CURSO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA – LICENCIATURA EM QUÍMICA PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO SOBRE OS EFEITOS DO AQUECIMENTO GLOBAL DANIEL PAES DA SILVA Campos dos Goytacazes/RJ 2014 DANIEL PAES DA SILVA PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO SOBRE OS EFEITOS DO AQUECIMENTO GLOBAL Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos-Centro como requisito parcial para a conclusão do curso de Ciências da Natureza Licenciatura em Química. Orientadora: Profạ Drạ Valéria de Souza Marcelino. Campos dos Goytacazes/RJ 2014 À memória de meu pai (Juanito Ribeiro da Silva), pois sei que, de algum lugar, ele está me observando e vibrando com minha mais nova conquista. Pai, sinto falta das nossas conversas e gargalhadas; sempre te amarei e nunca me esquecerei de seus ensinamentos. AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que esteve o tempo todo ao meu lado me dando perseverança, coragem e criatividade nos momentos mais difíceis de minha vida, fazendo com que conseguisse superar as diversas barreiras colocadas em meu caminho, me iluminando durante todo o tempo para que eu não me desvinculasse de minha fé, a qual me fortalecia cada vez mais, dia a dia. Agradeço a minha mãe (Vera Lúcia Paes da Silva) por me ajudar em todos os sentidos, pela compreensão das horas que deixamos de passar juntos e dos finais de semanas “tortuosos” em que mal tínhamos tempo para conversar e torcíamos juntos, embora separados por certa distância, para que, em breve, tudo isso viesse a terminar e o tempo, que era nosso inimigo, se tornasse um aliado de reencontros e amor. Agradeço à minha Irmã (Janaina Paes da Silva) que se mostrou uma pessoa comprometida com a minha formação durante todo o curso, me auxiliando em todos os momentos de dúvidas, me dando forças nas horas difíceis com suas palavras consoladoras, verdadeiras e precisas. Agradeço à minha esposa (Iana de Almeida Maravilha Gomes) por toda compreensão e empenho em me ajudar durante esses anos de convivência, pelos finais de semana que deixamos de passear para ficarmos em casa, momentos em que as horas passavam rapidamente quando estava diante do computador a pesquisar entre um artigo e outro. Finalmente quero agradecer a todos (orientadores, instituições, etc.), que de forma direta ou indireta participaram e me auxiliaram na construção deste trabalho, que foi tão importante tanto para minha formação acadêmica como pessoal e, sinceramente, espero ter contribuído com algo importante para a forma de agir e pensar de nossa sociedade. A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. Albert Einstein RESUMO O aquecimento global e seus efeitos sobre a questão ambiental é um tema muito debatido e de grande significância nos mais variados meios de comunicação da atualidade, causando uma série de discussões; portanto, seu correto entendimento pela sociedade vigente é um elemento fundamental para minimizar os efeitos dessa problemática no clima, como também permitir a manutenção das mais variadas formas de vida nos diversos ecossistemas do planeta. Verificar a percepção dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio, sobre temas envolvendo as mudanças climáticas, é de grande importância para compreender e analisar o nível de conhecimento destes e o papel desempenhado pela escola diante dessa problemática, criando um método de interpretação das formas que tais assuntos são abordados pelos professores e como são assimilados pelos discentes. Consequentemente foram verificados possíveis pontos positivos e negativos no processo de ensino-aprendizagem apresentado e como isto afeta diretamente a vida desses educandos, em meio a tantas informações referentes às questões ambientais que circulam nos mais variados meios de comunicação em seu cotidiano. Palavras-chave: Aquecimento global. Mudanças climáticas. Educação. Informação. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1: Nível de informação dos entrevistados...........................................................................48 Gráfico 2: Meios de comunicação para obtenção de informações sobre o aquecimento global......49 Gráfico 3: Opinião dos discentes, quando questionados a respeito do aquecimento global ser um dos maiores problemas da sociedade atual.......................................................................................50 Gráfico 4: Posicionamento dos discentes em relação as iniciativas criadas para minimizar os problemas causados pelo aquecimento global.................................................................................50 Gráfico 5: Perspectivas para o futuro do planeta.............................................................................51 Tabela: 1: Conceito de aquecimento global na concepção dos estudantes.....................................52 Gráfico 6: Postura da escola diante dos últimos acontecimentos envolvendo as mudanças climáticas..........................................................................................................................................53 Gráfico 7: Material fornecido no Ensino Médio referente as mudanças climáticas........................54 Gráfico 8: Disciplina em que os discentes estudaram sobre o aquecimento global.........................55 Gráfico 9: Opinião dos alunos sobre como o aquecimento global poderia ser abordado em sala de aula...................................................................................................................................................56 Gráfico 10: Conteúdos vistos pelos alunos e que se relacionavam com o aquecimento global......57 Tabela 2: Opinião dos alunos a respeito da origem dos gases de efeito estufa................................59 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................10 1 AQUECIMENTO GLOBAL: HISTÓRICO, CAUSAS E EFEITOS SOBRE OS PRINCIPAIS ECOSSISTEMAS DA TERRA......................................................................................................14 1.1 Histórico do aquecimento global.............................................................................................14 1.2 Causas e efeitos sobre os diferentes ecossistemas da Terra....................................................15 1.3 Iniciativas criadas para minimizar as mudanças climáticas....................................................17 1.4 Fontes renováveis de energia e um novo futuro para o planeta...............................................19 1.4.1 Energia solar..........................................................................................................................20 1.4.2 Energia eólica........................................................................................................................20 1.4.3 Biodiesel para substituição dos combustíveis fósseis............................................................21 1.4.4 Cana-de-açúcar e produção de álcool etílico.........................................................................21 1.4.5 Energia proveniente de hidrogênio........................................................................................22 1.4.6 Biomassa e a produção do biogás..........................................................................................23 1.4.7 Principal base energética do Brasil........................................................................................23 1.5 A importância da informação para a contextualização do aquecimento global na sociedade atual................................................................................................................................................24 1.6 Interdisciplinaridade na abordagem do tema............................................................................27 1.7 Uma exploração CTS no ensino de Química............................................................................28 2 EDUCAÇÃO PARA FORMAÇÃO DE CIDADÃOS PARTICIPATIVOS E CONVICTOS EM SUAS DECISÕES............................................................................................................31 2.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) na abordagem do estudo de Química......................................................................................................................................31 2.2 Química na abordagem da Educação Ambiental e os desafios a serem alcançados para o desenvolvimento sustentável..........................................................................................................32 2.3 Meios de informação para conscientização da preservação ambiental....................................36 2.4 Alfabetização Científica: uma proposta para facilitar o processo de ensino e aprendizagem..38 3 METODOLOGIA DA PESQUISA.........................................................................................41 3.1 Características da pesquisa realizada........................................................................................41 3.2 Universo da pesquisa................................................................................................................44 3.3 Os procedimentos usados para coleta de dados........................................................................45 4 Resultados e discussões dos procedimentos metodológicos.......................................................47 4.1 Análise geral dos procedimentos desenvolvidos e posicionamento do público alvo em relação ao questionário................................................................................................................................47 4.2 Análises detalhada do questionário..........................................................................................47 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................60 REFERÊNCIAS.............................................................................................................................62 APÊNDICE: Questionário de entrevista........................................................................................67 ANEXO: Documento de autorização da pesquisa..........................................................................70 10 Introdução É sabido que o sistema educacional vigente passa por várias dificuldades em diferentes sentidos, principalmente a crise no ensino de ciências, o qual é de grande importância para que os alunos compreendam os fenômenos que os cercam e dessa maneira possam se relacionar com o mundo de forma geral (FOUREZ, 2003, p. 109-123). Segundo Gerard Fourez “O que é menos fácil é dar uma interpretação a essa crise. Ou ainda conceituar uma série de controvérsias que a cercam.” (FOUREZ, 2003, p. 110). Assim, concorda-se com a apreciação de Gérard Fourez, quando afirma que “Entre os atores dominantes desta crise, eu cito: os alunos, os professores de ciências, os dirigentes da economia, os pais, os cidadãos (trabalhadores manuais ou outros), etc.” (FOUREZ, 2003, p. 110). O processo de ensino e de aprendizagem não é um fator simples de ser efetuado e entendido por seus participantes, mas sim algo complexo. De acordo com Andrea Ramal “O ato de aprender mobiliza uma série de capacidades mentais e emocionais. Para que esse processo seja o mais possível, várias condições são necessárias.” (RAMAL, 2012, p. 47). Indivíduos questionadores e preocupados com o futuro do planeta são de suma importância para a sociedade atual e para que se consiga viver bem e deixar um mundo melhor para as gerações futuras. Dessa maneira pode-se entender melhor o real sentido da educação. De acordo com a LDB 9394/96 “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1996, art. 22). O aquecimento global é um assunto atual e muito controverso (VIEIRA; BAZZO, 2007). Quando se trata de um tema de grande magnitude em uma sociedade moderna, é fundamental abordar tais conceitos na área de educação para a devida formação de cidadãos participativos e conscientes em suas atitudes. Dessa forma deve-se incentivar a proposta da preservação ambiental. O aquecimento global vem assumindo grandes dimensões e efeitos catastróficos no cenário mundial devido às diversas mudanças climáticas e diferentes efeitos sobre os variados ecossistemas. De acordo com Robert E. Ricklefs “Os humanos adicionam CO 2 na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento e queima de florestas.” (RICKLEFS, 2003, p. 472-473). Entretanto, conforme afirma William F. Ruddiman “O 11 consenso científico de que as atividades humanas começaram a ter efeitos no aumento da temperatura da Terra durante o último século virou também parte da percepção pública.” (RUDDIMAN, 2005, p. 58). As preocupações com as mudanças climáticas e o gradual aumento da temperatura tornaram-se constantes e pertinentes no cotidiano popular; as iniciativas para a contenção do CO2 e outros gases de efeito estufa (GEE) são cada vez mais comuns em diferentes regiões do planeta. Assim pode-se admitir que “Uma parcela cada vez maior da população se convence de que seria prudente inverter a tendência de alta das emissões desse gás.” (SOCOLOW; PACALA, 2006, p. 30). Segundo Matthew Sturm “Cerca de 4 milhões de pessoas vivem no Ártico, e a mudanças climáticas vêm afetando a caça de subsistência, a indústria madeireira, o transporte e infraestrutura.” (STURM, 2010, p. 43). O efeito estufa não é algo novo na civilização. Ele já existia muitos anos antes da espécie humana evoluir. O efeito estufa é um fenômeno natural, afinal, se não fosse ele, não teriam surgido as mais variadas formas de vida no planeta Terra. (RICKLEFS, 2003, p. 472-475). Assim, de acordo com Robert E. Ricklefs: O dióxido de carbono (CO2) ocorre naturalmente na atmosfera. Sem ele, a Terra seria um lugar muito frio, porque a maior parte da luz do Sol absorvida pela superfície da Terra seria reirradiada de volta para as profundezas frias do espaço. Como está agora, o CO2 forma um cobertor isolante sobre a superfície terrestre que deixa o ultravioleta de comprimento de onda curto e a luz solar visível passarem, mas retarda a perda de calor na forma de radiação infravermelha de comprimento de onda longo. O vidro nas estufas funciona com mesmo princípio, e assim a função do CO2 na atmosfera é conhecida como efeito estufa. (RICKLEFS, 2003, p. 472). Assim concorda-se com a apreciação João Luis Nunes Carvalho et al., quando afirmam que O efeito estufa natural ocorre devido às concentrações de GEE na atmosfera antes do aparecimento do homem. A energia solar de comprimento de onda curto ultrapassa a atmosfera terrestre sem interação com os GEE presentes nessa camada. Ao atingir a superfície terrestre, a energia é refletida e volta para a atmosfera com um comprimento de onda mais longo (infravermelho), que interage parcialmente com os GEE nesta camada. Parte dessa irradiação é absorvida na atmosfera, aumentando consequentemente a temperatura média do ar. Essa interação permite que a temperatura média da atmosfera terrestre seja de 15 ºC, promovendo o chamado "efeito estufa natural", essencial para a existência da vida no planeta. (CARVALHO et al., 2010, p. 278). 