XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. "CÉLULA DOCE": UMA FORMA LÚDICA E DELICIOSA DE APRENDER BIOLOGIA CELULAR Iêda Ferreira de Oliveira1, Maria Izabel Pereira e Silva2, Reginaldo de Carvalho3 Introdução Muitas vezes, a aprendizagem de conteúdos de Biologia Celular está relacionada à memorização de estruturas e de conceitos. Para os estudantes, a disciplina é considerada difícil, devido ao seu elevado nível de complexidade e de abstração (Legey et al., 2012). Além disso, o despreparo de alguns professores também contribui para o agravamento desse cenário (Palmero, 2003). Segundo as diretrizes educacionais definidas pelos PCNs (Brasil, 1999), cabe aos professores conduzir os estudantes na construção do conhecimento e estes, por sua vez, devem ser capazes de desenvolver habilidades como o pensamento crítico e a autonomia. Para isso, o modo pelo qual o processo de ensino-aprendizagem ocorre atualmente deve ser repensado e reformulado. Diversos trabalhos já apontam que a inserção de atividades pedagógicas diferenciadas pode auxiliar na melhor compreensão de temas científicos pelos estudantes. Pode-se mencionar, por exemplo, a aplicação de modelos didáticos alternativos (Orlando et al., 2009), a implementação de atividades de laboratório (Carneiro & Silva, 2007) e a proposição de jogos educativos (Spiegel et al., 2008). A fim de contribuir para a melhoria das práticas educacionais no campo da Biologia, o objetivo desse trabalho foi aplicar e avaliar um modelo didático de célula comestível entre estudantes de Ensino Fundamental, durante a realização de uma oficina itinerante de Biologia Celular em escolas públicas do Recife, Pernambuco. Material e métodos A. Descrição da atividade pedagógica “Célula Doce” foi o nome atribuído a uma atividade lúdica idealizada por Oliveira et al. (2009), que consiste na confecção de uma célula composta de doces e frutas, em que os estudantes podem visualizar as organelas e trabalhar conceitos científicos (Figura 1). Essa prática foi inserida em um universo de atividades didáticas desenvolvidas durante uma oficina itinerante de Biologia Celular, que fez parte do projeto de extensão intitulado “Conhecendo o microuniverso das células”, desenvolvido por funcionários e estudantes da UFRPE. B. Público-alvo Estudantes de escolas públicas localizadas na Região Metropolitana do Recife participaram da atividade prática. Eles apresentavam entre 11 e 25 anos de idade e cursavam do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental II ou séries equivalentes (Tabela 1). C. Avaliação da atividade A avaliação consistiu na realização de perguntas orais e na observação dos conteúdos conceituais explícitos nas respostas, assim como dos comportamentos e atitudes mostrados pelos estudantes durante a atividade, seguindo a metodologia de Campos & Nigro (1999). Resultados e Discussão Aproximadamente 700 estudantes de quatro escolas, distribuídos em 27 turmas, participaram da atividade pedagógica “Célula Doce” (Tabela 1). O resultado final da montagem da célula está ilustrado na Figura 1. No geral, os estudantes mostraram-se estimulados durante a realização da atividade, ficaram atentos às explicações e fizeram perguntas. De acordo com o depoimento de alguns sujeitos da Escola Waldemar de Oliveira e da Escola João Barbalho, a atividade educativa foi positiva porque é diferente das aulas que normalmente costumavam ter no dia-a-dia. 1 Iêda Ferreira de Oliveira é Bióloga do Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] ² Maria Izabel Pereira e Silva é aluna de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900 E-mail: [email protected] ³ Reginaldo de Carvalho é Professor Adjunto da Área de Genética, Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: UFRPE XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Os participantes da Escola Matias de Albuquerque também mostraram bastante entusiasmo com a prática, pois a escola não possuía laboratório e a experiência foi algo novo para eles. Os estudantes da Escola Governador Carlos de Lima Cavalcanti também expressaram interesse pelo aprendizado, devido à natureza lúdica da atividade. Em relação ao nível de conhecimento sobre conteúdos de Biologia Celular, a sondagem inicial apontou que os estudantes apresentavam bastante dificuldade, apesar de relatarem ter visto o assunto em séries anteriores. Por exemplo, eles não foram capazes de diferenciar entre célula animal e vegetal e desconheciam o nome e a função das principais organelas. No entanto, à medida que a atividade foi sendo desenvolvida, eles disseram “relembrar” o conhecimento. Desse modo, ao final da prática, a maioria deles não mostrou dificuldade em associar os doces às organelas celulares e às suas respectivas funções. Palmero (2003) alerta que, apesar de modelos, esquemas e desenhos serem