Introdução à Informação Quântica Amir O. Caldeira IFGW-UNICAMP Sumário da palestra • Introdução; a evolução histórica das áreas que geraram a Informação Quântica. • A Teoria Clássica da Informação. • A Mecânica Quântica. • A Informação Quântica. • Comentários finais. O desenvolvimento das diferentes áreas Física Quântica Teoria da Computação Computação Quântica Informação Quântica Teoria da Informação Criptografia A Mecânica Quântica • Na virada do século XX a Física Clássica não consegue explicar diversos fenômenos observados experimentalmente. • Hipóteses de Planck, Einstein, Bohr e de Broglie culminam com a criação de uma nova teoria na década de 20; A Mecânica Quântica • Um novo paradigma para as teorias físicas. • A dualidade partícula-onda e a formulação matricial; Schrödinger & Heisenberg. • A visão unificada de Dirac. • O que é o sistema físico? A ênfase na observação; a teoria da medida. von Neumann. A Teoria da Computação • Ábaco de areia inventado provavelmente na Babilônia em torno de 3000 a.C. • Matemático babilônio desenvolve algoritmos de cálculo numérico em torno de 1800 a.C. • Ábacos gregos e romanos em torno de 400 a.C. Desenvolvimento recente: • Na década de 30, Alan Turing desenvolve o conceito teórico de um computador programável; a máquina de Turing. “ Qualquer algoritmo pode ser eficientemente simulado em uma máquina de Turing” • Pouco tempo depois John von Neumann desenvolve o modelo teórico de como implementar a máquina de Turing • “ Hardware” só teria impulso no final dos anos 40 após o desenvolvimento do transistor por Bardeen, Brattain e Shockley; Prêmio Nobel de Física de 1956 A Teoria da Informação • Na década de 40 Claude Shannon desenvolve matematicamente o conceito de informação. Quantificação do armazenamento e transmissão de informação. Codificação da informação em canais com e sem ruído e códigos de correção de erros. Questões da teoria de informação • Que recursos ou meios são necessários para a transmissão de informação através de canais de comunicação? • Como esta informação pode ser protegida de influências externas (ruído) enquanto estiver sendo transmitida? Ambas respondidas pelos dois teoremas de codificação de Shannon Criptografia • Métodos de comunicação secreta foram desenvolvidos por inúmeras civilizações antigas na Mesopotâmia, Egito, Índia, China... • Os espartanos desenvolveram a CÍTALA em torno de 400 a.C. Desenvolvimento recente: • Durante a segunda grande guerra ocorrem avanços significativos na criptografia ; Alan Turing e a equipe de Bletchley Park na Inglaterra quebram os códigos cifrados da ENIGMA (máquina de cifrar usada pelos alemães) ; desenvolvimento do primeiro computador digital, o COLOSSUS ! • Em 1949, contribuição seminal de Shannon: "Communication theory of secrecy systems". Teoria clássica da informação • Envio de informação – letras, palavras, números – através de canais de comunicação que operam de acordo com as leis da física clássica. • Codificação da informação : sistema binário. • O sistema decimal 1120 = 1 x 103 + 1 x 102 + 2 x 101 + 0 x 100 21 = 2 x 101 + 1 x 100 • O sistema binário 21 = 16 + 4 + 1 = 1 x 24 + 0 x 23 + 1 x 22 + 0 x 21 + 1 x 20 10101; representação alternativa para os números Exemplo: Deseja-se enviar mensagens com as 23 letras do alfabeto e símbolos de pontuação . , : ; ! ? 30 elementos a cada elemento corresponde um número; 1,2,...30 30 = 1 x 24 + 1 x 23 + 1 x 22 + 1 x 21 + 0 x 20 = 11110 Precisa-se de 5 dígitos por elemento e cada um deles = 0 ou 1. Diferentes codificações maior eficiência na transmissão ou armazenamento. dígito 0 ou 1 é o chamado “ bit ’’ de informação • Por quê o sistema binário? Operacionalização: geração do bit Determinada característica é ativada 1 excitação Elemento Físico Não há ativação da característica em questão 0 Se usarmos uma composição de elementos físicos como o anterior 1 0 0 1 1 0 1 Esquema da transmissão de informação Emissor A Entrada Receptor B Canais de transmissão Realisticamente