0 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA CARLA MOREIRA SANTOS REUSO DE EFLUENTE DOMÉSTICO TRATADO NO CULTIVO HIDROPÔNICO DE CAPIM BUFFEL NO SEMIÁRIDO BAIANO SALVADOR 2012 1 CARLA MOREIRA SANTOS REUSO DE EFLUENTE DOMÉSTICO TRATADO NO CULTIVO HIDROPÔNICO DE CAPIM BUFFEL NO SEMIÁRIDO BAIANO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Yvonilde Dantas P. Medeiros Co-orientador: Prof. Dr. Tales Miler Soares SALVADOR 2012 2 S237 Santos, Carla Moreira Reuso de efluente doméstico tratado no cultivo hidropônico de capim buffel no semiárido baiano / Carla Moreira Santos. – Salvador, 2012. 83 f. :il. color. Orientador: Prof. Doutora Yvonilde Dantas Pinto Medeiros Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2012. 1. Águas residuais – Purificação. 2. Esgotos. 3. Agricultura. 4. Irrigação agrícolaI. Medeiros, Yvonilde Dantas Pinto. II. Universidade Federal da Bahia. III. Título. CDD: 628.3 3 CARLA MOREIRA SANTOS REUSO DE EFLUENTE DOMÉSTICO TRATADO, NO CULTIVO HIDROPÔNICO DE CAPIM BUFFEL NO MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS, SEMIÁRIDO BAIANO Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Ambiental. Aprovada em ____de ____________ de 2012. Banca Examinadora Orientadora: ___________________________________________ Profª. Drª. Yvonilde Dantas Pinto Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Co-orientador: __________________________________________ Prof. Dr. Tales Miler Soares UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO BAHIANO Examinador: _____________________________________________ Profª. Drª Iara Brandão de Oliveira UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Examinador: _____________________________________________ Prof. Dr. Ênio Farias França de Silva UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO 4 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a DEUS por nos ter concedido o privilégio de estar vivo e poder participar desse momento, Sem Ele nada conseguiria fazer. À minha família pelo apoio e incentivo em toda a minha carreira acadêmica. A Profª. Drª. Yvonilde Dantas Pinto Medeiros, minha orientadora, pelas contribuições para a consecução desse objetivo e pelos ensinamentos e incentivos. Ao Prof. Dr. Tales Miler Soares, meu co-orientador, pela disponibilidade e pelas especiais contribuições no tocante ao trabalho realizado dentre eles a metodologia e os resultados. A Profª. Drª. Iara Brandão de Oliveira, pelas valiosas contribuições quando da banca de qualificação dessa dissertação como também, no direcionamento do referencial teórico aqui utilizado. Ao Prof. Dr. Ênio Farias França de Silva, pelas valiosas contribuições para a versão final desta dissertação proferida durante a defesa. À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudo. Aos colegas do Mestrado, Caline, Jucimeyre, Juliana, Alarcon, Elzimar, Iran, Clement e Thiago, pelo convívio, aprendizado, colaboração e senso de responsabilidade o que fez as nossas aulas mais produtivas. Ao Grupo de Recursos Hídrico (GRH), em especial a Martha Schaer pelo incentivo e presença neste trabalho, Denise Araujo dos Santos pelo apoio e colaboração, Luci Cleidde Meireles, Sival Ribeiro de Sena e Tiago pelo apoio durante a pesquisa. 5 As amigas Rosineia Amaro pelo apoio e dicas na construção do sistema hidropônico, a Karine Lopes e Carmen Galvão, pelas contribuições na verificação ortográfica desse trabalho, a Deliana Silva pelo incentivo ao ingresso no mestrado. A minha sobrinha Sophia Alves Hohlemwerger pelo apoio na construção do abstract desta pesquisa. A Jaime de Oliveira Filho coordenador do curso de administração da Faculdade Batista Brasileira pelo incentivo no ingresso ao mestrado. A Manuel Roque dos Santos Filho, pela ajuda e dicas de Excel para produção dos gráficos deste trabalho A empresa Dakar pelo apoio e manutenção sempre que necessário no sistema hidropônico, em especial a Sergio por estar sempre disponível a ajudar nos problemas em campo. A Eduardo, Hamilton e Diogo pela colaboração e ajuda para poder tocar o experimento em Santo Antônio. 6 SANTOS, Carla Moreira. Reuso de efluente doméstico tratado, no cultivo hidropônico de capim buffel no semiárido baiano. Salvador/BA. 83 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012. RESUMO Este trabalho analisou o reuso de esgoto doméstico tratado no cultivo da forragem do capim buffel em hidroponia, como alternativa de produção de alimento aos animais em períodos principalmente de extrema seca em Santo Antônio/São Domingos/Bahia. O tratamento do esgoto doméstico foi feito por meio de uma fossa séptica e um filtro anaeróbio. Foram avaliados os seguintes parâmetros no efluente: DBO, DQO, coliformes, pH, CE, sólidos dissolvidos e suspensos, fósforo total, nitrogênio amoniacal, nitrato e nitrito. Na água foram avaliados bicarbonato, carbonato, sódio, cloreto, cálcio e magnésio. A forragem foi cultivada em seis canteiros, sendo dois destes irrigados com água tratada e fertilizantes, com as fibras de coco ou sisal, como meio de substrato e quatro canteiros cultivados com o efluente tratado e fibras de coco ou sisal. Os resultados mostraram a possibilidade do cultivo na região com o reuso de efluente tratado. O tratamento composto pelo efluente tratado e a fibra de coco obteve resultado médio 85 cm de altura da planta e massa de matéria fresca de 2,20 Kg/m². A utilização do efluente tratado possibilita ao produtor cultiva sem a necessidade da compra de fertilizantes. O substrato sisal mostrou-se eficiente quando bem manejado possibilitando o cultivo do capim buffel. Além da alternativa do reuso de efluente tratado na utilização de cultivo agrícola pela técnica hidropônica, o tratamento do esgoto vêm a ser uma ação mitigadora para minimizar a contaminação do Rio Jacuípe pelo esgoto doméstico. Este trabalho demonstrou que os sistemas de conservação e reuso tornar-se partes integrantes da gestão nas regiões semiáridas com baixa disponibilidade ou poluição dos recursos hídricos, de forma a tentar restaurar o equilíbrio entre a biodiversidade aquática e geração de renda para o produtor. Com isto, esta pesquisa aponta solução para superar a ineficiência do gerenciamento dos corpos hídricos, que tem como consequência a poluição pelo lançamento de esgotos domésticos, industriais e agroindustriais, é um fato que tem limitado a utilização dos corpos d’água, principalmente para o uso agropecuário. Os sistemas de conservação Palavras chaves: Poluição dos corpos hídricos, esgoto domestico tratado, agricultura. 7 SANTOS, Carla Moreira. Reuso de efluente doméstico tratado, no cultivo hidropônico de capim buffel no município de são domingos - semiárido baiano. Salvador/BA. 83 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012. ABSTRACT The inefficiency of the managed of water bodies, which leads to pollution by the release of domestic sewage, industrial and agribusiness, is a fact that has limited the use of water bodies, mainly for agricultural use. In this situation, the system of conservation and reuse will be integrants parts of management in areas with low availability or pollution of water resources in order to try to restore the balance between aquatic biodiversity and generate income for the producer. This research aims to analyze the reuse of treated domestic sewage in hydroponic technique in the cultivation of forage of buffel grass as an alternative to animal food production mainly in periods of extreme drought. The research was conducted in Santo Antonio / San Domingos/Bahia. The Treatment of domestic sewage was done through a septic tank and an anaerobic filter. Parameters were evaluated in the effluent as BOD, COD, coliform, pH, EC, dissolved and suspended solids, macro and micronutrients. In water were evaluated bicarbonate, carbonate, sodium chloride, calcium and magnesium. The forage was grown in six beds, two of these irrigated with treated water and fertilizer, with coconut fibers and sisal, and four beds planted with treated effluent, sisal and coconut fibers. The results showed the possibility of cultivation in the region with the reuse of treated effluent. The treatment consists of the treated effluent and coconut fiber obtained results results 85 cm plant height and fresh weight of 2.20 kg. The use of the treated effluent allows the producer cultivated without the need for purchasing fertilizer. The sisal substrate proved to be effective when well managed allowing the cultivation of buffel grass. In the alternative reuse of treated effluent in agricultural crop by using the hydroponic technique, treatment of sewage have to be a mitigating action to minimize contamination of the Rio Jacuípe by domestic sewage. Keywords: Pollution of water bodies, domestic sewage treated,farming. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Possibilidades de aplicação do reuso 20 Figura 2 Relação oferta e demanda da água para utilização em 22 determinados fins Figura 3 Características das impurezas contidas nas águas dos esgotos 26 domésticos Figura 4 Vinte países com maiores áreas irrigadas com esgoto bruto e 29 tratado Figura 5 Localização da área de estudo em Santo Antônio/São Domingos 44 Figura 6 Precipitação x evapotranspiração 45 Figura 7 Croqui do tratamento do efluente Santo Antônio/São Domingos 46 Figura 8 Seixos rolados no interior do filtro anaeróbico 47 Figura 9 Tanque de armazenamento do efluente tratado para uso 48 hidropônico Figura 10 Coleta do esgoto bruto e tratado 49 Figura 11 Vista substrato fibra de coco 50 Figura 12 Vista substrato fibra de sisal 51 Figura 13 Croqui experimento 1 com efluente tratado 52 Figura 14 Sistema contactor interligado as bombas no sistema hidropônico 52 Quadro 1 Matriz Experimental do reuso no sistema hidropônico 53 Figura 15 Plantio da forrageira capim buffel 53 Figura 16 Canteiros na técnica hidropônica 54 Figura 17 Vista de uma cobertura da área dos canteiros hidropônicos 54 Figura 18 Concentrações de pH e CE (dS m-1) na solução nutritiva (SN) e 62 no efluente tratado (ET) Figura 19 Número de plantas germinadas do capim buffel aos quatorze dias após semeadura nos 63 diferentes tratamentos T1 solução nutritiva e fibra de coco (SN + FC), T2 solução nutritiva e fibra de sisal (SN + FS), T3 efluente tratado e fibra de coco (ET + FC) e T4 efluente tratado e fibra de sisal (ET + FS) Figura 20 Altura das plantas de capim buffel em função do uso da solução 64 9 nutritiva (SN) e efluente tratado (ET), na presença de fibra de coco (FC) Figura 21 Altura das plantas de capim buffel em função do uso da solução 64 nutritiva (SN) e efluente tratado (ET), na presença de fibra de sisal (FS) Figura 22 Altura das plantas de capim buffel em função do uso da solução 65 nutritiva (SN), na presença de fibra de coco e fibra de sisal (FS) Figura 23 Altura das plantas de capim buffel em função do uso do efluente 66 tratado (ET), na presença de fibra de coco (FC) e fibra de sisal (FS) Figura 24 Vista das forrageiras hidropônicas aos 35 dias pós semeadura 66 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Diretrizes do PROSAB para o uso agrícola de esgotos sanitários 31 Tabela 2 Aumento da produtividade com o uso de esgoto doméstico 32 (t/ha/ano) Tabela 3 Diretrizes da OMS para o reuso agrícola de esgotos sanitários 32 Tabela 4 Parâmetros de qualidade de água para hidroponia 37 Tabela 5 Diretrizes adotadas na interpretação da qualidade das águas de 37 irrigação Tabela 6 Caracterização do esgoto que alimenta a forragem hidropônica de 40 milho Tabela 7 Concentrações de nutrientes do composto para a hidroponia 48 Tabela 8 Média dos resultados das primeiras análises do efluente tratado e 57 esgoto bruto Tabela 9 Características físico-químicas do efluente tratado 59 Tabela 10 Parâmetros de análise de água 61 Tabela 11 Quantidade de folhas por plantas e teste qui quadrado em T1 e 67 T3 Tabela 12 Quantidade de folhas por plantas e teste qui quadrado em T2 e 67 T3 Tabela 13 Circunferência do colmo das plantas e teste qui quadrado em T1 68 e T3 Tabela 14 Circunferência do colmo das plantas e teste qui quadrado em T2 68 e T3 Tabela 15 Largura das folhas do capim buffel e teste qui quadrado em T1 e 69 T3 Tabela 16 Largura das folhas do capim buffel e teste qui quadrado em T2 e T3 69 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANA Agência Nacional de Águas Ca Cálcio CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CE Condutividade Elétrica CNA Comissão Nacional de Águas CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente DBO Demanda Biológica de Oxigênio DFT Técnica do fluxo profundo DQO Demanda Química de Oxigênio E. Coli Escherichia coli EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário EMBASA Empresa Baiana de Águas e Saneamento ET Efluente Tratado ETE Estação de Tratamento de Esgoto FAO Food and Agriculture Organization FC Fibra de coco Fe Ferro FINEP Financiadora de Estudos e Pesquisa FS Fibra de Sisal GRH Grupo de Recursos Hídricos IFPRI International Food Policy Research Institute IWMI International Water Management Institute K Potássio Mg Magnésio Mn Manganês Mo Molibdênio 12 N Nitrogênio NFT Técnica de Filme Nutriente OMS Organização Mundial de Saúde ONU Organização das Nações Unidas P Fósforo Ph Potencial Hidrogeniônico PIB Produto Interno Bruto PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos PROSAB Programa de Pesquisa em Saneamento Básico RAS Razão de Adsorção de Sódio STD Sólidos Totais Dissolvidos SN Solução Nutritiva SST Sólidos Suspensos Totais UFBA Universidade Federal da Bahia UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação WHO World Health Organization WMO World Meteorological Organization. 