Investigação, 14(6):91-95, 2015 REVISÃO DE LITERATURA | CLÍNICA DE GRANDES ANIMAIS ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DA FEBRE DO VALE DO RIFT Clinical and Epidemiological Aspects of Rift Valley Fever 1 Universidade Federal de Goiás (UFG), Regional Jataí, Unidade Jatobá, Laboratório de Sanidade Animal, BR 364, Km 192, n. 3800, Setor Parque Industrial, CEP: 75801-615, Jataí, Goiás, Brasil. *E-mail: [email protected] MV. Eric Mateus N. de Paula¹*, MV. MSc. Carolina de Alvarenga Cruz2, 2 Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Departamento de MedicinaVeterinária Preventiva e Reprodução Animal, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/no, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil. MV. MSc. Dr. Daniel B. de Sousa¹, MV. MSc. Dra. Raphaella B. Meirelles-Bartoli¹ RESUMO ABSTRACT Febre do Vale do Rift (FVR) é uma enfermidade de caráter zoonótico, acometendo ruminantes domésticos e seres humanos, tendo como agente etiológico um arbovírus do gênero Phlebovirus. Possui altas taxas de mortalidade em animais jovens e causa abortos em ruminantes gestantes. Sendo endêmica na África Subsaariana. Tem seus focos relacionados a anomalias climáticas, como as chuvas, que proporcionam a eclosão de ovos de mosquitos infectados. Calcula-se que aproximadamente 30 espécies de mosquitos são capazes de transmitir o vírus da FVR.O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento do vírus, virusneutralização, ELISA e testes de inibição da hemaglutinação. Pode ser confundida com diversas outras doenças, tais como: língua azul, doença de Wesselsbron, enterotoxemia dos carneiros, febre efêmera, brucelose, vibriose, tricomoníase, doença dos ovinos de Nairobi, aborto enzoótico ovino, plantas tóxicas, septicemias, peste bovina, peste dos pequenos ruminantes e antraz. Não existe nenhum tipo de tratamento para os seres humanos ou os animais. Entretanto, existe vacina para a proteção dos animais em regiões endêmicas. Outras medidas preventivas incluem o controle de vetores (larvicidas e adulticidas), vigilância no transporte de animais e proteção individual. Essa revisão de literatura teve como objetivo apresentar diversas informações sobre essa doença pouco conhecida. E baseado nos dados desse trabalho conclui-se que esta doença tem grande potencial para se tornar emergente no Brasil, visto que as condições necessárias para seu o estabelecimento estão presentes em nosso território. Rift Valley Fever (RVF) is a zoonotic disease, affecting domestic ruminants and humans, with the causative agent being an arbovirus from the Phlebovirus genre. It has high mortality rates in young animals and causes abortion in pregnant ruminants. It is endemic in sub-Saharan Africa. It has its focuses related to weather anomalies, such as rainfall, which provide the hatching of eggs from infected mosquitoes. It is estimated that approximately 30 species of mosquitoes are capable of transmitting the RVF virus. The diagnosis can be achieved by virus isolation, virus neutralization, ELISA test and hemagglutination inhibition. It can be mistaken for other diseases, such as bluetongue, Wesselsbron disease, enterotoxemia of sheep, ephemeral fever, brucellosis, vibriosis, trichomonosis, Nairobi sheep disease, heart water, ovine enzootic abortion, toxic plants, bacterial septicaemias, peste des petits ruminants and anthrax. There is no treatment for humans or animals. However, there is a vaccine available for the protection of animals in endemic regions. Other preventive measures include vector control (larvicides and adulticide), monitoring the transport of animals and individual protection. This literature review aimed to present different information about this little known disease. Based on data compiled we can conclude that this disease has great potential to become an emerging disease in Brazil, since the conditions necessary for its establishment are broadly present in our territory. Keywords: Bunyaviridae, ruminants, zoonosis, arbovirus. Palavras-chave: Bunyaviridae, ruminantes, zoonose, arbovirose. ISSN 21774080 91 Investigação, 14(6):91-95, 2015 INTRODUÇÃO Febre do Vale do Rift (FVR) é uma