PORTUGUÊS 1ª QUESTÃO Os tópicos a seguir tomam por base a letra de uma guarânia dos compositores sertanejos Goiá (Gerson Coutinho da Silva, 1935-1981) e Belmonte (Pascoal Zanetti Todarelli, 1937-1972). SAUDADE DE MINHA TERRA De que me adianta viver na cidade, Que saudade imensa, do campo e do mato, Se a felicidade não me acompanhar? Do manso regato que corta as campinas. Adeus, paulistinha do meu coração, Ia aos domingos passear de canoa Lá pro meu sertão eu quero voltar; Na linda lagoa de águas cristalinas; Ver a madrugada, quando a passarada, Que doces lembranças daquelas festanças, Fazendo alvorada, começa a cantar. Onde tinha danças e lindas meninas! Com satisfação, arreio o burrão, Eu vivo hoje em dia, sem ter alegria, Cortando o estradão, saio a galopar; O mundo judia, mas também ensina. E vou escutando o gado berrando, Estou contrariado, mas não derrotado, Sabiá cantando no jequitibá. Eu sou bem guiado pelas mãos divinas. Por Nossa Senhora, meu sertão querido, Pra minha mãezinha, já telegrafei, Vivo arrependido por ter te deixado. Que já me cansei de tanto sofrer. Nesta nova vida, aqui da cidade, Nesta madrugada, estarei de partida De tanta saudade eu tenho chorado; Pra terra querida que me viu nascer; Aqui tem alguém, diz que me quer bem, Já ouço sonhando o galo cantando, Mas não me convém, eu tenho pensado, O inhambu piando no escurecer, E fico com pena, mas esta morena A lua prateada, clareando a estrada, Não sabe o sistema em que fui criado. A relva molhada desde o anoitecer. Tô aqui cantando, de longe escutando, Eu preciso ir, pra ver tudo ali, Alguém está chorando com o rádio ligado. Foi lá que nasci, lá quero morrer. (Goiá em duas vozes – o compositor interpreta suas músicas. Discos Chororó. CD nº 10548, s/d.) a) Tendo em mente o fato de que é usual a retomada de um mesmo tema por artistas de épocas diferentes, explique o que há de comum entre a letra de Saudade de minha terra e a Canção do Exílio, do poeta romântico Gonçalves Dias, cujos primeiros versos são: Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá. / As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. b) “Tô aqui cantando, de longe escutando” No verso destacado, a variante popular “tô”, além de ter sido empregada para caracterizar o teor da música sertaneja, desempenha também um papel na métrica do verso, que não aceitaria a forma “estou”. Explique o motivo pelo qual o compositor não empregou “estou”. Resolução: a) A canção “Saudade de minha terra” estabelece intertextualidade com “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, quando este estava longe do Brasil, cursando a Faculdade de Direito em Coimbra, em Julho de 1843. No seu poema, os advérbios “cá” e “lá” posicionam o eu lírico espacialmente e ajudam a interpretar a sensação de “exílio”e o saudosismo pela pátria distante. Em “Saudade da minha terra”, o eu lírico expressa as saudades do sertão (“Adeus, paulistinha do meu coração,/Lá pro meu sertão eu quero voltar;/Ver a madrugada, quando a passarada,/Fazendo alvorada, começa a cantar”) e decide renunciar à vida na cidade e aos afetos que criara durante esse período de tempo, mas que não o satisfaziam completamente: “Nesta nova vida, aqui da cidade,/De tanta saudade eu tenho chorado;Aqui tem alguém, diz que me quer bem,/Mas não me convém, eu tenho pensado”. b) O verso “Tô aqui cantando, de longe escutando” apresenta 11 sílabas métricas, como todos os outros do poema. Se o poeta usasse o termo “estou”, o verso ficaria com 12 sílabas, interferindo na composição métrica regular com que foi estruturado. Se fizer a escansão do verso original e o do verso com o termo “Tô”, pode observar-se que este último ficaria com 12 sílabas: Tô- a-qui-can-tan-do-de-lon-gees-cu-tan-(do): 11 sílabas