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 1.1 JUSTIFICATIVA 17 1.2 OBJETIVOS 18 1.2.1 Objetivo geral 18 1.2.2 Objetivos específicos 18 1.3 HIPÓTESE 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 19 2.1 REUSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA 19 2.2 REUSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA FACE À ESCASSEZ DOS 21 RECURSOS HÍDRICOS 2.3 REUSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA PARA MINIMIZAR A 23 DEGRADAÇÃO DOS CORPOS HÍDRICOS 2.4 TRATAMENTO DO ESGOTO DOMÉSTICO 25 2.5 LEGISLAÇÃO RELATIVA AO REUSO 27 2.6 REUSO DO EFLUENTE TRATADO NA AGRICULTURA 28 2.7 A TÉCNICA HIDROPÔNICA 35 2.7.1 Presença de substratos na técnica hidropônica 38 2.8 REUSO DO EFLUENTE TRATADO NA HIDROPONIA 40 2.9 FORRAGEM HIDROPÔNICA 41 3 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL 44 3.1 ÁREA DO EXPERIMENTO 44 3.2 CARATERÍSTICAS DAS ÁGUAS UTILIZADAS NOS 46 EXPERIMENTOS 3.3 SUBSTRATOS PARA HIDROPONIA 50 3.4 CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO 51 3.5 PLANTIO HIDROPÔNICO DA FORRAGEIRA CAPIM BUFFEL 53 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 57 4.1 ANÁLISES DA QUALIDADE DO EFLUENTE TRATADO PARA 57 USO NA TÉCNICA HIDROPÔNICA 4.2 ANÁLISES DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA O PREPARO DA SOLUÇÃO NUTRITIVA 60 14 4.3 GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS 63 HIDROPÔNICAS NOS DIFERENTES TRATAMENTOS 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 71 REFERÊNCIAS 73 15 1 INTRODUÇÃO No Brasil, a grande maioria dos esgotos sem nenhum tipo de tratamento prévio é lançada diretamente nos corpos d’água, os impactos ambientais decorrentes dessas atividades humanas, ao longo das bacias hidrográficas brasileiras vêm causando muitos problemas ambientais como: alterações nos regimes hidrológicos, aumento de doenças de veiculação hídrica, contaminação química pela agricultura, erosão e assoreamento nos corpos d’água, bioacumulação de metais pesados e determinados nutrientes que promovem, em sua maioria, a eutrofização dos corpos d’água. Todos estes fatores interferem na qualidade e quantidade dos corpos hídricos. A qualidade e a quantidade da água são aspectos fundamentais para o êxito da utilização de um corpo d’água em várias atividades, principalmente na região semiárida, onde estes dois fatores sofrem interferência de fenômenos naturais, como a baixa pluviosidade (que causa grandes períodos de secas) e as ações antrópicas (que causam grandes poluições nos lagos, rios e córregos). Além dos padrões de qualidade dos mananciais, a Resolução Nº 430/11 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA apresenta padrões para o lançamento de efluentes nos corpos d’água, desde que este garanta o atendimento aos padrões do corpo receptor. Face ao agravamento do nível de poluição dos corpos hídricos, a utilização do esgoto tratado seria uma alternativa ao Brasil e principalmente nas regiões áridas e semiáridas, como meio de viabilizar a conservação dos recursos hídricos pelo não lançamento dos esgotos nas bacias hidrográficas. O reuso de efluente doméstico tratado pode ser aplicado em várias atividades agrícolas, como já tem sido prática em diversos países no sistema de irrigação de determinadas culturas, assim como existem riscos na utilização das águas dos rios contaminados, existem também riscos no reuso de esgoto doméstico tratado, que se aplicado de forma inadequada poderá produzir efeitos indesejáveis na condução de uma cultura comercial ou servir como veículo de contaminação para população. A hidroponia no semiárido viabilizará uma produção agrícola, em uma região que possui baixa pluviosidade otimizando o uso da mesma, assim como a impossibilidade de um plantio em solo com baixa fertilidade. 16 A hidroponia é uma técnica de cultivo sem a utilização do solo, onde os nutrientes serão disponibilizados para a planta por meio através de uma solução nutritiva. A hidroponia tem sido muito utilizada em regiões onde o agricultor não tem disponibilidade de terra, ou o solo é inapropriado para o cultivo de determinadas culturas, por apresentar solos rasos ou até mesmo não férteis. Além destes itens a hidroponia, com o sistema de recirculação de água, favorecem as regiões em situações de escassez deste recurso natural, pela otimização do recurso no sistema para um plantio agrícola. A utilização da fibra de coco já tem sido usada em muitos trabalhos hidropônicos, apontando-a como um bom substrato para o desenvolvimento da planta. A fibra de sisal é uma possibilidade por ser um produto de fácil acesso aos agricultores da região semiárida. As plantas forrageiras como a palma e as gramíneas têm sido avaliadas ao longo dos anos, para a formação de pastagens no semiárido, buscando-se, sobretudo, elevada produtividade e persistência. Dentre elas ressaltam-se o capim buffel (Cenchrus ciliaris L.) que tem se mostrado adaptado às condições semiáridas, associando uma rápida germinação e estabelecimento, precocidade na produção de sementes e capacidade de entrar em dormência na época de seca (ARAÚJO FILHO et al., 1998 apud COSTA et al,, 2010). Segundo Bastos (2003), o cultivo de forragem hidropônica, com a utilização de efluente tratado, pode prover alimentação animal, principalmente na estação de extrema seca, onde os rios se encontram praticamente secos, assim como as pastagens por falta de chuva. Em conjunto com os novos instrumentos de gestão dos recursos hídricos do país, o uso de alternativas tecnológicas para reciclagem e reuso de efluentes nas áreas rurais, como na produção de forragem, poderá reduzir os custos de produção, além de promover a recuperação, preservação e conservação dos recursos hídricos. Esta pesquisa abordou o reuso de efluente de esgoto doméstico tratado, por intermédio de técnica hidropônica, no cultivo agrícola da forrageira capim buffel, visando dois objetivos a produção do alimento para o animal e também à possibilidade do reuso como uma ação mitigadora para a poluição do Rio Jacuípe. 17 1.1 JUSTIFICATIVA A inexistência da água é um fator limitante para a dessedentação e alimentação animal assim como para a irrigação de culturas para a subsistência familiar em regiões do semiárido. A demanda pela utilização de um corpo d’água é crescente, principalmente, quando este estiver vinculado ao uso agropecuário. Regiões que possuem rios intermitentes sofrem por não conseguir suprir esta demanda, tornando um fardo aos agricultores que necessitam da água para a produção. Atualmente, alguns agricultores da região de Santo Antônio localizado na bacia hidrográfica de São Domingos, no estado da Bahia estão deixando o cultivo do sisal para investir na criação de gado, devido à rentabilidade do produto e a seca na região. Porém, um entrave tem sido percebido por eles no período da seca: a falta de alimentação e/ou água de boa qualidade para os animais. Visando colaborar com este problema, pretende-se, com esta pesquisa, estudar a técnica de reuso de esgoto doméstico tratado, na técnica hidropônica no cultivo de forragem para alimentação animal. A aplicação do reuso também irá contribuir para minimizar a carga poluidora, a longo prazo, que chega ao Rio Jacuípe onde os animais bebem da água e se alimentam da pastagem no entorno. 18 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Avaliar o reuso de efluente de esgoto doméstico tratado por meio de técnica hidropônica na produção da gramínea forrageira capim buffel, em região semiárida. 1.2.2 Objetivos específicos Avaliar se a qualidade do efluente tratado pelo sistema fossa-filtro anaeróbico permite sua utilização na irrigação da gramínea forrageira capim buffel; Avaliar a forrageira subtraída a diferentes tipos de água, considerando os seguintes parâmetros: germinação, altura da planta, circunferência do colmo, quantidade de folhas por planta, larguras das folhas e massa de matéria fresca; Avaliar o desenvolvimento da forrageira nos diferentes tipos de substratos. 1.3 HIPÓTESE O reuso de efluente doméstico pode ser utilizado para irrigar culturas agronômicas, como por exemplo, o capim forrageiro buffel, promovendo benefícios sociais (promovendo agricultura de subsistência) e ambientais (evitando lançamentos diários de esgoto nos rios) às regiões semiáridas, que sofrem tanto com a escassez e a poluição dos recursos hídricos. 19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 REUSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA O tratamento de águas residuárias, pode ser desenvolvido em maior ou menor grau, dependendo dos fins a que se destinam as águas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS (1973), o reuso pode ser realizado de forma indireta, quando a água já usada, uma ou mais vezes, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas, passando, assim, por uma diluição para posterior utilização. A forma direta trata-se do reuso planejado e deliberado do esgoto tratado para certas finalidades como agricultura, recarga de aquíferos ou nas industrias. Além das formas indireta e direta, tem-se a reciclagem interna que é o reuso da água internamente nas instalações industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, são adotas as seguintes definições para o reuso: reuso potável pode ser direto ou indireto; reuso não potável - para fins industriais, recreacionais, doméstico, manutenção de vazões, aquicultura e recarga de aquíferos subterrâneos. Segundo Colella (2006), a técnica do reuso não potável já era utilizada na Grécia, no processo de irrigação antes da Era Cristã, e que foi evoluindo ao longo do tempo. Em 1850, a Inglaterra despoluiu o Rio Tamisa separando água e esgoto. Em 1930, na Califórnia (Estados Unidos), ocorreu a regulamentação do uso de esgoto na agricultura. Em 1958, esse crescimento se acentuou com a Resolução da Organização das Nações Unidas - ONU, que diz respeito ao uso de água de qualidade inferior, disseminando a utilização desta técnica em todo o mundo. As águas de qualidade inferior, tais como: esgotos, particularmente os de origem doméstica, de drenagem agrícola e salobra, devem, sempre que possível, ser consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos. O uso de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento dessas fontes se constitui hoje, em conjunção com a melhoria da eficiência do uso e o controle da demanda, na estratégia básica para a solução do problema da falta universal de água (HESPANHOL, 2003). 20 A qualidade da água utilizada e o objeto específico do reuso, estabelecerão os níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados e os custos de capital, operação e manutenção associados. As possibilidades e formas potenciais de reuso dependem, evidentemente, de características, condições e fatores locais, tais como: decisões políticas, esquemas institucionais, disponibilidades técnicas e fatores econômicos, sociais e culturais (MANCUSO, 2003). A princípio, não há restrição quanto à aplicação do reuso em nenhuma área (Figura 1), entretanto, a depender do local onde esta será feita, os critérios de segurança adotados e os padrões de qualidade requeridos, podem variar, o que influência no tipo de tratamento do efluente (HESPANHOL, 2003). ESGOTO DOMÉSTICO URBANOS NÃO POTÁVEL NATAÇÃO DESSEDENTA ÇÃO DE ANIMAIS ESGOTOS INDUSTRIAIS RECREAÇÃO POTÁVEL AQUICULTURA RECARGA DE AQUÍFERO CANOAGEM ETC. POMARES E VINHAS AGRICULTURA INDUSTRIAL PROCESSO S OUTROS PESCA FORRAGENS/ FIBRAS CULTURAS INGERIDAS APÓS PROCESSAMEN TO Figura 1 - Possibilidades de aplicação do reuso Fonte: Hespanhol, 2003 CULTURAS INGERIDAS CRUAS 21 2.2 REUSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA FACE À ESCASSEZ DOS RECURSOS HÍDRICOS A situação de escassez da água tem causado sérias limitações para o desenvolvimento de várias regiões, principalmente nas regiões semiáridas, restringindo o atendimento às necessidades humanas e degradando ecossistemas aquáticos. Nestas regiões, a população vive em alto stress hídrico, ou seja, com um consumo de água inferior a disponibilidade da região. Em função da relação entre escassez de água e escassez de alimentos, conforme relatório do International Food Policy Research Institute & International Water Management Institute - IFPRI & IWMI (2002), projeta-se que em 2025 a escassez de água causará perdas anuais globais de 350 milhões de toneladas na produção de alimento, ligeiramente maior que a produção anual completa de grãos, dos Estados Unidos. Segundo Beekman (1996), como a demanda pela água continua a aumentar, o retorno das águas servidas e o seu reuso vêm se tornando um componente importante no planejamento, desenvolvimento e utilização dos recursos hídricos, tanto em regiões áridas, como em regiões úmidas. A utilização das águas servidas para propósitos de uso não potável, como na agricultura, representa um potencial a ser explorado em substituição à utilização de água tratada e potável. Por meio do planejamento integrado dos recursos das águas naturais e águas servidas, a reutilização pode propiciar suficiente flexibilidade para o atendimento das demandas de curto prazo, assim como, assegurar o aumento da garantia no suprimento de longo prazo. A Figura 2 apresenta um diagrama de oferta e demanda da água para diversos fins, incluindo o reuso da água para irrigação, que surge, como alternativa para aumentar a oferta de água, garantindo economia do recurso e racionalização do uso desse bem. Diversos países já utilizam essa tecnologia e possuem regulamentação específica na temática. Porém, o Brasil ainda está em fase embrionária na efetivação e regulamentação da técnica, com grande potencial de crescimento (BERNARDI, 2003). 22 Figura 2 - Relação oferta e demanda da água para utilização em determinados fins Fonte: BERNARDI, 2003 A crescente demanda por recursos hídricos para atender aos múltiplos usos tem motivado diversas pesquisas e iniciativas concretas de reuso da água, dentre as quais a utilização de esgotos sanitários, principalmente em regiões de clima árido e semiárido, onde a disponibilidade limitada de água constitui obstáculo importante ao desenvolvimento (BASTOS, 2003). Nas regiões áridas e semiáridas, a água se tornou um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos hídricos procuram, continuadamente, novas fontes de recursos para complementar a pequena disponibilidade hídrica ainda disponível (HESPANHOL, 2003). Além da escassez hídrica, que é grave em diversas regiões, deve-se considerar a questão da poluição concentrada e difusa de corpos hídricos. Processos de eutrofização, metais pesados, acidificação, poluentes orgânicos e outros efluentes tóxicos degradam os corpos hídricos de áreas densamente povoadas, comprometendo assim a qualidade da água e o seu uso nas residências, indústrias e agricultura (BERNARDI, 2003). Além dos problemas quantitativos já mencionados, limitando a água disponível para a captação e consumo, o Brasil vê-se confrontado, em uma dimensão cada vez maior, como o problema de redução na qualidade da água, 23 sobretudo nas grandes áreas industriais e metropolitanas que estão sendo afetadas por poluição extrema de seus recursos hídricos. A causa deste problema encontrase principalmente no lançamento de efluentes industriais, domésticos e por substâncias tóxicas e poluentes de origem agrícola (HARTMANN, 2010). 