MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA PLANEJAMENTO DE COMPRAS EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DA REGIÃO NORTE DANIELA DE LORENZO HOFFMANN Bento Gonçalves 2011 1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA DANIELA DE LORENZO HOFFMANN PLANEJAMENTO DE COMPRAS EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DA REGIÃO NORTE Relatório de Estágio apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Logística do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, como parte dos requisitos para conclusão do curso. Prof ª Orientador (a): Fabiane Brand Bento Gonçalves 2011 2 DANIELA DE LORENZO HOFFMANN PLANEJAMENTO DE COMPRAS EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DA REGIÃO NORTE Relatório de Estágio apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Logística do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, como parte dos requisitos para conclusão do curso. Aprovado em: 20/12/2011 BANCA EXAMINADORA Daniel Battaglia Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS-BG) Luis Henrique Ramos Camfield Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS-BG) 3 AGRADECIMENTOS Dedico este espaço para agradecer a todos que me incentivaram e me ajudaram na realização deste sonho. Agradeço primeiramente ao meu esposo Airton pela paciência, cumplicidade, apoio e incentivo que tem me dado. Obrigada por completar minha felicidade. Ao meu filho Guilherme que, mesmo com pouca idade, soube compreender a minha ausência nos momentos de estudo. Aos meus pais que me educaram da melhor maneira para enfrentar os obstáculos da vida. A todos os meus colegas de faculdade pela amizade conquistada, pelo carinho e pela parceria em todos os momentos. Aos mestres pelos ensinamentos transmitidos. 4 RESUMO Em virtude da evolução social e das mudanças nos processos de gestão educacional, as instituições públicas de ensino procuram adaptar-se às características do sistema social que as envolvem. Uma boa gestão de compras poderá servir de suporte para o crescimento e desenvolvimento organizacional, suprindo assim necessidades diárias e o bom funcionamento da mesma. Materiais e logística são, juntamente com recursos humanos e administração financeira, fatores críticos para o desenvolvimento de atividades e para a excelência operacional de uma Universidade. A irregularidade no abastecimento e a falta de materiais são problemas frequentes em serviços públicos. A má administração orçamentária pode ser um motivo para a falta de materiais, entretanto, também são notórios os desperdícios e a má utilização de insumos e equipamentos, a escassa qualificação dos profissionais da área de abastecimento e a pouca atenção ao planejamento logístico nas organizações públicas. Assim sendo, em uma Universidade pública no Estado de Roraima notou-se a importância de se ter um bom planejamento para a compra de seus materiais de expediente e de manutenção do prédio, devido à frequente falta de alguns itens de suma importância para o bom funcionamento da organização. A fim de ajudar a Universidade analisada a suprir essa falta de materiais, sem perder a qualidade dos seus serviços, o objetivo desse trabalho é analisar quais são as ações necessárias para desenvolver um planejamento de compras, para que não ocorra a falta desses materiais. Foi realizada uma a pesquisa qualitativa, através do método de observação direta intensiva com a técnica de entrevista não estruturada. Através das análises dos dados coletados conclui-se que a organização estudada necessita fazer um controle de entradas e saídas de materiais para poder realizar um planejamento de compras de materiais elétricos e de informática. Palavras chave: Compras, Gestão, Materiais e Planejamento. 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Relacionamento entre compras e planejamento .............................................17 Figura 2: Estágios de um processo de compra................................................................21 Figura 3: Esquema de Funcionamento EDI....................................................................23 Figura 4: Modelo de requisição de material....................................................................45 Figura 5: Fluxograma de sugestões de planejamento.....................................................47 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Saída de materiais de informática....................................................................43 Quadro 2: Saída de materiais elétricos..............................................................................43 7 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Saída de materiais de informática..................................................................44 Gráfico 2: Saída de materiais elétricos............................................................................44 8 SUMÁRIO 1.APRESENTAÇÃO...............................................................................................................11 1.1. Objetivos........................................................................................................................12 1.1.1.Objetivo Geral...........................................................................................................12 1.1.2.Objetivos Específicos................................................................................................13 1.2. Justificativa.....................................................................................................................13 1.3. Delimitação da pesquisa.................................................................................................14 2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................................15 2.1.Introdução........................................................................................................................15 2.2.Planejamento Estratégico................................................................................................16 2.3.Compras e sua função......................................................................................................17 2.3.1.Conceituação e Objetivo de compras........................................................................18 2.3.2.Tipo de decisão de compras das organizações..........................................................19 2.3.3.Compras centralizadas X descentralizadas................................................................20 2.3.4.Processos de decisão quanto à Compra.....................................................................21 2.3.5.Novas formas de comprar..........................................................................................22 a) EDI..............................................................................................................................22 b) Internet........................................................................................................................23 c) Cartões de Crédito.......................................................................................................24 d) Leilões.........................................................................................................................25 2.4.Atuação de Compras.......................................................................................................25 2.4.1.Ações de suprimentos...............................................................................................26 2.4.2.Ações de apoio..........................................................................................................26 2.5.Principais papéis exercidos em compras individuais e organizacionais.........................27 2.6.Lote Econômico de Compras (LEC)...............................................................................28 2.7.Ética em Compras...........................................................................................................29 2.8.Gestão de Estoques.........................................................................................................32 2.8.1.Inventário físico........................................................................................................32 2.8.2.Acurácia dos Controles.............................................................................................33 2.8.3.Nível de Serviço ou Nível de Atendimento..............................................................33 2.8.4.Giro de Estoques.......................................................................................................33 2.9.Compras no setor público...............................................................................................34 2.9.1.Modalidades de Licitação.........................................................................................35 9 2.9.2.Dispensa/Inexigibilidade...........................................................................................36 2.9.3.Compras Eletrônicas..................................................................................................37 a) Pregão Eletrônico........................................................................................................37 b) Bolsa Eletrônica de compras.......................................................................................37 2.9.4.Pregão Carona...........................................................................................................37 3. METODOLOGIA................................................................................................................39 3.1.Caracterização da pesquisa.............................................................................................39 4. ANÁLISE DOS DADOS.....................................................................................................41 4.1.Análise da situação atual.................................................................................................41 4.2.Análise dos itens