SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS e para todo o ano de 2006 Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles (Mt 18,20) Texto bíblico Mateus 18, 18-20 18 Em verdade eu vos declaro: tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. 19 Eu vos declaro ainda: se dois dentre vós, na terra, se puserem de acordo para pedir seja o que for, isto lhes será concedido por meu 20 Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu Nome, eu estarei no meio deles! Introdução Teológico-Pastoral Parece-nos uma boa oportunidade apresentar não uma lectio divina clássica mas a introdução teológico-pastoral do texto evangélico escolhido como tema sobre a semana de oração pela unidade dos cristãos: "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles" (Mt 18,18-20) e preparada da Comissão internacional do Conselho ecumênico das Igrejas e do Pontifício Conselho pela promoção da unidade dos cristãos da Igreja . “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20) O que nos une é muito mais forte do que aquilo que nos separa – tal é a grande descoberta que está na origem do movimento ecumênico. O elemento mais importante de nossa unidade é a presença de Cristo ressuscitado que prometeu aos seus discípulos que estaria com eles até o fim dos tempos. No final do Evangelho de São Mateus, Jesus faz esta promessa imediatamente depois de ter dito a seus discípulos que fossem fazer novos discípulos em todas as nações batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt 28, 19-20). Ele estava consciente de todas as dificuldades que eles iriam encontrar e não quis deixá-los órfãos em sua missão (cf. Jo 14). Prometeu-lhes que permaneceria com eles. Ele é o “Emmanuel”, isto é, o “Deus conosco” (Mt 1,23). Os Evangelhos nos falam das diversas maneiras nas quais Jesus, nosso Senhor ressuscitado, está presente em nosso meio: quando sua Palavra é proclamada e vivida e quando o pão e o vinho eucarísticos são oferecidos em sua memória; ele está presente também na criança, no faminto, no prisioneiro, no abandonado; ele se encontra em cada um de nossos próximos; ele está entre aqueles que continuarão sua missão e seu ministério de ir pelo mundo. É neste contexto que que é expressa a promessa de Jesus que serve de tema para a Semana de oração pela unidade deste ano: “Lá onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Esta promessa, Mateus a situa no contexto de um ensinamento de Jesus: como organizar a comunidade eclesial com o cuidado dos mais necessitados; como a Igreja pode estar ela mesma a serviço de seus membros que dela se afastaram; que limites colocar ao perdão. Mt 18 contém alguns textos fortes que tratam do juízo. Estes textos são como painéis de significado que seriam destinados à comunidade dos cristãos, mostrando-lhes lá onde faltam-lhes suas responsabilidades de discípulos. Outros textos vêem ajuntar uma outra diferença, sublinhando o pensamento de Deus sobre cada indivíduo e lançando à comunidade um apelo ao perdão ilimitado, à imagem da capacidade infinita de reconciliação que está em Deus. Este capítulo fornece aos primeiros cristãos as instruções deixadas por Jesus: a maneira de construir a comunidade não pode deixá-los 1 indiferentes. A comunidade que se reúne em torno da pessoa e da palavra de Jesus deve fazer todo o possível para viver em harmonia. É neste contexto que o Senhor convida seus discípulos a terem confiança no poder da oração comum como também na sua presença permanente no seio da comunidade, uma vez reunida em seu nome. Durante a Semana de oração pela unidade dos cristãos e da nossa oração pela unidade ao longo de todo o ano, somos chamados a tomarmos profunda consciência de que esta unidade é uma graça e de que devemos invocar incessantemente este dom. Quando nos esforçamos em promover a unidade de nossas próprias comunidades e a unidade de todos os cristãos, sabemos o quanto é importante nos reunir, de modo ecumênico, em nome de Jesus. Cada vez que nos reunimos também em oração, somos chamados a ter confiança no poder da oração oferecida na presença de Jesus, que prometeu a seus discípulos: “Eu vos declaro ainda: se dois dentre vós, na terra, se puserem de acordo para pedir seja o que for, isto lhes será concedido por meu Pai que está nos céus” (Mt 18,19). O que conta não é realmente um pluralismo de vozes, mas o fato de que estas vozes