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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edição especial, p. 29 – 33
AVALIAÇÃO DO RISCO POTENCIAL DE DOENÇAS CORONARIANAS EM
DIETAS COM ALTO CONSUMO DE CARNES VERMELHAS. ESTUDO
INVESTIGATIVO SOBRE INDICADORES DE CÂNCER COLORRETAL
GIONGO, V. 1
CABRAL, L. 2;
Palavras-chave: Bioquímica. Doenças coronarianas. Câncer.
Problemática
Sabemos que a carne bovina, de porco e de vitela são repletas de proteínas de alta
qualidade e fonte de nutrientes como ferro e zinco. Cofatores importantes para muitas
funções metabólicas, nem sempre conseguimos obtê-los sem a ingestão de carne.
Através do consumo de também absorvemos as vitaminas B12, niacina, vitamina B6,
além de ferro. Cerca de metade do ferro é heme, uma forma altamente aproveitável,
encontrada apenas em produtos de origem animal. A absorção do ferro não-heme da
carne é aumentada pelo fato do heme estar nela. A ingestão de carne também melhora a
absorção do tipo de ferro presente nos vegetais e, por último, a necessidade de
colesterol, fundamental para a formação de membranas e hormônios, ácidos biliares e
vitamina D. Na composição da HDL (lipoproteínas de alta densidade), ele participa da
remoção de colesterol dos tecidos e os envia até o fígado para ser oxidado ou
reaproveitado [1]. No entanto na forma de LDL (lipoproteínas de baixa densidade) o
colesterol contribui para a deposição de placas lipídicas (ateroma) que ocluem as veias
coronarianas.
Fatores genéticos, como a hipercolesterolemia familiar [2], e o padrão alimentar
contribuem para o aumento de LDL no sangue. Assim, recomenda-se cuidado com o
elevado consumo de carnes vermelhas gordurosas, carne de porco (bacon, torresmos) e
vísceras (fígado, miolo, miúdos) [3].
Outro ponto relacionado ao consumo de carnes é a sua associação com câncer. O
câncer colorretal abrange tumores que atingem o cólon (intestino grosso) e o reto [4]. É
o quinto câncer mais diagnosticado no Brasil e no sudeste ocupa o segundo lugar [5].
1
2
Pesquisadora da Universidade Castelo Branco. [email protected].
Graduanda do Curso de Biomedicina da Universidade Castelo Branco.
Tanto homens como mulheres são igualmente afetados, sendo uma doença tratável e
frequentemente curável quando localizada no intestino (sem extensão para outros
órgãos) [6]. Os sinais de alerta para futuro acompanhamento médico incluem: anemia
de origem indeterminada e que apresentem suspeita de perda crônica de sangue no
exame de sangue, mudança no hábito intestinal (diarreia ou prisão de ventre),
desconforto abdominal com gases ou cólicas, sangramento nas fezes, sangramento anal
e sensação de que o intestino não se esvaziou após a evacuação em indivíduos com mais
de 50 anos. Mais de 95% dos cânceres de colorretal são esporádicos, provenientes de
indivíduos sem risco significativo hereditário e associados a dietas das sociedades
ocidentais. Recentemente, o tabagismo e o álcool também foram incluídos como fatores
de risco [7]. A ingestão de carne, especialmente carne vermelha e carne processada, está
relacionado com o alto teor de gordura como também de cancerígenos gerados através
de diferentes métodos de cozimento [8, 9]. Existe uma forte indicação da presença de
compostos N-nitrosos, aminas heterocíclicas ou hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
como potentes agentes cancerígenos em modelos animais [10]. Estes compostos, e
outros presentes em carnes (sais, nitratos, nitritos, ferro-heme (hemoglobina), gordura
saturada (estradiol), são capazes de aumentar a síntese de DNA e a proliferação celular,
fatores de crescimento afetam o metabolismo hormonal, promovendo danos que
colaboram para o desenvolvimento de câncer [9-13]. A pesquisa de sangue oculto
(PSO) nas fezes, que significa a perda de sangue no trato digestório imperceptível
macroscopicamente, surgiu como alternativa para o rastreamento do câncer colorretal
em pacientes sem fatores de risco. Este teste se sustenta no princípio de que os
carcinomas do cólon sangram e que esta hemorragia oculta pode ser identificada pela
PSO, que é um exame facilmente disponível. A pesquisa de sangue oculto consiste na
identificação de hemoglobina nas fezes, podendo ser realizado pelo método
imunológico, que detecta especificamente a hemoglobina humana [14]. Um fator
importante é a associação com o Índice de Massa Corporal (IMC), visto que pode ser
responsável por 5% da incidência de câncer na Europa [15].