faltosos................................................................................................42 4.3.Problemas enfrentados no planejamento de compras.....................................................45 4.4.Sugestões de Planejamento.............................................................................................46 5. CONCLUSÕES....................................................................................................................48 5.1. Recomendações para trabalhos futuros..........................................................................48 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................49 10 1. Apresentação Diante de um ambiente de intensas mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, nenhuma organização pode continuar indiferente e estática. Para sobreviver, é preciso analisar as tendências e resultados do seu negócio, é necessário aceitar e enfrentar riscos, tomando decisões rápidas e seguras. A obtenção da informação precisa ser confiável e atualizada, podendo permitir ao empreendedor se posicionar de forma eficaz e eficiente no processo de tomada de decisão. As instituições públicas, que como o próprio nome já diz, consistem em prestar serviços à população e seus usuários (cliente interno e externo) de forma eficiente, ainda apresentam alguns tipos de problemas com relação a tais níveis de serviço, como por exemplo, o de não conseguir enxergar o funcionário como um cliente e disponibilizar a ele todas as condições para o trabalho. Em virtude da evolução social e das mudanças nos processos de gestão educacional, as instituições públicas de ensino procuram adaptar-se às características do sistema social que as envolvem. Uma boa gestão de compras poderá servir de suporte para o crescimento e desenvolvimento organizacional, suprindo assim necessidades diárias e o bom funcionamento da mesma. São muitas as questões feitas sobre a gestão de órgãos públicos tais como: má distribuição de recursos, atraso no andamento dos processos, uso indevido dos recursos públicos, falta de zelo para com o patrimônio público, falta de materiais de consumo, entre outros. No gerenciamento de uma Universidade não é muito diferente. Porém, a instituição escolar diferencia-se das empresas convencionais por apresentar um sistema de relações humanas e sociais com características interativas, que se refere aos princípios e procedimentos relacionados à ação de planejar o trabalho da escola, racionalizar o uso de recursos e materiais, coordenar e avaliar o trabalho das pessoas de forma democrática e participativa. Materiais e logística são, juntamente com recursos humanos e administração financeira, fatores críticos para o desenvolvimento de atividades e para a excelência operacional de uma Universidade. Entretanto, embora a irregularidade do abastecimento e a "falta de material" sejam problemas frequentes em serviços públicos e tenham significativos impactos negativos sobre seu desempenho e imagem junto aos alunos e professores, a discussão sobre um bom planejamento de compras está notadamente ausente em algumas organizações públicas. 11 A tendência no setor público parece ser reduzir todos os problemas de compras de materiais à insuficiência de recursos orçamentários. A má administração orçamentária pode ser um motivo para a falta de materiais, entretanto, também são notórios os desperdícios e a má utilização de insumos e equipamentos, a escassa qualificação dos profissionais da área de abastecimento e a pouca atenção ao planejamento logístico nas organizações públicas. A gestão de compras tem um papel estratégico nos negócios atuais de uma organização, pois a função é muito ampla e envolve todos os departamentos da mesma, principalmente o financeiro. A área de compras tem por finalidade a aquisição de materiais, componentes e serviços para suprir às necessidades da empresa e do seu sistema de produção nas quantidades certas, nas especificações exatas e nas datas aprazadas (CHIAVENATO, 2005). Assim sendo, em uma Universidade pública no Estado de Roraima notou-se a importância de se ter um bom planejamento para a compra de seus materiais de expediente e de manutenção do prédio, devido à frequente falta de alguns itens de suma importância para o bom funcionamento da organização. A fim de ajudar a Universidade analisada a suprir essa falta de materiais, sem perder a qualidade dos seus serviços, o objetivo desse trabalho é analisar quais são as ações necessárias para desenvolver um planejamento de compras, para que não ocorra a falta desses materiais, fazendo uma análise de como ocorre atualmente o processo de compras e do consumo dos últimos cinco meses, para assim verificar os itens que mais faltam no dia a dia da Universidade e descrever os problemas enfrentados no planejamento de compras. Dessa forma evitará a falta de itens de suma importância para o funcionamento da Instituição, mantendo assim a qualidade do serviço. 1.1. Objetivos: Esta seção visa apresentar o objetivo geral e os objetivos específicos do trabalho. 1.1.1. Objetivo geral Analisar o planejamento de compras de uma Universidade pública localizada no Estado de Roraima. 12 1.1.2. Objetivos Específicos a. Relacionar os itens que mais faltam no dia a dia da Universidade; b. Descrever os problemas enfrentados no planejamento de compras; c. Fazer uma avaliação do planejamento de compras para que não faltem itens no estoque. 1.2. Justificativa No atual cenário competitivo empresarial é clara a importância de se otimizar os recursos, aumentar a satisfação dos clientes e obter como resultado o lucro financeiro. Porém , ao analisar o setor público, verifica-se que este também não foge a expectativa, exceto a respeito dos fins lucrativos que é exclusivo das empresas. Sendo assim, para que esses órgãos propiciem um eficiente atendimento e a plena satisfação, tanto do cliente externo (alunos) quanto do interno (servidor), surge a necessidade de se avaliar o planejamento de compras para o desenvolvimento das atividades envolvidas nesse processo. Os materiais são tidos como itens ou componentes utilizados nas operações diárias de uma organização, sendo necessário, portanto uma boa administração que os disponibilize nas quantidades adequadas e que não permita a falta dos mesmos. E para que não ocorra essa falta, justifica-se a execução de um bom planejamento de compras, pois é ele que garantirá que os itens estejam disponíveis para o funcionamento das atividades. A necessidade de se avaliar o planejamento de compras do almoxarifado, surgiu pela observação da constante falta de materiais elétricos e de informática, de suma importância para o funcionamento da Universidade, o que prejudica a execução de tarefas diárias. Dada a importância desses materiais e de se possuir um planejamento, obtêm-se com esse estudo, uma maior visibilidade dos problemas resultantes da falta de controle de entradas e saídas para um eficaz planejamento de compras para que não faltem materiais no estoque. 13 1.3. Delimitação da pesquisa Além de ser difícil traçar os limites de qualquer objeto social, é difícil determinar a quantidade de informações necessárias sobre o objeto delimitado. Como não existe limite inerente ou intrínseco ao objeto de estudo e os dados que se pode obter a respeito são infinitos, exige-se do pesquisador alguma intuição para perceber quais dados são suficientes para se chegar à compreensão do objeto como um todo (Gil, 1993). Neste sentido, como delimitação desta pesquisa utilizou-se a abordagem de diversos autores, notadamente os que discorrem sobre planejamento, compras e estoque e, também sobre a Lei 8666/93, Lei das Licitações, que é a Lei que rege as compras no setor público. O trabalho se limita a analisar o planejamento de compras, assim como o controle de entradas e saídas do almoxarifado de uma Universidade pública localizada no Estado de Roraima nos meses de junho à outubro de 2011. 14 2. Revisão Bibliográfica Esta seção apresentará uma revisão da literatura sobre planejamento e compras. 2.1. Introdução As empresas não são auto-suficientes, pois elas dependem de terceiros, parceiros e de outras empresas para realizar suas atividades. Para abastecer suas operações, as empresas requerem matérias-primas, materiais, máquinas, equipamentos, serviços e uma extensa variedade de insumos que provem do ambiente externo. Todo processo produtivo precisa ser devidamente abastecido por uma cadeia de suprimentos para poder funcionar satisfatoriamente. A rigor, para que a primeira operação tenha início, torna-se necessário que os materiais e insumos estejam disponíveis e o seu abastecimento garantido com certo grau de certeza para atender às necessidades e à sua continuidade ao longo do tempo. O ritmo e a cadência de funcionamento da empresa requerem, portanto, um fluxo constante de materiais e insumos que provem do ambiente externo. Em virtude da evolução social e das mudanças nos processos de gestão educacional, as instituições públicas de ensino procuram adaptar-se às características do sistema social que as envolvem. Uma boa gestão de compras poderá servir de suporte para o crescimento e desenvolvimento organizacional, suprindo assim necessidades diárias e o bom funcionamento da mesma. Atualmente, áreas como planejamento de materiais tem contato direto com fornecedores para passar e receber informações relativas aos planos. Em muitas organizações, a função de compras, no que diz respeito aos materiais produtivos, se comporta como uma extensão da área de planejamento de materiais. As vantagens da aplicação desse modelo estão vinculadas ao aumento do poder de decisão do planejador e à redução das interfaces, permitindo uma maior agilidade e acurácia no fluxo das informações. 