12 Averiguar a percepção dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio do município de Campos dos Goytacazes/RJ é de grande importância nesse tema. A escola integrante dessa pesquisa foi o Colégio Estadual Leôncio Pereira Gomes, a qual esta situada no distrito de São Sebastião, desse mesmo município. O estudo foi efetuado por meio de questionários com questões objetivas e discursivas sobre os principais temas e conceitos relacionados ao aquecimento global e suas mais variadas formas de mudanças climáticas, o que é de fundamental importância para melhor entendimento de como está sendo desempenhado o papel da escola na abordagem e reflexão desse assunto no contexto educacional, além de verificar a contribuição das diversas mídias nesse contexto, analisar os meios e métodos didáticos utilizados pelos professores de Química em suas aulas e as conexões feitas pelos alunos no processo de ensino e aprendizagem. Essa pesquisa mostra-se como um instrumento bastante valioso no cotidiano das pessoas, com um enfoque maior para a disciplina de Química, a qual é desenvolvida no Ensino Médio (etapa final da educação básica) durante três anos. Essa etapa da educação é muito relevante para o discente no que diz respeito à formação do indivíduo para a vida social. De acordo com a LDB (9394/96), seção IV, art. 35: O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Enfatizar a disciplina de Química nesta pesquisa é muito importante, como pode ser observado nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM): “A Química participa do desenvolvimento científico-tecnológico com importantes contribuições específicas, cujas decorrências têm alcance econômico, social e político” (BRASIL, 2000 p. 30). O tema aquecimento global na disciplina de Química envolve a nomenclatura de diferentes compostos, reações químicas como em fenômenos de chuvas ácidas, alterações no 13 processo metabólico dos seres vivos e, principalmente, a questão da preservação ambiental entre outros fenômenos importantes para a manutenção da vida na Terra. Dessa maneira devese inserir uma nova percepção nos alunos para que possam olhar o mundo ao seu redor de forma interativa e dinâmica com os eventos biológicos, físicos e químicos; dessa forma estes sairão de uma posição de meros espectadores para protagonistas de novas respostas e iniciativas a fim de traçar um novo rumo de desenvolvimento e sustentabilidade para a sociedade. O aprendizado de Química não deve ser visto como algo estático, e sim dinâmico, multifacetado, o aluno deve ser capaz de interagir com os fenômenos e transformações do mundo físico, para compreender as informações provenientes dos diversos meios que os cercam (BRASIL, 2000, p. 31). Pode-se observar essa afirmação no PCNEM: O aprendizado de Química pelos alunos de Ensino Médio implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos. (BRASIL, 2000, p. 31). Entender como esses profissionais da educação e como o currículo escolar vem sendo desenvolvido diante desse cenário caótico, é essencial para criar uma nova visão de como deve ser a atuação dos novos profissionais da área de ciências que estão ingressando nessa sociedade emergente e deficiente de conceitos corretos e atualizados. De acordo com Fourez, “Os professores de ciências são duplamente atingidos. Inicialmente, eles têm de se “virar” face à crise da escola e à perda de poder e de consideração de sua profissão.” (FOUREZ, 2003, p. 111). Verificar a abordagem do ensino de Química sobre o assunto em relevância e qual o papel desempenhado pela escola como instituição que contextualiza os diferentes saberes, é de caráter extraordinário para que se possa extrair a verdadeira essência da percepção desses discentes diante da temática do aquecimento global. Assim, de acordo com Stürmer, Trevisol e Botton: Desse modo, o levantamento da percepção dos estudantes sobre o aquecimento global permite que se tenha uma noção das representações acerca do tema, que auxilie o trabalho docente, especialmente na tarefa de inserir os estudantes na discussão ambiental. Essa noção permitirá efetuar um planejamento mais eficaz e desenvolver melhor o tema, obtendo ganhos de aprendizagem entre os estudantes. (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 21-22). 14 1 Aquecimento global: histórico, causas e efeitos sobre os principais ecossistemas da Terra 1.1 Histórico do aquecimento global O aquecimento global é “[...] um fenômeno climático que vem se intensificando cada vez mais.” (VIEIRA; BAZZO, 2007, s. p.). Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) gases provenientes de atividades antrópicas, tais como, dióxido de carbono, metano e óxido nitroso acentuariam o efeito estufa e, consequentemente, o aumento da temperatura do planeta (IPCC, 2001, 2007 apud TAVARES et al., 2010, p. 100). Percebese, então, que a maioria dos processos provenientes das atividades humanas dos mais simples aos mais complexos, que ocorrem a todo momento, promovem a liberação de gases-estufa. Esses gases têm vários compostos químicos, mas seu principal representante é o dióxido de carbono (CO2), o qual intensifica cada vez mais o efeito estufa impedindo que grande parte da radiação solar seja dissipada e retorne ao espaço. Esse fenômeno funciona como se fosse um gigantesco “cobertor” que está sobre a superfície terrestre diminuindo, assim, a perda de calor, apresentando um funcionamento semelhante aos vidros de uma estufa (RICKLEFS, 2003, p. 472). Assim concorda-se com a apreciação de Robert E. Ricklefs, quando afirma que Em determinadas épocas no passado distante, a concentração de CO2, na atmosfera foi bem maior do que durante a recente experiência humana, e a temperatura média da Terra era correspondentemente muito mais alta. Conforme o CO2 atmosférico declinou nos últimos 50-100 milhões de anos, a Terra experimentou um gradual resfriamento, resultando numa expansão das zonas climáticas temperadas e boreal, e culminando na Era Glacial dos últimos milhões de anos. O problema que nós enfrentamos no aquecimento global não é que a Terra não tenha nunca estado tão quente, mas que o clima mudará tão rapidamente que os sistemas ecológicos para não mencionar a população humana – não serão capazes de acompanhar. (RICKLEFS, 2003, p. 472). A humanidade, ao longo de décadas, vem contribuindo bastante de forma geral com suas criações e tecnologias modernas para essa intensificação maciça do efeito estufa. O uso de combustíveis fósseis o desmatamento são alguns dos processos praticados pelos seres humanos que liberam CO2 na atmosfera, dessa forma com o crescimento da espécie humana os recursos naturais estão sendo consumidos muito rapidamente quando comparados ao seu processo de regeneração (RICKLEFS, 2003, p. 472-475). 15 Dessa forma concorda-se com a apreciação de William F. Ruddiman quando afirma que [...] atividades humanas ligadas à agricultura - primariamente o desmatamento e a irrigação de lavouras - devem ter jogado CO2 e metano extras na atmosfera. Essas atividades explicam tanto a reversão na tendência de concentração quanto o aumento constante até o início da era industrial. A partir de então, inovações tecnológicas modernas provocam aumentos ainda mais acelerados nos níveis de gases-estufa. (RUDDIMAN, 2005, p. 58). Assim, conforme afirma Robert E. Ricklefs “[...] a raça humana tem a escolha de adotar uma nova atitude em direção à sua relação com a Natureza. Somos parte da Natureza, não à parte da Natureza.” (RICKLEFS, 2003, p. 475). 1.2 Causas e efeitos sobre os diferentes ecossistemas da Terra A questão do aquecimento global na sociedade atual deve ser tratada com grande significância e clareza, não só para formação de pessoas bem informadas, como também de cidadãos questionadores e formadores de novos conceitos e opiniões. O período em que se vive é marcado por uma série de mudanças climáticas com consequências cada vez mais alarmantes, que estão de certa forma interligadas e afetam as mais variadas formas de vida nos diferentes ecossistemas da Terra. De acordo com Matthew Sturm “Mesmo antes de um urso-polar sobre um minúsculo pedaço de gelo ser capa da revista Time em 2006, estava claro que o mar de gelo do Ártico estava derretendo rapidamente” (STURM, 2010, p. 43-44). O aumento de CO2 e de outros GEEs na atmosfera se deve a uma série de fatores que vem ocorrendo há décadas, como o desmatamento, a queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral), a agropecuária e o aumento na produção de lixo, esgoto entre outros (AMABIS, MARTHO, 2004, p. 396). Dessa forma o aumento da temperatura no planeta põe em risco a vida de muitas espécies características desse ambiente tão lindo e sensível ao mesmo tempo às ações antropogênicas. Assim é fundamental estimular iniciativas para uma redução dos fatores que aumentam as concentrações de gases estufa, e o primeiro passo a ser dado nessa jornada é a divulgação de informações. Concorda-se, assim, com a apreciação de Robert H. Socolow e Stephen W. Pacala quando afirmam que “Recuo das geleiras, furacões mais fortes e frequentes, verões tórridos, ursos polares magros. Os sinistros sinais do aquecimento global estão levando empresas e governos a buscar uma redução sem precedentes no uso de combustíveis fósseis” (SOCOLOW, PACALA, 2006, p. 30). 16 Um dos maiores vilões nesse cenário de mudanças climáticas é o dióxido de carbono, que vem aumentando sua quantidade na atmosfera terrestre em escala exponencial desde a Revolução Industrial. Neste momento os seres humanos passaram a empregar diferentes técnicas de se obter energia, como o uso de petróleo e de carvão mineral (AMABIS, MARTHO, 2004, p. 396). De acordo com William F. Ruddiman “Com o surgimento de fábricas e usinas termelétricas movidas a carvão mineral, as sociedades industriais passaram a liberar no ar dióxido de carbono (CO2) e outros gases-estufa. Mais tarde, veículos a motor deram sua contribuição para essas emissões” (RUDDIMAN, 2005, p. 58). A superpopulação humana, que vem crescendo significativamente a cada ano, consome os recursos naturais tão rapidamente que mal dá tempo de serem regenerados pelos sistemas ecológicos. Devem-se incentivar estratégias que visem à sustentabilidade, uso de fontes de energias renováveis, como também a recuperação de ambientes degradados (RICKLEFS, 2003, p. 473). Os seres humanos serão os mais afetados diante dessa problemática. Dessa maneira se não forem estabelecidas e colocadas em práticas mudanças vigorosas e ecologicamente corretas no hábito de vida das pessoas, essas irão sofrer consequências sérias e drásticas, que colocarão em risco a manutenção da própria espécie e de toda biodiversidade existente. Conforme afirma Robert E. Ricklefs “[...] problemas potenciais incluem a inundação de comunidades costeiras pela elevação do nível do mar alimentada pelo derretimento das calotas de gelo polar e pela expansão de água oceânica aquecida.” (RICKLEFS, 2003, p. 473). Além desses problemas apresentados existem inúmeros outros derivados das mudanças climáticas que ocorrem periodicamente em diferentes partes do planeta com efeitos devastadores. Segundo Mark Fischetti “Se o nível do mar subir de modo significativo devido ao aquecimento global nos próximos anos, cidades costeiras, como Nova York, terão de tomar medidas de proteção semelhantes às propostas para a Louisiana.” (FISCHETTI, 2005, p. 28). Um dos principais efeitos do aquecimento global é sobre a temperatura do planeta, a qual está se elevando gradativamente e vem alterando e modificando a Terra de forma rápida, podendo tornar os períodos de secas e o clima quente cada vez mais intensos; o quê põe em risco toda organização e o correto funcionamento de diferentes ecossistemas. Um exemplo disso pode ser observado nas regiões polares que estão derretendo, e os níveis do mar que estão aumentando, o que provocaria, consequentemente, inundações de cidades litorâneas levando à destruição de diferentes ambientes, como também pondo em risco a vida de várias 17 espécies pertencentes tanto à fauna, quanto à flora de cada região (AMABIS, MARTHO, 2004, p. 397). Assim, concorda-se com a apreciação de Purves et al. quando afirmam que A temperatura média global aumentou constantemente durante os últimos 20 anos e as camadas de gelo que circundam as massas de terra polares tornaram-se mensuravelmente menores e mais finas. Os níveis do mar aumentaram, em média, uns poucos centímetros em todo o mundo, e algumas ilhas, tais como Bermudas, têm observado efeitos ainda maiores. Se o aquecimento global resultar no derretimento das calotas de gelo da Antártida e da Groenlândia, o aumento do nível do mar inundará cidades costeiras e terras agrícolas. (PURVES et al., 2002, p.1003). De acordo com Tavares et al. “O aquecimento global seria responsável por mudanças climáticas, pelo derretimento de geleiras, pela elevação do nível do mar, pela disseminação de doenças, pragas e por tempestades, enchentes, secas e furacões, entre outros efeitos.” (TAVARES et al., 2010, p. 100-101). Assim, concorda-se com a apreciação de Mark Fischetti quando afirma que É claro que até 2100 a acelerada mudança climática fará o nível do mar subir mais a cada década. Segundo Jacob, a chance anterior, de uma maré de tempestade inundar Nova York uma vez em 100 anos, se transformará em uma em 50 durante qualquer ano da década de 2020; depois em uma a cada 15 anos durante a década de 2050; e em uma a cada dois até os anos 2080. Cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) dizem que a possibilidade de uma tempestade em 100 anos será igual a cada três anos, até 2100. (FISCHETTI, 2013, p. 56). 1.3 Iniciativas criadas para minimizar as mudanças climáticas Uma das iniciativas mais importantes já elaboradas para conter as emissões de GEEs e consequentemente diminuir os efeitos provocados pelo aquecimento global foi o protocolo de Kioto. Esse documento de suma significância surgiu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, no ano de 1992, dando origem assim à ECO-92. O objetivo principal dessa conferência era de os países desenvolvidos diminuírem suas emissões de GEEs para um nível aceitável, mas nos anos seguintes foi observado que pouca coisa foi feita para reverter esse quadro. Em 1997 ocorreu a terceira Conferência das Partes, em Kioto, no Japão, onde foi aprovado o documento denominado Protocolo de Kioto. De acordo com esse documento países 18 industrializados deveriam reduzir suas emissões em no mínimo 5% entre o período de 2008 e 2012 (AMABIS, MARTHO, 2004, p. 397). No ano de 2002, dez anos depois da ECO-92, na África do Sul em Johannesburgo, esse período foi marcado por um evento muito importante que daria continuidade aos objetivos da ECO-92, entraria em cena a Rio+10. Mas o protocolo de Kioto se tornou lei internacional a partir de 2005 com a adesão da Rússia, apresentando, assim, o número necessário de países envolvidos nessa causa (AMABIS, MARTHO, 2004, p. 397). Dando continuidade ao evento da Rio+10 e visando solucionar as possíveis questões ambientais, ocorreu no Rio de Janeiro, Brasil, em 2012, um dos mais importantes eventos, a Rio+20, com participação de 188 estados-membros. Essa iniciativa não teve resultados satisfatórios. Para o WWF-Brasil os líderes ali presentes desperdiçaram uma grande oportunidade de direcionar o planeta para o desenvolvimento sustentável. Alguns pontos positivos desenvolvidos nessa reunião foram os seguintes: nove bancos investidores e seguradoras apelaram para a valorização do capital natural, lançamento do Plano Monçambique visando uma economia verde; o Reino Unido será o primeiro país que passara à averiguar se grandes empresas controlam suas emissões de carbono; mais de mil empresas devem medir suas emissões de GEEs; houve, também, estímulos para o sistema de transporte público como ônibus, ciclovias e trens, entre outros aspectos significativos. Mas de acordo com o WWF-Brasil já foi utilizado mais de 50% dos recursos naturais do planeta. Se nada for feito, estipula-se que até 2030 nem dois planetas serão suficientes para conter esse consumismo (WWF-Brasil, 2012, p. 17-20). De acordo com o Relatório Anual de 2012 do WWF-Brasil Diante dos resultados, considerados decepcionantes, o WWF-Brasil integrou a iniciativa de um grupo de representantes da sociedade civil que se organizou para produzir uma carta em resposta ao documento, intitulada “A Rio+20 que não queremos”. A carta entregue ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ressalta que os signatários consideram o texto fraco e muito aquém da importância e da urgência dos temas abordados. (WWF-Brasil, 2012, p. 18). 