240 Review Tratamento das Metástases Cerebrais com Radiocirurgia: Quando e como Indicar? Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and how to Indicate? João Gabriel R. Gomes2 João Victor Salvajoli1 Alessandra Gorgulho1 Antonio A. F. De Salles1 RESUMO As metástases cerebrais são os tumores intracranianos mais comuns, 20 a 40% dos pacientes com câncer sistêmico irão desenvolvê-las. A maioria dessas lesões será múltipla (60-70%). O manejo dos pacientes com doença cerebral metastática é amplo. A combinação de microcirurgia, radioterapia convencional e quimioterapia podem ser utilizadas no tratamento. Com o advento da radiocirurgia estereotáxica (RC), os neuro-oncologistas obtiveram uma nova ferramenta no combate às metástases cranianas, com o objetivo primário da prevenção e do controle dos sintomas neurológicos debilitantes, resultando em sobrevida longa e de qualidade. Dezenas de milhares de pacientes vêm sendo tratados com RC, com várias vantagens: trata-se de procedimento minimamente invasivo, que não requer anestesia geral, e sendo realizado em regime ambulatorial (evitandose a internação hospitalar e suas complicações). É completamente factível no tratamento de lesões profundas, múltiplas, e/ou em áreas eloquentes, com morbidade aceitável. Neste artigo, os autores proporcionarão uma revisão sobre o tema com casos ilustrativos. Palavras-chave: Radiocirurgia estereotáctica; Metástase neoplásica; Tumor cerebral secundário; Radioterapia; Oncologia ABSTRACT Brain metastases are the most common intracranial tumors, 20-40% of oncological patients with systemic disease will them. The majority of these lesions are multiple (60-70%). The management of metastatic brain disease is wide with a combination of microsurgery, conventional radiotherapy and chemoterapy. Stereotactic radiosurgery provides to the neuro-oncologists a new tool for the battle against brain metastases. The primary goal is to prevent and control the debilitating neurological symptoms, resulting in a survival with good quality of life. The stereotactic radiosurgery have several advantages: it is a minimally invasive procedure, does not require general anesthesia, and it is an outpatient procedure, avoiding hospitalization and its risks and complications. It is completely feasible to treat deep lesions, multiple lesions, and lesions in eloquent areas with acceptable morbidity. In this article, the authors will review this subject and present illustrative cases. Key words: Stereotactic radiosurgery; Brain metastasis; Metastatic brain disease; Radiation Therapy; Oncology I ntrodução O manejo de pacientes diagnosticados com metástases cerebrais é amplo. A depender da patologia tumoral, a combinação de microcirurgia, radioterapia convencional e quimioterapia pode ser utilizada59,69,86,92. Com o advento da radiocirurgia estereotáxica (RC), os neuro-oncologistas obtiveram uma nova ferramenta no combate às metástases cranianas com a vantagem de preservar função cerebral e, portanto a qualidade de vida14,15. Essa tecnologia foi inicialmente descrita nos anos 50 por Lars Leksell, e desde então vem sendo implementada para o tratamento de diversos tipos de patologias intracranianas 1 2 à medida que a evolução da neuroimagem permite49,50. A experiência mais vasta com RC para o tratamento de tumores intracranianos envolve as metástases cerebrais. Ao contrário da radioterapia convencional, a RC permite a prescrição de alta dose ablativa em uma única sessão ao completo volume tumoral, com mínima exposição do tecido nervoso funcional circunjacente43. É superior à radioterapia estereotáxica fracionada em pacientes com metástases cerebrais, com maior sobrevida e melhor controle local em um ano6. Metástases diferem de tumores cerebrais primários, pois são usualmente lesões