2.3 REUSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA PARA MINIMIZAR A DEGRADAÇÃO DOS CORPOS HÍDRICOS A qualidade de um corpo hídrico está vinculada a fenômenos naturais assim como a ações, uso e ocupação do solo em uma bacia hidrográfica pelo homem. Os ecossistemas aquáticos têm sido fortemente alterados em função de múltiplos impactos ambientais decorrentes de atividades antrópicas. Muitos rios, córregos, lagos e até mesmo reservatórios têm sido fortemente impactados devido ao aumento desordenado de atividades humanas (MCALLISTER et al., 1997). Esta situação é particularmente notada nas áreas com elevadas densidades populacionais, especialmente em áreas urbanizadas, e em áreas rurais onde os cursos d’água são modificados, recebendo esgotos industriais e domésticos “in natura”, além de sedimentos e lixo (MORENO; CALLISTO, 2002). Consequentemente, os ecossistemas aquáticos rurais vêm perdendo suas características naturais e sua diversidade biológica. Segundo Mello (2002), alguns dos problemas que afetam a qualidade da água no semiárido baiano estão relacionados: à salinização, à poluição, o desmatamento, o esgotamento sanitário. A salinização que é provocada pelas condições climáticas e as baixas precipitações pluviométricas; o desmatamento, erosão e assoreamento que acontece principalmente nas áreas de grandes projetos agropecuários e de reflorestamento. Esse desmatamento concorre diretamente para o incremento da erosão e consequente assoreamento e degradação dos mananciais; poluição causada pelos fertilizantes químicos, agrotóxicos, esgotos domésticos e industriais, matadouros, lixo e postos de gasolina os quais contribuem para a poluição dos solos e rios do semiárido; o esgotamento sanitário que é citado como um problema especialmente grave no semiárido, onde os resíduos domésticos são lançados, em grande parte, em fossas secas ou sépticas, ou através de redes de esgoto 24 executadas pelas prefeituras, algumas com lançamento dos esgotos, sem tratamento, diretamente nos córregos e rios, poluindo as águas superficiais e subterrâneas. Além da perda da biodiversidade causada pela poluição das águas, existem aspectos biológicos que podem transmitir ao homem doenças por patógenos (verminoses, cóleras, febre tifoide) e transmissões de doenças as plantas por fitopatógenos. Quanto aos aspectos químicos podem causar salinização aos solos, acumulo de metais pesados e outros nutrientes que podem causar o processo de eutrofização nas águas, tornando-a inviável para a irrigação (FIUZA et al., 2003). A Conferência Interparlamentar sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente realizada em Brasília, em dezembro de 1992, recomendou, sob o item Conservação e Gestão de Recursos para o Desenvolvimento (Parágrafo 64/B), que se envidassem esforços, em nível nacional, para “institucionalizar a reciclagem e reuso sempre que possível e promover o tratamento e a disposição de esgotos, de maneira a não poluir o meio ambiente” (HESPANHOL, 2003). Nessas condições, o conceito de “substituição de fontes”, se mostra como a alternativa mais plausível para satisfazer as demandas menos restritivas, liberando as águas de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abastecimento doméstico. Em 1985, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 1958), estabeleceu uma política de gestão para áreas carentes de recursos hídricos, que suporta este conceito: “a não ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram águas de qualidade inferior”. A aplicação de métodos adequados para o desenvolvimento, gestão e uso dos recursos hídricos, visando à disponibilidade de água para a produção de alimentos e desenvolvimento rural, estão associados à prática de uso de águas residuárias, que irá promover a agricultura sustentada e o desenvolvimento rural, além da proteção dos recursos hídricos, qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos (SOUZA et al., 2003). Segundo Medeiros et al. (2008) e Fiuza et al. (2003), para que os rios intermitentes mantenham padrões mínimos de qualidade da água, de modo a atender usos prioritários, tais como o abastecimento de água à população, estes não deveriam receber qualquer forma de lançamento de efluentes líquidos ainda que tratados. Como alternativa ao lançamento de efluentes nos corpos d’água, os 25 autores sugerem que se faça o reuso agrícola. O uso de efluentes tratados como fonte de nutrição vegetal preserva os recursos hídricos, já bastante escassos, para usos mais nobres. Quando utilizado em substituição às soluções nutritivas convencionais, tem condições de fornecer macro e micronutrientes às plantas, passando estes a serem retirados do próprio efluente doméstico, evitando assim o seu descarte no meio ambiente e consequente poluição (ABUJAMRA et al., 2005). Fiúza et al. (2003) ressalvam que, no período de deflúvio, poderia ser autorizado o lançamento, desde que a qualidade do efluente descartado fosse igual ou superior à condição de qualidade do trecho de jusante. A fim de evitar este lançamento, o autor recomenda para destinação final do esgoto a infiltração no solo ou a irrigação. Este mesmo tipo de restrição é preconizada por Souza e Mota (1994) e por Souza et al. (2003), que também advogam como solução para o lançamento de efluentes a prática do reuso. 2.4 TRATAMENTO DO ESGOTO DOMÉSTICO Os esgotos urbanos ou rurais são oriundos das residências, indústrias, comércio, atividades em geral, que utilizam a água em seus processos, atividades essas que tornam a água impura, tornando-a imprópria para o consumo, sendo assim, necessário descartá-la. As características destes esgotos, como as concentrações de macro/ micronutrientes, metais, sais, variam de acordo com a utilização da água. Sendo assim, o tipo de esgoto gerado nas residências pode ser diferente dos gerados em determinadas indústrias, como também, a quantidade deste também é diferenciada (TCHOBANOGLOUS et al., 2003). A composição e a concentração de nutrientes dos esgotos sanitários de uma comunidade dependem de sua economia, dos hábitos alimentares, da qualidade e quantidade de água consumida. Isto por que o tipo e a quantidade de nutrientes dos esgotos é fruto do que se é utilizado nas residências. De um modo geral, a maior parte dos esgotos sanitários domésticos é composta de água, numa proporção que chega a 99,9% de água. O restante é composto por sólidos orgânicos (cerca de 26 70%), inorgânicos (cerca de 30%), suspensos e dissolvidos (BASTOS, 2003). Estes parâmetros dão aos esgotos características físicas, químicas e biológicas (Figura 3) e que geram a necessidade de tratá-los antes de lançá-los no meio ambiente. IMPUREZAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS Sólidos Gases CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS Inorgânicos CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS Orgânicos Ser vivo Suspensos, coloidais, dissolvidos Matéria em decomposição Animais, vegetais, protistas Figura 3 - Características das impurezas contidas nas águas dos esgotos domésticos Fonte: VON SPERLING, 1996 Existem diversas tecnologias de tratamento, adequada a cada situação específica, a qual é determinada em função de fatores como: disponibilidade de: recursos financeiros; área disponível para implementação da estação de tratamento de esgoto (ETE); topografia dos possíveis locais e das bacias de drenagem e esgotamento sanitário; volumes diários a serem tratados e variações horárias e sazonais da vazão de esgotos; clima e variação de temperatura da região; características do corpo receptor de esgoto tratado; disponibilidade de: recursos financeiros e de custos operacionais de consumo de energia elétrica; impactos ambientais decorrentes causados pela construção e operação da ETE; anseios da comunidade local em relação à localização e a implantação da ETE (JORDÃO; PESSÔA, 2009). Segundo Tchobanoglous et al. (2003), quando a remoção ou conversão de contaminantes é realizada pela adição de espécies ou por reações químicas, os métodos são conhecidos como processos químicos unitários. Estes métodos são pouco utilizados, geralmente, só quando o emprego de operações físicas e 27 processos biológicos não atendem ou não atuam de forma eficiente na característica que se deseja reduzir ou remover. Utilizam-se processos como: precipitação, coagulação, oxidação, neutralização e desinfecção. Os métodos de tratamento nos quais a remoção de contaminantes é realizada por meio de atividade biológica são conhecidos como processos biológicos unitários. Nestes, uma série de microorganismos, principalmente as bactérias, removem substâncias orgânicas biodegradáveis do efluente, em estado coloidal ou dissolvido, convertendo-as em produtos mineralizados inertes (TCHOBANOGLOUS et al. 2003). 2.5 LEGISLAÇÃO RELATIVA AO REUSO A Lei Nacional das Águas nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos do Brasil tem um enfoque para a questão do gerenciamento dos recursos hídrico. A ênfase legislativa incide na racionalização do uso da água, estabelecendo princípios e instrumentos para sua utilização sustentável. Discorre também sobre a importância da gestão sobre a qualidade e quantidade hídrica seu enquadramento e outorga e a cobrança do uso da água. Porém, pouca preocupação legislativa ocorreu para fixação de princípios e critérios para a reutilização da água no Brasil. Segundo Hespanhol (2001), importância especial ao reuso foi dada na Agenda 21, a qual recomendou aos países participantes da ECO 92 a implementação de políticas de gestão dirigidas para o uso e reciclagem de efluentes, integrando proteção de saúde pública de grupos de risco, com práticas ambientais adequadas. Embora não exista, no Brasil, nenhuma legislação relativa, já se dispõe de uma primeira demonstração de vontade política, direcionada para a institucionalização do reuso. A lei 11.612 de 08 de outubro de 2009, sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos da Bahia legisla sobre a questão do gerenciamento dos recursos hídrico. Em seu Art. 4 – sobre Diretrizes da Política Estadual de Recursos Hídricos, no parágrafo XIII – faz referência à promoção das tecnologias eco-sustentáveis 28 voltadas para o uso racional, conservação e recondução dos recursos hídricos para o reuso, reciclagem e outras formas de tratamento da água e de efluentes. Segundo a Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005, todo efluente para ser lançado em um corpo receptor, (se este não estiver referido na classe especial) deverá passar por um tratamento e respeitar as normas de lançamentos, tendo conhecimento sobre o enquadramento e suporte do corpo receptor. Encontrase no CONAMA, normativas sobre o lançamento em corpos receptores que tem sua vazão abaixo da vazão de referência, estes devem ter restrições e medidas adicionais, de forma que não acarrete perigo de toxicidade a biodiversidade aquática. O CONAMA 430/2011 incentiva a utilização da técnica do reuso, como forma de reduzir a geração do efluente que seria destinado a determinados recursos hídrico. O enquadramento não se estabelece com base na qualidade atual do corpo hídrico. De maneira geral, tal instrumento visa estabelecer metas de qualidade para os corpos hídricos, sendo assim o reuso de efluente doméstico tratado para determinado fins, traria benefícios aos corpos d’água devido à diminuição da carga poluidora, principalmente em rios intermitentes. 2.6 REUSO DO EFLUENTE TRATADO NA AGRICULTURA O setor agrícola no Brasil utiliza aproximadamente 70% do consumo total de água. Essa demanda significativa, associada à escassez de recursos hídricos leva a ponderar que as atividades agrícolas devem ser consideradas como prioritária em termos de reuso de efluentes tratados (BERNARDI, 2003). Segundo Drechsel e Evans (2010), a área irrigada com esgoto no mundo todo deve variar entre 5 e 20 milhões de hectares. A UNESCO (2003) estima que a área irrigada com esgoto seja equivalente a 10% da área irrigada nos países em desenvolvimento, correspondendo a cerca de 20 milhões de hectares. O uso de esgotos, particularmente no setor agrícola, constitui um importante elemento das políticas e estratégias de gestão de recursos hídricos. Muitos países, situados em regiões áridas e semiáridas, tais como os do norte da África e do oriente médio, consideram esgotos e águas de baixa qualidade, como parte 29 integrante dos recursos hídricos nacionais, equacionando a sua utilização junto a seus sistemas de gestão, urbanos e rurais (HESPANHOL, 2003). Segundo Shuval (1977), o reuso de esgoto em irrigação passou a ser uma técnica de aplicação disseminada em várias regiões do mundo. O Estado da Califórnia/ EUA, tem usado efluente tratado de esgoto desde o início do século 20. Já em 1935, efluente de 32 municipalidades irrigavam plantações com esgoto tratado, e este número elevou-se para 153 em 1977. Na África do Sul, a irrigação de efluentes sanitários é prática comum no país, com 25% dos esgotos tratados das cidades sendo utilizados na agricultura. Em algumas cidades, esta proporção atinge 100%. Na República da Namíbia, por exemplo, que vem tratando esgotos exclusivamente domésticos para fins potáveis, os esgotos industriais são coletados em rede separada e tratados independentemente (VAN der MERWE et al., 1994). Na Índia, a irrigação é o principal método de disposição de esgotos no país, tendo a primeira “fazenda de esgotos” se estabelecido desde 1895, na Índia, muitos rios praticamente se tornam secos durante os meses de verão, favorecendo ainda mais o reuso agrícola dos esgotos (HESPANHOL, 2003). O Estado de Israel faz uso extensivo de irrigação com esgotos tratados. Em comunidades de até 40.000 habitantes, o método mais utilizado de tratamento é a sequencia de lagoas anaeróbia e facultativa. O efluente é aproveitado próximo à comunidade que o gerou. Os esgotos das cidades de Haifa e Jerusalém, após passarem por tratamentos por sistema de lodos ativados são conduzidos a projetos de irrigação nos Vales de Ezraelon e Gaza, respectivamente (BASTOS, 2003). Na América Latina, o Peru e o Chile apresentam os principais exemplos. No Peru, em 1985, o Programa Nacional de Reuso de Águas Residuárias para irrigação previa a implantação por etapas de 18.000 ha de área irrigada. No Chile, de acordo com os registros de 1986, todo o esgoto de Santiago era usado para irrigação em áreas vizinhas à cidade (BASTOS, 2003). O