A MARCA NO UNIVERSO DA MÚSICA SERTANEJA¹ Aline Sousa GONÇALVES² Gabriela Hildebrand BATISTA³ Letícia Monteiro ROCHA4 Ana Cristina Fernandes MARTINS5 RESUMO O presente trabalho trata das contribuições da teoria do Marketing para a construção da marca (imagem/produto) dos artistas envolvidos com a música sertaneja, no contexto do Marketing Musical. Um trabalho que busca, através da análise da evolução do mercado, encontrar os indícios necessários para alavancar a profissionalização nesse meio e identificar quais são as técnicas mais apropriadas para ter êxito na construção da imagem do artista sertanejo. Baseando-se em pesquisa sobre o universo da música sertaneja, busca explorar toda a construção de imagem do artista sertanejo, desde o período caipira até os dias atuais. Essa análise leva em conta, ainda, as transformações impostas pela indústria cultural no Brasil, caracterizando assim, a profissionalização desse estilo musical para se alcançar sucesso na carreira artística. Aborda os diversos aspectos envolvidos na construção de uma imagem nesse contexto, entre eles comportamento, estilos de roupa, cantoras e cantores, nomes, identidades visuais, divulgação e estilo de música. PALAVRAS-CHAVE: marketing; marca; música sertaneja; indústria fonográfica. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho aborda a contribuição do Marketing como teoria para a construção da marca dos profissionais da música sertaneja, visando entender o processo e estabelecer critérios e procedimentos para a implantação de uma marca de sucesso. Inicialmente, faz-se necessário estudar de modo geral a Teoria do Marketing, com ênfase em seu significado e nas suas aplicações. Em um contexto geral, aborda-se neste trabalho, o processo de construção da marca sertaneja como um produto, relacionando-a com as bases teóricas do marketing. Na sequência, aborda-se o Marketing Cultural em cada uma das suas vertentes, considerando as quatro associações a ele relacionadas: Mecenato, Responsabilidade Social, Patrocínio e o Apoio, que são de grande valia no contexto do Marketing Musical. É importante ainda definir marca e seus atributos com relação ao público alvo, ou seja, o referencial que uma empresa/artista busca passar ao cliente/público. Nesse contexto, Artigo apresentado à Universidade Católica Dom Bosco para feito de conclusão do curso de Graduação em Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda, sob orientação da Professora Mestre Ana Cristina Fernandes Martins. 2. Acadêmica do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco. Contato por email: [email protected] 3. Acadêmica do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco. Contato por email: [email protected] 4. Acadêmica do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Católica Dom Bosco. Contato por email: [email protected] 5. Graduada em Publicidade e Propaganda, Pós-graduada em Marketing. Mestre em Educação. Docente da Universidade Católica Dom Bosco/MS. Contato por email: [email protected] 1. saber o poder da marca e sua influência em certos grupos (no caso aqui, o consumidor da música sertaneja), poderá assim, desenvolver de modo específico, o trabalho de influenciar e até mesmo dirigir o desejo para consumir o produto de determinado artista, no qual está sendo construído a sua imagem. Para entrar definitivamente no assunto em pauta, aborda-se a história da música sertaneja no Brasil, desde a sua concepção até os dias atuais com o sertanejo universitário, fazendo uma análise da sua trajetória e as influências musicais, e o mais importante, percebese que ocorreu um processo de profissionalização nesse meio musical. O objetivo deste trabalho, portanto, é identificar as ferramentas empregadas para a construção de uma imagem artística sertaneja influente para o público e assim contribuir para que possam ser utilizadas. 2. MARKETING E MARKETING CULTURAL Traduzindo para o português a palavra na mais pura definição significa mercadologia. É um processo onde o produto ou serviço interessa aos consumidores, visa agregar valor ao produto e proporciona satisfação ao cliente, com base em um estudo de mercado, publicidade, conhecimento de vendas e estratégia para o desenvolvimento do negócio. Segundo Philip Kotler (2000), marketing é o processo de planejar e executar a concepção e determinação do preço (pricing), a promoção e a distribuição de ideias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais. Para Gilson Honorato (2004), ao vincular marketing com a propaganda, é muito mais abrangente, sendo a propaganda uma variável do composto de promoção. Os consumidores não compram produtos, e sim soluções para seus problemas. Por esta razão, o marketing busca atender seus desejos e necessidades por