Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR http://revista.univar.edu.br Ano de publicação: 2015 N°.:14 Vol.2 Págs.37 -40 ISSN 1984-431X CARACTERÍSTICAS MORFOGÊNICAS E ESTRUTURAIS DA BRACHIARIA HÍBRIDO CV. MULATO II SUBMETIDO A DIFERENTES ALTURAS DE CORTE Jose Carlos da Silva1, Antônio Pereira da Silva1 Marcelo Barcelo Gomes2, Paulo Ricardo Figueiredo Mendonça 1, Nathália Bove Capitão Leal e Silva1, Tiago Farias Pantaleão 1, John Simon Menezes de Almeida 1, Luarley Lima Bailão3, Josilene da Silva Trindade2 RESUMO: Objetivando avaliar as características morfogênicas e estruturais da Brachiaria híbrido cv Mulato II realizou-se um ensaio em casa de vegetação das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia em delineamento inteiramente casualizado com três tratamentos (20, 25 e 35 cm) e dez repetições. Foram utilizadas três plantas por vaso totalizando 90 perfilhos para leituras em dois dias fixos da semana durante o período necessário para as plantas atingirem as alturas avaliadas sendo calculadas as taxas de aparecimento de folhas (TApF), alongamento (TAlF), senescência (TSF), alongamento de colmo (TAlC), comprimento final da folha (CFF), número de folhas verdes por perfilho (NFV), filocrono e duração de vida das folhas (DVF).Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste “t” de “Student” a 5% de probabilidade. Houve variação significativa (P<0,05) entre as alturas de corte para as variáveis TSF, TApF, filocrono, DVF e CFF. As alturas de corte promoveram variações nas características morfogênicas e estruturais da Brachiaria híbrido cv. Mulato II. Diferentes manejos do pastejo e fertilização devem ser realizados para que se possa avaliar a melhor altura para o controle da estrutura de pastos com esta forrageira com vistas à produção animal. PALAVRA CHAVE: capim-convert, duração de vida das folhas, filocrono, senescência. ABSTRAT: To evaluate the morphogenetic and structural characteristics of Brachiaria hybrid cv Mulato II held an essay in greenhouse at the Faculdades Unidas do Vale do Araguaia in a completely randomized design with three treatments (20, 25 and 35 cm) and ten repetitions. There was used three plant per pot totaling 90 tillers for readings on two fixed days a week during the period required for the plants reach the heights evaluated were calculated leaf appearance rate (LAR), elongation (LER), senescence (LSR), stem elongation (SER), final leaf length (FLL), green leaves number per tiller (GLN), phyllochron and leaves lifespan (LL). The data were analyzed and means was compared by "Student" t-test at 5% of probability. There was significant variation (P <0.05) between cutting heights for LSR, LAR, phyllochron, LL and FLL variables. Cutting heights promoted changes in morphogenetic and structural characteristics of Brachiaria hybrid cv. Mulato II. Different management of grazing and fertilization should be done so that one can assess the best time to control the structure of grasslands with this plant in order to animal production. KEY WORD: grass-convert, life-span of leaves, phyllochron, senescence. 1 Aluno do curso de Zootecnia das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia Barra do Garças-MT. Docente do curso de Zootecnia das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia Barra do Garças-MT. E-mail: [email protected] 3 Aluno do curso de Agronomia das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia Barra do Garças-MT. 2 1 INTRODUÇÃO A pecuária brasileira baseia-se na utilização da pastagem, que representa a forma mais prática e econômica de alimentação de ruminantes (PEDREIRA; PEDREIRA, SILVA., 2007), tornando o país um grande competidor no mercado mundial de carne, leite e derivados. As pastagens correspondem a um dos maiores ecossistemas do Brasil, são entidades complexas formadas por componentes bióticos e abióticos arranjados de forma hierárquica e interativa, que determina a amplitude das respostas de plantas e animais (SILVA et al., 2008). A morfogênese, que pode ser definida como a dinâmica de geração e expansão da forma da planta no espaço, apresenta grande importância na determinação das características estruturais do pasto apesar de serem determinadas geneticamente, podem ser influenciadas pelos fatores do meio ambiente, como luminosidade, temperatura e disponibilidade de água e nutrientes (ALEXANDRINO et al., 2004). Segundo Nascimento Jr. et al. (2002), não é difícil perceber que o sucesso na utilização das pastagens depende não apenas da escolha da planta forrageira, mas também da compreensão dos mecanismos morfofisiológicos e de sua interação com o ambiente, ponto fundamental para suportar tanto o 37 crescimento quanto a manutenção da capacidade produtiva do pasto. Dentre as plantas forrageiras mais utilizadas temos as do gênero Brachiaria. E vários cultivares podem ser utilizados na diversificação destas