México possui uma das maiores áreas agrícola irrigadas com esgotos do mundo (156.000 hectares, com planos para expandir para um total de 237.000 hectares, abrangendo 17 distritos de irrigação, em seis Estados). A Comissão Nacional de Águas - CNA, vinculada ao Ministério de Agricultura e Recursos Hídricos, administra os recursos hídricos do país e, como tal, é a instituição 30 encarregada do planejamento, administração e controle de todos os sistemas de reuso de água, em nível nacional (CNA, 1993). Um exemplo notável de recuperação econômica, associada à disponibilidade de esgotos para irrigação, é o caso do Vale de Mesquital, no México, onde a renda agrícola aumentou de quase zero no início do século, quando os esgotos da cidade do México foram postos à disposição da região, para aproximadamente quatro milhões de dólares americanos por hectare, em 1990 (HESPANHOL, 2003). Pesquisa realizada em universidade de Fortaleza no Ceará determinou, para a cultura do sorgo - irrigada com efluente de estação de tratamento - com características de esgoto doméstico, teores de proteínas iguais a 10,86% e 12,15%, no grão e na palha, respectivamente, enquanto para o sorgo irrigado com água de poços esses teores foram de 10,09% e 10,82% (MOTA et al., 2000). No Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, alguns projetos foram implantados visando à irrigação de capim elefante com efluentes domésticos, sem nenhum tratamento e sem nenhuma forma de proteção à saúde pública dos grupos de risco envolvidos (HESPANHOL, 2003). Segundo Mendes (2010), a utilização de reuso de efluente doméstico na irrigação de mamona, na região de Irecê/Bahia, tem proporcionado o incremento de macronutrientes ao solo por parte da água residuária sem adubação, favorecendo a germinação de sementes de mamona, quando comparadas à água potável sem adubação. A reutilização de esgotos tratados é uma prática antiga em muitas partes do mundo, mas ainda pouco usada em nosso país (MENDES, 2009). De acordo com Mancuso (1992), o reuso de águas é um assunto ainda tratado com certa reserva e até com preconceito, mas deve ser incentivada no Nordeste do Brasil, devido às seguintes razões: constitui uma fonte de suprimento de água, escassa na região; proporciona a liberação da água disponível para outros fins, como o abastecimento humano; evita o lançamento de efluentes de estações de tratamento de esgotos em corpos d’água, os quais, em grande parte, são intermitentes, com vazão nula durante certo período do ano; o esgoto doméstico tratado contém nutrientes (macro e micronutrientes), úteis às culturas irrigadas com o mesmo. 31 De acordo com pesquisas do Programa de Pesquisa em Saneamento Básico PROSAB (2002) , Bastos e Bevilacqua (2006) outros propuseram critérios de qualidade para a utilização de esgotos sanitários na agricultura (Tabela 1) . Tabela 1 - Diretrizes do PROSAB para uso agrícola de esgotos sanitários Categoria de Irrigação Qualidade do Efluente Ovos de CTerm/100ml 3 Helmintos/Litro 4 Irrestrita1 ≤ 1 x 103 ≤101 Restrita2 ≤ 1 x 104 ≤101 Observação ≤ 1 x 104 CTerm/100 ml no caso de irrigação por gotejamento de culturas que se desenvolvam distantes do nível do solo ou técnicas hidropônicas em que o contato com a parte comestível da planta seja minimizado. ≤ 1 x 105 CTerm/100 ml no caso de existência de barreiras adicionais de proteção ao trabalhador5. É facultado o uso de efluentes (primários e secundários) de técnicas de tratamento com reduzida de capacidade de remoção de patógenos, desde que associadas à irrigação subsuperficial 6. Fonte: (BASTOS; BEVILACQUA, 2006) 1. Irrigação superficial ou por aspersão de qualquer cultura, inclusive culturas alimentícias consumidas cruas. Inclui também a Hidroponia 2. Irrigação superficial ou por aspersão de qualquer cultura não ingerida crua, inclui culturas alimentícias e não alimentícias, forrageiras, pastagens e árvores. Inclui também a Hidroponia 3. Coliformes termotolerantes; média geométrica durante o período de irrigação. Alternativamente e preferencialmente, pode-se determinar E. Coli. 4. Neomatóides intestinais humanos; média aritmética durante o período de irrigação. 5. Barreiras adicionais de proteção encontradas em agricultura de elevado nível tecnológico, incluindo o emprego de irrigação localizada e equipamentos de proteção individual. Exclui-se desta nota a irrigação de pastagens e forrageiras destinadas à alimentação animal. 6. Neste caso não se aplicam os limites estipulados de coliformes e ovos de 32 Helmintos, sendo a qualidade do efluente uma consequência das técnicas de tratamento empregadas. A Tabela 2 apresenta o resultado dos estudos feitos pelo NEERI em Nagpur/ India, no qual foi constatado que houve aumento de produtividade em diversas culturas com a utilização de esgotos (HESPANHOL, 2003). Tabela 2 - Aumento da produtividade com o uso de esgotos domésticos (t/ha/ano) Irrigação efetuada com Esgoto bruto Efluente primário Efluente de lagoa de estabilização Água + NPK2 Cultivo Trigo1 3,34 3,45 3,45 2,70 Feijão1 0,90 0,87 0,78 0,72 Arroz1 2,97 2,94 2,98 2,03 Batata1 23,11 20,78 22,31 17,16 Algodão1 2,56 2,30 2,41 1,70 Fonte: Adaptado de HESPANHOL, 2003 Segundo a OMS (2004) existem qualidades requeridas para o uso de efluente em diversas situações dentro da área agrícola (Tabela 3) Tabela 3 - Diretrizes da OMS para reuso agrícola de esgotos sanitários Categoria de Irrigação Irrestrita Restrita Opção A B C D E F G H Redução de Patógenos (log10) com Tratamento de Esgotos (1) 4 3 2 4 6 ou 7 4 3 <1 Qualidade do Efluente Ovos de E. Coli/100ml (2) Helmintos/Litro ≤103 ≤104 ≤105 ≤103 ≤101 (3, 4) ≤101 ou 100 ≤104 ≤105 ≤106 Fonte: BASTOS; BEVILACQUA, 2006 A. Cultivo de raízes e tubérculos; B. Cultivo de folhosas; C. Irrigação localizada de plantas que se desenvolvem distantes do nível do solo; D. Irrigação localizada de plantas que se desenvolvem rentes do nível do solo; E. Qualidade de efluentes alcançáveis com técnicas de tratamento, tais como: tratamento secundário + coagulação + filtração + desinfecção; qualidade dos efluentes avaliada ainda com o emprego de indicadores complementares (turbidez, SST e cloro residual, por exemplo); F. Agricultura de baixo nível tecnológico e mão de obra intensiva; 33 G. Agricultura de alto nível tecnológico e altamente mecanizada; H. Técnicas de tratamento com reduzida capacidade de remoção de patógenos (por exemplo, tanques sépticos ou reatores UASB) associada ao emprego de técnicas de irrigação com elevado potencial de minimização de exposição (irrigação subsuperficial). 1. Remoção de vírus que associada à outras medidas de proteção a saúde corresponderia a uma carga tolerável de doenças virais ≤ 10 6 DALY ppa e riscos menores de infecções bacterianas e por protozoários. 2. Qualidade do efluente correspondente à remoção de patógenos indicada em 1. 3. No caso de exposição de crianças (15 anos) recomenda-se um padrão e/ou, medidas complementares mais exigentes: ≤ 0,1 ovo/L, utilização de equipamentos de proteção individual, tratamento quimioterápico. No caso da garantia da remoção adicional de 1 log10 na higiene dos alimentos pode-se admitir ≤ 10 ovos/L; 4. Média aritmética em pelo menos 90% do tempo, durante o período de irrigação. A remoção requerida de ovos de Helmintos (log10) depende da concentração presente no esgoto bruto. Com o emprego de lagoas de estabilização, o tempo de detenção hidráulica pode ser utilizado como indicador da remoção de Helmintos. No caso de utilização de técnicas de tratamento mais complexas (opção E), o emprego de outros indicadores (turbidez ≤ 2 uT, por exemplo) pode dispensar a verificação do padrão de ovos de Helmintos. No caso de irrigação localizada, em que não haja contato da água com as plantas, e na ausência de riscos para os agricultores (opção H, por exemplo) o padrão ovos de Helmintos poderia ser dispensável. Segundo Paz et al. (2009), no planejamento de um projeto agrícola com aproveitamento de águas residuárias deve-se considerar: normativa sanitária e ambiental; tipos de culturas que serão irrigadas; qualidade necessária para o efluente a ser utilizado, em função dos tipos de culturas a irrigar, do solo e do usuário; medidas de controle ambiental a serem adotadas; técnicas de irrigação a serem utilizadas; tratamento a ser aplicado ao esgoto, dependendo da qualidade desejada para o efluente. Segundo Benetti (2006), esgotos tratados não desinfetados podem ser usados, somente em plantações tipo forrageiras ou árvores que não produzam alimentos. No caso de culturas comestíveis, o tratamento deve ser mais severo, principalmente, em relação aos parâmetros microbiológicos. 34 Sistemas de reuso adequadamente planejados e administrados trazem melhorias ambientais e de condições de saúde, entre as quais (HESPANHOL, 1997; PAGANINI, 2003): • evita a descarga de esgotos em corpos de água; • preserva recursos subterrâneos, principalmente em áreas onde a utilização excessiva de aquíferos provoca intrusão de cunha salina ou subsidência de terrenos; • permite a conservação do solo, através da acumulação de “humus” e aumenta a resistência à erosão; • contribui, principalmente em países em desenvolvimento, para o aumento da produção de alimentos, elevando assim os níveis de saúde, qualidade de vida e condições sociais de populações associadas aos esquemas de reuso. A irrigação com esgotos sanitários pode trazer perigo ou um fator de risco. Porém, a simples presença do agente infeccioso nos efluentes utilizados para irrigação não implica necessariamente na certeza da transmissão de doenças, caracterizando apenas um risco potencial (BASTOS, 2003). Assim sendo, o risco associado à utilização de esgotos, mesmo domésticos, para fins potáveis, exige que se tenham cuidados especiais para assegurar proteção efetiva e permanente dos consumidores (HESPANHOL, 2003). O acúmulo de contaminantes químicos no solo é outro efeito negativo que pode ocorrer. Dependendo das características dos esgotos, a prática da irrigação por longos períodos, pode levar à acumulação de compostos tóxicos, orgânicos e inorgânicos, e ao aumento significativo de salinidade, em camadas insaturadas. Para evitar essa possibilidade, a irrigação deve ser efetuada com esgotos de origem predominantemente doméstica (MOTA, 2000). Segundo Who 1989, apud Benetti (2006), estudos epidemiológicos sobre irrigação com esgotos não tratados, ou tratados inadequadamente, em culturas agrícolas, resulta em risco elevado de aquisição de doenças intestinais por vermes e bactérias, sendo baixo, contudo, o risco com relação à vírus. Shuval, et al. 1986, apud Bastos (2003), elaboraram a seguinte classificação para os microrganismos patogênicos em ordem decrescente, segundo sua probabilidade de impor riscos atribuíveis à irrigação com esgotos sanitários. Alto risco – helmintos, nematóides intestinais humanos (A. Lumbricóides, Trichuris trichiura, N. americanus e A. duodenale); 35 Médio risco – bactérias (V. chlolerae, S. tyhi e Shigellae spp) e protozoários (E. hystolitica, Giárdia sp, e Cryptosporidium spp); Baixo risco – vírus (enterovírus e vírus da hepatite). Para diminuir a possibilidade de risco é necessário analisar a eficiência do tratamento, o tipo de cultura que se pretende produzir e manejar adequadamente o efluente e a cultura. 2.7 A TÉCNICA HIDROPÔNICA Etimologicamente, o termo hidroponia é composto de duas palavras do grego: Hydro que signiifca água e Phonos que significa trabalho. Sendo assim a hidroponia seria o cultivo agrícola em meio líquido, porém, o cultivo em substrato inerte ao qual uma solução nutritiva é aplicada também é identificado como cultivo hidropônico (MARY, 2005). No Brasil, o emprego da hidroponia como meio de produção foi incrementado a partir da década de 1980, principalmente para hortaliças (verduras folhosas, legumes, ervas aromáticas e medicinais), plantas ornamentais e, mais recentemente, forragem verde para nutrição animal (BASTOS 2003). Fatores como falta de um solo adequado para plantio, diferenças de clima, escassez de água, têm levado muitos agricultores a optar pela técnica hidropônica como uma maneira de produção agrícola. Antes da hidroponia como técnica, vieram os estudos sobre soluções nutritivas. O pioneiro foi Julius Von Sachs, que em 1860 provou que o solo (como parte sólida) poderia ser substituído por uma solução nutritiva com os principais elementos essenciais, contendo “traços” adequados de micronutrientes. A partir daí outros pesquisadores começaram a investigar e criar soluções nutritivas (EPSTEIN; BLOOM, 2006). Decorrente desse conhecimento preliminar, a técnica hidropônica vem a surgir em 1940, com o pesquisador William Gericke, que apresentou um trabalho de um sistema hidropônico quase comercial. Este sistema teve rápida difusão nos Estados Unidos e em outros países, porém esta descoberta fez com que muitos 36 gananciosos vendessem equipamentos inadequados ao cultivo levando a técnica ao descrédito (RESH, 1995, apud SOARES, 2007) Devido às diferenças de clima, disponibilidade de material de construção, escassez de água, falta de mão de obra e outros, o sistema hidropônico proposto por Gericke, foi sendo modificado e adaptado aos locais. Em 1960, surgiu na Inglaterra a técnica hidropônica em fluxo laminar de nutrientes (NFT, nutrient flux technique) desenvolvido por Cooper no Glasshouse Crops Research Institute – GCRI (RODRIGUES, 2002). No sistema NFT, a solução nutritiva é bombeada aos canais e escoa por gravidade formando uma lâmina de solução que irriga as raízes das plantas fixadas em orifícios presentes nos canais de cultivos (FURLANI et al., 1999). Este apresenta viabilidade econômica, principalmente em sistemas fechados, devido ao reaproveitamento da solução nutritiva. A vantagem deste em relação ao sistema aberto diz respeito ao controle ambiental. Existem diversas formulações de soluções nutritivas, porém todas possuem a mesma função básica de fornecer os elementos essenciais aos vegetais. O Instituto Agronômico de Piracicaba-SP têm formulado algumas soluções nutritivas específicas para determinadas culturas. Segundo Douglas (1987), aceita-se que a escolha dos sais minerais para compor a mistura tem a menor importância relativa, desde que se garanta concentração bem equilibrada dos elementos necessários a planta. Segundo Rodrigues (2002) é possível até o uso de água salobra na hidroponia apresentando mais de 2.500 mg L -1 de sais, desde que a água se movimente livremente no sistema radicular e que haja drenagem. Em cultivos sem solo, o maior problema técnico para estabelecimento da cultura é garantir o crescimento da parte aérea com um volume restrito (ou volume mínimo) para o desenvolvimento do sistema radicular. O substrato tem como função dar sustentação às plantas, apoiando o crescimento das raízes e, fornecendo as quantidades adequadas de ar, água e nutrientes (SINGH e SAINJU, 1998, apud ABUJAMRA, 2005). Este tipo de sistema pode ser implementado para uma diversidade de culturas de porte baixo e médio como: alface, tomate, flores, couve, forragem etc. Dependendo do clima e da planta, pode-se utilizar substratos como: areia, vermiculita, brita, casca de licurí e de coco, entre outros. 