FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

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FILOSOFIA E SOCIOLOGIA
Profa. Marinilse Netto
[Mestre em Educação. Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento]
Chapecó2016
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Elaboração:
Prof.ª. Marinilse Netto
Propriedade da Faculdade Empresarial de Chapecó
FICHA CATALOGRÁFICA
M476f
Netto, Marinilse
Filosofia e sociologia/ Marinilse Netto – Chapecó, SC: Unidade
Central
de Educação Faem Faculdade/UCEFF, 2016.
96 p.
Conteúdo online
1. Filosofia. 2. Sociologia. 3. Conhecimento. I. Título
CDD 100
Catalogação elaborada por Sara Weschenfelder CRB 14/1147
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DISCIPLINA:
FILOSOFIA E SOCIOLOGIA
EMENTA:
Sociologia geral. Ciência e sociologia. Controle. Estratificação. Mobilidade e mudanças sociais.
O sistema empresarial moderno: suas tendências. Visão sociológica das teorias das
organizações. Sociologia do processo produtivo. Sociologia do poder. O universo filosófico.
Conceito, objeto e caráter da filosofia. O conhecimento mítico, religioso e filosófico. O método
da filosofia. A filosofia como reflexão crítica. Filosofia e seus problemas. A lógica e seus
problemas. Operações básicas do intelecto: o silogismo. A problemática do conhecimento:
análise e possibilidades.
PROGRAMA DIDÁTICO:
Os materiais de estudo estão agrupados em três unidades nos dois grandes campos:
No campo da Filosofia:
 Unidade I – Breve Introdução ao campo filosófico. Conceitos fundamentais da
Filosofia; O pensamento pré-socrático; O conhecimento mítico, religioso e filosófico.
 Unidade II – A história da filosofia e a relação com a vida social; Base do
pensamento filosófico ocidental; Aristóteles: o caminho da ciência; A lógica.
 Unidade III – Filosofia e Cultura; as questões discutidas na filosofia contemporânea;
Ética e sociedade.
No campo da Sociologia:
 Unidade I – Breve Introdução ao Campo Sociológico; Sociologia geral; Ciência e
Sociologia – Controle e estratificação; Mobilidade e mudanças sociais.
 Unidade II – O sistema empresarial moderno: suas tendências; Visão sociológica da
Teoria das Organizações.
 Unidade III – Cultura organizacional. Sociologia do processo produtivo. Sociologia
do poder.
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APRESENTAÇÃO
Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados
sem nunca os haver tentado abrir.
René Descartes (1596-1650).
Caro (a) Acadêmico (a)!
Iniciamos uma nova jornada de estudos e é uma grande satisfação mediar um canal de
(in) formação sobre Filosofia e Sociologia através deste Caderno de Estudos. As matérias aqui
apresentadas têm por objetivo contribuir com a sua formação profissional e, do mesmo modo,
gerar meios de reflexões sobre a vida na sociedade atual.
Ao final de cada unidade de estudo você encontrará encaminhamentos de atividades que
proporcionarão reflexões sobre os assuntos abordados, constituindo possibilidades de
construção e organização do conhecimento.
Como qualquer proposição pedagógica, há um ‘recorte’ histórico e conceitual na seleção
dos conteúdos e na escolha didática demonstrando, deste modo, as próprias escolhas ou visão
de mundo desta docente.
Neste sentido, reiteramos que o material apresentado neste Caderno de Estudos constituise um guia que pode ser ampliado através das referências bibliográficas apresentadas ao final
do mesmo. Do mesmo modo, salientamos que a sua participação por meio do auto estudo será
fator primordial para alcançarmos os objetivos aqui propostos, ou seja: Conhecer e refletir sobre
as perspectivas filosóficas e sociológicas no contexto histórico de formação do pensamento e
suas contribuições para a análise da vida social.
Conforme já destacado, de modo didático, os materiais de estudo estão agrupados em três
unidades nos dois grandes campos:
No campo da Filosofia estudaremos os seus princípios, conceitos e histórico, refletindo
sobre as principais questões discutidas na filosofia contemporânea, destacando a questão da
ética na sociedade, a política e as estruturas de poder.
No campo da Sociologia veremos quais são seus conceitos fundamentais, passando pela
formação do pensamento sociológico e as diferentes perspectivas clássicas e contemporâneas
de análise da vida social, refletindo sobre as principais transformações e suas imbricações na
sociedade contemporânea.
Salienta-se a necessidade de seu empenho e dedicação através da pesquisa e do auto
estudo, pois, compreendemos a tarefa docente como de um mediador na criação de condições
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para aqueles que buscam o conhecimento. Jacques Delors (2010) diz que aprender é exercitar
sua cidadania plena, ter coragem de executar, de experimentar e erar na busca por acertar.
Aprender a fazer é aprender a usar construtivamente sua visão crítica, compreender o contexto
ao qual está inserido e agir ativamente sobre ele, fazendo-se auto de sua própria história.
Finalizando, a partir desse registro, entendemos que aprender a conhecer e aprender a
fazer são elementos indissociáveis e relacionam-se tanto com a tarefa docente quando a
discente.
Estarei à disposição para elucidar possíveis problemas ou recomendar novos materiais e
atividades, contudo, cabe a você acadêmico (a) o interesse no aprofundamento dos estudos de
forma disciplinada e autônoma.
Bons estudos!
Profa. Marinilse Netto, Dra.
Julho de 2016.
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FILOSOFIA
Caderno de Estudos
UNIDADE I
Breve Introdução ao Campo Filosófico
Conceitos fundamentais da Filosofia - O pensamento pré-socrático
O conhecimento mítico, religioso e filosófico
UNIDADE II
A história da filosofia e a relação com a vida social
Base do pensamento filosófico ocidental
Aristóteles: o caminho da ciência. A lógica
UNIDADE III
Filosofia e cultura - Relações
As questões discutidas na filosofia contemporânea
Ética e sociedade
Professora/Autora
Marinilse Netto, Dra.
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APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS
Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!
Para facilitar a sua compreensão, organizamos este Caderno de Estudos de Filosofia em
três unidades. Esta primeira unidade divide-se em três temas/assuntos:
 Breve Introdução ao Campo Filosófico
 Conceitos fundamentais da Filosofia - O pensamento pré-socrático
 O conhecimento mítico, religioso e filosófico
Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande
importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a
possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre
o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.
De modo geral, a disciplina está voltada para as reflexões que abarcam os usos, as
possibilidades e os limites da razão, do conhecimento, da ciência e da ética, especialmente a
partir de um percurso histórico que possa contribuir para as tematizações referentes à cultura
contemporânea.
Esta unidade busca estabelecer as primeiras noções sobre o campo filosófico, seus
principais conceitos e fundamentações.
Vamos aos estudos!
1BREVE INTRODUÇÃO AO CAMPO FILOSÓFICO
AULA 1
O que são questões filosóficas e como os filósofos tentam respondê-las?
Por exemplo: De onde veio o universo? Por que as coisas existem?
A filosofia faz perguntas fundamentais e muitas vezes perturbadoras sobre a vida.
Mas a filosofia nasceu como exatamente o exercício de perguntar “o que é isso ou aquilo? ”, o que é
a essência de cada coisa.
Os estudos filosóficos se voltam para a compreensão e interpretação da realidade em
todos os seus aspectos, desde a origem e a essência do ser até questões mais concretas da vida,
como a cultura, a política, a ética e a estética.
Historicamente a Filosofia nasceu na ‘ágora’, praça pública, espaço de interação entre os
antigos gregos, principalmente os atenienses, discutiam assuntos ligados à vida da cidade
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(pólis). A ‘ágora’ era um espaço para discutir sobre religião (eventos, cerimônias) e economia
(negociações, acordos econômicos, comércio de mercadorias, etc). Era ali que tomava forma a
‘eclésia’, a assembleia dos cidadãos para decidirem sobre os temas importantes de sua cidade.
A palavra Filosofia possui origem grega nos
termos philos = amigo e sophia = sabedoria.
Filósofo é aquele que é amigo do saber.
Filosofar é o ato de refletir e questionar a realidade humana, formando conceitos que
sejam capazes de traduzir a realidade pensada. Como um campo científico, a Filosofia age de
modo a mudar a forma de pensar, operando na ideia de desconstruir a visão de senso comum
ou o pensamento mítico, e desse modo, elevando o pensamento ao senso crítico e à razão.