estejam unidas na oração. A voz silenciosa que fala ao coração de cada um é amplificada quando nos reunimos em nome de Cristo. Recordemo-nos em nossa oração e rendamos graças ao Senhor pelos numerosos progressos alcançados ao longo dos últimos decênios no caminho de unidade; Jesus Cristo esteve presente entre nós através do poder de seu Espírito e a rezar ao Pai conosco. A promessa da presença de Jesus entre nós não se limita à comunidade reunida no serviço litúrgico. Isto porque o amor de Deus Trindade se encarnou em Jesus Cristo, por isso nos é possível em Cristo, viver uma vida de comunhão enraizada na Trindade mesma. Pela presença de seu Santo Espírito, o Senhor ressuscitado deseja estar conosco em todo tempo e em todos os lugares, partilhando nossas preocupações, nos dando conselhos, caminhando ao nosso lado, visitando nossas casas e nossos lugares de trabalho, reavivando nossa alegria por sua presença que nos conduz todos diretos ao coração do Pai. Ele quer que sintamos a proximidade de Deus, sua força e seu amor. Ele quer estar entre nós a fim de testemunhar, ele mesmo, em nós, seu amor e sua presença em nossas casas, no trabalho, na escola e nos espaços onde nós vivemos. É de se recordar que muitas coisas foram realizadas ao longo da história cristã “em nome de Jesus”, de coisas que não têm nada a ver com o ensinamento de Cristo, com o exemplo que ele nos deu por sua vida e por sua morte. Nossas histórias individuais e comunitárias nos oferecem muitas razões para nos arrepender. Nós lemos em Mateus 18,20, à luz da prioridade concedida ao mandamento do amor, no Evangelho de João: “Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12) e “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros” (Jo 13, 35). A presença de Jesus, lá onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, está estreitamente ligada ao amor que estes dois ou três nutrem uns pelos outros. Reunir-se em nome de Jesus significa participar do amor que ele nos anunciou sobre a terra. Este amor não pode ser reduzido a uma simples filantropia, solidariedade ou benevolência; ele vai bem mais além da amizade ou da ternura. É um amor que se doa inteiramente, que aceita o sofrimento, que “desculpa tudo, [...] crê tudo, [...] tudo espera, [...] abrange tudo” (1 Cor 13,7). É um amor que necessita prudência e paciência, quando discernimos a presença do Senhor e a direção na qual ele nos guia. Para poder estar também receptivo, o quanto possível, à presença de Jesus entre eles, os cristãos devem aprender a viver juntos um “ecumenismo no quotidiano” que acompanhe sua busca teológica de unidade. Esta significa estar abertos e se deixar enriquecer pelas tradições espirituais, as riquezas e os costumes, engajando juntos, concretamente, a edificar o Reino de Deus sobre a terra. Isto significa também promover uma cultura de interdependência, aprendendo juntos a ter tudo que há de positivo nas especificidades de toda comunidade eclesial e étnica, de toda história e jurisdição, especificidades que poderão sim, facilmente, dividir os cristãos. Estar conscientes de tudo o que nos divide, nos permite enfrentar, mais eficazmente, isto que nos divide ainda. Um ecumenismo de vida implica, cada vez que é possível, na oração comum, na missão comum e no testemunho comum que tomamos parte, juntos e sempre mais, da vida no Espírito. Esta significa 2 também dividir com os outros os aspectos ordinários de nossa vida, de sorte que possamos reconhecer, sempre mais, como irmãs e irmãos em Cristo e, que possamos ver no outro a presença mesma do Senhor. Nada é pequeno se for realizado por amor. Nenhum gesto de amor, nenhum testemunho, nenhuma colaboração em nome de Jesus, nenhuma oração comum é privada de sentido e de valor, se responde à vontade de Cristo que todos seus discípulos sejam um. Cada uma destas ações, mesmo modesta, exprime nossa determinação em amar uns aos outros, como o Cristo nos amou; e pode ser igualmente um sinal eloquente, diante do mundo, frequentemente incapaz de reconhecer a presença de Deus ou indiferente a seus desígnios. O grupo ecumênico, que se reuniu na Irlanda, para preparar os textos da Semana de oração pela unidade dos cristãos, está consciente da riqueza do patrimônio espiritual daquele país, que remonta á antiguidade cristã e que divide então todas as tradições cristãs presentes na Irlanda. Os membros