15 2.2. Planejamento Estratégico Segundo Bertaglia (2003), o planejamento estratégico de uma organização está relacionado ao processo de desenvolver e construir estratégias e administrar a empresa de acordo com as decisões e os objetivos estabelecidos a médio e a longo prazos, os quais devem orientar as estratégias. As organizações que adotam o planejamento estratégico preocupandose com o futuro, buscam claramente definir onde querem estar em um certo período de tempo. Ao invés de estar constantemente reagindo às oscilações do mercado e aos posicionamentos da concorrência, a organização toma suas decisões orientada pela estratégia desenvolvida, compondo as atividades operacionais de curto prazo e, ao mesmo tempo, projetando o seu futuro. Não é tarefa simples; exige visão e desprendimento do presente. O planejamento estratégico é um esforço para produzir decisões que orientarão as ações da organização. Deve ser simples e claro, e conter a missão, os princípios, as metas e os objetivos da empresa, e se basear nas premissas e variáveis internas e externas. As variáveis internas se concentram nos recursos financeiros, humanos e tecnológicos. Apresentam um melhor nível de controle, uma vez que as ações sobre elas podem ser imediatas. Já as variáveis externas apresentam maiores riscos e apresentam um menor nível de controle. Correspondem ao mercado e aos clientes, à concorrência, à conjuntura social, política e econômica e aos fornecedores. Uma visão realista do negócio é o primeiro passo a ser desenvolvido no processo de planejamento estratégico. Estabelecer objetivos viáveis e passíveis de serem alcançados é o grande desafio. Uma visão de sucesso deve ser breve, enfocar um futuro melhor com objetivos e resultados positivos, além de inspirar entusiasmo (BERTAGLIA, 2003). O principal objetivo do planejamento é propiciar uma visão clara do processo como um todo, avaliando metas e restrições em compras, produção e distribuição num horizonte de tempo predeterminado. O conhecimento do mercado, as eficiências dos recursos internos e externos, as atividades de vendas são fatores que determinam a elaboração dos planos. A elaboração de um planejamento integrado da cadeia de abastecimento proporciona os benefícios como a redução de custos e dos estoques, aumento da lucratividade, melhor uso da capacidade produtiva e dos ativos. As funções de compras e planejamento se fundem em uma só, conforme apresentado na figura 1. 16 A FORNECEDOR PLANEJADOR COMPRADOR B FORNECEDOR PLANEJADOR/COMPRADOR Figura 1: Relacionamento entre compras e planejamento Fonte: Paulo Roberto Bertaglia (2003) 2.3. Compras e sua função O posicionamento atual da função aquisição é bem diferente do modo tradicional como era tratada antigamente. Antes da Primeira Guerra Mundial, tinha papel essencialmente burocrático. Depois, já na década de 1970, devido principalmente à crise do petróleo, a oferta de várias matérias-primas começou a diminuir enquanto seus preços aumentavam vertiginosamente. Nesse cenário, saber o que, quanto, quando e como comprar começa a assumir condição de sobrevivência, e, assim, o departamento de compras ganha mais visibilidade dentro da organização (MARTINS E ALT, 2006). Para Bertaglia (2003), comprar é o conceito utilizado na indústria com a finalidade de obter materiais, componentes, acessórios ou serviços. É o processo de aquisição que também inclui a seleção dos fornecedores, os contratos de negociação e as decisões que envolvem compras locais ou centrais. Segundo Pozo (2007), o setor de compras ou suprimentos, como atualmente é denominado, tem responsabilidade preponderante nos resultados de uma empresa em face de sua ação de suprir a organização com os recursos materiais para seu perfeito desempenho e atender às necessidades do mercado. Toda a atividade de uma empresa somente será possível se for abastecida com informações e materiais. Para que ela possa movimentar-se adequadamente e eficazmente é necessário que os materiais estejam disponíveis no momento 17 certo e com as especificações corretas, e o sistema será contínuo, satisfazendo, assim, o processo operacional. A área de compras não é um fim em si própria, mas uma atividade de apoio fundamental ao processo produtivo, suprindo-o com todas as necessidades de materiais. Para Chiavenato (2005), o órgão de compras, que constitui o elemento de ligação entre a empresa e o seu ambiente externo, é o responsável pelo suprimento dos insumos e materiais necessários ao funcionamento do seu sistema produtivo. Na realidade, o órgão de compras é um elemento de interface entre o sistema empresarial e o ambiente externo, que lhe fornece as entradas e insumos. Nesse sentido, o órgão de compras é a porta de entrada da empresa para o ingresso dos materiais e insumos necessários ao seu funcionamento cotidiano. A aquisição compreende a elaboração e colocação de um pedido de compra com um fornecedor já selecionado e a monitoração contínua desse pedido a fim de evitar atrasos no processo. Contudo, a gestão de compras não se limita ao ato de comprar e monitorar. É um processo estratégico, que envolve custo, qualidade e velocidade de resposta. É uma tarefa crucial para a organização, seja de que tipo for: manufatura, distribuição, varejo ou atacado. A visão moderna de compras está ligada ao sistema logístico empresarial como atividades-pares envolvidas em ações estreitamente homogêneas, voltada para a finalidade comum de operação lucrativa e posição competitiva no mercado. Compras é uma função administrativa, pois nos diversos estágios de sua interação organizacional tomam-se decisões quanto a quantidades, origem, custos e credibilidade dos sistemas de fornecimento, tanto interno como externo, sempre voltada para os aspectos econômicos e estruturais da organização (POZO, 2007). Os profissionais da área de compras devem ter um entendimento global de negócios e tecnologia. O comprador, hoje, em função da tecnologia, é muito mais um analista de suprimentos e um negociador do que propriamente um operador de transações que faz pedidos e monitora-os. 2.3.1. Conceituação e objetivo de compras O conceito de compras envolve todo o processo de localização de fornecedores e fontes de suprimento, aquisição de materiais por meio de negociações de preço e condições de pagamento, bem como o acompanhamento do processo (follow-up) junto aos fornecedores escolhidos e o recebimento do material comprado para controlar e garantir o fornecimento 18 dentro das especificações solicitadas. Em alguns casos, o órgão de compras é o intermediador entre o sistema de produção da empresa e as fontes supridoras que existem no mercado (CHIAVENATO, 2005). O objetivo básico de suprimentos é garantir à empresa a plena satisfação de suas exigências de materiais e produtos, bem como máquinas, equipamentos e insumos necessários a sua operacionalidade, devendo todos serem negociados e adquiridos aos mais baixos custos, satisfazendo aos padrões de qualidade e serviços da empresa sem colocar os fornecedores em situações de incertezas de perdedores, mas sim de parceiros (POZO 2007). Assim, a atividade compras busca, incansavelmente, evitar duplicações, estoques elevados, atos de urgência e compras apressadas, que normalmente são desnecessárias e criam conflitos e custos elevados de planejamento, estoques e transportes. Outro aspecto importante é a seleção de qualificação de fornecedores, que permitirá um processo de aquisição mais confiável. Para Martins e Alt (2006), os objetivos de compras devem estar alinhados aos objetivos estratégicos da empresa como um todo, visando o melhor atendimento ao cliente interno e externo. Essa preocupação tem tornado a função compras extremamente dinâmica, utilizando-se de tecnologias cada vez mais sofisticadas e atuais como o EDI (troca eletrônica de dados), a Internet, cartões de crédito e leilões. A estratégia de gestão da aquisição dos recursos materiais e de bens patrimoniais de uma empresa está diretamente ligada ao seu objeto social, isto é, aos seus objetivos estatutários. Toda organização na execução de seus objetivos necessita de grande interação entre todos os seus departamentos ou processos, no caso de assim estar organizada. Essa interação deve ocorrer da forma mais eficiente possível, a fim de que tais esforços se somem. A área de compras interage intensamente com todas as outras, recebendo e processando informações, como também alimentando outros departamentos de informações úteis às suas tomadas de decisão. 2.3.2. Tipos de decisão de compras das organizações Segundo Bertaglia (2003), assim como nas compras individuais efetuadas por consumidores, as compras empresariais variam de acordo com o envolvimento na decisão de compra. As circunstâncias variam e vão desde compras rotineiras até compras complexas de algo totalmente novo, como uma caldeira, elevadores ou serviço de avaliação de processos empresariais. As decisões de compras são classificadas em: 19 a) Compras de reposição: correspondem às compras contínuas, normalmente controladas por pontos de pedido, ou seja, quando uma determinada quantidade mínima é alcançada e, a reposição precisa ser efetuada. Algumas considerações relacionadas a esse tipo de aquisição são: • reposição de itens sem modificações nos pedidos ou trabalhando com conceitos colaborativos ou contratos de entrega; • baseado em histórico de relacionamento; • selecionado de uma lista de fornecedores preferenciais. b) Compras modificadas: as aquisições dessa categoria incluem trocas de fornecedores de um tipo específico de serviço ou produto. Por exemplo, a troca do parque de computadores pessoais do fornecedor A para o B, ou mesmo a troca de impressoras de um modelo por outro mais avançado ou com melhor desempenho. As características dessas compras são: • envolvimento moderado; • exigência de pesquisa; e • necessita de outras pessoas na tomada de decisão. c) Compras novas – projetos: as compras novas se referem aos tipos de aquisições não comuns na organização, como serviços e equipamentos especiais, como é o caso de empilhadeiras, grandes computadores, implementações de sistemas de gestão empresarial. Quase sempre, esse processo envolve muitas pessoas e requer a elaboração de projetos internos. Entre as características, estão: • alto envolvimento; • custo e risco elevados; • grande número de participantes na tomada de decisão; • a decisão incorpora especificações, pesquisa do item e de fornecedores, cotações, pedidos, condições comerciais e outros. 