tenho câncer. e agora?

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TENHO CÂNCER. E AGORA?
ENFRENTANDO O CÂNCER SEM MEDOS OU FANTASIAS
AUTORES
Vitoria Herzberg
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CÂNCER
Claudio Luiz S. Ferrari
MÉDICO HEMATOLOGISTA E ONCOLOGISTA
PUBLICITÁRIO
DIRETOR DE ATENDIMENTO DA PUBLICIS BRASIL
sumário
COORDENAÇÃO
Roberta Viganó
PROJETO GRÁFICO
Luciana Gianesi
REVISÃO
Eduardo Calil
TENHO CÂNCER. E AGORA?
Enfrentando o Câncer sem Medos ou Fantasias
Todos os direitos reservados para
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CÂNCER
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Associação Brasileira do Câncer
Prefácio
O que é câncer?
As causas do câncer
O diagnóstico
A escolha do oncologista
O câncer e as emoções
Conversando com as crianças
Tratamentos
Cirurgia oncológica
Quimioterapia
Radioterapia
Hormonioterapia
Imunoterapia
Transplante de medula óssea
Transfusões sanguíneas
Lidando com infecções
Terapias complementares
Terapias de suporte
Fadiga
Nutrição e câncer
Lidando com a dor
Depressão
Os direitos dos pacientes
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E-mail: [email protected]
Internet: www.abcancer.org.br
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associação brasileira do câncer
Missão
A Associação Brasileira do Câncer é uma Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), sem fins
lucrativos, inteiramente mantida por doações e patrocínios
corporativos.
Parceira da American Cancer Society, a entidade tem o
papel de educar a população a respeito da prevenção e detecção precoce do câncer, diminuir o sofrimento dos portadores
da doença, bem como de seus familiares, cuidadores, amigos
e profissionais de saúde e o de conscientizar os legisladores
sobre a importância de disponibilizar os melhores cuidados
no combate ao câncer.
www.abcancer.org.br
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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prefácio
Quando a palavra câncer não é suficiente para aterrorizar, a expectativa pelo seu tratamento se encarrega disso.
Toda a ansiedade que precedeu o diagnóstico é imediatamente substituída pelo peso da confirmação, com revolta e incerteza quanto ao futuro. Nesse momento, somente
bem informados os pacientes e seus familiares poderão
entender a situação nas suas reais dimensões.
O que a maioria das pessoas ignora é que já existem tratamentos para praticamente todas as doenças malignas e
que o câncer pode, em muitos casos, ser curado.
É verdade que parte desses tratamentos é traumática, exigindo, quase sempre, sacrifícios tanto do paciente como de
sua família. Mas seus benefícios tornam-se mais evidentes a
cada dia. E não há escolha. O câncer está aí e deve ser enfrentado. Com isso em mente, elaboramos o presente livro: um
guia informativo para o paciente com câncer e seus familiares.
Somente exorcizando seus “fantasmas”, o paciente estará
apto a administrar, de forma construtiva, sua nova realidade.
Oferecendo respostas às mais freqüentes dúvidas que
surgem durante os tratamentos, esperamos poder contribuir para tornar o caminho menos difícil.
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CLAUDIO FERRARI
VITORIA HERZBERG
TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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o que é câncer?
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A cada dia, tornam-se mais freqüentes os diagnósticos
de câncer. Na grande maioria dos países, essas doenças,
também chamadas malignas, já representam a segunda
maior causa determinante dos óbitos, ficando atrás apenas
das doenças cardiovasculares.
Mas não se trata de uma epidemia. Ocorre que o melhor controle sobre as demais doenças vem permitindo
uma vida mais longa, o que abre espaço para o desenvolvimento do câncer. Temos, hoje, mais de 200 doenças
agrupadas sob o nome de câncer. Todas elas resultando
do crescimento autônomo e desordenado de uma pequena parte do organismo. Entretanto, na prática médica,
cada uma delas é abordada de forma diferenciada e tratada de acordo com seu órgão de origem e, extensão no
organismo.
O termo câncer foi empregado pela primeira vez na
Grécia antiga. Observando-se que algumas feridas pareciam penetrar profundamente na pele, comparou-se esse
comportamento ao de um caranguejo (karkinos em grego,
câncer em latim) agarrado à superfície.
Apesar de reconhecidas há tanto tempo, somente com
a descoberta do microscópio o estudo das doenças malignas pôde evoluir. A partir da identificação da célula como
a unidade funcional dos organismos evoluídos, foi possível
compreender um pouco melhor o desenvolvimento das
doenças malignas.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
A célula
É a menor porção do nosso organismo capaz de criar
sua própria energia, crescer e se multiplicar. São estruturas
que medem milésimos de milímetros, isto é: mil vezes
menores que uma bolinha de gude.
Todos os órgãos do corpo são formados por células e
cada uma delas apresenta características adequadas à função que desempenha. Por exemplo, as células musculares
são alongadas, agrupam-se em feixes e têm a capacidade de
se encurtar. Essas particularidades permitem que o músculo se contraia quando estimulado, criando movimentos.
Já as células da pele são achatadas e dispostas em diversas camadas. Produzem grande quantidade de proteínas,
que formam um revestimento impermeável, constituindose numa importante barreira à entrada de substâncias químicas ou à invasão por agentes infecciosos.
De fato, em cada órgão do corpo, vamos encontrar células que se diferenciaram para o melhor desempenho de
suas tarefas.
É somente pela multiplicação celular que o organismo
pode crescer e reparar-se. Nesse processo, uma célula origina duas outras exatamente iguais, que passam a ocupar o
seu lugar. Orientadas pelas necessidades do organismo, células jovens estão constantemente se dividindo para substituir
suas estruturas obsoletas e permitir seu crescimento. No
indivíduo adulto, essa multiplicação ocorre, exclusivamente, para substituição de células mortas e reparação de estruturas, sendo todo o processo rigorosamente controlado.
Material genético
Apesar da multiplicidade de formas e localização dentro do corpo, todas as células de um organismo apresentam
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o mesmo material genético.
No interior de cada célula, encontram-se dados suficientes para reproduzir toda a estrutura do organismo. As moléculas do Ácido Desoxirribonucleico (DNA), que formam os
cromossomos, arquivam essas informações, estabelecendo a
forma e a função de cada elemento do nosso corpo.
Cada pedaço de DNA com uma formação completa é
chamado de gene, enquanto o conjunto de todo esse material recebe o nome de genoma.
O crescimento, a multiplicação e a diferenciação de
todas as células são determinados por esses comandos genéticos. Podendo ser definido como uma verdadeira planta do
organismo, que estabelece cada detalhe de sua arquitetura,
o genoma é uma “herança eterna”, recebida dos pais e
transmitida aos filhos.
No momento da concepção, espermatozóide e óvulo se
fundem, cada um deles contribuindo com a metade do
material genético do futuro embrião. Durante o crescimento do organismo, a cada divisão celular, o genoma é integralmente transmitido para todas as células filhas.
Mutações
As moléculas de DNA, responsáveis pelo plano de formação e funcionamento de todas as células do nosso organismo, estão sujeitas a modificações. Fatores externos,
como substâncias químicas, radiações e infecções virais,
podem interferir em sua estrutura, alterando a informação
básica da célula.
Essas alterações, chamadas mutações não trazem repercussões à forma ou função das células, na maioria das
vezes. Entretanto, quando ocorrem em “genes chaves”,
responsáveis pelo controle do crescimento, pela multiplicaTENHO CÂNCER. E AGORA?
ção ou diferenciação das células, mesmo pequenas modificações podem determinar profundas transformações no
seu comportamento.
O câncer
Os incríveis avanços da Biologia Molecular permitiram
compreender o câncer a partir das alterações no material
genético de suas células.
Mutações em determinados genes alteram os comandos de divisão, diferenciação e morte celular, possibilitando sua multiplicação desenfreada. Com seus mecanismos
de controle da divisão inoperantes passam a se multiplicar
independentemente das necessidades do organismo.
Por meio de sucessivas divisões, a célula, agora chamada de maligna, acaba formando um agrupamento de células praticamente idênticas que recebe o nome de tumor.
Diante dessa perda de controle intrínseca da multiplicação
celular, só resta ao organismo tentar identificar e destruir
essas células anormais por intermédio do seu Sistema
Imunológico. Se esse sistema mostrar-se ineficaz, a doença
passará a ter condições de evoluir.
As mutações vão se acumulando no genoma da célula,
determinando novas alterações em seu comportamento. As
células malignas podem, por exemplo, adquirir a capacidade de disseminação, crescendo em áreas do corpo distantes de seu órgão de origem. Esses focos de crescimento a
distância chamam-se metástases.
Isto é o câncer: um grupo de células crescendo descontroladamente, capaz de invadir estruturas próximas e,
ainda, espalhar-se para diversas regiões do organismo.
Não há, entretanto, possibilidade de transmissão entre
pessoas, mesmo nos contatos mais íntimos. Qualquer céluTENHO CÂNCER. E AGORA?
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la maligna que penetrasse em outro corpo seria rapidamente destruída pelo Sistema Imunológico desse organismo.
Todo câncer é formado por células que, ao sofrerem
modificações em seu material genético, passam a apresentar crescimento e multiplicação desordenados.
Essas células deixam de responder aos mecanismos de
controle do organismo, duplicando-se continuamente para
criar os tumores.
Algumas células malignas adquirem a capacidade de
migrar e se desenvolver em outros órgãos, na maioria das
vezes, distantes do seu local de origem. Esse último processo dá origem às metástases, um importante obstáculo ao
controle do câncer.
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as causas do câncer
Por quê? Para essa pergunta tão comum diante do diagnóstico de um câncer, já começam a surgir algumas respostas esclarecedoras. Inúmeros fatores estão ligados ao
desenvolvimento dessa doença, na maior parte das vezes,
identificados no meio ambiente.
Fatores ambientais
Agente carcinogênico é todo o causador de modificações
no DNA de uma célula capaz de levá-la a uma proliferação
desordenada, dando origem ao câncer. São agentes cancerígenos: produtos químicos, radiações e microrganismos.
Um exemplo de agente cancerígeno do tipo radiação é
a luz solar que, com seus raios ultravioleta, é responsável
pela grande maioria dos cânceres de pele.
Agentes cancerígenos químicos são encontrados no
fumo, que representa o maior risco conhecido ao desenvolvimento de doenças malignas no ser humano. Acredita-se
que um terço dos tumores malignos seja causado pelo hábito de fumar, reconhecendo-se, hoje, mais de 400 substâncias carcinogênicas na fumaça do cigarro.
Outras substâncias químicas têm sido responsabilizadas
pelo desenvolvimento de doenças malignas, boa parte delas
após exposições prolongadas no ambiente de trabalho.
Asbesto, na indústria naval e de construção civil, aminas
aromáticas, presentes na manufatura de tinturas; e benzeno, da indústria química, são alguns desses carcinógenos.
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Microrganismos como o Papiloma vírus (causador da
verruga genital) e o Vírus Epstein-Baar (agente responsável
pela mononucleose infecciosa) têm a capacidade de promover alterações no DNA das células que infectam, favorecendo sua malignização.
O vírus da AIDS (HIV) causa um comprometimento do
Sistema Imunológico que pode favorecer o crescimento de
doenças malignas dentro do organismo por ele infectado.
Embora esse vírus não cause diretamente o câncer, cria
condições ideais para o seu desenvolvimento dentro de um
organismo debilitado.
Estima-se que até 70% dos casos de câncer podem ser
evitados simplesmente impedindo-se a exposição aos fatores de risco ambientais. A eliminação do hábito de fumar,
modificações na dieta, com maior consumo de frutas, verduras, legumes e cereais, a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e o controle na exposição a agentes
químicos, radiações ionizantes e raios ultravioleta são
medidas práticas que contribuem para a redução máxima
do risco de desenvolver um câncer.
Aspectos psicológicos
Certas características da personalidade do paciente e o
seu próprio estado emocional são freqüentemente apontados como possíveis causas para o desenvolvimento do seu
câncer.
Nenhum trabalho científico, entretanto, conseguiu
relacionar aspectos da personalidade, ou mesmo o estado
depressivo, à formação de tumores. Muitas vezes, dando
crédito a essas possíveis contribuições psicológicas, o
paciente acaba culpando-se pelo surgimento de sua própria
doença, o que gera um sofrimento adicional desnecessário.
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Herança genética
Todas as nossas características físicas são determinadas
pelas informações genéticas, armazenadas em moléculas
de DNA, que herdamos de nossos pais. Detalhes como altura, cor dos olhos, aptidões artísticas, matemáticas e esportivas, resistência às infecções, tendência à obesidade e
às doenças cardiovasculares são determinados por essa herança, em grau variado.
A programação codificada dentro dos genes vai sendo
cumprida de acordo com as condições que o organismo
encontra no meio ambiente. Isto é, se há alimento disponível, o organismo pode crescer; havendo treinamento físico, um atleta pode se desenvolver; com os estímulos
adequados, um artista pode criar. Para as doenças, isso
também é verdade.
Toda doença surge da interação do organismo com o
meio ambiente. Uma doença infecciosa não se desenvolve
sem o agente invasor, mas sua evolução varia muito de
acordo com a reação do organismo. O câncer não é diferente. Cada pessoa apresenta uma sensibilidade própria aos
diversos agentes causadores do câncer, definida pelo seu
patrimônio genético.
Enquanto, em certos indivíduos, quantidades mínimas
de uma substância química promovem o desenvolvimento
de um determinado tumor maligno, em outros, isso só
ocorre com doses muito elevadas. Tais características,
geneticamente determinadas, são comuns aos indivíduos
de uma mesma família. Assim, da mesma forma que o
membro de uma família de obesos com doenças cardíacas
tem maiores chances de apresentar um infarto do miocárdio, principalmente se também for gordo, uma mulher
com mãe, tias e irmãs portadoras do câncer de mama é
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forte candidata a apresentar essa mesma doença.
Algumas vezes, a participação das características genéticas é tão marcante no desenvolvimento de uma doença
que passamos a chamá-la hereditária. Nessa situação, a
enfermidade se manifesta quase que independentemente
das condições ambientais.
Só muito raramente, o câncer se apresenta com um
componente hereditário realmente importante, com algumas poucas famílias carregando genes que predispõem ao
desenvolvimento de tumores malignos.
Do ponto de vista prático, as doenças malignas devem
ser entendidas como resultantes da exposição do organismo a agentes cancerígenos que criam condições para o
desenvolvimento do câncer. A sensibilidade individual
determina o maior ou menor risco da pessoa a ser afetada.
É claro que a existência de casos familiares deve ser
sempre pesquisada quando se estabelece um programa
individual de prevenção e diagnóstico precoce. Entretanto,
os aspectos hereditários do câncer não devem ser motivo
de preocupação imediata no momento em que se enfrenta
o diagnóstico de câncer em algum parente próximo.
O fator tempo
Um longo tempo transcorre desde a formação da primeira célula maligna até o diagnóstico do câncer. Na maioria das vezes, esse tempo é medido em anos ou mesmo
décadas, mas ele pode variar de acordo com a velocidade
com que a célula tumoral se multiplica. Dessa forma,
enquanto um câncer de pulmão tem origem no crescimento de células malignas formadas em décadas anteriores ao
seu diagnóstico, uma leucemia desenvolve-se em meses.
Esse longo período, geralmente necessário para o
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desenvolvimento do câncer, cria dificuldades para a determinação de suas causas. Os elementos responsáveis pela
formação de uma doença maligna precisam ser pesquisados no passado do paciente. Eventos recentes, como acidentes e infecções, costumam apenas chamar a atenção do
paciente e de seu médico para a doença já instalada, não
interferindo de forma significativa em o seu curso.
O fator tempo é também importante no desfecho do
tratamento. Os melhores resultados costumam ser obtidos
nos casos diagnosticados precocemente, o que justifica os
esforços empreendidos para surpreender o câncer nos seus
estágios iniciais. Essa também é uma boa razão para não se
retardar o início do tratamento, quando já se tem o diagnóstico nas mãos.
Todo câncer surge pela combinação de fatores ambientais com predisposições genéticas.
Estímulos externos, químicos, físicos ou biológicos (os
chamados agentes cancerígenos), ao determinar modificações no material genético de uma célula, tornam-se responsáveis pela sua malignização. A sensibilidade pessoal
a esses agentes surge como um fator adicional na formação do câncer.
Devido ao longo tempo necessário para o desenvolvimento de uma doença maligna, suas causas só podem ser
encontradas no passado de cada paciente.
O diagnóstico precoce do câncer costuma aumentar as
chances de cura e pode possibilitar a realização de tratamentos mais eficazes.
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o diagnóstico
A suspeita sobre a existência de uma doença maligna
pode surgir de várias maneiras. Freqüentemente, o paciente percebe o crescimento anormal de uma parte de seu
corpo. Outras vezes, perda de peso, cansaço e palidez
levam-no ao médico. Um sangramento inesperado na urina
ou nas fezes também pode ser o primeiro aviso de que algo
não está bem. Esses exemplos não foram escolhidos ao
acaso; na verdade, são os sintomas que mais comumente
levam ao diagnóstico do câncer.
Qualquer que seja a doença, o médico começa sua
investigação orientado por sintomas relatados e sinais reconhecidos no exame clínico. Na busca de um diagnóstico,
passa a utilizar diferentes recursos tecnológicos: radiografias, ultras-sonografias, exames laboratoriais etc.
Nos casos de câncer, sua confirmação quase sempre
exige a retirada, para análise, de uma pequena amostra de
tecido do órgão sob suspeita. Esse procedimento recebe o
nome de biópsia, sendo geralmente realizado por meio de
uma pequena cirurgia.
O passo seguinte é o estudo microscópico do material
recolhido. Nessa fase, um médico patologista tentará reconhecer suas células originais e a natureza do processo,
isto é, definir se há uma doença maligna em curso e de
qual tipo.
Como veremos mais adiante, uma célula maligna se
caracteriza pela capacidade de crescimento e multiplicação
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desordenada. Além disso, essas células suspendem seu
amadurecimento normal, mantendo-se com um aspecto
jovem, que se costuma chamar indiferenciado. Assim, o
patologista é capaz de identificar o câncer pela presença de
grupos de células com características jovens e sinais de
intensa multiplicação.
Algumas vezes, o aspecto das células apresenta-se tão
modificado que torna o trabalho do patologista extremamente difícil. Para auxiliá-lo no reconhecimento da origem
dessas células, ele conta com diversos recursos laboratoriais adicionais que aumentam a exatidão do diagnóstico.
A palavra tumor é freqüentemente empregada como
sinônimo de doença maligna, mas, na verdade, significa
qualquer crescimento anormal de uma parte do corpo.
Processos exclusivamente inflamatórios, infecciosos, ou
mesmo crescimentos celulares benignos podem ser assim
chamados. Somente após uma análise minuciosa do tumor
é possível reconhecer a natureza do processo.
Sob a denominação de câncer agrupam-se mais de 200
doenças diferentes, com comportamentos biológicos distintos. Daí a importância de um diagnóstico microscópico
preciso.
Confirmadas as suspeitas sobre a malignidade da doença, entra em cena um novo especialista. A partir desse
momento, o oncologista clínico, médico com profundo
conhecimento sobre as doenças malignas, sua evolução
natural e os possíveis tratamentos, começa a participar de
todas as decisões relevantes.
CLASSIFICAÇÃO
As doenças malignas são comumente divididas em neoplasias hematológicas e tumores sólidos.
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Neoplasias hematológicas
São doenças malignas com origem em células do sangue. Nesse grupo de doenças, encontram-se as leucemias
agudas e crônicas, os linfomas, o mieloma, a doença de
Hodgkin e algumas outras mais raras.