37 Os padrões de qualidade da água para uso hidropônico recomendado por Benoit (1992) apud Soares (2007) estão na Tabela 4. Tabela 4 - Parâmetros de qualidade de água para hidroponia Parâmetro Ca Mg B Fe Mn Zn Carbonato Sulfato CE Temperatura Unidade mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 dS m-1 o C Concentração 80,2 12,2 0,0027 0,00028 0,00549 0,00327 244 48,1 0,5 25 Fonte: Soares, 2010 Segundo Castellane e Araújo (1995), consideram ser a água de boa qualidade quando o teor de bicarbonato está abaixo de 224 mg CaCO 3/L e o sódio menos de 200ppm. Altas concentrações de bicarbonatos promovem precipitação de cálcio e magnésio, na forma de carbonatos, reduzindo a concentração de cálcio e magnésio disponível para a planta. Em hidroponia a condutividade elétrica deve ser inferior a 0,5 mS/cm, com uma concentração total de sais inferior a 350 ppm. (HANGER 1986 apud CASTELLANE e ARAÚJO 1995). Quando for utilizada no sistema NFT, Lejeune e Balestrazzi (1992) apud Castellane e Araújo (1995), consideram ser a água de boa qualidade quando seus teores máximos de Ca, Mg, SO4 e HCO3 estão abaixo de 80, 12, 48 e 224 mg/l, respectivamente. Para assegurar a qualidade da água utilizada na agricultura e evitar possíveis contaminações, Ayers e Westcot (1991) apresentam os padrões de qualidade da água para irrigação (Tabela 5) que foi estabelecido na publicação da FAO (1985) Water Quality for Agriculture (FAO Irrigation and Drainage Papers 29). Tabela 5- Diretrizes adotadas na interpretação da qualidade das águas de irrigação Parâmetro Unidade Restrição de Uso Nenhuma Moderada Salinidade (fator limitante da disponibilidade de água para a cultura) Condutividade Elétrica (CEa ) dS/m1 < 0,7 0,7 - 3,0 Sólidos Dissolvidos Totais mg/L < 450 450 - 2.000 Infiltração (avaliada usando CEa e RAS simultaneamente) Severa > 3,0 > 2.000 38 Relação de Adsorção de Sódio (RAS) Condutividade Elétrica (CEa ) 0–3 > 0,7 0,7 - 0,2 < 0,2 3–6 > 1,2 1,2 - 0,3 < 0,3 6 – 12 > 1,9 1,9 - 0,5 < 0,5 12 – 20 > 2,9 2,9 - 1,3 < 1,3 20 – 40 > 5,0 5,0 - 2,9 < 2,9 Toxicidade de elementos químicos específicos (afeta culturas sensíveis) Irrigação superficial RAS <3 3–9 >9 Sódio (Na) Irrigação por aspersão meq/L <3 >3 Irrigação superficial meq/L <4 4 – 10 > 10 Cloreto (Cl) Irrigação por aspersão meq/L <3 >3 Boro (B) meq/L < 0,7 0,7 – 3 >3 Outros (culturas sensíveis) Nitrogênio (N-NO3)2 mg/L < 5,0 5 – 30 > 30 Bicarbonato Aspersão convencional meq/L < 1,5 1,5 - 8,5 > 8,5 (HCO3–) Ph Faixa normal: 6,5 – 8,4 Fonte: Adaptado de AYRES; WESTCOT Rodrigues (2002) descreve algumas vantagens sobre a produção na técnica hidropônica, estas são: produção de melhor qualidade, maior produtividade, menor emprego de mão de obra, mínimo uso de defensivos agrícolas, colheita precoce, maior eficiência do uso da água, dispensa da rotação de cultura e eliminação de alguns tratos culturais. Porém assim como toda técnica, esta também possui algumas desvantagens como, por exemplo: o alto custo da instalação, custo com eletricidade, necessidade de mão de obra especializada e a rápida disseminação de patógenos. 2.7.1 Tipos de substratos na técnica hidropônica Além da qualidade da água e dos nutrientes, a utilização de um substrato como suporte a planta é de grande importância principalmente em regiões de clima muito quente como o semiárido. Os substratos que são utilizados na hidroponia como suporte para as raízes podem ser orgânicos (serragens, cascas, fibras, etc.) ou inorgânicos, podendo estes últimos ser naturais (areia, cascalho) ou não (lã minerais, espumas sintéticas, vermiculita, argila expandida, plástico granulado, etc.). 39 Segundo Abujamra et al. (2005) a utilização de um substrato é importante para um rápido desenvolvimento de uma cultura principalmente em lugares de clima muito quente. Em seu trabalho, eles tiveram melhores resultado nos cultivos com os substratos de areia em diferentes granulometria quando comparado ao canteiro sem substrato. A fibra de coco tem sido estudada e bem aceita no sistema hidropônico como suporte para a planta. Segundo Leme (2008), em seu cultivo hidropônico o substrato de fibra de coco antecipou o início da produção (florescimento) da flor de antúrio em 270 dias comparado ao cultivo tradicional que foi de 540 dias, ganhando em 50% em termos de tempo de florescimento. Segundo Teodózio et al. (2003) não houve diferenças significativas no período de germinação entre os substratos utilizados na hidroponía no cultivo de alface, a espuma fenólica, vermiculita e a fibra de coco. Porém foi possível observar, através do escorrimento da água de irrigação, que tanto a espuma fenólica quanto a fibra de coco conseguiram reter mais água, o que favoreceu um melhor desenvolvimento da planta do que na vermiculita. As folhas do sisal produzem uma fibra altamente resistente e que é utilizada para produzir artesanatos, vassouras, sacos, bolsas, chapéus, barbantes, cordas, capachos e tapetes, bem como na fabricação de celulose para a produção de papel Kraft (de alta resistência). Além dessas aplicações, há possibilidade de utilização da fibra na indústria automotiva, de móveis, de eletrodomésticos, de geotêxteis (proteção de encostas, na agricultura e revestimento de estradas), e na construção civil (PROSSIGA, 2004; CAMPBELL, 2004). Os subprodutos do sisal, que hoje praticamente não são aproveitados, podem ter inúmeras utilizações. Cita-se a possibilidade de utilização da mucilagem como complemento alimentar para rebanhos bovinos e caprinos; a bucha, como adubo orgânico, fármaco que serve como medicamento e pode ser utilizado como bioinseticida, no controle de lagartas (quando no primeiro instar), de nematoides e carrapatos (FAPESB, 2002). Devido a essa diversidade de uso da fibra do sisal, optou-se pela utilização deste material na pesquisa. As fibras naturais possuem características que as tornam aptas para serem utilizadas no sistema, seus principais componentes são a celulose, a lignina, a pectina, ceras e outras substâncias solúveis em água. A fibra de sisal será utilizada principalmente devido a sua disponibilidade na região, o baixo 40 custo desse material torna os estudos sobre sua aplicação viável em relação a fibra de coco, já que os produtores não precisariam comprar este material. 2.8 REUSO DO EFLUENTE DOMÉSTICO TRATADO NA HIDROPONIA O uso de efluentes de estações de tratamento de esgotos para cultivos hidropônicos pode propiciar as seguintes vantagens: permite a utilização de todo ou quase todo o efluente, evitando a poluição e contaminação ambiental; pode ser utilizado como forma de remoção de nitrogênio e fósforo, retidos na biomassa vegetal da cultura; em casos de dificuldades de transporte dos esgotos até campos de irrigação, viabiliza a opção de transportar o produto cultivado em pequena área e próximo do ponto de reunião e tratamento dos esgotos. Comparado com o aproveitamento de efluentes para irrigação, permite melhor controle sanitário e maior flexibilidade de localização em pequenas áreas (ABUJAMRA et al., 2005). A técnica hidropônica utilizando efluente tratado em região semiárida, de clima quente, seco, solo pobre e escassez de água, pode possibilitar ao agricultor, uma produção agrícola de subsistência, durante todo o ano. Os esgotos domésticos normalmente são carregados de macro e micronutrientes que favorecem o desenvolvimento da planta, substituindo a solução nutritiva e diminuindo os custos do agricultor com os fertilizantes. As principais características do esgoto sanitário tratado, utilizado no trabalho de Andrade Neto et al. (2002) em forrageira hidropônica, estão na Tabela 6. O autor concluiu que o efluente na cultura hidropônica de milho pode ser utilizado como fonte alternativa de nutrientes. Tabela 6 - Caracterização do esgoto que alimenta a forragem hidropônica de milho Parâmetro DQOt pH Condutividade N Amoniacal (NH4+) Nitrato (NO3-) Fósforo Sódio (Na) Potássio (K) Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Unidade mg L-1 S cm-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 Concentração 111,58 7,09 797,75 37,58 2,64 2,37 77,87 19,20 7,51 7,46 41 Ferro (Fe) mg L-1 Zinco (Zn) mg L-1 Cobre (Cu) mg L-1 Fonte: ANDRADE NETO et al. 2002 0,35 0,02 0,04 A produção de forragem hidropônica, para nutrição animal, vem tendo aplicação crescente e boa aceitação dos pecuaristas do Nordeste e Mato Grosso, devido às seguintes vantagens: o ciclo é curto; independe das condições agroclimáticas; apresenta alta produtividade; dispensa o uso de agrotóxico; dispensa os investimentos para ensilagem, fenação ou armazenamento; além dos custos de instalação e produção serem baixos (ABUJAMRA et al., 2005). No entanto, vários casos de insucessos foram observados tendo-se como os principais fatores: a tecnologia ainda não está totalmente dominada e principalmente o risco de contaminação ao agricultor risco de contaminação da cultura e acidificação no solo (COMETTI, 2003). No semiárido as limitações do sistema hidropônico estão voltadas principalmente para a qualificação de mão de obra, ao consumo de energia que é gerado no sistema e os riscos de contaminação quando associado à hidroponia com efluente tratado. Porém este sistema pode contribuir para um controle de poluição dos corpos hídricos, pela utilização do esgoto domestico tratado que seria lançados nos rios, possibilidade de um cultivo agrícola como alternativa de alimento aos animais em períodos de estrema seca. 2.9 FORRAGEM HIDROPÔNICA A oferta de forragem verde na região semiárida é desuniforme ao longo do ano, o que caracteriza um problema para grande maioria dos criadores de gado da região. As pastagens secas e alguns volumosos como os originários de capineiras, a silagem, o feno e as rações, têm sido alternativas de alimentação para o rebanho leiteiro no período de seca. A técnica de reuso tem mostrado uma possibilidade de cultivo de forragem nos períodos críticos (QUADROS, 2005). 42 A forragem hidropônica é uma oportunidade para as regiões semiáridas, esta pode ser oferecida ao animal na forma de forragem verde, silagem ou até mesmo feno, proporcionando alimentação aos animais nos períodos mais críticos de estiagem e seca das pastagens. Segundo Quadros (2005), no sertão nordestino, a introdução de gramíneas perenes (principalmente o capim buffel) traz vantagens óbvias, não só pela manutenção de maior quantidade e qualidade de forragem no período seco, como também pelo rápido rebrote da pastagem no início das águas. Essa planta forrageira possui uma grande variabilidade genética, devido as suas variedades serem advindas de linhagens e hibridações utilizando-se materiais com diferentes características agronômicas, sendo, portanto mais ou menos preferidas pelos ruminantes. Mesmo reconhecendo que todas as espécies vegetais são importantes como fontes de alimentação animal, tem-se dado uma maior ênfase aos estudos das gramíneas e leguminosas na produção de forragem por terem grande potencial como fonte de nutrientes. O Cenchrus ciliaris (L) com nome comercial capim buffel é originário da África. O capim Buffel tem crescimento ereto, em forma cespitosa (touceira), produz forragem com boa palatabilidade e digestibilidade. Possui bom valor nutritivo e é bem aceito pelos animais em qualquer estádio de crescimento. Apresenta sistema radicular fasciculado e pivotante (pode alcançar profundidade de até quatro metros em zonas áridas e semiáridas). Desenvolve em regiões com 375 – 750 mm de chuva por ano, com prolongada temporada de seca. O conteúdo, em proteína, e a digestibilidade são altos, mas caem rapidamente com a idade, sendo uma boa gramínea para zonas áridas (VILELA, 2003). Oliveira (1998) descreve as diversas variedades desta forragem. O grupo de porte alto (1,0m a 1,6m de altura) é representada pelas cultivares: Biloela, Molopo, Numbank, Boorara, Lawes, Pusa Giant e Buchuma, sendo as mais produtivas, com sistema radicular bem desenvolvido e profundo, o que lhes dá grande resistência aos longos períodos de estiagens. O grupo de porte médio (0,75 e 1,00m de altura) tem como componentes as cultivares Gayndah, Americano, CPATSA 7754, Áridus e Buffel grass, o seu valor nutritivo diminuir mais rapidamente no seu ciclo de desenvolvimento. As do grupo de porte baixo (altura inferior a 0,75m) têm como referencial a cultivar West Australian - esta possui plantas com, florescimento 43 precoce e alta produção de sementes, apresentam ainda densa folhagem e boa resistência aos longos períodos de estiagens. Bonamigo (1993) estudou a forragem hidropônica de milheto, quando comparada com a produção de fitomassa de milheto no solo. Ele obteve uma maior aceleração no crescimento e maior percentual em fitomassa seca, superior em 91,7%. Henriques (2000) confirma o resultado de Bonamingo, afirmando que a grande vantagem do uso de forragem hidropônica é sua alta produção de fitomassa fresca por área. Os estudos de Pilau et al. (2004) mostraram incremento na fitomassa fresca quando trabalharam com densidades de semeadura maiores no cultivo de forragem hidropônica de milho, com o uso de substratos de casca de arroz e de palha de milho. Na produção de forragem hidropônica de milho sobre substrato de capimelefante, Balieiro et al. (2000) e Pereira et al. (2003) obtiveram teores de 11,7 e 13,1% PB na FS aos 16 e 22 dias, respectivamente. Enquanto as análises de matéria verde e matéria seca apresentam uma relação média parte aéreas x raiz de 79,30% matéria verde (MV) e 79,60% matéria seca (MS) para o tratamento com o uso de esgoto tratado e substrato de areia fina de 53,65% (MV) e 58,60% (MS) para o tratamento com esgoto tratado com areia grossa (ABUJAMRA et al., 2005). Enquanto FAO (2001) relata em seu trabalho resposta encontrada na forragem hidropônica de aveia o qual obteve 7,0 e 8,1% de Lignina, aos 7 e aos 11 dias, respectivamente. Uma análise comparativa dos dados de produção da forragem de milho dos canteiros irrigados com o esgoto tratado e com a solução nutritiva, em cada experimento, mostra, de forma geral, que a produtividade nos canteiros com esgoto tratado foi semelhante à produtividade do canteiro irrigado com solução nutritiva comercial (ANDRADE NETO et al., 2002). Taíz e Zeiger (2004) mostram que no seu experimento com a forragem de milho não houve diferença significativa para o teor de proteína bruta (PB) nas colheitas aos 10 e 20 dias, observando, no entanto, que a forragem obteve bom valor proteico (12,7% PB na fitomassa seca), devido às plantas serem jovens e terem seu crescimento relacionado, principalmente, ao aumento da superfície das folhas, que são órgãos ricos em nitrogênio. 