2.3.3. Compras centralizadas X descentralizadas Conforme Bertaglia (2003), existem algumas características de compras que são usadas pelas empresas com a finalidade de se obter algumas vantagens no processo. Com 20 compras centralizadas, as empresas podem obter melhores preços e serviços em função do maior volume praticado com fornecedores, recebendo atenção especial por parte deles. Os valores de transporte também podem ser reduzidos em função do volume de compra. As compras descentralizadas, por sua vez, podem oferecer uma velocidade maior de atendimento se praticadas localmente, influenciando ainda mais o custo de transporte. Algumas organizações optam por utilizar os dois conceitos, comprando itens mais estratégicos e de maior volume de forma centralizada, enquanto compram os de menor quantidade localmente. Estudos de viabilidade econômica devem ser conduzidos levando-se em conta variáveis como preços, disponibilidade local e global, disponibilidade e modo de transporte, volume e frequência de compras e lote econômico. 2.3.4. Processos de decisão quanto à compra Segundo Bertaglia (2003), entender o comportamento de compra, tanto de consumidores como de clientes empresariais, pode levar a uma vantagem competitiva e a um melhor planejamento estratégico da cadeia de valor. É importante perceber a relevância que se deve dar a todo esse conceito, pois ele é o princípio que afeta toda a cadeia de abastecimento. As decisões de compras de uma organização e as influências sobre elas incididas afetam sobremaneira a cadeia de abastecimento. Os estágios mais comuns em um processo de compras são apresentados na figura 2: Identificação do problema Descrição do requerimento/ necessidade Especificação do produto ou serviço Pesquisa de fornecedores Solicitação de proposta Seleção do Fornecedor Pedido de compra Análise do desempenho Figura 2: Estágios de um processo de compra Fonte: Paulo Roberto Bertaglia (2003) 21 2.3.5. Novas formas de comprar O fenômeno da globalização, como não poderia deixar de ser, tem trazido grande impacto na forma como as compras são efetuadas. Hoje se fala em mercado global e, consequentemente, em compras globalizadas (global sourcing), onde pode-se comprar no mundo inteiro. As novas formas de comprar são EDI, Internet, Cartões de Crédito e Leilões, que serão descritos nos itens seguintes. a) Electronic Data Interchange (EDI) Uma das formas de compras que mais cresce atualmente é o Electronic Data Interchange (EDI), tecnologia para transmissão de dados eletronicamente. Por meio da utilização de um computador, acoplado a um modem e a uma linha telefônica e com um software específico para comunicação e tradução dos documentos eletrônicos, o computador do cliente é ligado diretamente ao computador do fornecedor, independentemente dos hardwares e softwares em utilização. As ordens ou pedidos de compra, como também outros documentos padronizados, são enviados sem a utilização de papel. Os dados são compactados – para maior rapidez na transmissão e diminuição de custos -, criptografados e acessados somente por uma senha especial (MARTINS E ALT, 2006). Os benefícios potenciais da utilização do EDI são muitos, resultando no aumento da competitividade das empresas, porque, entre outras ações, o EDI tem o potencial de ampliar e aumentar a velocidade do acesso à base industrial, de permitir um controle mais estreito e mais dinâmico sobre a performance das vendas e ações de todos os tipos, de fornecer headsup preciso e de curto prazo aos atores do canal de logística (incluindo total comunhão com a execução da ferramenta just-in-time), de proporcionar mais agilidade e eficiência nos processos produtivo e de administração (incluindo redução do lead time administrativo), e de provocar minimização de custos transacionais (menos pessoas envolvidas no processo, economias advindas da redução do tempo de processamento). Além disso, automatiza decisões lógicas (através de sistemas “inteligentes”, que trabalham e analisam automaticamente as informações), e, acima de tudo, melhora a qualidade da informação, estreitando laços comerciais (envolve maior confiança e parceria entre fornecedores, 22 prestadores de serviços e clientes), permitindo a sincronia perfeita das fases do processo produtivo. Proporciona também, além de tudo, queda de gastos com tarifas telefônicas (já que são efetuadas apenas ligações de tarifação local - para a provedora do serviço). A Figura 3 mostra um esquema de funcionamento do EDI. SATÉLITE (rede de comunicação) Sistema de compras do cliente Converte informação do pedido de compra para o formato ANSI. X12 Converte informação do pedido de compra do formato ANSI. X12 Sistema de entrada das ordens de compra (fornecedor) Figura 3: Esquema de Funcionamento EDI Fonte: Petronio Garcia Martins e Paulo Renato Campos Alt (2006), pg 71 A fim de facilitar e disseminar a forma EDI de transações foram estabelecidos padrões às comunicações de dados. São mais usuais o padrão europeu – EDIFACT – e o americano – ANSI X12. O padrão americano transmite hoje mais de 200 tipos de documentos. Além do EDI tradicional, muito usado pelas grandes empresas, está tomando força o EDI via Internet, como uma opção de menor custo, possibilitando acesso a mais empresas. b) Internet Segundo Martins e Alt (2006), torna-se cada vez mais difundida a utilização do e-mail como um veículo de transação comercial ou e-commerce. Basta estar ligado a um provedor e 23 tem-se toda a WWW (World Wide Web) ao alcance do usuário, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Todo o mundo pode ser acessado e a comunicação bilateral estabelecida. Um exemplo bastante conhecido é o da livraria virtual, em que podemos consultar e comprar livros via Internet, sem sair de nossas casas. A Internet como veículo de comércio ganha a cada dia mais adeptos, pois apresenta uma série de vantagens em relação ao EDI, entre as quais: • investimento inicial em tecnologia é bem mais baixo, pois a Internet custa bem menos que uma VAN (Vallue Added Network); • atinge praticamente a todos na cadeia de suprimentos; • pode ser operada praticamente em tempo real; • permite tanto a transação máquina-máquina como também homem-máquina (o EDI só permite a transação máquina-máquina); • maior flexibilidade nos tipos de transações. c) Cartões de crédito Para Martins e Alt (2006) está se tornando prática usual entre as empresas a compra de mercadorias, como matérias-primas e materiais auxiliares, por meio de cartão de crédito, também conhecido como cartão-empresa ou cartão empresarial. Os bancos e as administradoras de cartão de crédito, por meio de programas específicos, têm incentivado as organizações a efetuar suas compras por meio de cartões. Vários deles são bastante atualizados, oferecendo às empresas diversos tipos de benefícios, como acesso à movimentação do cartão on-line, relatórios gerenciais sobre as compras efetuadas e parcelamento do total gasto. As principais vantagens resultantes do uso de uma carta empresarial são a diminuição do número de transações e de cheques, maior controle sobre as compras e, consequentemente, redução de custos. 24 d) Leilões Conforme Martins e Alt (2006), a utilização de leilões consiste no fato da empresa disponibilizar via Internet ou por meio de editais, as suas necessidades de compras, informando que a seleção do fornecedor dar-se-á por leilão público, em que os pretensos fornecedores farão suas ofertas de preços e prazos de entrega. Cabe ao comprador escolher a melhor oferta. São inúmeras as vantagens deste modo de agir: a transparência do processo de compras evita qualquer dúvida quanto à honestidade do sistema; permite a entrada de novos fornecedores, com novas metodologias produtivas e/ ou novas tecnologias. 2.4. Atuação de compras Pozo (2007) diz que o sistema de compras baseia-se em uma ação que envolve atividades de pesquisas para a melhor adequação dos objetivos organizacionais, sendo, portanto, em seu sentido mais amplo, uma ação contínua. A investigação e a busca de novos fatos estão definitivamente conjugadas em suas atividades básicas, conforme descrito nos tópicos anteriores, tais como analisar ordem de pedido, buscar melhores preços, encontrar fornecedores certos, fontes perenes de fornecimento, novos materiais, novos mercados e assim por diante. Até mesmo o cuidadoso agendamento de reuniões de negociação torna-se um processo de pesquisa, coleta e triagem de dados que são elaborados, utilizando-se modernas técnicas de estudos, bem como procedimentos para definir se compramos ou fabricamos determinado produto para atender a nosso processo de manufatura e, finalmente, para estabelecer padrões de análise de valores. Compras que não dependem de valores e julgamentos intuitivos, mas sim de sistemas de gestão moderna e com o uso de tecnologia, são fontes geradoras de benefícios e de lucros para as empresas. Assim, a área de Compras deve trabalhar com pesquisa constante em todo o seu envolvimento. Dentro desse enfoque, podem-se ressaltar ações importantes no processo de continuidade do setor com atividades que envolvem ações de suprimentos e de apoio, conforme apresentado nos itens seguintes: 25 2.4.1. Ações de suprimentos De acordo com Pozo (2007), as principais ações relacionadas a suprimentos são: - Solicitação de compras: é o documento que contém as informações sobre o quê comprar, sua quantidade, prazo de entrega, local de entrega, fornecedores aprovados, últimos preços e especificações técnicas. Esse documento pode ser originado por vários setores, dependendo do tipo de material de que o mesmo necessita dentro da empresa. Poderá ser originado diretamente nos setores funcionais da empresa, quando se tratar de material de uso específico do solicitante e que não é necessário manter em estoque. - Análise dos preços: tendo em mãos a coleta de preços encerrada, faz-se uma análise dos dados nela contidos para comparar os fornecedores, avaliando todos os fatores que influenciam o conjunto da proposta de cada proponente, para assim escolher qual fornecedor irá fornecer. São levados em consideração todos os dados na convergência do melhor valor agregado para a empresa. - Pedido de compras: é o contrato formal entre as empresas e o fornecedor classificado, e deverá representar todas as condições estabelecidas nas negociações pré-pedido após a análise de preços e que deverá fazer parte integrante do pedido. No pedido deverão constar: preço unitário e total, condições de fornecimento, prazo de entrega, condições de pagamento, especificações técnicas do fornecimento, embalagens, transporte e reajuste, caso haja. O fornecedor deve estar ciente de todas as cláusulas e especificações constantes nas normas e procedimentos legais da empresa e da legislação vigente. Os pedidos de entrega devem sempre ser entregues mediante protocolo, para registro e validação. - Acompanhamento do pedido: também conhecido como follow-up, serve para manter sob controle todos os pedidos em carteira, em que uma pessoa especialmente designada para essa função faz um relato completo da vida inteira do pedido, até o momento em que ele é liberado para o processo da empresa compradora e tem a finalidade de evitar atrasos, ou problemas para o cliente na entrega do pedido. 