19 1.4 Fontes renováveis de energia e um novo futuro para o planeta O trabalho braçal foi, por muito tempo, utilizado pelos seres humanos para realizar os mais variados tipos de atividades em suas práticas diárias, desde a confecção de suas próprias moradias até a plantação e cultivo de lavouras para obtenção de alimentos. No século XVIII, com a Revolução Industrial e com o surgimento das máquinas a vapor e, gradativamente, das movidas por eletricidade, surgiu um novo conceito na sociedade da época, o de energia. Para o conceito de energia ainda não há uma definição muito precisa (NERY; KILLNER, 2012, p. 174). De acordo com Nery e Killner; “[...] a idéia mais aceita é a de que ela está relacionada com a possibilidade de um sistema de realizar algum tipo de trabalho físico – movimentar algum corpo ou transformar as propriedades da matéria.” (NERY; KILLNER, 2012, p.174). As formas mais conhecidas de energia são: elétrica, mecânica, química e térmica. Atualmente os físicos reconhecem três formas principais de energia, que são as seguintes: energia eletromagnética, energia gravitacional e energia nuclear. Outras formas de energia como solar, luminosa, eólica, entre outras, estão relacionadas a algumas dessas três formas. Dessa maneira sempre que se necessita de energia para qualquer atividade a ser realizada, ela é proveniente de outra forma de energia existente, a qual passa por transformações gradativas (NERY; KILLNER, 2012, p. 174). O crescimento populacional na civilização é algo iminente. Assim, deslocamento de pessoas e consumo de materiais das mais variadas formas se fazem crescentes e por trás de toda essa situação o gasto de energia é cada vez maior. As formas de combustíveis mais disseminadas para o deslocamento de materiais e pessoas são: gasolina, óleo diesel (origem fóssil) e etanol (bicombustíveis). Como já foi comentado inicialmente a queima de combustíveis fósseis favorece o aumento de GEEs na atmosfera terrestre. Portanto a procura por combustíveis, que não agravem tanto o planeta é de extrema importância para a sociedade vigente. Pesquisas mais recente destacam novas alternativas que sejam renováveis como o emprego de motores que funcionem à eletricidade, energia solar e hidrogênio, as quais são fontes não ou pouco poluidoras do ambiente, e seu emprego, à medida que mais pessoas e grupos sociais tendem a aderir o seu uso, pode diminuir os problemas enfrentados pelo clima da Terra (NERY; KILLNER, 20012, p. 185). Conforme afirmam Souza, Pereira e Pavan “As tecnologias a base de fontes renováveis de energia são atrativas não só devido às vantagens ambientais, mas também sociais.” (SOUZA, PEREIRA, PAVAN, 2004, s. p.). 20 De acordo com Amory B. Lovins “Usar energia com mais eficiência oferece vantagens econômicas – não pelos benefícios de interromper o aquecimento global, mas porque economizar combustíveis fósseis é bem mais barato do que comprá-los.” (LOVINS, 2005, p. 66). Ainda segundo esse mesmo autor “Aprimorar a eficiência é o passo mais essencial para a criação de um sistema de energia seguro para o clima, mas mudar para combustíveis que emitam menos carbono também terá papel importante.” (LOVINS, 2005, p. 68). Dessa forma concorda-se com a apreciação de Daniel M. Kammen que afirma “Para conter a alarmante tendência de aquecimento global, o mundo deve assumir um compromisso sério com o desenvolvimento de fontes renováveis de energia, que gerem pouco ou nenhum carbono.” (KAMMEN, 2006, p. 53). Ainda de acordo com Kammen: “No futuro, células solares, turbinas eólicas e biocombustíveis se tornarão fontes de energia essenciais.” (KAMMEN, 2006, p. 52). 1.4.1 Energia solar A energia solar é obtida por meio de células solares que utilizam semicondutores capazes de converter a energia luminosa do Sol em corrente elétrica. Esse tipo de energia tem a capacidade de produzir cerca de cinco mil vezes mais energia do que o mundo gasta atualmente. Portanto um dos maiores desafios nessa tecnologia é diminuir o custo das células solares, que são caras para serem fabricadas. As células solares podem ser facilmente instaladas desde em telhados de casa, em paredes, no quintal ou em áreas abertas próximas à residência (KAMMEN, 2006, p. 54). Conforme afirma Daniel M. Kammen: Os painéis normalmente utilizam células feitas com filmes finos de silício amorfo, que apesar de terem apenas a metade da eficiência das cristalinas, custam quatro vezes menos. Portanto, esse tipo de célula é o mais acessível para os 2 bilhões de pessoas no mundo que vivem sem eletricidade. (KAMMEN, 2006, p. 54). 1.4.2 Energia eólica A energia eólica também é outro campo das fontes renováveis que está em constante expansão. Seu ritmo, contudo, é comparável ao da energia solar. As turbinas fabricadas estão cada vez maiores e com uma melhor eficiência, mas como toda regra tem sua exceção, há certa dificuldade à adesão do uso da energia eólica, marcada principalmente pelas empresas de eletricidade que dificultam a implantação dessa técnica e, em um segundo momento, a resistência é de origem estética, uma vez que essa tecnologia modifica a paisagem 21 característica de cada região (KAMMEN, 2006, p. 57). Assim, concorda-se com a apreciação de Daniel M. Kammen quando afirma que “As necessidades energéticas no mundo aumentam inexoravelmente, e a rejeição da energia eólica resulta na necessidade de construir ou expandir usinas movidas a combustíveis fósseis, cujos efeitos ambientais serão bem mais devastadores.” (KAMMEN, 2006, p. 57). 1.4.3 Biodiesel para substituição dos combustíveis fósseis Outra forma sustentável para se promover a substituição dos combustíveis fósseis é por meio dos biocombustíveis e um desses é o biodiesel. O setor de transportes é um dos maiores consumidores de combustíveis fósseis e, consequentemente, vem contribuindo bastante para o aumento das concentrações de GEEs. Assim, os biocombustíveis aparecem neste cenário de problemas como uma solução para o aquecimento global. Esse tipo de combustível pode ser produzido em diferentes locais e, além disso, é uma fonte renovável de energia com emissões praticamente nulas de CO2. Boas perspectivas são esperadas para o biodiesel que aparece como uma opção alternativa ao óleo diesel (origem fóssil). O biodiesel é proveniente de óleos de mamona, soja, entre outros vegetais; também pode ser oriundos, de produtos animais (RIBEIRO, 2006, p. 60-63). Conforme afirma Suzana Kahn Ribeiro: “Do ponto de vista econômico, representa muitas vezes um combustível mais barato e produzido localmente, como o caso do álcool brasileiro.” (RIBEIRO, 2006, p. 63). 1.4.4 Cana-de-açúcar e produção de álcool etílico O solo brasileiro é favorável ao plantio de muitos vegetais e um desses é a cana-de-açúcar, que é matéria prima para a produção de álcool etílico (etanol), um biocombustível que surge como alternativa à substituição, principalmente, da gasolina (origem fóssil). Desde o período que o Brasil era colônia a indústria para a produção de açúcar e álcool vem sendo utilizada, surgindo assim, em 1975, o Proálcool. A partir dessa iniciativa a indústria automobilística começou a colocar no mercado automóveis que utilizam álcool, uma alternativa ecologicamente correta. O mercado do petróleo na década de 1980 em baixa, reduziu os financiamentos para novas destilarias (FURTADO; SCANDIFFIO, 2006, p. 66-68). Assim, concorda-se com a apreciação de André Tosi Furtado e Mirna Ivonne Gaya Scandiffio quando afirmam que 22 O mercado do álcool voltou a crescer somente depois dos recentes aumentos nos preços dos derivados de petróleo. A queda do preço do álcool hidratado em relação ao da gasolina fez com que a aquisição de veículos a álcool se tornasse novamente vantajosa. Ainda assim, os consumidores, com amargas lembranças dos tempos de escassez do combustível no mercado interno e incertos sobre a manutenção do preço mais baixo que o da gasolina (estimado em 70% desde), hesitavam em voltar a adquirir veículos novos a álcool. A saída encontrada pela indústria automobilística foi introduzir os carros flex, que podem rodar com álcool ou gasolina em qualquer proporção dando ao consumidor a possibilidade de trocar de combustível de acordo com o respectivo nível de preço e disponibilidade no mercado. (FURTADO; SCANDIFFIO, 2006, p. 68). Dessa forma o sucesso dos automóveis flex foi extraordinário “esquentando” mais uma vez o mercado do álcool, que chegou a alcançar a marca dos 15 milhões de m3 nos anos 1990, as áreas de plantios foram aumentadas entre os anos de 1975 e 2004 (FURTADO; SCANDIFFIO, 2006, p. 69). De acordo com André Tosi Furtado e Mirna Ivonne Gaya Scandiffio “O Brasil pode suprir metade da demanda mundial de álcool anidro caso este seja adicionado na proporção de 10% a toda a gasolina que se espera consumir até 2025” (FURTADO; SCANDIFFIO, 2006, p. 70). Ainda segundo esses mesmos autores “A expansão da produção de álcool no Brasil terá de seguir uma trajetória bem diferente da que sustentou o Proálcool” (FURTADO; SCANDIFFIO, 2006, p. 71). 1.4.5 Energia proveniente de hidrogênio Novos caminhos são traçados para fontes renováveis de energia no setor de transportes com o hidrogênio. Porém a substituição dos combustíveis fósseis para essa nova técnica não ocorrerá de forma tão rápida assim. Para que seja feita uma transição dos combustíveis fósseis para fontes não poluidoras durante um prazo maior a alternativa pode ser feita com veículos elétricos e movidos a hidrogênio. Os veículos que são capazes de combinar hidrogênio com oxigênio não emitem gases poluentes, apenas vapor de água e apresentam uma superioridade em relação aos veículos movidos à gasolina. O hidrogênio para essa nova técnica será proveniente do processo de eletrólise, que converte a molécula de água em hidrogênio e oxigênio (OGDEN, 2006, p. 72). Dessa forma concorda-se com a apreciação de Joan Ogden quando afirma que “O aumento de interesse no hidrogênio é causado não apenas por seus benefícios ambientais de longo prazo, mas por seu potencial para estimular inovações” (OGDEN, 2006, p. 75). De acordo com Joan Ogden “Embora a transição possa demorar várias décadas, os veículos movidos a hidrogênio deverão ajudar a proteger o clima global [...]” (OGDEN, 2006, p. 79). 23 1.4.6 Biomassa e a produção do biogás Outra forma de geração de energia renovável é por meio de biomassa (SOUZA, PEREIRA, PAVAN, 2004, s. p.). De acordo com Souza, Pereira e Pavan “[...] a biomassa é renovável e não contribui para o acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera terrestre, ou melhor, todo CO2 liberado durante o uso da biomassa é absorvido novamente no processo de fotossíntese para formação da mesma.” (SOUZA, PEREIRA, PAVAN, 2004, s. p.). Assim concorda-se com a apreciação dos seguintes autores quando afirmam que; Uma das alternativas tecnológicas mais promissoras diz respeito ao aproveitamento da biomassa para geração de energia. Conforme a literatura, a tecnologia de biodigestão anaeróbia de dejetos animais, principalmente de suínos, apresenta diversas vantagens, em que uma delas é a produção de biogás e biofertilizantes, produtos de elevado valor agregado, redução da poluição dos recursos hídricos, facilidade de implantação e operação. (LEITE et al., 2003; AMARAL et al., 2004; ARAÚJO et al., 2007; FACTOR et al., 2008; SILVA, CAMPOS, 2008 apud GALBIATTI et al., 2010, p. 433). Segundo, Souza, Pereira e Pavan “O biogás é um combustível gasoso com um conteúdo energético elevado semelhante ao gás natural. Este combustível pode ser utilizado para geração de energia elétrica, térmica ou mecânica em uma propriedade rural.” (SOUZA, PEREIRA, PAVAN, 2004, s. p.). Conforme afirmam Souza et al. e Coelho et al. “O biogás possui, como composição típica, 60% de metano, 35% de dióxido de carbono e 5% de uma mistura de hidrogênio, nitrogênio, amônia, ácido sulfídrico, monóxido de carbono, aminas voláteis e oxigênio.” (SOUZA et al., 2005; COELHO et al., 2006 apud GALBIATTI et al., 2010, p. 433). De acordo com Fernandes e Testezlaf A utilização de biodigestores contribui para a integração das atividades agropecuárias, aproveitando o esterco ao qual, normalmente, é dado pouco ou nenhum valor comercial, convertendo-o em duas bases para o desenvolvimento sustentável: em energia renovável e em fertilizante orgânico; com isto, proporciona aumentos na produção agrícola e energia para a transformação dos produtos, agregando valor, organizando a produção, aumentando a conservação e melhorando a logística de comercialização (FERNANDES, TESTEZLAF, 2002 apud GALBIATTI et al., 2010, p. 433). 1.4.7 Principal base energética do Brasil De acordo com Souza, Pereira e Pavan “O Brasil é um país com tradição no uso de fontes renováveis de energia, onde se destaca o uso da energia hidrelétrica como sendo responsável 24 pela maior parcela (acima de 80%) de toda geração de eletricidade.” (SOUZA, PEREIRA, PAVAN, 2004, s. p.). Conforme afirma Luiz Pinguelli Rosa “País alcançou a auto-suficiência na produção de petróleo e ainda tem um grande potencial hidrelétrico a explorar, mas precisa investir em outras fontes não-poluentes para impedir uma crise energética no futuro.” (ROSA, 2006, p. 90). Assim, conforme afirma Luiz Pinguelli Rosa Um dos entraves à criação de novas hidrelétricas ou de mais investimento nas antigas é que recentemente se descobriu que as usinas, ao contrário do que se imaginava, emitem gases de efeito estufa (principalmente por causa da decomposição da cobertura vegetal alagada para a criação de represas), embora, em geral, menos que uma termelétrica convencional. (ROSA, 2006, p. 92-93). Assim, concorda-se com a apreciação de Philip M. Fearnside quando afirma que Embora hoje seja amplamente reconhecido que represas hidrelétricas emitem gases de efeito estufa, muita discordância permanece sobre as questões de quanto é emitido e quando, de que fontes são derivados os gases e quanto dessa emissão é uma contribuição líquida ao efeito estufa. (FEARNSIDE, 2008, p. 100). 1.5 A importância da informação para a contextualização do aquecimento global na sociedade atual Todas essas iniciativas apresentadas anteriormente têm um único objetivo em comum: a preservação e manutenção da biodiversidade do planeta. Diante de tais propostas criadas em diferentes partes do mundo, por vários líderes, para conter os avanços destrutivos do aquecimento global com suas consequentes mudanças climáticas, chega-se à proposta nesta pesquisa, de averiguar a percepção de discentes do terceiro ano do Ensino Médio a respeito desse tema que esta diretamente ligado a uma série de conceitos e opiniões diversificadas no meio acadêmico e na sociedade de forma geral. Assim, concorda-se com a apreciação de Tavares et al. quando afirmam que Nesse contexto, o tratamento de tal conteúdo no ensino médio, de forma interdisciplinar, desvinculado de paixões e sem uma visão catastrófica iminente, como muitas vezes exposta na mídia, é muito importante para a formação de opiniões e para que a população deste nível escolar, composta por adolescentes prestes a ingressar nas universidades, passe a acompanhar, com interesse, a divulgação de pesquisas e dos debates sobre o tema. (TAVARES et al., 2010, p. 101). 