bem delimitadas, pouco infiltrativas, esféricas e sem tecido funcional em seu interior56. A RC também vem sendo utilizada para o tratamento de outros diversos tipos Neurosurgeon, Hospital do Coração, São Paulo, São Paulo Neurosurgery Resident, Hospital da Restauração, Recife, Pernambuco Received Jun 23, 2015. Accepted Sept 5, 2015 Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? J Bras Neurocirurg 25 (3): 240 - 250, 2014 241 Review de tumores cerebrais (ex. meningiomas, schwannomas vestibulares, adenomas hipofisários, astrocitomas malignos), para malformações vasculares (MAVs), e também para lesões funcionais no tratamento de epilepsia, transtornos do comportamento, e da dor refratária a medicação, principalmente a dor de origem oncológica e certas neuralgias. Neste artigo, abordaremos somente o uso da RC para o tratamento das metástases intracranianas. Epidemiologia Dados americanos estimam cerca de 170.000 novos casos de metástases cerebrais por ano47, e que há pelo menos 500.000 casos sendo tratados nos Estados Unidos88. As metástases cerebrais são os tumores intracranianos mais comuns, podendo superar o número de tumores primários em até 10:170. Vinte a 40% dos pacientes com câncer sistêmico irão desenvolver doença cerebral metastática; 30-40% desses pacientes apresentarão lesão única, e 60-70% apresentarão lesões metastáticas múltiplas2. Sugere-se que a incidência de metástases cerebrais vem aumentando, devido ao diagnóstico precoce, ao tratamento mais efetivo da doença neoplásica primária com agentes quimioterápicos que não atravessam efetivamente a barreira hemato-encefálica, e ao aumento da incidência de câncer de pulmão, a principal fonte de metástases cerebrais102. Objetivo do Tratamento O objetivo primário do manejo da doença cerebral metastática é a prevenção e paliação dos sintomas neurológicos debilitantes, objetivando uma sobrevida longa e com qualidade. A sobrevida média dos pacientes com metástase cerebral sem tratamento algum é de apenas um mês. A terapia com corticóide, em geral, produz rápida melhora dos sintomas quando atribuíveis ao edema vasogênico peritumoral, estendendo a média de sobrevida apenas para 2 meses77. A radioterapia de cérebro total (WBRT - Whole Brain Radiation Therapy), geralmente administrada a uma dose total de 30Gy em 10 frações de 3Gy9, estende a sobrevida média para 4 a 6 meses42,71,80; porém cerca de 50% dos pacientes irão a óbito devido à progressão da Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? doença cerebral86. Dois estudos no início dos anos 90 provaram que para pacientes com metástase cerebral única ressecável e bom estado neurológico, a adição de microcirurgia à WBRT estende a sobrevida66,69. Porém, a microcirurgia também possui limitações. Brega et al. reportaram 38% de reoperação e morbidade perioperatória incluindo trombose venosa profunda, psicose relacionada ao esteróide, infecção e crises epilépticas. A mortalidade em 30 dias foi zero, mas, cinco de 7 pacientes faleceram devido a recorrência de metástases cerebrais. A sobrevida média foi de 10 meses10. Wornom et al. reportaram 22% morbidade e 11% de mortalidade em série com 17 pacientes109. Recentemente, um estudo randomizado prospectivo demonstrou que a adição de RC à WBRT teve prognóstico equiparável à microcirurgia associada a WBRT2 . Por que utilizar a radiocirurgia? O uso da RC para metástases cerebrais foi primeiramente descrito no final dos anos 8052,97. Desde então, dezenas de milhares de pacientes com doença cerebral metastática vêm sendo tratadas com RC, tanto através de Gamma Knife (GK) quanto através dos aceleradores lineares (LINACs), ambos os sistemas mostrando eficácia e segurança. A seguir, apresentamos dois casos tratados com cada um dos sistemas (Figura 1 e Figura 2). A RC possui