meio de ações mercadológicas. No universo do Marketing existem diversos tipos de classificação: marketing social, marketing ambiental, marketing esportivo, marketing de serviços. Entre eles figura o marketing cultural, como o próprio termo indica relaciona-se a este setor especifico, a cultura. Segundo Reis (2003) Marketing Cultural usa como base a cultura para transmitir uma mensagem de relacionamento com o cliente, por um tempo longínquo para que esta relação seja duradoura e eficaz. Ele é voltado para um público específico, ou seja, uma comunicação dirigida. Marketing Cultural é associado com mais alguns conceitos, entre eles estão: mecenato, responsabilidade social, filantropia, patrocínio, e apoio. Mecenato acontece quando uma empresa associa o seu capital para fins artísticos, especialmente as artes. Neste conceito, a empresa não busca rentabilizar os seus negócios através deste investimento, mas contribuir para garantia da expressão artística. Responsabilidade Social tem sua base fundada na filantropia, mas depois da criação do termo marketing sua abrangência aumentou. Atualmente, ela pode ser caracterizada como um comprometimento da empresa com seus colaboradores, para manter um bom relacionamento e bem estar dos mesmos, além de contribuir com desenvolvimento da comunidade local. Patrocínio tem objetivo de investir em projetos culturais com finalidade promocional. Ele utiliza o investimento comercial, ao invés de investir no social, muito utilizado no mecenato, para construir sua marca/empresa junto ao seu cliente positivamente. Por fim, o apoio é um tipo de patrocínio secundário no qual não existe a exclusividade específica do patrocínio. Por exemplo: o projeto ou evento reserva cotas para patrocínio, colaboração e apoio. Neste caso, quanto maior for o apoio, menor será o patrocínio, além da diminuição dos benefícios. 2.1. MARKETING MUSICAL No contexto do marketing cultural situa-se, com grande importância, o marketing musical. O Marketing Musical é utilizado como ferramenta para auxiliar nos serviços ligados ao produto musical, gerenciar e criar conteúdos de forma a ajudar o artista, como tocar, cantar, compor, vender e ser reconhecido. Segundo Kotler (2000) o profissional de Marketing e áreas afins, pode se especializar nas áreas de bens, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, organizações, títulos patrimoniais, informações e de ideias. No ramo do Marketing Musical, o profissional envolvido pode utilizar o Marketing de Pessoas para trabalhar a imagem do artista, a sua performance vocal e de palco e, por fim, a sua composição, ou seja, sua interpretação. Para atingir o objetivo de sucesso, é preciso desenvolver estratégias que atendam as necessidades e interesses de um determinado grupo. Entre elas estão: fazer uma pesquisa para definir o público alvo do artista, relacionar ao lazer, criar trabalhos integrados ao desejo do público, criar identidade própria, desenvolver estima junto ao público e crescimento da visibilidade, para que este público alvo fique disposto a pagar pelos serviços, conteúdos e produtos desenvolvidos pelo Marketing Musical. 3. MARCA Para Kotler (2000), marca é um nome, termo, símbolo, desenho - ou uma contribuição desses elementos - que deve identificar os bens ou serviços de uma empresa ou grupo de empresas e diferenciá-los da concorrência. Define-se também marca, como um sinal visual que representa determinada empresa, produto ou serviço. A definição de marca vai além da identidade visual e do nome, pois ela sintetiza um conjunto de benefícios ocultos que o produto/empresa oferece aos seus consumidores. Para seduzir e inspirar o consumidor, as empresas trabalham as suas marcas com finalidade de transmitir emoções e valores para seus clientes, através de técnicas sensoriais como sons, texturas, cheiros, cores e formas. De acordo com os textos de Kotler (2000), ele afirma que grandes marcas carregam consigo características que se resumem em seis níveis de significados, tais como: atributos, que são características importantes da marca para o consumidor; benefícios, sendo eles emocionais e funcionais; valores, ou seja, o que a marca simboliza na mente do consumidor e o que a empresa representa em termos éticos para o consumidor; cultura, remetendo à importância da origem do produto ou marca, muito mais do que a própria existência do produto; personalidade, na medida em que a marca projeta uma personalidade, como poder, dedicação, perfeição, força; e por fim, o usuário, que é o público-alvo ou consumidor do produto. No cenário da música sertaneja, a utilização e a valorização do conceito de marca ocorreram à medida que este estilo musical foi se profissionalizando. Nota-se que a construção do nome do artista junto com a identidade visual modificou-se radicalmente, principalmente quando profissionais foram designados para fazer essa mudança, agregando assim, valores que vão além dos aspectos gráficos. 