Neste sentido, a formação do pensamento filosófico se deu na passagem entre o
entendimento a partir do mito para a compreensão a partir da razão. As crenças ou o
entendimento de senso comum dá lugar para a razão baseada em elementos físicos presentes na
natureza, os fenômenos.
Normalmente, a Filosofia é reconhecida como uma criação do gênio grego, ou seja,
ela teria nascido em Mileto, cidade localizada em uma colônia grega (Jônia) da Ásia
Menor, atual Turquia, no século VI antes de Cristo, com Tales de Mileto. A esse
respeito, porém existem divergências, contestações, que podemos encontrar mesmo
entre os antigos, entre historiadores do século XVIII, e entre orientalistas em geral,
que não creem ser a Filosofia uma criação original da Grécia, mas que elementos
anteriores oriundos de outras civilizações já conteriam elementos que desdobrar-seiam no que hoje conhecemos como Filosofia. (HOBUSS, 2014, p.17).
A concepção do surgimento da Filosofia na Grécia, no século VI a.C, se dá apresentação
de pensadores denominados pré-socráticos que buscavam a ‘arché’, ou seja, o princípio
primeiro de todas as coisas ou ainda, o princípio pelo qual tudo vem a ser
Arché ou Arqué (em grego antigo: ἀρχή)
caracteriza o início, o desenvolvimento e o fim de
tudo ou de todas as coisas.
Entre as razões para a origem da Filosofia na civilização grega está a produção literária
(poemas de Homero e de Hesíodo), composta por características que mostram, entre outras
questões que: (a) as narrativas épicas retratam o senso de harmonia, de proporção e de limite;
(b) não se limitam a narrar os fatos, mas buscam suas causas e razões; (c) apresentam a realidade
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em sua inteireza: deuses e homens, céu e terra, guerra e paz, bem e mal, alegria e dor, etc; (d)
exaltam a justiça como valor supremo e enfatizam a justa medida: nem o excesso, nem a falta;
(e) os deuses têm a mesma natureza dos homens; tudo faz parte de uma mesma natureza, tudo
é natural, nada há fora da natureza.
Outra questão importante é que não existe um livro sagrado da civilização grega, o que
denota amplo espaço cultural para o desenvolvimento do pensamento filosófico, o que não
aconteceu nos países em que havia uma religião comandada por sacerdotes zelosos dos
ensinamentos sagrados. Ainda, o povo grego beneficiou-se de uma grande liberdade política,
em comparação aos outros povos.
Durante os séculos VII e VI a.C, a Grécia passou por um desenvolvimento econômico
muito acentuado, com uma forte indústria artesanal que deu origem a centros de distribuição
fora da Grécia. Essas colônias sustentaram uma classe de pessoas livres que fez oposição ao
poder político dos feudos. A filosofia é grega, mas não surgiu no interior da Grécia: surgiu nas
colônias gregas. Mileto foi uma das primeiras colônias a atingir uma situação de bem-estar
social que proporcionou uma liberdade política inédita e foi justamente nessa colônia,
localizada onde hoje é a Turquia, que surgiram os primeiros filósofos.
O pensamento filosófico (com origem nas colônias) diferenciava-se do pensamento
mítico pois pretendia explicar a totalidade da ‘physis’; buscava indicar o elemento fundamental
e o princípio de todo o ‘cosmos’, ou seja, o ‘arché’; o ‘arché’ era compreendido como algo que
pertencia à própria ‘physis’; a razão (logos) era considerada capaz de compreender inteiramente
a ‘physis’.
Physis = conjunto de todas as coisas. Origem.
Cosmos = Ordem, organização. Contrário de
Caos.
Logos = Razão, a linguagem, a palavra.
Todos esses fatores, considerados juntos, são exclusivos da civilização grega; é muito
provável que sem eles a filosofia não viesse a surgir naquele momento e lugar, e concebível
que a filosofia, tal como a conhecemos, não tivesse jamais surgido. “Outros povos possuem
santos, enquanto os gregos, por sua vez, têm sábios”, diz Nietzsche (2008, p.36).
Muitas das coisas que defenderam provaram-se falsas, e mesmo inconsistentes, mas o
método subjacente era claro, a tentativa de compreensão da realidade baseada apenas e
tão somente na razão, o que os diferenciava dos orientais, a quem certamente não faltava
racionalidade, mas uma racionalidade perpassada pelo aspecto mítico-religioso.
(HOBUSS, 2014, p.19-20).
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Sobre o papel da Filosofia nos diferentes aspectos da vida humana, pode-se dizer que, por
sua característica pela busca do conhecimento, propicia o desenvolvimento e aprimoramento
da consciência crítica e da emancipação do ser. Como um instrumento da razão, propõe o
despertar para o pensar, o refletir sobre as coisas ou sobre aquilo que é aparentemente finito.
Os estudos filosóficos possibilitam a criação de conceitos, ou seja, o conjunto de ideias que
formam o juízo sobre algo. O conceito é um signo determinado para um objeto, ou seja, o
conceito em filosofia manifesta a subjetividade da interpretação do sujeito de sua realidade de
forma crítica.
Fonte: www.agenciaapz.com.br. Acesso em 26/07/2016.
Como ressaltado, a forte característica da Filosofia é o questionamento, a reflexão e a
dúvida. O questionamento gera reflexão, a reflexão gera novos questionamentos (e novas
dúvidas), impulsionando para novos processos de reflexão. Tanto a ciência quanto a religião
assumem uma resposta como objetivo final, absoluta e verdadeira. Para o filósofo, a dúvida é
uma possibilidade de reflexão e a pergunta é tão ou mais importante quanto a resposta. “Todos
os homens possuem opiniões, mas poucos homens pensam” cita Berkeley apud Hobuss (2014,
p.5).
Para refletir:
O que temos a aprender com as origens e princípios da
Filosofia? Qual é o nível de questionamentos que
colocamos em nossa vida e em nossas atividades
profissionais? Por que a dúvida nos causa insegurança?
Agora que demos os primeiros passos para a compreensão da Filosofia e a relação com
o conhecimento e com base nas questões apresentadas realize a atividade 1.
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[ATIVIDADE 1]
Todos nós temos crenças filosóficas
[Eyewitness Companions: Philosophy, 2007].
A filosofia é por vezes rejeitada como uma disciplina com “a cabeça nas nuvens”, sem
relevância para a vida cotidiana. A verdade é que ela pode ser, e com muita frequência é,
de fato muito relevante. Embora talvez sem o perceber, todos temos crenças filosóficas.
Tenho certeza, p.ex., de que você, como eu, supõe que o passado é um guia razoavelmente
confiável para o futuro. Essa é uma crença filosófica. Podemos acreditar que Deus existe.
Ou podemos acreditar que não. Essas também são crenças filosóficas. Todos nós temos
crenças filosóficas. Alguns creem que temos almas imortais, enquanto outros supõem que
somos seres puramente materiais. Muitos acreditam que as coisas são moralmente certas
ou erradas independentemente do que possamos supor, enquanto outros afirmam que certo
e errado são uma questão de preferência subjetiva. Cremos que o mundo que vemos à
nossa volta é real e que existe mesmo quando não o observamos.
Com base nos estudos realizados, podemos dizer que os aspectos principais que propõe o
campo da Filosofia são: a dúvida, o questionamento e a reflexão.
Exponha sua visão sobre o tema estudado, justificando a relação entre os
três aspectos, relacionando-os com o campo filosófico e a busca pelo
conhecimento.
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Filme: “O nome da Rosa” – Adaptação do livro de Humberto Eco. Retrata a relação com o
conhecimento no período medieval.
Vídeos:
Sabedoria e Antiguidade: Gregos - Documentário Discovery Civilization http://www.filosofia.com.br/tv_show.php?id=428
Sites: http://www.filosofia.com.br/dicionario.php.
O Que é Filosofia por Mário Sérgio Cortella. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=Xsi6L9HeDCM
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2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA FILOSOFIA - A FILOSOFIA PRÉSOCRÁTICA
AULA 2
No estudo da história da filosofia, os primeiros filósofos são chamados de pré-socráticos.
