TLME-2.4 —1— MÁQUINAS ELÉCTRICAS II 2004 / 2005 SE FEUP TLME-2.4 — LEEC Máquina de Corrente Contínua regime de funcionamento 1. Introdução Uma máquina eléctrica encontra-se a funcionar em regime permanente, mas quando por alteração de uma qualquer parâmetro, passa de um regime de funcionamento estacionário a um outro, então entra em regime transitório de funcionamento. Durante a fase de funcionamento em regime transitório há aumento, ou diminuição, da energia armazenada nos elementos da máquina — energia magnética no campo magnético e energia mecânica nas massas em movimento. Se o estudo do comportamento de uma máquina eléctrica em regime permanente é importante, o estudo da evolução das diferentes grandezas físicas características do funcionamento da máquina durante o regime transitório é necessário porque condiciona o dimensionamento da restante aparelhagem eléctrica a inserir na rede a que a máquina está ligada. O regime permanente (ou estacionário) de uma máquina eléctrica é caracterizado pela relação entre as grandezas físicas características da máquina. Normalmente essa relação é representada por uma curva característica que estabelece a relação entre duas (ou mais) grandezas. Uma dessa curvas é a característica externa. Define-se característica externa de um gerador de corrente contínua como a curva U(I) representativa da variação da tensão de saída U, com a intensidade de corrente eléctrica fornecida pelo dínamo à carga I; supondo constante a velocidade de rotação do dínamo n, e para um determinado tipo de excitação. Como a força electromotriz gerada num dínamo é dada pela expressão E = k·n·φ(i), quando está fechado o circuito eléctrico de carga é U = E – RI·I; assim, para n = constante, é U = k·n·φ(i) – RI·I, ou U= ke·φ(i) – RI·I . É a representação gráfica da variação da tensão de saída U com a corrente de carga I que permite estudar o comportamento do gerador durante o funcionamento em regime permanente de carga. Em regime transitório é importante o conhecimento da evolução das grandezas físicas características. Mas para o dimensionamento da aparelhagem auxiliar pode apenas ser necessário conhecer o valor máximo atingido durante essa evolução, ou a forma como essa evolução ocorre (velocidade de crescimento ou de decrescimento). Devido à potência das máquinas eléctricas, frequentemente, não é possível utilizar ensaios directos para determinar aqueles valores, ou as curvas características da evolução daquelas grandezas. Por isso, fazem-se estudos de simulação sobre modelos matemáticos representativos da máquina eléctrica. No estudo em regime transitório de uma máquina eléctrica surge a necessidade de modelizar a máquina, o que devido à sua real complexidade só pode ser feito mediante o estabelecimento de condições de estudo simplificativas. Depois de criado um modelo matemático da máquina eléctrica, com recurso a um método de estudo como a Teoria Generalizada das Máquinas Eléctricas, faz-se uma trabalho de simulação recorrendo à experimentação computacional. Existe sempre o problema de determinar, por ensaio, os parâmetros físicos que fazem parte do modelo da máquina. Para a determinação dos valores limites das grandezas físicas em estudo durante o regime transitório, pode-se recorrer a métodos expeditos, definidos em Normas ou Guias, e baseados numa análise dos dados de muitos casos estudados. © Manuel Vaz Guedes, 1996; 2005 TLME-2.4 2. —2— Objectivos O objectivo deste trabalho de Laboratório é: • a determinação experimental dos valores que permitem o traçado gráfico da característica externa de um dínamo derivação (construção de Picou), e a sua confrontação com os valores reais; • a determinação do valor máximo da corrente de curto-circuito brusco e o valor da velocidade de crescimento dessa corrente a partir de valores escritos na chapa de características, além da observação da evolução da corrente no tempo. 3. Bibliografia M. Kostenko L. Piotrosvky; “Máquinas Eléctricas”, Vol. 1 M. G. Say E. O. Taylor; “Direct Current Machines”, Pitman, 1980 Ver os textos anexos sobre Máquinas de Corrente Contínua 4. Trabalho a Efectuar 4.1. Material Necessário – Grupo motor–gerador (Maq. 1) – Um transformador–rectificador – Um voltímetro CC – Dois amperímetros CC 4.1.A – Um reóstato de carga Excitação do Gerador de Corrente Contínua * Neste trabalho de laboratório poderá ser utilizado um grupo motor de indução–gerador de corrente contínua como fonte de alimentação do circuito de excitação do gerador de corrente contínua em estudo. A velocidade de rotação do motor será constante. O gerador de corrente contínua será auto–excitado do tipo derivação. Só será necessário actuar no reóstato