25 Os alunos, devem se posicionar na sociedade vigente de forma mais interativa com assuntos de grande repercussão, como é o caso do aquecimento global, pois dessa forma estes poderão atuar de maneira mais dinâmica e fornecer opiniões adequadas a determinados termos referentes a essa temática. Entender o assunto num nível de conhecimento adequado é de extrema importância para que se possam ter indivíduos participativos e coerentes diante de tais questionamentos. O papel da escola como instituição formadora e os métodos pedagógicos de ensino que são utilizados atualmente, é sem dúvida um elemento essencial para que se possa averiguar a percepção desses discentes. De acordo com Tavares, et al “...conhecer as principais fontes de informação a que eles tiveram acesso e suas posições pessoais diante de um assunto polêmico.” (TAVARES et al., 2010, p. 101). Em uma pesquisa realisada por Stürmer, Trevisol e Botton para analisar percepções de estudantes do Ensino Médio acerca do aquecimento global, foi verificado que quando questionados sobre os problemas mais preocupantes da atualidade o aquecimento global se destaca quando comparado a outros de grande repercussão na mídia como fome no mundo, guerras, desemprego, entre outros (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 23). Os acontecimentos envolvendo o aquecimento global vem se tornando cada vez mais evidentes no dia-a-dia, sendo noticiados por meio das mais variadas fontes de informações, como tema de debates bastante frequentes entre diferentes grupos sociais. Concorda-se, assim, com Stürmer, Trevisol e Botton quando afirmam que O aquecimento global é um problema ambiental que, cada vez mais, faz-se presente na pauta de discussões dos círculos de decisão econômica, política, de saúde, saneamento e segurança alimentar, tornando-se, ainda, uma questão sociopolítica de suma importância no mundo atual. Como tema interdisciplinar relevante, é frequentemente abordado pela mídia, atingindo grande parcela da opinião pública mundial e local. (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 21). A instituição escolar diante desse quadro de questionamentos ocupa uma posição fundamental na mediação de tais conceitos a fim de se ter uma sociedade que vise o desenvolvimento. De acordo com Orlando Figueiredo “Educar para a sustentabilidade é um dos principais desafios com que os professores se debatem neste início de século.” (FIGUEIREDO, 2006, p. 4). As discussões em torno do aquecimento global e de suas mais variadas formas de mudanças climáticas no contexto escolar de forma prática, dinâmica e interdisciplinar são de 26 grande importância. Para Orlando Figueiredo “A práticas de sala de aula influenciam as perspectivas que os alunos têm não só sobre o mundo, as questões de sustentabilidade, mas também sobre a ciência.” (FIGUEIREDO, 2006, p. 5). Essas atividades evidenciam o momento em que os alunos conseguem migrar do velho e formal conceito dos livros didáticos, para um novo campo em que eles tecem e testam suas novas explicações para esses temas controversos. Vieira e Bazzo, baseados em autores como Reis (1999), Reis e Galvão (2005), Freitas et al. (2006). [...] a importância de se discutir controvérsias científicas em sala de aula. Defendese que a não inclusão de temas controversos no ensino de ciências pode contribuir para a transmissão de idéias distorcidas que freqüentemente descrevem a ciência como não controversa, neutra, despojada de interesses e altruísta. Em contrapartida, a abordagem de situações controversas pode propiciar aos alunos uma imagem mais realista da ciência. (VIEIRA, BAZZO, 2007, s. p.). A sala de aula é o ambiente de contextualização em que esses temas são entendidos e discutidos no processo de ensino-aprendizagem, embora os alunos muitas vezes, na prática não consigam dar as explicações devidas a respeito de um tema ou o fazem de forma bastante divergente. Segundo Pedracini et al. “Quando há a necessidade de aplicar o conhecimento escolar às questões práticas do dia-a-dia os alunos sentem-se despreparados para emitir opiniões a respeito.” (PEDRANCINI et al., 2008 apud SOUZA, FARIAS, 2011, p. 22 ). Quando se trata desses assuntos pertinentes às mudanças climáticas deve-se ter uma boa fundamentação em informações sobre questões de preservação ambiental, já que os ecossistemas vem sendo constantemente degradados pelas ações antrópicas. Dessa forma a conscientização é a melhor forma para tentar atingir alguns objetivos e vantagens do desenvolvimento sustentável. Concorda-se, assim, com a apreciação de Pedro Jacobi: “A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam a comunidade.” (JACOBI, 2003, p. 191). Essa ideia de sustentabilidade deve ser abordada no cotidiano escolar de forma mais intensiva. Portanto entender o nível de informação desses alunos do terceiro ano do Ensino Médio sobre temas referentes ao aquecimento global é uma forma para analisar os possíveis pontos positivos e negativos do aprendizado que foi executado ao longo dos anos de estudo desses discentes. 27 1.6 Interdisciplinaridade na abordagem do tema A partir do momento em que os discentes estão inseridos na discussão do aquecimento global pode-se traçar novos caminhos de aprendizagens, para tratar esse tema com a devida atenção. Dessa forma ocorrerá a formação de cidadãos conscientes de seus atos, preocupados e dispostos a debaterem as questões ambientais, como a preservação ambiental e o futuro do planeta. De acordo com Stürmer, Trevisol e Botton “Essa noção permitirá efetuar um planejamento mais eficaz e desenvolver melhor o tema, obtendo ganhos de aprendizagem entre os estudantes.” (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 21). Assim o professor se encontra em uma nova “arena” do saber em que reinaram as habilidades e competências de forma dinâmica e objetiva. De acordo com Figueiredo, "Neste contexto, a perspectiva que os professores construíram do seu papel enquanto educadores, assume particular importância.” (FIGUEIREDO, 2006, p. 4). Uma forma interessante e de grande importância no cotidiano escolar para se trabalhar com temas atuais como é o caso do aquecimento global, é fazer uso da interdisciplinaridade. Segundo Lavaqui e Batista, [...] uma questão que merece atenção especial e se apresenta como objeto de reflexão está ligada ao entendimento da interdisciplinaridade como uma ação educativa escolar, de forma que se possam encontrar subsídios para a adoção ou concepção de uma proposta de trabalho que se apresente como geradora de Educação Científica e factível de ser implementada, levando em consideração as condições atuais encontradas na Escola Média. (LAVAQUI, BATISTA, 2007, p. 400). De acordo com Fourez “A necessidade de tornar os conteúdos científicos escolares dotados de significado, bem como de discutir o papel das ciências e das tecnologias na sociedade contemporânea, tornou-se questão das mais importantes no cenário educacional das duas últimas décadas.” (FOUREZ, 2002 apud PIETROCOLA, ALVES FILHO, PINHEIRO, 2003 p. 131). Pode-se observar, também, a importância do processo de interdisciplinaridade nos PCNEM: [...] a interdisciplinaridade do aprendizado científico e matemático não dissolve nem cancela a indiscutível disciplinaridade do conhecimento. O grau de especificidade efetivamente presente nas distintas ciências, em parte também nas tecnologias associadas, seria difícil de se aprender no Ensino Fundamental, estando naturalmente reservado ao Ensino Médio. (BRASIL, 1999, p. 6). 28 O conhecimento nas diversas disciplinas que formam a grade do Ensino Médio deve ser articulado e menos fragmentado, para que o aluno esteja integrado a todo o momento neste mundo que é tão dinâmico. Assim, essas competências e habilidades cognitivas e afetivas no ensino de Química devem levar os alunos a uma nova reflexão como cidadãos na sociedade da qual fazem parte (BRASIL, 2000, p. 32). De acordo com os PCNEM “O mundo atual exige mais do que a interpretação das informações. Exige também competências e habilidades ligadas ao uso dessas interpretações nos processos investigativos de situações problemáticas, objetivando resolver ou minimizar tais problemas.” (BRASIL, 2000, p. 34-35). O conteúdo envolvendo o aquecimento global e suas consequentes mudanças climáticas, podem ser abordadas nas diferentes disciplinas que perfazem os anos de escolaridade do Ensino Médio, como também pode ser desenvolvido desde o Ensino Fundamental tornando assim um trabalho inovador e permanente na educação básica, dessa maneira os discentes poderão ter um melhor conhecimento em detalhes do tema. Assim concorda-se com a apreciação de Pietrocola, Alves e Pinheiro, quando afirmam que; Embora seja fácil constatar que o ensino disciplinar tem sido incapaz de abarcar a diversidade do mundo, as alternativas não-disciplinares trazem consigo outros problemas, especialmente a dificuldade em se lidar com situações não delimitadas por fronteiras epistemológicas bem definidas. (PIETROCOLA, ALVES, PINHEIRO, 2003, p.132). A abordagem da interdisciplinaridade envolvendo temas referentes ao aquecimento global no Ensino Médio é de grande valia, uma vez que, esse conteúdo pode ter diferentes abordagens nas disciplinas que perfazem o currículo desses anos de escolaridade. Observar a influência no processo de ensino e aprendizagem desse método (interdisciplinaridade) é de extrema importância frente aos questionamentos atuais. 1.7 Uma exploração CTS no ensino de Química Outra abordagem que merece destaque nesta discussão e que fascina o aprendizado de Química no Ensino Médio é a proposta Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). De acordo com Auler e Bazzo A partir de meados sentimento de que estava conduzindo, social. Após uma do século XX, nos países capitalistas centrais, foi crescendo o o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico não linear e automaticamente, ao desenvolvimento do bem-estar euforia inicial com os resultados do avanço científico e 29 tecnológico, nas décadas de 1960 e 1970, a degradação ambiental, bem como a vinculação do desenvolvimento científico e tecnológico à guerra (as bombas atômicas, a guerra do Vietnã com seu napalm desfolhante) fizeram com que a ciência e a tecnologia (C&T) se tornassem alvo de um olhar mais crítico. (AULER, BAZZO, 2001, p. 1). Assim concorda-se com a apreciação de Strieder e Kawamura quando afirmam que No Brasil, os currículos de ciências começaram a incorporar as discussões sobre CTS no final da década de 80, quando passou a ser reivindicado um ensino de ciências que contribuísse para a compreensão e uso da tecnologia e para a consolidação da democracia. (STRIEDER, KAWAMURA, 2009, s. p.). Para Auler e Bazzo “Um dos objetivos centrais desse movimento consiste em colocar a tomada de decisões em relação à C&T num outro plano. Reivindicam-se decisões mais democráticas (maior número de atores sociais participando) e menos tecnocráticas.” (AULER, BAZZO, 2001, p. 2). Segundo Esteves A abordagem CTS requer do professor uma perspectiva interdisciplinar e tempo para estudar e preparar suas aulas. Muitas vezes, esse professor se sente inseguro para a preparação das aulas e tem receio de ensinar menor número de conceitos científicos ao utilizar essa abordagem. (ESTEVES, 2009 apud VASCONCELOS et al., 2012, p. 379). Santos, Amaral e Maciel destacam que “a experiência do professor, suas explicações e o direcionamento metodológico sobre o uso dos elementos CTS contribuíram de forma significativa para a abordagem mais sistemática dos temas sociocientíficos.” (SANTOS, AMARAL, MACIEL, 2010, p.176 apud VASCONCELOS et al. 2012, p. 379). Portanto, conforme afirmam Marconde et al. É preciso a participação ativa do professor discutindo, explicitando e refletindo sobre suas concepções, trocando ideias e experiências. Isto demanda orientação, pesquisa, ações que os auxiliem na elaboração de seus próprios projetos e colaboração conjunta na construção de materiais didáticos (MARCONDE et al., 2009, p. 282 apud VASCONCELOS et al., 2012, p. 379). Dessa maneira a proposta CTS visa facilitar o trabalho docente seja na disciplina de Química ou em outras, levando o conhecimento científico a outro “patamar” e promovendo de maneira interdisciplinar o processo de ensino e aprendizagem. Nesse momento tanto o aluno quanto o professor saem ganhando na aprendizagem dos conteúdos de forma interativa e prazerosa. De acordo com Angotti e Auth Relações sociais em tempo de incertezas são, de um lado, determinantes para o desenvolvimento da C&T; de outro, são atingidas por esse desenvolvimento e nos 30 desafiam a criar estratégias adaptativas e a buscar novas possibilidades no campo do ensino/aprendizagem. (ANGOTTI, AUTH, 2001, p. 19). Assim, concorda-se com a apreciação de Vieira e Bazzo “[...] a abordagem de questões dessa natureza, além de contribuir para a formação cidadã, abre espaço para a construção de conhecimentos em diferentes disciplinas do currículo (química, física, biologia...).” (VIEIRA, BAZZO, 2007, s. p.). Essa proposta CTS vem ao encontro das questões ambientais e de toda problemática consequente do aquecimento global, levando os alunos a uma visão integrada da ciência e tecnologia, as quais são iminentes e fundamentais em diversas sociedades; dessa forma os discentes irão aprender a reconhecer as possíveis causas do aquecimento global e suas devidas formas de prevenção para a correta preservação da natureza; o aquecimento global também é um tema bastante controverso, o que o torna um elemento muito importante para ser debatido em sala de aula (VIEIRA, BAZZO, 2007, s. p.). Assim conforme afirmam Vieira e Bazzo “A discussão de controvérsias científicas pode também contribuir para desmistificar falsas idéias que acabam passando a imagem de uma ciência supostamente nãocontroversa, neutra desinteressada.” (VIEIRA, BAZZO, 2007, s. p.). Assim, concorda-se com a apreciação de Vieira e Bazzo, quando afirmam que “A inserção de discussões sobre controvérsias científicas tem o potencial de estimular o educando a sentirse parte da sociedade em que vive, a se interessar pelos seus problemas e a participar das discussões decorrentes das interações ciência/tecnologia/sociedade.” (VIEIRA, BAZZO, 2007, s. p.). 31 2 Educação para formação de cidadãos participativos e convictos em suas decisões 2.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) na abordagem do estudo de Química A sociedade, de forma geral, se relaciona diariamente com diferentes assuntos da Química de incontáveis maneiras, seja de forma direta ou indiretamente. O cotidiano de seus cidadãos é marcado por uma gama de conceitos, que são, muitas vezes, distorcidos pelos meios de comunicação. Assim, as informações químicas que são conhecidas pela sociedade podem acarretar um entendimento deturpado da real importância da Química em contexto social (BRASIL, 2000, p. 30). A Química como disciplina essencial do Ensino Médio deve abordar temas atuais de forma contínua no contexto escolar, que são, sem dúvida, um elemento essencial para o desenvolvimento junto aos discentes de atitudes questionadoras e investigativas, a respeito, principalmente, das questões ambientais as quais são tão debatidas e iminentes no cotidiano da sociedade vigente. Dessa forma, de acordo com os PCNEM “[...] a abordagem da Química escolar continua praticamente a mesma. Embora às vezes ‘maquiada’ com uma aparência de modernidade, a essência permanece a mesma, priorizando-se as informações desligadas da realidade vivida pelos alunos e pelos professores” (BRASIL, 2000, p. 30). Os estudantes devem lançar um novo olhar sobre a Química, como uma disciplina que está constantemente articulada com seu cotidiano de forma dinâmica e passível de mudanças. A Química, nesta abordagem, tem por finalidade despertar nos estudantes um caráter participativo, em um mundo moderno que está, a todo o momento, sofrendo transformações. Portanto, cabe, principalmente aos professores, mostrarem aos alunos os conhecimentos químicos de forma entrelaçada e contextualizada com os acontecimentos recentes que cercam essa área do saber; a Química não deve ser vista como uma ciência desconectada da realidade e nem meramente seu ensino uma transmissão de conhecimentos fragmentados da realidade cotidiana do discente (BRASIL, 2000, p. 31-32). Conforme evidenciado nos PCNEM [...] é preciso objetivar um ensino de Química que possa contribuir para uma visão mais ampla do conhecimento, que possibilite melhor compreensão do mundo físico e para a construção da cidadania, colocando em pauta, na sala de aula, 32 conhecimentos socialmente relevantes, que façam sentido e possam se integrar à vida do aluno (BRASIL, 2000, p. 32-33). 