pastagens, um deles é o capim-mulato II, um híbrido de Brachiaria lançado no ano 2000 pelo Projeto de Forragens Tropicais do Centro Internacional de Agricultura Tropical (ARGEL et al., 2007). A desfolhação por meio do monitoramento e controle da altura do dossel é uma estratégia que pode trazer informações relevantes sobre o comportamento da planta forrageira. Com isso, avaliar as características morfogênicas e estruturais do capim-HD364 (Brachiaria híbrida cv. Mulato II) torna-se importante para pecuária, por ser uma cultivar de gramínea, com boas características (PAULA NETO, 2013). Objetivou-se com este trabalho avaliar as características morfogênicas e estruturais da Brachiaria híbrido cv. Mulato II submetido a diferentes alturas de corte. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia no município de Barra do Garças - MT, situada nas coordenadas geográficas: latitude 15° 53’ 26’’ S, longitude 52° 16’ 44’’ W e altitude 344 m. O clima da região, é dividido em duas estações bem definidas, verão chuvoso (outubro a março) e inverno seco (abril a setembro). O trabalho foi realizado no período de agosto a dezembro de 2013. Para o experimento utilizou-se gramíneas de capim-HD364 (Brachiaria híbrida cv. Mulato II) cultivadas em vasos que foram irrigados duas vezes ao dia, sendo no início da manhã e final de tarde, mantendo sempre o solo na capacidade de campo. Foi utilizado solo de barranco classificado como Latossolo Vermelho distrófico com textura franco argilosa (Embrapa, 2009). Foi feita análise química e física e os resultados obtidos foram utilizados para o cálculo de calagem, gessagem e adubação de formação. O solo foi acondicionado nos vasos e ficaram incubados por 20 dias após receberem a dose de 3,87 g/vaso de calcário Filler para elevar a saturação por bases para 60%. A adubação foi realizada antes da semeadura utilizando 2,96 g/vaso de super fosfato simples, 0,20 g/vaso de cloreto de potássio, 0,15 g/vaso de ureia e 0,05 g/vaso de FTE New Centro Oeste (1,6% B; 1,6% Cu; 8% Mn e 12% Zn). No plantio foram utilizados 10 kg/ha de sementes de capim Mulato II. Os tratamentos corresponderam a três alturas de corte (20, 25 e 35 cm) em delineamento inteiramente casualizado com dez repetições. Após a emergência das plântulas foi realizado o desbaste deixando cinco plântulas por vaso, sendo três plantas identificadas com fio colorido para a realização da avaliação morfogênica, consistindo desta forma, 90 perfilhos de formação (três tratamentos x dez repetições x três perfilhos). As alturas do dossel foram determinadas utilizando-se uma folha de transparência como referência e régua graduada em centímetros, com a qual foram realizadas as leituras em cada unidade experimental (vasos), dos quatro lados da transparência foram registrados o maior e o menor valor de altura (plano da superfície de folhas), obtendo-se, assim, a altura média. As leituras morfogênicas foram feitas em dois dias fixos da semana durante o período necessário para as plantas atingirem as alturas avaliadas sendo mensurado aparecimento do ápice foliar, dia da exposição da lígula, comprimento do pseudocolmo, comprimento da lâmina foliar expandida e em expansão, número de folhas por perfilho, número de folhas vivas, mortas e em senescência, de acordo com (OLIVEIRA et al., 2007). A partir destes dados foram calculados: Taxa de Aparecimento de Folhas- TApF, (folha/ perfilho. dia): número de folhas surgidas divididas pelo número de dias do período de avaliação e pelo número total de perfilhos avaliados: Filocrono-dias (Folhas / perfilho): intervalo entre o aparecimento de folhas sucessivas nos perfilhos. Taxa de Alongamento de Folhas (TAlF; cm/perfilho. dia): somatória de todo alongamento das lâminas foliares (cm) divididos pelo número de dias do período de avaliação e pelo número total de perfilho avaliado; Taxa de Alongamento de Colmos (TAlC, cm/perfilho. dia): somatória de todo o alongamento do pseudocolmo dividido pelo número total de perfilhos avaliados. Comprimento Final de Lâminas Foliares (CFF, cm): comprimento médio das lâminas foliares completamente expandidas; Taxa de Senescência de Folhas (TSF; cm/perfilho. dia): somatória dos comprimentos senescidos das lâminas foliares presentes no perfilho dividido pelo número de dias do período de avaliação e pelo número total de perfilhos avaliados; Número de Folhas Vivas por perfilho (NFV, folhas/perfilho): médias do número de folhas em expansão, expandidas e em senescência de cada perfilho, desconsiderando- se as folhas onde o processo de senescência ultrapassasse 50% do limbo foliar; Duração de Vida das Folhas (DVF,dias/folhas): período de tempo decorrido do aparecimento da folha e sua morte, sendo estimado pela multiplicação do NFV pelo filocrono; Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve variação significativa (P<0,05) entre as alturas de corte para as variáveis