4. MÚSICA SERTANEJA Segundo o dicionário Michaelis, a palavra sertanejo significa: 1. pertencente ou relativo ao sertão, 2. próprio de sertão, 3. que vive no sertão, 4. rude, 5. homem do sertão. Com esta definição é possível entender que a designação “sertanejo” está mais voltada a pessoa que mora longe da cidade. Também podem ser denominadas de sertanejo as pessoas moradoras do sertão do nordeste. Já para a música, o nome foi designado pelo fato dos cantores pertencerem aos estados Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins e São Paulo, não provindos da capital e sim das cidades do interior desses estados, ficando conhecido como homem do campo. 4.1 MÚSICA CAIPIRA A música sertaneja brasileira foi denominada primeiramente de Música Caipira e teve seu início na década de 10. O ritmo tinha uma miscigenação de cultura e de povos variados como, por exemplo, as danças e folclore indígena; tais como urucapés, guaús, parinaterans, tocacandiras, caateretê, cururu, catira; a utilização da viola, um instrumento musical de origem portuguesa e do uso do gênero musical cantiga, também com a mesma origem; além da influência da cultura de origem africana. Os temas das músicas caipiras eram diversificados, sempre ligados aos fatos cotidianos, entre eles: as dificuldades diárias do homem campo; o seu amor pela terra; as amizades, que eram sempre retratadas como algo importante e de forte relação; a divindade e religiosidade estavam sempre presentes; fenômenos naturais e não naturais; e em menos quantidade estava a adoração à mulher. O gênero caipira nesse período teve grande aceitação nas cidades do interior do Brasil, pois estava mais ligado ao campo, ao contrário das capitais, principalmente a região Sudeste e mais especificamente as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, onde as concentrações de jovens eram maiores e por consequência o gosto musical diferente, com influência de artistas internacionais a qual esse público considerava mais culto. É fato que as músicas nesse período foram compostas e interpretadas por artistas do meio rural, os quais não tinham instrução escolar suficiente para compor música do agrado do público das classes mais abastadas da cidade, fazendo com que o gênero fosse ridicularizado e seus trabalhos não fossem consumidos por estes grupos. 4.2 DE MÚSICA CAIPIRA À MÚSICA SERTANEJA O gênero sertanejo passou por um processo de transição, do caipira ao sertanejo. Nessa transição, teve importante participação Cornélio Pires (1884-1958), um jornalista e escritor que gostava de divulgar a música caipira por onde passava. Foi dele o primeiro registro de um grupo na música sertaneja em 1924, com a seguinte denominação: A Turma Caipira de Cornélio Pires, cuja iniciativa foi um grande avanço dentro do gênero. Já em 1929 acontece o primeiro registro fonográfico, também idealizado e custeado pelo próprio Cornélio, gerando sucesso de imediato e em poucos dias todas as 25 mil cópias que ele tinha gravado esgotaram-se nas lojas. O início não foi fácil, mas com o tempo a música sertaneja foi se consolidando no cenário musical brasileiro, pois as gravadoras começaram a se interessar pelo estilo, além do aumento significativo de admiradores do estilo e o surgimento das primeiras duplas sertanejas, entre elas: Mariano e Caçula, Zico e Ferrinho, Sorocabinha e Mandy. Com a estabilização e a grande aceitação da música sertaneja, principalmente por grande parte da população brasileira, o estilo musical que começou no campo, teve que se reinventar para se aproximar do público urbano. Nesse momento, não era apenas o morador rural que gostava de ouvir as canções através do rádio e, salvo algumas exceções pela vitrola, a população que participava do êxodo rural já estava no seu novo lar - os centros urbanos. Essa mudança do ouvinte da música sertaneja raiz provocou mudanças no próprio estilo. As músicas que antes retratavam a vida no campo, passaram a valorizar o estilo de vida urbana, com características especificamente ligadas ao consumo, o desejo de ascensão social e as conquistas e desilusões amorosas, esta última foi muito importante e marcou todo o gênero. Pode-se assim afirmar, que o auge da música sertaneja ocorreu no fim da década de 70, se estendendo até a década de 90. Nesse período aconteceram as maiores transformações com o estilo musical e os principais fatores são: a música retrata o que o público urbano deseja; os programas de calouros e outros voltados para o gênero começam a ser transmitidos em rede de nacional de TV; as rádios FM começam a tocar a música sertaneja, tendo como pioneiros Matogrosso e Mathias com a música “De Igual pra Igual”; começa a influência do estilo musical americano “Country”, que também impulsionou a vendagem de discos; duplas alcançam sucesso nacionalmente e no exterior; além de vários outros aspectos que também tiveram grande relevância para alavancar o sucesso da música sertaneja, para que enfim, todas as camadas sociais estivessem consumindo sem preconceitos. 