44 3 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL 3.1 ÁREA DO EXPERIMENTO Este trabalho desenvolveu experimentos de reuso de esgoto doméstico tratado na hidroponia no município de São Domingos, pertence a uma bacia experimental do semiárido onde pesquisas já foram desenvolvidas no local pela equipe do GRH da universidade federal da Bahia. O experimento foi desenvolvido no distrito de Santo Antônio está localizado à (110 30’ de latitude Sul e 39o37’ de longitude Oeste de greenwich, altitude 310 m). É pertencente ao Município de São Domingos, que é drenado pela Bacia Hidrográfica do Rio Jacuípe, sub-bacia do Rio Paraguaçu. Faz parte do Território de Identidade do Sisal do Estado da Bahia (Figuras 5), possuindo área de 251 Km². O distrito está situado a 252 km da capital Salvador, limitando-se a leste com o Município de Retirolândia, ao sul com Nova Fátima e Conceição do Coité, a oeste com Gavião e ao Norte com Santaluz e Valente (LIMA et al., 2008). O presente experimento foi instalado à margem da BA-416, que liga a BR-324 à cidade de Valente. Figura 5 - Localização da área de estudo em Santo Antônio/ São Domingos Fonte: LIMA et al., 2008 45 Com base nos dados da estação climatológica situada junto à sede municipal, foi obtida a precipitação média mensal e calculada a evapotranspiração média mensal pelo método de Penman-Monteith, recomendado pela FAO (ALLEN; PEREIRA, 1998), as quais estão apresentadas na Figura 6. De acordo com os dados obtidos, em todos os meses do ano a evapotranspiração supera a precipitação. Figura 6 – Precipitação X Evapotranspiração Fonte: Estação Meteorológica de São Domingos O clima regional é o semiárido, que apresenta, dentre suas características, irregularidade na distribuição pluviométrica durante o ano (média pluviométrica anual local entre 400 a 600 mm), ocasionando a ausência de estação chuvosa definida, temperatura média anual em torno de 24,0°C (máxima 29,2°C, mínima de 20,2°C) e déficit hídrico entre -20 e -40%. O risco de estiagem no município é elevado, já que 100% de sua área esteja no Polígono das Secas (LIMA et al., 2008). 46 3.2 CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA UTILIZADA NO EXPERIMENTO Foram utilizadas no experimento hidropônico dois tipos de água: água de abastecimento enriquecida com fertilizantes e efluente doméstico proveniente do tratamento constituído por um conjunto de fossa séptica e filtro biológico. Na Figura 6 encontra-se um croqui do procedimento do tratamento do esgoto doméstico, que é constituído dos seguintes elementos: 1- grade, 2- caixa de areia, 3- tanque de sucção, 4- tanque de equalização, 5- fossa séptica, 6- filtro biológico anaeróbico, 7tanque de sucção, 8- reservatório. A descrição do procedimento está apresentada na Figura 7. Figura 7 - Croqui do tratamento do efluente em Santo Antônio/São Domingos O esgoto bruto é encaminhado a um pré-tratamento composto de grade (1) para reter resíduos sólidos presentes no esgoto doméstico, caixa de areia (2), para a decantação da areia carregada pelo esgoto e tanque de sucção (3), e deste, o esgoto é bombeado para o tanque de equalização (4). Em 2011, durante o tratamento do efluente, ocorreram alguns problemas nestas instalações, necessitando de reparos e reconstruções. As caixas que ficavam com a grade e a de areia foram destruídas. Na reconstrução optou-se por uma única 47 caixa que funciona simultaneamente como caixa de areia e grade de retenção de sólidos grosseiros, isto devido aos custos da obra. Além da reconstrução desta caixa, foi necessário reparos em outras caixas e trocas de tubulações na estação de tratamento. O módulo de tratamento, que tem capacidade para tratar uma vazão entre 4.500 L/dia - 6.000 L/dia. É composto de dois tanques de fibra de vidro conectados entre si, sendo o primeiro a fossa séptica (5), com volume de 10.000 L e o segundo o filtro biológico anaeróbio (6) de fluxo ascendente, com volume de 5.000 L. O meio de suporte do filtro biológico é composto por seixos e a camada tem dimensões variando de 1,5 x 11,0 x 6,0 cm a 4,5 x 4 x 2,5 cm (Figura 8). Figura 8 - Seixos rolados no interior do filtro anaeróbio Após todo o tratamento o efluente foi direcionado a um poço de sucção (7), de seção retangular de 1m³ de volume, escavado no solo e revestido com bloco cerâmico. Deste poço, o efluente foi recalcado para um tanque de 5.000 L de polietileno (8), com a finalidade de armazenar o efluente tratado de modo que a distribuição de água durante o processo de hidroponia fosse garantido (Figura 9). 48 Figura 9 - Tanque de armazenamento do efluente tratado para uso hidropônico Ao lado do tanque de 5.000 l, foi implantado um tanque de 1.000 l, para ser utilizado no sistema hidropônico no processo de recirculação. Estes estavam conectados através de uma tubulação de PVC e um registro manual. O tanque de 1.000 L foi aterrado para minimizar o aquecimento do efluente tratado. Outro tanque de 1.000 l, também aterrado no solo, continha água potável enriquecida com fertilizantes solúveis, constituindo uma solução nutritiva apropriada para o cultivo. Os fertilizantes contendo macro/micronutrientes foram provenientes de uma empresa fornecedora de produtos para hidroponia. A solução nutritiva possuiu os determinados elementos (Tabela 7). Tabela 7- Concentrações de nutrientes do composto para hidroponia Elementos N (%) P2O5 (%) K2O (5) Mg (%) B (%) Cu (%) Mo (%) Mn (%) Zn (%) Ca (%) Fe EDDHA (%) Quantidades 10 9 28 3,4 0,06 0,01 0,07 0,05 0,02 500 20 49 As primeiras coletas do efluente foram realizadas no período de maio de 2010 a junho de 2011, durante o trabalho de pesquisa de Medeiros Netto (2011), sobre a eficiência do reuso na produção agrícola, associado a um sistema de tratamento simplificado de esgoto, no mesmo local desta pesquisa: Estudo de caso da cidade de Santo Antônio-BA. Foram realizadas análises de parâmetros físicos, químicos e biológicos. A coleta foi definida em três pontos: 1- caixa de areia (esgoto bruto); 2- tanque fossa séptica; 3- reservatório de efluente. As amostras foram acondicionadas em vasilhames plásticos e colocadas em caixas de isopor contendo gelo para conservação das amostras durante o deslocamento entre São Domingos e laboratório da EMBASA em Salvador (Figura 10). Figuras 10 - Coleta do esgoto bruto e tratado As amostras do efluente tratado e do esgoto bruto foram analisadas no Laboratório Central da EMBASA, compreendendo os seguintes parâmetros: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO); Demanda Química de Oxigênio (DQO) Sólidos Suspensos Totais (SST); Sólidos Dissolvidos Totais (SDT); Sólidos Totais (ST); Potencial Hidrogeniônico (pH); Fósforo Total; Nitrogênio Amoniacal; Nitrato; Nitrito; Condutividade Elétrica (CE); Coliformes Termotolerantes; Escherichia coli. Foram necessárias outras coletas, complementando o estudo com análises de nutrientes, para assim poder utilizar o efluente tratado no sistema hidropônico. As coletas foram reiniciadas em abril de 2012, sendo realizada duas coletas compreendendo os seguintes parâmetros: Nitrogênio; Fósforo; Potássio; Cálcio; Magnésio; Ferro; Manganês; DBO; DQO; Coliformes termotolerantes. 50 Além do efluente tratado, foram realizadas coletas de água potável, que foi utilizada para diluir os fertilizantes. Os parâmetros analisados foram: Sódio; Cálcio; Magnésio; Carbonato; Bicarbonato; Cloreto; Razão de adsorção de sódio - RAS A RAS tem sido utilizada na caracterização de solos sódicos e águas para irrigação e é calculada por meio da concentração de cátions em solução. As amostras de efluente e de água foram recolhidas em frascos plásticos e acondicionadas em isopores contendo gelo, para que as amostras chegassem em torno de dez graus de temperatura ao laboratório, segundo instruções. Neste segundo momento de coleta, as análises foram realizadas no laboratório do SENAICETIND em Lauro de Freitas/BA. 3.3 SUBSTRATOS PARA HIDROPONIA Foram utilizados dois tipos de substratos no sistema hidropônico. O objetivo do substrato foi conter umidade por mais tempo nos canteiros, além de servirem também como suporte no início do crescimento da plântula. Um substrato foi a fibra de coco na forma de fio e de pedaços (Figura 11). Figura 11 – Vista substrato fibra de coco 51 Outro substrato foi a fibra de sisal em forma de fio (Figura 12). Segundo alguns estudos a degradabilidade deste material é muito mais rápida quando comparada à fibra de coco. Diferente da anterior que já é bastante utilizada em trabalhos hidropônicos, a fibra de sisal foi escolhida devido à acessibilidade deste material na região, possibilitando uma diminuição do custo ao produtor. A fibra descartada, mais precisamente as partes que ficam fora do padrão de mercado, foi disponibilizada por uma empresa da região que trabalha com este material sendo utilizada na hidroponia. Figura 12 - Vista substrato fibra de sisal 3.4 CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO O experimento hidropônico foi conduzido a céu aberto em uma área de 32m 2. Plantas de capim buffel foram cultivadas em seis canteiros, empregando-se os princípios da técnica do fluxo laminar de nutrientes (sistema hidropônico NFT, Nutrient Film Tecnique). O experimento (Figura 13), foi conduzido através do tanque de vibra de vidro de 1.000 L para o processo de recirculação do sistema. A testemunha corresponde ao cultivo hidropônico no mesmo esquema que o experimento, diferindo-se pelo uso da água com a solução nutritiva, sendo cultivado em dois canteiros. 52 Figura 13 - Croqui experimento com efluente tratado Estes tanques continham uma bomba de sucção interligada a um contactor (Figura 14) que funcionava segundo uma programação que foi de ligar o sistema a cada duas horas funcionando 15 minutos. Através de tubulações de PVC o tanque de 1.000 L estava interligado aos canteiros feitos de fibra de vidro com dimensões de 2,0 m x 1,0 m e colocados no solo com uma declividade de 4% no sentido longitudinal, para proporcionar um bom escoamento do efluente, evitando o seu acúmulo e possível proliferação de bactérias que poderiam causar doenças às plantas. Figura 14 - Sistema contactor interligado as bombas no sistema hidropônico 53 A matriz de experimento, que foi desenvolvida nesta pesquisa, se encontra no Quadro 1. Substratos Fibra de coco Fibra de sisal Águas Solução nutritiva T1 T2 Esgoto tratado T3 (2 canteiros) T4 (2 canteiros) Quadro1 - Matriz experimental do reuso no sistema hidropônico As medidas de pH e CE foram monitorados duas vezes ao dia, às 8:00 e às 17:00h. Durante o monitoramento destes dois parâmetros através de um equipamento portátil da marca Hanna, foi realizado a calibração do aparelho com soluções específicas para cada parâmetro. Devido o aumento do pH na solução nutritiva foi necessário realizar correções com o ácido clorídrico, enquanto no efluente tratado não foi realizado nenhum tipo de correção. 3.5 PLANTIO HIDROPÔNICO DA FORRAGEIRA CAPIM BUFFEL Montada toda a estrutura hidropônica, antes de receber as sementes da forrageira, os canteiros foram cobertos com os substratos (fibra de coco e fibra de sisal). O plantio foi realizado no dia 4 de abril de 2012, este foi feito a lanço, de forma que todo o canteiro recebesse por igual a porção da semente (Figura 15). Figura 15 - Plantio da forrageira capim buffel 54 As variações ao turno de rega das soluções foram de 15min irrigando com intervalo de 2h, com vazão de 2 L/min em cada orifício. Cada canteiro possui 13 orifícios com meio milímetro de espessura - distantes 4 cm um orifício do outro (Figura 16). Sendo assim a cada 15 minutos irrigando são deixado de ser lançado no rio um volume de 2340 L de esgoto. Figura 16 - Canteiros na técnica hidropônica Foi necessário incrementar o manejo adicionando uma cobertura nos canteiros (Figura 17), este tipo de sombreamento em palha é muito utilizada na região, e que foi feita de forma simples, utilizando varas e palha de coqueiro. A necessidade da mesma foi para minimizar a temperatura nos canteiros de fibra de vidro, evitando o aquecimento nas sementes, o que poderia dificultar o desenvolvimento das plantas, e, diminuir a evaporação das águas e a evapotranspiração durante o experimento. Figura 17 – Vista de uma cobertura da área dos canteiros hidropônicos 55 Os parâmetros de avaliação do capim buffel foram: germinação, altura das plantas, circunferência do colmo, quantidade de folhas por planta, largura das folhas e massa de matéria fresca. A altura foi medida a cada dois dias com uma régua graduada em centímetros. Foram escolhidas 15 plantas amostrais na forma de zigzag em cada canteiro para avaliar os seguintes parâmetros ao 75 dias após semeadura. A largura das folhas foi medida com uma régua graduada escolhendo a folha mais estreita e a mais larga de cada planta, a circunferência do colmo foi medida com um barbante e depois aferido em uma régua graduada. Para medir a massa de matéria fresca da parte aérea, foi necessário realizar o corte da forragem para uma pesagem em uma balança de precisão de forma a pesar a massa de matéria fresca das forragens que foi estimado massa/ m 2. Foram realizados os cálculos de média, desvio padrão e coeficiente de variação, nos parâmetros citados acima, exceto para a massa de matéria fresca para qual não existiu uma variação de medidas. A média aritmética é calculada através da formula mediante a locação das variáveis. Então podemos escrever a média como a soma dos valores observados e a frequência total (o número total de observação). Onde xi = valor genérico da observação n = tamanho da amostra = nº de observações O desvio padrão mede a concentração dos dados em torno da média. É dado pela soma dos quadrados dos desvios dividido pelo número total de observações. Sendo assim seu cálculo é: O coeficiente de variação (cv) é uma medida relativa de dispersão, útil para comparação em termos relativos do grau de concentração em torno da média de séries distintas. É dado por: 56 O cv é uma medida que exprime a variabilidade relativa à média, sendo assim ele é expresso em porcentagem. O cultivo do capim buffel através da técnica hidropônica durou 80 dias, até o momento da retirada da forragem para a pesagem da massa de matéria fresca. Foi necessária uma modificação do manejo, após três semanas de cultivo, para tentar melhorar as condições de crescimento e desenvolvimento do capim buffel no sistema hidropônico. Houve uma redução do capim nos canteiros, devido a entupimento de algumas tubulações de saída de água, o entupimento estava promovendo um acumulo de água abaixo nos canteiros, o que poderia provocar o surgimento de determinadas doenças no cultivo. Devido a este procedimento não foi detectado nenhum tipo de doença no capim buffel até o final do seu ciclo. 