zoonose, que acomete primeiramente ruminantes (ovinos, bovinos, caprinos, bubalinos, camelídeos) e em segundo plano os seres humanos, causada por um arbovírus pertencente ao gênero Phlebovirus (família Bunyaviridae). Ainda há relatos de infecção em macacos, esquilos e outros roedores (OIE, 2014). Esta doença é caracterizada por altas taxas de mortalidade em animais jovens e abortos em ruminantes gestantes. A FVR é um exemplo de uma doença em que os focos estão estreitamente ligados a anomalias climáticas (DAVIES et al., 1985). Essa enfermidade é endêmica na África Subsaariana e ocorrem logo após fortes chuvas que causam a eclosão de ovos de mosquitos infectados, e um grande número de animais susceptíveis estão presentes (CSFPH, 2006). HISTÓRICO O vírus da Febre do Vale do Rift (VFVR) foi isolado pela primeira vez em 1930, durante uma epizootia no Vale do Rift, no Quênia, foi caracterizada por ser uma doença aguda em ruminantes domésticos, sendo também isolado na África continental e em Madagáscar (SOLDAN e GONZÁLEZ-SCARANO, 2005). Esse agente etiológico foi incluído no grupo dos flebovírus, em 1980, após testes sorológicos demonstrarem a sua relação antigénica com os outros vírus do grupo (SHOPE et al., 1980). A mais grave epizootia ocorreu no Quênia, em 1950-51 e resultou na morte de aproximadamente 100.000 ovinos. Em 1977-79, no Egito, ocorreu uma epizootia intensa em ovinos e bovinos. A doença causou, pela primeira vez, grande número de casos humanos, estimando-se que tenha afetado cerca de 200.000 pessoas, causando pelo menos 598 mortes por encefalite e/ou febre hemorrágica. Esta epidemia esteve relacionada com a construção de uma barragem no rio Aswan que fez agravar as inundações das margens dos rios, após as fortes chuvas das monções, tendo assim proporcionado condições ideais para o desenvolvimento dos vetores (WHO, 2010). fortes chuvas e inundações localizadas. Depois de se multiplicar nos animais, o VFVR também pode ser transmitido por muitas espécies de mosquitos e, possivelmente, outros insetos que picam, tais como carrapatos (CHEVALIER et al., 2010). A primeira epidemia de febre do Vale do Rift no Oeste africano foi reportada em 1987 e esteve também relacionada com a construção de uma barragem, desta vez no rio Senegal. O projeto causou a inundação da área mais baixa do rio e alterou as interações entre animais e humanos, resultando na transmissão do vírus a estes últimos. Só na Mauritânia foram estimadas 224 mortes (NATHENSON et al., 1994; SWANEPOEL, 2004; SOLDAN e GONZÁLEZ-SCARANO, 2005). Os insetos podem se infectar através do repasto sanguíneo tanto em animais como no ser humano (CFSPH, 2006). Esses mosquitos se reproduzem em depressões isoladas chamadas “dambos”, áreas de pastagem vastas. Após longos períodos de chuvas, ocorre o alagamento desses “dambos” (LINTHICUM et al., 1985) os ovos dos mosquitos de várias espécies eclodem e os adultos subsequentes transmitem o vírus aos animais domésticos, incluindo ovelhas, cabras, gado, camelos, búfalos. Os “dambos” servem como bons habitats para mosquitos Aedes e Culex. Quando os mosquitos Aedes infectam os animais domésticos com FVR, a multiplicação viral ocorre nestes hospedeiros, levando a uma maior propagação em várias espécies Culex que são capazes de transmitir o vírus para além da área dos focos originais (MCLNTOSH eJUPP, 1981). Em Setembro de 2000, o vírus foi, pela primeira vez, detectado fora do continente africano, tendo sido confirmados casos na Arábia Saudita e no Iémen (WHO, 2010). AGENTE ETIOLÓGICO O VFVR consiste de um único sorotipo de Phlebovirus que possui propriedades morfológicas e físico-químicas típicas deste gênero. O período de incubação desse vírus pode ir de 12 a 36 horas em cordeiros recém-nascidos até três dias em ovinos, bovinos, caprinos e cães. Experimentalmente, infecções se tornaram aparente após 12 horas em cordeiros recém-nascidos, bezerros e cachorros (OIE, 2014). VETOR A FVR é transmitida por mosquitos, e geralmente se desenvolve em hospedeiros ruminantes. Em regiões endêmicas, os casos podem ocorrer esporadicamente ou epidemias. O vírus parece sobreviver nos ovos secos de mosquitos; e as epidemias