2.2 Química na abordagem da Educação Ambiental e os desafios a serem alcançados para o desenvolvimento sustentável Os alunos devem aprender e reconhecer a Química como elemento essencial e iminente à sua realidade, com conteúdos atuais e de grande significância, como é o caso do aquecimento global e suas mudanças climáticas, os quais devem aparecer no cotidiano escolar sempre de maneira relacionada com conteúdos tradicionais de Química, nas mais variadas formas possíveis, para criar e estabelecer um aprendizado interativo e contextualizado com a sociedade à qual estão inseridos. A partir desse vínculo firmado da Química com a realidade dos discentes em uma abordagem integrada, a educação ambiental ganhará um novo suporte de debates em sala de aula, com professores e alunos que investigarão essa questão ao máximo, a fim de sanar as possíveis dificuldades encontradas nessa temática. Assim, concorda-se com a apreciação de Pedro Jacobi quando afirma que Refletir sobre a complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Mas também questiona valores e premissas que norteiam as práticas sociais prevalecentes, implicando mudança na forma de pensar e transformação no conhecimento e nas práticas educativas. (JACOBI, 2003, p. 191). O desenvolvimento sustentável é um elemento essencial para que se possa permitir o crescimento adequado da preservação ambiental e, consequentemente, diminuir a degradação oriunda das interferências antrópicas. Assim, conforme afirmam Djalma Pelegrini e Vânia Rúbia Vlach “Impossível não se deter, nesta análise, frente ao discurso do desenvolvimento sustentável, que pretende compatibilizar crescimento econômico com preservação ambiental” (PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 189). Uma forma interessante de se estimular a prática da sustentabilidade é por meio da educação ambiental. Conforme afirmam Gelze Rodrigues e Marlene Colesanti “Dentro desse contexto práticas de Educação Ambiental têm sido intensificadas, tentando sensibilizar e informar as pessoas sobre a realidade ambiental, bem como mostrar e/ou indicar o papel e a responsabilidade da sociedade sobre o que ocorre no meio ambiente” (RODRIGUES; COLESANTI, 2008, p. 52). Praticar e aperfeiçoar os 33 métodos de educação ambiental é algo extremamente importante no sistema de ensino atual e seus conceitos são vários. Assim, concorda-se com a apreciação de Andréa Luca, Daniel de Andrade e Marcos Sorrentino “A educação que a educação ambiental pretende, realiza-se na relação com o Outro, em como nos relacionamos com os outros humanos e com as demais formas de vida que nosso Planeta sustenta” (LUCA; ANDRADE; SORRENTINO, 2012, p. 590). De acordo com Rachel Trajber e Patrícia Mendonça A Educação Ambiental está também na Lei nº 9.795/99, que estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental. A Lei afirma em seu Artigo 2º, que “a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente na Educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. O Artigo 3º, inciso II, complementa a idéia ao prescrever que cabe às “instituições educativas promover a Educação Ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem”. Mais adiante, o artigo 9º da referida Lei esclarece: “Entende-se por Educação Ambiental na Educação escolar a ser desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: I – Educação Básica:a) Educação Infantil; b) Educação Fundamental e c) Educação Média; II – Educação Superior; III – Educação Especial; IV – Educação Profissional; V – Educação de Jovens e Adultos”. (TRAJBER; MENDONÇA, 2007, p. 14-15). Uma educação contextualizada com a atualidade é capaz de levar os discentes a compreenderem como o homem, através do tempo, produziu e modificou os materiais, transformando, assim, o ambiente e causando a poluição da atmosfera, da água, do solo e, consequentemente, o aluno entenderá qual papel ele como cidadão participativo e convicto de suas atitudes deve assumir diante das mudanças ambientais. A Química, vista desta forma, deve ter seu papel reconhecido no processo produtivo como também deve-se evidenciar a importância de mecanismos industriais que visem à sustentabilidade e sejam ecologicamente limpos, como também, deve ocorrer à criação de medidas que se preocupem com o controle da poluição e informem a população sobre os níveis de qualidade ambiental (BRASIL, 2000, p. 35). De acordo com os PCNEM “Deve-se considerar ainda a enorme quantidade de informações atualmente disponíveis, relativas aos conhecimentos sugeridos no estudo das interações homem-atmosfera” (BRASIL, 2000, p. 35). A Química no Ensino Médio deve ter um foco maior nas possibilidades de conexão dos seus diversos conteúdos com a questão ambiental, criando meios para o desenvolvimento de uma consciência que busque traçar novos caminhos para a sustentabilidade, promovendo 34 assim uma ruptura nas possíveis barreiras existentes entre as diversas áreas deste conhecimento, eliminando os procedimentos tradicionais de memorização e estabelecendo um direcionamento para a prática da interdisciplinaridade (BRASIL, 2000, p. 36). De acordo com as Bases Legais dos PCNEM “Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização” (BRASIL, 2000, p. 5). Assim, como pode ser verificado nos PCNEM A perspectiva de ensinar Química ligada à sobrevivência e ao desenvolvimento sócio-ambiental sustentável, oferece a oportunidade do não estabelecimento de barreiras rígidas entre as assim chamada áreas da Química, ou seja, a orgânica, a Físico-Química, a Bioquímica a Inorgânica (BRASIL, 2000, p. 36). Levando-se em consideração a constante destruição de diversos ecossistemas naturais e como isso propicia um agravamento da crise ambiental na sociedade, avalia-se que o conhecimento deve ser criado e distribuído sob uma nova ótica, com o objetivo de valorizar as inter-relações existentes do meio natural com o social, estabelecendo a todos os momentos formas para o desenvolvimento da sustentabilidade de uma sociedade inteiramente vinculada ao meio ambiente. Deve-se, então, mudar as maneiras de refletir e agir em relação às questões ambientais (JACOBI, 2003, p. 190). De acordo com Pelegrini e Vlach [...] a problemática ambiental surge como manifestação de uma crise conjuntivamente tecida ao longo dos últimos séculos, assumindo, hoje, os contornos de uma crise da modernidade, de espectro mais abrangente, que pode ser percebida na política, na economia, na sociedade, na cultura e na ciência. (PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 191). Dessa forma concorda-se com a apreciação de Pedro Jacobi quando afirma que “A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades” (JACOBI, 2003, p. 191). A expansão da consciência ambiental deve ser aprimorada cada vez mais no cotidiano social; tanto pelos meios de comunicação, os quais devem divulgar mais informações precisas e atualizadas sobre os principais acontecimentos que ocorrem envolvendo a questão ambiental, quanto pelos conteúdos educacionais que precisam ser mais bem adequados e 35 direcionados para essa problemática atual. Assim, toda a população terá um forte embasamento para participar de forma mais ativa em relação às questões ambientais. Ter-se-á, assim, uma sociedade questionadora e mobilizada para os assuntos ambientais. Muitas vezes a sociedade assume uma postura de ausência de responsabilidade no que se refere à preservação ou para práticas corretas de ecologia; isso é proveniente, principalmente, da falta de informação e do desenvolvimento ínfimo da consciência ambiental (JACOBI, 2003, p. 192). De acordo com Martine As sociedades pobres e tradicionais prejudicam o meio ambiente local de muitas maneiras, e vão prejudicá-lo ainda mais quando tiverem o dobro ou o triplo da população; mas, são os países industrializados que estão causando os problemas ambientais globais mais graves como o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, o esgotamento dos recursos naturais não-renováveis e a acumulação de lixo tóxico. (MARTINE, 1996, p. 13 apud PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 190). Percebe-se facilmente que as dificuldades enfrentadas atualmente para se trabalhar com educação ambiental são muitas e que envolvem uma série de fatores que são pertinentes ao cotidiano de uma instituição escolar. Dessa forma, concorda-se com a apreciação de Pelegrini e Vlach quando afirmam que “Dentre os grandes desafios que se apresentam aos professores de todos os níveis do ensino, a educação ambiental talvez esteja entre os mais complexos” (PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 188). A necessidade de se entender e questionar as ações envolvendo as questões ambientais na sociedade moderna é iminente. Portanto, a aproximação de áreas de conhecimento envolvendo disciplinas presentes tanto nas ciências sociais quanto nas naturais é de grande valia para o momento atual, o que poderá fornecer bons resultados nessa temática. Percebe-se, também, que muitas vezes esses questionamentos envolvendo a educação ambiental não aparecem no contexto educacional de instituições de Ensino Fundamental e Médio, e quando o fazem isto ocorre esta de forma pouco desenvolvida no cotidiano escolar (PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 194). Assim, concorda-se com a apreciação de Pelegrini e Vlach quando afirmam que Em outras palavras, é necessário, sim, abordar nesta discussão, os aspectos sociais, políticos e ideológicos envolvidos, o que poderá resultar num questionamento a respeito das funções da escola. A possibilidade de que a ação popular venha desempenhar um papel importante no destino do planeta também deve ser considerada. As possibilidades estão abertas para uma efetiva intervenção das massas no futuro ambiental do planeta. (PELEGRINI; VLACH, 2011, p. 195). 36 2.3 Meios de informação para conscientização da preservação ambiental Dentre as diversas maneiras que os assuntos ambientais podem ser abordados, seja em sala de aula ou em um contexto social mais amplo, uma ferramenta de grande importância para a questão da educação ambiental são os meios de comunicação e informação existentes na sociedade atual. Conforme afirma Rodrigues e Colesanti Concomitantemente, percebemos uma grande proliferação e abertura de novos espaços de comunicação para a Educação Ambiental, dentre os quais podemos citar fóruns, congressos e, no meio digital, a formação de redes e a multiplicação de sites na internet referentes ao tema, que acabam por sensibilizar a população em geral para os problemas da degradação ambiental. (RODRIGUES; COLESANTI, 2008, p. 52). Portanto é importante ressaltar, ainda de acordo com esses autores, que No âmbito da Educação Ambiental, percebe-se uma intensificação na produção de material pedagógico, audiovisual e/ou impresso, relacionado ao meio ambiente, mas que, contudo, ainda em grande parte não refletem os objetivos explicitados no Programa Nacional de Educação Ambiental e muito menos a realidade sócioambiental do lugar, região e país, normalmente tendo uma ótica disciplinar, segmentada, e por vezes tendo como referência apenas valores de determinados segmentos sociais, variando em qualidade e consistência. (RODRIGUES; COLESANTI, 2008, p. 53). A crise ambiental que se presencia atualmente requer necessariamente o surgimento de novos conceitos e saberes articulados a essa temática. As tecnologias existentes buscam formas interativas para trabalhar com a educação de forma a agregar novos valores e atitudes nos mecanismos mentais e perceptivos. Todavia faz-se necessária uma nova abordagem pedagógica que vise responder a essas questões da sociedade moderna, o papel realizado pelos diversos canais de comunicação deve levar a uma reflexão mais intensa a respeito de modificações no uso dos recursos naturais, a fim de se evitar a constante degradação ambiental (RODRIGUES; COLESANTI, 2008, p. 64-65). A informação desempenha papéis fundamentais para se promover uma mudança comportamental nos hábitos dos discentes e em todos os cidadãos, como também de na conscientização sobre a importância de preservar o meio ambiente e dessa forma evitar ou diminuir os eventos climáticos intensificados pela ação humana. Dessa forma, concorda-se com a afirmação de Luca, Andrade e Sorrentino quando afirmam que 37 Quando estamos conscientes de nosso inacabamento, percebemos com maior facilidade que há espaços para mudança e para aceitar o diferente. E a perspectiva do conviver com diferentes formas de ver o mundo, na diversidade das identidades, é também a perspectiva de trabalhar coletivamente. A educação ambiental nos oferece esse desafio: agir coletivamente, justamente o oposto do ser individual, tão arraigado nas práticas diárias de nossa sociedade. (LUCA; ANDRADE; SORRENTINO, 2012, p. 590). As diversas informações que circulam junto à população humana diariamente não devem ser vistas apenas como formas propagadas exclusivamente por meios tecnológicos como internet, TV, revistas, livros, materiais didáticos, entre outros. De acordo com Luca, Andrade e Sorrentino o diálogo é um instrumento valioso para o estudo da educação ambiental (LUCA; ANDRADE; SORRENTINO, 2012, p. 589-606). Segundo Buber (1979), o diálogo está no reconhecimento do ser no outro, escondido em seus papéis sociais, que por sua vez, o objetificam e conferem ao ser uma utilidade, uma função (BUBER, 1979 apud LUCA; ANDRADE; SORRENTINO, 2012 p. 593). Conforme afirmam Luca, Andrade e Sorrentino Estimular o exercício do diálogo é um desafio e uma necessidade para a educação ambiental que queremos realizar: aquela que fortalece e confere autonomia e confiança aos indivíduos, que promove a coexistência equilibrada entre as realidades e contextos pessoais e coletivos, entre o moderno e as tradições, entre a tecnologia e os saberes tradicionais e populares. O diálogo é uma via de acesso para a democratização das identidades e saberes diversos. (LUCA; ANDRADE; SORRENTINO, 2012, p. 591). Pode-se verificar que os meios de comunicação presentes na sociedade são muito variados e que seu papel fundamental é a transmissão correta da informação, a qual deve chegar aos discentes de forma rápida, objetiva e clara. Dessa maneira estes podem julgar sua relevância para a manutenção e preservação dos ecossistemas terrestres. Outro ponto importante nesta retórica, como destacam Jacobi et al.: “E, desse modo, a promoção do ensino por meio de conteúdos que levem em conta a transposição didática dos conceitos científicos e do desenvolvimento de atitudes e valores éticos e estéticos” (JACOBI et al. 2011, p. 143). Todos esses meios remetem à questão da sustentabilidade que levam a uma reflexão maior sobre a problemática das mudanças climáticas. Conforme apontam Jacobi et al. De uma perspectiva pedagógica e metodológica, há uma necessidade urgente de encontrar alternativas de aprendizagem para abordar um tema cujos cenários são negativos e problemáticos, como indicam os relatórios do IPCC, sem cair num ponto de vista catastrofista de imobilismo ou, em contrapartida, numa visão simplista a respeito de uma questão tão importante e crucial à sociedade contemporânea. A 38 questão mais desafiadora, portanto, é criar condições para que as iniciativas educacionais sejam estratégicas para realizar as mudanças necessárias para motivar os cidadãos a agir em direção às metas de sustentabilidade (JACOBI et al. 2011, p. 146). 