Essas doenças, já em sua apresentação inicial, não costumam estar restritas a uma única região do corpo, manifestando-se em várias áreas do organismo sem respeitar
barreiras anatômicas. O sangue, a medula óssea e os gânglios linfáticos, além do baço e do fígado, são os órgãos
mais freqüentemente envolvidos nesse processo.
O comportamento biológico desse grupo de doenças é
caracterizado por uma rápida evolução, quando não tratadas, e por uma grande sensibilidade às diferentes formas de
tratamento.
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Tumores sólidos
Os diversos tumores sólidos, que respondem em conjunto por quase 90% dos casos diagnosticados de câncer,
têm um comportamento biológico semelhante. Originando-se de um determinado órgão, as células malignas crescem em seu interior, migram para os gânglios linfáticos,
podem se estender para órgãos vizinhos e, com alguma freqüência, criam implantes (metástases) em regiões distantes
do tumor de origem.
Essa forma de evolução dos tumores sólidos fundamenta os esforços para se diagnosticar precocemente todo câncer. Por meio de exames e testes periódicos, busca-se reconhecer a doença em sua fase inicial, tentando evitar, com
o tratamento precoce, a disseminação das células malignas
pelo corpo.
Os tumores sólidos podem ser divididos em dois granTENHO CÂNCER. E AGORA?
des grupos: carcinomas e sarcomas, termos empregados
com freqüência pelos profissionais envolvidos no tratamento do câncer, merecendo, por isso, ser conhecidos.
Carcinomas são doenças malignas com origem em tecidos epiteliais, isto é, com função de revestimento ou que formam glândulas. Dessa forma, sempre que estivermos diante
de um tumor que se iniciou numa célula de revestimento
(por exemplo: pele, mucosa das vias aéreas e mucosa do
tubo digestivo) ou numa glândula (por exemplo: tireóide,
mama e próstata), ele receberá o nome de carcinoma.
Já os sarcomas são definidos por sua origem embriológica, ou seja, classificados de acordo com a formação do
órgão durante a fase de embrião. Nos estágios iniciais do
desenvolvimento do embrião, ocorre uma diferenciação
bastante importante de suas células que se dispõem em
camadas. As diferentes camadas do embrião evoluem para
formar os diversos tecidos e órgãos do corpo.
A camada intermediária, que recebe o nome de mesoderme, dá origem aos ossos, músculos, gordura, tendões, vasos
sanguíneos e diversos outros tecidos. Como regra, os tumores formados por células com origem na mesoderme, que
não apresentam função epitelial, são chamados de sarcomas.
Completam ainda a lista dos tumores sólidos: os melanomas, formados por células pigmentadas da pele; os
tumores de células germinativas, com origem nas células
reprodutoras, presentes nos testículos e ovários; e os tumores do Sistema Nervoso.
ESTADIAMENTO
Com o diagnóstico em mãos, inicia-se uma nova fase de
exames para que se avalie a extensão da doença. Esse processo recebe o nome de “estadiamento”, sendo comum a reaTENHO CÂNCER. E AGORA?
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lização de radiografias, tomografias, ressonância nuclear magnética, ultras-sonografias, mapeamento radioisotópico etc.
Nos casos de neoplasias hematológicas, o estudo da
medula óssea tem especial importância. A medula óssea se
distribui pelo interior dos ossos do corpo. Concentrando-se
nos ossos da bacia, nos corpos vertebrais, em ossos achatados e em alguns ossos longos, é responsável pela produção
de todas as células do sangue.
Nas neoplasias hematológicas, é fundamental identificar-se a extensão da doença para o interior da medula
óssea. A biópsia de medula óssea e o mielograma são os
exames mais freqüentemente empregados.
Tumores sólidos são geralmente classificados de acordo
com seu tamanho, sua profundidade no interior do órgão,
envolvimento dos gânglios linfáticos e sua eventual extensão para órgãos vizinhos ou distantes. A necessidade de
informações tão detalhadas faz com que o estadiamento se
complete após a cirurgia.
Na verdade, a presença de metástases em órgãos distantes é o elemento de maior importância no estadiamento de um tumor sólido, caracterizando as doenças em fases
mais avançadas. Essas informações orientam o oncologista
sobre a melhor estratégia de tratamento e as chances de
cura de cada paciente.
ta um obstáculo adicional à comunicação entre um médico e seu paciente.
A leitura de livros como este permite aumentar a compreensão do que acontece em nosso corpo. Entretanto,
informações genéricas não devem substituir o médico
como fonte de informação. Todas as dúvidas sobre diagnóstico e tratamento devem ser sempre esclarecidas com a
equipe médica responsável. As dificuldades iniciais em
compreender as explicações não devem inibir pacientes e
familiares para buscarem maior participação.
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A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO
Poucas situações criam tanta ansiedade como a de receber a notícia de que se está com câncer. Esse trauma emocional torna ainda mais difícil o entendimento da situação
que o médico passa a descrever.
O vocabulário médico, repleto de nomes que não
fazem parte do repertório das pessoas em geral, represenTENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
centivados a tomar parte ativa nas decisões sobre a sua saúde.
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a escolha do oncologista
Para tratar o câncer adequadamente, é fundamental
que o médico tenha especialização em oncologia. Portanto,
após o diagnóstico, a sua prioridade é escolher um oncologista e optar pelo melhor tratamento.
Ao contrário do que se imagina, você não deve simplesmente submeter-se a médicos e tratamentos.
Você, paciente com câncer, é um consumidor prestes a
contratar um “serviço”, talvez o mais importante da sua vida.
Você deve escolher o médico oncologista que lhe inspire confiança, empatia, que tenha disponibilidade de tempo
e boa comunicação com você.
Não se apresse em tomar decisões. Os poucos dias de
que você precisa para ouvir uma segunda, terceira ou quarta opinião médica não terão o menor impacto no resultado
do seu tratamento. Mas são fundamentais para você.
Você precisa de tempo para refletir sobre as opções de
tratamento que forem sugeridas e escolher o oncologista
com quem mais se identificar.
Não se esqueça de que o oncologista será o seu maior
aliado na luta contra o câncer.
Escolha-o com cuidado.
Tomar consciência dessa postura faz parte de um aprendizado difícil para muitas pessoas. Até pouco tempo, os pacientes tinham um papel passivo e eram encorajados a aceitar ordens médicas, sem muitos questionamentos. Felizmente, isso está mudando e, atualmente, os pacientes são in-
TENHO CÂNCER. E AGORA?
“O meu relacionamento com o meu médico é de confiança mútua. Acredito piamente que esse é um fator
muito importante para minha recuperação.”
WILSON T., 57 ANOS, DIAGNOSTICADO DE CÂNCER DE PRÓSTATA EM 2002.
Segunda opinião
Embora, atualmente, seja praticamente rotina ouvir
uma segunda opinião, ainda há pessoas que acham que o
médico pode ficar melindrado.
Buscar uma segunda opinião, antes de tomar uma
decisão sobre as opções de tratamento, não significa que
você está inseguro ou que tem dúvidas sobre o diagnóstico ou o tratamento.
Por tratar-se de uma doença da magnitude do câncer,
você deve ter o benefício de mais de uma opinião médica
sobre o seu caso.
Um bom médico não se sentirá ofendido. Ao contrário,
vai apreciar a sua sinceridade.
Peça ao seu próprio médico a indicação de um outro
oncologista para você buscar a segunda opinião. Isso fará
com que troquem idéias sobre a sua doença e aumentará a
sua certeza sobre as decisões a serem tomadas.
“Ouvir uma segunda opinião aumentou ainda mais a
confiança que eu já tinha no meu médico.”
JOÃO PAULO DE M. M., 60 ANOS, DIAGNOSTICADO DE CÂNCER DE RIM EM 2005.
A COMUNICAÇÃO COM O SEU ONCOLOGISTA
Uma comunicação fácil e aberta entre você e o seu
oncologista é uma das facetas mais importantes durante o
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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período de tratamento contra o câncer.
Você quer ser bem informado e espera retorno quando
solicita. Essas coisas nem sempre ocorrem voluntariamente. Você tem de fazer a sua parte.
Leve sempre um amigo ou familiar às suas consultas.
Não vá sozinho, pois estudos demonstram que somente
pouco mais de 20% das informações médicas são registradas de forma acurada pelo paciente, principalmente nas
primeiras consultas que seguem o diagnóstico.
Existem inúmeros motivos para isso, como o seu estado de espírito e os termos médicos novos e complicados
que precisam ser compreendidos. A sua capacidade de
atenção está flutuante devido à raiva, ao medo e à ansiedade e a sua audição está seletiva, isto é, inconscientemente,
você só ouve o que quer.
Não confie somente na sua memória. Mantenha um
caderno de anotações.
Suas consultas serão muito mais proveitosas se você
levar as suas perguntas por escrito e anotar as respostas do
seu médico. Em caso de dúvida, você poderá consultá-las,
evitando, assim, mal-entendidos e telefonemas posteriores.
É comum o paciente ter vergonha da sua ignorância
sobre assuntos que julga serem óbvios para o médico. Não
tenha receio, você tem o direito de estar ignorante, afinal
de contas, é a primeira vez que está com câncer. Por isso,
não subestime suas dúvidas, esclareça todas elas.
Lembre-se: trocar o conhecido pelo desconhecido é
adquirir poder.
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outros sentimentos exagerados e estará apto a participar
inteiramente do programa de tratamento e reabilitação.
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o câncer e as emoções
Você deve ser o primeiro a receber a notícia do seu
diagnóstico. Essa informação lhe pertence e, por mais dolorosa e inesperada que seja, é importante que você conheça
a realidade para que possa compreender o seu estado de
saúde e tomar decisões quanto aos tratamentos a serem
adotados, saber quais os objetivos a serem alcançados e os
resultados esperados.
Ficar sabendo que está com câncer provoca uma série
de emoções e sentimentos confusos, difíceis de compreender e de aceitar.
A primeira reação ao diagnóstico é de choque e medo.
Em seguida, surgem pensamentos como: “O que eu fiz
para ter câncer?”. Depois, perguntas como: “Vou morrer?”, “Quanto tempo de vida me resta?”.
Tente não entrar em pânico e lembre-se de que o câncer, apesar de ser uma doença importante, não é mais considerado necessariamente fatal e já existe tratamento para
qualquer tipo dessa enfermidade.
Para que você possa lidar de forma racional com os
seus sentimentos e as suas dúvidas, é necessário fazer um
esforço no sentido de distinguir entre as fantasias e as verdades sobre a sua doença. Essa distinção é extremamente
importante para que você conheça, de maneira clara e precisa, a real situação que se apresenta. Por isso, uma comunicação franca com o seu médico é de fundamental importância. Somente assim você evitará medos, frustrações e
TENHO CÂNCER. E AGORA?
“Se a gente sabe o que está por vir, o nosso medo, a
nossa ansiedade e, o mais importante, a nossa ignorância
diminuem.”
RENATO L. DE C., 48 ANOS, DIAGNOSTICADO DE
MELANOMA CUTÂNEO EM 2003.
Não há uma maneira padrão para enfrentar o câncer e
as emoções, pois essa é uma questão individual.
Cada um reage ao seu modo, mas, geralmente, a primeira reação de alguém que acaba de saber que está com
câncer é a negação. Duvidar da veracidade do diagnóstico
é muito comum e a aceitação da realidade pode levar
semanas. Trata-se de um processo de defesa natural, e respeitar o tempo de adaptação de cada um é importante.
Outra reação comum é a barganha. Essa é uma tentativa
de negociacão. “Se eu for curado, nunca mais vou...” É pensar que, por ter um bom comportamento, estará livre de algo
mais grave. Esse sentimento pode vir aliado à culpa por ações
feitas no passado, como se a doença fosse um castigo de Deus.
Outro sentimento comum é a raiva, expressa pela clássica pergunta: “Por que eu?”. Não há resposta para essa
pergunta e você só vai parar de perguntar quando o seu
questionamento for: “Com que propósito?”. A partir desse
momento, a raiva poderá atuar como um caminho para a
transformação ou como um sinal de que algo pode ser
modificado. Isto é: “Como posso usar esta experiência para
o meu benefício?”.
Pode parecer difícil nesse momento falar em transformação, mas muitos pacientes relatam que o aparecimento
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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do câncer em suas vidas foi uma oportunidade para reflexão, reavaliação de valores, de prioridades e também da fé.
Diversos pacientes usaram a experiência do câncer
como um ponto de mutação, substituindo vocações, relacionamentos sociais e hábitos de vida.
“O câncer pode até ser uma experiência positiva se
você tirar proveito dela. A vida continua depois do câncer
– às vezes, até uma vida melhor.”
CLAUDIA L., 50 ANOS, DIAGNOSTICADA DE CÂNCER COLORRETAL EM 2003.
O estigma que a palavra câncer traz consigo é capaz de
causar um grande choque entre os parentes.
As incertezas e a falta de conhecimento sobre a doença podem deixar a família sob grande estresse, confusa e
inábil para lidar com a nova situação, que, geralmente, provoca uma comunicação limitada entre os seus membros.
“Meu cunhado está com câncer e a minha reação foi
de correr e de me esconder. Eu não o visitei, pois acho
que não tenho nada para falar nem oferecer.”
MARCELA DE S., 45 ANOS, CUNHADA DE PACIENTE COM TUMOR CEREBRAL,
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Combater o câncer é muito mais do que simplesmente
extirpar um tumor, tratar uma malignidade com radioterapia ou injetar quimioterapia na veia.
Além do tratamento, é preciso buscar recursos e forças
internas para controlar as emoções e tentar conviver da
melhor forma possível com a doença.
Como nem todas as pessoas funcionam da mesma maneira, quando se trata de emoções, é importante lembrar
que, em momentos difíceis como esse, uma terapia com
psicólogo pode ajudar muito a aliviar sentimentos irracionais e a reunir e organizar suas forças.
Muitos de nós cresceram acreditando que “resolver sozinho” significa maturidade e força, mas, em momentos de crise, é importante reconhecer que podemos precisar de ajuda.
Procure ajuda. Você não precisa enfrentar tudo isso
sozinho.
A FAMÍLIA
Câncer é uma doença familiar, não sob o ponto de vista genético, mas pelo impacto que provoca. Quando um membro
da família é diagnosticado, todos os familiares são tocados.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
DIAGNOSTICADO EM 2002.
Em muitas famílias, poupar uns aos outros sobre o diagnóstico reflete apenas uma busca de proteção contra sentimentos dolorosos e a dificuldade de seus membros em lidar com o problema.
Ao contrário do que se espera, com essas atitudes cada
um dos familiares e o próprio paciente acabam sofrendo
ainda mais, tendo de lidar sozinhos com suas próprias dores, incertezas e medos, sentimentos tão comuns entre
pessoas que convivem com o câncer.
Inúmeros estudos demonstram que famílias com comunicação franca conseguem manter sua unidade, promover
uma qualidade de vida mais satisfatória para o paciente e
aumentar sua capacidade de lidar com as situações de crise
e se adequar a elas.
Nem todas as famílias têm o hábito de uma comunicação aberta ou se sentem à vontade para compartilhar experiências e emoções. Crises são momentos difíceis para se
adotar novos padrões familiares. Por isso, procurar ajuda
externa pode ser de grande utilidade, embora seja uma atiTENHO CÂNCER. E AGORA?
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tude difícil para algumas pessoas.
O suporte emocional para o paciente com câncer e seus
familiares já faz parte dos protocolos de atendimento dos
maiores centros oncológicos do mundo. O câncer não é
mais tratado como uma doença de um indivíduo, mas visto
como um problema que envolve toda a sua família.
Existem várias formas de se obter apoio emocional:
aconselhamento ou terapia psicológica individuais, em grupos ou específicos para familiares; grupos de apoio formados
por pessoas que passaram pela experiência do câncer etc.
Para muitas pessoas, a religião pode ser uma fonte de força.
“Poder trocar informações e experiências com outros
que estão passando pelo mesmo problema que eu foi
muito útil. Foi bom perceber que não estou sozinha.”
XÊNIA F. B., 38 ANOS, MÃE DE PACIENTE COM LEUCEMIA,
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DIAGNOSTICADO EM 2001.
Muitas pessoas relatam dificuldades para lidar com o
fato de um amigo estar com câncer: “Sobre o que falar? O
que dizer?”. Alguns esperam do paciente um sinal ou “uma
dica” de como se comportar e sobre o que falar. Ficam com
dúvidas se sua companhia é realmente desejada. Gostariam
de oferecer ajuda, mas não sabem como fazê-lo.
Discutindo abertamente sobre seus sentimentos e
necessidades, o paciente lhes dá diretrizes de como falar
sobre a sua doença, permitindo que lhe façam companhia
e ajudem na realização de tarefas.
“Hoje não estou muito disposta, mas, se você trouxer
o seu livro e ficar lendo ao meu lado, me fará muito bem.”
ROBERTA A., 28 ANOS, DIAGNOSTICADA DE LEUCEMIA EM 2003.
Para muitas pessoas, é muito difícil falar ou demonstrar
sentimentos, mas essas mesmas pessoas sentem-se muito
bem quando podem ajudar, dando provas de amizade.
DEVE-SE OU NÃO CONTAR AOS AMIGOS?
Geralmente, os amigos mais próximos do paciente, cedo
ou tarde, percebem que algo de incomum está acontecendo.
Como a palavra câncer não é mais necessariamente associada à morte, muitos pacientes preferem contar aos amigos
o seu diagnóstico, dando a eles a oportunidade de oferecerem ou não o seu apoio. Acreditam que seja mais fácil compartilhar seus medos e suas esperanças do que escondê-los.
“Só fique comigo. Tudo bem que você esteja também
com medo ou não saiba o que dizer. Ninguém sabe. Sua
companhia já me faz sentir bem.”
“Seus filhos não viajaram em nenhum fim de semana
desde que você ficou doente. Será que eles gostariam de
que nós os levássemos à praia no próximo sábado? Meus
filhos, certamente, vão adorar a companhia.”
MANUEL R. G., 47 ANOS, AMIGO DE PACIENTE DIAGNOSTICADO
DE CÂNCER DE PULMÃO EM 2005.
Saber pedir e aceitar ajuda faz parte de um importante
aprendizado.
FERNANDO F. S., DIAGNOSTICADO DE LEUCEMIA, EM 1994, AOS 37 ANOS.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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conversando com as crianças
Conversar com uma criança a respeito de um familiar
que está com câncer tem sido uma tarefa difícil para muitos pais. Por estarem tão preocupados e emocionalmente
abalados, não se sentem aptos a falar com o filho e tampouco se sentem preparados para ajudá-lo a lidar com a notícia
da doença.
Por que contar?
Seu filho tem o direito de saber a respeito de qualquer
assunto que afete a família da qual ele faz parte. Quando a
verdade lhe é omitida, ele poderá sentir-se isolado, excluído das questões familiares.
As crianças têm suas “antenas ligadas” que “captam” o
clima pesado do ambiente. Mesmo que nada lhes seja dito,
elas percebem que algo não vai bem. Se não sabem do que
se trata, só poderão contar com a sua própria imaginação
para tentar explicar o que está acontecendo. Suas fantasias
podem ser ainda piores do que a realidade.
Ciente da verdade, seu filho terá a chance de lhe fazer
perguntas sempre que surgirem dúvidas e poderá ser confortado quando sentir medo. Por mais que você queira, não
há como protegê-lo contra tristezas, mas vocês podem
compartilhar os momentos tristes apoiando-se mutuamente. Muitos pais se surpreendem ao verificar que a criança,
não raras vezes, lida com a realidade com mais facilidade
do que os adultos, que acabam sendo consolados por ela.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
Quem deve contar?
Quem, senão você, conhece tão bem as características
individuais do seu filho? É em você que ele confia, é com
você que ele sabe que poderá sempre contar.
Se, no decorrer da conversa, você chorar, não se preocupe; assim, seu filho se sentirá à vontade para chorar também, se desejar. Não é preciso se fazer de forte; não adianta revelar a verdade e esconder seus sentimentos.