4.3 MÚSICA SERTANEJA E AS SUAS DIVISÕES A música sertaneja sempre se reinventou durante sua trajetória no cenário nacional. Ela é dividida em três fases: a primeira fase é seu estágio prematuro de 1929 até 1944, inicia-se neste período o sertanejo caipira, ou para outros o sertanejo raiz; a segunda fase ocorre no período de pós-guerra até aproximadamente os anos 60; e a terceira e última fase acontece do final da década de 60 até os dias atuais, com um estilo mais romântico. Esses períodos de transição servem como marcos para entender o processo cronológico, mas é fato que as transições demoraram um pouco mais para acontecer. Por exemplo: na primeira fase do sertanejo raiz existem gravações do estilo com características da música caipira presentes fortemente até a década de 70, com os cantores Tonico e Tinoco, Vieira e Vieirinha, Liu e Léu, entre outros. A segunda fase também sofreu alteração depois da Segunda Guerra Mundial (1945), mas as características marcantes encontram-se apenas a partir da década de 80, através do “sertanejo moderno”, ou para alguns o “novo sertanejo”. Nesse período o ponto forte e marcante do estilo foi o romantismo, liderados pelas duplas sertanejas: João Mineiro e Marciano, Milionário e José Rico, Alan e Aladim, Chitãozinho e Xororó e Matogrosso e Mathias. Na fase do romantismo, que teve o auge na década de 80 até 90, a mudança não ocorreu de uma hora para outra, houve o processo de transição desde o fim da década de 70. Os primeiros a se aventurarem nesta transição foram: Belmonte e Amarai, Lourenço e Lourival e Leo Canhoto e Robertinho, ainda no final da década. Esses artistas, além de criarem uma nova roupagem para as músicas, como por exemplo, a utilização da guitarra elétrica, bateria e outros instrumentos eletrônicos, também começaram a se profissionalizar e buscar referências principalmente nas músicas americanas. As transformações realizadas durante a segunda fase, fez com que o produto destes artistas fosse disseminado na indústria musical. Ninguém imaginava que os artistas do gênero sertanejo pudessem tocar em concertos, ou que os shows ocorreriam para uma grande massa e que até mesmo fossem tocadas as músicas em rádio FM, que nessa época era um veículo destinado para música internacional, MPB, ou seja, para atender o gosto das classes mais altas. Ressalta-se também a qualidade sonora de uma rádio FM, que é muito superior às ondas eletromagnéticas de uma rádio AM. Já consolidado o sertanejo moderno, pertencente à segunda fase, inicia-se um ritmo muito diferente tanto do sertanejo raiz, quanto do novo sertanejo. Entra em cena o sertanejo universitário, um ritmo jovem, alegre e extremamente voltado para a vida urbana. Na terceira e última fase, o sertanejo universitário foi duramente criticado tanto pelos defensores da música raiz, quanto pelos defensores do sertanejo moderno, pois acreditavam que aquele estilo em nada se parecia com o conceito de música sertaneja. Nesse período destacam-se primeiramente: Cesar Menotti e Fabiano, Eduardo Costa, Guilherme e Santiago e posteriormente Jorge e Matheus, João Bosco e Vinícius, Luan Santana, Fernando e Sorocaba e Gusttavo Lima. Nesta relação ficaram de fora os cantores: Victor e Leo e também Paula Fernandes, que mesmo sendo da atual geração, não se encaixam como sertanejo universitário. No contexto do sertanejo universitário, há uma vertente para o “sertanejo clássico”. Esse aspecto não será aqui explorado, uma vez que não há nada que comprove a existência de uma quarta fase dentro da música sertaneja, sendo apenas uma suposição para alguns pesquisadores. A constante modernização do estilo se revela através do desenvolvimento tecnológico do país, além da organização populacional e também do desenvolvimento econômico, com isso, o sertanejo universitário vem para reforçar toda esta transformação, ligando a transformação musical com a transformação social do Brasil. Por mais que tenha se modificado radicalmente durante esses 103 anos, o estilo sertanejo sempre seguiu tendências, sejam elas: pop, country, músicas latino-americanas, arrocha, axé, etc., no qual sempre logrou êxito no seu resultado final, porque sempre agradou o seu público das mais variadas faixas etárias e classes sociais. Hoje convive-se com o sertanejo da segunda geração com estilo pop, e o sertanejo universitário com miscigenação de música de vários estilos, mas sempre prezando ser um ritmo jovem, com letras de fácil memorização e muito provocante para a dança. Vale ressaltar que as duas últimas gerações andam lado a lado, e atualmente cada uma tem o seu espaço no cenário musical brasileiro. 