Já vimos que durante o longo período pré-socrático, os conceitos fundamentais segundo Barnes
(1997, p.20-24) eram quatro: 1- Kosmos (Universo): esse conceito pressupõe que o universo é
um ser totalmente ordenado, composto de beleza e harmonia; 2 - Physis (Natureza): a natureza
possui dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, é a natureza que subjaz a todas as coisas.
Os pré-socráticos estudam qual é a natureza das coisas, isto é, aquilo que lhe é próprio, que lhe
pertence a si mesma; 3 -Arché (Princípio): é o princípio originário de todas as coisas, de onde
todas provêm; 4 - Logos (Razão): é o caráter distintivo da filosofia antiga, sua característica
fundamental. Devemos dar razões, explanar, o porquê das ocorrências do mundo. Os primeiros
filósofos foram chamados ‘physikoi’, físicos, eram assim denominados porque estudavam a
‘physis’, a natureza. Eram, pode-se dizer, cientistas em um período em que não havia uma
distinção entre ciência e filosofia.
O termo pré-socrático indica uma tendência de pensamento, estando relacionado também
com filósofos que viveram na mesma época de Sócrates e até mesmo depois dele. Os présocráticos buscavam a origem natural do universo, as transformações que ocorriam e seu
destino. Para isso utilizavam aforismos (expressão moral que é compreendida por meio de
poucas palavras) para relatar sobre a natureza utilizando conceitos metafísicos e místicoreligiosos.
Aquilo que une os filósofos pré-socráticos é a preocupação em perguntar e compreender
a natureza do mundo (a physis). Queriam entender a origem, aquilo que originou todas as coisas,
o princípio delas. Os filósofos pré-socráticos são divididos em escolas do pensamento: Escola
Jônica, Escola Itálica, Escola Eleática, Escola Atomística; de acordo com o local e problemas
discutidos por seus pensadores.
2.1 A ESCOLA JÔNICA
A filosofia da Escola de Milesiana (ou de Mileto) tem como característica fundamental a
busca pelo princípio (arché) primeiro de todas as coisas do universo e tem como principais
representantes Tales de Mileto (625/4-558/6 a.C.), Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.),
Anaxímenes (585-528/5 a.C.) e Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)
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Segundo Tales é a água o princípio a partir do qual são formadas todas as coisas,
contrariando filósofos que acreditavam que o princípio de todas as coisas se reduzia aos
princípios materiais. Para Anaximandro a terra é esférica e ocupa o centro do universo. Ao
contrário de Tales, Anaximandro não apresenta um elemento material específico como o
princípio de todas as coisas. Para ele o princípio primeiro de todas as coisas é o ‘apeiron’ (o
ilimitado), ou seja, “todo o nascimento e morte de todas as coisas existentes” segundo Hobuss
(2014, p.31). Anaxímenes, sucessor de Anaximandro retorna a teoria original de Tales e
estabelece o ar como o princípio de todas as coisas.
Heráclito é um dos principais filósofos do mundo grego, sendo uma referência nas
filosofias que se seguiram. Pensador complexo, considerado “o obscuro” pelo fato de sua forma
enigmática de se expressar. Heráclito é conhecido pela famosa fórmula “tudo muda” (panta
rei), ou seja, tudo está submetido a um fluxo contínuo, sejam os indivíduos, sejam os processos
naturais. De acordo com Heráclito, o elemento que representa a natureza das coisas é o fogo.
Apesar das diferenças sobre qual seria o elemento primeiro, os filósofos da Escola Jônica
pensavam o mundo como algo em movimento, a água que congela e evapora, o ‘ápeiron’ que
não pode ser determinado e não é estático, o ar nada palpável e o fogo que está sempre em
movimento e transformando o que queima.
2.2 A ESCOLA ITÁLICA
A Escola Itálica se desenvolveu no sul da Itália. O filósofo principal desta escola foi
Pitágoras de Samos. Nascido na ilha de Samos, foi na península itálica, na cidade de Crotona,
onde ele desenvolveu suas ideias. Pensou serem os números as essências das coisas. Suas
investigações da física e matemática eram misturadas com misticismo. São atribuídos aos
discípulos de Pitágoras, os pitagóricos, diversas descobertas matemáticas.
De acordo com Hobuss (2014, p. 15), Pitágoras aperfeiçoou a geometria – descobrindo
“os princípios por um exame dos teoremas”, a partir de “um método não empírico, mas
puramente intelectual; é ele precisamente quem descobriu a teoria das proporções e a existência
de uma estrutura das formas do universo”, tendo se dedicado mais detidamente ao aspecto
aritmético dessa última, tendo sido o descobridor de que, em um triângulo retângulo, o quadrado
da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos, o conhecido Teorema de Pitágoras.
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Interessante:
Do ponto de vista místico-religioso, a teoria pitagórica seguia regras estritas,
tais como: não atiçar o fogo com uma faca, não forçar a balança, não sentar
sobre a medida de grãos, não comer o coração, ajudar a depor a carga e não
agravá-la, ter sempre as cobertas enroladas juntas, não pôr a imagem de
um deus na placa de um anel, não deixar a marca de uma panela nas cinzas,
não esfregar um vaso com uma tocha, não urinar voltado para o sol, não
caminhar por fora da estrada, não apertar mãos com facilidade, não ter
andorinhas sob o próprio teto, não criar animais com os artelhos aduncos, não
urinar nem pisar sobre unhas ou cabelos cortados, afastar de si as facas afiadas,
não voltar atrás na fronteira quando sair da pátria” (DL VIII 17) [...] Pitágoras
prescrevia a abstinência de favas porque provocavam flatulência [...] Pitágoras
preconizava a abstinência de favas porque estas se assemelham aos órgãos
genitais ou às portas do Hades [...] (DL VIII 24, 34). Obviamente, estes
preceitos têm a sua razão de ser no interior da escola, como, por exemplo, o
preceito de não atiçar o fogo com a faca, já que isso expressaria “não se deve
provocar a ira ou o orgulho ferido dos poderosos”, ou mesmo “não
forçar a balança, não atentar contra a equidade e a justiça”. (HOBUSS
(2014, p.34-35).
Pitágoras deixou contribuições importantes no que concerne a uma filosofia da
matemática, não podendo ser enquadrado no mesmo âmbito temático dos filósofos da Escola
Jônica, na medida em que sua pretensão não era estabelecer o princípio constitutivo do mundo,
mas apenas mostrar as relações numéricas que podem ser encontradas no mesmo.
2.3 ESCOLA ELEÁTICA
A Escola Eleática desenvolveu-se e Eléia, no sul da Itália, e teve como característica
básica a afirmação de que o movimento não existe, sendo, por conseguinte, antípoda à
concepção de Heráclito sobre o devir, a mudança constante. Para os Eleatas, existe somente o
Ser, aquilo que é/existe, a permanência, negando de modo peremptório a existência do devir: a
ideia de mudança é apenas um erro proveniente dos nossos sentidos. Os nomes que compõe a
Escola são Xenofonte de Eléia, Parmênides de Eléia (530 – 460ac), Zenão de Eléia (504/1 ?a.C.) e Melisso de Samos. Trataremos aqui dos dois principais nomes, Parmênides e seu
discípulo Zenão, famoso pelos seus exemplos sobre a irrealidade do movimento.
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2.4 A ESCOLA ATOMÍSTICA
A Escola Atomística, ou atomismo, desenvolveu-se a partir da ideia de que são vários os
elementos que formam as coisas. A ideia de átomo (a = negação e tomos = divisão, ou seja,
aquilo que não pode ser dividido) foi desenvolvida por Leucipo de Mileto e depois trabalhada
por Demócrito de Abdera e Epicuro de Samos. Para Leucipo, o mundo é formado a partir do
choque aleatório e imprevisível de infinitos átomos.
[ATIVIDADE 2]
A partir das concepções e principais filósofos apresentados nesta aula, identifique e
explique qual é a oposição entre a Escola Jônica e a Escola Italiana.
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Artigo: Teorema de Pitágoras. Disponível:
http://cejarj.cecierj.edu.br/Material_Versao7/Matematica/Mod0/Matematica_Unidade_10_S
eja.pdf
Vídeos:
Mário Sérgio Cortella. Se você não existisse, que falta faria? Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=3rzvOqrtWIc.