Mas, se você sente que, nesse momento, não está
mesmo em condições de ter uma boa conversa com o seu
filho, deixe essa tarefa para algum parente ou amigo em
quem você e seu filho confiem e de quem tenham uma
relação próxima.
Quando contar?
Pode parecer mais conveniente deixar essa conversa
para depois. Afinal, há tantas providências a serem tomadas, que, nesse momento, falar com a criança parece não
ser tão importante. Procure resistir à tentação de protelar
uma conversa franca e esclarecedora com o seu filho.
Quanto antes ele souber o que está acontecendo, tanto
melhor para todos.
Logo após a diagnóstico, nem você sabe ainda o que
virá pela frente. Conte o que você sabe, de forma objetiva,
em uma linguagem que ele possa compreender.
Como contar?
Use uma linguagem simples e adequada, escolhendo
palavras que já façam parte do vocabulário do seu filho.
Respeite os sentimentos e as opiniões da criança; incentivá-la a expressar o que está pensando e sentindo é uma das
melhores maneiras de ajudá-la a enfrentar e elaborar os
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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assuntos difíceis da vida.
Responda às suas perguntas, à medida que elas forem
surgindo. Seja honesto com relação àquilo que você não
sabe. Procure não distorcer a verdade, com a intenção de
evitar perguntas difíceis ou embaraçosas. O mais importante não é “falar tudo” ou “ter todas as respostas”, e, sim,
mostrar-se como uma pessoa em quem se pode confiar.
Respostas falsas ou evasivas costumam desencorajar outras
perguntas e podem levar a criança a imaginar algo muito
pior do que a verdade.
Demonstre atenção e interesse, agindo de modo que a
criança perceba a existência de uma preocupação sincera
com o seu bem-estar e uma disposição para ajudá-la de
todas as formas possíveis. Transmitir-lhe sentimentos de
amor, compreensão, aceitação e respeito é tão importante
quanto as palavras empregadas na comunicação.
Expressar uma atitude de confiança e esperança a respeito da doença e seus tratamentos ajuda a criança a
desenvolver essa atitude em si mesma, além de fazê-la sentir-se mais segura e apoiada.
uma idade talvez não retrate exatamente o grau de maturidade do seu filho, que poderá, muitas vezes, caber em
mais de uma categoria. Além disso, nenhuma categoria
consegue descrever satisfatoriamente uma criança.
CONSIDERANDO A IDADE DA CRIANÇA
De 3 a 7 anos
Nesse período, a criança já é capaz de compreender o
que é doença. Ela vê o mundo sob um único ponto de
vista: o dela mesma – e pensa que o mundo gira à sua
volta. Portanto, é muito importante que ela seja assegurada de que a doença não foi causada por algo que ela tenha
feito, dito ou pensado. É preciso esclarecer que ela não é
culpada pelo adoecimento de ninguém.
Até os 5 anos de idade, a criança não tem noção de
temporalidade. Quando for falar sobre um período de
tempo, recorra a exemplos concretos. É importante verifi-
O grau de maturidade da criança, sua idade e nível de
compreensão são pontos fundamentais a serem considerados no momento de se decidir sobre a forma e a quantidade de informações que serão apresentadas a ela. Alguns
aspectos do desenvolvimento infantil podem ser definidos
por idade. Sabe-se, porém, que as crianças se desenvolvem
em ritmos diferentes. Por isso, é preciso considerar essa
definição apenas como um ponto de referência e fazer as
adaptações necessárias a cada criança.
É importante lembrar que a descrição apresentada para
TENHO CÂNCER. E AGORA?
Até 2 anos de idade
A criança não é capaz de compreender uma doença
como câncer. Ela está envolvida com suas próprias sensações e com sua habilidade de controlar e interagir com os
acontecimentos que a cercam. Dessa forma, mesmo que
ela não compreenda o significado exato das palavras, associará os acontecimentos a um sentimento de segurança,
apoio e aceitação.
Quando uma criança não fala e/ou não compreende
bem a linguagem, o agarrar, o tocar, o abraçar, o chorar e o
se aproximar são quase que os únicos meios de ligação e
comunicação disponíveis. Por essa razão, é muito importante estar atento a esses comportamentos, para poder
atendê-la nos momentos em que ela estiver precisando de
mais apoio, atenção, carinho ou informação.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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car se a criança compreendeu a mensagem. Para isso, basta
pedir a ela que repita a informação recebida.
De 7 a 12 anos
Nessa faixa etária, a criança ainda está limitada às suas
próprias experiências, mas já é capaz de entender as relações entre situações. Assim, ela pode definir doença como
uma combinação de sintomas. Nessa fase, a criança está
menos propensa a associar a doença a algo que possa ter
feito de errado. No entanto, é sempre aconselhável deixar
isso claro durante as conversas.
A explicação sobre o câncer já pode ser mais detalhada,
devendo, sempre, incluir situações com as quais ela esteja
familiarizada.
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Mais de 12 anos
A partir dessa idade, a criança já é capaz de entender a
complexa relação entre os fatos. Seu entendimento não está
mais limitado às suas experiências, sendo-lhe possível pensar
sobre situações que ainda não tenha vivenciado e compreender a sua gravidade. Portanto, o câncer pode ser-lhe definido como uma doença em que algumas células do corpo multiplicam-se desordenadamente e mais rápido do que outras,
comprometendo, dessa forma, o funcionamento normal do
organismo, e que o objetivo do tratamento é destruir essas
células e/ou impedir que continuem crescendo.
Como manter a comunicação com o seu filho
Para estabelecer uma boa comunicação e um bom relacionamento com a criança, sugerimos:
◗ Conversar várias vezes sobre os mesmos assuntos,
TENHO CÂNCER. E AGORA?
pois a repetição permite à criança o esclarecimento
das dúvidas, mal-entendidos, fazendo com
que ela se acostume, gradativamente, à realidade
que tem de enfrentar.
◗ Brincar com seu filho é uma boa maneira de
observar seus sentimentos. Desenhando, brincando
com bonecos, fantoches etc., a criança poderá
expressar seus medos e ansiedades, demonstrando
que está precisando de mais apoio, atenção e
carinho.
◗ Impor limites. Durante esse período, a criança poderá
tentar desafiar os limites e as regras já estabelecidos
em casa e na escola. Abrandar regras ou relaxar a
disciplina poderão fazer com que a criança imagine
que as coisas estão piores do que realmente estão.
◗ Procurar aceitar os sentimentos da criança,
dizendo-lhe que é normal chorar, sentir tristeza,
raiva e medo. Isso dará a ela a oportunidade de
extravasar seus sentimentos.
◗ Encorajar a criança a falar abertamente sobre o que
sente e pensa. As conversas em família são uma boa
maneira de aliviar tensões e de ajudar toda a família
a lidar melhor com as situações.
Algumas vezes, a criança tem conhecimento de alguém
que morreu de câncer. Como conseqüência, ela tem medo
de perguntar se o membro da família que está doente vai
sarar, pois teme a resposta. É importante que ela saiba que
há diferentes tipos de câncer e que o que acontece a uma
pessoa não precisa, necessariamente, acontecer a outra.
Conviver com o câncer é viver na incerteza. Poderão
surgir algumas questões para as quais você não terá resposTENHO CÂNCER. E AGORA?
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tas. Converse com seu filho sobre isto também. Procure
fazer com que ele compreenda que situações desconhecidas e mudanças em sua rotina talvez ocorram e que, juntos, saberão lidar com elas conforme forem acontecendo.
Por outro lado, tente fazer, na medida do possível, com
que a vida da criança transcorra normalmente. Manter
suas atividades sociais, escolares etc. pode ajudá-la a entender que, apesar das adversidades, o mundo não pára.
É importante lembrar que não é necessário ser um perito para falar com a criança sobre câncer. Caso ela faça uma
pergunta cuja resposta você não conheça, diga que não
sabe e convide-a para buscarem juntos o esclarecimento.
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tratamentos
Há razões para otimismo. Durante a segunda metade
do século passado, os avanços tecnológicos determinaram
uma verdadeira revolução no tratamento do câncer, com a
formação de um arsenal médico bastante eficiente.
Cirurgia, quimioterapia e radioterapia representam as
principais armas na luta contra as doenças malignas, e seu
uso combinado tem proporcionado resultados excelentes.
Uma cirurgia, por exemplo, passou a ser freqüentemente
seguida por um tratamento quimioterápico ou pela administração de hormônios, enquanto a radioterapia pode
complementar a retirada cirúrgica de um tumor ou reforçar a ação de uma série de aplicações quimioterápicas.
Qualquer que seja a opção do médico, ela obedece a
uma estratégia de tratamento baseada em estudos científicos, submetidos a análises estatísticas rigorosas. A experiência acumulada ao longo das últimas décadas no combate ao câncer é empregada para orientar todas as condutas
médicas. Detalhes sobre o diagnóstico e as condições do
paciente são levados em conta na escolha do melhor tratamento disponível em cada caso.
Efeitos colaterais ou adversos são conseqüências indesejáveis de qualquer tratamento. É de conhecimento geral
que tanto a radioterapia como a quimioterapia apresentam
uma grande quantidade desses efeitos, exigindo que sejam
empregadas com muito critério. Por isso, podemos afirmar
que, no tratamento do câncer, nem sempre mais é melhor.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
O desafio atual para todos os profissionais ligados à
área oncológica consiste em encontrar a maneira mais eficaz de tratar a doença com o mínimo de agressões ao
paciente. A diversidade de recursos disponíveis tem contribuído para esse intuito.
Existem três propostas básicas de tratamento para os
pacientes com câncer:
A) TRATAMENTO CURATIVO —
que visa à eliminação
completa da doença.
Para a maior parte das neoplasias hematológicas e de
tumores sólidos em fases iniciais de desenvolvimento, o
objetivo do tratamento é eliminar todas as células malignas
do corpo. Para isso, os recursos terapêuticos são usados,
muitas vezes, de forma combinada.
B) TRATAMENTO PALIATIVO — busca o controle da doença e de seus sintomas pelo maior tempo possível.
O tratamento paliativo de uma doença maligna proporciona melhora na qualidade e aumento do tempo de vida
do paciente.
C) MEDIDAS DE SUPORTE — que permitem ao organismo
conviver com a doença.
São todos os cuidados que visam à diminuição do sofrimento físico e das complicações da doença.
Na verdade, as medidas de suporte fazem parte dos cuidados de qualquer paciente. Durante um tratamento curativo ou paliativo, são tomadas precauções ou administradas
medicações com o objetivo de garantir o conforto do
paciente. Um dos principais exemplos é o uso de analgésicos no combate à dor.
Ao decidir por um tratamento, o médico considera os
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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riscos envolvidos e seus possíveis benefícios. Havendo possibilidade de cura, é comum submeter o paciente a tratamentos mais agressivos, com maiores chances de sucesso.
Mesmo nos casos em que a doença só pode ser parcialmente controlada, é razoável exigir do paciente que tolere algum desconforto temporário em função de um tratamento eficaz.
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cirurgia oncológica
A mais antiga das formas de tratamento do câncer ainda
ocupa uma posição de destaque no controle dessa doença.
A era moderna das cirurgias para tratamento de tumores
teve início nos Estados Unidos, no século XIX, com a retirada de volumosos tumores ovarianos, antes mesmo do
desenvolvimento da anestesia (1846) e da implantação das
medidas de assepsia na rotina cirúrgica (1867).
Ao longo desse período, a cirurgia conseguiu aumentar
ainda mais seu prestígio como recurso terapêutico, devido
ao desenvolvimento de técnicas operatórias cada vez mais
precisas e seguras e ao melhor entendimento do padrão de
disseminação das doenças malignas.
A cirurgia se impõe já na fase do diagnóstico. Por meio
desse procedimento são obtidas amostras do tecido suspeito
para análise laboratorial. Entretanto, é no controle local dos
tumores que a cirurgia assume seu mais importante papel.
Uma cirurgia oncológica definitiva visa à remoção
mecânica de todas as células malignas presentes no câncer
primário. Para isso, é necessário que o cirurgião retire não
apenas o tumor aparente, mas também uma boa quantidade de tecido ao redor, o que se convencionou chamar de
“margem de segurança”.
Dada a capacidade invasora do câncer, a retirada de
tecidos aparentemente saudáveis ao redor do tumor diminui a chance de pedaços microscópicos permanecerem no
organismo. Os gânglios linfáticos que recebem a drenagem
TENHO CÂNCER. E AGORA?
da região onde se encontra o tumor costumam ser removidos também, para aumentar a eficácia dessa “limpeza”.
Além disso, o exame microscópico dos gânglios retirados
completa o diagnóstico sobre a extensão da doença.
Na cirurgia do câncer mamário, por exemplo, boa parte
ou mesmo toda a mama doente é retirada, juntamente com
os gânglios axilares do mesmo lado. Esse procedimento
torna possível eliminar por completo o tumor, aumentando
as chances de cura.
É claro que abordagens tão agressivas podem não ser
isentas de seqüelas. Muitas vezes, a perda parcial ou até
completa da função de um órgão é o preço a ser pago pelo
sucesso de uma cirurgia. Nesse contexto, torna-se extremamente importante um bom conhecimento prévio sobre a
extensão da doença no organismo, o que permite ao cirurgião esclarecer o paciente, antes do ato operatório, sobre os
objetivos do tratamento e os limites de sua atuação.
Retiradas apenas parciais de tumores são indicadas em
alguns casos, não só visando ao diagnóstico, mas também
para reduzir sintomas ou evitar possíveis complicações
causadas pela presença do tumor. Em fases mais tardias do
tratamento, a cirurgia pode assumir um importante papel
na reabilitação.
TRATAMENTOS COMPLEMENTARES
Obtido o controle local por meio da cirurgia, é o
momento de se considerarem os possíveis benefícios de
um tratamento complementar com radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia ou uso de modificadores da resposta biológica.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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quimioterapia
A guerra química foi responsável pela descoberta do
primeiro agente quimioterápico para uso clínico, o que permitiu uma verdadeira revolução no tratamento de tumores
malignos. Estudando-se a conseqüência da exposição de
soldados ao gás mostarda, durante a I Guerra Mundial, foi
possível obter as primeiras pistas que levaram ao desenvolvimento da Mostarda Nitrogenada. Esse agente quimioterápico representou um marco na medicina moderna.
A partir de então, por meio de pesquisas laboratoriais
sistemáticas e de observações clínicas cuidadosas, foram
desenvolvidas dezenas de diferentes drogas com ação anticâncer. Hoje, encontram-se disponíveis no mercado mais
de 70 agentes quimioterápicos diversos.
Quimioterápicos são drogas que, ingeridas ou injetadas
em veias, músculos ou sob a pele do paciente, causam
danos às células tumorais. Distribuindo-se para todas as
partes do corpo, não encontram obstáculo anatômico à sua
ação. Dessa forma, enquanto a cirurgia e a radioterapia se
limitam a eliminar as células malignas de uma área restrita, a quimioterapia tem a capacidade de alcançá-las onde
quer que estejam.
O único limite a essa ação sistêmica é determinado
pelas barreiras à penetração das drogas no Sistema Nervoso
Central, isto é, cérebro, meninges etc. Sendo assim, quando se torna necessário destruir células nessa parte do
corpo, emprega-se a administração direta da droga no líqui-
TENHO CÂNCER. E AGORA?
do cefalorraquidiano (liquor).
Ao contrário de um antibiótico, que age sobre processos
metabólicos quase sempre exclusivos das bactérias, os agentes quimioterápicos bloqueiam reações comuns ao tumor e
aos tecidos sadios. Por isso, efeitos colaterais ocorrem com
bastante freqüência durante esse tipo de tratamento.
Os quimioterápicos podem atuar em diversas etapas do
metabolismo celular. Geralmente, interferem na síntese ou
na transcrição do Ácido Desoxirribonucleico (DNA) ou
diretamente na produção de proteínas, agredindo principalmente as células em divisão. Por estarem constantemente se multiplicando, as células malignas se tornam um
alvo fácil para essas drogas. Seus efeitos tóxicos também
decorrem dessa particularidade. Durante o tratamento, são
os tecidos do corpo com maiores índices de renovação celular, como o sangue e as mucosas, que acabam, também,
sendo agredidos pela medicação.
Alguns efeitos colaterais comuns da quimioterapia são:
náuseas, queda de cabelo, diminuição da disposição física,
maior susceptibilidade às infecções, sangramentos espontâneos, inflamação na mucosa da boca e diarréia.
De muita importância para a maioria dos pacientes é a
queda dos cabelos; um processo absolutamente reversível,
que começa a ocorrer de duas a três semanas após o início
das aplicações de quimioterapia. A queda dos cabelos
decorre da ação das drogas sobre suas raízes e varia de
acordo com os medicamentos utilizados. Após o término
do tratamento, suspensa a agressão, os cabelos voltam a
crescer em um ritmo próximo ao normal.
Grandes responsáveis pelo estigma que sempre envolveu a quimioterapia, as náuseas e os vômitos foram efeitos colaterais comuns em décadas passadas. Entretanto,
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nos anos 1990, algumas conquistas da indústria farmacêutica possibilitaram praticamente eliminar essas reações do
dia-a-dia dos pacientes.
Novos medicamentos contra náuseas e vômitos (antieméticos), ajustes nas doses ou mesmo novas combinações
desses medicamentos vêm permitindo ampliar a tolerância à quimioterapia.
Cada medicamento pode determinar diferentes efeitos
colaterais, com uma intensidade que, na maioria das vezes, varia de acordo com a dose administrada. As náuseas e os vômitos, quando ocorrem, são imediatos. Porém, a maior parte dos
efeitos colaterais mencionados só será notada algum tempo
após a aplicação do quimioterápico, no momento em que a
reparação dos tecidos danificados do corpo se tornar necessária e as células sadias não puderem se duplicar. Por exemplo:
os glóbulos brancos, ou leucócitos, esgotam-se, em média, dez
dias após a administração da quimioterapia, tornando o organismo mais vulnerável a infecções nessa fase. Da mesma
forma, aftas e diarréia, decorrentes do comprometimento das
mucosas, podem surgir na semana seguinte às aplicações.
Em função desses efeitos tóxicos, durante um tratamento quimioterápico é necessário aguardar a recuperação
do organismo para uma nova aplicação. Sendo assim, o plano de tratamento prevê intervalos adequados para a reabilitação dos tecidos sadios, tendo-se o cuidado para que o
espaçamento das doses não seja excessivo, a ponto de permitir a recuperação das células malignas.
Na maioria das vezes, os quimioterápicos são usados de
forma combinada, o que aumenta sua eficácia, enquanto mantêm a toxicidade do tratamento em níveis aceitáveis. A administração conjunta de diferentes drogas, que agem em etapas
distintas do ciclo celular, impede o desenvolvimento de céluTENHO CÂNCER. E AGORA?
las malignas resistentes aos próprios medicamentos, aumentando as chances de uma destruição completa do câncer.
Protocolo
Sempre baseado nas análises estatísticas de estudos rigorosamente controlados, o oncologista escolhe o tratamento
com maiores chances de sucesso para cada caso. A combinação das drogas, suas doses e todo o esquema de administração formam um protocolo. Trata-se de um guia para o
tratamento que será adaptado à realidade de cada paciente.
Durante o tratamento, ajustes de doses e mudanças nas
datas de aplicação ocorrem com certa freqüência, o que
não deve se tornar motivo de ansiedade para o paciente.
A quimioterapia, como modalidade de tratamento,
pode ser empregada em três condições distintas: como
terapia principal, de forma adjuvante e neo-adjuvante.
Terapia principal
A quimioterapia é indicada como tratamento principal,
isto é, como a base de toda a proposta de tratamento, para a
maior parte das neoplasias hematológicas e diversos tumores
sólidos. O objetivo pode ser a cura ou o controle da doença.