5. A PROFISSIONALIZAÇÃO DO MERCADO ATUAL DA MÚSICA SERTANEJA A profissionalização do meio começou ainda na década de setenta, mas somente a partir da década de noventa é possível visualizar essas transformações com mais intensidade. Na década de 90, o cuidado com a construção da imagem começou a ser parte integrante dos novos artistas e aos artistas da velha guarda restou a adaptação. Para entender como ocorreu a profissionalização, necessita-se primeiro entender como era construída a imagem do artista sertanejo junto à gravadora, um dos primeiros passos para ter o produto veiculado (disco de vinil) e disseminado na massa. Na era do disco de vinil, tudo era mais difícil em relação ao mundo digital atual. Para que um artista qualquer viesse a gravar um disco, era necessário que o aspirante a cantor soubesse realmente cantar, não podia, por exemplo, cometer erros durante uma gravação, já que a matriz utilizada tinha um alto valor de mercado e caso houvesse falha, todo o material era perdido, sobrando prejuízo à gravadora. Com a gravação da matriz pronta, entrava outro processo de lançamento: a escolha do nome. A maioria dos artistas escolhiam os próprios nomes, mas em certas ocasiões a gravadora interferia, como é o caso da dupla Matogrosso e Mathias, que mesmo com disco gravado não conseguia lançar o álbum, pelo fato de não ter escolhido um nome que agradasse aos produtores. Somente depois de insistência e não ter mais alternativas optou-se por acatar a terceira e última opção, a qual é o nome da dupla até hoje. Uma grande diferença do período do disco para os dias atuais é a forma de como eram confeccionadas as capas dos discos de vinil e todo o material de divulgação do artista. Nesse período, o amadorismo estava presente em quase todos os álbuns dos artistas sertanejos, salvo algumas exceções, fruto do trabalho mal feito das próprias gravadoras. Na era disco, as gravadoras na ânsia de faturar sempre mais, queriam que estas gravações chegassem o mais rápido possível no mercado, já que o valor arrecadado com a venda era praticamente total para a mesma, uma vez que era destinado apenas 1% do valor bruto das vendas para os artistas, e assim, precisam começar a capitalizar o quanto antes. Para os críticos, a indústria não fabricava capas de promoção do artista, mas apenas uma proteção do material que ali estava presente. Tudo era feito sem ou quase nenhuma preocupação com a qualidade da fotografia, ou seja, as fotografias eram tiradas por pessoas não qualificadas para tal função. A construção das marcas dos artistas também ficava a cargo da gravadora, desse modo, a tipologia escolhida não seguia nenhum estudo e tão pouco havia a escuta da opinião do artista sobre a preferência da disposição gráfica na capa do disco. O resultado de tudo isso foi um verdadeiro desastre na maioria dos trabalhos. Nessa etapa da música sertaneja, os artistas se sobressaiam e faziam sucesso nacional unicamente pelo talento musical, porque o material de divulgação era precário e não os destacavam dos demais. Naquela época os grandes nomes da música sertaneja se projetavam unicamente pelo seu talento, que estava acima de qualquer tecnologia e de qualquer meio de divulgação. Atualmente este cenário modificou, a profissionalização se faz presente como jamais visto no decorrer de toda história da música sertaneja. São pessoas envolvidas com moda, com comunicação, fotógrafos, designers, engenheiros de som, ou seja, uma infinidade de áreas em prol da construção de uma imagem atística que agrade o gosto do público. A estrutura por trás de um artista reconhecido no âmbito nacional hoje é gigantesca. São assessores, empresários, maquiadores, personal stylist, personal trainner, nutricionistas, entre outros. A própria equipe que o artista monta é a encarregada de construir a imagem dele junto ao público, deixando para a gravadora o único dever de se preocupar com a qualidade da gravação do álbum. Todo esse processo de evolução é decorrência da indústria cultural, visto que, com o aumento do acesso da população à informação, o gosto crítico no consumo da música sertaneja também alterou. Restou à indústria fonográfica se profissionalizar e deixar a cargo de pessoas especializadas o processo de divulgação do artista, visto que, o número de artistas aumentou consideravelmente e o número de gravadoras não acompanhou na mesma proporção, tornando impossível trabalhar a comunicação do artista, mesmo que a gravadora tenha um setor especializado em Marketing. 