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Saúde
Lúcia de Noronha foi uma das pesquisadoras que descobriu que o zika vírus tem a capacidade de
atravessar a placenta e causar a microcefalia.
SAÚDE
Estudo do Paraná é a 1.ª etapa para entender
como o vírus zika age no organismo da
gestante
Montar esse quebra-cabeça é essencial para estratégias que protejam o
embrião
22/01/2016 / 22h50 / Caroline Olinda
Texto publicado na edição impressa de 23 de janeiro de 2016
A descoberta de que o zika vírus ultrapassa a placenta e dessa forma contamina o bebê na
barriga da mãe foi um passo para entender como se dá a relação entre a doença e a
microcefalia – que já soma 224 casos relacionados à infecção congênita confirmados e tem
3.381 em investigação. Agora, o desafio dos pesquisadores é descobrir como o vírus sai das
células placentárias e age no ataque ao tecido do sistema nervoso do embrião, causando
malformações. Desvendar esse quebra-cabeça é essencial para montar estratégias que
consigam bloquear a ação do zika e proteger os bebês em gestação.
Confira a cobertura completa sobre o Aedes aegypti e as doenças ocasionadas pelo mosquito
Uma das autoras do estudo, a médica patologista Lúcia de Noronha, da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que os testes mostraram a presença
de partículas do vírus em células de Hofbauer, que fazem a defesa do bebê e ajudam na
manutenção da placenta. A suspeita é que ele aja de forma semelhante ao HIV e utilize a
célula como um “cavalo de Troia” para contaminar o embrião.
A diferença é que o zika é muito agressivo para a placenta. “O zika destrói a placenta,
coisa que o HIV não faz”, diz Lúcia. Ela explica que o vírus causa uma inflamação no
órgão, chamada de placentite – um sinal de que a barreira de proteção foi rompida. De
acordo com Lúcia, evitar essa inflamação e que o vírus rompa a barreira placentária é
essencial para impedir que o bebê seja contaminado pelo zika.
Essa ação já é feita para outras doenças congênitas que também causam malformações
nos bebês, caso da sífilis, da toxoplasmose e do citomegalovírus. Mas, cada caso é um
caso, destaca Lúcia. Se as pesquisas forem mesmo nessa linha, será preciso desenvolver
um medicamento próprio para inibir a ação do zika na placenta.
Pesquisas
Para desenvolver qualquer ação terapêutica, porém, ainda será necessário percorrer um
longo caminho de pesquisas. “A descoberta que fizemos foi só um passo. Ainda é cedo
para falar em formas de bloqueio”, comenta a virologista Cláudia Duarte dos Santos,
pesquisadora do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz no Paraná. Desde o início na linha de
frente das pesquisas sobre o zika, Cláudia também é autora do estudo que mostrou que o
vírus ultrapassa a barreira placentária.
As pesquisas agora seguem para confirmar se a infecção do bebê se dá mesmo por meio
das células de Hofbauer contaminadas e entender como o vírus sai das células
placentárias e passa a atacar o tecido do sistema nervoso da criança. “É muito grave a
nossa situação com o zika e estamos aprendendo sobre ele em tempo real”, resume Lúcia,
que cita outras dúvidas dos pesquisadores: “Ainda não se sabe qual a taxa de
transmissão, nem de reinfecção da doença”.
Em busca de respostas
Cientistas ainda têm uma série de questões sobre o zika vírus para desvendar.
Confira algumas delas relacionadas a gestantes e bebês:
Como o vírus age no tecido nervoso do bebê?
Agora que já se sabe que o zika ultrapassa a barreira da placenta, os
pesquisadores tentam descobrir como ele age no tecido nervoso do embrião
para causar a malformação.
Como o vírus utiliza as células placentárias para chegar ao embrião?
As pesquisas mostraram partículas do zika nas células de Hofbauer, que atuam
na imunidade do bebê e na manutenção da placenta. A suspeita é que o zika
utilize essa célula para chegar ao embrião. Mas ainda é preciso comprovar que
isso ocorre e mostrar como se dá essa ação.
Qual o nível de transmissão do zika de mãe para filho?
Os pesquisadores também tentam entender se todas as mães que forem
contaminadas pelo zika na gestação passarão a doença para o filho.
Mulheres que tiveram zika antes de engravidar correm o risco de ter filhos com
microcefalia relacionada ao zika?
É pouco provável que isso ocorra, mas ainda não é possível dizer que isso é
impossível. Os cientistas também buscam descobrir se mães que tiveram
bebês com microcefalia relacionada ao zika correm o risco de terem um
segundo bebê com o mesmo problema, também devido ao vírus.
Existe um padrão de má-formação dos bebês com microcefalia relacionada ao zika?
No caso de microcefalia relacionada ao zika, os médicos e pesquisadores
estão tentando estabelecer se existem má-formações típicas. Já se detectou,
por exemplo, problemas oculares graves nessas crianças. Há também casos
de lesões em algumas partes do cérebro, sem que isso tenha afetado o
tamanho do crânio.
Ação do vírus
Outra questão que aflige os pesquisadores é qual o tempo de ação do zika. Mulheres que foram
contaminadas pelo vírus podem vir a ter um filho com malformações tempos depois? E as que foram
infectadas durante a gestação e tiveram o bebê com microcefalia correm o risco de ter um filho com a
mesma malformação? “Não sabemos. Porque ainda não se sabe se há o risco de se desenvolver uma
infecção crônica. Estamos estudando”, diz a virologista Cláudia Duarte dos Santos.
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