várias vantagens no tratamento das metástases cerebrais. É minimamente invasiva, não requer anestesia geral e é realizada em regime ambulatorial, evitando-se as complicações inerentes à anestesia, e ao internamento hospitalar. Os tumores metastáticos são tipicamente esféricos, com bordas bem definidas nos exames de imagem contrastados, o que facilita o planejamento e a preservação de áreas cerebrais eloquentes durante o tratamento. Frequentemente são lesões pequenas e histologicamente bem definidas, justificando a rápida queda da dose prescrita de radiação na periferia do volume alvo gerado pela RC35,55. Mesmo para lesões císticas metastáticas, possui resultados semelhantes, e se grandes, podem ser drenadas através de punção guiada por estereotaxia antes da RC48. J Bras Neurocirurg 25 (3): 240 - 250, 2014 242 Review A RC é rapidamente aplicável a lesões localizadas em qualquer local do encéfalo, incluindo áreas eloquentes ou profundas34,38,112 que poderiam ser difíceis ou impossíveis de serem abordadas através de microcirurgia com aceitável morbidade. A RC pode ser utilizada para o tratamento de várias lesões, independente da distância entre si, em uma única sessão, sendo impossível com a microcirurgia7,25,27,34,36,63,82,84. Também foi provada ser um tratamento efetivo até mesmo para metástases de melanoma, sarcoma e carcinoma de células renais, lesões tradicionalmente consideradas radiorresistentes em regime fracionado12,13,26,27,84,96. A RC pode ser utilizada em combinação com a WBRT, a microcirurgia, ou ambos, e pode ser repetida quando necessário para tratar doenças recorrentes16,27,65,82,85. Concomitantemente, mostrou-se efetiva e segura no manejo da doença cerebral metastática em idosos (acima de 70 anos), uma população específica que sabidamente possui restrições no tratamento microcirúrgico e maior sensibilidade ao declínio cognitivo associado à WBRT67. Adicionalmente, a RC atinge melhor custo-benefício que a cirurgia58,78. Outras importantes vantagens da RC sob o regime de WBRT é a possibilidade de manter o tratamento quimioterápico sistêmico enquanto as metástases cerebrais são tratadas, a mínima perda de cabelo após o tratamento e o menor declínio cognitivo com RC comparado à WBRT14,57. Figura 1. Paciente de 40 anos, KPS = 100%, com diagnóstico de neoplasia da mama e metástases para pulmão, ossos e linfonodos do mediastino, com progressão para SNC com duas lesões frontais no hemisfério esquerdo. Submetida a radiocirurgia estereotáxica com Gamma Knife, recebendo 21 Gy. Ambas as lesões desapareceram na RM controle, após 11 meses. A. RM antes da radiocirurgia, evidenciando lesão frontal esquerda. B. RM controle da paciente após 11 meses de radiocirurgia. C. Planejamento da radiocirurgia estereotáxica com curvas de isodose (amarela = 21Gy/53%; verde = 9 Gy/22%). D. Outra lesão metastática, frontal medial esquerda, mostrada com ampliação da imagem. E. RNM controle após 11 meses. F. Planejamento da radiocirurgia com curvas de isodose (amarela = 21Gy/70%; verde = 9 Gy/30%). Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? Figura 2. Paciente de 57 anos, com diagnóstico de carcinoma de células renais, com 2 metástases cerebrais (1 temporal direita = 1,89cm3 e 1 temporal esquerda = 0,68 cm3). Submetida à radiocirurgia estereotáxica com LINAC (Acelerador Linear) recebendo 18 Gy, prescrito na isodose de 90%. No acompanhamento, a lesão temporal direita permaneceu de volume praticamente inalterado, enquanto a lesão temporal esquerda teve desaparecimento quase completo. A. RM da paciente antes da radiocirurgia, evidenciando lesões temporais bilateralmente. B. RM controle da paciente após 2 meses da radiocirurgia, com piora do edema perilesional, sendo prescrito corticosteroide. C. RM controle após 3 meses da radiocirurgia, após 