Teorema de Pitágoras. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=NZZpRJ6lIz4
3 O CONHECIMENTO MÍTICO, RELIGIOSO E FILOSÓFICO
AULA 3
A Filosofia diverge da religião especialmente porque a religião busca as causas e os
princípios por meio de crenças e dogmas e as respostas são dadas por meio da devoção e fé. A
Filosofia também diverge da ciência por não depender somente da experiência. Entretanto, a
Filosofia relaciona-se tanto com a religião como com a ciência. Vamos entender como isso é
possível?
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Já vimos que a forte característica da Filosofia é o questionamento, a dúvida e a reflexão.
Existem aspectos da natureza e dos seres humanos que despertam a busca pelo conhecimento
novo, algo a ser explorado que possa justificar a compreensão das coisas, entre outros aspectos
da vida humana.
A ciência e a religião buscam uma resposta final para seus dilemas, a Filosofia aceita a
dúvida, pois esta é para ela uma possibilidade de reflexão.
Os mitos podem ser descritos como a base das religiões, pois eles não somente explicam
a origem do mundo e dos animais (incluindo os humanos), mas apresentam seus deuses e
deusas, que geralmente são os protagonistas e autores da criação, são aqueles que detém o poder
e a sabedoria e realizam a distinção entre o bem e o mal. Também são os deuses e deusas
responsáveis pelo julgamento dos humanos.
3.1 A PASSAGEM DO MITO PARA A RAZÃO – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
Os gregos usavam as narrativas de mitos para explicar a origem do mundo (cosmos). Mito
é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da terra, dos homens, do
fogo, das guerras, etc.). O mito narra a origem das coisas que acontecem por meio de lutas, de
alianças, de trocas, relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o
destino dos homens. Os escolhidos dos Deuses eram os narradores que recebiam as revelações.
O mito, visto dessa forma, era, incontestável e inquestionável.
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A Filosofia em sua origem é uma cosmologia, ou seja, uma explicação racional para a
origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas. Há uma
explicação que diz que a Filosofia rompeu com os mitos, sendo a primeira explicação cientifica
da realidade. Por outro lado, pesquisadores das ciências sociais dizem que a Filosofia nasceu
(de modo lento) no interior dos próprios mitos, como uma forma de racionalizá-los. Mas há
outra corrente de pensamento que diz que a Filosofia, percebendo as contradições dos mitos,
foi racionalizando as narrativas, transformando-as em uma explicação nova e diferente.
Segundo Tomelin e Siegel (2004, p.21) até o século XIX o termo ‘Filosofia’ incluía o que
hoje conhecemos como ‘ciência’. Cada área da ciência passou a ter um objeto de investigação
exclusivo e a Filosofia estabeleceu-se como a ‘mãe das ciências’. De acordo com os autores,
“todas as coisas, além de poderem ser examinadas em nível científico, podem sê-lo também em
nível filosófico”. As ciências estudam determinada dimensão da realidade, a Filosofia tem por
objeto o todo, a totalidade, o universo tomado globalmente. (p.23).
O quadro abaixo as diferenças entre o Mito e a Filosofia.
MITO
FILOSOFIA
Tinham por objetivo narrar as coisas
como eram ou tinham sido no
passado.
Preocupa-se em explicar como e por
que, no passado, no presente e no
futuro (na totalidade do tempo) as
coisas são como são.
O mito narra a origem através de
genealogias, rivalidades e alianças
entre seres mortais e imortais.
A Filosofia explica a produção natural
das coisas por elementos e causas
naturais e impessoais.
O mito narra a origem dos seres
celestes (astros), terrestres (plantas,
animais, seres humanos) e marinhos
pelo casamento entre Deuses.
A Filosofia explica o surgimento
desses seres por composição,
combinação e separação dos quatro
elementos úmido, seco, quente e frio,
ou água, terra, foro e ar.
A Filosofia não aceita a contradição.
O mito não se importa com as
contradições.
Entre os séculos VI e VII, a sociedade grega passa por uma grande transformação,
impulsionada pelas navegações marítimas, a invenção da escrita, do calendário e da moeda,
pelo surgimento da vida urbana e o afloramento da política e os mitos vão aos poucos sendo
substituídos por novos modos de narrar as histórias, a origem das coisas e vida do ser humano.
Por não explicarem de modo racional, os mitos são relegados a um saber comum, não científico.
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[ATIVIDADE 3]
Com base no texto estudado, responda:
1. De que forma o mito contribuiu para o
pensamento filosófico?
2. Por que as condições históricas
possibilitaram a passagem para o pensamento
racional?
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Livro: O poder do mito / Joseph Campbell, Flowers; tradução de Carlos Felipe
Moisés. -São Paulo: Palas Athena, 1990. Disponível:
http://www.projetovemser.com.br/blog/wpincludes/downloads/joseph_campbell_%20o_poder_do_mito.pdf
Filme: Filme Pompéia Completo Dublado HD. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=r2jrO0z2FWo
Vídeo:
MITOS, RITOS E RELIGIÕES. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=QIfSXfzKdjY
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Caderno de Estudos
UNIDADE II
A história da filosofia e a relação com a vida social
Base do pensamento filosófico ocidental
Aristóteles: o caminho da ciência. A lógica
Professora/Autora
Marinilse Netto, Dra.
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APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS
Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!
Estamos nos dirigindo para a segunda unidade deste Caderno de Estudos de Filosofia.
Nossos estudos serão guiados por três temas/assuntos:
 A história da filosofia e a relação com a vida social
 Base do pensamento filosófico ocidental
 Aristóteles: o caminho da ciência. A lógica
Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande
importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a
possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre
o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.
De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade mostram como a Filosofia está
presente em nosso dia a dia. Vamos ver as qualidades do pensamento filosófico no ocidente e
suas grandes contribuições para a ciência.
Iniciando...
4 A HISTÓRIA DA FILOSOFIA E A RELAÇÃO COM A VIDA SOCIAL
AULA 4
Nas relações entre a Filosofia e a vida social, poderíamos escolher entre os campos da
cultura, o social, o político e o educacional.
Definimos começar pela educação já que a Filosofia propicia ao aluno a oportunidade de
desenvolver um pensamento independente e crítico, permitindo que o mesmo experimente um
pensar individual.
De acordo com o educador Anísio Teixeira, na Filosofia, a educação é vista como o
processo pelo qual os indivíduos descobririam suas potencialidades. Segundo o educador norte
americano John Dewey, as relações entre filosofia e educação são intrínsecas, pois as filosofias
são, em essência, teorias gerais de educação.
Sendo o campo educativo espaço onde os jovens adquirem ou formam, conforme cita
Teixeira “as atitudes e disposições fundamentais, não só intelectuais como emocionais, para
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com a natureza e o homem”, torna-se seguro dizer que a educação constitui o campo de
aplicação das filosofias.
Muito antes, que a Filosofia fosse formuladas em sistemas, a educação já consistia em o
meio de transmissão da visão do mundo e do homem. Os estudos filosóficos formais nascem,
assim, como estudos de educação.
Outra relação importante é a que ocorre entre a Filosofia e a Política. Na civilização grega
havia a organização das cidades-estados chamadas ‘pólis’, as quais influenciaram na criação de
termos como ‘politiké’, a política. De modo geral, a política passou a liderar todos os assuntos
referentes à ‘pólis’, e por consequência, as sociedades. Assim nasce a Filosofia Política que
investiga todas as questões referentes ao convívio em sociedade e aos espaços públicos e
políticos.
Antonio Gasparetto Junior, em seu artigo publicano no site Info Escola, diz que os gregos
refletiam sobre suas inquietações e buscavam soluções que acreditavam ser eternas e aplicáveis
para todas as sociedades. Na origem, a filosofia grega empenhou-se ao entendimento da
natureza, seus eventos e fenômenos. A partir de Sócrates, Platão e Aristóteles ocorrem grandes
mudanças no pensamento grego, pois esses filósofos colocam o ser humano como ponto central
de abordagem em seus estudos e teses.
Sócrates (469-399 a.C) foi julgado e condenado à morte por ser considerado um
subversor, mas deixou um grande legado reflexivo, ainda que fosse analfabeto. Seu discípulo e
seguidor Platão encarregou-se de manter vivo o pensamento socrático, mas também ofereceu
sua própria contribuição para a filosofia, especialmente com a obra “A República”, na qual
discutiu as possibilidades de uma sociedade justa e ideal. No entanto, Aristóteles é que se
tornaria célebre para a teoria política grega, estabelecendo o formato de democracia dos gregos.