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), uma dieta rica em frutas,
vegetais, fibras, cálcio, folato e pobre em gorduras animais é considerada uma medida
preventiva.
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Objetivos
Estabelecer, a partir de valores laboratoriais, a correlação entre o consumo de carne
vermelha (gordurosa) e o risco de doença cardiovascular e câncer colorretal. Para esse
fim utilizaremos os resultados laboratoriais obtidos no hemograma em pacientes com
histórico familiar de neoplasias associadas e que também fazem uso de uma dieta rica
em carne. Com a análise quantitativa do sangue (hemograma), estabelecemos valores
individuais de contagem de eritrócitos, hemoglobina e hematócrito; a análise
bioquímica do perfil lipídico estabeleceu os valores individuais de colesterol,
triglicerídeos, HDL, LDL, VLDL a partir de plasma obtido em condições de jejum
prolongado, e identificou os casos que devem ser encaminhados à pesquisa de sangue
oculto nas fezes.
Procedimentos Metodológicos
Casuística
Nesse estudo participaram 20 voluntários, entre homens e mulheres, com faixa etária
entre 15 e 25 anos e residentes em bairros da Zona Oeste (Realengo, Bangu, Padre
Miguel, Campo Grande, Barra e Recreio). A partir da elaboração de um questionário de
triagem de risco com informações detalhadas sobre idade, peso, hábitos alimentares,
hábitos intestinais, atividades físicas, diabetes, fumo, histórico familiar de neoplasias
(câncer de intestino, retocolite ulcerativa, doença de Crohn e câncer de mama, ovário ou
útero) e patologias cardíacas, cada voluntário assinou um documento de consentimento
para garantir a privacidade dos dados confidenciais envolvidos na pesquisa, assim como
a garantia que este receberá respostas a qualquer pergunta ou esclarecimento de
qualquer dúvida quanto aos procedimentos e outros assuntos relacionados com a
pesquisa. Também a pesquisadora assume o compromisso de proporcionar informação
atualizada durante o estudo, ainda que possa afetar a vontade do indivíduo em continuar
participando.
Análise Bioquímica
Todos os parâmetros bioquímicos (colesterol, triglicerídeos, HDL, LDL e VLDL) foram
analisados através de kits bioquímicos por método quantitativo espectrofotométrico. A
amostra de plasma dos pacientes em jejum através de tubos vacutainer sem
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anticoagulante e os resultados obtidos em triplicata foram comparados com os valores
controle (população com dieta saudável).
Resultados e Discussão
Nossos resultados preliminares apontam a Zona Oeste com o segundo maior
número de consumidores de carne bovina na cidade do Rio de Janeiro, especialmente
gordurosa. Compatível com as informações de um comportamento sedentário, foi
verificado que, mesmo jovens, esses voluntários não apresentam um padrão de
atividades físicas capazes de acelerar o metabolismo lipídico. Ao contrário, existiu uma
forte associação do padrão alimentar gorduroso nos voluntários. O perfil lipídico
demonstrou valores elevados de colesterol e triglicerídeos, como seria esperado, e dois
casos destacaram pela anemia, mal funcionamento intestinal, tendência ao
emagrecimento e histórico familiar de carcinogênese.
Considerações Finais
Nossos resultados prévios corroboram as informações veiculadas pelo Instituto
Nacional do Câncer, que afirma a associação do consumo de carne gordurosa com
mudanças no perfil de lipoproteínas e também a estimulação de transformações
celulares na mucosa intestinal, provavelmente resultado de biotransformação de
conservantes encontrados em carnes a varejo. Nosso próximo passo é a identificação da
origem do desconforto intestinal e a presença de sangue oculto nas fezes.
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