Seguindo um protocolo de tratamento com diferentes
drogas, o médico busca eliminar qualquer vestígio da doença de seu organismo (remissão). Obter a remissão é o primeiro passo para a cura.
Quimioterapia adjuvante
Mesmo após um tratamento local aparentemente completo, células malignas podem permanecer espalhadas pelo
corpo, formando agrupamentos celulares microscópicos.
Impossíveis de serem identificadas por qualquer método de
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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imagem, as micrometástases têm capacidade de gerar
novos tumores, determinando a recidiva da doença.
A quimioterapia aplicada imediatamente após a remoção cirúrgica do tumor primário recebe o nome de quimioterapia adjuvante e apresenta grande eficácia na destruição
dessas metástases microscópicas, aproximando ainda mais
o paciente da cura.
A quimioterapia adjuvante é escolhida tendo por base
todas as informações obtidas durante a cirurgia e após o
estudo microscópico do material colhido. Esses achados
indicam a probabilidade de ocorrer uma recidiva da doença e orientam o oncologista quanto à necessidade de um
tratamento complementar.
No tratamento adjuvante, não há sinais clínicos ou
laboratoriais da doença. Na verdade, uma boa parte dos
pacientes que inicia a quimioterapia adjuvante já está livre
da doença antes mesmo de começar a receber a medicação. Ocorre, entretanto, que não há meios para se afirmar
isso com segurança.
O fato de se estar tratando algumas pessoas já curadas
faz com que os protocolos de quimioterapia adjuvante
sejam necessariamente seguros e bem tolerados.
Quimioterapia neo-adjuvante
Quando o tratamento quimioterápico precede a cirurgia, é chamado de neo-adjuvante. Nesses casos, a idéia é
reduzir o tumor para permitir um melhor resultado cirúrgico, ao mesmo tempo em que se avalia a sensibilidade do
tumor às drogas.
Quimioterapia regional
No tratamento quimioterápico regional, o objetivo é o
TENHO CÂNCER. E AGORA?
controle local da doença. Injeção na artéria hepática para
tratamento de tumores do fígado e aplicação de drogas dentro da bexiga, como complemento à retirada de um tumor
nesse órgão, são alguns exemplos dessa modalidade de tratamento. Apesar de não poder contar com a atividade sistêmica do quimioterápico, o paciente se beneficia pela grande ação local e menor intensidade de efeitos colaterais.
Tratamento combinado
Os tratamentos combinados, em que a ação de duas
modalidades de tratamento se somam para uma maior efetividade, tornam-se mais comuns a cada dia. Na aplicação
de quimioterápicos simultaneamente à radioterapia, por
exemplo, obtêm-se melhores resultados locais, com alguma ação no resto do corpo.
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ADMINISTRANDO UMA NOVA REALIDADE
Seja qual for o tratamento em curso, a aplicação de drogas quimioterápicas cria uma condição de fragilidade para
o paciente. Cuidados com a higiene pessoal, respeito aos
novos limites do corpo e atenção aos possíveis sinais e sintomas de complicações infecciosas devem ser incorporados
ao dia-a-dia de todo paciente.
Quimioterapia é uma forma de tratamento baseada
na administração de substâncias químicas no organismo
do paciente.
Esses medicamentos atuam na célula maligna principalmente durante sua divisão, interferindo na duplicação do
DNA ou na produção de proteínas. Tais efeitos, acentuados
nos tecidos com alto grau de renovação, determinam sua
grande toxicidade.
A ação dos quimioterápicos se estende para todas as
TENHO CÂNCER. E AGORA?
partes do corpo, sem obedecer a limites anatômicos –
exceção feita ao Sistema Nervoso.
Os quimioterápicos, utilizados de forma combinada ou
isolados, são administrados de acordo com um calendário.
Intervalos de tempo, que permitam a recuperação do organismo, separam as aplicações.
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FORMAS DE TRATAMENTO
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radioterapia
Em 1985, Wilhelm C. Röentgen, físico alemão, descobriu uma nova forma de energia capaz de sensibilizar filmes fotográficos protegidos da ação da luz.
Batizada de Raios X, essa energia rapidamente transformou-se em ferramenta para diagnósticos na medicina.
Os primeiros experimentos para demonstrar a ação
biológica da radioatividade ocorreram ainda no século
passado. Nomes como Pierre e Marie Curie fazem parte
dessa história.
Pela sua capacidade de destruir células malignas, a radioterapia representa hoje uma importante arma no combate ao câncer. O princípio dessa ação é semelhante ao da quimioterapia: interferindo nas moléculas de DNA, os raios
ionizantes bloqueiam a divisão celular ou determinam sua
destruição na tentativa de realizar a divisão. Por isso, sua
ação é maior sobre células em processo de multiplicação.
A ação da radioterapia está restrita à área tratada, constituindo-se, como a cirurgia, em um tratamento com caráter local e regional. Seus efeitos tóxicos são também localmente limitados. Assim, não há risco de lesão aos órgãos
fora do campo de irradiação.
Irritações ou leves queimaduras na pele, inflamações
das mucosas, queda de cabelo nas áreas irradiadas e diminuição na quantidade de células do sangue são os efeitos
colaterais mais freqüentes, variando sua intensidade de
acordo com as doses utilizadas e as regiões tratadas.
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A radioterapia pode ser empregada com o objetivo de eliminar totalmente o câncer, visando à cura do paciente, ou
diminuir os sintomas da doença para evitar as possíveis complicações decorrentes da presença e do crescimento do tumor.
Para alcançar esses objetivos, a radioterapia pode ser
combinada à cirurgia e à quimioterapia ou mesmo empregada como recurso isolado.
Duas formas de irradiação são utilizadas na prática clínica: a Teleterapia e a Braquiterapia.
Teleterapia
É a irradiação feita à distância da área tratada, podendo-se definir com clareza os limites desse tratamento.
Nessa forma de radioterapia, os efeitos tóxicos aos órgãos
saudáveis são evitados ou minimizados por meio de proteções especiais, pelo fracionamento das doses (aplicações
diárias ao longo de semanas) e pela administração dos raios
através de diversos ângulos (campos de irradiação).
Optando-se pelo tratamento com radioterapia, o seu
planejamento normalmente inicia-se com a simulação.
Simulação
Nessa fase, são reproduzidas as condições de tratamento. Define-se a posição que o paciente irá adotar durante as
futuras aplicações e, utilizando-se raios X, visualiza-se a
área a ser irradiada.
O posicionamento preciso é definido nessa fase, o que
pode exigir o desenvolvimento de suportes e apoios que
garantam que o paciente permaneça exatamente na
mesma posição em todas as sessões.
As áreas pelas quais os raios ionizantes vão penetrar no
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organismo são chamadas de campos de irradiação, sendo
marcadas na pele para orientar as futuras aplicações e
garantir a reprodutibilidade de forma precisa.
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Planejamento
A fase de planejamento é desenvolvida com os dados
obtidos durante a simulação. Nessa etapa, todos os cálculos de dose – dose total, distribuição, período de administração – são realizados. Participam dessa etapa o médico,
o físico e o dosimetrista.
As aplicações são geralmente realizadas de segunda a
sexta-feira, reservando-se os fins de semana para a recuperação dos tecidos saudáveis. A distribuição da dose total ao
longo de semanas permite uma maior tolerância do organismo à irradiação.
Durante todo o tratamento, o paciente recebe o acompanhamento do médico radioncologista, que avaliará a tolerância de seu organismo. Efeitos tóxicos acentuados podem
determinar a suspensão temporária ou permanente das irradiações. Esses têm sido pouco freqüentes nos dias atuais.
Nos últimos anos, a ampla informatização do setor vem
possibilitando maior exatidão na aplicação das irradiações.
Planejamentos computadorizados, baseados em imagens
radiológicas precisas, garantem absoluto rigor na administração dos raios, determinando melhores resultados, com
mínimos efeitos colaterais. Essas novas modalidades são
chamadas de radioterapia conformada tridimensional (RT3D – que contorna o formato do tumor), com modulação
de intensidade da radiação (IMRT), e permitem aumentar
a dose na área de interesse, com maiores chances de eliminar o tumor e, ao mesmo tempo, poupar os tecidos normais ao redor, diminuindo os efeitos colaterais e melhoranTENHO CÂNCER. E AGORA?
do a qualidade de vida dos pacientes.
Etapa de teleterapia
Após a realização do planejamento, inicia-se o tratamento que, na teleterapia, consiste em sessões diárias de
aproximadamente 15 minutos, por períodos que variam
entre duas e sete semanas.
É indolor e, para sua reprodução com perfeição, deve
ser realizado exatamente como na simulação. Para tal, os
técnicos irão posicioná-lo da mesma forma e localizar os
campos de tratamento demarcados na sua pele.
Durante o tratamento, são realizadas radiografias periódicas, geralmente uma vez por semana, que servem para
controle de qualidade e para ter certeza de que o tratamento está sendo aplicado corretamente.
Braquiterapia
É uma forma de radioterapia em que materiais radioativos são implantados nas proximidades do tumor.
A palavra braquiterapia origina-se do grego (brachys =
junto, próximo) e define uma modalidade de tratamento
que permite administrar doses de radiação diretamente nas
células malignas, poupando os tecidos saudáveis de seus
efeitos tóxicos.
A braquiterapia pode ser diferenciada pela taxa de dose
de radiação e pelo local de aplicação. Quanto às taxas de
radiação, os procedimentos são classificados em braquiterapia com altas (HDR) ou baixas taxas de dose (LDR).
A braquiterapia de alta taxa de dose costuma ser aplicada em regime ambulatorial. O material radioativo permanece por poucos minutos no interior do organismo, tempo
suficiente para a liberação da dose ideal de radiação.
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Quando baixas taxas de dose são utilizadas, a fonte de
radiação deve ser mantida no interior do corpo por mais
tempo, geralmente de dois a três dias. Durante esse período, o paciente fica internado no hospital.
A braquiterapia pode ser realizada com a introdução de
material radioativo no órgão. Essa técnica, freqüentemente
empregada no tratamento dos tumores ginecológicos, recebe
o nome de intracavitária (dentro da cavidade).
Uma outra forma de braquiterapia é a endoluminal
(dentro da luz), na qual a fonte de radiação é posicionada
no interior de um órgão tubular, como o brônquio pulmonar ou o esôfago, através de um cateter, para liberar altas
doses de radiação, por um curto período de tempo.
Na braquiterapia intersticial (em meio ao tecido), o
material radioativo é introduzido por uma cirurgia, podendo permanecer por um tempo limitado (implante temporário) ou ser mantido indefinidamente no local (implante
permanente).
Na braquiterapia intersticial temporária, o material
radioativo é retirado após alcançar-se a dose planejada.
O tratamento do câncer de próstata pela implantação
de “sementes” é um exemplo de braquiterapia intersticial
permanente.
Radiocirurgia
Os avanços tecnológicos viabilizaram o que se convencionou chamar de radiocirurgia. Esse tratamento é freqüentemente utilizado para o controle de tumores cerebrais de difícil acesso para o neurocirurgião.
Trata-se de uma forma de radioterapia externa, realizada em uma única sessão ou em poucas sessões, com a aplicação de uma alta dose de radiação, restrita a uma área
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muito pequena do cérebro.
Na radiocirurgia, o tumor localizado na profundidade
do cérebro é atingido por altas doses de radiação, enquanto os danos ao restante do tecido nervoso são evitados pela
multiplicação dos pontos de entrada de raios. A passagem
dos feixes de raios através de uma infinidade de diferentes
áreas do cérebro, todos convergindo para o tumor, determina um efeito terapêutico máximo, com mínima ação dos
tecidos nervosos sadios.
Os raios ionizantes são aplicados em arcos de radiação
ou através da composição de múltiplos campos colimados,
orientados por um sistema de coordenadas espaciais que
localiza a lesão no interior do tecido cerebral. Isto é, a posição da fonte da radiação varia durante a aplicação, mantendo-se o feixe de raios focalizado na lesão a ser tratada.
A necessidade de extrema precisão na aplicação dos
raios ionizantes por uma fonte de radiação que varia sua
posição exige uma imobilização precisa, que pode ser obtida pela fixação de um arco metálico no crânio do paciente
ou pela confecção de máscaras especiais.
MITOS E VERDADES
As informações sobre o tratamento serão fornecidas
pela equipe da radioterapia. Todas as dúvidas devem ser
discutidas com os profissionais do setor que estão preparados para solucioná-las.
Independentemente da forma de irradiação empregada,
interna ou externa, os efeitos da radioterapia estão restritos ao paciente. Não há qualquer possibilidade de transmissão da radiação entre pessoas, mesmo nos contatos mais
íntimos. Isto é, o paciente não se torna radioativo.
Com o desenvolvimento tecnológico da especialidade o
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risco de efeitos colaterais diminuiu.
O indivíduo sob tratamento pode ficar mais suscetível
a infecções, apresentando-se, muitas vezes, indisposto para
atividades físicas e sociais.
Freqüentemente, em função de inflamações nas mucosas (mucosite) do tubo digestivo atingidas pelo feixe de
raios, o paciente tem dificuldades para alimentar-se. A
opção por comidas frias, evitando a ingestão de substâncias
ácidas, é uma boa orientação a ser seguida.
A radioterapia administrada externamente ao corpo ou
pela colocação da fonte de raios no seu interior representa
uma importante ferramenta no combate ao câncer.
Sua ação é local e determina a destruição das células
malignas ao interferir na estrutura das moléculas de DNA.
Seus efeitos colaterais, geralmente restritos às áreas
irradiadas, também decorrem dessa ação sobre as células
do sangue.
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apesar de implicar poucos riscos aos pacientes, pode determinar sintomas de menopausa e impotência.
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hormonioterapia
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Hormônios são mensageiros químicos que circulam pelo
sangue, coordenando uma série de ajustes internos do organismo. A ação dos hormônios se faz notar no metabolismo,
no crescimento, na diferenciação sexual e na reprodução.
Uma grande diversidade de modificações no metabolismo pode ser creditada aos hormônios da tireóide, das glândulas supra-renais e do pâncreas. Algumas características
das mulheres, como crescimento das mamas e acúmulo de
gordura nos quadris, são determinadas pela presença de
hormônios sexuais femininos. Nos homens, o crescimento
dos pêlos e a maior massa muscular resultam da ação dos
hormônios masculinos.
Os hormônios sexuais estão também envolvidos no
desenvolvimento de diversos tumores malignos: câncer de
mama, do útero, da próstata etc.
Os tumores com origem nesses órgãos são constituídos
por células originalmente sensíveis à ação desses hormônios. Daí a dependência que tais tumores costumam estabelecer com os hormônios.
Devido a essa dependência, o bloqueio hormonal é eficaz na destruição das células malignas, inibindo o crescimento tumoral. O bloqueio hormonal, após a retirada de
um tumor de mama, por exemplo, já é rotina na prática clínica. Para o câncer de próstata também há várias alternativas de terapia hormonal.
A hormonioterapia é indicada com muito critério, pois,
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imunoterapia
As últimas três décadas assistiram a um grande avanço no
conhecimento médico sobre o Sistema Imunológico. Seus componentes, os “mensageiros” envolvidos e a forma de atuação de
cada um deles puderam ser reconhecidos, permitindo uma
clara visão do seu funcionamento.
O câncer é um elemento estranho ao organismo sadio,
sendo muitas vezes comparado a um parasita invasor. Dessa
forma, não deve causar surpresa o fato de que o Sistema
Imunológico pode reconhecê-lo e destruí-lo e que, em condições de mau funcionamento das defesas do organismo,
como na AIDS, as doenças malignas tornem-se freqüentes.
Grandes investimentos em pesquisa vêm sendo realizados na tentativa de desenvolver ferramentas que permitam
interferir no funcionamento do Sistema Imunológico, com o
objetivo de controlar o câncer. Nesse processo, vários medicamentos já foram criados e introduzidos na prática clínica.
Interferon, Interleucinas e, principalmente, os anticorpos monoclonais são parte integrante do arsenal terapêutico para o combate ao câncer em nosso meio, sendo utilizados dentro de diversos protocolos de tratamento.
Atualmente, os anticorpos monoclonais vêm demonstrando ser merecedores do título de terapia-alvo, pela sua
alta eficácia e especificidade.
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transplante de medula óssea
Esqueça qualquer imagem de cirurgias complexas e demoradas ou mesmo de recuperações pós-operatórias delicadas em centros de terapia intensiva.
O transplante de medula óssea (TMO) é um procedimento clínico no qual os limites de tolerância do organismo à ação dos quimioterápicos são estendidos, permitindo
tratamentos mais agressivos e eficazes. Por isso, o TMO,
que surgiu timidamente na década de 1960, ocupa hoje
um lugar de destaque no combate ao câncer.
Medula óssea
É o tecido responsável pela produção das células do
sangue: leucócitos (glóbulos brancos), eritrócitos (glóbulos
vermelhos) e plaquetas.
Formada por um conjunto de células jovens em suspensão, a medula distribui-se no interior dos ossos, concentrando-se em algumas áreas do esqueleto. Os ossos da
bacia e da coluna vertebral e alguns ossos chatos, espalhados pelo corpo, são os principais sítios de produção das
células do sangue no adulto.
óssea é destruída, tornando-se necessária a sua substituição.
A recuperação da capacidade de produzir sangue no
organismo do paciente é determinada por células sanguíneas jovens de uma medula óssea não tratada. Uma quantidade relativamente pequena dessas células, denominadas
toti-potentes, administradas ao paciente que teve sua
medula óssea destruída pela quimioterapia, consegue repovoar o interior de seus ossos, retomando a produção das
células do sangue.
Na coleta de células para um TMO, a medula óssea é
aspirada do interior dos ossos, geralmente da bacia, filtrada e armazenada em bolsas plásticas iguais às usadas em
coletas de sangue, podendo ser congelada para posterior
utilização. Trata-se de um procedimento realizado no centro cirúrgico com o doador anestesiado.
Já há algum tempo, passou-se a coletar as células totipotentes do doador no sangue periférico, por um processo
denominado de aférese, após a estimulação de sua medula
óssea (ver adiante).
Para a reposição da medula óssea, o processo é simples:
basta administrar o conteúdo da bolsa através de uma veia do
paciente, como numa transfusão de sangue convencional.
Classificação dos transplantes de medula óssea
Existem três tipos de TMO:
em que a medula óssea do próprio
paciente é empregada para sua recuperação;
B) ALOGÊNICO, quando a medula óssea de um doador
é empregada para a reconstituição do Sistema
Hematológico;
C) SINGÊNICO, realizado entre gêmeos idênticos.
A) AUTÓLOGO,
Transplante de medula óssea
O TMO é uma forma de tratamento que se utiliza da
quimioterapia em altas doses, combinada ou não à radioterapia, para eliminar as células malignas do organismo.
Como conseqüência das altas doses empregadas, a medula
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Um TMO só é possível quando há uma grande semelhança entre alguns marcadores do Sistema Imunológico,
conhecidos como HLA, dos indivíduos envolvidos. Essa
semelhança é muito mais provável de acontecer entre
membros da mesma família. Por isso, no TMO alogênico,
a medula empregada para a recuperação do paciente é geralmente doada por um irmão.
Etapas do TMO
Todo o procedimento é desenvolvido em quatro fases:
Recentemente, células de cordão umbilical de recémnascidos mostraram-se uma alternativa viável para a recuperação da medula óssea.
CONDICIONAMENTO
É a etapa em que o paciente recebe o tratamento quimioterápico, associado ou não à radioterapia, com o objetivo de destruir as células malignas presentes no interior do
seu organismo. No caso dos transplantes alogênicos, a destruição da medula óssea com o condicionamento cria o
espaço necessário para a medula do doador implantar-se.