1 mês de uso de corticosteroide, com melhora do edema. J Bras Neurocirurg 25 (3): 240 - 250, 2014 243 Review Quais as desvantagens da radiocirurgia? Resultados da radiocirurgia para metástases cerebrais Como todas as modalidades de tratamento, a RC também possui desvantagens. É incapaz de resolver rapidamente sintomas tumorais relacionados ao efeito de massa, sendo a ressecção microcirúrgica o tratamento mais apropriado em pacientes sintomáticos com déficits neurológicos estabelecidos, pois a cirurgia pode reverter rapidamente o quadro neurológico. A RC possui aplicabilidade limitada para lesões metastáticas grandes (maiores que 3cm em diâmetro), devido ao aumento da exposição da radiação do cérebro normal com aumento do volume alvo85. Lesões localizadas próximas a estruturas com baixa tolerância à radiação, como nervos ópticos e quiasma também possuem limitações no tratamento, sendo recomendada uma distância maior que 3mm destas estruturas. Grandes séries radiocirúrgicas relatam uma sobrevida média entre 7-13,9 meses1,5,7,11,13,16,19,23,27-30,36,37,44,54,61,64,70,72,84,8991,100,104,105,110,113 e uma probabilidade de sobrevida em um ano de 31-53% e 2 anos 13-30% 5,13,63,64,70,74,75,90,113. Muitas dessas séries são limitadas a metástase única5,23,91,105, excluem pacientes com volumes tumorais grandes13,27,90, ou excluem pacientes com características desfavoráveis1,5,27,29. O controle local vem sendo reportado com taxas entre 82-96%, sendo cerca de 64-91% de controle local em um ano, e 46-77%, em 2 anos (Tabela 2). O número de complicações pode ser reduzido ao limitar a dose máxima na periferia em relação ao volume tumoral. O Radiation Therapy Oncology Group (RTOG) 9005 identificou prospectivamente doses apropriadas e seguras para RC baseada no tamanho da lesão. Esse estudo mostrou que doses de 15Gy para lesões com 31 a 40mm de diâmetro, 18Gy para 21-30mm de diâmetro e 24Gy para lesões até 20mm seriam as doses máximas seguras85. O volume máximo da soma das lesões tratadas com a RC em uma única sessão também é um fator limitante, e segue o conceito da dose total integrada ao crânio (TSID). Um TSID de 10 Joules é equivalente a 3Gy de WBRT (uma fração) ou um volume total de 15cm3. Utilizando o conceito TSID, 25 lesões muito pequenas, dez lesões pequenas e quatro lesões médias poderiam ser o máximo tratado de forma segura em uma única sessão, com a dose periférica de 20Gy83,98. A radionecrose é uma preocupação após a radiocirurgia estereotáxica, e pode ocorrer em até 10% dos pacientes tratados, com possibilidade de declínio neurológico. O tratamento padrão para o edema associado é o uso de corticoesteróides, porém, também pode ser utilizada a pentoxifilina, a vitamina E, o bevacizumab ou até mesmo, a ressecção microcirúrgica8. Uma vantagem da microcirurgia sobre a RC consiste na obtenção de tecido para análise histológica, pois é bem estabelecido que 5-11% dos pacientes com doença sistêmica e uma lesão cerebral consistente com metástase cerebral na verdade possuem uma lesão não metastática69,108. Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? Vários estudos encontraram: (1) idade menor que 65 anos1,7,20, (2) maior escore de performance de Karnofsky (KPS, geralmente maior ou igual a 70)17,20,32,44,70,82,89,91, (3) tumor primário controlado11,17,36,41,107, (4) ausência de doença metastática sistêmica, e (5) apresentação assíncrona de metástases cerebrais22,89 como sendo significativamente associados a um melhor prognóstico. Muitos trabalhos também encontraram a classe RPA (Recursive Partitioning Analysis) do RTOG, que é composta de idade, KPS, status do tumor primário e status da doença metastática sistêmica como altamente correlacionada com a sobrevida7,12,36,63-65 (Tabela 1). Atualmente, o uso ideal da RC no manejo