apresentam erros na comunicação dos bits Saída Codificação em canais sem ruído (Shannon I) Na codificação ótima uma mensagem de n símbolos de um alfabeto de d elementos, {a1,...ad}, requer nH ( p1 , p2 ,..., pn ) bits para ser transmitida confiavelmente, onde d H ( p1 , p2 ,..., pd ) = − ∑ p log p i i =1 é a Entropia de Shannon i Esquematicamente Entrada Codificador Descodificador Cn Dn Canal clássico sem ruído (compressão de dados) Saída Codificação em canais com ruído (Shannon II) A capacidade de um canal N , com ruído, é dada por C (N) = max H ( X : Y ) p( x) onde H (X :Y ) é a informação (entropia) mútua de X e Y H ( X : Y ) = H ( X ) + H (Y ) − H ( X , Y ) X é o conjunto de entrada e Y o de saída Esquematicamente Entrada X Codificador Descodificador Cn Dn Canal clássico com ruído (compressão de dados) Saída Y • os bits são os elementos básicos na teoria clássica da informação, mas o elemento físico tende a ser cada vez menor para o melhor desempenho no armazenamento, transmissão e processamento da informação miniaturização • tão pequenos que as leis da física clássica não mais se aplicam a eles bits de sistemas regidos pela física quântica “ qubit ’’ • Quem são e como se comportam ? Para responder questões como estas precisamos de alguns conceitos novos. A Mecânica Quântica • Um conjunto de postulados que descreve a evolução temporal e os resultados de observações de grandezas de um sistema físico. • Seus efeitos são fortemente evidenciados nas escalas molecular, atômica e sub-atômica. • Na escala macroscópica, aquela do nosso cotidiano, a física quântica reproduz os resultados e previsões da física clássica. • Miniaturização nos leva a bits de dimensões suficientemente pequenas para que a mecânica quântica entre em cena “ qubit ’’ • Os postulados 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. O estado físico e o espaço de Hilbert Os observáveis e os operadores hermitianos Auto valores e resultados da medida Probabilidades dos diferentes auto valores Redução do pacote de onda Operadores unitários e a evolução temporal Quantização canônica No nosso caso de interesse... • Espaço de Hilbert bidimensional Spin do elétron, polarização do fóton, sistemas de dois níveis em geral ; φ (1) = ↑ ou φ ( 0) =↓ base associada os valores 1 ou 0 do bit clássico. Auto estados do observável σ z ! 1 0 σz = 0 − 1 Mas, em Mecânica Quântica existe o... Princípio da superposição φ (+) = ↑ +↓ 2 ou φ (−) = ↑ −↓ que são os auto - estados do operador σ x 0 1 σx = 1 0 Em geral ψ = cos θ ↑ + sin θ ↓ Estado puro 2 N qubits : espaço de Hilbert é um produto direto Ξ1 ⊗ Ξ 2 ⊗ Ξ 3 ⊗ ... ⊗ Ξ N ψ = ψ 1 ⊗ ψ 2 ⊗ ... ⊗ ψ N = ψ 1 ,ψ 2 ,...,ψ N é um produto direto de estados puros Base do espaço φ{i , i ,...i 1 Exemplo 2 N} = φ ,φ ( i1 ) 1 ↑1 , ↑ 2 ,..., ↓ N ( i2 ) 2 ,..., φ ( iN ) N Forma genérica do estado 1 ψ = ∑c {i1 , i2 ,...i N } i1 , i2 ,...i N = 0 φ ,φ ( i1 ) 1 ( i2 ) 2 ,..., φ ( iN ) N que em geral não é um produto direto ! Emaranhados Exemplo em Ξ1 ⊗ Ξ 2 ψ = ↑1 , ↑ 2 + ↓1 , ↓ 2 2 Emaranhados de N qubits ψ = ↑1 , ↑ 2 ,..., ↑ N + ↓1 , ↓ 2 ,...,↓ N 2 Se N é macroscopicamente grande... O gato de Schrödinger Misturas estatísticas Membros de um ensemble descritos por ψ i e aos quais se atribui uma distribuição clássica de probabilidades {pi} ρ≡ ∑p ψ i i ψi i Se Ξ = Ξ1 ⊗ Ξ 2 teremos para o subsistema 1 ρ1 = tr2 ρ Quando o estado é puro ρ≡ψ ψ Misturas são importantes para se descrever o comportamento de sistemas não-isolados em Mecânica Quântica, em particular, a sua dinâmica. H = H s + H res + H in Sistema isolado Equação de Schrödinger para o estado puro Sistema não-isolado Equação de Liouville para a mistura Informação Quântica Novamente queremos atuar em vários elementos físicos. Agora os elementos são quânticos 0 ou 1 φ (1) = ↑ ou φ ( 0 ) = ↓ excitação Determinada característica é ativada φ (1) = ↑ Elemento Físico Stern-Gerlach Não há ativação da característica em questão φ (0) = ↓ Qubits podem ser preparados por inúmeros “magnetos” orientados para medir σ x ou σ z e, portanto, encarados como qubits não-ortogonais ↑ ? + ? ↑ ? ↓ ? − ? − ? ↑ ? Comunicação de dados quânticos A deseja enviar N qubits para B: sem medir!!! ↑ ↑ + + ↑ ↑ ↓ ↓ − − − − ↑ ↑ Fonte de informação quântica ψi com probabilidade Operador densidade ρ≡ pi ∑p ψ i i ψi i ψ i não necessariamente ortogonais Não podem ser medidos sem que sejam destruídos e não podem ser copiados (no – cloning ) Codificação em canais quânticos sem ruído (Schumacher) Na codificação ótima uma mensagem de n símbolos de um alfabeto de d elementos, {a1,...ad}, requer nS ( ρ ) qubits para ser transmitida confiavelmente, onde S ( ρ ) ≡ − tr ρ log ρ é a entropia de von Neumann Esquematicamente ρ n logd qubits Cn ρ′ nS ( ρ ) qubits Fidelidade no i – ésimo canal Dn ρ ′′ n logd qubits ψ i ψ i′ 2 Compressão de dados quânticos (Schumacher) ρ= 1 (↔ ↔ + ↔ ↔ ) 2 Fótons com polarização horizontal ≡ ↑ ou 1 Fótons com polarização a 45o ≡ + Teleportação Comunicação sem o envio dos qubits 1qubit A Par EPR 2 bits clássicos B 1qubit Base de Bell para o par EPR ψ (+) AB ψ (−) AB φ (+) AB φ (−) AB 1 (10 AB + 01 AB ) = 2 1 (10 AB − 01 AB ) = 2 1 (11 AB + 00 AB ) = 2 1 (11 = 2 AB − 00 AB ) Emaranhamento com C ψC φ ψC φ (+) AB (+) AB = (a 0 C + b 1 C ) 1 (11 2 AB + 00 AB ) 1 (+) 1 (+) = φ AC ψ B + ψ AC σ x ψ B + 2 2 1 (−) 1 (−) + ψ AC (−iσ y ) ψ B + φ AC σ z ψ B 2 2 A comunica classicamente (2 bits) a B o resultado de sua medida na base de Bell. B através de transformações unitárias obtém o estado original! Note que ao determinar a característica do composto (A+C) o objeto C desaparece! Objetos quânticos não podem ser copiados (no – cloning) Fax clássico Original Intacto X cópia Original destruido (2+3) objeto teletransportado (1) dados dados Gravação Teletransporte tratamento Gravação B A 3 2 Original matéria prima Original 1 EPR Codificação superdensa quântica 2 bits clássicos A Par EPR 1qubit B 2 bits clássicos Canais com ruído, decoerência e correção de erros • Descrição do ruído em mecânica quântica: acoplamento com um meio externo, o reservatório • Operador densidade representativo de uma mistura estatística = emaranhado (estado puro) do sistema composto • Dinâmica irreversível do sub-sistema de interesse (N – qubits ) = evolução unitária do sistema composto Esquematicamente Codificação em canais quânticos com ruído (Holevo – Schumecher – Westmoreland) A capacidade C (ϑ ) de um canal quântico , com ruído, é dada por C (ϑ ) = max S ϑ { p ,ρ } i onde ϑ i ∑ j p j ρ j − ∑ j p j S (ϑ (ρ j )) é uma operação quântica que preserva o traço Correção de erro Emaranhamento de um qubit com outros pode transportá-lo confiavelmente Uma das possíveis vantagens da transmissão por canais quânticos confirma A pergunta O(sqrt(N) logN) O(N) bits qubits B resposta Comentários gerais: • Vimos como o uso de emaranhados em apenas 1 canal pode trazer resultados surpreendentes à teoria de comunicação. • Importância grande em criptografia. Não – clonagem protege o envio de mensagens codificadas. • Processamento de informação lado a lado com o desenvolvimento da computação quântica. Uma preocupação...quebra de senhas. Avanço na implementação prática destes conceitos Manipulação individual de sistemas quânticos • íons em armadilhas lineares • fótons em cavidades ópticas • spins em pontos quânticos • fluxóides em dispositivos supercondutores • NMR em moléculas Comentários finais • Informação + Computação Quântica; maior eficiência no armazenamento, processamento e transmissão da informação paralelismo via emaranhamento. • Influência do meio em processadores e canais quânticos de comunicação decoerência efeitos quânticos rapidamente destruidos. Códigos quânticos de correção de erros. • Exploração de recursos de multi-canais quânticos ainda em desenvolvimento. • Mais aplicações ? • Problemas em aberto? • Implementação em escala industrial ? A área ainda está na sua infância e respostas a estas questões serão dadas nas próximas décadas !