25 e 26 de setembro de 2014 O USO DA BIOMASSA DA CANA-DE-AÇÚCAR PARA COGERAÇÃO E PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: ANÁLISE TERMODINÂMICA E TERMOECONÔMICA – ESTUDO DE CASO. R. D. D. dos SANTOS1*, S. N. M Souza3 1 Programa de Pós-Graduação em Engenharia Bioenergia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus Cascavel-PR (Times New Roman 10) 2 Professor Associado B regime T-40/TIDE da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE, Centro de Ciência Exatas e Tecnológicas-CCET. Professor do Programa de Pós Graduação em Energia na AgriculturaPPGEA/UNIOESTE e do Programa de Pós Graduação em Bioenergia-PPGB/UNIOESTE/UEL. *Autor correspondente E-mail para contato: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Cogeração, Termodinâmica, Termoeconômica. INTRODUÇÃO Ao longo do século XX, o sistema elétrico mundial se tornou cada vez mais centralizado, no que diz respeito à geração de eletricidade, devido principalmente à estruturação e transmissão de energia a longas distâncias. Entretanto, a elevação do custo de eletricidade, devido às políticas ambientais, somado à recessão de produção nos países industrializados e à crise do petróleo, vêm incentivando a busca por outras fontes geradoras de energia e acelerando o processo de reformulação do setor mais descentralizado. Segundo Rezac e Metghalchi (2004), a introdução de uma energia “limpa” e barata tem a capacidade de promover governos, de melhorar a economia dos países pobres, de oferecer saneamento básico e melhorar os benefícios de saúde, como também reduzir a quantidade de poluentes que entram em nossa atmosfera sob a forma de gases de efeito estufa6. Este cenário criado pela necessidade de desenvolvimento e uso de novas fontes energéticas é amplamente favorável à utilização da biomassa como fonte de geração de energia elétrica. A necessidade de melhoria no sistema energético brasileiro ficou ainda mais evidente na crise do apagão em 2001, que ocorreu devido à falta de investimento no setor elétrico, ausência de um planejamento energético adequado e aumento da demanda no consumo decorrente do crescimento econômico da população. Além disso, a seca que ocorreu no País nesta época agravou a crise, visto que a energia utilizada em grande parte é proveniente da força das águas1. Este contexto de crise incentivou o aumento nas pesquisas em torno da cogeração visando a produção excedente de eletricidade no setor sucroalcooleiro. O motivo da comercialização do excedente elétrico deve-se a biomassa residual da moagem da cana-de-açúcar. Esta é constituída por elevados teores de materiais lignocelulósicos, que as tornam matérias-primas capazes de produzir energia térmica e elétrica. O uso da biomassa da cana-de-açúcar com fins energéticos vem contribuir não apenas com a oferta de energia nos momentos de seca e crise energética, mas também, surge como fonte de energia que não agride ao meio ambiente. 25 e 26 de setembro de 2014 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo modelar a configuração atual de uma usina de açúcar e álcool localizada no interior do Paraná, realizando análises termodinâmicas e termoeconômicas do aproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar em seu sistema de cogeração, a fim de ver a viabilidade de produção de energia elétrica. MATERIAIS E MÉTODOS Fundamentos da Análise Energética A solução do problema tratado neste artigo envolve os princípios básicos da termodinâmica, respectivamente, Primeira e Segunda Leis da Termodinâmica. Considerando que os volumes de controle se encontram em regime permanente e que as variações de energia cinética e potencial podem ser desprezadas. A Primeira Lei da Termodinâmica pode ser descrita da seguinte forma3: (1) Onde: - Taxa de transferência de calor no volume de controle (kW); - Taxa de potência referente ao volume de controle (kW); - Fluxo de massa de entrada no volume de controle (kg/s); - Fluxo de massa de saída no volume de controle (kg/s); he- Entalpia específica da entrada do volume de controle (kJ/kg); hs - Entalpia específica da saída do volume de controle (kJ/kg). A Primeira Lei da Termodinâmica para volume de controle é fortemente baseada na utilização da propriedade entalpia, que nos permite analisar os processos dentro de um sistema de maneira quantitativa. Já a Segunda Lei da Termodinâmica baseia-se na propriedade entropia, que permite a realização de uma análise quantitativa e qualitativa dos processos. Este segundo princípio está relacionado à qualidade da energia e direção do fluxo energético. Um de seus postulados afirma que o calor fluirá da temperatura mais alta para a mais baixa, caso as temperaturas sejam iguais não haverá fluxo de calor. A segunda lei afirma que não há processo natural reversível. Isto significa que cada processo envolve a degradação dos recursos energéticos, ou seja, eles são considerados