de excitação do gerador fonte de tensão para alterar o valor da tensão nos terminais. A G M 3 V ~ Depois de ligarem os terminais do gerador fonte de tensão aos terminais do circuito de excitação (circuito indutor do gerador + reóstato de excitação + amperímetro) do gerador principal é que provocarão o arranque do motor de indução trifásico que acciona o gerador fonte de tensão. * Neste trabalho de laboratório poderá ser utilizado um sistema transformador-rectificador como fonte de alimentação do circuito de excitação do gerador de corrente contínua em estudo. {ver apontamento: ‘’alimentação do circuito de excitação’’} 4.2. Característica interna E(i) Montagem a realizar M 3 G V ~ A Modo de proceder Ler e interpretar a chapa de características da máquina ✍ Tomar NOTA dos valores nominais – Realizar a montagem. ☎ Chamar o docente para verificação © Manuel Vaz Guedes, 1996; 2005 TLME-2.4 ▲ Provocar o arranque do motor através do controlador electrónico; ligar a excitação separada do gerador. !! ! ! MANTER A VELOCIDADE CONSTANTE ! ! ! !! Actuar no reóstato de excitação, sempre no mesmo sentido, para variar a corrente de excitação, obtendo valores escalonados. — 4.3. —3— a corrente eléctrica deverá variar uniformemente entre 0 A e o valor que implica uma tensão de 1, 2·Un, e regressar novamente a 0 A. – ✍ Para cada valor da corrente de excitação ler o respectivo valor da tensão Formar o quadro E(i), para a velocidade nominal do gerador. ▲ Desligar a excitação do dínamo e a alimentação do motor. Característica de quedas de tensão Q(I) Modo de proceder – ☎ Realizar a montagem adiante figurada Chamar o docente para verificação ▲ Provocar o arranque do motor através do controlador electrónico. – Actuar no reóstato de excitação, sempre no mesmo sentido, para que a tensão nos terminais em vazio seja de Un. — Actuar no reóstato de carga para variar a corrente de carga, obtendo valores escalonados. – Para cada valor da corrente de carga I ler o respectivo valor da tensão U. ✍ Formar o quadro I (A), U (V), Q (V). – Retirar o reóstato de carga de serviço. ▲ Desligar a alimentação do motor. Montagem a realizar A G M 3 4.4. V ~ Característica externa U(I) Montagem a realizar A A M 3 G ~ V Modo de proceder – Realizar a montagem. ☎ Chamar o docente para verificação ▲ Provocar o arranque do o motor através do controlador electrónico. – Actuar no reóstato de excitação, sempre no mesmo sentido, para que a tensão nos terminais em vazio seja Un — Actuar no reóstato líquido para variar a corrente de carga, obtendo valores escalonados. variar a corrente de carga de 0 A até Icc (fim do reóstato de carga) – Para cada valor da corrente de carga I ler o respectivo valor da tensão U. ➚ © Manuel Vaz Guedes, 1996; 2005 TLME-2.4 ✍ —4— Formar o quadro I (A), U (V), i (A) ✆ Chamar o docente ☞cc Observar a evolução do ponteiro do amperímetro –cc –cc ✍cc 6. Ler o valor da corrente de curto-circuito permanente ➚ Tomar nota desses valores variar a corrente de carga de Icc até 0 A. ✍ Formar o quadro I (A), U (V), i (A) – Retirar o reóstato de carga de serviço. ▲ Desligar a alimentação do motor. – 5. Estimar o valor máximo da corrente de curto-circuito Para cada valor da corrente de carga I ler o respectivo valor da tensão U. Interpretação dos Resultados • Determinar a curva característica externa U(I) pela construção de Picou (utilize uma folha de papel milimétrico A3) • Criticar os resultados obtidos + Atendendo aos valores expresso na chapa de características e ao Guia IEEE-66 determinar a máxima corrente de curto-circuito permanente e a velocidade de crescimento da corrente de curto-circuito brusco + Comparar o valor obtido para a corrente de curto-circuito máxima com o valor obtido experimentalmente, comentando o resultado atendendo à real situação da máquina (calagem das escovas em avanço) Temas de Desenvolvimento A Justificar, a forma das características, explicando a influência do fenómeno da histerese magnética e da calagem das escovas B Estabelecer as condições de estudo para modelização do gerador de corrente contínua com excitação derivação (magnetismo remanente, calagem das escovas, circuito magnético, valor da tensão) C Desenvolver um programa de computador, ou utilizar o MATLAB™, para simular o estudo do curto-circuito brusco de um gerador de corrente contínua com excitação derivação, obtendo a curva de evolução da corrente de curto-circuito t = 0– U = 200 V I = 25 A If = 5 A ωr = 157,1 rad/s Rf = 40 Ω Lf = 50 H ; Rq = 0,6 Ω Lq = 0,16 H ; MfD = 0,833 H [Ver TEC_6] Nota: Para se evitar um valor da corrente de curto circuito permanente Icc muito elevado, todo o trabalho é feito com as escovas da máquina caladas em avanço. 