Es-tou- a-qui- can-tan-do- de- lon-gees-cu-tan-(do): 12 sílabas 2ª QUESTÃO Leia com bastante atenção o texto abaixo. “Você entra no bate-papo, conversa, troca e-mail, faz amizade. Passa horas navegando com um bando de estranhos. E nunca sabe ao certo com quem está falando. O anonimato pode ser uma das vantagens da rede, mas também uma armadilha. Para tentar evitar possíveis decepções na hora da verdade, a Internet vai sofisticando recursos, unindo psicologia, tecnologia e diversão e tentando 1 melhorar o que podemos chamar de relacionamento em rede. As novidades são boas para quem aposta no virtual como alternativa na hora de conhecer novas pessoas e para quem não quer levar para a vida real um gato no lugar de uma lebre, com o devido respeito aos bichinhos. (...)” (Viviane Zandonadi. Você sabe quem está falando? Folha de S. Paulo, Caderno Informática, 4/8/1999.) É possível afirmar que, com o advento da internet, muitas palavras mudaram seu valor semântico. Transcreva do texto duas palavras ou expressões que ganharam novos sentidos na área da informática. Teça um comentário a respeito de cada exemplo contrapondo os sentidos “velho” e “novo”. Resolução: O aluno poderia citar como resposta as palavras “navegando” e “rede”. O primeiro vocábulo era associado a “estar se deslocando na água” e o segundo, a “lugar em que se deita”. Agora, podem significar “estar conectado” e “ligação” respectivamente. 3ª QUESTÃO Leia o trecho abaixo, extraído de “Ai de ti, Copacabana!”, do escritor capixaba Rubem Braga, um dos maiores cronistas brasileiros, e, a seguir, responda ao que se pede. “9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão. 10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação. 11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência. 12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei. 13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia. 14. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.” BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, p. 99. a) Percebe-se claramente, em “Ai de ti, Copacabana!”, que o autor faz uso da segunda pessoa, tanto no singular quanto no plural. Que elementos caracterizam a segunda pessoa do singular? Qual é o seu referencial? Que elementos identificam a segunda pessoa do plural? A quem se refere o autor ao utilizar essa pessoa gramatical? b) Reescreva o trecho 12, mudando o tratamento de “vós” para “vocês”. Resolução: a) A segunda pessoa do singular utilizada pelo autor tem como referencial a expressão “Copacabana”, nome de um dos mais famosos bairros do Rio de Janeiro, e os elementos que caracterizam essa pessoa gramatical são o pronome pessoal “ti” e os pronomes possessivos “teus” e “tuas”. No que se refere ao uso da segunda pessoa do plural, as formas verbais “uivai”, “clamai” e “rebolai”, bem como o pronome pessoal “vos”, identificam essa pessoa gramatical. Ao lançar mão desses elementos, Rubem Braga se refere a “mancebos” e a “mocinhas”. b) O trecho 12, reescrito de modo a ter o pronome “vocês” como referencial de tratamento, fica assim: Uivem, mancebos, e clamem, mocinhas, e rebolem-se na cinza, porque já se cumpriram seus dias, e eu os quebrantarei. 4ª QUESTÃO Observe o trecho: “PACO - Eu digo mesmo. Não ponho a mão no fogo por ninguém. TONHO - Vida desgraçada. Tem que ser sempre assim. Cada um por si e se dane o resto. Ninguém ajuda ninguém. Se um sujeito está na merda, não encontra um camarada pra lhe dar uma colher de chá. E ainda 2 aparece uns miseráveis pra pisar na cabeça da gente. Depois, quando um cara desses se torna um sujeito estrepado, todo mundo acha ruim. Desgraça de vida! PACO - Poxa, mas é assim mesmo. Que é que você queria? Que alguém fosse se virar por você? Se quiser isso, está louco. Vai acabar