2.4.2. Ações de apoio: Para Pozo (2007), as principais ações de apoio são: 26 - Desenvolvimento de fornecedores: é o procedimento que possibilita à empresa selecionar os futuros fornecedores que farão parte do catálogo de fornecedores qualificados e aprovados para fornecer materiais e produtos à empresa. O objetivo principal é estabelecer os melhores fornecedores do mercado e que tenham condições de atender a todas as especificações e exigências da empresa, sendo uma fonte confiável e contínua. - Desenvolvimento de novos materiais: o procedimento que possibilita à empresa pesquisar e selecionar novos materiais ou materiais alternativos, para formar o catálogo de fornecedores qualificados e aprovados para fornecer materiais e produtos à empresa. Seu principal objetivo é estabelecer alternativas econômicas ou técnicas para melhorar o desempenho dos produtos no mercado. Terá, também, que atender a todas as especificações e exigências da empresa, para pleno atendimento de mercado. - Qualificação de fornecedores: esta atividade é de responsabilidade da área de engenharia; a área de compras tem uma função de ligação entre o fornecedor e a engenharia, ou seja, pesquisa o mercado, localiza a empresa, coleta informes financeiros e legais da mesma, visita a empresa, traz amostras para testes e emite relatórios sobre sua visão do possível fornecedor. - Negociação: é um procedimento de relacionamento entre a empresa e o fornecedor, e não uma disputa onde um ganha e o outro perde. Esse relacionamento é muito importante, pois, para continuidade e fortalecimento de uma organização, é necessário que seus fornecedores também estejam em pleno desenvolvimento e crescimento. O processo de negociação, embora possa parecer para muitos em centro de conflitos e desgastes, é um importante elemento de fortalecimento dos laços de interesses, de melhorias contínuas e principalmente de aumento dos lucros para ambas as empresas. 2.5. Principais papéis exercidos em compras individuais e organizacionais Bertaglia (2003) afirma que as decisões de compra de consumidores e das organizações são frequentemente influenciados por outras pessoas. É, portanto, necessário conhecer quais são as pessoas envolvidas no processo decisório e que papel cada pessoa desempenha para que as estratégias sejam também orientadas para elas. Esses agentes que influenciam o processo de compras são classificados em: 27 • Agente gerador da ideia: é a pessoa que inicialmente sugere ou imagina a compra de um bem ou de um serviço; • Agente influenciador: pessoa respeitada na organização e cuja opinião possui peso no processo final de decisão; • Agente que toma a decisão: pessoa que toma a decisão final de compra de um bem ou serviço seja ela parcial ou total; • Agente comprador: quem efetua a transação da compra; • Agente usuário: pessoa que vai usar ou consumir o produto ou serviço; • Agente aprovador: corresponde à pessoa cuja aprovação da decisão é importante, mas que não necessariamente influencia na decisão de compra; • Agente controlador: pessoa que controla o fluxo de informação. Embora o processo de compra em uma organização apresente uma maior formalidade, os papéis e agentes que nele atuam são extremamente parecidos aos de uma situação de compra de um indivíduo. 2.6. Lote Econômico de Compras (LEC) Segundo Pozo (2007), quando há estoque reserva toda vez que se aumenta a quantidade a ser comprada, aumenta-se o estoque médio da empresa, e isso propicia, também, aumento de custos de manutenção da armazenagem, juros, obsolescência, deterioração e outros. Por outro lado, aumentando-se as quantidade do lote de compra, diminuem-se os custos de pedido de compra, o custo por unidade comprada, de mão-de-obra e manuseio. O resultado é que têm-se dois focos de forças que afetam a empresa, ou seja, duas fontes opostas, uma encorajando estoques para facilidade de atendimento, porém com custos críticos, e outra desencorajando em face desses custos. O Lote Econômico de Compras (LEC) é a quantidade a ser comprada que vai minimizar os custos de estocagem e de aquisição. Para que o LEC seja considerado, algumas suposições precisam ser atendidas: - a demanda considerada é conhecida e constante; - não há restrições quanto ao tamanho dos lotes (os caminhões de transporte não têm capacidade limitada e o fornecedor pode suprir tudo o que for solicitado); 28 - os custos envolvidos são apenas de estocagem (por unidade) e de pedido (por ordem e compra); - o lead time é constante e conhecido; -não é considerada a possibilidade de agregar pedidos para mais de um produto do mesmo fornecedor. Algumas dessas suposições não são totalmente realistas, mas elas simplificam muito o modelo do LEC, e, portanto, são consideradas para estimar a melhor quantidade a ser comprada. Essa estimativa pode depois ser ajustada para que a quantidade realmente comprada não esteja muito distante da melhor quantidade. 2.7. Ética em compras Um assunto muito importante na administração moderna é o aspecto da ética. Como consenso para nossa conduta, compreende-se que a Ética é a parte da filosofia que trata dos valores morais e dos princípios ideais de conduta humana. Dentro da profissão, um conjunto de princípios morais que se deve observar e colocar em prática dentro de seu exercício (Cuvillier et. al 1943 apud. POZO, 2007) Embora compras utilize métodos científicos em seus procedimentos, as decisões ainda são tomadas por forte julgamento pessoal e tomadas em grande parte por interações pessoais. Portanto, os preceitos morais e as condutas de ética em ações de tomar decisões nas negociações da empresa irão refletir, em muito, no julgamento que a própria empresa receberá da sociedade, refletindo em seu desempenho. Assim, os aspectos legais e morais são extremamente importantes para aqueles que atuam em compras, fazendo com que muitas empresas estabeleçam um “código de conduta ética” para todos os seus colaboradores. No setor de compras o problema aflora com maior intensidade devido aos altos valores monetários envolvidos, relacionados com critérios muitas vezes subjetivos de decisão. Saber até onde uma decisão de comprar seguiu rigorosamente um critério técnico, onde prevaleçam os interesses da empresa, ou se a barreira ética foi quebrada, prevalecendo aí interesses de outros, é extremamente difícil. O objetivo de um código de ética é estabelecer os limites de uma forma mais clara possível, e que tais limites sejam também de conhecimento dos fornecedores, pois, assim, poderão reclamar quando sentirem-se prejudicados. 29 É imperioso que haja elevado padrão de conduta por parte dos integrantes de compras, não só agindo de acordo com a ética dos negócios, mas também atuando acima de qualquer suspeita de comportamento contradizendo a ética. O código de ética deve orientar os tratamentos seguidos, principalmente, pelos compradores na moralização dos negócios. E essa moral nas atitudes é fundamental para a eficiência e eficácia operacional e o incremento dos lucros organizacionais, visto que todo e qualquer empreendimento de sucesso que deseja perpetuar-se tem como ponto de honra apoiar as práticas e diretrizes de moral e ética. Estabelecimento de um código ou norma de conduta, dentro da empresa, torna-se importante para o bom desempenho de seus membros e colaboradores, ter um guia de orientação. Pozo (2007) apresenta o guia “Os Princípios e Padrões da Prática de Compras” que foi desenvolvido pela National Association of Purchasing Practice, que trata como princípios e padrões da prática de compras, os seguintes itens: • Considerar em primeiro lugar os interesses da empresa em todas as transa ções e praticar e acreditar nas políticas estabelecidas. • Ser receptivo ao aconselhamento competente dos colegas e orientar-se por tal aconselhamento sem diminuir a dignidade e a responsabilidade de seu trabalho; • Comprar sem preconceito, procurando obter o valor final máximo para cada unidade monetária gasta. • Conhecer com consciência os materiais e processos de produção e estabelecer métodos práticos para conduzir o trabalho. • Apoiar e trabalhar pela honestidade e pela verdade nas compras e nas vendas e denunciar todas as formas de pagamento de propina. • Na medida do possível, atender com rapidez e cortesia todas as pessoas que exercem uma missão comercial legítima. • Cumprir as obrigações e exigir que as demais pessoas cumpram as suas, e que as obrigações sejam consistentes com a boa prática empresarial. • Evitar as práticas desonestas, mesmo quando consideradas legais. • Sempre que possível, aconselhar e orientar outros compradores no desempenho de seus