2.4 Alfabetização Científica: uma proposta para facilitar o processo de ensino e aprendizagem O ensino de ciências até a década de 1980 e início de 1990 era marcado, principalmente, por uma transmissão intensa de informações e conteúdos dos professores aos seus discentes, os quais eram passivos. Estes se viam em meio a uma enorme quantidade de materiais que deveriam saber de cor. O excelente aluno era aquele que servia apenas como um “recipiente” para acumular grande quantidade de informações, muitas das vezes totalmente desconectadas de sua realidade ou sem demonstrar um maior entendimento por parte destas (CHASSOT, 2003, p. 90). Assim, concorda-se com a apreciação de Attico Chassot quando afirma que Quantas classificações botânicas, quantas famílias zoológicas cujos nomes ainda perambulam em nossas memórias como cadáveres insepultos, quantas configurações eletrônicas de elementos químicos, quantas fórmulas de física sabidas por um tempo – até o dia de uma prova – e depois desejadamente esquecidas (CHASSOT, 2003, p. 90). De acordo com Attico Chassot “A alfabetização científica pode ser considerada como uma das dimensões para potencializar alternativas que privilegiam uma educação mais comprometida” (CHASSOT, 2003, p. 91). Para Chassot Alfabetização Científica é “o conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem” (Chassot, 2000, p. 19 apud CHASSOT, 2003, p. 94). Ainda conforme afirma esse mesmo autor [...] “que a ciência seja uma linguagem; assim, ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em que está escrita a natureza. É um analfabeto científico aquele incapaz de uma leitura do universo” (CHASSOT, 2003, p. 91). Jiménez Aleixandre e Díaz de Bustamante “ressaltam, também, a importância que depositam em um ensino de ciências capaz de levar os alunos a “fazerem ciência”,ou seja, capaz de permitir-lhes proporem e discutirem ideias, avaliarem alternativas, escolhendo entre diferentes explicações (ALEIXANDRE; BUSTAMANTE, 2003 apud SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 99). Conforme afirma Attico Chassot “Entender a ciência nos facilita, também, contribuir para controlar e prever as transformações que ocorrem na natureza. 39 Assim, teremos condições de fazer com que essas transformações sejam propostas, para que conduzam a uma melhor qualidade de vida” (CHASSOT, 2003, p. 91). Dessa forma, concorda-se com a apreciação de Granger quando afirma que A ciência é uma das mais extraordinárias criações do homem, que lhe confere, ao mesmo tempo, poderes e satisfação intelectual, até pela estética que suas explicações lhe proporcionam. No entanto, ela não é lugar de certezas absolutas e [...] nossos conhecimentos científicos são necessariamente parciais e relativos. (GRANGER, 1994, p. 113 apud CHASSOT, 2003, p. 94). Em estudos feitos por Sasseron, e Sasseron e Carvalho os autores perceberam a existência de três eixos da alfabetização científica: “a compreensão básica de conceitos científicos, a compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática, e o entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente” (SASSERON, 2008; SASSERON, CARVALHO, 2008 apud SASSERON, CARVALHO, 2011, p. 102). Entendem-se melhor os significados e objetivos de cada um desses três eixos da alfabetização científica (AC) pelas explicações fornecidas por Sasseron e Carvalho O primeiro dos eixos estruturantes refere-se à compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais e a importância deles reside na necessidade exigida em nossa sociedade de se compreender conceitos-chave como forma de poder entender até mesmo pequenas informações e situações do dia-a-dia. O segundo eixo preocupa-se com a compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática, pois, em nosso cotidiano, sempre nos defrontamos com informações e conjunto de novas circunstâncias que nos exigem reflexões e análises considerando-se o contexto antes de proceder. Deste modo, tendo em mente a forma como as investigações científicas são realizadas, podemos encontrar subsídios para o exame de problemas do dia-a-dia que envolvam conceitos científicos ou conhecimentos advindos deles. O terceiro eixo estruturante da AC compreende o entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente e perpassa pelo reconhecimento de que quase todo fato da vida de alguém tem sido influenciado, de alguma maneira, pelas ciências e tecnologias. Neste sentido, mostra-se fundamental de ser trabalhado quando temos em mente o desejo de um futuro saudável e sustentável para a sociedade e o planeta. (SASSERON; CARVALHO, 2008, p. 335). A alfabetização científica tem por finalidade romper as barreiras interpostas entre uma ciência tradicional, repleta de conceitos desligados da realidade e uma ciência inovadora que busca modificações a todo momento, tendo por finalidade levar os alunos a efetuarem uma nova leitura de mundo, enquanto praticam ciências por meio do método investigativo. O discente, quando se depara com essa nova ciência, interage facilmente com conceitos científicos, sociedade e questões ambientais. A partir daí os discentes são plenos modificadores da sociedade e de suas tecnologias, com opiniões objetivas e um olhar 40 reflexivo sobre as questões atuais que os cercam (SASSERON; CARVALHO, 2008, p. 333336). De acordo com Sasseron e Carvalho “[...] para o início do processo de Alfabetização Científica é importante que os alunos travem contato e conhecimento de habilidades legitimamente associadas ao trabalho do cientista” (SASSERON; CARVALHO, 2008, p. 337). Ao se aplicar uma nova abordagem no ensino de ciências no sistema educacional vigente, o professor deve sempre partir do pressuposto de um aproveitamento de saberes passados que seus alunos adquiriram ao longo de sua vida, seja na escola ou fora dela. Assim, concorda-se com a apreciação de Lemke quando afirma que um diálogo científico adquire cada vez mais coerência, tornando-se mais complexo e coeso à medida que novos e mais elementos são adicionados à fala. Neste sentido, o autor ainda ressalta a importância de que o professor esteja atento para os conhecimentos que os alunos já possuem e, consequentemente, para os significados já atribuídos a determinadas palavras e noções. (LEMKE, 1997 apud SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 99). 41 3 Metodologia da pesquisa 3.1 Características da pesquisa realizada Essa pesquisa se caracteriza por uma abordagem metodológica qualitativa. De acordo com Bogdan e Biklen, “A investigação qualitativa em educação assume muitas formas e é conduzida em múltiplos contextos” (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 16). Conforme afirma Demo, “O que estamos chamando de informação qualitativa não é necessariamente especial, superior, preferencial, fatal ou coisa que o valha, mas simplesmente algo referenciado a certas dimensões da realidade.” (DEMO, 2006, p. 51). A análise feita na investigação científica exige do pesquisador um comportamento extremamente participante e entrevista detalhada (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 47) da realidade pesquisada, como também um olhar atento e crítico dos detalhes que o cercam no ambiente da pesquisa, para que dessa forma possa inferir e contestar os dados obtidos, a fim de se fazer uma análise mais profunda e minuciosa de seu estudo. Assim, concorda-se com a apreciação de Pedro Demo quando afirma que A informação qualitativa não busca ser neutra ou objetiva, mas permeável à argumentação consensual crítica, dentro de meio termo sempre difícil de exarar: num extremo estará o questionamento de tudo, sem que nada fique de pé; no outro, a crença fácil em tudo sem atinar para o implícito e o contraditório. (DEMO, 2006, p. 30). Diante dessa ação investigativa, segundo Bogdan e Biklen, “O investigador introduz-se no mundo das pessoas que pretende estudar, tenta conhecê-las, dar-se a conhecer e ganhar sua confiança, elaborando um registo escrito e sistemático de tudo aquilo que ouve e observa.” (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 16). Dessa maneira pode-se observar, o quanto é importante uma análise detalhada do que se propõem o presente trabalho. De acordo com Terence e Escrivão Filho, “As pesquisas, conforme as abordagens metodológicas que englobam, são classificadas em dois grupos distintos – o quantitativo e o qualitativo. O primeiro obedece ao paradigma clássico (positivismo) enquanto o outro segue o paradigma chamado alternativo.” (TERENCE, ESCRIVÃO FILHO, 2006, p. 1). Assim, conforme afirmam Pope e Mays Os métodos qualitativos e quantitativos não se excluem. Embora difiram quanto à forma e à ênfase, os métodos quantitativos trazem como contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. Pode-se distinguir o enfoque 42 qualitativo do quantitativo, mas não seria correto afirmar que guardam relação de oposição (POPE; MAYS, 1995, p.42 apud NEVES, 1996, p. 2). Dessa forma concorda-se com a afirmação de Pedro Demo, quando afirma que Todo fenômeno qualitativo é dotado também e naturalmente de faces quantitativas e vice-versa. Parto do ponto de vista de que entre quantidade e qualidade não existe dicotomia, pois são faces diferenciadas do mesmo fenômeno. Métodos quantitativos e qualitativos precisam ser tomados como complementares e como regra. (DEMO, 2006, p. 8). Fazer uma análise qualitativa da percepção dos alunos do 3º ano do Ensino Médio sobre temas referentes ao aquecimento global e suas consequências, é de fundamental significância para entender melhor como ocorre e qual o papel do processo de ensino-aprendizagem frente a tais questões, as quais se mostram extremamente pertinentes frente à sociedade em que está inserida. Dessa forma, a pesquisa de campo aqui desenvolvida sobre a percepção de alunos do terceiro ano do Ensino Médio frente às mudanças no clima do planeta é feita tanto pelo aspecto quantitativo quanto qualitativo. Segundo Alves-Mazzotti et al., “Define-se o paradigma alternativo pela constatação de que as abordagens unicamente quantitativas não são satisfatórias. Desta forma, abre-se espaço para o uso de técnicas qualitativas na geração de conhecimento” (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004; DENZIN; LINCOLN, 2005; PATTON, 2002 apud TERENCE; ESCRIVÃO FILHO, 2006, p. 2). Conforme afirmam Terence e Escrivão Filho, “[...] a pesquisa quantitativa permite a mensuração de opiniões, reações, hábitos e atitudes em um universo, por meio de uma amostra que o represente estatisticamente” (TERENCE, ESCRIVÃO FILHO, 2006, p. 3). Dessa forma concorda-se com a apreciação de Bernardete Gatti quando afirma que No emprego dos métodos quantitativos precisamos considerar dois aspectos, como ponto de partida: primeiro, que os números, freqüências, medidas, têm algumas propriedades que delimitam as operações que se podem fazer com eles, e que deixam claro seu alcance; segundo, que as boas análises dependem de boas perguntas que o pesquisador venha a fazer, ou seja, da qualidade teórica e da perspectiva epistêmica na abordagem do problema, as quais guiam as análises e as interpretações. (GATTI, 2004, p. 13). A pesquisa aqui desenvolvida se caracteriza por apresentar um aspecto quantitativo em sua abordagem, já que foi realizada coleta de dados por meio de questionário (vide Questionário no apêndice). Esse instrumento de pesquisa foi extremamente importante para 43 uma interpretação melhor dos resultados a serem obtidos, permitindo, dessa forma, representações das perguntas formuladas por meio de gráficos e tabelas. Essa abordagem estatística leva o leitor a se aproximar mais da realidade do universo da pesquisa, como também uma melhor compreensão dos resultados obtidos. Conforme afirmam Bogdan e Biklen Os levantamentos sociais têm uma importância particular para a compreensão da história da investigação qualitativa em educação, dada a sua relação imediata com os problemas sociais e a sua posição particular a meio caminho entre narrativa e o estudo científico. (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 23). Existem algumas características que são inerentes à investigação qualitativa e uma delas é o ambiente natural, que representa o meio essencial para a coleta de dados do pesquisador (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 47). Dessa forma concorda-se com a apreciação de Bogdan e Biklen quando afirmam que “Os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência.” (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 48). Dentre as características da investigação qualitativa outra que assume um papel importante nessa pesquisa é o fato de a investigação qualitativa ser descritiva (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 48). De acordo com Bogdan e Biklen Na sua busca de conhecimento, os investigadores qualitativos não reduzem as muitas páginas contendo narrativas e outros dados a símbolos numéricos. Tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos. (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 48). Na investigação qualitativa podem-se verificar outros aspectos, tais como; o processo é mais importante do que os resultados finais, a avaliação dos dados ocorrem de forma indutiva e por ultimo o significado é o elemento fundamental neste tipo de investigação (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 49-50). Assim, concorda-se com a apreciação de Bartunek e Seo quando afirmam que O método qualitativo é útil e necessário para identificar e explorar os significados dos fenômenos estudados e as interações que estabelecem, assim possibilitando 44 estimular o desenvolvimento de novas compreensões sobre a variedade e a profundidade dos fenômenos sociais (BARTUNEK; SEO, 2002 apud TERENCE, ESCRIVÃO FILHO, 2006, p.4). Segundo Neves, “Em sua maioria, os estudos qualitativos são feitos no local de origem dos dados; não impedem o pesquisador de empregar a lógica do empirismo científico (adequada para fenômenos claramente definidos) [...]” (NEVES, 1996, p. 1). Assim as abordagens qualitativa e quantitativa desenvolvem um papel essencial nessa pesquisa, uma vez que ambas se complementam, facilitando, dessa forma, o desenvolvimento dos procedimentos de investigação científica, como também a análise de dados amostrais. Assim concorda-se com a apreciação de Bernardete Gatti quando afirma que Os métodos de análise de dados que se traduzem por números podem ser muito úteis na compreensão de diversos problemas educacionais. Mais ainda, a combinação deste tipo de dados com dados oriundos de metodologias qualitativas, podem vir a enriquecer a compreensão de eventos, fatos, processos. (GATTI, 2004, p. 13). 