irreversíveis. O balanço de entropia para um volume de controle em regime permanente pode ser descrito assim: (2) Onde: - Taxa de geração de entropia no volume de controle (kW/K); - Taxa de entropia gerada pelo fluxo de calor no volume de controle (kW/K); - Temperatura superficial do volume de controle (K); se - Entropia específica na entrada do volume de controle (kJ/kg.K); ss - Entropia específica na saída do volume de controle (kJ/kg.K). Fundamentos da Análise Exergética De acordo com Kotas (1985), a palavra exergia foi utilizada pela primeira vez por Rant em 1956, para substituir vários termos de significados similares que eram empregados em diferentes países: energia útil (França), disponibilidade (EUA) e capacidade de trabalho (Alemanha)5. Segundo Rant, apud Torres (2001), foi ele quem sugeriu a palavra exergia, também propôs a palavra Anergia, que é a parte da energia não aproveitada, ou melhor: Energia = Exergia + 25 e 26 de setembro de 2014 Anergia10. Energia, portanto, é tudo aquilo que pode ser aproveitado (exergia) somado àquilo que não é útil (anergia). Em outras palavras energia é aquilo que pode ser convertido em calor e/ou trabalho. Porém, para calcular a exergia é necessário que se defina o estado de referência, para que se tenha uma base sobre quais são os valores a serem adotados8. Para Szargut et al. (1988), exergia é a quantidade de trabalho obtido quando uma massa é trazida até um estado de equilíbrio termodinâmico com os componentes comuns do meio ambiente. Segundo o mesmo autor, a exergia total de um determinado fluxo, de um fluido pode ser subdividida em exergia potencial, cinética, química e física. Quando as exergias cinéticas e potenciais podem ser desprezadas a exergia do fluxo de um fluido é dada somente pela soma das exergias físicas e químicas9. (3) Onde: - Temperatura de referência (K); - Refere-se ao potencial químico de referência do elemento ; - Potencial químico do elemento na mistura ; - Fração do componente na mistura. A primeira parte da Equação (3) ( ) corresponde a exergia física de um fluxo, e é calculada onde há equilíbrio térmico e mecânico com o meio, com base em um estado de referência restrito .A segunda parte ( ) de acordo com Szargut et al. (1988), denota que a exergia química expressa o valor exergético da substância resultante da diferença de sua concentração em relação à composição química do ambiente, com a temperatura e pressão em equilíbrio com o meio de referência, o valor do potencial químico vai aumentando à medida que vai se afastando do padrão7. O estado morto ou ambiente de referência é indicado pelo subíndice “0”. O trabalho reversível será máximo quando e . Fazendo uso da ideia de um ambiente que represente o mundo físico real, este artigo adotorá como ambiente de referência as condições normais de temperatura e de pressão (CNTP), =298,15K e =101,325 kPa. Fundamentos Termoeconômicos A termoeconomia é uma metodologia desenvolvida com base nos conceitos de exergia para análise de sistemas térmicos. Para a disseminação da análise termoeconômica é necessária à realização de uma análise exergética seguida de uma análise econômica. Esta metodologia tem como objetivo principal atribuir custos a um portador de energia. Este trabalho utilizará a metodologia exergoeconômica que faz uso da alocação dos custos médios dos equipamentos, sendo capaz de determinar o custo dos produtos, de fornecer um meio de alocação dos gastos e atuar como base de informações para tomada de decisões operacionais2. A metodologia exergoeconômica quando formulada para um balanço de custo de maneira individual em cada componente do sistema k, tem-se que a soma das taxas de custo associado a todos os fluxos exergéticos de saída do sistema, é igual à soma das taxas de todos os fluxos exergéticos de entrada mais o preço devido ao investimento de capital e despesas com operação e manutenção de cada k-componente. (4) Onde: - Exergia específica de entrada do volume de controle (kJ/kg); - Exergia específica de saída do volume de controle (kJ/kg); – Custo médio total do equipamento por unidade de tempo no componente k (R$/s). 25 e 26 de setembro de 2014 As variáveis , , e equivalem aos custos exergoeconômicos dos respectivos fluxos físicos (entrada, saída, trabalho e calor gerado no interior do volume de controle). O custo médio de cada fluxo é dado em unidades monetárias, por kJ, por exemplo, R$/kJ (reais por Kilojoule). No caso do sistema proposto neste trabalho, considera-se que o custo dos equipamentos é zero, pois já foram pagos Ferramentas Computacionais As equações podem ser solucionadas utilizando-se qualquer ferramenta de cálculo apropriada para este fim. Entretanto, será utilizado o software EES® (Engineering Equation Solver), desenvolvido por Klein e Alvarado (1995), que permite a determinação de propriedades termodinâmicas, como entalpia e entropia, de maneira simples