estão associadas com a eclosão desses ovos durante anos de ISSN 21774080 92 Mais de 30 espécies de mosquitos foram encontradas sendo capazes de transmitir o VFVR (LEFEVRE et al., 2003; MC INTOSH et al, 1981), que pertencem a sete gêneros dos quais Aedes e Culex são considerados os mais importantes, do ponto de vista da competência vetorial (outros gêneros são Anopheles, Coquillettidia, Eretmapodite, Mansonia e Ochlerotatus). Em mosquitos, a transmissão transovariana do VFVR tem sido observada em Aedes mcintoshi. Esse parece ser um provável fenômeno que ocorre em várias outras espécies (CHEVALIER et al., 2010). Investigação, 14(6):91-95, 2015 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA A FVR é relatada em quase toda a África, com maior incidência na maioria dos países da África Subsaariana, Egito e Madagascar (CHEVALIER et al., 2010). A doença é endêmica no sul e no leste da África, onde os surtos ocorrem em intervalos irregulares. Na África, os surtos ocorrem normalmente em pastagens de cerrado a cada 5 a 15 anos, e em regiões semiáridas a cada 25 a 35 anos. Epidemias também têm sido relatadas na Arábia Saudita e Iêmen (CFSPH, 2006). CADEIA EPIDEMIOLÓGICA Os hospedeiros primários e principais multiplicadores do vírus da FVR são ovelhas, cabras e vacas, além do ser humano (CHEVALIER et al., 2010). O sangue do mamífero infectado, bem como os demais fluidos corporais atuam como via de eliminação do VFVR. Também foi encontrado no sêmen e no leite cru (CFSPH, 2006). A picada de mosquitos infectados é o principal meio de transmissão em ruminantes durante os períodos de epidemias (CHEVALIER et al., 2010). A infecção humana pelo VFVR, além das picadas de mosquito, pode se dar pela exposição a fluidos corporais de animais ou a carcaças e órgãos durante a necropsia e abate (EFSA, 2005). Muitos casos humanos são causados por exposição ocupacional, ou seja, por aerossóis e contato direto com os tecidos durante o parto, necropsia, abate, procedimentos laboratoriais ou preparação de carne para cozinhar. Existe inclusive um relato de transmissão intrauterina do vírus (CFSPH, 2006). A porta de entrada para o VFVR é a pele íntegra, pela qual o mosquito acopla seu aparelho bucal para o repasto sanguíneo e por onde inocula o vírus; e a pele com algum tipo de abrasão ou solução de continuidade, no caso de contato direto com tecidos e fluidos de animais infectados (CHEVALIER et al., 2010). depressão, diarreia hemorrágica, secreção nasal mucopurulenta com rajadas de sangue, e icterícia. Taxas de letalidade variam entre 20% e 30% (CHEVALIER et al., 2010). Muitas espécies de animais podem ser afetadas pela FVR, incluindo ovinos, bovinos, caprinos, bubalinos, camelídeos, e primatas, bem como esquilos e outros roedores. A doença é mais grave nos três primeiros. Existe uma considerável variação em relação à susceptibilidade de diferentes espécies animais ao VFVR; camelos geralmente apresentam infecção inaparente, mas a morte súbita, morte neonatal e abortos ocorrem e as taxas de aborto podem ser tão altas quanto em bovinos. Os seres humanos são susceptíveis à infecção e são infectados pelo contato com fluidos corporais ou tecidos de animais infectados, além da picada de mosquitos (OIE, 2014). Infecções similares, porém mais suaves podem ocorrer em caprinos. Cabras adultas desenvolvem forma leve da doença, embora abortos sejam frequentes (80%), com taxas de mortalidade geralmente baixas (GERDES, 2004). Bezerros frequentemente desenvolvem doença aguda, com febre, diarreia fétida e dificuldade em respirar. As taxas de mortalidade podem variar de 10% a 70%. O aborto é muitas vezes o único sinal clínico e a mortalidade é baixa, em torno de 10-15% (CHEVALIER et al., 2010). Os sinais clínicos variam dependendo da idade, espécie e raça do animal. Em regiões endêmicas, epidemias de FVR podem ser reconhecidas por altas taxas de mortalidade em animais recém-nascidos e abortos em adultos (CFSPH, 2006). O aborto é o sinal mais característico em ovinos e bovinos adultos. Os camelos adultos não desenvolvem sintomas além do aborto, embora os animais jovens possam apresentar uma doença mais grave. Viremia sem doença grave