3.2 Universo da pesquisa Essa pesquisa de campo foi realizada no segundo semestre do ano de 2013 no mês de novembro, período referente ao quarto bimestre do calendário letivo das instituições públicas de ensino da educação básica do município de Campos dos Goytacazes-RJ/Brasil. A atuação na instituição que forneceu os dados para a pesquisa baseou-se em um posicionamento totalmente formal, ético de reconhecimento do trabalho de todos os profissionais da educação e pessoal de apoio, que estão todos envolvidos e contribuindo significativamente para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem além de propiciar um ambiente agradável para o processo educacional. Quanto à receptividade, foi muito boa por toda comunidade escolar. O município de Campos dos Goytacazes tem uma população estimada, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 472.300 habitantes com 11.478 estudantes matriculados no Ensino Médio da rede pública estadual de ensino (IBGE, 2012). A amostragem utilizada referente ao Ensino Médio foi apenas em uma turma pertencente ao ultimo ano dessa etapa da educação básica. Os alunos que representaram a amostragem da pesquisa respondendo questionário pertenciam ao primeiro turno, sendo todos matriculados no terceiro ano do Ensino Médio, último ano de escolaridade desse nível de ensino, uma vez que, nessa série os alunos 45 apresentam um amadurecimento maior tanto no nível de conteúdo das diversas disciplinas, quanto uma seriedade maior em colaborar com a pesquisa, quando comparados às outras séries. Os discentes tinham uma faixa etária compreendida entre 17 e 20 anos. Foi aplicado o questionário na turma 3001, única turma do terceiro ano do Ensino Médio regular do período diurno desse ano letivo do Colégio Estadual Leôncio Pereira Gomes, a amostragem foi representada por 23 alunos de ambos os sexos participantes da pesquisa. Importante ressaltar que a maioria desses alunos cursou o Ensino Fundamental nesta mesma unidade escolar. O questionário teve como objetivo maior fornecer dados extremamente valiosos da percepção dos alunos frente às questões climáticas, além de ressaltar a eficiência ou não dos métodos pedagógicos utilizados na escola campo. 3.3 Os procedimentos usados para coleta de dados Os procedimentos utilizados para a coleta de dados nessa pesquisa envolveu o uso de questionários. Entende-se por questionário, segundo Yaremko et al., “[...] um conjunto de perguntas sobre um determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses, aspectos de personalidade e informação biográfica” (YAREMKO et al. 1986, p. 186 apud GÜNTHER, 2003, p. 1). O questionário formulado apresentou como característica principal os padrões de impessoalidade, já que não tinha nenhum campo para identificação dos entrevistados. Assim, os discentes não eram obrigados a colocar seu nome. Isso permitiu que ficassem mais à vontade diante do instrumento de pesquisa, sem apresentar quaisquer formas de comportamentos inibitórios. Antes da aplicação do questionário em sala de aula, para coletar tais informações, os objetivos da pesquisa foram devidamente elucidados para a população amostral, como também a devida identificação do aplicador (entrevistador). A escolha da ocasião para a aplicação do questionário no quarto bimestre do ano letivo de 2013 foi em virtude de deixar os conteúdos de Química e de outras disciplinas fluírem livremente no decorrer do calendário letivo, a fim de não se ter nenhum déficit de conteúdo, evitando dessa forma um possível resultado negativo na amostragem. Acredita-se que os discentes nesse momento se mostrem mais capazes e apresentem maior grau de compreensão do tema elucidado em questão, para responder o questionário. O questionário foi formulado com catorze questões distribuídas entre perguntas fechadas contendo quatro alternativas cada, em que o discente deveria assinalar apenas uma proposição, e as abertas embora em menor quantidade (apenas 2), nas quais os alunos 46 poderiam se expressar melhor e de forma mais ampla sobre questões referentes ao aquecimento global. Quanto à organização de perguntas abertas e fechadas de acordo com Günther e Lopes Júnior, “Enquanto a pergunta fechada obriga o respondente a selecionar geralmente uma alternativa numa lista de opções predeterminadas, a pergunta aberta permite ao respondente a liberdade de expressar o que quiser sobre o assunto em pauta” (GUNTHER; LOPES JÚNIOR, s. d., p. 204). Conforme afirma Günther e Lopes Júnior, “A conclusão reforça a noção de que perguntas abertas são úteis como subsídio para a construção de instrumentos com itens fechados, que, por sua vez, são mais práticos em sua aplicação” (GUNTHER; LOPES JÚNIOR, s. d., p. 203). De acordo com Sudman e Bradburn, “perguntas fechadas são mais difíceis para construir, mas mais fáceis para analisar e correm menos risco de variação por conta do entrevistador e do codificador” (SUDMAN; BRADBURN, 1982, p. 148 apud GUNTHER; LOPES JÚNIOR, s. d., p. 205). Assim, concorda-se com a apreciação de Xavier quando afirma que “A produção destes dados, ainda assim, pode não possibilitar, pelo espaço disponível ou pela forma de abordagem dos tópicos, dimensionar nem problematizar os comportamentos dos respondentes durante a aplicação” (XAVIER, 2012, p. 295). Ainda conforme afirma Xavier, “[...] na aplicação de questionários não se tem a intenção de observar aquela atividade enquanto um acontecimento representativo ou uma situação em que os respondentes protagonizam algo a mais que o simples preenchimento de alternativas” (XAVIER, 2012, p. 295). Dessa forma, Xavier conclui que Por fim, cabe a ressalva de que os comportamentos observados não devem induzir à invalidação das referências estruturais ou à total desconsideração dos que foram enviesados ou não compreendidos. Enquanto instrumento de ampliação para a abordagem quantitativa, o conjunto de impressões sobre a aplicação deve ser contabilizado na análise das frequências, compondo a interpretação dos resultados de pesquisa. (XAVIER, 2012, p. 306). 47 4 Resultados e discussões dos procedimentos metodológicos 4.1 Análise geral dos procedimentos desenvolvidos e posicionamento do público alvo em relação ao questionário Quanto aos resultados obtidos com os questionários, pode-se perceber uma grande diferença quando os discentes responderam perguntas abertas e fechadas. Os alunos encontraram maior facilidade em responder perguntas fechadas do que abertas, uma vez que o número de alunos que deixou de responder ou justificar as questões abertas foi grande quando comparado às respostas obtidas nas perguntas fechadas. Essa grande abstenção nas questões abertas, acredita-se, foi em decorrência dos alunos acharem mais cômodo assinalarem uma alternativa nas questões, de múltipla escolha, do que dissertar sobre um determinado questionamento. Isso pode ser justificado, já que esses discentes estão inseridos em uma sociedade repleta de informações, o que os leva a tomarem decisões rápidas diante de certos questionamentos. De acordo com Andrea Ramal “A velocidade na produção e circulação de informações nunca foi tão alta.” (RAMAL, 2012, p. 92). Os discentes que responderam às questões discursivas não encontraram muitas dificuldades, dando uma explicação, na medida do possível, plausível, às indagações feitas. Os alunos que participaram do questionário constituíram 23 discentes de ambos os sexos, com uma idade média entre 17 e 20 anos de uma única turma de Ensino Médio. 4.2 Análises detalhada do questionário Análise da questão: 1 Em uma pesquisa realizada por Stürmer, Trevisol e Botton sobre o aquecimento global, grande parte dos estudantes participantes se classificaram como sabendo mais ou menos a cerca desse assunto (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 24). Isso vem ao encontro dos resultados obtidos nessa pesquisa. Quando os discentes foram questionados sobre o grau de informação a respeito de temas envolvendo o aquecimento global, pode-se perceber que 26% dos alunos responderam ser completamente informados, 65% responderam ser parcialmente informados, apenas 9% se classificaram como desinformados e nenhum desses discentes resolveu não opinar. Na análise desses dados percebe-se que a escola desenvolve 48 um papel fundamental na vida dos alunos, integrando-os à sociedade vigente e inserindo-os nas discussões atuais sobre tema relevantes que norteiam seu cotidiano. De acordo com Vieira e Bazzo “[...] os cidadãos brasileiros passaram a prestar mais atenção ao aquecimento global, um fenômeno climático que vem se intensificando cada vez mais.” (VIEIRA; BAZZO, 2007, s. p.). Gráfico: 1 Análise da questão: 2 Quando questionados em qual meio eles obtiveram informações sobre o aquecimento global, 61% alunos responderam que a escola foi a provedora dessas informações, 26% disseram que a TV foi o principal meio, 9% dos discentes responderam que obtiveram informações de livros, revistas e jornais e apenas 4% alunos respondeu que a internet representa seu principal meio de informação, quando questionado a respeito desse tema. Embora estejam inseridos em uma sociedade tecnológica na qual existem diferentes formas de se obter informações como por meio da TV e com a internet percebe-se que grande quantidade dos alunos obtém seus conhecimentos através da escola. Embora as tecnologias sejam muito presentes na vida desses discentes, é importante ressaltar que esses passam parte de seu dia na unidade escolar presenciando e participando das aulas das diversas disciplinas que formam o currículo escolar. Nas pesquisas de Stürmer, Trevisol e Botton grande parte dos entrevistados teve a televisão como principal meio para obter informações a respeito do aquecimento global e, em segundo lugar, aparecem as aulas dos professores como meio de obterem informações a respeito do tema (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 24). 49 Portanto, as aulas são instrumentos essenciais para a conscientização acerca do tema em questão. Segundo Vieira e Bazzo “Quase que diariamente, os meios de comunicação vêm explorando essa temática através de notícias, algumas vezes sensacionalistas, que têm provocado algumas reações na população, principalmente medo e incerteza com o futuro do planeta.” (VIEIRA; BAZZO, 2007, s. p.). Gráfico: 2 Análise da questão: 3 Nas análises feitas por Stürmer, Trevisol e Botton o aquecimento global foi classificado como um dos problemas mais preocupantes da sociedade atual. Dessa forma os discentes demonstraram ter certo conhecimento do assunto (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 23-24). Esses resultados vêm ao encontro dos resultados obtidos nessa pesquisa, quando questionados sobre a afirmação de que o aquecimento global é uma das maiores problemáticas atuais, modificando o clima do planeta: 52% dos alunos concordaram parcialmente com isso, 44% assinalaram que concordavam plenamente que o aquecimento global age de formas diversificadas sobre o clima do planeta, 4% não opinou e nenhum desses discordou. Pode-se observar que os alunos apresentam uma boa percepção a respeito das conseqüências que o aquecimento global pode causar para a biodiversidade terrestre, uma vez que a maioria concordou com essa afirmação. 50 Gráfico: 3 Análise da questão: 4 Quando indagados sobre as iniciativas que estão sendo criadas para minimizar os problemas causados pelo aquecimento global 43% dos alunos responderam que são boas, 35% assinalaram que são razoáveis, 13% responderam que são ruins e apenas 9% assinalaram a opção excelente. A diferença entre a opção de que as iniciativas são boas e razoáveis é muito pequena, isso mostra que os alunos estão muito divididos entre essas opções, mas ao mesmo tempo demonstra que acreditam em novos projetos ambientais que possam reverter essa problemática do aquecimento global. Gráfico: 4 51 Análise da questão: 5 Quando questionados sobre as perspectivas para o futuro do planeta houve quase uma discordância percentual muito semelhante: enquanto 39% dos discentes responderam que as expectativas são boas, 35% assinalaram como ruins, ainda 22% assinalaram que são razoáveis e apenas 4% assinalou como excelente. Um grupo de alunos está confiante de que se for desenvolvido um bom trabalho (campanhas ambientais) é possível reverter o quadro em que se encontra. Ainda que uma parcela desses discentes se mostre um tanto quanto descrente, é importante observar que muitos estão acreditando em um futuro promissor para o planeta e é com essa perspectiva que se pode ser capaz de mudar esse quadro de alterações climáticas. Gráfico: 5 Análise da questão: 6 Quando questionados sobre qual das alternativas melhor elucidaria o conceito de aquecimento global, 26% assinalaram que é um fenômeno intensificado pelas atividades humanas, enquanto 52%, relacionaram o aquecimento global com a camada de ozônio e ainda 22% assinalaram como sendo decorrente do reflorestamento. Nessa questão, fazendo um paralelo com a questão número 1 em que foram questionados sobre seu nível de informação a respeito desse tema na qual 65% se colocaram como parcialmente informados, percebe-se que muitos desses, embora pensassem que eram informados sobre esse fenômeno, não conseguiram relacionar um conceito coerente com o tema em questionamento; a maioria dos alunos marcou a opção menos provável, o que caracteriza uma falta de conhecimentos adequados a respeito desse tema. 52 Há muita coisa a ser feita na explicação desse tema em aula, visto que uma parcela significativa ainda encontra dificuldades em entender esse assunto e relacioná-lo com conceitos corretos. Na pesquisa feita por Stürmer, Trevisol e Botton o resultado foi melhor nesse ponto “[...] 100% dos estudantes responderam que o AG tem origem antrópica.” (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 25). Tabela: 1 Conceito de aquecimento global na concepção dos estudantes Alternativas Nº de alunos Porcentagem É um fenômeno proveniente de fontes renováveis de energia. ------- 0 É um processo decorrente do reflorestamento. 5 22 É um fenômeno intensificado pelas atividades humanas. 6 26 É causado pela intensificação do furo na camada de o ozônio. 12 52 Total 23 100 Análise da questão: 7 A maioria dos entrevistados, um total de 61% dos discentes, respondeu que a escola não ofereceu nenhuma palestra ou mini curso que abordasse o tema em questão; apenas 26% responderam que sim, mas não conseguiram justificar adequadamente como foi, e apenas 4% responderam que a escola ofereceu palestras conseguindo justificar falando sobre a preservação do meio ambiente; 9% desses alunos não opinaram sobre nenhuma das possibilidades. Em uma pesquisa realizada por Castoldi, Bernardi e Polinarski em que se avaliava a percepção de discentes do Ensino Médio sobre problemas ambientais, quando os alunos foram questionados sobre sua participação em algum evento da escola que promovesse a preservação ambiental, a maioria respondeu que não participava já outros alegaram a falta de tais projetos na instituição (CASTOLDI, BERNARDI, POLINARSKI, 2009, p. 73). 