importantes recursos utilizados na transposição didática pelos professores, sua eficácia pode ser comprometida se não forem cuidadosamente aplicados. A atividade prática “Célula Doce” foi planejada visando garantir a maior e melhor assimilação de conceitos científicos pelos sujeitos envolvidos. Portanto, uma das maiores preocupações na execução do trabalho foi garantir não apenas a explanação teórica dos conteúdos, mas inserir um trabalho de reflexão e construção junto aos estudantes. Sob essa óptica, consideramos os resultados alcançados no presente trabalho satisfatórios. Oliveira et al. (2009) realizaram um estudo sobre a eficácia de aulas práticas (entre elas esteve a atividade “Célula Doce”) na aprendizagem de Biologia Celular por alunos de Ensino Fundamental de uma escola estadual de São José dos Campos, SP. A avaliação comparativa pela aplicação de questionários, antes e após as atividades, mostrou um incremento do nível de conhecimento deles com as atividades, corroborando nossos resultados. Do mesmo modo que o caso anterior, a observação de estruturas celulares e do ciclo mitótico por meio de práticas laboratoriais, estruturadas às aulas teóricas, resultou na melhor compreensão do tema por graduandos dos cursos de Biologia e de Fisioterapia de uma universidade do Brasil (Carneiro & Silva, 2007). Como conclusão, a atividade prática “Célula Doce” mostrou-se efetiva para a aquisição, complementação e/ou aprofundamento de conhecimentos sobre Biologia Celular entre estudantes do Ensino Fundamental II de escolas públicas do Recife. Além disso, outras competências também puderam ser estimuladas, como o trabalho em equipe, o respeito mútuo, a criatividade e a reflexão. Acreditamos que seu caráter lúdico (uma vez que os participantes são convidados a fixar conceitos e testar seus conhecimentos de uma forma diferente e saborosa), aliado a um meticuloso planejamento didático, seja o segredo para seu sucesso no contexto da aprendizagem significativa. Agradecimentos Agradecemos à PRAE/UFRPE (Edital 08/2011) pelo auxílio financeiro e concessão de bolsa à MIPS. Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. Campos, M. C.C; Nigro, R.G. Didática de Ciências: o ensino-aprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 1999. Carneiro, S.P.; Silva, J. O Teste Allium cepa no ensino de Biologia Celular: um estudo de caso com alunos da graduação. Acta Scientiae. v. 9, n. 2, p. 122-130, 2007. Legey, A.P.; Chaves, R.; Mól, A.C.A.; Spiegel, C.N.; Barbosa, J.V.; Coutinho, C.M.L.M. Avaliação de saberes sobre célula apresentados por alunos ingressantes em cursos superiores da área biomédica. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias. v. 11, n. 1, p. 203-224, 2012. Oliveira, E.M.; Stollar, H.L.F; Moraes, K.C.M. Tornando o ensino de ciências (biologia celular) mais dinâmico e eficaz através de atividades práticas. In: XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação da Universidade do Vale do Paraíba. p. 1-6. 2009 Orlando, T. C.; Lima, A. R.; Silva, A. M.; Fuzissaki, C. N.; Ramos, C.R.; Machado, D.; Fernandes, F.F.; Lorenzi, J.C.C.; Lima, M.A.; Gardim, S.; Barbosa, V.C.; Tréz, T.A. Planejamento, montagem e aplicação de modelos didáticos para abordagem de Biologia Celular e Molecular no Ensino Médio por graduandos de Ciências Biológicas. Revista Brasileira de Ensino de Bioquímica e Biologia Molecular Biblioteca Digital de Ciências. v.1, n. 1, p. 1-17, 2009. Palmero, M.L.R. La célula vista por el alumnado. Ciência e Educação. v. 9, n. 2, p. 229-249, 2003. Spiegel, C.N.; Alves, G.G.; Cardona, T.S.; Melim, L.M.C.; Luz, M.R.M.P.; Araújo-Jorgel, T.C.; Henriques-Pons, A. Discovering the cell: an educational game about cell and molecular biology. Journal Of Biological Education. v. 43, n.1, p. 27, 2008. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1. Modelo de “Célula Doce” confeccionada por um grupo de estudantes. O biscoito (centro), a calda azul (bordas) e o leite condensado (meio) representam, respectivamente, o núcleo celular, a membrana plasmática e o citoplasma. As jujubas e os chocolates confeitados representam as demais organelas (mitocôndrias, complexo de Golgi, lisossomos, ribossomos, retículo endoplasmático, etc.). Tabela 1. Perfil das escolas envolvidas na atividade prática “Célula Doce”. NOME DA ESCOLA NÍVEL DAS TURMAS Nº DE TURMAS VISITADAS 8º e 9º anos do 5 Ensino Fundamental II 3ª e 4ª fases* da 6 Escola Waldemar de Oliveira Educação de Jovens e Adultos 8º ano do 1 Escola Governador Carlos de Lima Cavalcanti Ensino Fundamental II 6º a 9º ano do 15 Escola Matias de Albuquerque Ensino Fundamental II * A 3ª fase corresponde aos 6º e 7º anos e a 4ª fase corresponde aos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental II. Escola João Barbalho FAIXA ETÁRIA 12-15 anos 14- 25 anos 15-17 anos 11-18 anos