A Filosofia Política é indissociável de nossa vida social, foi com base nela que forma
criados os ideais e práticas sobre os limites e a organização do Estado, as relações entre
sociedade e Estado, entre economia e política, sobre o poder do indivíduo, a liberdade, questões
de justiça e de Direito, entre outras questões.
21
Caro(a) Acadêmico (a)!
Visite o sitio indicado abaixo (Portal Consciência
Política). Escolha 1 (um) entre os vários artigos e temas
apresentados pelo Portal.
Elabore uma resenha apresentando:
a) Titulo do artigo
b) Autor(es)
c) Principal argumentação apresentada pelo artigo
d) Diga qual foi a sua motivação para a escolha do
artigo selecionado.
[ATIVIDADE 4]
CONSCIÊNCIA POLÍTICA
[SITE DEDICADO A INFORMAÇÃO E ESTUDOS POLÍTICOS]
ENDEREÇO: http://www.portalconscienciapolitica.com.br/
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Artigos:
Anísio Teixeira. Filosofia e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de
Janeiro, v.32, n.75, jul./set. 1959. p.14-27.
Disponível: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/filosofia.html.
Educação e Política. Disponível:
http://www.portalconscienciapolitica.com.br/educa%C3%A7%C3%A3o%20e%20politica/
A Filosofia: "filha da cidade". Disponível:
http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/
5 BASE DO PENSAMENTO FILOSÓFICO OCIDENTAL
- SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
AULA 5
Sócrates (469-399 a.C) não deixou registros escritos de sua teoria. O que se sabe desse
filósofo é composto pelos escritos de pensadores que vieram depois dele, especialmente seus
alunos Platão e Xenofonte. Para alguns historiadores e filósofos, os registros de Platão,
chamados “Diálogos” são os relatos mais abrangentes de sua teoria. Sócrates se tornou
renomado por suas contribuições no campo da Ética e até hoje seus pensamentos são utilizados
em discussões.
Segundo Platão (428/427-348/347 a.C), Sócrates acreditava que o relevante era o espírito
crítico, assim como o reconhecimento da própria ignorância era o primeiro e decisivo passo
22
para o conhecimento. Neste sentido, somente quando nos damos conta de que não sabemos (o
que pensávamos saber) é que damos início à busca para a descoberta do conhecimento.
Segundo registros de Platão, Sócrates possuía um talento especial para motivar as pessoas
‘a dar à luz’ o conhecimento inato que residia em suas mentes. O método ficou conhecido como
‘elenchus’, ou como nomeamos atualmente, dialética. Para o filósofo Hegel (1770-1831), a
dialética é regida segundo um conjunto de três elementos inter-relacionados -“tríade”, ou seja,
(1) a Tese - Afirmação de uma ideia; (2) Antítese - A negação da tese (afirmação de uma ideia
oposta, mas relacionada à tese); (3) Síntese – Negação da antítese, ou “negação da negação”.
Nova tese.
Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a arte de,
no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e
distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. (KONDER, 2000, p. 3).
A primeira etapa do método socrático consiste em reconhecer a própria ignorância,
assumindo que não sabemos tudo, reconhecendo nossos limites e as contradições de nossos
pensamentos através da interrogação ou do grego ‘ironia’ e do questionamento. Somente
quando reconhecemos a ignorância é que estamos preparados para reconstruir as nossas ideias,
neste sentido. Sócrates propunha a ‘maiêutica’, que em grego significa “parto das ideias”. A
maiêutica tinha por finalidade levar as pessoas a desenvolverem suas próprias ideias.
Para Sócrates ordem e coesão garantiam a promoção da ordem pública e a ética deveria
respeitar as leis, à coletividade. Como base de sua teoria, o filósofo acreditava que basta saber
o que é bondade para que seja bom. O conhecimento é visto como virtude e a educação como
forma de conhecer a si mesmo. É por meio do autoconhecimento que conhecemos melhor o
mundo e alcançamos a felicidade, segundo Sócrates. Ele não via a felicidade (como a sociedade
moderna convencionou) em bens materiais, mas em cultivar a verdade e a virtude. Sócrates via
também a superioridade do coletivo sobre o individual e acreditava que a obediência às leis
garantiriam a ordem e a vida em sociedade.
23
Contrariando as ideias dos sofistas, Sócrates desenvolveu uma filosofia baseada no
autoconhecimento, que consistia na investigação e no questionamento de sua própria vida.
“conhece-te a ti mesmo”, é uma de suas expressões que melhor representa o seu pensamento e
está diretamente relacionada com os seus ensinamentos.
Quem eram os Sofistas?
Eram filósofos que defendiam a arte da argumentação como forma de evidenciar a
verdade dos fatos, “os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que
aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária,
não-A, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou
contra uma opinião e ganhassem a discussão”. Etimologicamente a palavra sofista
significa sábio, porém ao longo dos tempos passaram a ser conhecidos como
impostores. Diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmológicos estavam
repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da ‘polis’.
Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível
ensinar os jovens tal arte para que fossem bons cidadãos.
Em sua tese, o filósofo Platão acreditava na vida após a morte e por isso não gozava dos
prazeres terrenos, conforme declarado no diálogo ‘República’. A felicidade estava para ele na
vida após a morte. Para tanto, Platão contemplava a ideia do Ser e do Bem, que para ele, a
partir desse Bem superior, o homem deveria procurar descobrir uma escala de bens que o
ajudasse a chegar ao absoluto.
Segundo sua teoria, o homem sábio é o homem virtuoso, que busca a ordem, a harmonia
e o equilíbrio em sua vida. A virtude o purificava e através da purificação o homem aprende a
desapegar do corpo e de tudo o que terreno. Idealista, Platão acreditava que o homem sábio era
aquele que buscava imitar ou assemelhar-se a Deus e para ele são as virtudes: justiça, prudência
ou sabedoria, fortaleza ou valor e temperança.
Na filosofia de Platão existem dois mundos, o primeiro é o mundo que podemos perceber
ao nosso redor, com nossos sentidos e o outro é o mundo das ideias, onde tudo é perfeito e
imutável. Vejamos uma história que Platão criou: o Mito da Caverna.
24
O MITO DA CAVERNA
O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em
correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do
fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são
projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e
objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando
nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.


Vamos imaginar que se um dos prisioneiros fosse forçado a sair das
correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo.
Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida
toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas.
Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora
da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria chamado de
louco ao contar tudo o que viu e sentiu, pois, seus colegas só
conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada
da caverna.
Veja o vídeo: O mito da caverna-Filosofia. https://www.youtube.com/watch?v=7BBKQ1sszI
Segundo essa metáfora, vemos as coisas que conhecemos como se fossem reais, mas estas
não passam de sombras da realidade, ou seja, são ilusões. A verdade está do lado de fora da
caverna, no mundo das ideias, na luz.
Vamos entender:
A caverna é o mundo em que vivemos. As sombras representam as coisas
materiais e sensoriais que percebemos. O prisioneiro que se arrisca a sair da
caverna é o filósofo. A luz do exterior da caverna é a luz da verdade. O mundo
exterior é o mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade. O
instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros
prisioneiros é a dialética. A visão do mundo real iluminado é a Filosofia.

Os prisioneiros chamam de louco e matam o filósofo (Platão está se
referindo à condenação de Sócrates) porque imaginam que o mundo
sensível é o mundo real, único verdadeiro.
Entre o mundo dos sentidos e o mundo das ideias estão as sensações e os erros que podem
provocar. Segundo Platão, tudo o que vemos e pecebemos são cópias mal feitas das ideias, que
25
são perfeitas e eternas. O que o filósofo almeja é que saibamos distinguir o verdadeiro do falso,
o semelhante do diferente, a essência da aparência.
Aristóteles (384-322 a.C) foi um filósofo grego, aluno de Platão, mas seguia as ideias de
Sócrates. Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental e segundo seus
estudos, todo conhecimento e todo o trabalho visa a algum bem. O bem é a finalidade de toda
a ação, a busca do bem é que diferencia a ação humana da dos outros animais.
Segundo Aristóteles há quatro causas na existência de algo:
1- Causa Material: daquilo que é feita a coisa, por exemplo, o ferro.
2- Causa Formal – é a coisa em si, por exemplo, a faca de ferro.