do grupo estavam igualmente conscientes de que as Igrejas cristãs se encontravam envolvidas e tomadas pela armadilha nos conflitos e nas tensões que marcaram fortemente a vida da Irlanda ao longo dos séculos passados. As divisões entre cristãos provocaram profundas feridas ou as agravaram. É a terceira vez, ao longo dos últimos 25 anos, que o grupo de preparação da Semana de oração se reuniu na Irlanda, enquanto a violência diminui e cresce a esperança de ver se realizar a paz do Cristo. Levando em consideração a rica mas também complexa história da Irlanda, o grupo tinha boas razões para escolher este ano Mt 18,20 como texto bíblico central e o tema da Semana de oração pela unidade dos cristãos 2006. A intenção do grupo foi primeiramente de chamar a atenção sobre Jesus, enquanto fonte de nossa unidade, sublinhando o que ele já nos indicou: como podemos ser os instrumentos da unidade que Deus deseja para nós. Em segundo lugar, enquanto que após tentativas e iniciativas, em grande escala, a esperança pode surgir e desaparecer muito rapidamente, os membros do grupo preparatório observaram que o simples encontro de dois ou três reunidos, no amor mútuo, em Cristo, é um meio essencial para construir relações entre os povos e as comunidades divididas. Os encontros em grupos restritos, as relações e as amizades, em nível local, podem frequentemente dar um poderoso estímulo à difusão de um espírito de paz e de reconciliação. Muitas experiências na história recente da Irlanda testemunham isto. Em terceiro lugar, o grupo sublinhou que para poder esperar no futuro e construir hoje a paz e a reconciliação, é necessário levar em consideração as lembranças dolorosas e os sofrimentos do passado. Enquanto discípulos de Cristo devemos nos engajar e encontrar meios construtivos, para cuidar das feridas do passado e oferecer um testemunho comum, buscando e escolhendo os caminhos que nos conduzem à reconciliação. É neste espírito que, todos os cristãos que utilizam os textos da semana de oração, são convidados a se reunirem na oração e no amor recíproco, para tentar compreender uns aos outros nas suas diferenças. Nós poderemos assim, nos tornar, sempre mais, sinais poderosos de reconciliação e testemunhar a presença do Cristo que nos cura. Os textos bíblicos propostos e os comentários, para os oito dias, têm por finalidade estimular uma reflexão prolongada sobre o convite que Jesus dirige a seus discípulos: reunir-se em seu nome. O primeiro dia desenvolve a idéia de que pelo fato de todos os cristãos pertencerem ao Cristo, nós pertencemos uns aos outros, e somos reunidos numa comunhão, que já se revela no nosso reconhecimento comum do batismo. O segundo dia oferece uma meditação sobre a importância da humildade no serviço (o exemplo que nos é dado aqui é o convite feito aos discípulos de Cristo de lavarem-se os pés mutuamente) como meio de construir a unidade da Igreja. O terceiro dia se concentra sobre a importância da oração comum, sugerindo que quando Jesus orou pela unidade de seus discípulos, talvez ele o fez porque seus discípulos ainda não estavam unidos em seu nome; a presença de Jesus entre nós nos une a ele e nos une uns aos outros. O tema do quarto dia é o da purificação das memórias e do perdão oferecido e recebido, elemento essencial da redescoberta e da reafirmação de nossa unidade em Cristo. 3 O quinto dia descreve a presença de Deus como fonte de paz e estabilidade, de coragem e de força, que nos encoraja, por sua vez, a procurar os meios de realizar a paz. O tema do sexto dia permite-nos refletir sobre o duplo movimento da missão, reunião e envio. Estas duas maneiras de agir têm cada uma, por finalidade realizar a vontade do Pai, que é encorajar o fraco e proclamar que o Reino de Deus está próximo. O sétimo dia convida-nos a acolher o próximo e o estrangeiro em toda a sua diferença, a reconhecer que a presença de Cristo, neles, determina o nosso compromisso e a busca de nossa tarefa ecumênica. O oitavo dia se volta para a esperança no final de nossa peregrinação, que nos conduz à plenitude da presença do Cristo. Ao longo de todo o caminho, somos levados a descobrir que os outros cristãos não são mais estrangeiros, mas companheiros de viagem, e a antecipar juntos o dia em que nós nos manteremos, uns ao lado dos outros, na presença de Cristo. Preparação dos textos para a Semana de oração