batendo a cuca no poste. Poxa, você acha que eu é que vou andar dizendo por aí que você não é bicha? Quero que você se dane! Se não é Boneca do Negrão, vai lá e limpa sua barra. TONHO - É assim mesmo. (Pausa) Paco, uma vez na vida você podia fazer uma coisa decente. Podia ajudar um cara que está estrepado mesmo. PACO - Não dou arreglo. Mesmo que possa, não dou bandeja pra sacana nenhum. Nunca ninguém me deu nada.” MARCOS, Plínio. Dois Perdidos numa Noite Suja. São Paulo: Global, 2010 As personagens Tonho e Paco, do texto dramático Dois Perdidos numa Noite Suja, de Plínio Marcos, são desenvolvidas no ambiente da marginalidade social – ou seja, de acordo com as palavras do crítico R. Silveira, “são considerados indivíduos cuja ambição é tão nula quanto perene em suas vidas insignificantes, nas quais a fantasia e o desejo se fundem, mas se anulam e geram ainda mais marginalidade.”Nos romances Terra Sonâmbula, de Mia Couto, O Matador, de Patrícia Melo, e As Meninas, de Lygia F. Telles, encontram-se personagens com essas características. Escreva um texto crítico, de no máximo 10 (dez) linhas, no qual se discuta essa ideia. Resolução: 5ª QUESTÃO “(...) – Por falar em comer, é verdade que o senhor era vegetariano? – „...eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei à idade da razão e organizei meu código de princípios, incluí nele o vegetarianismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro.‟ – Que tal acha o nome da Capital de Minas? – „Eu, se fosse Minas, mudava-lhe a denominação. Belo Horizonte parece antes uma exclamação que um nome.‟ – E a respeito da ingratidão? – „Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.‟” BRAGA, Rubem. Entrevista com Machado de Assis. In: Ai de Ti, Copacabana. São Paulo: Record, 2010 A terra é azul vista do espaço O sol amarelo e queima como fogo. Marte é vermelho visto da terra, Mercúrio também. O corte aberto, em contato com o mar, Chega a queimar. será que marte tem mar? será que mercúrio tem cura? é vermelho e não arde, mas na verdade o que queima mesmo é merthiolate. SALOMÃO, Douglas. Zero. Vitória: Secretaria de Cultura, 2006 Nesses tempos, meus amigos, o Sol ainda girava em torno da Terra. Ela era moça e formosa e preferida de Deus. Ele ainda se não submetera à imobilidade augusta que lhe impôs mais tarde, entre amuados suspiros da Igreja, mestre Galileu, estendendo um dedo do fundo do seu pomar, rente aos muros do Convento de S. Mateus de Florença. E o Sol, amorosamente, corria em volta da Terra, como o noivo dos Cantares, que, nos lascivos dias da ilusão, sobre o outeiro de mirra, sem descanso e pulando mais levemente que os gamos de Galaad, circundava a Bem-Amada, a cobria com o fulgor dos seus olhos, coroado de sal-gema, a faiscar de fecunda impaciência. Ora desde essa alvorada do dia 28, segundo o cálculo majestático de Usserius, o Sol, muito novo, sem sardas, sem rugas, sem falhas na sua cabeleira flamante, envolvera a terra, durante oito horas, numa contínua e insaciada caricia de calor e de luz. QUEIROS, Eça de. Adão e Eva no Paraíso. In: Obra Completa. São Paulo: Nova Cultural, 1989 Segundo o Dicionário Caldas Aulete: (hu.mor) sm. 3 1. Estado de espírito, bom ou mal; DISPOSIÇÃO; TEMPERAMENTO: Ela às vezes está de bom/ mau humor 2. Espírito ou veia cômica, sua tendência e expressão; COMICIDADE; GRAÇA: O adorável humor do barão de Itararé [ antôn.: Antôn.: gravidade, seriedade. ] 3. Sensibilidade para perceber ou expressar o cômico: Só o humor atenua os males da política nacional. 4. Fisl. Qualquer substância líquida existente no corpo, como o sangue, a bile, a linfa [F.: 0 Do lat. humor,oris] De acordo com a definição acima, escreva um texto no qual se comprove a ideia humorística presente nos três excertos. Resolução: 4