6. A ESCOLHA DO NOME Com o número cada vez maior de duplas sertanejas que são lançadas a cada ano, é possível confundir os nomes quando não se tem familiaridade com o estilo. A escolha pode vir na tentativa de pegar carona na fama com duplas sertanejas já conhecidas do público. Duplas sertanejas que são profissionais e tem muita experiência no mercado, escolhem um nome original, que soe bem e tenha apelo comercial como estratégia de marketing. Já os nomes diferentes são usados na maioria das vezes como marketing comercial das duplas, ajudando na divulgação do trabalho artístico. Também há a tradição de pseudônimos, que é uma prática muito antiga e foi criada para causar mais impacto, facilidade de memorização e muitas vezes também para dar mais sonoridade ao nome. Na história da música sertaneja, alguns nomes surgiram espontaneamente como apelidos e outros surgiram com a mesma sonoridade de duplas já existentes para pegar carona no sucesso. Grande parte das duplas sertanejas, que usam nomes artísticos decidiram mudar os verdadeiros nomes especialmente para a carreira artística. Primeiramente eram escolhidos nomes fáceis para pronunciar e memorizar, como: Zilo e Zalo, Craveiro e Craveirinho, Zico e Zeca, Tonico e Tinoco (nestes casos até a sonoridade eram parecidas). Depois vieram nomes comuns como: Leandro e Leonardo, Bruno e Marrone, Chrystian e Ralf. Por fim, dentro do sertanejo universitário, os nomes mais comuns para duplas, seguem o seguinte padrão: primeiro nome (nome composto) e o segundo nome (nome simples), por exemplo, Cesar Menotti e Fabiano, João Bosco e Vinicius, João Carreiro e Capataz, Maria Cecília e Rodolpho. Nesse cenário, poucas duplas sertanejas utilizam seus nomes verdadeiros. Algumas delas, que surgiram nos últimos anos com a nova moda do sertanejo universitário, acabaram conservando os verdadeiros nomes de batismo. Quando há disponibilidade e o nome de nascimento soa bem na pronúncia, é um bom investimento continuar com o nome próprio, como exemplos, temos Luan Santana e Michel Teló. Após analisar e pesquisar a escolha do nome da dupla sertaneja, seja com o nome próprio ou artístico, deve ser registrada. Essa é a única forma de se resguardar e não ter o nome copiado por ninguém, ainda mais se tratando de música sertaneja, como já mencionado, há uma gama de cantores em busca da fama. Antes do registro, é preciso fazer uma pesquisa, de preferência mais abrangente, no banco de dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial para ver a disponibilidade do nome escolhido. 6.1. A FIGURA DO EMPRESÁRIO. Quando a música sertaneja ainda não tinha conquistado o conhecimento popular, eram os compositores quem escolhiam os temas que explorariam em suas músicas. Com a receptividade deste estilo musical no meio rural e a chegada dele no meio urbano, os agentes da indústria fonográfica perceberam o potencial que este gênero possuía e assim começou investir na proliferação das duplas sertanejas. Existem estabelecimentos especializados em organizar shows com duplas sertanejas, para fazer apresentações no interior dos estados, ou em circos, cinemas e sociedades recreativas. Estas atividades ocorrem para divulgar as duplas e suas músicas, quando os artistas já são conhecidos e tem discos gravados, parte dos lucros das apresentações são divididos entre o agenciador e o artista. Quando a dupla é iniciante, é normal que eles concordem com o agenciador a fazer apresentações gratuitas. O agenciador recebe os lucros obtidos dos shows e em contrapartida a dupla tem a oportunidade de ter um possível contrato com a gravadora. São os empresários, sejam elas agenciadores ou a gravadora com que as duplas assinam contrato quem escolhe qual repertório que tocarão, ou quando conseguem gravar um disco, quais músicas e arranjos serão escolhidos para o mesmo. Também são os empresários que, para divulgar o artista e/ou o disco, percorrem as emissoras de rádio e televisão e solicitam sua exposição durante sua programação. Ao mesmo tempo eles efetuam a distribuição em casas de show e lojas de discos, CD’s e DVD’s. 7. A CARACTERIZAÇÃO DO ARTISTA 6 A moda chegou de vez no cenário da música sertaneja e com ela o comportamento, os cabelos, as roupas dos artistas tiveram modificações. A profissionalização neste meio obrigou com que os artistas sertanejos dessem um pouco mais de atenção ao visual, afinal, imagem conta muito na divulgação artística. Antigamente não sobrava muito dinheiro para investir em roupas, então os artistas se apresentavam com a mesma calça larga e camiseta, somente mudavam os coletes, para aparentarem possuir roupas diferentes. Os