pela unidade dos cristãos 2006 O projeto inicial graças ao qual este livrinho pôde ser realizado foi preparado por um grupo ecumênico de Dublin. Nós dirigimos nossos sinceros agradecimentos a todos os membros do grupo preparatório irlandês: Pe. Irineu Ioan Cracioun (Igreja greco-ortodoxa da Anunciação em Dublin) Pe. Thanasius George (Igreja copta ortodoxa da Irlanda) Revda. Elizabeth Hewitt (Igreja metodista da Irlanda) Revda. Mary Hunter (Igreja presbiteriana da Irlanda) Pe. Hugh Kennedy (Igreja católica) Pe. Brendan Leahy (Igreja católica) Pastor Fritz-Gert Mayer (Igreja luterana da Irlanda) Pe. John McCann (Igreja católica) Rev. Alan McCormack (Igreja da Irlanda) Pe. Godfrey O’Donnell (Igreja ortodoxa romena da Irlanda) A versão definitiva destes textos foi finalizada por ocasião do encontro do grupo preparatório internacional nomeado pela Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos da Igreja Católica. Este grupo internacional reuniu-se no Centro dos Focolares próximo do Prosperous no County Kildare (Irlanda) graças ao generoso apoio da Conferência Episcopal Irlandesa. Nós temos que agradecer ao Arcebispo Séan Brady, ao Bispo Anthony Farquhar e ao Pe. Brendan Leahy, assim como a toda a equipe do Centro dos Focolares pela sua hospitalidade muito amável e por tudo o que eles fizeram para facilitar o trabalho do grupo preparatório internacional. Apêndice O Rei da sexta-feira (antiga oração irlandesa) Ó Senhor, cujos membros foram estendidos sobre a cruz, tu que aguentaste os golpes, as feridas e as provas, estendendo-nos sobre os escudos do teu poder, nós te pedimos, nesta noite, que possamos colher os frutos da árvore de tua Páscoa. 4 Oração de São Patrício Eu me levanto hoje, por uma grande força, a invocação à Trindade, A crença na Trindade, a confissão da unidade do Criador do mundo. Eu me levanto hoje, pela força do nascimento de Cristo e de seu Batismo, a força de sua Crucificação e de Sua descida ao túmulo, a força de Sua ressurreição e de sua Ascensão, a força de Sua Vinda no dia do julgamento. Eu me levanto hoje, pela força de Deus para me guiar, força de Deus para me sustentar, inteligência de Deus para me conduzir, olho de Deus para velar diante de mim, ouvido de Deus para me escutar, Palavra de Deus para falar por mim, mão de Deus para me proteger. O Cristo comigo, O Cristo diante de mim, O Cristo atrás de mim, O Cristo em mim, O Cristo acima de mim, O Cristo abaixo de mim, O Cristo à minha direita, O Cristo à minha esquerda, O Cristo em amplidão, O Cristo em extensão, O Cristo em grandeza, O Cristo no coração de todo homem que pensa em mim, O Cristo em todo olho que me vê, O Cristo em todo ouvido que me escuta, Eu me levanto hoje, por uma força potente, A invocação à Trindade, a crença na Trindade, A confissão de unidade do Criador do mundo, No Senhor está a Salvação, No Cristo está a Salvação, que Tua Salvação, Senhor, esteja sempre conosco. Grande Amor Ó Senhor, que a tudo excedes, dom celeste, Amor sem par, vem, coroa os teus favores, entre nós vem habitar. Grande Amor, amor bendito, ó divina compaixão, vem, socorre ao que padece, faze nele habitação. Vem, Senhor, e dia a dia, dá-nos tua inspiração; vem remove o mau desejo, que nos tenta o coração. Tu somente nos conheces e nos podes proteger. Dá-nos, pois, a tua graça, e com ela o teu poder. Ó Senhor, não te separes do rebanho terrenal, une a Igreja estreitamente, dá-lhe vida fraternal; abençoa todo crente, llumina-lhe o andar, e que todos se comprazam em teu nome proclamar. (A versão para o português do Hino Love Divine, all loves excelling (Charles Wesley, 1747), foi feita pelo Rev. Antônio de Campos Gonçalves, Pastor da Igreja Metodista, publicada no Hinário Evangélico nº 293. Não se trata de um tradução literal. A terceira estrofe foi omitida.) Bênção Gálica do Século XV Que Deus esteja em minha cabeça e em minha razão; 5 Que Deus esteja em meus olhos e no meu olhar; Que Deus esteja na minha boca e em minhas palavras; Que Deus esteja em meu coração e em meu pensamento; Que Deus esteja em mim até o momento de meu fim e de minha partida. Velha bênção irlandesa Que a estrada conduza ao teu encontro, Que o vento esteja sempre em tuas costas, Que a luz do sol esquente tua face, Que a chuva caia docemente sobre teus campos, E, até que nós nos reencontremos, que Deus te carregue sobre a palma de sua mão. Amém. 6