da doença cerebral metastática está sendo estabelecido. Resultados dos primeiros estudos randomizados prospectivos de WBRT, associado ou não a RC, foram apenas recentemente relatados2,14,46, e apesar de terem evidenciado um benefício significativo na sobrevida em pacientes com metástase cerebral única, não se conseguiu provar com literatura robusta que a RC similarmente melhora a sobrevida em pacientes com múltiplas metástases cerebrais7,36,84. Estudos recentes de Yamamoto et al. evidenciaram que os pacientes com metástase cerebral única apresentam uma melhor sobrevida, porém, não existe diferença na sobrevida de pacientes com 2-4 versus aqueles com 5-10 lesões110,111. Pacientes tratados com RC para metástases cerebrais geralmente também recebem WBRT. Esta estratégia de tratamento corrobora a presunção que a WBRT vai efetivamente tratar focos micrometastáticos fora do campo radiocirúrgico, prevenindo que se tornem lesões detectáveis e sintomáticas que possam afetar a duração e a qualidade de vida53. No entanto, existem evidências que a adição de WBRT à RC é associada ao aumento da incidência de morbidade relacionada ao tratamento de forma leve a moderada; e existe uma preocupação que a WBRT esteja associada a déficits neurológicos sérios em J Bras Neurocirurg 25 (3): 240 - 250, 2014 244 Review alguns sobreviventes em longo prazo14,93,94. Isto tem levado à estratégia de tratar somente as lesões visíveis em imagens de alta qualidade, deixando para tratar lesões que por ventura aparecerem também com RC, desde que o conceito de micrometástases cerebrais é um conceito anterior à existência das imagens computadorizadas de alta definição. WBRT (Whole Brain Radiation Therapy) DeAngelis et al. descreveram 12 pacientes curados de metástase cerebral que desenvolveram demência progressiva, ataxia e incontinência urinária em média de 14 meses (variando entre 5 e 36 meses) após o tratamento com WBRT (dose total de 25-39Gy, prescritas doses de 3-6Gy) com ou sem cirurgia. Foi encontrada uma incidência de 1,9-5,1% de demência induzida por WBRT, e foi estimado que a incidência verdadeira em outras populações seja provavelmente maior18. Em revisão publicada em 2012, Tallet et al. concluíram que o declínio cognitivo é predominante com 4 meses após a WBRT, e está fortemente relacionada ao controle das metástases cerebrais101. É sugerido que o declínio cognitivo esteja relacionado à destruição das células progenitoras neuronais na zona subgranular do giro denteado do hipocampo73. A administração de memantina após WBRT parece diminuir este declínio cognitivo76. WBRT x WBRT+RC Andrews et al. reportaram os resultados do estudo fase III do protocolo RTOG 9508. Foi o primeiro ensaio prospectivo, randomizado de WBRT com ou sem RC para o tratamento da doença cerebral metastática. Trezentos e trinta e um pacientes com uma a três novas metástases cerebrais, com KPS de 70 ou mais, e sem história de WBRT prévia, foram alocados para receber WBRT apenas (167 pacientes) ou WBRT+RC (164 pacientes). A análise revelou um aumento na sobrevida de pacientes com metástase cerebral única tratada com WBRT+RC x WBRT apenas (média de sobrevida 6,5 meses x 4,9 meses), mas falhou a demonstrar vantagem para pacientes com duas ou três metástases cerebrais. Entretanto, todos os pacientes Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? J Bras Neurocirurg 25 (3): 240 - 250, 2014 245 Review do grupo WBRT+RC estiveram mais favoráveis a apresentar um KPS melhor, ou estável, seis meses após o tratamento e estavam menos favoráveis a estar dependentes de corticóides do que os tratados apenas com WBRT. A análise multivariada revelou que a classe I do RPA e câncer de pulmão de não pequenas células estavam associados a melhor sobrevida. A análise também demonstrou um melhor