120 Ic c (A) 100 80 60 40 20 0 -2 0 2 4 6 t (s) 8 N B : — Os valores numéricos apresentados não pertencem à máquina eléctrica em ensaio. © Manuel Vaz Guedes, 1996; 2005 66— A.1 — Máquinas Eléctricas II Trabalhos de Laboratório 2004/2005 Determinação Gráfica da Característica Externa do Dínamo Derivação (Construção de Picou) Para efectuar a determinação, por intermédio de uma construção gráfica, da característica externa U(I) de um dínamo de excitação derivação, é necessário conhecer: — a característica interna Eo(i) com n= const. — a característica de quedas de tensão Q(I) com n= const e i = const. a) Para um dado valor da corrente de excitação i1, desde que se conheça a resistência do circuito indutor ri, ou para um dado valor da tensão em vazio U1 = Eo , constrói-se a recta característica da queda de tensão no circuito indutor, ri·i. b) Para um dado valor da corrente eléctrica de carga I?, para o qual se pretende saber o valor da tensão nos terminais da máquina U?, lê-se o correspondente valor da queda de tensão no circuito induzido Q(I?), na característica de quedas de tensão. c) Desloca-se, por construção geométrica, esse valor de queda de tensão Q(I?) para o eixo das tensões. d) A partir do ponto de intersecção com o eixo das tensões, traça-se uma recta paralela à recta característica das quedas de tensão no circuito indutor. (a recta apresenta um deslocamento equivalente ao da característica interna, se fosse construída a característica de carga do dínamo derivação para aquela corrente de carga I?). a2 d1 U Q Eo a1 c1 Q ? i U i1 b1 I? I i I? I e) O ponto, ou pontos, de intersecção com a característica interna são projectados verticalmente até encontrar a recta inicial das quedas de tensão no circuito indutor. f) Deslocando lateralmente o ponto de intersecção, até encontrar a recta I = I?, obtém-se o ponto U?, ou pontos, da característica externa (U?,I?). © Manuel Vaz Guedes, 1996; “005 66— N. B. — A.2 — esta construção gráfica deverá ser feita em papel milimétrico, folha ≥ A3, utilizando escalas compatíveis com o tamanho da folha. (…) U U e1 Eo f1 U? , I ? f1 i I? I Pontos singulares O ponto da característica externa para o qual a corrente eléctrica fornecida é a corrente de curto-circuito, corresponde ao ponto para o qual a tensão em vazio é igual à força electromotriz remanente. Nesse ponto a força electromotriz desenvolvida iguala a queda de tensão no circuito do induzido, e a tensão nos terminais é nula. O ponto da característica externa para o qual a corrente eléctrica fornecida à carga é máxima, determina-se traçando uma recta, simultaneamente, paralela à recta de quedas de tensão no circuito indutor e tangente à característica interna do dínamo. Utiliza-se a construção habitual, e) f), para determinar o valor da tensão de saída correspondente. Ju s tific a ç ão As construções geométricas, nas alíneas c), d), e), são equivalentes à construção, para a corrente eléctrica de carga I?, da curva característica de carga U(i). É mais fácil traçar um recta paralela a outra do que deslocar, ou do que construir novamente, a característica interna. A intersecção da recta de quedas de tensão no circuito indutor Ri·i com a característica de carga U(i) determina os pontos de funcionamento, em tensão U?, correspondentes à corrente eléctrica de carga, para o qual se determinou a curva característica de carga, I?. Isto, porque esses são os pontos em que a queda de tensão no circuito indutor iguala a tensão nos terminais da máquina. G U r i·i Bib liog ra fia A. E. Clayton N.N. Hancock; “The Performance and Design of Direct Current Machines”, Pitman, 1959 TLME-cp © Manuel Vaz Guedes, 1996; “005 66— A.3 — Máquinas Eléctricas II Trabalhos de Laboratório 2004/2005 Notas tiradas da publicação nº 66 do IEEE — “IEEE Guide for Determination of Short-circuit Characteristics of Direct-Current Machinery”, 1969 Objectivos • O Guia apresenta recomendações gerais para determinar por métodos aproximados a partir dos valores expressos na chapa de características, as características de curto-circuito de geradores (e motores) de corrente contínua. • O Guia pretende ajudar quem estiver interessado em conhecer as características transitórias das máquinas e dos sistemas de corrente contínua e os efeitos desses fenómenos transitórios no seu funcionamento. Os valores calculados para a velocidade de crescimento e o valor máximo da intensidade de corrente de carga da máquina tornarão mais fácil a selecção apropriada dos componentes do sistema eléctrico que poderão aguentar as tensões mecânicas e térmicas durante o curto-circuito. Quando se utilizam os valores expressos na chapa de características os