mandamento.
Nos gritos ouviste o Seu mandamento.
Pessoa humana como tu!
Esse Seu amor é o amor único.
O que quer dizer grego ou judeu?
Uma só é a língua de todas as pessoas humanas.
Uma é a fonte da qual bebem todos os povos
E matam a sua sede.
Um só é o sol: brilha e dá luz aos olhos,
Para que a escuridão eterna brilhe19
Literatura: Veja pelo fim do texto alemão.
Notas: Veja pelo fim do texto alemão.
Texto alemão
Tradução: Pedro von Werden SJ, Rua Padre Remeter, 108, Bairro Baú, 78008-150 Cuiabá-MT, BRASIL
- [email protected]
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