deveres. • Cooperar com todas as organizações e indivíduos engajados nas atividades destinadas a melhorar o desenvolvimento e a reputação da área de compras. O combate às práticas contrárias à ética também é uma atividade importante na área de compras, e que deve a todo instante ser levantada e discutida. Muitas empresas ainda utilizam 30 em suas vendas métodos ou práticas contrários à ética, condenáveis, tais como conluios na apresentação de propostas concorrentes, condições restritivas sobre especificações, estímulos artificiais de demanda, amostras que não refletem a realidade do produto, cláusulas contratuais obscuras, propinas e subornos. Uma excelente defesa é desenvolver compras por pessoal capacitado e motivado, conhecedor de suas obrigações e responsabilidades e satisfeito com os fornecedores com fortes laços de confiabilidade. Martins e Alt (2006), dizem que no setor público, todo o processo de licitação é claramente definido por meio de legislação específica, cujo fim precípuo é resguardar os interesses do Estado. Alguns exemplos de políticas empresariais visando o comportamento ético na área de negócios e Compras: • Fornecedores não devem dar ou oferecer presentes ou brindes de qualquer natureza a empregados da empresa ou membros de suas famílias. Tais presentes ou brindes podem ser considerados como uma forma de o fornecedor tentar impropriamente influenciar o nosso relacionamento. • Nenhum empregado ou membro de sua família pode receber (ou aceitar) quaisquer presentes ou facilidades de quem quer que seja que o empregado faça negócios em nome da companhia e que venha a colocá-lo em uma posição difícil, embaraçosa ou interferir de qualquer forma na parcialidade de suas ações. • Não procure ou aceite qualquer presente, gratuidades ou outras formas de compensação, benefícios ou persuasão de fornecedores, clientes ou outros que façam, ou estejam procurando fazer, negócios coma companhia. Quem violar esta política estará sujeito a ações disciplinares, incluindo até mesmo a demissão. • Nenhum tipo de material promocional (como calendários, agendas, canetas, note pads, acessórios de mesas) de terceiros, é permitido. Outro aspecto concernente à ética em compras é o manuseio de informações, como o repasse dos critérios de julgamento e de dados contidos nas propostas já entregues a outro fornecedor que ainda está elaborando a sua. Esse comportamento antiético leva a situações em que fornecedores altamente qualificados se neguem a apresentar propostas a clientes não confiáveis. Estabelece-se assim uma relação de desconfiança que prejudica a todos, isto é, todos perdem. A fim de evitar essas situações, mais uma vez o código de ética entra em cena. A empresa deve estabelecer políticas claras sobre como as informações devem ser manuseadas. 31 Com o crescimento constante dos processos de parcerias entre cliente e fornecedor, parcela substancial do problema ético é resolvido, pois os contratos de fornecimento devem ser abertos, analisados e discutidos exaustivamente por ambas as partes. 2.8. Gestão de Estoques Segundo Martins e Alt (2006), a Gestão de Estoques constitui uma série se ações que permitem ao administrador verificar se os estoques estão sendo bem utilizados, bem localizados em relação aos setores que deles se utilizam, bem manuseados e bem controlados. O planejamento de compras está interligado ao planejamento de estoques, pois é com a análise de estoques que pode-se direcionar a linha de compras. Para realizar o planejamento de compras é indispensável estudar o estoque já existente na empresa para não exceder o limite de cobertura de estoque. Existem vários indicadores de produtividade na análise e controle dos estoques, segundo Martins e Alt (2006), sendo os mais usuais, diferenças entre o inventário físico e o contábil, acurácia dos controles, nível de serviço (ou nível de atendimento), giro de estoques e cobertura dos estoques. 2.8.1. Inventário físico Consiste na contagem física dos itens de estoque. Para Martins e Alt (2006), caso haja diferenças entre o inventário físico e os registros do controle de estoques, devem ser feitos os ajustes conforme recomendações contábeis e tributárias. O grande controle pode ser feito em qualquer organização para auxiliar o fluxo de caixa e é o referente aos inventários. Estoque em excesso significa gastar dinheiro à toa, arcar com um custo que não traz benefício algum. O inventário físico é geralmente efetuado de dois modos: periódico ou rotativo. Ele é chamado de periódico quando em determinados períodos - normalmente no encerramento dos exercícios fiscais, ou duas vezes por ano – faz-se a contagem de todos os itens do estoque. O inventário é rotativo quando permanentemente se contam os itens em estoque. Nesse caso faz- 32 se um programa de trabalho de tal forma que todos os itens sejam contados pelo menos uma vez dentro do período fiscal (normalmente de um ano). 2.8.2. Acurácia dos Controles Segundo Martins e Alt (2006), uma vez terminado o inventário, pode-se calcular a acurácia dos controles, que mede a porcentagem de itens corretos, tanto em quantidade quanto em valor, ou seja: Acurácia = Número de itens com registros corretos / Número total de itens ou Acurácia = Valor de itens com registros corretos / Valor total de itens 2.8.3. Nível de Serviço ou Nível de Atendimento É o indicador de quão eficaz foi o estoque para atender às solicitações dos usuários. Assim, quanto mais requisições forem atendidas, nas quantidades e especificações solicitadas, tanto maior será o nível de serviço.Calcula-se como: Nível de serviço = Número de requisições atendidas / Número de requisições efetuadas 2.8.4. Giro de Estoques O giro de estoques mede quantas vezes, por unidade de tempo, o estoque se renovou ou girou. Calcula-se como: Giro de estoques = Valor consumido no período / Valor do estoque médio no período 33 2.9 - Compras no setor público Todas as compras feitas no setor público devem ser feitas através de Licitações. A Constituição Federal, art. 37, inciso XXI, prevê para a Administração Pública a obrigatoriedade de licitar. A Lei em vigência para licitações e contratos é a 8666/93 (e alterações). Licitação é o procedimento administrativo formal em que a Administração pública convoca, mediante condições estabelecidas em ato próprio (edital ou convite), empresas interessadas na apresentação de propostas para o oferecimento de bens ou serviços. Estão sujeitos à regra de licitar, além dos órgãos integrantes da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades da economia mista e demais entidades controladas direta e indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Os procedimentos licitatórios devem observar os seguintes princípios básicos: a) Princípio da Isonomia (Igualdade) b) Princípio da Publicidade c) Princípio da Moralidade e da Probidade Administrativa d) Princípio da Legalidade (formal) e) Sigilo na apresentação das propostas f) Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório g) Princípio do Julgamento Objetivo h) Adjudicação Compulsória A execução de obras, a prestação de serviços e o fornecimento de bens para atendimento de necessidades públicas, as alienações e locações devem ser contratadas mediante licitações públicas, exceto nos casos previstos na Lei n0 8.666, de 1993, e alterações posteriores. Para o Tribunal de Contas da União, são responsáveis pela Licitação, os agentes públicos designados pela autoridade competente, mediante ato próprio (portaria, por exemplo), para integrar comissão de licitação, ser pregoeiro ou para realizar licitação na modalidade convite. Esses agentes têm como função receber, examinar e julgar todos os documentos. Para licitar deve-se primeiramente definir o objeto que se quer contratar, estimar o valor da obra, do serviço ou do bem a ser licitado, mediante realização de pesquisa de mercado. Deve-se verificar também se há previsão de recursos orçamentários para o 34 pagamento e se está de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e por último definir a modalidade de licitação adequada. Modalidade de licitação é a forma específica de conduzir o procedimento licitatório, a partir de critérios definidos em lei. 2.9.1- Modalidades de Licitação: As principais modalidades de licitação conforme o Tribunal de Contas da União (2010) são: a) Leilão: modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19 da Lei 8.666/93, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. b) Concurso: modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. c) Concorrência: modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto. d) Tomada de preços: modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação. e) Convite: modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas. f) Pregão: é uma nova modalidade de licitação. Não obedece a limite de valores, pois sua característica principal é a agilidade, invertendo a ordem de abertura de envelopes, 35 primeiro se conhece o valor ofertado e depois se verifica se a empresa está habilitada, ou seja, se oferecem condições econômico-financeira, jurídica, regularidade fiscal dentre outras. A Lei 10.520/2002 rege os procedimentos para uma licitação de modalidade Pregão. O tipo de licitação não deve ser confundido com modalidade de licitação. Tipo é o critério de julgamento utilizado pela administração para seleção da proposta mais vantajosa. Os tipos de licitação mais utilizados para o julgamento das propostas são, de acordo com o Tribunal de Contas da União (2010), os seguintes: - Menor preço: critério de seleção em que a proposta mais vantajosa para a Administração é a de menor preço. É utilizado para compras e serviços de modo geral. Aplica-se também na aquisição de bens e serviços de informática quando realizada na modalidade convite. - Melhor técnica: critério de seleção em que a proposta mais vantajosa para a Administração é escolhida com base em fatores de ordem técnica. Os tipos de licitação mais utilizados para o julgamento das propostas são os de técnica e preço onde o critério de seleção em que a proposta mais vantajosa para a Administração é escolhida com base na maior média ponderada, considerando-se as notas obtidas nas propostas de preço e de técnica. 