e eficiente, sem haver a necessidade de recorrer a tabelas termodinâmicas4. DETALHAMENTO DO CASO EM ANÁLISE O estudo de caso refere-se a uma usina sucroalcooleira localizada no interior do Paraná. A empresa trabalha com duas caldeiras de 21 kgf, e somente com turbinas de contrapressão. É possível observar que todos os acionamentos (moendas, exaustores, ventiladores e bombas) não são eletrificados. A Tabela 1 apresenta dados da safra 2012/2013. Tabela 1. Dados de moagem, consumo e produção de bagaço da safra 2012/2013. Parâmetros Valores Unidades Cana moída total 1.970.165 t Período de safra 282 Dias Dias efetivos de safra 231 Dias Moagem diária 8.520 t/dia Moagem horária 355 t/h Fluxo de bagaço na caldeira 1 34,6 t/h Fluxo de bagaço na caldeira 2 37,3 t/h Fluxo de bagaço nas 71,9 t/h caldeiras Fluxo de bagaço total 92,45 t/h produzido Bagaço total residual da safra 133.944 t RESULTADOS E DISCUSSÃO Resultados Termodinâmicos A Tabela 2 refere-se à descrição da potência gerada por cada equipamento, baseado no princípio da Primeira Lei da Termodinâmica a soma equivale à 10.529,7 . Tabela 2. Potência Gerada. Parâmetros Turbinas Picador Cop 8 Desfibrador e Ternos da Moenda e Ternos da Moenda Potência ( 1.350 1.350 1.110 1.110 Parâmetros Turbinas Turbo Spray Exaustor 01 Exaustor 02 Turbo Bomba Água Cald. Potência ( 676 161 184 326,7 25 e 26 de setembro de 2014 e Ternos da Moenda Turbogerador DME-450 1.110 2.952 Turbo Bomba Dest. 200 Resultados Termoeconômicos A partir da análise termoeconomica é possível variar o custo de aquisição do bagaço e então determinar qual será o custo de geração de eletricidade e o custo de vapor destinado ao processo. A Figura 2 mostra o custo de eletricidade produzida em função do custo do bagaço. Figura 2. Custo médio de eletricidade em função do custo de bagaço. Neste trabalho, toma-se como referência o valor de R$15/t que é o preço médio adotado para a venda de bagaço entre as usinas em época de safra. Observa-se que o custo de eletricidade gerada é de R$ 86,18/MWh, utilizando a referência adotada para o preço do bagaço de R$15/t. A Figura 3 representa o custo de vapor de processo em função do custo do bagaço. Figura 3. Custo do vapor do processo em função do custo de bagaço. Observa-se neste caso que o custo de vapor de processo é de R$ 20,91/t. CONCLUSÕES A Primeira Lei da termodinâmica foi útil para calcularmos a potência gerada por cada equipamento e nos levou a conclusão que eles estão trabalhando em sua máxima capacidade segundo o manual do fabricante de cada equipamento. 25 e 26 de setembro de 2014 A Segunda Lei da termodinâmica nos deu ressalvo de calcular o custo de geração de eletricidade e de vapor de processo citados abaixo. Considerando o valor de R$15/t, observa-se a partir da análise termoeconômica o baixo custo de geração de eletricidade R$ 86,18/MWh, devido à elevada quantidade de bagaço excedente, outro ponto importante a constatar é também o custo de geração de vapor para o processo, este valor é considerado bom, estando bem abaixo de outras usinas do setor. AGRADECIMENTOS Agradecimento à Capes, à UEM, ao Mestrado em Bioenergia pela realização e à usina de Açúcar Santa Terezinha por disponibilizar dados necessários para este trabalho. REFERÊNCIAS 1BAER, W. A Economia brasileira. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2003. 509 p. J. L; LOZANO, M. A; VALERO, A. On-line monitoring of power-plant performance sing exergetic cost. Applied thermal engineering. v. 16, n. 12, p. 933-948, 1996. 3BORGNAKKE, C.; WYLEN, G. J. V.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da Termodinâmica. 7. ed. Edgard Blucher, 2009. 4KLEIN, S. A.; ALVARADO, F.L. EES – Engineering Equation Solver, F-Chart Software, Middleton, WI, 1995. 5KOTAS, T. J. The Exergy Method of Thermal Plant Analysis. Editôra Butterworths, London, 198 5, 296p. 6REZAC, P.; METGHALCHI, H. A Brief Note on the Historical Evolution and Present State of Exergy Analysis. International Journal Exergy, vol. 1, no. 1, pp. 426 – 437. 2004. 7ROJAS, S. I. P. Análise exergética, termoeconômica e ambiental de um sistema de geração de energia. estudo de caso: Usina Termelétrica Ute – Rio Madeira. 2007. 195 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Mecânicas) – UNB – Universidade de Brasília, Brasília. 2007. 8SHIRMER, F. Comparação de Indicadores de Eficiência Energética e Exergética em Duas Indústrias do Setor Sucroalcooleiro. 2006. 81f. Dissertação (Mestrado) – UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2006. 9SZARGUT, J.; MORRIS, D.R.; STEWARD, F.R. Exergy analysis of thermal, chemical, and metallurgical processes. New York: Hemisphere Publishing Co, 1988. 332p. 10TORRES, E. A., Análise exergética. UFBA - Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, DEQ – LEN, 2001. 31 p. Relatório Técnico. 2BARTOLOMÉ, 25 e 26 de setembro de 2014 Figura 1. Detalhamento planta atual.