Promovendo o trabalho decente em uma época de crise “A promoção do emprego, da proteção social, dos princípios e direitos fundamentais no trabalho e do diálogo social, através da Agenda da OIT para o Trabalho Decente, constitui um conjunto eficaz de políticas para responder à atual crise econômica. A visão e a estratégia adotadas na Declaração da OIT sobre a Justiça social para uma globalização equitativa de 2008 são plenamente relevantes neste contexto”. Depois de cinco anos de forte crescimento econômico, a economia brasileira contraiu-se no último trimestre de 2008 devido à crise financeira internacional. Prevê-se, em 2009, uma forte redução do crescimento, o que ameaça os avanços econômicos e sociais dos últimos cinco anos. Antes do início dos impactos da crise no Brasil, a economia brasileira estava crescendo a um ritmo bastante alto: 4,7% anual em média entre 2004 e 2008, período em que o PIB per capita também cresceu 3,5% anual em média. O ano de 2008 fechou com um crescimento positivo de 5,1%, apesar da forte contração registrada no quarto trimestre (3,6%) (Ver Gráfico). O desempenho econômico dos últimos cinco anos tem sido impulsionado pelo mercado doméstico (em especial, pelo consumo das famílias), pelas exportações e pelo investimento. O aumento no consumo das famílias, por sua vez, é reflexo da melhora do emprego e da renda, do aumento real do salário mínimo, da expansão do crédito e da ampliação dos programas sociais, em especial os de transferência de renda condicionada (Bolsa Família) ou voltados para os aposentados e idosos (Previdência e Assistência Social). Crescimento PIB e PIB per capita (em %) e do emprego formal, 1999-2008 7.0 1800000 6.0 1600000 1400000 5.0 1200000 4.0 1000000 3.0 800000 2.0 600000 400000 1.0 200000 0.0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 0 -1.0 -200000 -2.0 -400000 PIB PIB per capita criação de emprego formal Fonte: Dados do crescimento real do PIB e PIB per capita do Banco Central; dados do emprego formal do CAGED do MTE. Entre 2004 e 2008, a taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas incluídas na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diminuiu de 11,5% para 7,9% . Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para todo o país, o desemprego caiu de 8,9% em 2004 a 8,2% em 2007. Não obstante, persiste uma grande desigualdade entre a taxa de desemprego dos diferentes grupos. Enquanto, em 2007, a taxa de desemprego dos homens brancos era 5,3%, a dos homens negros era 6,4%, a das mulheres brancas 9,2% e a das mulheres negras 12,2%. Além da redução do desemprego, houve uma expressiva geração de empregos formais, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em 2007 foram gerados 1,6 milhão de empregos com carteira assinada e em 2008 mais 1,4 milhão. Um dos efeitos desse crescimento foi o aumento do número de trabalhadores ocupados que contribuem ao sistema Organização Internacional do Trabalho - Escritório no Brasil SEN, Lote 35 - Brasília - DF / Brasil - 70800-400 - Tel.: +55 61 2106-4600 - www.oit.org.br Promovendo o trabalho decente em uma época de crise previdenciário, que ultrapassou 50% em 2007. Também houve importantes ganhos na renda média real do trabalho, que aumentou em termos reais em 2007 pelo terceiro ano consecutivo. Em relação a 2004, o aumento real do rendimento médio de todos os trabalhos foi de 15,6% (PNAD-IBGE). Apesar desses avanços, continuam expressivas as desigualdades de renda por sexo e raça-cor: as mulheres brancas recebiam, em 2007, apenas 62% do rendimento dos homens brancos, os homens negros 51% as mulheres negras 34%. A crise econômica ameaça esses avanços, mas seu impacto sobre o emprego, a renda e as demais dimensões do trabalho decente dependerá dos alcances das políticas anticíclicas adotadas no país, incluindo as políticas de proteção social e do mercado de trabalho. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano de Habitação darão um importante estimulo à economia em 2009, equivalente a 4,2% do PIB, com importantes efeitos para a criação de emprego. Na área de proteção social, a decisão de ampliar a cobertura do Bolsa Família, com o novo teto de R$137 per capita, significará a inclusão de mais 1,3 milhão de famílias no Programa. Isto ajudará a minimizar os efeitos perniciosos da crise para as famílias, e ao mesmo tempo, dará um impulso importante na economia, já que estimulará o consumo. A decisão de aumentar em duas parcelas o benefício do seguro desemprego nos setores onde os impactos da crise são maiores também ajudará a minimizar a queda na renda das famílias devido ao desemprego. Outra medida importante foi a decisão de manter a política de valorização do salário mínimo. A defesa do poder de compra do salário mínimo é um instrumento importante de proteção da renda dos mais pobres, e contribuirá a sustentar os níveis de consumo privado e, portanto, a reativação da economia. Prevê-se que o aumento de 12% (de R$ 415 a R$465, o que equivale a 6% em termos reais) vigente a partir de fevereiro passado deverá injetar R$21 bilhão na economia (0,7% do PIB) em 2009. As políticas adotadas até agora pelo governo para enfrentar a crise são importantes para minimizar seus efeitos e promover o trabalho decente. Elas estão em compasso com as recomendações que vem sendo feitas pela OIT no âmbito internacional para o enfrentamento da crise: manutenção e estímulo aos investimentos público-privados em setores com alta capacidade de geração de emprego e estratégicos para o desenvolvimento, apoio às empresas produtivas, rentáveis e sustentáveis e fortalecimento da rede de proteção social. Mas a OIT chama a atenção para a necessidade de implementar políticas também em outras áreas: em primeiro lugar, a crise deve ser vista também como uma oportunidade de construir as bases para uma resposta que seja ambientalmente sustentável, através da promoção de empregos verdes. Em segundo lugar, é necessário evitar que a crise leve a um processo de precarização do trabalho. É necessário fortalecer a capacidade dos Estados para garantir o cumprimento dos direitos do trabalho, reforçando a fiscalização do trabalho e fortalecendo instrumentos e medidas para prevenir o aumento do trabalho infantil como estratégia das famílias para enfrentar a crise, além do recrudescimento do trabalho forçado e degradante e o aumento da vulnerabilidade dos grupos mais discriminados no mercado de trabalho (mulheres, negros e jovens). Em terceiro lugar é necessário confiar e estimular o diálogo social entre o governo, as organizações de empregadores e trabalhadores como mecanismo de formulação de políticas e acordos para o enfrentamento da crise. Restabelecer o crescimento e torná-lo menos volátil no futuro são dois objetivos essenciais para garantir a concretização da Agenda de Trabalho Decente. Neste contexto, é fundamental evitar que a produtividade do trabalho sofra danos duradouros e manter o investimento numa perspectiva de melhorias futuras, proteger adequadamente os membros mais vulneráveis da população ativa e evitar a sua saída do mercado de trabalho, assegurar um financiamento adequado às empresas viáveis, especialmente às pequenas empresas e prepará-las para a recuperação econômica e utilizar plenamente as instituições de diálogo social para buscar as propostas e acordos que possibilitem uma saída mais rápida da crise. Organização Internacional do Trabalho - Escritório no Brasil SEN, Lote 35 - Brasília - DF / Brasil - 70800-400 - Tel.: +55 61 2106-4600 - www.oit.org.br