2.9.2. Dispensa/Inexigibilidade A licitação é regra para a Administração Pública, quando contrata obras, bens e serviços. No entanto, a lei apresenta exceções a essa regra. São os casos em que a licitação é legalmente dispensada, dispensável ou inexigível. A possibilidade de compra ou contratação sem a realização de licitação se dará somente nos casos previstos em lei. A principal característica da inexigibilidade de licitação é a inviabilidade de competição, o que impossibilita a abertura de um certame licitatório, pois ele resultaria frustrado. Nos casos de inexigibilidade, não há possibilidade de competição, porque só existe um objeto ou uma pessoa que atenda às necessidades da Administração; a licitação é, portanto, inviável. 36 2.9.3. Compras Eletrônicas As compras eletrônicas são classificadas em: a) Pregão Eletrônico É a modalidade de licitação prevista na Lei Federal 10.520/2002 e destina-se à compra de bens e serviços comuns, por meio de licitação realizada em sessão pública na internet. b) Bolsa Eletrônica de compras É a negociação do preço dos bens adquiridos pelo setor público, por meio de procedimentos eletrônicos, com a garantia, por parte do Governo, do pagamento aos fornecedores na data de seu vencimento, ajustada no contrato. 2.9.4. Pregão Carona Por intermédio do Decreto nº. 3.931, de 19 de setembro de 2001, que alterou a regulamentação do Sistema de Registro de Preços e instituída no país, criou a possibilidade da proposta mais vantajosa numa licitação ser aproveitada por outros órgãos e entidades. Esse procedimento vulgarizou-se sob a denominação de carona que traduz em linguagem coloquial a idéia de aproveitar o percurso que alguém está desenvolvendo para concluir o próprio trajeto, sem custos. Dispõe expressamente o art. 8° da precitada norma: Art. 8º A Ata de Registro de Preços, durante sua vigência, poderá ser utilizada por qualquer órgão ou entidade da Administração que não tenha participado do certame 37 licitatório, mediante prévia consulta ao órgão gerenciador, desde que devidamente comprovada a vantagem. § 1º Os órgãos e entidades que não participaram do registro de preços, quando desejarem fazer uso da Ata de Registro de Preços, deverão manifestar seu interesse junto ao órgão gerenciador da Ata, para que este indique os possíveis fornecedores e respectivos preços a serem praticados, obedecida a ordem de classificação. § 2º Caberá ao fornecedor beneficiário da Ata de Registro de Preços, observadas as condições nela estabelecidas, optar pela aceitação ou não do fornecimento, independentemente dos quantitativos registrados em Ata, desde que este fornecimento não prejudique as obrigações anteriormente assumidas. § 3o As aquisições ou contratações adicionais a que se refere este artigo não poderão exceder, por órgão ou entidade, a cem por cento dos quantitativos registrados na Ata de Registro de Preços. 38 3. Metodologia Para Fachin (2003), Método é a forma de se proceder ao longo de um caminho. Na ciência, os métodos constituem os instrumentos básicos que dispõem em sistemas e traçam de modo ordenado a forma de proceder do cientista para alcançar um objetivo ao longo de um percurso. O Método Quantitativo, segundo Richardson (1989) apud Marconi e Lakatos (2010), caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas. O Método Qualitativo, por sua vez, preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos e fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento entre outros. 3.1. Caracterização da pesquisa Para a pesquisa proposta será utilizado o Método Qualitativo, pois o mesmo é caracterizado pelos seus atributos e relaciona aspectos não somente mensuráveis, mas também definidos descritivamente (FACHIN, 2003). Com a aplicação dessa estratégia de pesquisa buscar-se-á conhecer e compreender, com base nas informações obtidas na fundamentação teórica e na prática do estágio, como o planejamento de compras está sendo abordado no ambiente operacional. Foi realizada, portanto, uma pesquisa qualitativa através do método de “observação direta intensiva” com a técnica de entrevista não estruturada. Considera-se Qualitativa porque segundo Richardson (1989) apud Markoni e Lakatos (2010) preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos e fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento , pois este procura conhecer e compreender, a partir das informações obtidas na fundamentação teórica, como o planejamento de compras está sendo abordado no ambiente operacional da Universidade. O passo inicial foi a realização de uma pesquisa bibliográfica, cujos temas pesquisados foram sobre compras, seus conceitos, suas funções, os tipos de compras e o perfil ideal de um comprador. Também foi pesquisado sobre Gestão de Estoques e sobre a Lei 8.666/93 que é a 39 Lei das Licitações, a qual é utilizada em compras nas organizações públicas e consequentemente na organização estudada. Em seguida foram realizadas entrevistas não estruturadas com duas pessoas relacionadas à área de estágio, pois os mesmos são os responsáveis pelo almoxarifado da universidade. Participaram da pesquisa o chefe do almoxarifado e um funcionário terceirizado, pois os mesmos são os responsáveis pela catalogação, controle e solicitação de compra do material. Durante todo o estágio foi observado o funcionamento do almoxarifado e as informações a respeito da falta de material foram coletadas através da observação e análise de requisições de solicitação de material. O passo seguinte foi a análise das informações obtidas, que serão relatadas nas seções seguintes. 40 4. Análise dos dados Apresenta-se, nessa etapa do trabalho, uma descrição das análises realizadas durante o desenvolvimento do trabalho proposto. 4.1. Análise da situação atual A Universidade Estadual analisada atua na Região Norte do país há quase seis anos. Ela conta, hoje, em pleno desenvolvimento, com vinte e dois cursos de graduação, cinco cursos de Pós-graduação lato sensu, um curso de Pós Graduação stricto sensu, além de diversificados projetos de extensão universitária. Tem um contingente educacional formado por cinco mil cento e cinquenta e oito alunos de graduação, cento e cinquenta e um de especialização e quinze do Programa stricto sensu. Seu corpo docente é composto de setenta professores do quadro efetivo, sessenta professores cedidos e cento e dezesseis professores do quadro temporário. O quadro técnico-administrativo é composto por cinquenta e sete servidores e, possui sete Campus em diferentes cidades no Estado onde está estabelecida. Conforme foi observado o funcionamento do almoxarifado da Universidade, durante o estágio, notou-se claramente a falta de materiais de suma importância para o funcionamento da mesma. As requisições de materiais chegavam a todo instante ao almoxarifado e não havia insumos para suprir as necessidades, principalmente de materiais elétricos e de informática. Outro fator observado foi que materiais de pouco uso estavam estragando no estoque, pois foram comprados em excesso em períodos passados. Tudo isso acontece porque nunca foi feito controle de entradas e saídas, e não há nenhum programa de gerenciamento para controle, o qual seria de suma importância para um correto funcionamento do almoxarifado, para suprir as necessidades da Universidade e para poder realizar um planejamento de compras. Para os meses de junho a outubro, foi elaborada uma planilha para tentar um possível controle de saídas de material, porém sem um controle exato de entradas e saídas, não é possível fazer um perfeito planejamento. Após observar o dia a dia do funcionamento do almoxarifado, pode-se perceber que não é feito nenhum planejamento. Devido à necessidade urgente desses materiais, o que está ocorrendo é a compra através de Pregões Carona, aproveitando a proposta mais vantajosa de 41 outros órgãos e entidades, pois fazer todo o processo licitatório é muito demorado e agravaria ainda mais a situação. Porém, como os itens do Pregão Carona foram escolhidos pela necessidade de outras organizações, sempre acabam faltando itens importantes, os quais a Universidade necessita. Outra dificuldade encontrada é com o prazo de entrega dos fornecedores ser muito longo, pois os mesmos compram os materiais de outras regiões, principalmente da grande São Paulo, o que faz com que dificulte a entrega devido a Região Norte ser muito distante e de difícil acesso. Um exemplo é uma compra de um produto via internet, quando na Região Norte o prazo de entrega é de quarenta dias, enquanto em outras regiões o prazo é de sete dias. Outro problema enfrentado é com o espaço físico para armazenagem dos materiais, pois o mesmo está muito pequeno, além disso uma boa parte dele está ocupado com material de pouco uso que foi adquirido em excesso em compras passadas. 4.2. Análise dos itens faltosos Através da observação do funcionamento do almoxarifado e das planilhas de controle de saída de material pode-se fazer um levantamento dos itens críticos. Os itens que mais faltam são os materiais elétricos e os de informática de pequeno vulto, como lâmpadas, reatores, cabos, teclados, tomadas entre outros. Em relação a esses itens, o estoque do almoxarifado está praticamente à zero. O que ocorre é que em casos de emergência, os materiais necessários são muitas vezes comprados com dinheiro doado pela Diretora de Logística da instituição que é responsável pela solicitação e autorização dos consertos. Conforme podemos verificar nas tabelas 1 e 2 os itens 87, 88, 89, 91, 92, 93 e 97, que se referem aos materiais de informática, não tiveram saídas, mas o motivo é porque não há esses itens em estoque. O mesmo acontece com os itens 132, 134 e 136 dos materiais elétricos. Os itens de material de informática não tiveram registro de saída no mês de outubro, pois não há mais itens em estoque. No mês de julho não foi feito lançamento por ser período de férias. 