57 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 ANÁLISES DA QUALIDADE DO EFLUENTE TRATADO PARA USO NA TÉCNICA HIDROPÔNICA O efluente doméstico utilizado neste experimento foi proveniente da pesquisa de Medeiros Neto (2011). Os resultados encontrados por ele correspondem a um tipo de efluente que pode ser utilizado na irrigação de forrageiras sem nenhuma restrição, porém alguns cuidados no manuseio devem ser tomados, isto porque os resultados de coliformes termotolerantes e Escherichia coli estão forma dos limites aceitáveis. Para potencializar um melhor resultado principalmente em relação ao coliforme termotolerante, pode-se agregar ao sistema anaeróbio a utilização de um wentland, o que muitos pesquisadores têm usado para atingir uma redução complementar de 105 a 106 recomendada pela OMS para irrigação irrestrita. Caso o efluente fosse utilizado para irrigação restrita, a redução complemantar necessária seria de 10³. Analisando a Tabela 8, nota-se que o sistema fossa séptica e filtro anaeróbico proposto por Medeiros foi eficiente em alguns parâmetros como: DBO, DQO, e sólidos suspenso, mostrando-se significativo as reduções do esgoto tratado. Enquanto o esgoto bruto teve uma média de DBO de 455 mg L -1, o esgoto tratado teve a média da DBO em 88 mg L-1. Tabela 8 - Média dos resultados das primeiras análises do efluente tratado e esgoto bruto Parâmetros DBO (mg L-1) DQO (mg L-1) Fósforo total (mg P L-1) Sólidos Dissolvidos (mg L-1) Sólidos suspensos SST (mg L-1) Sólidos totais (mg L-1) E. Coli (NMP100ml-1) Colif. Termotolerantes (UFC 100ml-1) Nitrogênio Amoniacal (mg NH3 L-1). pH Condutividade elétrica Fonte: MEDEIROS NETO, 2011 Esgoto bruto Efluente tratado 455 1.510 13,30 2,42E+03 3.856 6,31E+03 2,37E+07 2,82E+08 52,0 7,11 - 88 721 7,38 2,60E+03 69 2,64E+03 2,51E+06 1,12E+07 108,0 7,44 4,30E+03 58 Quanto ao nitrogênio amoniacal, ocorreu um acréscimo do seu percentual (tratado em relação ao esgoto bruto). Isto pode ter ocorrido devido à transformação do nitrogênio orgânico em amoniacal. Quanto aos Sólidos Totais, SUS redução foi de 2,64E+03 sendo esta baixa em relação ao valor encontrado no esgoto bruto que foi dde 6,31E+03, esta diferença foi proveniente de uma entrada de sólido no poço de sucção do efluente tratado para o sistema de irrigação. O pH encontrado estaria adequado para um plantio em solo, para a irrigação este valor está um pouco alto, sendo necessário a utilização de ácido clorídrico para correção deste valor. Naime e Garcia (2005) concluíram que a eficiência de remoção de poluentes por um sistema de tratamento simplificado como o anaeróbio, foi de 99 a 99,5% para DBO e 99,5 a 99,7% para DQO. Segundo Ávila (2005), sua pesquisa obteve os seguintes resultados de redução de DBO, entre 59% e 67%, DQO obteve 60% e sólido suspenso redução de 88% . Segundo Metcalf e Eddy (2003), o parâmetro do pH de um efluente para irrigação agrícola deve estar entre 6,5-8,4. Entretanto para Soares (2007) por se tratar de hidroponia o ideal é que o pH esteja em torno de 5,5 – 6,5 para que ocorra boa assimilação dos nutrientes pela planta. A quantidade de nutrientes contida no efluente é de grande importância para obter resultados positivos no seu aproveitamento agrícola. A caracterização do efluente indica a possibilidade de sua utilização como fornecedor de nutrientes para as plantas, podendo o mesmo substituir a solução nutritiva comercial. Conforme mostrado na Tabela 9, os resultados da análise do efluente foram superiores aos valores registrados por Andrade Neto et al. (2002), que também trabalharam com o reuso do efluente na produção hidropônica de forragem. Apenas para o Fe e para o P foram registrados valores próximos aos obtidos por Andrade Neto et al. (2002). Para o Fe, no presente trabalho se obteve 0,17 e 0,38 mg L -1, enquanto os referidos autores encontraram 0,35 mg L-1; para o P, no presente trabalho se registrou de 2,69 e 2,60 mg L-1, enquanto os referidos autores encontraram 2,37 mg L-1. De acordo com o PROSAB, a concentração de Fe acima de 5 mg L-1 pode contribuir para tornar o P e o Mo não disponíveis às plantas. No presente trabalho também se registrou concentração de Mn abaixo do seu nível de toxicidade, qual seja, 0,20 mg L-1. 59 Tabela 9 - Características físico - químicas do efluente tratado Parâmetros do efluente Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Potássio (K) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Fósforo (P) total Coliformes termotolerantes Nitrogênio total DBO DQO pH Unidade mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 UFC 100 m L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 24/04/12 101 139 69,4 0,17 0,07 2,69 2,4 x 102 17,0 243 501 6,2 16/05/12 170 180 77,2 0,38 0,09 2,60 5,0 x 103 70,0 183 697 7,0 As variações das concentrações dos parâmetros podem ser provenientes da sazonalidade da região, ou até mesmo devido às interrupções que ocorrem na bomba de sucção do tratamento do efluente, o que pode ter acarretado numa maior concentração de nutrientes do efluente. Sendo assim seriam necessárias realizações de mais coletas e análises de forma a reforçar os resultados encontrados. O nitrogênio que provém dos dejetos e da massa microbiana dos esgotos, geralmente é um dos constituintes de maior valor nos efluentes, sendo totalmente disponíveis para as plantas nas formas de nitrato e nitrogênio amoniacal. Na segunda análise desta pesquisa observou-se um acréscimo acima de 100% no N. Enquanto, Andrade Neto et al. (2002) utilizaram uma concentração de N igual a 40 mg L-1, na hidroponia com efluente tratado. O efeito indireto do pH diz respeito à solubilidade de nutrientes. Em pH superior a 6,5 podem ocorrer precipitações de elementos como cálcio, fósforo, ferro e manganês, que deixam de estar disponíveis às plantas (Martinez, 1999). Nota-se que o pH do efluente tratado chegou a 7,0 na segunda análise, este poderia interferir na absorção dos nutrientes interferindo o crescimento da forragem. O Cálcio é essencial para um crescimento satisfatório da planta, principalmente no momento de retardamento do desenvolvimento da raiz. Neste trabalho os valores encontrados de Ca foram 101 mg L -1 e 170 mg L-1, valores bem superiores dos utilizados por Andrade Neto et al. (2002) que obtiveram uma concentração de Ca igual a 7,51 mg L-1. 60 Os valores de coliformes foram superiores aos recomendados pela legislação OMS (2006) que sugere como diretriz para uso de águas residuárias em fertirrigação para culturas ingeridas cruas, campos de esportes e parques públicos, um padrão de qualidade bacteriológico de l.000 coliformes fecais por 100 mL e, no máximo de um ovo de helminto por litro de esgoto. Os valores encontrados foram 2,4 x 102 e 5,0 x 103. Porém não existe nenhuma recomendação quanto aos limites bacteriológicos para irrigação de forrageiras, desde que os agricultores e a população não sejam expostos a riscos sanitários. Através dos resultados do efluente tratado, observou-se que este pode ser utilizado no cultivo da forrageira. Mesmo possuindo valores de coliformes termotolerantes acima do padrão da OMS, não existe restrição para o uso em cultivo de forrageira. O reuso do efluente irá possibilitar a minimização da carga poluidora que estaria chegando ao corpo d’água do rio Jacuípe. Percebe-se esta alta concentração de poluentes quando se compara os resultados de Medeiros Neto (2011) do esgoto bruto e o tratado. Compreende-se então a importância do reúso do esgoto doméstico que seria lançado no rio, e que poderá ter uma nova utilização na área agrícola. 4.2 ANÁLISES DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA O PREPARO DA SOLUÇÃO NUTRITIVA A qualidade da água é fundamental em qualquer cultivo, principalmente na hidroponia, pois é nela que estarão dissolvidos os minerais essenciais a planta, formando a solução nutritiva. Quanto melhor a qualidade da água menos problemas se deve ter no cultivo. A Tabela 10 mostra alguns parâmetros da análise da água utilizada para dissolver os nutrientes. 61 Tabela 10 - Parâmetros de análise da água Parâmetros da água Sódio (Na) Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) RAS Alcalinidade carbonato Alcalinidade bicarbonato Cloreto (Cl) Unidade mg L-1 mg L-1 mg L-1 (mmol L-1)0,5 mg CaCO3 L-1 mg CaCO3 L-1 mg L-1 24/04/12 337 < 2,6 54,0 1030 16/05/12 364 87,4 149 0,24 < 2,6 58,2 1030 (-) não foi realizada análise Nota-se a alta concentração de cloreto nessa água (1030 mg L -1). Conforme Castellane e Araujo (1995), a concentração desse ânion não deve ser superior a 220 mg L-1 para fins de irrigação. Especificamente, para a hidroponia, Resh (1995) e Schwarz (1968) informam que o limite de cloreto deve ser abaixo de 50 mg L-1. O carbonato e o bicarbonato encontram-se dentro do padrão de água para irrigação, que segundo Castellane e Araújo (1995) deve estar abaixo de 224 mg CaCO3 L-1 e 244 mg CaCO3 L-1 para carbonatos e para bicarbonatos, respectivamente. Neste trabalho encontrou-se valores menores que 2,6 CaCO3 L-1 e 58,2 CaCO3 L-1 para carbonatos e para bicarbonatos, respectivamente. Em relação ao sódio, foram encontrados valores de 337 mg L-1 e 364 mg L-1, o que, segundo a literatura especializada Castellane e Araujo (1995) estão acima do limite recomendado, qual seja, até 200ppm. A solução nutritiva convencional, preparada com a água do abastecimento local e adição de nutrientes, apresentou condutividade elétrica inicial de 3,6 dS m-1. Como a reposição da água consumida pelo capim foi efetuada com a própria água, que tem salinidade de acima de 3 mg L-1, ao longo do tempo se registrou aumento da salinidade da solução que chegou a 4,0 dS m-1, o que se explica pela incorporação de íons na solução (Figura 18). Concentrações de pH e CE 62 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 pH (SN) CE (SN dS/m) pH (ET) CE (ET dS/m) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Tempo (semana) -1 Figura 18 – Concentrações de pH e CE (dS m ) na solução nutritiva (SN) e no efluente tratado (ET) Como se adotou o mesmo manejo de reposição da água evapotranspirada para o capim produzido com efluente de esgoto tratado, a salinidade da solução hidropônica nesse tratamento também tendeu a crescer. Foi registrado do início ao final do experimento um aumento de 4,2 dS m-1 na condutividade elétrica da solução hidropônica com efluente. Essa mesma magnitude de aumento da salinidade foi registrada para a solução hidropônica convencional. Soares (2007) conclui que a salinidade limiar em hidroponia do tipo NFT em seu trabalho foi de 4,03 dS m-1 de forma que não prejudicou a produtividade comercial no cultivo do alface. Para Soares (2007) água moderadamente salobra possui CE < 3,5 dS m-1. Segundo Ayres e Westcot (1991) a CE moderada está entre 0,7- 3,0 dS m-1, acima de 3,0 dS m-1 ela é severa, interferindo no desenvolvimento da planta. Ainda sobre a Figura 18 é apresentada a variação do pH da solução nutritiva convencional e do efluente de esgoto tratado. De acordo a literatura os parâmetros ideais para o pH está entre 5,0 e 6,5. No efluente tratado a variação do pH ficou entre 6,8 e 7,0 e na solução nutritiva 5,8 e 6,4, o resultado do efluente tratado foi maior que o indicado pela literatura, mesmo possuindo valores de pH e CE acima dos padrões a forrageira capim buffel conseguiu se desenvolver. 63 4.3 GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS HIDROPÔNICAS NOS DIFERENTES TRATAMENTOS No período de germinação pode-se observar que no tratamento T3 (efluente tratado e fibra de coco) obteve 73 plantas germinadas, no tratamento T1 (solução nutritiva e fibra de coco) teve-se 70 plantas germinadas. No tratamento T2 (solução nutritiva e fibra de sisal) surgiram 65 plântulas e no tratamento T4 (efluente tratado e fibra de sisal) obteve 63 germinações. Nota-se que a germinação nos canteiros com a fibra de coco obteve melhores resultados (Figura 19). Ocorreu um número maior de germinação nos tratamentos que continham fibra de coco, isto devido a Número de plantas germinadas característica desta fibra em reter umidade. 80 70 60 T1 (SN + FC) 50 T2 (SN + FS) 40 T3 (ET + FC) 30 T4 (ET + FS) 20 10 0 2 4 6 8 10 12 14 Tempo (dias) Figura 19 - Número de plantas germinadas do capim buffel aos quatorze dias após semeadura nos diferentes tratamentos T1 solução nutritiva e fibra de coco (SN + FC), T2 solução nutritiva e fibra de sisal (SN + FS), T3 efluente tratado e fibra de coco (ET + FC) e T4 efluente tratado e fibra de sisal (ET + FS) Ao trigéssimo terceiro dia de cultivo, o tratamento T1 (solução nutritiva e fibra de coco) as plantas chegaram a uma altura média de 53 cm. Enquanto, o tratamento T3 (efluente tratado e fibra de coco) obteve uma média de 50 cm. Mesmo tendo uma melhor germinação o tratamento T3, até este momento. Já no final do cultivo o T3 obteve uma altura de 85 cm e o T1 80 cm (Figura 20). Segundo a EMBRAPA o capim buffel no final de 75 dias após a semeadura pode obter uma altura entre 75 cm – 1m de altura. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 T1 (SN + FC) 75 61 47 33 29 25 21 17 13 9 5 T3 (ET + FC) 1 Altura das plantas (cm) 64 Tempo (dias) Figura 20 - Altura das plantas de capim buffel em função do uso da solução nutritiva (SN) e efluente tratado (ET), na presença de fibra de coco (FC) Comparando os tratamentos T2 (solução nutritiva e fibra de sisal) este obteve no final dos 75 dias após semeadura uma altura de 75 cm e T4 (efluente tratado e fibra de sisal), neste período ocorreu a morte das plantas, isto ocorreu devido a uma falha no bombeamento e a fibra de sisal por não possui características para manter a umidade nos canteiros promoveu a morte do capim (Figura 21). O cultivo com a fibra de sisal é possível deste que ocorra sempre manutenção na bomba de sucção para não interromper o sistema. Altura das plantas (cm) 80 70 60 50 T2 (SN + FS) 40 T4 (ET + FS) 30 20 10 75 61 47 33 29 25 21 17 13 9 5 1 0 Tempo (dias) Figura 21 - Altura das plantas de capim buffel em função do uso da solução nutritiva (SN) e efluente tratado (ET), na presença de fibra de sisal (FS) 65 Comparando os tipos de substratos utilizados nos tratamentos T1 (solução nutritiva e fibra de coco) e T2 (solução nutritiva e fibra de sisal), nos quais a forragem de capim buffel recebeu a solução nutritiva notou-se que no T1 obteve uma altura final de 80 cm enquanto o T2 obteve altura de 75 cm (Figura 22). Mostrando que a altura nesses dois tratamentos em fibra de sisal teve uma diferença 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 T1 (SN + FC) 75 61 47 33 29 25 21 17 13 9 T2 (SN + FS) 5 1 Altura das plantas (cm) média de 5 cm as plantas. Tempo (dias) Figura 22 - Altura das plantas de capim buffel em função do uso da solução nutritiva (SN), na presença de fibra de coco e fibra de sisal (FS) Analisando os tratamentos T3 (efluente tratado e fibra de coco) e T4 (efluente tratado e fibra de sisal), nos quais a forragem se desenvolveu recebendo o efluente tratado, observa-se um evolução no crescimento do tratamento T3 que obteve uma altura final de 85 cm. Enquanto, o tratamento T4 se desenvolveu até trigéssimo terceiro dia (Figura 23). Apesar do problema técnico ocorrido na bomba que succiona o efluente para estes canteiros, a fibra de coco conseguiu reter umidade por mais tempo que o sisal, não prejudicando o crescimento da forageira. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 T3 (ET + FC) 75 61 47 33 29 25 21 17 13 9 T4 (ET + FS) 5 1 Altura das plantas (cm) 66 Tempo (dias) Figura 23 - Altura das plantas de capim buffel em função do uso do efluente tratado (ET), na presença de fibra de coco (FC) e fibra de sisal (FS) Na Figura 24 tona-se as forrageiras capim buffel em seu crescimento nos diferentes tipos de tratamentod e as testemunhas. As imagens correspondem ao aspecto das lantas aos 35 dia pós plantio nos canteiros hidropônicos. Sendo visível em um dos canteiros a morte das plantas devido a uma parada do funcionamento do sistema. Figura 24 – Vista das forrageiras hidropônicas aos 35 dias pós semeadura 67 No final do ciclo da planta, aos 75 dias após semeadura, foram aferidos parâmetros no capim buffel como: circunferência do colmo, o número de folhas por planta e a largura das folhas. Estes foram submetidos ao teste qui quadrado os quais foram comparadas a frequência esperada (testemunhas) e a frequência observada (tratamentos). O grau de liberdade equivale a 1 e o qui quadrado da tabela equivale a: X2 = 0,05, valor referente a 5% de probabilidade. Comparando a testemunha 1 com os canteiros do tratamento 3 (T3), (Tabela 11) notou-se que os valores não são significativos quando comparados ao valor esperado, aceitando-se a igualdade nos tratamentos T1 e T3. Tabela 11 – Quantidade de folhas por planta e teste qui quadrado em T1 e T3 Quantidade T1 de folhas por (esperado) planta testemunha (SN + FC) Aos 75 dias 7 pós plantio 8 T3 (observado) (ET + FC) X2 (Qui T3.1 Quadrado) (observado) (ET + FC) X2 (Qui Quadrado) 7 9 0,0357 0,0277 0,0312 0,0277 8 9 T1 - Solução nutritiva convencional e fibra de sisal; T3/T3.1 - Efluente de esgoto tratado e fibra de coco Comparando a quantidade de folhas com a segunda testemunha (solução nutriva + fibra de sisal) observou-se que houve uma diferença significativa entre o esperado T1 e o observado T3 (efluente tratado + fibra de coco), sendo que este ultimo obteve valores maiores, entre 8 – 9 folhas no segundo canteiro e 9 folhas no primeiro canteiro, os valore encontrados de qui quadrado foram: x2= 0,2812, x2=0,25 e x2=0,25 respectivamente (Tabela 12). Tabela 12 – Quantidade de folhas por planta e teste qui quadrado em T2 e T3 Quantidade T2 de folhas (esperado) por planta testemunha (SN + FS) Aos 75 dias 6 pós plantio 7 T3 (observado) (ET + FC) X2 (Qui T3.1 Quadrado) (observado) (ET + FC) X2 (Qui Quadrado) 7 9 0,0357 0,25 0,2812 8 9 T2 - Solução nutritiva convencional e fibra de sisal; T3/T3.1 - Efluente de esgoto tratado e fibra de coco 68 Quanto aos resultados da circunferência do colmo nas plantas para os valores esperados e observados todos foram significativos a 5% de probabilidade, mostrado que o tratamentos com efluente tratado + a fibra de coco nos dois canteiros obtiveram valores superiores aos esperados. Este resultado foi significativo tanto para a testemunha 1(solução nutritiva + fibra de coco) como a testemunha 2 (solução nutritiva + fibra de sisal) (Tabelas 13 e 14 ). Tabela 13 – Circunferência do colmo das planta e teste qui quadrado em T1 e T3 Circunferência do colmo T1 (esperado) testemunha (SN + FC) Aos 75 dias pós 1,0 plantio 1,2 1,5 T3 (observado) (ET + FC) X2 (Qui T3.1 Quadrado) (observado) (ET + FC) X2 (Qui Quadrado) 0,8 1,2 1,6 0,1125 0,2083 0,1000 0,1777 0,0900 0,1142 0,9 1,0 1,4 T1 - Solução nutritiva convencional e fibra de sisal; T3/T3.1 - Efluente de esgoto tratado e fibra de coco Tabela 14 – Circunferência do colmo das planta e teste qui quadrado em T2 e T3 Circunferência do colmo T2 (esperado) testemunha (SN + FS) Aos 75 dias 1,0 pós plantio 1,4 1,6 T3 (observado) (ET + FC) X2 (Qui T3.1 Quadrado) (observado) (ET + FC) X2 (Qui Quadrado) 0,8 1,2 1,6 0,1125 0,0750 0,1562 0,1777 0,0100 0,0642 0,9 1,0 1,4 T2 - Solução nutritiva convencional e fibra de sisal; T3/T3.1 - Efluente de esgoto tratado e fibra de coco Ao comparar as larguras da folhas notou-se que o teste foi significativo para as folhas com larguras de 1,0 cm (T3) e 1,2 cm (T3) quando comparadas ao esperado que atingiu larguras de 0,75 mm (T1) e 1,0 cm (T1) respectivamente (Tabela 15) . Com estes resultados, nota-se que o reuso do efluente tratado (T3) pode ser utilizado na substituição da solução nutritiva sem que ocorra prejuizos no desenvolvimento do plantio. 69 Tabela 15 – largura das folhas do capim buffel e teste qui quadrado em T1 e T3 Largura folhas das T1 (esperado) testemunha (SN + FC) Aos 75 dias 0,5 mm pós plantio 0,75 mm 1,0 cm T3 (observado) (ET + FC) X2 (Qui T3.1 Quadrado) (observado) (ET + FC) X2 (Qui Quadrado) 0,8 mm 1,0 cm 1,2 cm 0,0500 0,0625 0,0750 0,0500 0,0204 0,0750 0,8 mm 1,1cm 1,2 cm T1 - Solução nutritiva convencional e fibra de sisal; T3/T3.1 - Efluente de esgoto tratado e fibra de coco Ao comparar a largura das folhas com a testemunha 2 (SN + FS) notou-se também que em três pontos o resultado foi significativo comparado 0,6 mm do esperado com 0,8 mm do observado obteve x2= 0,1125; 0,8 mm esperado com 1,0 cm do observado obteve 0,0900 e e em três pontos este não foi significativo. Este resultado demostra que há 50% de probabilidade dos desvios serem significativos. Isto pode ser causado principalmente por situações climáticas ou problemas técnicos como uma parada de bomba (Tabela 16). Tabela 16 – largura das folhas do capim buffel e teste qui quadrado em T2 e T3 Largura folhas das T2 (esperado) testemunha (SN + FS) Aos 75 dias 0,6 pós plantio 0,8 1,2 T3 (observado) (ET + FC) X2 (Qui T3.1 Quadrado) (observado) (ET + FC) X2 (Qui Quadrado) 0,8 1,0 1,2 0,1125 0,0900 0,02083 0,1125 0,0363 0,02083 0,8 1,1 1,2 T2 - Solução nutritiva convencional e fibra de sisal; T3/T3.1 - Efluente de esgoto tratado e fibra de coco Aos 80 dias de plantio foi realizada a pesagem da forragem de forma a aferir a massa da matéria fresca dos tratamentos. A testemunha 1 (solução nutritiva + fibra de coco) obteve 1,92 Kg/m2. A testemunha 2 (solução nutritiva + fibra de sisal) teve um peso de 1,58 Kg/m2. O tratamento 3 do primeiro canteiro (efluente tratado + fibra de coco) obteve 2,05 Kg/m2 e no segundo canteiro do mesmo tratamento resultou em peso de 2,20 Kg/m2. Sendo assim a produção obtida nos tratamentos foram superiores aos das testemunhas, este fato mostra a possibilidade da aplicação do reuso de esgoto doméstico tratado no cultivo hidropônico da forrageira capim buffel. Segundo Abumjara et al. (2005), eles obtiveram no cultivo hidropônico com grama e uso de efluente tratado em diferentes granulometria de areia como substrato valores 70 correspondente a 3,40 e 3,16 Kg m 2. De acordo com Andrade Neto et al. (2002) tiveram uma massa de matéria fresca na produção da forrageira de milho hidropônico em canteiros de 5 m2, com sementes não selecionadas 12,1Kg e 19,6 Kg em diferentes tratamentos. Sendo que estes trabalharam com mudas nos canteiros. Quanto ao tratamento T4 (efluente tratado e fibra de sisal), os dois canteiros não lograram nenhum sucesso no cultivo, isto ocorreu devido à falhas no sistema de bombeamento, o que prejudicou a manutenção nos canteiros no favorecimento da umidade na zona radicular e disponibilidade de nutrientes para o capim buffel, por este motivo não foi possível medir determinados parâmetros no tratamento. 71 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O reuso de esgoto doméstico tratado, através do sistema fossa séptico e filtro anaeróbico, mostrou-se como uma alternativa mitigadora para melhorar a qualidade dos corpos hídricos nas regiões semiáridas, que recebem diariamente volumes de esgotos que contribuem para a poluição e degradação dos ecossistemas. Sendo assim o reuso se apresenta como uma forma de controle a poluição pelos esgotos domésticos em regiões semiáridas que possuem rios com baixa disponibilidade hídrica. Nesta pesquisa foi observado que o volume diário de esgoto que deixou de ser lançado no trecho do rio jacuípe foi de aproximadamente 18.720,00 l/dia. Este volume corresponde a vazão diária utilizada nos canteiros hidropônicos. Pecebe-se então a importância do reuso para a biodiversidade aquática dos corpos hídricos, na redução da carga poluidora. A sustentabilidade do uso do efluente de esgoto tratado depende do manejo adequado e de suas características para a obtenção de uma produtividade. Desta forma por se tratar de um cultivo forrageiro não houve restrições para o uso deste efluente na pesquisa. O efluente foi eficiente em suprir o capim buffel, não o prejudicando em seu desenvolvimento. A utilização do efluente doméstico tratado viabilizou uma produção de capim a qual foi oferecida para uma pequena quantidade de animais em um momento estremo de pastagens secas. Tanto a água enriquecida com fertilizante quanto o efluente doméstico tratado proporcionaram germinações e crescimento da planta de capim buffel. Uma das vantagem do uso do efluente é a dispensa da compra de fertilizantes pelo produtor, o que significa uma economia na produção agrícola com o uso do efluente tratado. O efeito do substrato fibra de coco no desenvolvimento do capim mostrou-se eficiente na pesquisa. A forrageira capim buffel obteve uma altura condizente com a literatura aos 75 dias após semeadura. Através do teste qui quadrado, o tratamento T3 composto pelo efluente tratado e fibra de coco foi o que mais se destacou no experimento, tanto em relação à altura do capim como na quantidade de massa de matéria fresca, onde foram obtidos volumes de 2,05 Kg/m2 e 2,20 Kg/m2 nos dois canteiros do tratamento 3. Além deste fato, a fibra de coco reteve mais umidade nos canteiros que a fibra de sisal. 72 Do ponto de vista prático, a fibra de sisal se mostrou “utilizável” na técnica hidropônica, porém para culturas que não excedam a sua colheita em 90 dias. Pois foi possível visualizar, neste período, que a fibra começava a se degradar o que poderia proporcionar o aparecimento de doenças nas plantas. Sendo assim é necessária a troca do substrato após a colheita, o que difere do substrato fibra de coco que não demonstrou degradabilidade, neste período, o que pode possibilitar o uso do mesmo por mais um ciclo da planta. Uma das vantagens da hidroponia na região semiárida é a possibilidade de reciclagem da água dentro do sistema. O sistema fechado hidropônico proporciona a otimização do uso da água para agricultura em períodos extensos de estiagem ou até mesmo nos meses chuvosos, mantendo uma produção de subsistência familiar durante todo o ano. Este fato é importante principalmente quando se leva em consideração as características da região semiárida, com elevada temperatura, baixa pluviosidade e solo de baixa fertilidade. A técnica hidropônica ainda é pouco conhecida por agricultores. Sendo assim a sua implantação deve seguir com orientações precisas ao produtor, como por exemplo, realizar as manutenções das bombas, para evitar que estas interrompam o funcionamento da hidroponia e provoque a redução ou até mesmo a perda da produtividade, assim como aconteceu com o tratamento T4 composto pelo efluente tratado e a fibra de sisal. Um dos maiores entraves encontrados nesta pesquisa refere-se as várias paradas das bombas por falta de manutenção antecipada. Por isso, é importante a presença do agricultor diariamente, na área de cultivo hidropônico. Além das paradas das bombas, houve entupimento nos tubos de PVC no final dos canteiros, o que provocou um acúmulo de água no sistema. Para evitar este problema, sugere-se colocar tela próximo aos tubos para evitar que partes do substrato utilizado nos canteiros entupam as tubulações, ou que qualquer tipo de organismo entre pelas tubulações. 73 REFERÊNCIAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - Poluição das águas: Terminologia - NBR 9896. Rio de Janeiro, 1987. ABUJAMRA, R. C. P. et al. influência do substrato na produção de grama hidropônica com esgoto tratado. Laboratório de recursos hídricos e saneamento ambiental- LARHISA/CCT/UFRN. Natal/ Rio Grande do Norte, 2005. AGENDA 21. The Earth Summit Strategy to save our Planet. Boulder, Colorado: Ed. Daniel Sitarz, Earthpress,. 321 p. 1994. ANA - AGENCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco -PBHSF (2004-2013) - Estudo Técnico de Apoio ao PBHSF – Nº 16: Alocação de Água. Brasília – Distrito Federal. Disponível em: WWW.ana.gov.br. Acesso em outubro de 2010. ANDRADE NETO, et al. 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