3- Causa Eficiente – aquilo que dá origem a coisa feita, por exemplo, as
mãos de um ferreiro.
4- Causa Final – seria a função para a qual a coisa foi feita, como por
exemplo, cortar a carne.
O filósofo considerava as virtudes éticas como justiça e coragem, habilidades emocionais
e sociais. Então, a ética, quando estudada e praticada melhora a nossa vida. Para vivermos bem
precisamos de amizade, prazer, honra e riqueza e a sabedoria deve ser adquirida através da
prática e de habilidades emocionais e sociais. “A educação tem raízes amargas, mas os frutos
são doces” e "o verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre" escreveu
Aristóteles.
Em nossa próxima aula veremos como os estudos de Aristóteles relacionam-se com a
ciência e a lógica. Antes, porém, desenvolva as seguintes atividades:
[ATIVIDADE 5]
Com base nos estudos dessa aula, realize as seguintes atividades:
1 – Pesquise o conceito de dialética;
2 - Exponha as principais ideias dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles.
26
Sugestões de site e vídeo complementares:
Vídeo: Filosofia e educação: Sócrates, Platão e Aristóteles. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=K2mu76u8KKY.
Site: Só Filosofia. Disponível: http://www.filosofia.com.br/.
6 ARISTÓTELES: O CAMINHO DA CIÊNCIA. A LÓGICA
AULA 6
Konder (2000, p.4) diz que “segundo Aristóteles, todas as coisas possuem determinadas
potencialidades; os movimentos das coisas são potencialidades que estão se atualizando, isto é,
são possibilidades que estão se transformando em realidades efetivas”. Conforme já
apresentado, e de acordo com D’Ottaviano e Feitosa (2003, p.3):
Na antiguidade, os gregos foram preponderantes no cultivo, prática e gosto pelo
argumento. Entre os predecessores de Aristóteles (Platão, sem dúvida) devemos
chamar a atenção para o trabalho dos sofistas, classe de tutores privados da Grécia
antiga; e convém mencionarmos que paradoxos e argumentos falaciosos, argumentos
que, de premissas aparentemente verdadeiras e por passos aparentemente válidos,
levam a conclusões aparentemente falsas, eram conhecidos na Grécia antiga. A maior
parte da contribuição relevante de Aristóteles, para a lógica, encontra-se no grupo de
trabalhos conhecidos como Organon, mais especificamente nos Analytica Priora e no
De Interpretatione.
De acordo com UNESP (2013, p.10) a lógica surge como um “instrumento ao
conhecimento (em Grego, “episteme”) contraposto a mera opinião (em Grego, “doxa”),
distinção essa (entre conhecimento e opinião) que remonta, ao menos, ao filósofo grego Platão
(429–347 a.C.), mestre de Aristóteles.
Nesta aula veremos como estrutura-se a lógica na teoria aristotélica e suas relações com
o desenvolvimento da ciência moderna, como a conhecemos. Por exemplo, quando damos
início a uma pesquisa científica, devemos, a priori, escolher o método que guiará nossos passos.
As contribuições da estrutura criada por Aristóteles nos indicam caminhos seguros que poderão
dar credibilidade a nossa investigação e consequente análise dos resultados obtidos.
6.1 A LÓGICA
A história da Lógica começa com os trabalhos do filósofo desenvolvidos com formas de
raciocínio que, a partir de conhecimentos considerados verdadeiros, permitiam obter novos
27
conhecimentos. Caberia à Lógica, a formulação de leis gerais de encadeamentos de conceitos e
juízos que levariam à descoberta de novas verdades.
A Lógica é a ciência que visa estudar e estabelecer leis formais que bem dirijam as
operações mentais. Como uma forma científica, a lógica trata das formas do pensamento em
geral (dedução, indução, hipótese, inferência etc...) e das operações intelectuais que visam à
determinação do que é verdadeiro ou não. Ou seja, a lógica é o estudo dos métodos e princípios
que permitem distinguir argumentos corretos e incorretos.
Para Aristóteles, o raciocínio (dedutivo) reduz-se essencialmente ao tipo determinado que
se denomina silogismo. A validade do argumento está diretamente ligada à forma pela qual ele
se apresenta.
SILOGISMO
Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas de premissas, delas, por
inferência, se tira uma terceira, chamada conclusão.
Premissa: Todos os animais são
mortais.
Premissa: O gato é um animal.
Conclusão: O gato é mortal.
Argumento válido!
Premissa: Se eu ganhar na loteria
serei rico.
Premissa: Não ganhei na loteria.
Conclusão: Não sou rico.
Argumento inválido!
D’Ottaviano e Feitosa (2003, p.3) dizem que muitos filósofos e historiadores
consideram a teoria do silogismo como a mais importante descoberta em toda a história da
lógica formal, pois não constitui apenas a primeira teoria dedutiva, mas também um dos
primeiros sistemas axiomáticos construídos.
Como um instrumento para verificar a validade ou não dos raciocínios, de modo
analítico, está estruturado segundo Aristóteles, a partir de:
1. INSTRUMENTAL – É instrumento do pensar.
2. FORMAL – Ocupa-se com a forma do pensamento.
3. NORMATIVA - Fornece leis e normas do pensamento.
4. DOUTRINA DA PROVA – Permite comprovar a verdade.
5. GERAL E ATEMPORAL – É universal e necessária.
28
Há ainda, três princípios lógicos fundamentais:
• 1. Princípio de Identidade – Um ser é sempre idêntico a si mesmo (A = A).
• 2. Princípio da não-contradição – É impossível que um ser seja e não seja idêntico a si
mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação (A = A) e (A não A) é impossível.
• 3. Princípio do 3º excluído – Dadas duas proposições com o mesmo sujeito e o mesmo
predicado, uma afirmativa e outra negativa, uma delas é necessariamente verdadeira e a outra
necessariamente falsa, não havendo uma 3ª possibilidade.
A lógica não se preocupa com o relacionamento entres as premissas e a conclusão, com
a estrutura e a forma de raciocínio, e não com seu conteúdo, isto é, com as proposições tomadas
individualmente. Dispõe de duas ferramentas principais que podem ser utilizadas pelo
pensamento na busca de novos conhecimentos: Dedução e Indução, as quais dão origem a dois
tipos de argumentos: Dedutivos e Indutivos.
O argumento dedutivo:
 Pretende que suas premissas forneçam uma prova conclusiva da veracidade da
conclusão.
 É válido quando suas premissas, se verdadeiras, fornecem provas convincentes para
sua conclusão.
Importante: Premissas verdadeiras não fornecem conclusão falsa, quando isto
acontecer o argumento dedutivo é inválido.
O argumento indutivo:
 Não pretende que suas premissas forneçam provas cabais da veracidade da
conclusão, mas apenas que forneçam indicações dessa veracidade.
Importante: Os termos “válidos” e “inválidos” não se aplicam aos argumentos
indutivos, pois podem ser avaliados de acordo com a maior ou menor possibilidade
com que suas conclusões sejam estabelecidas.
A função mais importante da lógica, segundo estudos de Aristóteles, é ser instrumento
para o conhecimento do verdadeiro, daquilo que é (oposto ao que não é, ao falso). Por meio do
“raciocínio demonstrativo”, podemos não apenas vir a conhecer o que é (o verdadeiro), mas
também a razão de ser das coisas, suas causas, permitindo-nos atingir o inteligível daquilo que
é. Assim, a Lógica é condição necessária (mas não suficiente) para chegar ao conhecimento.
(UNESP, 2013, p.11).
29
A partir dos estudos do filósofo e matemático inglês George Boole (1815-1864) e do
filósofo e matemático alemão Friedrich L. G. Frege (1848-1925), a Lógica começará um
desenvolvimento que culminará na disciplina ampla que se tornou em nossos dias.
[ATIVIDADE 6]
Vimos que a partir dos estudos do filósofo e matemático inglês George Boole
(1815-1864) e do filósofo e matemático alemão Friedrich L. G. Frege (1848-1925), a
Lógica começará um desenvolvimento que culminará na disciplina ampla que se
tornou em nossos dias.
FILOSOFIA
Pesquise os dois filósofos (Georges Boole e Friedrich L.G. Frege) e escreva,
de forma breve, suas contribuições ao estudo da lógica.