42 QUADRO 1- Saída de materiais de informática Saída de Material de Informática Item Item 85 Unid. Medida und Item 86 Junho Julho Agosto Setembro Outubro - 3 2 - und 1 - - - Item 87 und - - - - Item 88 und - - - - Item 89 und - - - - Item 90 und - 2 2 - Item 91 und - - - - Item 92 und - - - - Item 93 und - - - - Item 94 und 3 1 - - Item 95 und - 2 5 - Item 96 und 2 - 5 - Item 97 und - - - - Fonte: Arquivo do almoxarifado da Universidade QUADRO 2- Saída de materiais elétricos Saída de Material elétrico Item Item 129 Unid. Medida und Item 130 Junho Julho Agosto Setembro Outubro - - 1 - und - 1 - - Item 131 und - 20 - 20 Item 132 und - - - - Item 133 und - 25 - 2 Item 134 und - - - - Item 135 und 25 - 12 - Item 136 und - - - - Fonte: Arquivo do almoxarifado da Universidade 43 Nos gráficos 1 e 2, a linha vertical representa a quantidade de itens que tiveram ou não saída, a linha horizontal representa os itens do estoque e as barras representam a quantidade de itens que tiveram saída em seus respectivo mês. No gráfico 1 que se refere ao material de informática, podemos verificar pelas colunas que os itens 87, 88, 89, 91, 92, 93 e 97 estiveram em falta nos meses de junho, agosto, setembro e outubro, e no gráfico 2 que se refere ao material elétrico foram os itens 132, 134 e 136 que não tiveram saída nesses meses, onde no mês de outubro não houve saída por não haver mais itens em estoque. Gráfico 1: Saída de materiais de informática Fonte: Elaborado pelo autor Gráfico 2: Saída de materiais elétricos Fonte: Elaborado pelo autor 44 4.3. Problemas enfrentados no planejamento de compras Como já foi citado anteriormente, para poder fazer um bom planejamento de compras é necessário ter um bom controle de entradas e saídas. O que ocorre na Universidade é que esse controle não é feito, por isso não é possível mensurar exatamente qual seria a necessidade real a ser adquirida, e nem se antever a falta de materiais. Na saída de materiais do almoxarifado o setor solicitante preenche uma requisição especificando o material que necessita e a quantidade necessária. Essa requisição deve ser assinada pelo requisitante e pelo responsável pela entrega do material. Se houvesse controle de entradas, um bom controle de saídas poderia ser feito com essas requisições, porém nos dias de hoje, essas requisições, conforme figura 4, servem somente para ter um controle de quem requisitou o material, e ficam arquivadas no almoxarifado para possíveis consultas se solicitadas. Figura 4: Modelo de requisição de material Fonte:http://www.xxxx.edu.br/uerr08/index.php?option=com_content&task=view&id=937&Itemid=52 45 Outra situação problema é com relação ao sistema de compras do setor público, que é realizado com base na Lei 8.666/93, Lei das Licitações, a qual regula e amarra todo o processo, desde o início até sua conclusão, o que pode levar algo em torno de três meses. Por esse motivo a Universidade tem optado pelo uso dos Pregões Carona, que é um processo bem mais rápido, pois a organização se utiliza de um pregão já montado por outra Instituição, fazendo com que o processo seja mais rápido. Porém esse tipo de pregão tem alguns inconvenientes, pois a Instituição interessada tem que se adequar ao pedido da Unidade Administrativa Geradora, sendo necessária a pesquisa em vários pregões de vários órgãos, para se compor todo o rol das necessidades apresentadas pelo almoxarifado da universidade. Alguns itens seja pela sua especificidade, seja pela sua eventualidade, podem deixar de ser encontrados nestes pregões, necessitando utilizar outros meios para serem adquiridos como, por exemplo, a dispensa de licitação, porém o valor disponível para esse tipo de compra é muito pequeno e não consegue suprir as necessidades do almoxarifado. 4.4. Sugestões de Planejamento Através da observação do funcionamento do almoxarifado verificou-se que se bem trabalhado é possível fazer um eficiente planejamento de compras para o futuro próximo. Uma sugestão seria a criação de um programa computacional simples, que poderia ser desenvolvido pelo próprio setor de informática da Universidade, pois no mesmo encontram-se pessoas qualificadas para isso. Esse programa auxiliaria no controle de entradas e saídas e faria uma previsão de demanda anual. Para o controle de saídas, bastaria apenas abastecer o programa com as informações das requisições de saída de material, que já são de uso do almoxarifado, mas necessita-se fazer um controle de entradas de material quando os mesmos chegam ao setor. Para o problema da demora da execução do processo licitatório, através da previsão de demanda anual, pode-se fazer um planejamento de quanto tempo o material vai demorar para chegar ao seu destino, com isso as compras estariam a caminho antes do material acabar. Este planejamento pode ser feito através da análise dos registros de entrada e saída de material, analisando quais itens e em que época do ano são mais consumidos, através de uma curva de demanda. Devido ao estado ser de difícil acesso, muito distante dos centros produtores e 46 sujeito aos impeditivos de transporte como as cheias dos rios, que ocorrem entre os meses de março à agosto, que interrompem a única estrada que liga o estado de Roraima a Manaus, que é o centro comercial mais próximo, que fica a 800 quilômetros de distância, e é por onde passam todas as mercadorias que vem a Roraima. Muito importante também é fazer um levantamento de todos os itens que estão parados no estoque, para verificar se ainda estão em condições de uso, eliminado os materiais que não tem mais condições de uso, fazendo com que se amplie o espaço no estoque, e para que se reduza a quantidade comprada nas próximas aquisições. Uma reorganização do estoque, com a colocação de mais prateleiras, organizando os itens que ficam no chão, seria uma solução para o problema do pouco espaço físico do mesmo. As sugestões de planejamento estão apresentadas na figura 5: Criação de um programa computacional Previsão de demanda anual Levantamento de todos os itens Figura 5: Fluxograma de sugestões de planejamento 47 5. Conclusões O planejamento é muito importante em qualquer organização, pois permite maior controle sobre todas as situações, porém na área de compras ele se tornou fundamental nas empresas, pois dá maior confiabilidade as decisões de diversos departamentos. Portanto, este estudo busca contribuir com a atual gestão de compras da Universidade e propor melhorias no planejamento para que não faltem materiais no estoque. A análise e a melhoria dos processos são fundamentais para um bom funcionamento do almoxarifado. Esta análise vai além de levantar dados passados e atuais, é necessário muita habilidade para analisar as requisições de materiais e delas conseguir extrair o maior número de informações possíveis. O responsável pelo almoxarifado também precisa ter conhecimento sobre todos os setores e estar inteirado de todos os processos da Universidade para saber as necessidades de cada um. O principal objetivo da pesquisa foi avaliar o planejamento de compras e os problemas enfrentados no planejamento, porém revelou-se que a universidade não realiza nenhum tipo de planejamento, o que resulta na falta de materiais. Conclui-se que a utilização de um programa de controle de entradas e saídas de materiais do almoxarifado, com informações confiáveis e atualizadas, é fundamental para que se possa fazer um eficaz planejamento de compras para que não faltem materiais e para o bom funcionamento da organização. . 5.1. Recomendações para trabalhos futuros No desenvolver desta pesquisa foram diagnosticados outros fatores que são importantes para o bom funcionamento do almoxarifado, por isso seguem como recomendações para trabalhos futuros: - Estudo de desenvolvimento de um sistema de controle de entradas e saídas do estoque, para poder planejar as compras eficientemente. - Estudo de layout do almoxarifado para poder organizar os itens e minimizar o problema da falta de espaço. Devido à delimitação da pesquisa esses fatores não foram abordados, ficando aqui descritos para eventuais pesquisas futuras. . 48 6. Referências Bibliográficas: BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial: Tradução Raul Rubenich. 5. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BERTAGLIA, Paulo Roberto. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. São Paulo: Saraiva, 2003. BRASIL Lei N0 8.666, de 21 de Junho de 1993. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666cons.htm; Acesso em 30/09/2011. em: BRASIL. Tribunal de Contas da União. Licitações & Contratos. Orientações e Jurisprudência do TCU. 4.ed. 2010. Portal de pesquisa textual. Disponível em: http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2057620.PDF; Acesso em: 01/11/2011. CHIAVENATO, Idalberto. Administração de materiais: uma abordagem introdutória. 5 reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. COELHO, Leandro Callegari. Entendendo o Lote Econômico de Compras (LEC ou EOQ). Disponível em: http://www.logisticadescomplicada.com/entendendo-o-loteeconomico-de-compras-lec-ou-eoq/; Acesso em 29/10/2011 Esclarecimentos gerais sobre Licitações; Disponível http://www.conlicitacao.com.br/oquee/esclarecimentos.php; Acesso em 01/11/2011. em: FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1993. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 5.ed. 4.reimpr. São Paulo: Atlas, 2010. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho Científico. 6.ed. 7.reimpr. São Paulo: Atlas, 2006. MARTINS, Petronio Garcia, ALT. Paulo Renato Campos. Administração de materiais e recursos patrimoniais. 2 ed. São Paulo: Saraiva. 2006. O papel do comprador no processo de compras em instituições públicas de ciência e tecnologia em saúde (C&T/S). http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S003476122008000400003&script=sci_arttext POZO, Hamilton. Administração de recursos materiais e patrimoniais: uma abordagem logística. 4. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. 49