COLETA
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No caso de ser o próprio paciente o doador (TMO autólogo), a medula óssea ou as células toti-potentes colhidas
no sangue periférico devem ser obtidas antes de iniciar a
quimioterapia, devendo ser armazenadas sob congelamento, para a posterior infusão.
Nos transplantes alogênicos e singênicos, a coleta de
medula do doador ocorre após completar a quimioterapia
do paciente, próximo ao momento do recebimento dessa
medula, não havendo a necessidade de congelamento.
Avanços tecnológicos permitiram desenvolver uma
nova forma de obtenção das células toti-potentes, tornando desnecessária a aspiração da medula óssea do interior
dos ossos. Por meio da aférese, uma técnica de coleta para
componentes isolados do sangue, as células toti-potentes
podem ser recolhidas da circulação sanguínea do paciente
após estimulação da medula.
O material assim obtido recebe o nome de células totipotentes do sangue periférico, tendo capacidade para recuperar a produção do sangue nos pacientes submetidos à
quimioterapia.
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INFUSÃO
Momento de maior expectativa de todo o TMO, a infusão é um procedimento simples e rápido. A medula ou as
células toti-potentes colhidas no sangue periférico são injetadas em uma veia qualquer do paciente, distribuindo-se
por todo o organismo. Espontaneamente, essas células
jovens irão procurar seu espaço no interior dos ossos, passando a produzir as células do sangue.
“PEGA” DO TRANSPLANTE
Aproximadamente duas semanas após a infusão, começam a surgir, no sangue do paciente, células já produzidas
pela nova medula. Diz-se, então, que houve “pega” dessa
medula transplantada.
O período entre o condicionamento e a “pega” da
medula é o de maior risco para o paciente. Nessa fase, o
Sistema Imunológico apresenta-se inoperante, abrindo
espaço para graves infecções; daí o uso rotineiro de antibióticos para profilaxia das infecções, na maioria das unidades
de transplante.
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Além dos leucócitos, as demais células do sangue, eritrócitos e plaquetas, encontram-se em número reduzido.
Para evitar complicações, utiliza-se, com freqüência, o
recurso das transfusões.
Outro problema bastante comum é a mucosite. Essa
inflamação das mucosas do tubo digestivo pode impedir a
ingestão de alimentos, causando diarréia e dores no abdome. A complicação cessa com a recuperação do organismo.
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na forma aguda, podendo apresentar lesões de pele, problemas no intestino e mau funcionamento do fígado. Mais tardiamente, alguns pacientes passam para a fase crônica,
com lesões na pele, boca e olhos, além de problemas intestinais e pulmonares, de intensidade variável.
Após um tratamento
No caso de um transplante autólogo, a recuperação
medular praticamente encerra o tratamento. Pouco resta a
fazer a não ser acompanhar as possíveis complicações
desse procedimento e manter a vigilância sobre a doença
que motivou o tratamento.
Já no TMO alogênico, o acompanhamento médico é
necessário por um tempo indefinido. Com o transplante, o
paciente adquire um novo Sistema Imunológico, que passa
a reconhecer o restante do seu organismo como estranho.
Ao contrário dos transplantes de órgãos, nos quais a
rejeição é o maior obstáculo para o sucesso do tratamento,
no TMO alogênico, a nova medula é que pode agredir o
organismo que passou a hospedá-la. Esse efeito é conhecido como doença do enxerto contra o hospedeiro, em
inglês = Graft Versus Host Disease ou GVHD.
Ao mesmo tempo em que é capaz de causar importantes transtornos para o paciente submetido ao transplante,
acredita-se que essa reação tenha algum efeito contra as
doenças malignas em tratamento, especialmente no caso
das leucemias.
Boa parte dos pacientes submetidos ao TMO alogênico
evolui nos primeiros meses após o tratamento com GVHD
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transfusões sanguíneas
A primeira transfusão sanguínea entre seres humanos
de que se tem registro ocorreu no século XVII. Entretanto,
foi somente no início deste século que as conquistas tecnológicas permitiram o uso mais difundido desse recurso.
O reconhecimento das diferenças entre os indivíduos
para a escolha do doador, o uso dos anticoagulantes durante a coleta e o domínio das técnicas de esterilização foram
fundamentais para essa evolução.
O fracionamento do sangue, que permite o uso isolado
de cada um de seus elementos, e a identificação das doenças transmissíveis representam os avanços mais recentes
dessa forma de tratamento.
Por que usar o sangue?
Mesmo com toda a evolução da medicina, ainda não foi
possível reproduzir muitas das funções que o sangue exerce em nosso organismo. Daí a importância das transfusões
em diferentes condições: no atendimento aos politraumatizados e queimados, nas cirurgias, nas infecções e no câncer.
O sangue
O sangue é formado por três diferentes tipos de células:
◗ glóbulos vermelhos, ou eritrócitos
(também chamados de hemácias);
◗ glóbulos brancos, ou leucócitos;
◗ plaquetas.
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Os glóbulos vermelhos são as células encontradas em
maior número na circulação, sendo as responsáveis pelo
transporte de oxigênio para todo o corpo. Sua cor vermelha é devida a uma proteína chamada hemoglobina, que se
liga ao oxigênio nos pulmões, liberando-o nas diferentes
partes do organismo.
Já os leucócitos desempenham um importante papel de
proteção no corpo: reconhecem e eliminam o agente invasor.
As plaquetas correspondem a pedaços de células que
atuam impedindo as hemorragias ao formar, na parede dos
vasos sanguíneos, um tampão sobre o qual o coágulo se
deposita.
Tendo em mente essas diferentes funções, fica fácil
compreender as conseqüências da diminuição no número
de cada uma dessas células na circulação.
Quando há falta de hemácias, o transporte de oxigênio
fica prejudicado, fazendo com que a pessoa se canse aos
mínimos esforços e exigindo que seu coração trabalhe acelerado todo o tempo.
Quando a contagem de plaquetas no sangue cai, condição conhecida como plaquetopenia, passam a ocorrer sangramentos espontâneos. As gengivas e a pele são locais
comumente envolvidos, mas podem ocorrer hemorragias
internas, de maior gravidade.
A diminuição dos leucócitos expõe o organismo às
infecções.
Transfusões
Todas essas alterações causadas pela própria doença ou
pelo seu tratamento são, na maioria das vezes, transitórias
e bem toleradas. Para os raros casos em que uma situação
de maior gravidade se desenvolve, em decorrência da
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redução na contagem das células do sangue, existe o recurso das transfusões.
Concentrados de hemácias, para a correção da anemia,
e concentrados de plaquetas, para casos de plaquetopenias
severas, são os mais utilizados.
A seleção dos doadores de sangue obedece a rigorosos
critérios, visando à proteção dos próprios doadores e de
quem for receber o sangue.
Após a coleta, são realizados diversos testes em amostras do material, com o objetivo de reconhecer qualquer
doença que possa ser transmitida por esse sangue. Nos
casos em que persistem dúvidas, o sangue é sempre desprezado.
Antes de qualquer transfusão, são colhidas amostras de
sangue do paciente para confrontá-lo com o material a ser
transfundido. Dessa forma, a maior parte das reações possíveis de ocorrer durante uma transfusão é reconhecida no
laboratório e, portanto, evitada.
Os bancos de sangue podem proceder às coletas de
duas formas distintas:
a) por meio da retirada de um volume padrão (450 ml)
de sangue “integral”, que posteriormente será fracionado
nos seus componentes (plasma, crioprecipitado, concentrado de hemácias e de plaquetas);
b) pela coleta seletiva de um elemento específico do
sangue no qual se esteja interessado. Nesse procedimento,
chamado de aférese, o sangue do doador é processado por
uma máquina que retira apenas a parte desejada.
de sangue, com menor risco de reação para o paciente que
receber a transfusão.
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A aférese é extremamente útil na doação de plaquetas.
Um doador, em uma única coleta, fornece a mesma quantidade de plaquetas obtida em dez coletas convencionais
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lidando com infecções
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O homem convive com milhões de formas de vida distintas, a maior parte delas microscópica. Todo o nosso
corpo é recoberto por microrganismos, principalmente bactérias, que vivem sobre a pele sem causar grandes transtornos. No interior da boca, são responsáveis pelas cáries e
inflamações nas gengivas, enquanto no intestino, ao
mesmo tempo em que produzem vitaminas utilizadas no
nosso metabolismo, podem causar infecções.
Para permitir essa convivência, o organismo dispõe de
diversos mecanismos de defesa. A pele e as mucosas representam um obstáculo mecânico à entrada desses seres em
nosso corpo. No Sistema Urinário, nas vias biliares, nas
vias aéreas e em diversos outros setores do organismo, o
fluxo contínuo de líquidos impede o crescimento das bactérias e facilita sua remoção.
Nos casos em que o microrganismo consegue vencer
essas defesas, ele passa a ser tratado como um agente invasor pelo nosso Sistema Imunológico. Diversas células sanguíneas participam dessa reação: macrófagos, linfócitos e
neutrófilos (os leucócitos) são os responsáveis pela resposta imunológica do organismo.
Uma doença maligna pode desestruturar essas defesas
ao romper as barreiras mecânicas, paralisar a eliminação
das secreções ou interferir com o funcionamento das células de defesa. Tais situações colocam o paciente com câncer sob constante risco de infecção.
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Em tratamento
Iniciado o tratamento, os riscos de infecção tornam-se
maiores, principalmente quando a radioterapia ou a quimioterapia são utilizadas.
A maior parte dos quimioterápicos interfere também na
multiplicação das células normais do corpo, sendo as células
do sangue e das mucosas as mais atingidas. Combina-se, dessa forma, a dificuldade de recuperação das mucosas com a diminuição das células responsáveis pela defesa do organismo.
Por isso, as infecções tornam-se relativamente comuns
durante o tratamento. As regiões de maior risco são os pulmões, a boca e a região próxima ao ânus, que representam
uma “porta de entrada” para o interior do corpo.
Uma vez na circulação, os agentes infecciosos encontram certa facilidade de crescimento e multiplicação, em
decorrência do pequeno número de leucócitos no sangue,
o que permite às infecções uma evolução mais agressiva.
Nas infecções em indivíduos com baixas contagens de
leucócitos (leucopênicos), o médico precisa agir prontamente para impedir sua disseminação. Nesses casos, são
geralmente empregados potentes antibióticos, mantendose controle rigoroso da evolução do quadro clínico e vigilância sobre a contagem de células do sangue.
Atualmente, existem disponíveis no mercado medicamentos capazes de estimular a produção de leucócitos pela
medula óssea. Com o nome de Fatores de Crescimento de
Colônias de Granulócitos (G-CSF) e de Granulócitos e Monócitos (GM-CSF), essas drogas podem acelerar a recuperação do organismo submetido à quimioterapia ou radioterapia.
Cada quimioterápico determina efeitos colaterais distintos e com intensidade diferente nas várias células do
nosso organismo. Esses danos também diferem quanto ao
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momento em que se manifestam. Na maior parte das vezes
em que se emprega uma droga tóxica à medula óssea, a
queda na contagem de leucócitos no sangue passa a ser
reconhecida uma semana após sua aplicação, época em
que os sinais de mucosite também se manifestam.
Nos tratamentos radioterápicos, os efeitos colaterais
variam conforme a área irradiada. A diminuição do número de leucócitos, semelhante à descrita para a quimioterapia, e a inflamação das mucosas das áreas envolvidas pelo
tratamento são os danos mais comuns.
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Cuidados
Alguns cuidados, como banho diário, ótima higiene
oral (incluindo a limpeza dos dentes com escovas de cerdas macias e fio dental) e uso de água e sabão para limpeza da região anal, mostram-se importantes para evitar as
infecções. De qualquer maneira, todas as orientações quanto à profilaxia de infecção devem ser discutidas com a
equipe médica antes de serem implantadas.
Quando o número de leucócitos estiver reduzido, é preciso evitar qualquer manipulação da região anal, mesmo a
simples colocação de supositórios, pelo risco de infecção.
Nos casos de prisão de ventre (obstipação) severa,
quando os laxativos não forem eficazes, o médico avaliará
a contagem de leucócitos no sangue antes de realizar uma
lavagem intestinal.
Como regra geral, o paciente sob quimioterapia deve
evitar aglomerações e contato com pessoas suspeitas de
doenças infecciosas.
Situações em que possam ocorrer traumatismos têm de
ser evitadas também, exigindo a suspensão das atividades
esportivas durante o tratamento.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
As relações sexuais genitais não costumam representar
um fator de risco para infecção. Nos casos em que a região
próxima aos órgãos genitais estiver sendo irradiada, podem
ser usados lubrificantes solúveis em água para evitar lesões
pelo atrito na mucosa genital.
IMPORTANTE: as
dúvidas devem ser sempre esclarecidas.
Perguntar ao seu médico sobre a necessidade de cuidados
especiais pode evitar uma série de transtornos.
A febre
Febre significa elevação da temperatura do corpo e
pode ser causada pela presença de diferentes substâncias
na circulação sanguínea.
A temperatura normal do corpo, medida com um termômetro na região axilar, é 36,8ºC, sendo discretamente
superior quando obtida pela boca ou ânus. O grau de atividade física, a temperatura e as condições de ventilação no
ambiente podem determinar pequenas variações nesse
número.
Na prática, qualquer temperatura superior a 37,5ºC,
medida com um termômetro na região axilar, é considerada febre.
As infecções são as principais responsáveis pelo surgimento da febre. Em alguns casos, em que a contagem de
leucócitos está diminuída, a febre pode representar o único
sinal de que um processo infeccioso esteja se desenvolvendo. Por isso, a febre é um alarme valioso para o paciente
em tratamento e a sua ocorrência deve ser notificada à
equipe médica sem perda de tempo. O início precoce do
tratamento com antibióticos é fundamental para o controle da infecção nos indivíduos leucopênicos. Retardar o traTENHO CÂNCER. E AGORA?
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tamento pode permitir a disseminação da infecção em
curto intervalo de tempo.
Quando se recorre a um médico não envolvido no tratamento, é fundamental informá-lo sobre o diagnóstico, as
condições clínicas e o tratamento em curso. Só assim ele
terá mais possibilidades de tomar uma decisão acertada
sobre o caso.
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TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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86
terapias complementares
O câncer afeta o paciente e sua família em todos os
aspectos da sua vida, exigindo, além de uma equipe médica especializada, um suporte multidisciplinar de profissionais habilitados para promover o alívio do sofrimento e
atender às suas mais diversas necessidades.
O que são terapias complementares?
São consultas realizadas por profissionais especializados, visando à promoção do bem-estar do paciente, assim
como sua adesão aos tratamentos médicos convencionais,
dando apoio, informações e orientações direcionadas para
um melhor enfrentamento da doença e seus tratamentos.
Converse com seu médico a respeito e procure informar-se sobre os serviços de terapia de suporte disponíveis
na sua cidade.
rar ou manter a condição física de pacientes e ex-pacientes
com câncer, estando ou não em tratamento quimioterápico e/ou radioterápico.
Devido aos tratamentos, o paciente pode apresentar
seqüelas como: diminuição da capacidade física e respiratória para as atividades de vida diária, diminuição ou
ausência da movimentação em alguma parte do corpo, dor,
enfraquecimento muscular e/ou encurtamentos musculares, que podem ser minimizados por meio de tratamentos
fisioterápicos específicos.
Fonoaudiologia
Em decorrência de alguns tipos de câncer na área do cérebro, de cabeça e pescoço ou em conseqüência dos tratamentos, os pacientes podem encontrar dificuldades na área da fala
e/ou linguagem, articulação, voz, mastigação ou deglutição.
As intervenções terapêuticas em fonoaudiologia, na maioria dos casos relacionados ao câncer de cabeça e pescoço,
têm resultados rápidos, o que mantém o otimismo do paciente, facilitando os seus objetivos de reabilitação e adaptação de
próteses (traqueoesofágicas ou eletrolaringes, por exemplo).
Psicoterapia
Aconselhamento e suporte para pacientes e familiares
por meio de atendimento psicológico individual e/ou em
grupo, bem como assistência na abordagem de sintomas
como fadiga, depressão, ansiedade e estresse, podem ser
de grande ajuda para o melhor enfrentamento da doença.
Nutrição
O suporte nutricional direcionado para efeitos colaterais
específicos de tratamentos quimioterápicos ou radioterápicos
e a orientação de dietas específicas são de especial relevância
para o bem-estar do paciente durante a terapia, pois o consumo adequado de calorias e proteínas é muito importante para
a recuperação dos tecidos sadios afetados pelo tratamento.
Fisioterapia
Abordagem terapêutica que tem como objetivo melho-
Enfermagem
A enfermagem oncológica desempenha um papel de
PRINCIPAIS TIPOS DE TERAPIAS COMPLEMENTARES
TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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grande importância na equipe interdisciplinar de saúde,
por atuar nas diversas áreas que atendem o paciente durante o tratamento, seja ele curativo ou paliativo.
A assistência prestada pela enfermagem oncológica nas
terapias complementares aos tratamentos visa promover a
qualidade de vida por meio de informações adequadas e compreensíveis, assim como orientar o paciente e seus familiares
na administração de medicamentos, cuidados com ostomias,
cateteres etc., facilitando, assim, a adaptação do paciente às
limitações físicas decorrentes da doença ou do tratamento.
88
Serviço social
Identificação das condições sociais, econômicas e culturais e orientação de recursos (privados, públicos, filantrópicos e previdenciários) do paciente.
O assistente social presta orientação para facilitar o
retorno à rotina do paciente, identificando o momento de
ser assistido em casa e assegurando sua volta ao trabalho.
Assistência espiritual
Pode ser de grande valia para pacientes e familiares em
momentos difíceis de questionamentos. Muitos poderão
encontrar respostas na reafirmação da fé e da religião.
Arteterapia
Trabalho terapêutico, individual ou em grupo, que utiliza a arte (pintura, colagem, argila, por exemplo) como expressão das emoções. O enfoque é terapêutico, sem preocupação com o desempenho estético e artístico.
Por meio da arte, o paciente desenvolve uma linguagem plástica, não apenas para expor sua sensibilidade estética, mas para estabelecer um diálogo interno, podendo
TENHO CÂNCER. E AGORA?
fazer opções formais de equilíbrio, cores, materais etc. Ao
travar esse diálogo, o paciente abre as portas para sua percepção e se enriquece em um momento difícil e doloroso.
Musicoterapia
Explora os efeitos terapêuticos da música, promovendo
autoconhecimento, criatividade, prazer e relaxamento.
Na musicoterapia, os pacientes “produzem” sons e
melodias utilizando instrumentos musicais, corporais e
outros. Ao contrário do que se pensa, o paciente não precisa saber ou conhecer música.
Terapias corporais
Intervenções utilizadas para favorecer o alívio da dor e
de sintomas, reduzir ansiedade e estresse do paciente. Tais
técnicas contribuem para a conscientização corporal e para
o bem-estar geral, integrando com harmonia as dimensões
físicas, psicológicas, sociais e espirituais do paciente.
Entre elas, destacam-se:
ACUPUNTURA, que
tem como objetivo controlar as dores
e aliviar os efeitos colaterais induzidos por determinados
tipos de quimioterapia, como náusea e fadiga, por exemplo.
REFLEXOLOGIA, ciência que lida com o princípio de que
nos pés e nas mãos existem áreas de reflexos que correspondem a todos os órgãos, glândulas e partes do corpo e
que podem ser estimuladas por massagens. Seu objetivo é
diminuir o estresse, a depressão e promover o alívio da dor.
IMPORTANTE: seu
médico deve ser informado a respeito de qualquer abordagem terapêutica complementar que
você venha a fazer.
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RICARDO CAPONERO
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terapias de suporte
Submeter-se a terapia para um câncer significa, muitas
vezes, receber uma combinação de tratamentos potencialmente tóxicos, com impactos severos na vida do indivíduo.