pode ser vista em gatos adultos, cães, cavalos e alguns macacos, mas a doença grave pode ocorrer em filhotes recém-nascidos de cães e gatos (CFSPH, 2006). Na ovelha, após um curto período de incubação, a febre pode chegar até 41-42 °C. Cordeiros recém-nascidos geralmente morrem dentro de 36 a 40 horas após o início dos sinais (febre bifásica, anorexia e linfadenopatia seguida por fraqueza), com taxa de mortalidade chegando a 95%. Animais mais velhos (duas semanas a três meses de idade) desenvolvem apenas uma infecção mais branda. Em ovelhas gestantes, abortos são frequentes, variando de 5% a 100%. Vinte por cento das ovelhas que abortam, podem morrer em seguida. O vômito pode ser o único sinal clínico apresentado por ovelhas e cordeiros com mais de três meses. No entanto, estes animais podem sofrer febre com A doença humana geralmente consiste numa síndrome febril leve ou moderada. Contudo, podem ocorrer complicações graves, como hepatite com trombocitopenia, icterícia e manifestações hemorrágicas, que resultam, geralmente, em morte ou ainda, meningoencefalites que podem deixar sequelas (NATHENSON et al., 1994; SWANEPOEL, 2004). No entanto, a complicação mais comum, associada à FVR é a máculo-retinite, com visão desfocada e perda de acuidade visual, devido a hemorragias na retina e a edema macular (CHEVALIER et al., 2010). Como resultado, cerca de 1 a 10% dos pacientes afetados tem perda permanente da visão (WHO, 2010). SINAIS CLÍNICOS ISSN 21774080 93 Investigação, 14(6):91-95, 2015 DIAGNÓSTICO ACHADOS ANATOMOPATOLÓGICOS Amostras adequadas para o diagnóstico são de sangue periférico colhido com anticoagulante EDTA, plasma ou soro de animais infectados, além do fígado, cérebro, baço ou linfonodos de animais mortos. Caso haja a possibilidade de transportar rapidamente as amostras até um laboratório de diagnóstico (<48 horas), elas devem ser armazenadas a uma temperatura inferior a 4 °C. Quando este não é o caso, as amostras devem ser congeladas a -20 °C ou menos. Pequenos fragmentos de órgãos podem ser armazenados em Glicerol a 10-20% (CHEVALIER et al., 2010). A lesão mais consistente é a necrose hepática que em geral é mais extensa e grave em animais mais jovens. Em fetos abortados e cordeiros recém-nascidos, o fígado pode estar aumentado, marrom-amarelado a marrom-avermelhado escuro, macio e friável, com manchas irregulares de congestão. Múltiplos focos necróticos branco-acinzentados costumam estar presentes, mas só são visíveis ao microscópio. As lesões do fígado são geralmente menos severas em animais adultos, e pode ser caracterizado por numerosos focos de necrose de coloração avermelhada a branco-acinzentado (CSFPH, 2006). A FVR pode ser diagnosticada por isolamento do vírus a partir do sangue de animais febris. O VFVR também pode ser isolado a partir de tecidos de animais mortos e fetos abortados; o fígado, baço e cérebro são geralmente utilizados. Este vírus pode ser cultivado em vários tipos de células como as células renais de filhotes de hamster, células Vero, e embrião de galinha. Hamsters (adultos ou filhotes), ovos embrionados de galinha ou cordeiros que vieram a óbito com até dois dias de idade, também podem ser usados (CFSPH, 2006). O isolamento do vírus é o método diagnóstico padrão ouro para o diagnóstico da RVF (OIE, 2014). Lesões adicionais podem incluir icterícia, hemorragias cutâneas generalizadas e fluidos nas cavidades corporais. Os gânglios linfáticos periféricos e baço estão tipicamente aumentados e com edema, e muitas vezes contêm petéquias. A parede da vesícula biliar apresenta-se frequentemente edematosa, com hemorragias visíveis. Um grau variável de inflamação ou enterite hemorrágica pode, por vezes, ser encontrado no intestino. Em cordeiros, numerosas pequenas hemorragias ocorrem normalmente na mucosa do abomaso, e no intestino delgado e abomaso podem apresentar sangue parcialmente digerido. Além disso, as petéquias e equimoses podem ser vistas na superfície de outros órgãos internos. Microscopicamente, necrose hepática é a lesão mais proeminente (CSFPH, 2006). Testes sorológicos comumente usados incluem virusneutralização, ELISA e testes de inibição da