Sugestões de leitura e vídeos complementares:
Artigo: Sobre a História da lógica. Disponível:
ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/arquivos/educacional/ArtGT.pdf. Acesso em 27/07/2016.
Vídeos:
Filosofia e Lógica - Aula 1. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=p8MTNLa4kGg.
Filosofía de la Ciencia en el siglo XX - Gabriel Zanotti. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=-q0EQxLs2bU.
30
Caderno de Estudos
UNIDADE III
Filosofia e cultura - relações
As questões discutidas na filosofia contemporânea
Ética e Sociedade
Professora/Autora
Marinilse Netto, Dra.
31
APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS
Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!
Estamos nos dirigindo para a terceira e última unidade deste Caderno de Estudos de
Filosofia. Nossos estudos serão guiados por três temas/assuntos:
 Filosofia e cultura - relações
 As questões discutidas na filosofia contemporânea
 Ética e Sociedade
Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande
importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a
possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre
o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.
De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade contemplam reflexões no campo
da cultura e problematizam questões importantes do mundo contemporâneo, entre elas a
promessa do progresso através do desenvolvimento industrial e da técnica, os dilemas de uma
sociedade que busca minimizar as desigualdades e injustiças e, em especial o papel da Filosofia
na compreensão de todas essas variáveis.
Vamos lá!
7 FILOSOFIA E CULTURA - RELAÇÕES
AULA 7
Sobre a Filosofia, já vimos nas páginas deste caderno, vários elementos que nos
direcionaram para a compreensão dos fundamentos desse grande campo. Contudo, vale dizer,
toda e qualquer ideia, fato, argumentação ou visão está condicionada a um contexto social, a
uma cultura. A seguir vamos compreender algumas questões que nos fazem pensar sobre como
a cultura está intimamente ligada a nossa relação com o mundo e com as pessoas. E se
lembrarmos de que a Filosofia também adentra aos âmbitos mais profundos da vida humana,
podemos afirmar que filosofia e cultura são campos muito próximos, porque não dizer, íntimos.
32
7.1 BREVE CONCEITUAÇÃO DO TERMO CULTURA
A proposta de discutir cultura é sempre polêmica e plural, o que pode ser atribuído ao seu
caráter polissêmico. Essa dificuldade acentua-se quando se trata de discutir os diversos
conceitos, derivados das diferentes interpretações sobre os processos culturais que se
desenvolveram, historicamente, em nossas sociedades.
Assim, falar, por exemplo, de cultura de elite/cultura popular, ou de nacional-popular,
implica abordar não apenas a conceituação, mas também a origem histórica e filosófica dos
mesmos.
Tratar de cultura é sempre um exercício importante, na medida em que a concebemos
como espaço onde são construídas as múltiplas relações entre os homens, as mulheres, os
objetos produzidos por eles/elas, as motivações (ideologias), os sonhos que projetam nos seres
humanos o desejo da descoberta (e também da negação dela), os modos como essas variáveis
se entrecruzam, produzindo outros tantos modos de interação. A cultura é uma palavra “é
pública” e, por refletir os modos pelos quais a palavra é interpretada pelas diferentes áreas,
comporta diferentes interesses ou ideologias.
A filósofa Marilena Chauí (2006, p.105-6), resgatando as origens históricas do conceito
de cultura destaca que “[...] a cultura era a moral (o sistema de valores ou de costumes de uma
sociedade), a ética (a forma correta da conduta de alguém graças à modelagem de seu ethos
natural pela educação) e a política (o conjunto de instituições humanas, relativas ao poder
e à arbitragem de conflitos pela lei)”. Ainda para a autora cultura significa os: “[...] resultados
expressos em suas obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a filosofia, os ofícios,
a religião e o Estado.”
A autora realiza tais fundamentações a partir da descrição do verbo latino ‘colere’ que,
originalmente, traz a ideia do cuidado, do cultivo, do tomar conta de, estabelecendo relações
entre o homem (corpo e alma) e a natureza. Cultura, nesse sentido, é descrita como intervenção
deliberada do homem em relação à natureza de outros homens: “O vocábulo estendia-se, ainda,
ao cuidado com os deuses, os ancestrais e seus monumentos, ligando-se à memória e, por ser o
cuidado com a educação, referia-se ao cultivo do espírito” (CHAUÍ, 1987, p.11). A vinculação
com a ideia de cultivo parece ter-se mantido até meados do século XVII, quando cultura estava
ligada às tradições. O termo germânico ‘kultur’ simbolizava todos os aspectos espirituais de
uma comunidade, “[...] enquanto que a palavra ‘civilization’ referia-se principalmente às
realizações materiais de um povo” (LARAIA, 1986, p.25). De acordo com Laraia, na língua
inglesa, o termo ‘culture’, tomado em seu amplo sentido etnográfico, a partir da conceituação
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feita por Edward Tylor, “[...] é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade”
Nesse sentido, é importante ressaltar os modos pelos quais a antropologia enquanto
ciência se construiu a partir das discussões e tentativas de definição do que seria cultura,
desenvolvendo metodologias para melhor compreender essa dimensão da vida humana. A
abrangência das ideias conceituais projetadas na área científica, e aqui em especial a partir da
visão construída pela antropologia através de Tylor e Geertz (1989, p.3), denuncia o ecletismo
conceitual nas definições de Tylor:
Não sei se é exatamente dessa forma que todos os conceitos científicos basicamente
importantes se desenvolvem. Todavia, esse padrão se confirma no caso do conceito
de Cultura, em torno do qual surgiu todo o estudo da antropologia e cujo âmbito essa
matéria tem se preocupado cada vez mais em limitar, especificar, enfocar e conter
(sic) para substituir “o todo mais complexo” de E.B.Tylor, o qual, embora eu
não conteste sua força criadora, parece-me ter chegado ao ponto em que confunde
muito mais do que esclarece.
É possível perceber também as discordâncias projetadas como interpretações conceituais,
pois, para Geertz (1989, p.4), a defesa pelo conceito de cultura passa pela linguagem semiótica,
ou seja, a linguagem dos signos:
Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado as teias de
significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua
análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como
uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação
que procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície.
Diante de tais contradições e extensões conceituais nos escritos de Tylor, Laraia
concordando com Clifford Geertz, afirma que: “[...] as centenas de definições de Tylor serviram
mais para estabelecer uma confusão do que ampliar os limites do conceito” (1989, p.4).
Seguindo essa linha de análise, a crítica dos autores citados se dá pela ampliação do termo
cultura, que de uma forma geral não reflete um conteúdo conceitual a partir das “[...] realidades
estratificadoras políticas e econômicas, dentro das quais os homens são reprimidos em todos os
lugares – e com as necessidades biológicas e físicas sobre as quais repousam essas superfícies”
(GEERTZ, 1989, p.21). Neste sentido, tais teorias são vistas por Geertz como uma interpretação
em nível de observação.
Nos estudos realizados da realidade cultural brasileira, no período de desenvolvimento
industrial, a partir do século XVIII, o termo cultura surge a partir do conceito de civilização,
termo derivado do latim ‘civese civitas’, como forma de moldagem aos valores da sociedade.
Como nível para determinar o grau de desenvolvimento de um grupo social o termo cultura,
34
numa visão iluminista, passa a ser visto como medida de civilização ou progresso de uma
sociedade a partir de seus valores e de sua produção, daí as discussões dos termos arte culta e
arte popular.
Roger Keesing (1974) em seu artigo “Theories of Culture”, apresenta teorias que
consideram a cultura como um sistema adaptativo. Nessa perspectiva, Cultura são sistemas de
padrões, de comportamentos socialmente transmitidos, que servem para adaptar as
comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modelo inclui tecnologias e
modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e de
organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante (KEESING, apud
LARAIA,1996, p.60-61).