sertanejos vestiam jeans pantalonas6 e leves até o chão, seus cabelos compridos e longos com franja, soltos e rebeldes no estilo sexy para época. Se antes eram usadas camisas floridas, cabelos grandes e cachos volumosos, calças largas de cintura alta, jaquetas jeans, coletes, cortes de mullets7, itens indispensáveis no guarda-roupa, hoje a moda é usar materiais mais sinuosos e suaves, tecidos para todos os tipos de roupas e peças coladas ao corpo, realçando a silhueta natural, como os jeans americanos, além de roupas de tecidos rústicos e botas no estilo country. Essa caracterização do artista sertanejo teve grande influência da cultura americana, especialmente do gênero musical Country. O que se percebe atualmente é além da influência da cultura musical dos americanos, também se acrescenta outros fatores de mudança na caracterização. Os novos artistas do sexo masculino compuseram uma nova moda sertaneja, com cortes desconectados, para realçar os topetes; calças jeans coladas; cabelos esticados por alisamentos; modelos de roupas justas ao corpo, caracterizando assim, a mistura de um country com música de balada a dance music. Já as mulheres, aparecem sempre como uma “menininha”. Saia curta; blusas com fendas frontal ou lateral ou nas costas, mas sempre sem exagero para não ficar caracterizado como mulher vulgar; botas femininas de couro; maquiagem carregada na região dos olhos. Todas essas transformações ocorreram de acordo com as mudanças da própria música sertaneja. Vale ressaltar que a moda vai de acordo com o período com que o artista vive. Se antes esses artistas viviam no campo ou vinham de lá, o seu figurino era de homem do campo. E se hoje os artistas vendem a imagem de universitário e homem urbano, a imagem deve seguir este conceito: jovem, bonito e sensual. 6 Mullets é um corte de cabelo curto na frente em cima e nos lados e longo atrás. 7 Pantalonas é derivado de pantalon, que significa calça em francês, calça larga nas pernas e na boca. 8. A DIVULGAÇÃO DA MARCA O produto principal a ser vendido deve ser bem definido, antes mesmo dos cantores sertanejos serem lançados no mercado. O CD/DVD é ainda o produto principal para divulgação da marca (artista), mas existem atualmente outros modos para divulgar, com ou sem lucratividade para as partes envolvidas. A divulgação de um artista envolve várias opções, como: cds promocionais distribuídos gratuitamente, páginas próprias de web, participação em mídias sociais, participação em programas de televisão e de rádio, que são transmitidos através de ondas eletromagnéticas ou no ambiente virtual, apadrinhamento por parte de artistas já consagrados no mercado que tem grande valor atribuído para os novos cantores sertanejos, uma vez que com o apadrinhamento traz credibilidade para o trabalho proposto, músicas que participam de trilha sonora de filme e novela, que são programas bem aceitos pela população. Alguns artistas com certa estabilidade no meio artístico utilizam também a divulgação da marca/o nome em produtos diversos, como: perfumes, revistas, pequenos objetos de decoração, entre outros. Esse é um meio para aumentar o faturamento, ao invés de ser apenas provenientes da venda de cds e de shows. Outra forma de divulgação que começou a ser feita aqui no Brasil, é a participação dos cantores sertanejos em novelas e seriados, participando da história da trama. Compreende-se que a divulgação da marca é um passo fundamental para o sucesso do artista. É através desse trabalho que o público conhece os cantores sertanejos e onde há também a escolha se haverá ou não o consumo do produto, no caso, a música. A diversidade de opções é extensa para a divulgação, basta escolher e explorar adequadamente, para atingir o objetivo desejado. 9. A RELAÇÃO MARCA E MÚSICA SERTANEJA NO CONTEXTO ATUAL Para alcançar o sucesso dentro do gênero sertanejo, o artista deve primeiramente preocupar com a sua imagem, essa é a primeira marca que o público irá perceber, independente de outros aspectos como estilo de música e até mesmo afinação. É fundamental que o artista esteja dentro dos parâmetros estabelecidos do mercado fonográfico, senão corre-se o risco do insucesso acontecer. Observa-se algumas mudanças marcantes dadas pelo mercado: nome e disposição gráfica no material de divulgação que antes utilizava fonte tipográfica no logotipo no estilo bold e por um grande período a fonte mais usada foi no estilo old western passando na atualidade a utilizar fonte tipográfica mais leve e harmoniosa visualmente, sem serifa e sem contornos mais grotescos como o bold; a fotografia passou a ser tirada por pessoas capacitadas para um melhor resultado estético; a preocupação com todas as formas de divulgação, principalmente capa de cd; imagem