A cirurgia pode trazer mutilação, como a retirada de
uma mama ou a amputação de um membro; ou alteração
de uma função, como a perda da voz, em uma cirurgia de
laringe. A radioterapia talvez provoque diversas alterações
nos tecidos em que é aplicada, causando um prejuízo por
vezes estético, funcional, ou ambos.
Mesmo tratamentos tidos como menos “drásticos”,
como a imunoterapia, as “vacinas”, também podem causar
reações de hipersensibilidade e até choque anafilático.
A quimioterapia é recordista de efeitos colaterais. Por
ser um tratamento sistêmico (que abrange o corpo todo),
eles podem ser mais numerosos. Além disso, a quimioterapia costuma ser o tratamento mais longo que os outros, o
que faz com que haja mais tempo para os eventos adversos
aparecerem ou se tornarem incômodos.
De qualquer forma, o que desejamos aqui não é assustá-lo ainda mais, mas sim falar sobre a importância das
terapias de suporte, ou seja, que há formas adequadas e
bem definidas de lidar com a quase totalidade desses eventos e, se não preveni-los, pelo menos minimizá-los.
É certo que houve avanços na oncologia nas últimas
duas décadas. Muitos medicamentos novos surgiram,
sendo que alguns deles constituíram novas classes terapêu-
TENHO CÂNCER. E AGORA?
ticas e formas de abordagem.
Paralelamente, ocorreu, também, uma grande progressão nos cuidados de suporte, ou seja, nos tratamentos complementares à terapêutica principal, que poderíamos chamar de “coadjuvantes”.
O tratamento de suporte é de fundamental importância
para o sucesso da estratégia terapêutica. Seu objetivo é promover melhor qualidade de vida ao paciente, aumentando
sua confiança e adesão aos tratamentos.
Pode parecer muita presunção para um tratamento de suporte ter objetivos tão amplos, mas não é. Se um paciente
tem vômitos em excesso, sua qualidade de vida é ruim, ele
pensa em desistir, alimenta-se mal, emagrece, desnutre-se, fica
mais vulnerável a infecções, falta às consultas e aplicações, não
recebe as medicações nas doses ou nos dias adequados etc.
Os efeitos colaterais dos diversos tratamentos são
amplos e variáveis de pessoa para pessoa, de doença para
doença e de tratamento para tratamento, por isso seria impossível discutir cada um deles nos mínimos detalhes.
Também é verdade que há uma grande discrepância na
importância que o médico e o paciente dão aos diversos
eventos adversos. Nem sempre um efeito colateral, que é
bem desconfortável para o paciente, é considerado grave pelo
médico, e vice-versa. Como este é um livro voltado para os
pacientes, optamos por oferecer uma visão aproximada para
os problemas que os afligem mais freqüentemente.
Um autor chamado Coates fez, em 1983, uma pesquisa na qual relatou os dez efeitos mais incômodos da quimioterapia, na visão dos pacientes. São eles:
◗ vômitos;
◗ náuseas;
◗ perda de cabelo;
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◗
◗
◗
◗
◗
◗
◗
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pensar em comparecer ao tratamento;
tempo gasto com o tratamento na clínica;
ter de tomar injeção;
falta de ar;
cansaço constante;
dificuldade para dormir;
efeitos na família ou no parceiro.
Vamos ver o que foi desenvolvido para lidar com esses
efeitos adversos, iniciando pelas náuseas e vômitos. Talvez
pareça estranho que náuseas e vômitos causem mais desconforto do que a perda de cabelo, mas uma paciente uma
vez me ensinou essa resposta. Ela trabalhava como balconista e me disse que podia trabalhar normalmente com
uma peruca ou com um turbante, mas que não conseguia
atender um cliente com ânsia de vômito.
Para esses eventos adversos dispomos, hoje, de um
grupo de medicamentos que podem ser usados isoladamente ou combinados aos antieméticos tradicionais (medicamentos para controle da náusea).
Com o ajuste adequado da dose e da melhor medicação
antiemética, pode-se dizer que a imensa maioria dos pacientes experimentará apenas um leve desconforto, como se
tivesse comido algo que “não caiu muito bem”, e essa sensação perdurará por dois ou três dias. Depois disso, tudo
voltará praticamente ao normal. O único problema é que,
para conseguir esse nível de alívio, para alguns pacientes
bastará tomar comprimidos em casa, enquanto para outros
serão necessários alguns dias de medicação endovenosa.
O próximo efeito que mais incomoda na quimioterapia
é a perda de cabelo (alopecia). Embora não seja considerada pelos médicos como grave, já que ninguém morre de
TENHO CÂNCER. E AGORA?
queda de cabelo, ela tem grande repercussão na vida do
paciente, porque é o que estampa na pessoa o seu “diagnóstico”, seu estigma. É a queda dos cabelos que a faz lembrar-se da doença e do tratamento todos os dias de manhã,
ao olhar-se no espelho, mesmo naquele dia em que ela se
sente extremamente bem e não há nenhum medicamento
para tomar, nenhuma consulta e nenhum exame para
colher. Mesmo sem nada disso, sua calvície está lá, lembrando-a de que é uma pessoa doente.
A radioterapia é um tratamento localizado que só costuma produzir efeitos colaterais por onde ela passa (no volume do corpo que é irradiado) por isso, só produz queda de
pêlos na região onde é aplicada. De forma diversa, a quimioterapia, que circula pelo corpo todo, pode produzir
queda de pêlos de todo o corpo. Só que nem todos os medicamentos empregados na quimioterapia têm o mesmo efeito sobre o folículo piloso. Então dizemos que há medicamentos com maior ou menor risco de produzir alopecia.
Pensar em comparecer ao tratamento está relacionado
ao mal-estar que se sente. Quando se controla adequadamente o mal-estar, também se está melhorando esse desconforto. Mas é evidente que, por mais que se minimizem os
efeitos adversos, há todo um significado a mais, toda uma
mudança no ritmo da vida, e é claro que seria muito melhor
poder estar indo para uma infinidade de outros lugares.
Uma forma de evitar o tempo gasto com o tratamento
na clínica e também o “pensar em comparecer” tem sido o
desenvolvimento de medicamentos que podem ser utilizados por via oral, sem a necessidade de ir a clínicas.
Poderíamos incluir em nossa lista de conquistas a solução para o medo ou o desconforto de ter de tomar injeção,
e estaríamos certos. Mas, aqui, dispomos de uma outra
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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solução, que são os cateteres totalmente implantáveis, também chamados de dispositivos de acesso venoso permanente. Há vários tipos deles e, embora ainda seja necessária uma picada para ultrapassar a pele sobre o reservatório
do cateter, seu uso é bastante confortável e seguro.
Já a falta de ar não é um efeito colateral comum aos tratamentos. Na maioria das vezes, a falta de ar é decorrente
de complicações da própria doença, devendo ser sempre
relatada, para que medidas apropriadas possam ser tomadas.
Há situações em que é preciso distinguir falta de ar de
fadiga; perceber se o que falta é o “ar” ou a “energia”.
Lutar contra um câncer, submetendo-se a seu longo tratamento e às angústias do seguimento, requer disposição e
energia. Muita força mesmo. E isso, às vezes, cansa.
Algumas pessoas têm um sono de pedra. Eu ficava de boca aberta quando pegava um ônibus e via gente dormindo, e
tão pesadamente que até perdia o ponto! Há outras tantas pessoas que, mesmo muito cansadas, precisam conseguir um mínimo de conforto e tranqüilidade para conseguir adormecer.
A insônia não é um efeito direto da medicação quimioterápica nem da radioterapia, mas é fácil imaginar que os
mais diversos efeitos colaterais da quimioterapia poderão
interferir no sono.
A primeira providência para tratar a insônia é tentar eliminar as causas que perturbam o sono, ou seja, tratar todos
os outros sintomas.
Se nem assim o sono vier, observe os hábitos do dia-adia e retire todos os estimulantes (chá, café, chocolate, psicoestimulantes e alguns antidepressivos) do período da
tarde; faça atividades físicas no período da manhã; evite
resolver problemas desgastantes à noite e procure fazer
uma atividade que seja relaxante antes de dormir (um
TENHO CÂNCER. E AGORA?
banho quente, uma música suave à meia luz). Se nada
disso der certo, então é a hora de recorrer aos hipnóticos.
Há diversos deles, de diferentes potências e variados períodos de ação, por isso, sempre existe um que funcione.
É importante lembrar que, se você tiver de acordar 15
vezes à noite para ir ao banheiro, o hipnótico não vai
deixá-lo dormir. Por isso, analise bem a causa da insônia.
Pense também que, muitas vezes, a idéia de adormecer
está relacionada com morrer, e a noite traz em si o medo
da morte, a solidão. Muitos pacientes temem que, por estarem todos dormindo, eles vão passar mal e ninguém vai
ver, ou que vão morrer e ninguém vai perceber. Quando
esse é o caso, psicoterapia é uma ótima idéia.
O último evento adverso da nossa lista, mas não o último efeito colateral dos tratamentos, é o “dano” que se
causa aos que estão ao nosso redor. É comum ouvir pacientes dizendo que não têm medo de morrer, só de sofrerem
e de ficarem dependentes dos outros. Essa situação é uma
das mais complexas e lidar com ela implica ter de trabalhar
com a dinâmica sociofamiliar.
Mas, como dizíamos no início deste capítulo, “o que os
olhos não vêem, o coração não sente”; o paciente está mais
preocupado com a sua unha que está descolando e doendo
do que com o resultado alterado de um exame laboratorial.
Não que isso seja errado, mas é bom saber que há um tratamento de suporte eficiente e que estão sendo tomadas todas
as medidas necessárias para que os eventos adversos sejam
evitados, se possível, ou minimizados. O mais importante é
manter um bom contato com a equipe médica e informar, o
mais minuciosamente possível, quais são seus sintomas.
Temos o tratamento de suporte. Faça a sua parte.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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fadiga
A maioria dos pacientes com câncer costuma enfrentar,
além da doença em si, diversos efeitos colaterais, provocados pelos tratamentos para combatê-la, tais como queda de
cabelo, náuseas, vômitos, cansaço e fadiga.
A fadiga pode ser uma das complicações mais freqüentes e desagradáveis associadas ao câncer e ao seu tratamento, particularmente à quimioterapia. Pequenas mudanças
na sua rotina, como alterações no seu padrão de sono ou
de alimentacão, poderão levá-lo a sentir-se profundamente
cansado, desanimado e fraco.
Antes de mais nada, a fadiga não deve ser ignorada. É
preciso considerá-la como um sintoma relevante que pode
afetar negativamente sua vida. A fadiga costuma ser descrita, pela maioria dos pacientes, como um estado de constante letargia, falta de ânimo e de energia, um cansaço,
uma indisposição e sonolência.
Muitos pacientes se culpam por considerarem que
deveriam enfrentar essa “preguiça” com mais “coragem”,
quando, na verdade, a fadiga é uma decorrência de fatores
físicos importantes, para os quais o “heroísmo” não é o tratamento indicado.
Você já deve ter passado por algumas situações de cansaço
que se resolvem simplesmente com uma boa noite de sono. A
fadiga é mais do que isso. É um grau mais profundo de cansaço que não passa apenas com uma noite bem dormida.
Se você tem se sentido fraco o tempo todo e se cansa
TENHO CÂNCER. E AGORA?
com mais freqüência ou mais rapidamente do que de costume no simples desempenho de suas atividades rotineiras,
é provável que esteja fatigado.
Em alguns pacientes, a sensação de fadiga ocorre até
mesmo enquanto estão em repouso.
Além de constantemente cansado, você poderá sentir-se
exausto depois de atividades simples e rotineiras, como, por
exemplo, tomar banho ou fazer uma pequena caminhada.
Dificuldades de concentração, desânimo para falar ou
até para tomar decisões simples podem ser também sintomas de fadiga. Ela pode manifestar-se de diversas maneiras,
em diferentes pessoas. Cada paciente reage a seu modo e
desenvolve sua própria estratégia para melhor manejá-la.
Causas da fadiga
Não há uma única causa específica para a fadiga, pois
são diversos os fatores que podem desencadeá-la.
Tristeza, ansiedade, estresse, conflitos emocionais ou
até mesmo tensão nas relações familiares exigem uma dose
extra de energia e podem causar fadiga. Alterações na sua
rotina também poderão contribuir. Seu tratamento contra
o câncer leva, muitas vezes, a mudanças no seu padrão de
sono, de alimentação e no seu ritmo de trabalho, o que
também resulta em um enorme cansaço.
O fato é que, de repente, toda a sua vida está de pontacabeça e, além de desempenhar suas atividades normais,
precisa arrumar tempo para fazer o tratamento e lidar com
suas novas emoções, que não são poucas, nem fáceis! Com
tudo isso, você está exigindo do seu corpo muito mais do
que ele está acostumado a desempenhar.
Pacientes que sofrem de náuseas ou vômitos durante o
tratamento ou que apresentam perda do apetite acabam
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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alimentando-se de forma inadequada e insuficiente para a
manutenção do seu nível normal de energia.
A anemia é um efeito colateral freqüente entre pacientes que estão em tratamento contra câncer e que também
pode levar à fadiga ou agravá-la. Ela pode ser tratada com
medicamentos que estimulam a medula óssea a produzir
glóbulos vermelhos em maior quantidade ou com transfusão sanguínea, que é o recurso usado no tratamento de
anemias mais severas.
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Algumas sugestões para atenuar a fadiga
Para que seu médico possa ajudá-lo a administrar sua
fadiga, é fundamental que você consiga descrevê-la. Anote
todos os detalhes que puder observar, tais como em que
período do dia ela costuma ocorrer e com qual intensidade. Discuta-os com o seu médico na sua próxima consulta.
Reavalie suas metas de longo e curto prazo. Defina
novos prazos, para torná-las possíveis de se realizar, levando em conta suas atuais condições físicas.
Seja seletivo, dando prioridade aos seus objetivos realmente necessários e interessantes, adiando os menos urgentes. Isso aliviará o estresse, a ansiedade e sentimentos
de culpa e de impotência que normalmente experimentamos quando não conseguimos atingir nossas metas.
Faça duas listas: na primeira, relacione os afazeres inadiáveis que você tem para amanhã. Na segunda, os que
podem esperar um pouco mais. Releia sua primeira lista
após algumas horas, observando se não poderia passar
alguns itens desta para a segunda lista. Faça uma nova lista
para cada dia, até que você se habitue a colocar em primeiro plano as atividades realmente necessárias.
No fim do dia, numa folha de papel, descreva seu nível
TENHO CÂNCER. E AGORA?
de cansaço para cada uma das atividades desempenhadas.
Depois de alguns dias, examinando e comparando seus
relatos, você poderá facilmente identificar seu próprio
padrão de fadiga, detectando quais as atividades que exigem mais de suas forças. Se elas não puderem ser evitadas,
reserve-lhes o período do dia em que costuma estar fisicamente mais disposto para executá-las.
Descubra seu próprio ritmo. Flexibilize seus prazos
para que você possa desenvolver suas atividades confortavelmente. Procure “escutar” o que o seu corpo está lhe
dizendo para não sobrecarregá-lo. Evite fazer mais do que
pode, para poder fazer sempre.
Descanse, mas não demais! Estamos acostumados a
associar sensação de cansaço a necessidade de descanso.
Entretanto, vários estudos comprovam que o excesso de
descanso pode baixar a capacidade do seu organismo de
produzir energia. Talvez isso explique por que, quanto
mais uma pessoa descansa, mais ela deseja descansar.
Quando estiver fatigado, procure descansar sentado, ou
até mesmo em pé, ficando deitado apenas por um pequeno período de tempo. Isso pode parecer contraditório.
Como vou melhorar do cansaço se não descansar? Lembrese de que o condicionamento físico melhora com o exercício e que nenhum atleta ganha uma competição “descansando”. Por outro lado, o esforço desproporcional acaba
levando a contusões. A situação ideal, de melhor rendimento, é obtida com a adequada proporção de atividades
programadas e descanso.
Para algumas pessoas, pequenas caminhadas ou exercícios leves, ao contrário do que possa parecer, contribuem
para debelar o cansaço, proporcionando um relaxamento
agradável e revigorante. Consulte seu médico a esse respeiTENHO CÂNCER. E AGORA?
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to, talvez ele recomende um fisioterapeuta que programará exercícios adequados para o seu caso.
Quando sentir que está precisando descansar, descanse,
mas por períodos curtos de tempo. Assim que você começa a repousar, a freqüência de seus batimentos cardíacos
cai rapidamente, porém, logo em seguida, o ritmo se estabiliza, mesmo que você continue descansando. Portanto,
com vários e breves intervalos de descanso, você estará
dando ao seu coração a oportunidade de bater devagar,
conservando sua energia.
Se desejar cochilar um pouquinho, faça como os gatos,
que dormem por alguns minutos, várias vezes por dia.
Tome cuidado para que isso não interfira no seu sono
noturno, pois nada pode ser melhor do que uma noite de
sono sem interrupções para restaurar suas energias, fazendo-o acordar bem disposto e animado.
Caso sinta dificuldades para adormecer à noite, evite
estimulantes como cafeína, álcool e nicotina por, no mínimo, quatro horas antes de deitar-se. Da mesma forma, não
leve problemas para a cama; deixe para resolver situações
de potencial tensão emocional pela manhã. Quando estiver
na cama, prevendo que terá dificuldades para adormecer,
não fique virando de um lado para o outro. Acenda a luz e
leia alguma coisa divertida ou ligue a TV.
Não tenha medo de pedir ajuda. Distribua entre seus
familiares e amigos as tarefas que exigem grande dispêndio
de energia, tais como arrumar a cama ou fazer compras de
supermercado. Certamente, eles terão prazer em ajudá-lo
a poupar suas forças para atividades mais agradáveis, que
lhe proporcionem maior satisfação pessoal.
Procure manter-se socialmente ativo. Não se isole dos
amigos. Compartilhar sentimentos com pessoas queridas
TENHO CÂNCER. E AGORA?
nos momentos difíceis pode ser muito positivo, desde que
seu ritmo e seus limites de tolerância sejam respeitados.
Não se obrigue a parecer sociável e bem disposto quando, na verdade, está desanimado e sem vontade de conversar ou de “fazer sala” para visitas. Seus amigos irão compreendê-lo se você lhes disser francamente que deseja ficar
um pouco em silêncio.
Se as longas conversas ao telefone têm esgotado suas
energias, deixe a secretária eletrônica atender a todas as
ligações. Assim, mesmo estando em casa, você poderá selecionar com quem e quando deseja falar.
Mantenha sua mente sempre ocupada, mesmo enquanto estiver repousando. Quando perceber que está focando
a atenção na sua doença ou nos seus sintomas, desvie-a
para assuntos de boa qualidade, tais como leitura, música,
cinema ou até mesmo um bom programa de TV. Trabalhos
manuais costumam ser muito eficazes no combate aos pensamentos negativos.
Alimente-se bem e beba o suficiente para manter seu
corpo bem hidratado. Uma dieta equilibrada, rica em ferro,
vitaminas, proteínas e carboidratos, é fundamental para
que seu organismo possa produzir glóbulos vermelhos em
quantidades suficientes para a manutenção de um bom
nível de energia. Pequenas refeições a curtos intervalos de
tempo também são recomendáveis. Seu médico poderá
orientá-lo sobre a dieta mais adequada para você e, caso
julgue necessário, irá prescrever vitaminas e complementos alimentares para suplementá-la.
Lidando com a fadiga no ambiente de trabalho
Dados obtidos em recentes pesquisas mostram que
80% dos pacientes com câncer mantêm suas atividades
TENHO CÂNCER. E AGORA?
101
102
profissionais durante o período de tratamento. Se for esse
o seu caso, uma conversa franca com colegas, subalternos
e chefes sobre sua doença e as limitações pelas quais está
passando (tais como a fadiga) é fundamental para que você
se sinta confortável em seu ambiente de trabalho.