controle local após um ano das lesões tratadas com WBRT + RC x WBRT apenas (82% x 71%). A conclusão dos autores foi que a adição da RC à WBRT deve ser padrão ao tratamento de pacientes com metástase cerebral única e deve ser considerada para pacientes com duas a três metástases cerebrais2. Kondziolka et al. conduziram um estudo prospectivo randomizado no qual os pacientes com duas a quatro metástases cerebrais e KPS maior ou igual a 70 foram randomizados para receber WBRT apenas ou WBRT+RC. Entretanto, este estudo precisou ser interrompido (com 60% população prevista: 14 pacientes no grupo de WBRT apenas e 13 no grupo WBRT+RC) devido à detecção de um controle local significativamente melhor com WBRT+RC em relação à WBRT apenas. A média de tempo para a falha local foi seis meses após WBRT comparada com 36 meses após WBRT+RC, e com um ano após o tratamento, nenhum paciente no grupo WBRT manteve controle local, contra 92% dos pacientes no grupo WBRT+RC. Apesar de a análise provisória revelar uma tendência ao aumento da sobrevida após WBRT+RC comparada a WBRT apenas (média de sobrevida 11 meses x 7,5 meses), nenhuma conclusão pôde ser feita devido ao pequeno número de pacientes46. RC x RC+WBRT Kondziolka et al. reportaram os resultados de 104 questionários realizados pelos pacientes (ou suas famílias) tratados com RC associada ou não à WBRT. Foi visualizado, com significância estatística, que pacientes que receberam WBRT relataram mais fadiga, problemas de concentração, problemas de memória e desordens do humor comparados aos tratados unicamente com RC45. Aoyama et al. descreveram os resultados do primeiro estudo randomizado, prospectivo, multi-institucional da SRS com ou sem WBRT para o tratamento de metástases cerebrais. Cento e trinta e dois pacientes com uma a quatro metástases cerebrais, com 3 cm ou menos de diâmetro, e com KPS maior ou igual Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? a 70, foram distribuídos para RC+WBRT (65 pacientes) ou RC apenas (67 pacientes). A WBRT adjuvante não alterou a sobrevida: pacientes do grupo RC+WBRT tiveram sobrevida média de 7,5 meses comparada a 8 meses no grupo RC apenas. Entretanto, pacientes que não receberam WBRT necessitaram de forma significativa mais procedimentos de resgate. A análise multivariada revelou que idade menor que 65 anos, tumor primário controlado, doença sistêmica estável e KPS maior ou igual a 90 foram significativamente associados ao aumento da sobrevida. Houve melhor controle local, regional e total após tratamento com RC+WBRT comparada a SRS apenas. Pacientes tratados com RC+WBRT apresentaram, após um ano, um controle local, regional e total de 88,7%, 58,5% e 53,2% respectivamente, comparado com 72,5%, 36,3% e 23,6%, para pacientes tratados com RC apenas. A análise não revelou diferenças no desempenho neurológico pós-tratamento: pacientes tratados com RC+WBRT obtiveram taxa de preservação neurológica em um ano de 72,1%, comparado com 70,3% dos pacientes tratados com RC apenas3. Esses achados são consistentes apenas com os de Patchel et al., no qual foram randomizados 95 pacientes com metástase cerebral única ressecável e KPS maior ou igual a 70 a receberam cirurgia + WBRT ou cirurgia apenas, e determinou que pacientes que receberam WBRT após microcirurgia não apresentaram aumento na sobrevida porém possuíram melhor controle local, regional e cerebral total68. Em meta-análise publicada em 2012, foi concluído que a adição de WBRT à radiocirurgia não aumentou a sobrevida, e que a RC sozinha deve ser considerada como tratamento de rotina devido ao prognóstico neurológico favorável, menor risco de efeitos colaterais tardios, e por não interferir no status de performance do paciente103. SRS x Microcirurgia + WBRT Muacevic et al. publicaram estudo de pacientes