mais valorizada para apresentações em público e televisionado; hoje é uma equipe para cuidar da imagem, vida pública e orientação de postura do artista. Os artistas com menos recursos, ou em início de carreira, que precisam divulgar o trabalho, podem contar com uma ferramenta cada vez mais utilizada: a internet. No ambiente virtual, a divulgação do trabalho é de custo quase zero, podendo ser exploradas as mídias sociais - facebook, blog e youtube, páginas de internet específica como o site palco mp3, web site próprio e anúncios pagos. Esses são alguns exemplos que podem ser utilizados. Para construir uma marca forte, também existem outros fatores a serem seguidos como: ter o auxílio de empresário com grande experiência na área; contratar pessoas com formação em marketing para auxiliar na formação da carreira musical; saber divulgar o trabalho em mídia específica para atingir o público alvo; se comportar como artista sertanejo em participações de programas televisivos, afinal, ali mostrará os defeitos e qualidades e quanto mais qualidade, mais chamará atenção do público; enfim, ter todo o zelo com todos os aspectos de formação de imagem impostos pelo mercado. Portanto, é fácil notar que a marca e a música estão intrinsecamente ligadas uma com a outra no contexto atual, visto que, o universo da marca é muito abrangente, envolvendo uma gama de detalhes a serem seguidos e a música é a coadjuvante de muitos aspectos minuciosos. Saber explorar a marca adequadamente trará frutos positivos para a música que se pretende divulgar. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A música sertaneja sempre esteve em evolução no decorrer do tempo de sua existência, assim como a nossa sociedade. A profissionalização foi apenas uma das transformações ocorridas dentro do ambiente sertanejo. Conhecer os aspectos de formação de identidade artística e desenvolver relações profundas entre celebridade e público é papel fundamental para o reconhecimento de um trabalho bem feito e agradável para o consumidor. Dessa maneira, a melhor publicidade é satisfazer o desejo do público, para que o mesmo possa influenciar outras pessoas a consumir o produto, a música, de determinado artista. Os meios para atingir o sucesso são vários, com a evolução da tecnologia as ferramentas são inúmeras, a maioria com baixo custo de investimento e com garantia de sucesso em pouco tempo, mas depende exclusivamente do direcionamento que os profissionais envolvidos darão. Com isso, percebe-se que para a consolidação da imagem em âmbito nacional é necessário o entendimento da teoria do marketing pelos profissionais, pois assim será identificado o gosto do público e o artista será moldado de acordo com seus desejos. Entretanto, há ainda dificuldades para se trabalhar a imagem do artista sertanejo, em especial a falta de referência bibliográfica, a ausência de materiais relacionados ao assunto, pois o número existente é reduzido e o desinteresse por parte de quem tem a informação em fornecer aos demais. Mas, ainda assim, foi possível identificar que a aplicação das técnicas do marketing se faz presente nesse contexto e ainda mais, são indispensáveis no cenário profissional da atualidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALDAS, Waldenyr. Acorde na Aurora: Música Sertaneja e Indústria Cultural. São Paulo, Ed. Nacional, 1977. CATELAN, Álvaro; COUTO, Ladislau. De repente a Viola: os grandes temas da música caipira. Goiânia; Kelps, UCG, 2005. CATELAN, Álvaro; COUTO, Ladislau. Mundo Caipira: História da Música Caipira no Brasil. Goiânia; Kelps, UCG, 2005. HONORATO, Gilson. Conhecendo o Marketing: Barueri, Editora Manole, 2004. KOTLER, Philip. Marketing para o Século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados / Philip Kotler; tradução Bazán Tecnologia e Linguística. São Paulo, Futura, 1999. KOTLER, Philip. Administração de Marketing: a Edição do Novo Milênio – 10ª Edição São Paulo – Ed. Prentice Hall – 2000. KOTLER, Philip Administração de Marketing / Philip Kotler, Kevin Lane Keller; tradução Mônica Rosenberg. Brasil Ramos Fernandes, Cláudia Freire; Revisão técnica de Dilson Gabriel dos Santos. 12. ed. São Paulo: Prentice Prentice Hall, 2006. LINDSTROM, Martin. Brand Sense: segredos sensoriais por trás das coisas que compramos. Porto Alegre, Editora Bookman, 2012. NETO, Manoel Marcondes Machado. Marketing Cultural: das Práticas a Teoria. 2005. Editora: Ciência Moderna. REIS, Ana Carla Fonseca. Marketing Cultural e Financiamento da Cultura: Teoria e Prática em um Estudo Internacional Comparado. São Paulo, Ed. Thomson Learning Edições, 2006. Sites: A História da Música Sertaneja. Disponível em > http://www.ahistoria.com.br/musicasertaneja/ acesso: 15h13min no dia 17/05/2013.