53 Análise da questão : 8 Sobre a postura da escola diante dos últimos acontecimentos envolvendo as mudanças climáticas, 52% alunos responderam que a unidade escolar abordou sucintamente esse tema ao longo do ano, 31% alunos responderam que os fatos ocorridos foram abordados continuamente, 13% desses responderam que não foram comentados e apenas 4% assinalou a opção, desinteresse. Embora alguns alunos tenham respondido na questão anterior sobre a falta de palestras referentes ao tema, nota-se nessa questão que muitos afirmam terem visto esse assunto em sala de aula, o que é extremamente importante para a abordagem desse tema, além de configurar a importância do papel escolar nesse momento de discussões sobre as questões climáticas. Gráfico: 6 Análise da questão: 9 Quando foram indagados a respeito dos materiais utilizados no Ensino Médio para abordagem desse tema, a maioria, um total de 43%, 10 alunos, responderam que apostilas foram fornecidas para o estudo e compreensão do aquecimento global, 22%, 5 alunos, assinalaram a alternativa de que revistas, livros e jornais foram os principais materiais fornecidos, outros 22%, 5 alunos, responderam que vídeos e outros recursos audiovisuais foram os principais meios e apenas 13%, 3 discentes, responderam que não houve nenhum material didático fornecido durante o Ensino Médio. O importante é observar que um grande percentual dos discentes teve acesso a instrumentos valiosos de compreensão do assunto; isso 54 mostra que a escola vem desempenhando um papel fundamental na formação cidadã, tentando levar para os círculos de indagações os assuntos mais pertinentes na sociedade vigente. Gráfico: 7 Análise da questão: 10 Quando esses alunos foram questionados sobre em qual disciplina estudaram conteúdos referentes ao aquecimento global e suas mudanças climáticas, a maioria assinalou a opção referente à Biologia como sendo a disciplina que mais abordou esse tema em sala de aula, 87% desses alunos responderam essa alternativa. 9% dos alunos responderam terem estudado esse conteúdo em outras disciplinas, apenas 4% assinalou a opção Química como sendo a disciplina para a obtenção de tais conhecimentos e nenhum deles marcou a opção Física. Pode-se notar nitidamente que nem todas as disciplinas trabalham o assunto de forma contínua como deveriam trabalhar, ou ainda que essas disciplinas não desenvolveram projetos interdisciplinares com o objetivo de dinamizar o processo de ensino-aprendizagem, já que a carência desse conteúdo em outras disciplinas, com exceção de Biologia, é muito grande. Portanto, a disciplina de Biologia desempenhou um papel essencial na abordagem desse assunto, levando os alunos a se aproximarem mais do tema em pauta, o que é fundamental para a sociedade atual. De acordo com Castoldi, Bernardi e Polinarski As dificuldades dos professores em trabalhar temas relacionados ao meio ambiente são muitas o que reflete na sala de aula, para o professor, ter que trabalhar o meio ambiente torna-se uma carga a mais, e professores desmotivados pela baixa 55 valorização da profissão e muitas vezes pelo próprio desinteresse dos alunos não se preocupam em desenvolver conteúdos mais aprofundados do tema. (CASTOLDI, BERNARDI, POLINARSKI, 2009, p. 75). Ainda segundo Vieira e Bazzo “[...] a discussão de temas controversos pode se da de forma interdisciplinar, através de um trabalho conjunto envolvendo professores de diferentes disciplinas (ciências, história, geografia, química, física, biologia).” (VIEIRA; BAZZO, 2007, s. p.). Gráfico: 8 Análise da questão: 11 A questão nº 11 perguntava como esse conteúdo poderia ser trabalhado em sala de aula. Os alunos demonstraram um interesse muito grande pelos recursos audiovisuais totalizando 43 % dos alunos, que tiveram preferência por essa alternativa. 31% dos entrevistados, preferiam aulas expositivas, 26% queriam que houvesse projetos envolvendo diferentes disciplinas, e nenhum desses assinalou a opção aulas lúdicas. Acredita-se que esses não, soubessem ao certo o real conceito do que é lúdico. Pode-se perceber que a maioria fazem preferência pelos recursos tecnológicos, já que esses gostam de interagir com o som e a imagem de determinados recursos, que facilitam muito a compreensão desses temas; os equipamentos audiovisuais permitem que os alunos consigam compreender de forma mais sólida um determinado assunto, propiciando-os ouvir e visualizar cenas e imagens relacionadas ao conteúdo. A escola tem esses equipamentos disponíveis para serem utilizados 56 e de fácil acesso pelos docentes, os quais usam na maioria das vezes, facilitando o processo de ensino e aprendizagem. Assim concorda-se com apreciação de Vieira e Bazzo quando afirmam que “As controvérsias sobre as possíveis causas e efeitos do fenômeno conhecido como aquecimento global ainda são pouco divulgadas, mas não podem ser ignoradas e precisam chegar à sala de aula.” (VIEIRA; BAZZO, 2007, s. p.). Gráfico: 9 Análise da questão: 12 Quando questionados sobre qual conteúdo de Química que foi trabalhado e que tinha alguma relação com o aquecimento global, 47% dos alunos o relacionaram com reações químicas, 22% assinalaram a opção nomenclatura de compostos inorgânicos, 22% teorias atômicas e apenas 9%, dos discentes relacionaram esse tema com ligações químicas. É compreensível que existam várias reações químicas envolvendo essas moléculas químicas de GEEs no cenário atual das mudanças climáticas, como no caso da chuva ácida, entre outras. Isso mostra que a maioria desses alunos detém conhecimentos e estabelecem relações plausíveis ligando o conteúdo com o tema em pauta. Todos esses conteúdos na realidade são abordados desde o Ensino Fundamental e são elementos básicos para a compreensão de vários outros que constituem suas bases conceituais. Conforme afirmam Vieira e Bazzo 57 No caso do aquecimento global, esse tema abre espaço para trabalhar diversos conteúdos tais como: efeito estufa, ciclo do carbono, densidade, interpretação de gráficos (no caso sobre a evolução da temperatura), estudo das correntes marítimas, biodiversidade, possível extinção de espécies animais e vegetais, epidemias (algumas doenças como malária, dengue). (VIEIRA; BAZZO, 2007, s. p.). Gráfico: 10 Análise da questão: 13 Quando questionados sobre o conceito de efeito estufa o número de alunos que não respondeu foi de 39% dos entrevistados, enquanto que os que tentaram responder ao questionamento proposto foram em torno de 61%; isso, contudo, é um ponto positivo, embora alguns dos que responderam tenham fornecido algumas respostas pouco coerentes ou não tenham dado respostas corretas. Portanto, deve-se ressaltar que uma parcela de alunos entrevistados tentou estabelecer um conceito para o termo; alguns, em suas respostas relataram diferentes pontos como a: liberação de CO2, preocupação com o futuro do planeta, mudanças no clima, poluição causada por veículos motorizados como os carros, derretimento das calotas polares, e outros relataram o descaso que muitos seres humanos dão ao assunto. Os alunos mostraram ter uma preocupação com o futuro do planeta, como também relacionaram adequadamente alguns termos. Isso evidencia que a escola desempenhou bem seu papel na abordagem de tal assunto, a tal ponto de muitos dos discentes forneceram uma resposta coerente para o questionamento. Essas respostas vêm ao encontro dos resultados da pesquisa feita por Stürmer, Trevisol e Botton “Os estudantes do ensino médio reconheceram, de forma nítida, as seguintes consequências do AG: redução das geleiras; elevação dos níveis 58 dos oceanos; escassez de água; epidemias; intensificação das secas [...]” (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 25). Análise da questão: 14 Quando indagados sobre a origem dos gases de efeito estufa, 56% dos alunos, a maioria, respondeu que os combustíveis fósseis e o carvão mineral, são os principais contribuintes para as emissões de moléculas que agravam a situação do aquecimento global. Isso demonstra que a escola vem contribuindo significativamente para a formação de cidadãos informados quanto aos acontecimentos atuais; 22% desses discentes relacionaram a liberação de GEEs com o furo na camada de ozônio; 13% assinalaram que a liberação desses gases é decorrente do efeito estufa; e apenas 9% assinalaram a opção de energias renováveis como sendo a responsável pela liberação desses gases. Um dos aspectos mais interessantes nos resultados dessa questão foi observar que a maior parte dos alunos soube relacionar as fontes de emissão dos GEEs. Isso é um elemento muito importante visto que o reconhecimento de que os combustíveis fósseis são os principais elementos que contribuem para o agravamento do fenômeno do aquecimento global. Essa relação é similar às análises feitas por Stürmer, Trevisol e Botton pois estes relatam que quando questionados sobre as causas do fenômeno do aquecimento global “[...] os estudantes responderam que a mais importante é a queima de combustíveis fósseis.” (STÜRMER, TREVISOL, BOTTON, 2010, p. 25). Isso favorece a compreensão de que fontes renováveis de energia são muito valiosas neste aspecto, para minimizar a liberação de moléculas poluentes, permitindo, assim, a preservação dos diversos ecossistemas da Terra. 59 Tabela: 2 Opinião dos alunos a respeito da origem dos gases de efeito estufa Alternativas Combustíveis fósseis e carvão mineral. Nº de alunos Percentagem 13 56 Furo na camada de ozônio. 5 22 Bicombustíveis e outras formas de energias renováveis. 2 9 Efeito estufa. 3 13 23 100 Total 60 Considerações finais Percebe-se, nitidamente, que os alunos têm consciência do aquecimento global e de seus efeitos sobre o clima, como também apresentam uma preocupação com a preservação ambiental e de toda biodiversidade associada, que possa estar de alguma forma ameaçada por esse fenômeno, mas não deixam de imaginar um futuro promissor para o planeta, tendo boas perspectivas quanto a isso. A maioria dos discentes relacionou perfeitamente a origem dos gases de efeito estufa com a queima de combustíveis fósseis, reconhecendo que o aquecimento global pode ser agravado em decorrência dessa prática, como também estabeleceram conexões adequadas quando foram questionados sobre o conceito de efeito estufa e sua intensificação relacionando-o com liberação de CO2, derretimento das calotas polares, etc. A escola aparece como um elemento essencial e de grande importância para informar esses discentes de temas atuais e largamente debatidos em seu cotidiano, como é o caso do aquecimento global. A instituição desempenhou seu papel adequadamente no que se refere à abordagem do tema, de forma contínua nas aulas por meio de apostilas, livros, recursos audiovisuais, entre outros. Além disso, a escola se mostrou muito preocupada com a preservação ambiental, desenvolvendo alguns projetos de reciclagem e com o desenvolvimento de uma consciência preservacionista nos alunos. Portanto, ainda falta um pouco mais de interdisciplinaridade no tratamento do tema, já que a disciplina de Química não foi tão provedora de conhecimentos para os alunos, quando comparada à Biologia por exemplo. Porém, os alunos disseram ter visto alguns conteúdos de Química que se relacionavam ao aquecimento global, mas, mesmo assim, o assunto referente às mudanças climáticas ainda é pouco debatido nas aulas de Química. Portanto, alguns conceitos relacionados ao aquecimento global parecem estar ainda desarticulados para esses alunos, como é o caso de grande parte dos discentes que não conseguiram relacionar as atividades antrópicas como elementos intensificadores do efeito estufa, e como elas geram, consequentemente, o aquecimento global. Por mais que a escola tenha meios e materiais que favoreçam o processo de ensino e aprendizagem, ainda falta um instrumento muito importante e articulador; a interdisciplinaridade. Acredita-se que esse instrumento possibilite uma forma mais dinâmica de se trabalhar com esse tema tão debatido na sociedade atual. 61 Ainda falta muita coisa a ser feita para divulgação desse tema nas diversas disciplinas educacionais, como também o exercício permanente dessa questão em sala de aula, mas não se pode abandonar, em hipótese alguma, a esperança e a certeza da necessidade de conscientização para a preservação ambiental. 62 Referências AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das Populações, v. 3. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. ANGOTTI, José André Peres; AUTH, Milton Antonio. Ciência e Tecnologia Implicações Sociais e o Papel da Educação. Ciência & Educação, v. 7, n. 1, p. 15-27, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v7n1/02.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2013. AULER, Décio; BAZZO, Walter Antônio. Reflexões para a implementação do movimento CTS no contexto educacional brasileiro. Ciência & Educação, v. 7, n. 1, p.1-13, 2001. 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Acesso em: 20 ago. 2013. 67 APÊNDICE: Questionário de entrevista 68 Questionário utilizado na pesquisa Questionário de avaliação da percepção dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio sobre o aquecimento global Colégio: Assinale abaixo seu sexo e informe sua idade: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade ............. anos 1- O aquecimento global é um tema muito debatido na sociedade moderna; diante dessa problemática você se acha uma pessoa: a) b) c) d) completamente informada. parcialmente informada. desinformada. nenhuma das alternativas. 2- Em qual desses meios de comunicação você obteve informações a respeito do tema aquecimento global e mudanças climáticas? a) b) c) d) Escola. Internet. TV Livros, revistas e jornais. 3- O aquecimento global é uma das maiores problemáticas da sociedade atual, agindo de diferentes formas sobre o clima do planeta. Qual sua opinião a respeito dessa afirmação? a) b) c) d) concorda plenamente. concorda parcialmente. discorda. nenhuma das alternativas. 4- O que você acha das iniciativas que estão sendo criadas e colocadas em práticas pelos governantes para minimizar os problemas causados pelo aquecimento global? a) b) c) d) Excelentes Boas Razoáveis Ruins 5- Quais são suas perspectivas para o futuro do nosso planeta, levando em considerarão o cenário atual que estamos vivendo com as mudanças climáticas? a) b) c) d) Excelentes Boas Razoáveis Ruins 6- Qual alternativa melhor elucida o real conceito de aquecimento global? a) É um fenômeno proveniente de fontes renováveis de energia. b) É um processo decorrente do reflorestamento. c) É um fenômeno intensificado pelas atividades humanas. d) É causado pela intensificação do furo na camada de ozônio. 7- Sua escola já ofereceu alguma palestra ou mini curso relacionado às mudanças climáticas? ( ) Sim ( ) Não Descreva de forma breve como foi, caso tenha assinalado sim. 69 8- A respeito dos últimos acontecimentos envolvendo as mudanças climáticas que tem ocorrido recentemente em diversos locais do mundo, qual foi a postura da sua escola diante de tais fatos? 12- Qual(is) conteúdo(s) você recorda que foi abordado nas aulas de Química ou que tinham alguma relação com o aquecimento global? a) Abordou continuamente os fatos ocorridos. b) Abordou sucintamente. c) Mostrou desinteresse. d) Não foi comentado. compostos 9- Durante seu Ensino Médio foi fornecido algum material didático que tratasse de maneira específica sobre as questões das mudanças climáticas? Assinale a alternativa que melhor explica essa questão. a) Apostilas. b) Livros, revistas e jornais. c) Vídeos e outros audiovisuais. d) Não houve nenhum didático. 13- Descreva de forma resumida o que você sabe a respeito de efeito estufa. recursos material 10- Em qual(is) disciplina(s) você estudou assuntos referentes ao aquecimento global e suas mudanças climáticas? a) b) c) d) a) Reações químicas. b) Nomenclatura de inorgânicos. c) Teorias atômicas. d) Ligações químicas. Biologia. Química. Física. Outras. 11- Na sua opinião de que outras formas este tema poderia ser abordado em sala de aula? a) Aulas expositivas. b) Aulas lúdicas. c) Projetos envolvendo diferentes disciplinas. d) Uso de recursos audiovisuais. 14- Quanto a origem dos gases de efeito estufas (GEEs), podemos atribuir como fonte de sua liberação o(s): a) combustíveis fósseis e carvão mineral. b) furo na camada de ozônio. c) biocombustíveis e outras formas de energias renováveis. d) efeito estufa. 70 ANEXO: Documento de autorização da pesquisa 71