com metástase cerebral única comparando a RC com a cirurgia + WBRT. Foi um trabalho prospectivo, randomizado com 64 pacientes, 33 no grupo de cirurgia + WBRT e 31 no grupo RC. A sobrevida média dos dois grupos não diferiu significativamente, com 9,5 meses no grupo da cirurgia e 10,3 meses no grupo RC. O controle local em 1 ano foi 82% para cirurgia e 96,8% para RC, novamente, sem diferença significativa. O controle regional foi significativamente melhor no grupo da cirurgia, com 97% J Bras Neurocirurg 25 (3): 240 - 250, 2014 246 Review dos pacientes livres de metástases distantes após um ano, comparados com 74,2% do grupo RC. Os autores concluíram que a RC e a cirurgia apresentam controle local semelhante, porém a WBRT significativamente melhora o controle de metástases distantes62. Rades et al. reportaram uma análise retrospectiva de pacientes com uma ou duas metástases cerebrais tratadas com SRS apenas ou microcirurgia + WBRT, 94 pacientes no grupo de SRS e 112 pacientes no grupo da microcirurgia + WBRT. Os autores não encontraram diferenças significativas entre os grupos em termos de sobrevida geral, controle local e controle regional74. Quando Indicar a WBRT O aspecto da necessidade de repetição da RC comparada à WBRT como primeira terapia permanece como questão não respondida. Devido à falta de dados classe I, muitos grupos vêm conduzindo estudos prospectivos e retrospectivos da RC com ou sem WBRT para doença cerebral metastática. Estes estudos consistentemente mostram que a adição da WBRT à SRS não altera a sobrevida, mas afeta o controle local e regional14,51,72,93,94,103. Resultados dessa natureza levaram alguns autores a concluir que pode ser melhor inicialmente empregar apenas a SRS e reservar a WBRT como tratamento de resgate14,15,19,40,44,45,60,79. Muitos centros vêm empregando múltiplas RC ao invés de WBRT para o tratamento de resgate14,16,79,103, e novos relatos existem de RC à cavidade de ressecção após cirurgia apenas, ao invés de WBRT, com até 94% de controle local em um ano95. Uma revisão retrospectiva recente evidenciou que após a RC, se houver progressão de lesão e a mesma for tratada com microcirurgia, pode-se fazer nova RC no leito da ressecção, com 100% de controle local em seis meses e 75% em um ano31. A RC hoje é praticamente uma visita do paciente ao hospital, similar a um dia de tratamento fracionado com WBRT, porém, a RC pode ser realizada em dose única, enquanto que a WBRT necessita de dez frações. Portanto, visando a preservação do cérebro normal e principalmente a cognição, fica bem justificável o uso de repetidas RC. Gomes JGR, Salvajoli JV, Gorgulho A, De Salles AAF. - Treatment of Brain Metastases with Radiosurgery: When and How to Indicate? Conclusão A vasta experiência e dados recém-publicados para Radiocirurgia no tratamento de metástases cerebrais provam que a mesma é segura e efetiva. Além de seu comprovado valor no tratamento da metástase única, também é de extrema importância em pacientes com múltiplas metástases quando associada à WBRT. Evidências começam a acumular no seu uso como adjuvante no controle do resíduo tumoral no leito microcirúrgico. Estudos classe I devem determinar o melhor uso da RC em pacientes com múltiplos tumores e a necessidade de WBRT. Ficamos ainda sem resposta quanto à melhor combinação da RC, microcirurgia e WBRT para tratamento dessa população específica, principalmente quando se considera diferentes histologias. R eferências 1. Alexander E 3rd, Moriarty TM, Davis RB, Wen PY, Fine HA, Black PM, et al. Stereotactic radiosurgery for the definitive, noninvasive treatment of brain metastases. J Natl Cancer Inst. 1995;87:34-40. 2. Andrews DW, Scott CB, Sperduto PW, Flanders AE, Gaspar LE, Schell MC, et al. 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