métodos apresentados darão resultados suficientemente precisos para serem utilizados como estimativas. •• A corrente eléctrica transitória no circuito do induzido de uma máquina de corrente contínua durante o curto-circuito aumenta rapidamente até um valor máximo e então decai lentamente para um valor final. O decrescimento da intensidade da corrente eléctrica de curto-circuito depende da constante de tempo do circuito indutor que é da ordem dos 0,1 a 1 segundo. O valor máximo da corrente eléctrica, atingido antes daquela tempo, provocará uma má comutação na máquina se a circulação da corrente eléctrica não for interrompida. Determinação a partir dos valores expressos na chapa de características No projecto preliminar de um sistema eléctrico de corrente contínua, geralmente só a tensão e a potência nominal são conhecidas. Mesmo com esta informação mínima podem-se determinar alguns valores necessários para o projecto do sistema através de uma estimativa da velocidade de crescimento e do valor máximo da corrente de curto-circuito. * Considera-se que a máquina eléctrica de corrente contínua é representada esquematicamente por uma fonte de tensão e por uma resistência. A fonte de tensão representa a tensão nos terminais da máquina à velocidade inicial, que se considera constante até ao momento em que a corrente de curto-circuito atinge o seu valor máximo. A resistência é uma resistência interna efectiva da máquina eléctrica, que representa todas as oposições à circulação da corrente eléctrica no circuito induzido da máquina (resistência óhmica do circuito, queda de tensão nas escovas, força electromotriz de auto-indução e a reacção do induzido). ** Uma representação esquemática similar também pode ser empregue para obter uma aproximação da velocidade inicial de crescimento da corrente eléctrica de curto-circuito. O circuito equivalente consiste numa fonte de tensão e numa indutância , em que a tensão é igual à tensão antes do curto-circuito e a indutância é uma indutância equivalente do circuito induzido da máquina. *** Estes dois circuitos eléctricos equivalentes não podem ser combinados para se obter a resposta transitória global da máquina durante o curto-circuito. Cada circuito é aplicável somente para o seu fim específico. Resistência eléctrica efectiva do circuito do induzido R O valor máximo da corrente de curto-circuito é uma quantidade importante para o dimensionamento dos componentes do sistema eléctrico. Esse valor depende da resistência eléctrica efectiva do circuito do induzido da máquina. Essa resistência será © Manuel Vaz Guedes, 1996; “005 66— A.4 — representada por r’d num sistema por unidade (p.u.). O valor da resistência efectiva do circuito do induzido de um gerador de corrente contínua expresso em (p.u.) foi determinado a partir dos dados referentes a muitas máquinas e com ele foi construído um gráfico, onde o valor da resistência reduzida é uma função do produto da potência e da velocidade. RR A partir do gráfico original [IEEE-66, fig. 1] obteve-se a seguinte tabela considerando que a resistência reduzida tem uma variação exponencial e que a tensão nominal é baixa (115 V). R P = [kW] x [rot/min]·10–5 0,2 < r’d < 0,138 0,134 < P < 1,34 0,138 < r’d < 0,1 1,34 < P < 13,4 R O valor da resistência efectiva é determinado para uma situação de curto-circuito brusco com a máquina em vazio no instante da avaria. Numa situação em que a máquina está em carga corrige-se o valor máximo determinado acrescentando o valor da corrente de carga no momento do curto-circuito. Velocidade inicial de crescimento da corrente de curto-circuito Quando se aplica a um circuito RL (resistência R e indutância L em série com a fonte de tensão) um escalão positivo de tensão Uo, o valor inicial, que é um valor máximo, da velocidade de crescimento da corrente eléctrica é dado pela equação diferencial: Uo di ⇐ t = 0 dt = L L Para máquinas do mesmo tipo e da mesma classe define-se uma quantidade para os valores nominais das grandezas — a indutância unitária, como ωel·La·In = Un atendendo a que ωel = p·ωgeom, ou ωel = 2π·p·(nn/60), será Un 60 La = I · 2π·p·n n n L [H ; V, A, rot/min] A indutância inicial do circuito do induzido da máquina é dada por L = C·La em que C é uma constante dada por um gráfico [IEEE-66, table 1] L C = 0,6. A velocidade inicial (t = 0) de crescimento da corrente de curto-circuito será dada por di a 2π·p·nn Uo·In di a 2π·p·nn·In = · ou = ··uo [A/s ; rot/min, A, (p.u.)] dt 60·C Un dt 60·C di (pu) dt 700 = KI·uo [(p.u.)/s ; (1/s), (p.u.)] KI [1/s] 600 500 400 300 200 100 p·[rot/min] 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 — ieee.66 — © Manuel Vaz Guedes, 1996; “005