Fale sobre suas atuais condições de produtividade e remaneje suas metas de maneira realista, de modo a poder cumprilas. Explique aos seus colegas o que é a fadiga, como e por que
ela ocorre. Quanto mais informações eles tiverem, melhor
poderão apoiá-lo, além de evitar eventuais mal-entendidos.
Procure administrar bem o seu tempo e delegue poderes para dedicar-se ao que realmente interessa. Não tenha
vergonha de falar sobre suas limitações e de pedir ajuda.
Se, apesar de tudo isso, você sentir que seu desempenho
permanece aquém do razoável, considere a possibilidade
de um afastamento temporário. Sua saúde vale mais do
que a sua “produtividade”.
103
Questões emocionais
Constatar que você está sempre cansado, sem energia
para levar sua vida como antes, não é nada agradável e normalmente traz à tona sentimentos de angústia e impotência. Esses costumam ser os dois maiores temores dos
pacientes portadores de uma doença crônica: sofrimento
físico e sentir-se um peso, um estorvo para os entes queridos. Essas emoções, difíceis de lidar, poderão dificultar o
relacionamento com a família e amigos, piorando ainda
mais a situação.
Se você e seus familiares têm sentido dificuldades para
lidar com esses sentimentos, peça que seu médico indique
um grupo de apoio, com profissionais capacitados para fornecer-lhes suporte emocional.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
1 alimento construtor
19
104
+
nutrição e câncer
Alimentação é um item importante que deve ser observado com atenção durante o tratamento do câncer.
É comum o paciente com câncer apresentar diminuição
do apetite e/ou sintomas (náuseas, vômitos, diarréia, prisão de ventre e dificuldades de deglutição) relacionados à
doença ou aos seus tratamentos, resultando em menor
aceitação alimentar.
Quando ele come menos do que o necessário, o organismo passa a usar as suas reservas, aproveitando a energia
contida na gordura e também nos músculos. Ao longo do
tempo, o paciente emagrece e os seus músculos diminuem
de tamanho, deixando-o mais fraco. Se a falta de nutrientes
no organismo for prolongada, começa a prejudicar sua capacidade de reparação e de defesa contra agentes infecciosos.
Entretanto, nem todo paciente perde peso. Comendo
mais, ao mesmo tempo em que diminuem suas atividades
físicas, muitos pacientes chegam a engordar durante o tratamento. Por isso, é importante estar atento ao próprio
peso e manter uma dieta balanceada e saudável.
O que é uma refeição saudável?
Refeição saudável é uma porção de alimentos que contém nutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas, sais minerais e fibras) em quantidade adequada para
suprir as necessidades do organismo. Para que isso ocorra,
deve-se consumir diariamente uma variedade de alimentos
TENHO CÂNCER. E AGORA?
1 alimento regulador
+
1 alimento energético
{
{
{
constrói, mantém e repara
os tecidos do organismo. Carnes,
leguminosas, ovos e leite.
regula as funções do
organismo e auxilia a digestão.
Frutas, verduras e legumes.
fornece energia para as
atividades diárias. Açúcar, óleo,
pães, cereais e feculentos.
1 refeição saudável
cujas propriedades forneçam os nutrientes essenciais, na
proporção ideal. Tanto a falta como o excesso podem causar desequilíbrio.
Nutrição durante o tratamento do câncer
Quanto MAIS BEM nutrido você estiver, MAIOR será a
sua tolerância aos tratamentos. Isto é, pacientes que
seguem uma dieta balanceada têm melhores condições de
suportar os efeitos colaterais da quimioterapia, radioterapia
ou cirurgia.
Isso não significa que você deve comer muito, e sim
comer BEM. As reservas de energia são importantes para
os períodos em que os efeitos colaterais dos tratamentos
ficam mais acentuados.
A seguir, algumas sugestões para atenuar os possíveis
efeitos colaterais provocados pelos tratamentos.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
105
INAPETÊNCIA
A perda do apetite pode ocorrer como conseqüência
direta da doença ou em decorrência de sintomas como de
febre, problemas gastrointestinais, efeitos colaterais do tratamento ou provocados por questões emocionais.
Orientações:
◗ faça várias refeições por dia;
◗ dê preferência a alimentos de que você gosta;
◗ evite situações de estresse durante as refeições;
◗ experimente lanches frios, iogurtes, sorvetes, pudins
ou sucos de frutas entre as refeições;
◗ se puder, faça algum exercício físico, com orientação
prévia do seu médico.
106
Náuseas e vômitos
As drogas usadas na quimioterapia vêm sendo cada vez
mais eficazes e menos tóxicas.
Mesmo assim, náuseas e vômitos ainda acometem muitos pacientes, trazendo-lhes conseqüências indesejáveis
como perda de apetite, desnutrição, além de desânimo, fraqueza e desmotivação para continuar o tratamento.
Orientações:
◗ dê preferência aos alimentos frios ou gelados, como
iogurtes, queijos frescos, frutas cozidas ou frescas,
gelatinas e sorvetes. Picolés de frutas, iogurtes batidos
com polpa de frutas costumam ser bem aceitos;
◗ após as refeições, faça repouso mantendo a cabeça e
os ombros em posição mais elevada;
◗ procure alimentar-se nos momentos
em que sentir menos enjôo. Não force a
TENHO CÂNCER. E AGORA?
alimentação se já estiver com náuseas;
◗ coma devagar, mastigando bem os alimentos;
◗ faça várias pequenas refeições por dia, diminuindo
as quantidades, para facilitar a digestão;
◗ evite tomar líquidos durante as refeições.
Quando estiver com náuseas, procure ingeri-los nos
intervalos, dando preferência a água ou
sucos naturais gelados;
◗ se o aroma de algum alimento incomodar você,
afaste-se do local;
◗ procure não ficar muito tempo de estômago vazio; tenha
sempre por perto torradas ou biscoitos de água e sal e
coma alguns, de vez em quando, entre as refeições.
Mucosite
Os agentes quimioterápicos bloqueiam alguns processos metabólicos das células malignas. Entretanto, as células sadias, com características parecidas, também são afetadas, como as da mucosa oral, por exemplo.
Orientações:
◗ evite alimentos muito quentes, condimentados
ou ácidos e bebidas alcoólicas;
◗ não use fio dental na fase aguda da mucosite
e dê preferência a escovas de dentes com cerdas
bem macias;
◗ use anti-sépticos bucais, recomendados pelo
médico ou pela enfermagem;
◗ não fume nenhum tipo de tabaco;
◗ caso use próteses dentárias removíveis, retire-as
sempre que possível, mantendo-as higienizadas, para
que não acumulem bactérias;
TENHO CÂNCER. E AGORA?
107
◗ consuma alimentos macios, evitando alimentos
ásperos ou pontiagudos que podem machucar e
irritar a mucosa. Purês, cremes, sopas, pudins e
sorvetes são os mais indicados.
Dificuldade para engolir
Pacientes em tratamento quimioterápico, bem como os
que têm a área cervical (pescoço) irradiada, costumam
queixar-se de dificuldades para deglutir os alimentos.
Isso ocorre devido à irritação da mucosa do tubo digestivo,
que tende a desaparecer logo após o término do tratamento.
108
Orientações:
◗ consuma alimentos pastosos, liquidificados, como
purês, caldos, pudins, musses e gelatinas;
◗ evite alimentos muito quentes ou excessivamente
gelados. O ideal é estarem na temperatura ambiente;
◗ beba devagar, em pequenos goles, usando canudo
se preferir;
◗ incline a cabeça um pouco para trás, a fim de
facilitar a deglutição;
◗ evite alimentos ásperos, secos, ácidos ou picantes;
◗ divida sua dieta em várias refeições pequenas.
Boca seca
Pacientes em tratamento radioterápico de cabeça e pescoço, dependendo da área irradiada, podem sentir alterações
em suas glândulas salivares, com diminuição temporária da
produção de saliva, o que talvez cause secura na boca.
Esse efeito colateral costuma desaparecer, gradativamente, após o término do tratamento.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
Orientações:
◗ tenha sempre à mão uma garrafa de água, para
poder beber quando sentir a boca seca;
◗ prefira alimentos pastosos, liquidificados, como
purês, cremes, pudins, musses e sorvetes;
◗ umedeça os alimentos em caldos ou sucos,
maionese, iogurte ou molhos, para torná-los mais
fáceis de deglutir;
◗ chupe balas ou mastigue goma de mascar
(de preferência, sem açúcar);
◗ evite lamber os lábios: isso irá ressecá-los ainda
mais, ao invés de umedecê-los;
◗ passe manteiga de cacau ou batom
incolor nos lábios;
◗ algumas gotas de limão sob a língua podem
estimular a produção de saliva (caso não tenha
mucosite);
◗ converse com o seu médico ou a sua enfermeira
sobre a possibilidade de você utilizar saliva artificial.
Prisão de ventre
Prisão de ventre (obstipação intestinal) é um dos possíveis
efeitos colaterais provocados por certos tipos de quimioterápicos, caracterizando-se por fezes excessivamente sólidas,
muito pequenas, pouco freqüentes ou difíceis de expelir.
A prisão de ventre costuma causar sensação de estufamento após as refeições, eructações (arrotos) e flatulência
(formação de gases).
Essas situações desconfortáveis e inconvenientes
podem ser evitadas com dieta adequada.
Consuma alimentos laxativos, incluindo-os gradativamente na dieta. São eles:
TENHO CÂNCER. E AGORA?
109
– encharcam-se
de água, aumentando o bolo fecal. São encontrados no
farelo de aveia, nas algas em geral, em feijões e frutas como
laranja, mamão, pêra, uva, ameixa, mexerica, abacaxi
(principalmente na casca e no bagaço) e em frutas secas
como uva passa, figo, ameixa e damasco.
ALIMENTOS RICOS EM FIBRAS INSOLÚVEIS – também
aumentam o bolo fecal, evitando a reabsorção de água pelo
intestino. Estão presentes nas cascas e nos cereais integrais, nas verduras de folhas e no farelo de trigo.
SEMENTES OLEAGINOSAS – seu maior benefício é a lubrificação intestinal. São as nozes, avelãs, amêndoas, castanhas, o amendoim e pistache.
ALIMENTOS RICOS EM FIBRAS SOLÚVEIS
110
Sugestões de ações laxativas:
◗ ferva 1 xícara de água com com 6 ameixas secas,
coe e tome à noite ou, em jejum, pela manhã;
◗ tome 1 colher de sopa de azeite
pela manhã, em jejum;
◗ dê preferência a pães integrais, arroz integral e
massas verdes e/ou integrais;
◗ consuma bastante líquido, no mínimo dois litros por
dia, nos intervalos das refeições;
◗ tome sucos de frutas laxativas sem coar;
◗ mastigue bem os alimentos;
◗ faça exercícios leves e caminhadas diariamente.
Não tome nenhuma medicação laxativa antes de consultar o seu médico.
Diarréia
Alguns quimioterápicos, bem como a radioterapia apliTENHO CÂNCER. E AGORA?
cada na região abdominal e pélvica, podem provocar diarréia. Geralmente, esse efeito colateral é controlado com
dietas apropriadas.
Orientações:
◗ consuma pequenas porções de alimentos durante o dia;
◗ beba de oito a dez copos de líquido ao dia (de
preferência, entre as refeições), para repor o que foi
perdido nas evacuações. Ex.: água-de-coco, bebidas
isotônicas, soros para hidratação, limonada suave;
◗ alimente-se com chá, torradas, bolachas, pão
branco, frutas cozidas sem casca (maçã, pêra),
batata cozida ou assada, arroz e legumes bem
cozidos (exceto vagem ou ervilha), carnes ou peixes
magros grelhados, massas bancas sem molho,
refogadas em pouca manteiga ou margarina;
◗ evite frituras, alimentos gordurosos ou muito
condimentados, feijões e grãos, verduras
de folha, café, doces concentrados, bebidas
alcoólicas ou gasosas e frutas laxativas;
◗ frutas cozidas ou assadas, como banana
e maçã, são bem toleradas;
◗ procure não fazer atividades físicas logo
após as refeições;
◗ evite alimentos muito quentes ou gelados;
◗ se tiver flatulência (gases), mastigue bem os alimentos
com a boca fechada, evitando falar, para não engolir
ar. Substitua o açúcar por adoçante artificial.
Alteração do paladar
Alterações do paladar e do olfato são freqüentes e contribuem para a diminuição do apetite do paciente em trataTENHO CÂNCER. E AGORA?
111
mento contra o câncer.
São variáveis e geralmente provocam mudanças no
reconhecimento dos sabores doce, salgado e amargo.
Dificuldades na distinção dos sabores amargo e salgado
podem ocasionar aversão à carne vermelha.
Orientações:
◗ dê preferência aos alimentos frios, como sanduíches,
frutas frescas, gelatinas, musses;
◗ alimentos lácteos, como iogurtes, queijos
frescos, sorvetes e vitaminas com leite e com frutas
são bem tolerados.
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TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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114
que
que
que
que
lidando com a dor
A dor não é uma simples sensação como enxergar ou
ouvir. É muito mais complexa. Aristóteles descreveu-a como
“uma paixão da alma”. Ela, certamente, reflete a maior área
de interação entre o corpo e a mente.
A dor tem diferentes origens e sua intensidade pode ser
alterada não apenas pelos medicamentos, mas também
pelo humor, moral e pelo significado que ela tem para cada
indivíduo.
Viver com o câncer é difícil e, muitas vezes, traz conseqüências como perda de energia, do emprego, dependência financeira, entre outras. Esses fatores desencadeiam
sentimentos como raiva, ansiedade e desânimo, que
podem aumentar o grau de sensibilidade à dor, formando
um círculo vicioso que deve ser quebrado.
Muitas pessoas crêem ser normal sentir dor, que não vale
a pena tratá-la e que suportá-la sem reclamar é uma provação
pela qual devem passar corajosamente. Não acredite nisso!
Você não precisa se submeter ao “castigo” de conviver
com a dor, que pode comprometer seriamente a qualidade
da sua vida. A dor merece atenção e tratamento adequado.
Não tratá-la leva a um desperdício de energia e a um sofrimento tão inúteis quanto os descritos nos versos de Carlos
Drummond de Andrade:
João amava Tereza
que amava Raimundo
TENHO CÂNCER. E AGORA?
amava Maria
amava Joaquim
amava Lili
não amava ninguém.
A dor provoca tensão, que aumenta a ansiedade, que
afeta o sono, que leva ao cansaço, que causa desânimo,
que desencadeia depressão, que tira o apetite, que dá uma
fraqueza que não tem fim.
Por que você está sentindo dor?
A dor pode ocorrer por inúmeras razões, como, por
exemplo, uma infecção que se manifesta de forma dolorosa, um tumor que pode estar pressionando um órgão vizinho ou um nervo, ou ser secundária ao próprio tratamento cirúrgico, radioterápico ou quimioterápico.
Às vezes, a dor ocorre em lugares distantes do tumor,
porque os nervos podem estar conduzindo-a pelo corpo.
Por exemplo: uma dor causada por um tumor localizado
no tórax, que é sentida nos ombros ou no braço. A essa
dor, chamamos de reflexa.
Você deve comunicar ao seu médico toda dor que sentir, lembrando sempre de que você está suscetível a dores
de cabeça ou musculares como sempre esteve, mesmo
antes de ter câncer.
Descrevendo sua dor
Às vezes, é difícil, mas, se você conseguir descrever sua
dor com precisão, seu médico poderá solucioná-la com
maior facilidade. Quanto melhor você descrevê-la, mais
condições ele terá para ajudá-lo. Responder a algumas perguntas pode facilitar a descrição:
TENHO CÂNCER. E AGORA?
115
◗ Onde é a dor?
◗ Dói em uma ou mais partes do corpo?
◗ Começa em um lugar e se irradia para outras partes
do corpo?
◗ Como é a dor? É intensa ou apenas dolorida? Arde,
lateja ou dá pontadas?
◗ É semelhante a alguma dor que já sentiu antes?
◗ É superficial ou profunda?
◗ Qual a intensidade?
Tente compará-la a alguma que já teve antes, como dor de
cabeça, dor de dente, dor nas costas, cólicas ou dor de parto.
Existe algo que alivia ou piora a dor? Por exemplo:
você se sente melhor em pé, sentado ou deitado?
116
◗ Calor ou frio ajudam?
◗ Você consegue controlar a dor com analgésico?
◗ Consegue distrair-se vendo TV, escutando música ou
lendo um livro, por exemplo?
◗ A dor é constante? Ela vai e vem? Piora à noite? Não
deixa você adormecer? Interrompe o seu sono?
Se você tivesse de dar uma nota, de 0 a 10, para a sua
dor, qual seria?
ESCALA DE DOR
ESCALA DA DOR
nenhuma dor
dor extrema
0
2
4
6
8
10
TIPO DA DOR
❑ constante
❑ com pontadas
TENHO CÂNCER. E AGORA?
❑ intermitente
❑ aguda
❑ irradiada
para onde
❑ profunda
❑ latejante
Com uma descrição detalhada, você ajudará o médico
a entender melhor o porquê de sua dor e, depois de medicá-lo, ele poderá observar como evolui o processo.
Pela internet, entrando no site www.abcancer.org.br,
você encontrará uma FICHA DE AVALIAÇÃO DE DOR que
poderá ser útil na hora de descrever sua dor. Você poderá
preenchê-la e enviá-la ao seu médico, via e-mail ou fax, ou
entregar-lhe pessoalmente, na sua próxima consulta.
Muitas coisas podem interferir em sua sensação dolorosa, variando sua intensidade. Todos nós lidamos melhor
com qualquer tipo de dor quando estamos felizes e relaxados. Portanto, é importante que você relate ao médico
outras questões, além da dor, que o estão preocupando.
Quanto mais informações você lhe fornecer, maiores chances ele terá de utilizar os recursos apropriados para o seu
caso específico.
Tratando sua dor
Muitas pessoas suportam a dor até seu limite máximo
sem recorrer a analgésicos, acreditando que, se ficarem
tomando remédio sempre que sentirem uma “dorzinha”,
seu organismo ficará “acostumado” e, então, o remédio
não fará efeito quando sentirem dores mais fortes. Isso não
é verdade.
Existem vários tipos de analgésicos para diferentes
graus de dor. Portanto, não é preciso suportar nenhuma
dor. Seu médico tem condições de receitar analgésicos
leves, moderados ou potentes, sempre levando em conta a
intensidade da dor.
A escolha do analgésico dependerá do tipo e da gravidade da dor a ser tratada. Felizmente, existe uma vasta
gama de analgésicos disponíveis no mercado, sob forma de
TENHO CÂNCER. E AGORA?
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118
comprimido, gotas ou injetável.
Como toda medicação, os analgésicos são prescritos
para serem tomados ou injetados a intervalos regulares.
Por esse motivo, não espere a dor recomeçar para tomar a
sua medicação, pois, assim, você sofrerá desnecessariamente até que o remédio seja absorvido pelo seu organismo e comece a agir.
A dose de analgésico prescrita pelo seu médico deverá
ser suficiente para controlar a sua dor até a próxima dose.
Se ela voltar antes da hora da próxima dose, avise seu
médico. Assim, ele poderá aumentar a dose, diminuir os
intervalos ou mudar a medicação.
Siga à risca a prescrição médica. Alguns pacientes
fazem alterações nas doses ou nos intervalos entre elas por
conta própria, para não “incomodar” o médico “à toa”.
Acredite: o que costuma “incomodar” um médico é saber
que seu paciente está sofrendo à toa.
Uma nova forma potente de controle de dor é feita por
meio de analgésico transdérmico. Difere dos outros por ser
aplicado através de um adesivo colado à pele, que vai liberando a medicação gradativamente, necessitando de troca
apenas a cada três dias.