hemaglutinação. Imunofluorescência, fixação do complemento, radioimunoensaio e imunodifusão são usados com menor frequência. Reações cruzadas com outros flebovírus podem ocorrer. Outras técnicas laboratoriais, tais como RT-PCR e sequenciamento genético (SALL et al.,1982; CFSPH, 2006; XU et al., 2007). Muitas doenças são citadas como diagnóstico diferencial para FVR, devido a semelhança de sinais clínicos, sendo elas: língua azul, doença de Wesselsbron, enterotoxemia dos carneiros, febre efêmera, brucelose, vibriose, tricomoníase, doenças dos ovinos de Nairobi, aborto enzoótico ovino, plantas ISSN 21774080 94 tóxicas, septicemias, peste bovina e peste dos pequenos ruminantes e antraz (OIE, 2014). TRATAMENTO Não há tratamento específico para seres humanos ou animais (CHEVALIER et al., 2010). MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE As vacinas são geralmente usadas para proteger os animais de FVR em regiões endêmicas. Durante as epidemias, a vacinação de animais sensíveis podem evitar a amplificação do vírus e proteger as pessoas, bem como outros animais. Vacinas contra a febre do Vale do Rift atenuadas e inativadas estão disponíveis. As vacinas atenuadas produzir melhor imunidade; no entanto, abortos e defeitos congênitos podem ocorrer em animais gestantes. Outras medidas preventivas incluem o controle de vetores, muitas vezes impraticável, ou ineficazes porque são instituídos tarde demais. A circulação de animais entre áreas endêmicas e regiões livres de FVR pode resultar em epidemias (CFSPH, 2006). Utilização de larvicidas pode ser uma estratégia para o controle dos criadouros do mosquito. Inibidores de crescimento de larva e Bacillus thuringiensis israeliensis estão comercialmente disponíveis e podem ser usados com sucesso para tratar lagoas temporárias e bebedouros onde os mosquitos se proliferam. Tratamentos adulticidas, a exemplo dos piretróides, são caros e de difícil implantação (CHEVALIER et al., 2010). Ademais, em relação proteção pessoal, podem ser utilizados repelentes, camisas longas,calças e mosquiteiros com o intuito de prevenir a transmissão pelos mosquitos e outros vetores potenciais. Atividades ao ar livre devem ser evitadas, principalmente durante os períodos de atividade do Investigação, 14(6):91-95, 2015 mosquito. Inseticidas podem ser úteis (CHEVALIER et al., 2010). Medidas adicionais de proteção incluem equipamentos de proteção individual, como roupas de proteção, luvas e óculos de proteção sempre que for entrar em contato com tecidos e sangue de animais. As amostras de tecido para diagnóstico devem ser processadas por pessoal treinado em laboratórios devidamente equipados. Precauções também são recomendadas para os profissionais de saúde que estão em contato com pacientes, confirmados ou suspeitos, para FVR (CFSPH, 2006). Uma vacina humana foi desenvolvida, mas tem disponibilidade limitada. Trata-se de vacina inativada produzida nos EUA e usada para proteger técnicos de laboratório e tropas militares. No entanto, não está disponível comercialmente (GEISBERT e JAHRLING, 2004). Outras vacinas estão em pesquisa (CFSPH, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS Baseado no levantamento de informações neste trabalho conclui-se que esta doença infectocontagiosa tem grande potencial para se tornar emergente no Brasil, uma vez que as condições necessárias para seu estabelecimento, tanto climáticas como a presença de várias das possíveis espécies de vetores, estão presentes em nosso território. Portanto, cabe nesse caso, uma intensificação no controle do transporte internacional de animais, bem como de pessoas, além do controle dos vetores. REFERÊNCIAS 2006. Infectious Enzootic Hepatitis of Sheep and Cattle: Rift Valley Fever. 8 p. Disponível em: http://www.cfsph.iastate.edu/Factsheets/pdfs/rift_valley_fever.pdf [Acessado em 08/2014] Swanepoel R. 2004. Bunyaviridae. In: Zuckerman AJ, Banatvala JE, Pattison JR, Griffiths PD & Scloub BD. Principles and practice of clinical virology. 5. England: Ed. John Wiley & Sons Ltd. p. 554-588. Davies FG, Linthicum KJ, James AD. 1985. Rainfall and epizootic Rift Valley ever. 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