TSF, TApF, filocrono, DVF e CFF (Tabela 1). Já para a TAlF (de 1,25 a 1,35 cm/perfilho/dia), TAlC (de 0,10 a 0,13 38 cm/perfilho/dia) e NFV (3,53 a 4,03 folhas) não houve diferença significativa (P>0,05). Tabela 1. Taxa de alongamento foliar (TAlF), taxa de senescência foliar (TSF), taxa de Altura TAlF TSF TAlC TApF (cm) (cm/perfilho/dia) (folhas/ perfilho/ dia) 20 1,26a 0,32a 0,13a 0,15a 25 1,25a 0,41a 0,10a 0,11b 35 1,35a 0,52b 0,12a 0,11b alongamento de colmo (TAlC), taxa de aparecimento foliar (TApF), Filocrono, número de folhas vivas (NFV), duração de vida das folhas (DVF) e comprimento final da folha (CFF) do capim Mulato II Submetido a diferentes alturas de corte Filocrono (dias/ folha/ perfilho) 6,72a 9,05b 8,93b NFV DVF Folhas (dias) 3,53a 4,03a 3,60a 23,78a 36,40b 31,86b CFF (cm/ perfilho) 8,61a 11,76b 12,52b Efeito1 0,7765 0,0075 0,2589 <0,0000 <0,0000 0,4004 0,0001 0,0022 CV² (%) 25,97 30,94 30,67 6,41 6,84 23,69 18,96 21,54 1 2 Valor - para efeito pelo teste F; - Coeficiente de variação; Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo Teste deTukey (P<0,05) A TSF foi maior na altura de 35 cm (0,52 cm/perfilho/dia). À medida que a folha senesce há, consequentemente, a morte do tecido foliar que impede balanço positivo do número de folhas verdes importantes no manejo e na manutenção do valor nutritivo das forrageiras (GOMES et al., 2012). Para as alturas de 20 e 25 cm não houve diferença na TSF. Fagundes et al., (1999), relataram que pastos mantidos sob regime de desfolha mais intensa se caracterizam por uma maior proporção de material vivo. Faria (2009), quantificou aumento da taxa de senescência foliar na medida em que a altura média do pasto de B. decumbens, manejada sob lotação contínua, passou de 10 pra 40 cm. A taxa de aparecimento foliar (TApF), expressa em número de folha.perfilho -1.dia-1, é uma variável morfogênica que mede a dinâmica do fluxo de tecido de plantas. A TApF ocupa lugar central na morfogênese da planta, pois tem influência direta sobre cada um dos componentes da estrutura do relvado: tamanho da folha, densidade de perfilho e folhas por perfilho (SANTOS, 2007). Observou-se maior TApF na altura de corte de 20 cm (0,15 folhas.perfilho-1.dia-1). Para as alturas de 25 e 35 cm não houve diferença estatística na TApF, havendo uma diminuição na emissão de folhas. Santos et al., (2011) avaliando as características morfogênicas da Brachiaria decumbens cv Basilisk observaram que taxa de aparecimento foliar do capim-braquiária foi influenciada linear e negativamente pelas alturas das plantas no mesmo pasto, sendo observada, em média, redução de 15%. Para as condições do presente experimento houve uma redução aproximada de 27%. Este fato pode ser explicado pela maior altura de corte dos outros tratamentos (25 e 35 cm), uma vez que, pseudocolmos de maior comprimento tendem a aumentar filocrono e, portanto, reduz a taxa de aparecimento foliar. Por outro lado, a altura de corte de 20 cm apresentou o menor Filocrono (6,72 dias.folha1 .perfilho-1), o qual indica o tempo (em dias ou em graus-dia) necessário para o aparecimento de duas folhas consecutivas Com a altura de corte de 30 cm, as plantas priorizaram o crescimento de perfilhos existentes, uma vez que a quantidade e a qualidade da radiação solar chegando à base das plantas deve ter sido menor, fato que reduz significativamente o aparecimento de novos perfilhos (SANTOS, 2011). A DVF foi maior para as alturas de corte de 25 e 35 cm (36,40 e 31,86 dias, respectivamente). para a altura de 20cm a DVF foi menor (23,78 dias). Os resultados evidenciam que a maior TApF e menor Filocrono desta altura pode ter contribuído para o menor tempo com as folhas vivas em detrimento da expansão de novas folhas. O CFF foi maior nas alturas de 25 e 35 cm (11,76 e 12,52 cm, respectivamente). Este resultado pode ser explicado pelo fato destas alturas terem apresentado menor TApF e maior Filocrono. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As alturas de corte promoveram variações nas características morfogênicas e estruturais da Brachiaria híbrido cv. Mulato II. Diferentes manejos do pastejo e fertilização devem ser realizados para que se possa avaliar a melhor altura para o controle da estrutura de pastos com esta forrageira com vistas à produção animal. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRINO, E. et al. Características Morfogênicas e Estruturais na Rebrotação da Brachiaria brizantha cv.Marandu Submetida a Três Doses de Nitrogênio R. Bras. Zootec., v.33, n.6, p.1372-1379, 2004. ARGEL, P. J. et al. Cultivar Mulato II (Brachiaria 39 híbrida CIAT 36087) gramínea de alta qualidade e produção forrageira, resistente a cigarrinhas e adaptada a solos tropicais ácidos. In: Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), 2007 p. 01-29. SILVA, S. C. et al. 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