Seu médico poderá, também, juntamente com o analgésico, receitar antiinflamatórios, antidepressivos ou
outras medicações. A combinação de várias drogas facilitará a eliminação da dor, atacando as diversas causas que
possam ter provocado o seu aparecimento.
Muitas pessoas não têm a necessidade de aumentar ou
trocar a medicação durante meses e, se as dores diminuírem, as doses poderão ser diminuídas, com a devida supervisão médica.
Ficar dependente de analgésicos fortes, como morfina,
TENHO CÂNCER. E AGORA?
é uma preocupação comum entre os pacientes. É muito
pouco provável que você fique “viciado”, pois as doses que
seu médico receitar serão calculadas de acordo com a sua
necessidade. Se as doses de morfina tiverem de ser aumentadas, isso não significa, necessariamente, que a doença
piorou, mas que suas dores aumentaram.
Leva algum tempo até que as necessidades de cada
organismo sejam atendidas, portanto, tenha paciência, mas
não sofra em silêncio.
Quando a dor não estiver sendo aliviada com medicação ou com outros procedimentos já mencionados, informe seu médico. Recursos cirúrgicos simples, realizados
ambulatorialmente (sem necessidade de internação),
podem, em muitos casos, resultar em alívio da dor. O
importante é que você saiba que uma equipe de profissionais está à sua disposição para ouvi-lo e oferecer-lhe recursos para aliviar ou eliminar a dor, proporcionando-lhe uma
melhor qualidade de vida.
Outros métodos de controle da dor podem ser usados,
conjugados ou não com analgésicos, como a radioterapia
ou até bloqueio de nervos. Seu médico poderá explicar-lhe
como esses recursos funcionam e indicá-los, se considerar
adequado para o seu caso.
Conforme já mencionado, a ansiedade e depressão
podem piorar a dor. Pessoas com câncer deveriam poder
falar sobre suas preocupações e medos com alguém próximo ou com um terapeuta especializado em trabalhar com
pacientes com câncer. Ele poderá escutar os seus problemas e ajudá-lo a organizá-los e colocá-los nas suas reais
dimensões. Ele também poderá auxiliá-lo nas resoluções de
problemas práticos e de suporte.
Relaxamento, visualização ou a combinação das duas
TENHO CÂNCER. E AGORA?
119
120
técnicas podem contribuir para diminuir a dor. A aplicação
dessas técnicas varia, mas o objetivo é sempre o mesmo:
aliviar tensões, ansiedades e outros fatores emocionais que
possam acentuar a sensação da dor.
A acupuntura tem sido muito utilizada como terapia
complementar no controle da dor. Hipnose é uma outra
técnica de controle de dor por meio da qual algumas pessoas sentem-se beneficiadas. Um profissional qualificado
pode ajudá-lo diretamente e também ensinar técnicas de
auto-hipnose.
Não estamos sugerindo que esses recursos sejam “curas
milagrosas” contra dor, mas, juntamente com os analgésicos, poderão ser de grande utilidade.
Medicamento e suporte caminham juntos. Um sem o
outro não é suficiente. O segredo é encontrar a combinação certa de recursos e medicamentos específicos para o
seu caso e adaptá-los ou mudá-los, sempre que necessário.
O que sua família e amigos podem fazer por você
Os medicamentos são a base do controle da dor, mas
representam apenas um dos aspectos do tratamento.
Existem muitas coisas que seus familiares podem fazer
para que você se sinta mais confortável e tenha sua dor aliviada. É importante explicar-lhes exatamente como você se
sente e avisá-los quando você precisar de ajuda. Por vezes,
familiares ou amigos também não sabem ao certo como
lidar com tudo isso, mas ficar junto, saber escutar e entender, muitas vezes, é o suficiente. Explique-lhes isso.
A forma como você está sentado ou deitado pode afetar a sua dor e o que agora parece ser confortável pode ser
desconfortável em 15 ou 20 minutos. Se for preciso, peça
que alguém o ajude a mudar de posição.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
É bom trocar a roupa de cama com maior freqüência do
que normalmente. A pessoa doente se sente melhor quando volta para uma cama fresca, com lençóis esticados.
Travesseiros usados como apoio podem ajudar a reduzir
dores no pescoço ou nas costas.
Não é preciso ser um massagista profissional para aliviar
dores nas costas ou em qualquer parte do corpo com massagens suaves. Com leves toques na área dolorida, conseguese confundir as mensagens de dor que os nervos enviam ao
cérebro e, ao mesmo tempo, relaxar a musculatura.
Assistir televisão, escutar música ou conversar com
alguém não vão diminuir suas dores, mas ajudarão a distrair sua atenção delas, pelo menos por algum tempo.
Visitas curtas e freqüentes são melhores que as muito
longas. São menos cansativas e mais variadas.
Ficar sentado ou deitado sem fazer nada costuma ser
deprimente. Atividades, mesmo que de curta duração,
podem ajudar a levantar o ânimo e a lidar melhor com a dor.
Um detalhe importante
Dizer que está sob controle é bem mais fácil do que
realmente estar. Até o mais forte de nós se intimida diante
de um jaleco branco de médico. Quando você não está se
sentindo bem, sente dores ou está preocupado, é difícil
fazer as perguntas certas e formulá-las como você realmente gostaria.
Assim, muitas vezes, quando médicos ou enfermeiras
apressados e ocupados lhe perguntam: “Como vai?”, você
se espanta ao ouvir a sua própria voz respondendo: “Bem,
obrigado…” e ao vê-los se afastando com um sorriso satisfeito. Não deixe que isso aconteça com você! Se algo não vai
bem, não tenha vergonha nem medo de “incomodá-los”.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
121
Para superar a dor, a preocupação e a angústia provocadas pelo câncer, seus tratamentos e efeitos colaterais, é
necessário o esforço de toda uma equipe e, para melhores
resultados, você precisa de todos ao seu lado.
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TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
21
depressão
124
Depressão não é apenas sentir-se “pra baixo” ou desanimado. É muito mais do que sentir-se triste. Estar deprimido é diferente das sensações de tristeza que fazem parte
da vida de todos nós. Para uma pessoa deprimida, esses
sentimentos podem ser persistentes, incapacitantes e desproporcionais a qualquer causa externa.
Quem sofre de depressão não tem condições de livrarse dela simplesmente com as próprias forças e sentir-se
bem. Sem tratamento adequado, os sintomas podem persistir por semanas, meses ou anos.
A depressão não ocorre por sua culpa. Não é uma fraqueza. É uma doença que, assim como qualquer outra, pode e
deve ser tratada, pois afeta os pensamentos, os sentimentos
e as atitudes. Geralmente, vem acompanhada de alterações
do humor, sono, apetite e de outras funções do organismo.
Possíveis causas da depressão
A depressão pode ser provocada por fatores genéticos,
biológicos, psicológicos ou circunstanciais, isolados ou
combinados entre si, tais como:
◗ história familiar;
◗ alterações hormonais, como hipotireoidismo;
◗ uso de drogas ou álcool;
◗ certos medicamentos;
◗ doenças crônicas, como AIDS ou câncer;
◗ doenças psiquiátricas.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
Algumas situações de estresse intenso ou uma perda
importante podem desencadear depressão. Muitas vezes, a
depressão pode surgir mesmo quando tudo vai muito bem
na vida da pessoa.
É importante lembrar que depressão não é resultado de
fraquezas pessoais, preguiça ou falta de força de vontade.
Depressão não é sua culpa! É uma doença tratável.
Depressão e câncer
A confirmação de um diagnóstico de câncer pode desencadear depressão em pacientes ou em seus familiares.
Sem ajuda profissional, é quase impossível superar a depressão causada pelos obstáculos psicológicos que o câncer
provoca.
Obstáculos psicológicos
Quase sempre, o diagnóstico e os tratamentos de câncer são acompanhados por problemas sociais e psicológicos
que, geralmente, não são relatados ao médico. Dessa forma, essas questões costumam passar despercebidas, não recebendo a devida atencão, e acabam transformando-se em
obstáculos psicológicos que podem aumentar as chances
de ocorrência de depressão.
Tais obstáculos podem ser:
◗ INCERTEZAS SOBRE O FUTURO – pacientes com
câncer têm constantes e inevitáveis dúvidas sobre
cura, opções e eficácia de tratamentos, recidiva etc.
◗ BUSCA POR SIGNIFICADOS – questionamentos tais
como “Por que eu?” ou “Ou que eu fiz para
merecer isto?” são recorrentes entre a maioria das
pessoas com câncer. Geralmente, elas lidam
TENHO CÂNCER. E AGORA?
125
melhor com as adversidades provocadas pela doença
quando encontram explicações aceitáveis.
◗ PERDA DE CONTROLE – familiares de pacientes
costumam excluí-los de decisões quanto ao
seu tratamento. O isolamento deixa o paciente
desesperançoso, o que pode levar à depressão.
◗ ISOLAMENTO – a palavra câncer ainda é um estigma.
Em muitos casos, amigos e familiares acham difícil
manter o mesmo contato depois do diagnóstico de
câncer. Não sabem o que dizer ou como agir.
◗ FALTA DE APOIO DO MÉDICO – muitos pacientes não
expõem seus problemas emocionais ao médico,
com receio de incomodá-lo ou por acreditarem que
esses problemas nada têm que ver com a doença.
126
Como reconhecer a depressão
Muitos não procuram tratamento para sua depressão
porque não reconhecem os sintomas. Pessoas com depressão sentem-se deprimidas quase todos os dias, durante o
dia inteiro, por 15 dias seguidos, pelo menos.
Os sintomas a seguir costumam estar presentes em
quase todos os casos de depressão. Geralmente, a pessoa
não apresenta todos eles, mas apenas alguns, com intensidade suficiente para interferir no seu funcionamento normal. Estes incluem, no mínimo, um dos seguintes sintomas:
◗ falta de interesse por coisas que antes davam prazer;
◗ crises de choro freqüentes;
◗ sensação de tristeza ou de “baixo astral”
durante a maior parte do dia.
Devem, ainda, ocorrer, pelo menos, três dos sintomas a
seguir:
TENHO CÂNCER. E AGORA?
◗
◗
◗
◗
◗
◗
◗
◗
◗
◗
sensação de inutilidade ou de culpa;
aumento ou perda de apetite;
pensamentos sobre morte ou suicídio;
dificuldade de relacionamento interpessoal,
tendência ao isolamento;
irritabilidade;
dificuldades de concentração, de tomar decisões;
lapsos de memória, dificuldade de relembrar fatos;
dificuldade para adormecer ou dormir demais;
negligência com a higiene, falta de asseio;
falta de energia ou cansaço o tempo todo.
A depressão, muitas vezes, é acompanhada também
por sintomas físicos ou psicológicos:
◗ dores de cabeça;
◗ dores em geral;
◗ problemas digestivos;
◗ problemas sexuais;
◗ pessimismo e desesperança;
◗ ansiedade e preocupação.
Alguns desses sintomas podem ser provocados pelos
efeitos colaterais dos tratamentos contra câncer, bem como
pela própria doença.
Somente seu médico oncologista poderá distinguir a
origem dos sintomas.
Cabe a ele medicá-lo ou encaminhá-lo a um especialista, para tratamento específico.
Como é tratada a depressão
Os tratamentos mais comuns são:
◗ MEDICAMENTO ANTIDEPRESSIVO – o objetivo do
TENHO CÂNCER. E AGORA?
127
128
tratamento medicamentoso é eliminar todos
os sintomas da depressão e não apenas melhorar um
sintoma específico, como, por exemplo, a insônia.
Existem vários tipos de antidepressivos. Cada um
deles age de forma diferente. Os seus sintomas e a
história médica e familiar vão ajudar o médico na
escolha do medicamento e da dose ideal para o seu
caso. É importante lembrar que antidepressivos não
viciam e tampouco causam dependência física.
◗ PSICOTERAPIA – o objetivo do tratamento
psicoterápico é auxiliar o paciente a reconhecer os
sintomas, lidar melhor com seus obstáculos e
superar as dificuldades e limitações geradas pela
doença primária (câncer) e pela depressão. A
psicoterapia, como tratamento único, nem sempre é
suficiente para curar a depressão.
◗ MEDICAMENTO ANTIDEPRESSIVO ASSOCIADO À
PSICOTERAPIA – no tratamento combinado, o
medicamento é usado para tratar dos sintomas da
depressão enquanto a psicoterapia atua
na resolução dos efeitos que os sintomas da
depressão causam na vida cotidiana.
Evite tomar decisões importantes durante o episódio
depressivo. Se for impossível adiar uma tomada de decisão
importante, peça ajuda a seu médico ou terapeuta ou a
alguém em quem você confie.
A prática de exercícios moderados pode ser benéfica
em casos de depressão leve. Converse com seu médico a
respeito; ele poderá indicar alguns exercícios.
Algumas pessoas, por desconhecerem o que é a depressão, tentarão convencê-lo a “ser mais forte”, “ter mais
coragem” para superar seu desânimo. Não se deixe
influenciar por esse tipo de discurso. Lembre-se: você não
tem culpa de estar deprimido e não tem como deixar de
sentir-se assim com mais ou com menos coragem.
129
O que você pode fazer a seu favor
Respeite suas limitações. Não espere fazer tudo que
estava acostumado a fazer. Estabeleça metas compatíveis
com sua condição atual.
Pensamentos negativos, auto-reprovação, desânimo,
sensação de fracasso e outras idéias desse tipo fazem parte
do quadro depressivo. Tenha em mente que os pensamentos negativos irão desaparecer na medida em que você
superar a depressão.
TENHO CÂNCER. E AGORA?
TENHO CÂNCER. E AGORA?
MAURÍCIO JAYME E SILVA
22
130
os direitos dos pacientes
Não é preciso contratar advogado para exercer os direitos previstos em lei aos pacientes portadores de câncer.
Não se trata de uma tarefa difícil. Burocrática e lenta, sim.
Mas sempre vale a pena!
“Apesar da burocracia e das dificuldades enfrentadas, especialmente indiferença, preconceito e insinuações humilhantes ao longo do caminho, o exercício dos nossos
direitos é gratificante. Pude sentir que estou viva –
mesmo acometida pela doença e durante o árduo tratamento – e que mereço respeito e dignidade em minha nova condição de vida.”
JULIANA CRISTINA FINCATTI MOREIRA, 27 ANOS,
DIAGNOSTICADA DE CÂNCER DE MAMA EM 2004.
O grande problema está na falta de informação da
população. Os direitos dos pacientes com câncer até
podem ser localizados com facilidade em alguns sites de
internet. Mas, como em uma receita de bolo, não bastam
os ingredientes, é preciso saber o preparo: aonde ir, o que
fazer, quem se beneficia, quais são os documentos necessários e o impacto que isso causará.
Os direitos previstos em lei em casos de câncer são
muitos e variados. Difícil fazer uma lista, pois a legislação
brasileira concede benefícios legais específicos para determinados tipos de câncer que não poderão ser exercidos por
TENHO CÂNCER. E AGORA?
portadores de outros tipos da doença. Vão desde o resgate
do Fundo de Garantia (FGTS), válido a todos, passando por
casos de gratuidade para cirurgia de reconstituição mamária no SUS e nos planos de saúde, resgate de seguros de
vida e planos de previdência privada e isenção de impostos, até a quitação de financiamentos imobiliários.
PARA SABER MAIS
No site da Associação Brasileira do Câncer (www.abcancer.org.br), você encontra informações detalhadas sobre
todos os direitos do pacientes com câncer, assim como documentos necessários, pacientes beneficiados, modelos de
requerimentos exigidos e endereços e telefones dos órgãos
públicos. Basta entrar na seção “Câncer e cidadania” e acessar o Guia da Cidadania do Paciente com Câncer. Este Guia
também está disposnível em versão impressa, à venda em
livrarias por R$ 10,00. Todo o dinheiro arrecadado com a
venda da cartilha será revertido aos projetos da Associação.
Há informações claras e precisas sobre os direitos dos
pacientes também no site do Instituto Nacional do Câncer
(www.inca.gov.br) e em páginas on-line escritas por pacientes que já passaram por essa experiência. A ex-paciente e
advogada Antonieta Barbosa publicou um livro chamado
Câncer, Direito e Cidadania, muito útil aos pacientes.
DICAS
Guarde bem seus documentos
◗ É com base neles que os pacientes com câncer
comprovarão tudo aquilo que pedirem a órgãos
públicos como Receita Federal e INSS ou a
entidades privadas como bancos, planos de saúde e
outros. É muito importante que os pacientes com
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câncer tenham em mãos as vias originais de seus
laudos médicos, exames, atestados, biópsias,
radiografias e tomografias.
◗ Eventualmente, podem ser importantes também os
laudos e exames médicos, as radiografias e as
tomografias realizados antes do diagnóstico do
câncer, como, por exemplo, para comprovar que a
doença não era preexistente em caso de
questionamento dos planos de saúde. Guarde-os
muito bem. Todos esses documentos são essenciais
para que os pacientes com câncer possam exercer
seus direitos.
Tire cópias autenticadas dos seus documentos
◗ Os documentos originais devem ficar sempre em
casa, em lugar seguro, mas de fácil acesso. As cópias
autenticadas têm o mesmo valor que as vias
originais e, para o exercício dos seus direitos,
nenhum órgão, público ou privado, poderá exigir a
entrega do documento original ou se recusar a
aceitar as cópias autenticadas.
Conheça seus direitos antes de exigi-los
◗ Isso evitará perda de tempo e dinheiro e desgastes
desnecessários. Antes de ir a qualquer repartição
pública ou privada para exercer seus direitos,
consulte o Guia da Cidadania do Paciente com
Câncer. Ele foi elaborado para conter todas as
informações necessárias para que os pacientes com
câncer possam exercer seus direitos previstos em
lei. Se possível, entre em contato antes com a
repartição para certificar-se sobre horários de
funcionamento, documentos importantes, previsão
de atendimento, possibilidade de agendamento de
TENHO CÂNCER. E AGORA?
horário, endereço, formulários e tudo o mais que for
necessário para o exercício dos seus direitos.
Protocole todos os seus requerimentos
◗ Todos os requerimentos deverão ser feitos em duas
vias. Uma, com as cópias autenticadas dos
documentos que acompanharão o requerimento,
deverá ser entregue ao órgão para o qual o direito
está sendo pleiteado. A outra deverá ser bem
guardada pelo paciente. Essa via deverá conter o
carimbo do órgão que recebeu a
documentação e a data do protocolo.
Outros documentos importantes
Tenha sempre em casa os seguintes documentos.
Quando solicitados, apresente a cópia autenticada:
◗ Certidões de nascimento, casamento, divórcio,
óbito, dos pacientes e de seus dependentes;
◗ Carteira de Trabalho e Previdência Social;
◗ Carnês de contribuição previdenciária;
◗ Contratos de plano de saúde, de seguros e de
financiamento da casa própria;
◗ Cartão do PIS/PASEP;
◗ Extratos do FGTS;
◗ Declarações do Imposto de Renda;
◗ Contracheques;
◗ Carta de concessão da aposentadoria;
◗ Outros documentos que possam comprovar
situações previstas em lei, que garantam direitos.
Caso você não tenha mais algum documento médico
exigido, é necessário elaborar um requerimento dirigido ao
médico, ao hospital ou ao posto de saúde onde foi realizaTENHO CÂNCER. E AGORA?
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do o atendimento médico. Felizmente, todos os dados dos
prontuários médicos dos pacientes são arquivados e protegidos pelo Código de Ética Médica. Por ele, os interessados
(pacientes e familiares), e somente eles, podem ter acesso
às informações arquivadas.
Esse requerimento deverá ser feito em duas vias. Uma
via, protocolada, ficará com o paciente e a outra com o
médico, o hospital ou o posto de saúde, conforme o caso.
Peça sempre uma previsão de entrega dos dados e anote o
telefone do local, para que você possa acompanhar por
telefone se os dados já estão disponíveis.
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