Keesing (1974) ainda refere-se às teorias idealistas de cultura, subdividindo-as em três
abordagens:
a) Cultura como sistema cognitivo, produto dos chamados novos etnógrafos, que se
apropriam de métodos linguísticos – essa abordagem antropológica distingue-se pelo
estudo dos sistemas de classificação de ‘folk’, cuja análise de modelos é construída pelos
membros da comunidade a respeito do universo em que vivem, cultura neste sentido
constitui-se como forma de conhecimento;
b) Cultura como sistemas estruturais, definida como “[...] um campo simbólico que é uma
criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na
estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios
da mente que geram essas elaborações culturais” (KEESING apud LARAIA,1996, p.62);
c) Cultura como sistemas simbólicos – pesquisadores como Clifford Geertz e David
Schneider estão entre os que defendem primeiramente a definição do homem baseada na
definição da cultura, negando as ideias iluministas e antropológicas ditas clássicas. Para
Geertz “[...] um dos mais significativos fatos sobre nós pode ser finalmente a constatação
que todos nascemos com um equipamento para viver mil vidas, mas terminamos no fim
tendo uma só!” (LARAIA,1996, p.63).
Os fatos sociais são simbólicos. Desta forma, a cultura é simbólica, pois pode ser
considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, como por exemplo, a linguagem, as
regras coletivas, as leis, as relações econômicas, a arte, a ciência, a religião, entre outros.
Outra dimensão para a cultura está no campo do empreendedorismo ‘cultura
organizacional’. Este tema será tratado nesse caderno nos estudos que abrangem o campo da
Sociologia. Mas podemos dizer de antemão que alguns dos atributos mais valorizados da cultura
35
organizacional de uma empresa são: ética, responsabilidade social, competência, compromisso,
etc.
[ATIVIDADE 7]
Como registrado, um dos atributos da cultura organizacional é a ética. Pesquise
na internet uma empresa que apresente em sua visão ou missão, características
fundamentais que a caracterizem como uma empresa ética e responsável socialmente.
Exponha a sua pesquisa. Apresente a empresa justificando sua escolha.
Sugestões de leituras complementares:
Artigos:
Cultura organizacional e ética empresarial: dois pesos, duas medidas? Disponível:
https://maldeiaexploratoria.files.wordpress.com/2009/08/cultura-organizacional-e-eticaempresarial-dois-pesos-duas-medidas.pdf. Acesso em 27/07/2016.
A importância do comportamento ético nas organizações. Disponível:
http://www.unioeste.br/campi/cascavel/ccsa/IISeminario/trabalhos/a%20import%C3%A2nci
a%20do%20comp.%20%C3%A9tico%20nas.......pdf. Acesso em 27/07/2016.
8AS QUESTÕES DISCUTIDAS NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
AULA 8
Entre os temas de maior destaque nos últimos anos, precisamente naqueles que fecharam
o século XX e deram início ao XXI, de acordo com a pesquisadora e filósofa Marilena Chauí,
estão aqui em destaque: História e progresso; As ciências e as técnicas; As utopias
revolucionárias; A cultura; O fim da filosofia.
36
8.1 HISTÓRIA E PROGRESSO
Na Filosofia, o século XIX é considerado o grande período da descoberta da historicidade
do ser humano, em seus aspectos sociais, científicos e artísticos. Segundo o filósofo Hegel, a
história é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e portanto,
em sua visão, somos seres históricos.
No século XX a concepção hegeliana levou o mundo à visão de progresso, de que os seres
humanos, as sociedades, as ciências e as artes (incluindo a técnica) melhoram, aperfeiçoam-se
com o passar do tempo, acumulando novos conhecimento e práticas. Essa visão institui que o
presente é melhor que o passado. Ainda, que o tempo presente é superior ao passado e o futuro
será superior ao tempo presente.
De modo otimista, o filósofo Augusto Comte atribuía ao progresso o desenvolvimento
das ciências denominadas “positivas”. Seriam essas ciências que permitiriam os seres humanos
a “saber para prever, prever para prover”. Conhecimento gera progresso. O desenvolvimento
social aconteceria pelo crescimento científico e controle científico da sociedade. Foi Augusto
Comte que criou a frase “Ordem e Progresso”, que estampa a bandeira do Brasil republicano.
Ainda no século XX, a tese da historicidade dos seres humanos, da razão e da sociedade
levou a ideia de que a história é feita de modo descontínuo e não progressista, pois cada
sociedade tem sua história própria.
A visão de progresso passa a receber críticas porque, do modo como formulada, serve de
desculpa para legitimar padrões, como os colonialismos e imperialismos, pois nesta visão os
povos mais adiantados teriam direito de dominar os mais atrasados. Ainda, passa a ser criticada
a visão progressista na ciência e nas técnicas, mostrando que cada tempo histórico e cada
sociedade o conhecimento e as práticas responde a sentidos e valores próprios que podem
desaparecer na época seguinte quebrando a ideia da transformação contínua e progressiva.
8.2 AS CIÊNCIAS E AS TÉCNICAS
A Filosofia do século XIX estava entusiasmada com o desenvolvimento das ciências e
das técnicas promovida pela revolução industrial. A Filosofia confiava de modo pleno no saber
científico e na tecnologia como instrumentos de dominação e controle da natureza, da sociedade
e dos indivíduos.
A Sociologia explicava o funcionamento das sociedades, afirmando que os seres humanos
poderiam organizar racionalmente o âmbito social, evitando revoluções ou desigualdades. No
37
campo da Psicologia, acreditava-se que esta ensinaria como funciona a mente humana, de modo
definitivo e esclarecedor quais as causas dos comportamentos e como controlá-los, ainda quais
as causas das emoções e como controlá-las (afinal, nesta visão, emoção não combina com
razão). Supunha-se que era possível livrar os seres humanos da angústia, do medo, da loucura
por meio de uma pedagogia baseada em conhecimentos científicos, adaptado as formação e
exigências da sociedade. Acreditava-se ser possível educar as crianças segundo suas vocações
e potencialidades psicológicas.
Contudo, no século XX a Filosofia começa a desconfiar do otimismo científicotecnológico em virtude de acontecimentos dramáticos como as duas guerras mundiais, o
bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, os compôs de concentração nazista, as guerras da Coréia,
do Vietnã, do Oriente Médio, do Afeganistão, entre outros sérios problemas sociais.
A Escola de Frankfurt (escola alemã de Filosofia) elaborou uma teoria crítica na qual
define duas formas da razão: A razão instrumental, ou razão técnico científica, que faz das
ciências e das técnicas não um meio de libertação dos seres humanos, mas uma forma de
intimidação, de medo e de terror. Já a razão crítica, analisa e interpreta os limites e perigos do
pensamento instrumental, afirmando que as mudanças sociais, políticas e culturais, só serão
atingidas se tiverem como finalidade a emancipação do ser humano e não somente as ideias de
controle e de domínio técnico-científico sobre a natureza, a sociedade e a cultura.
8.3 AS UTOPIAS REVOLUCIONÁRIAS
Ainda no século XIX, em decorrência do otimismo progressista a Filosofia apostou no
movimento das utopias revolucionárias, ou seja, o anarquismo, socialismo, comunismo, os
quais criariam uma sociedade justa e igualitária. No entanto, no século XX, as chamadas
sociedades totalitárias (fascismo, nazismo, stalinismo) e com o aumento do poder das
sociedades autoritárias e ditatoriais, a Filosofia passa a desconfiar do otimismo revolucionário
e das utopias e começa a indagar se os seres humanos, os explorados e dominados, são capazes
de criar e manter uma sociedade nova.
O crescimento das burocracias (regras, visões que dominavam as organizações estatais,
empresariais, político-partidárias, escolas, hospitais), levou a Filosofia se o povo seria capaz de
derrubar tudo isso.
38
8.4 A CULTURA
Então no século XIX a Filosofia descobre a cultura como espaço e contexto da existência
dos seres humanos. Os animais são seres naturais, os humanos são seres culturais. A natureza
é governada por leis necessárias de causa e de efeito e a cultura é o exercício da liberdade.
Conforme já vimos em nossos estudos, a cultura é o espaço (concreto, subjetivo) coletivo
de criação de ideias, de símbolos e de valores com os quais a sociedade define o que é bom, o
que é ruim, o que é justo ou injusto, o que é belo e o que é feio, e assim por diante. A cultura se
realiza por meio do trabalho, da linguagem, das relações e do tempo.
Para a Filosofia do século XIX, segundo a visão de Hegel, a cultura se transforma em um
movimento progressivo. Para outros filósofos (românticos) a cultura não formava um
movimento progressivo e era nacional, ou seja, relativa ao contexto e cabia a Filosofia conhecer
o “espirito do povo” apropriando-se de suas raízes, pois o mais importante da cultura ali estaria,
no passado, na sua origem. Então surge a ideia dos estudos folclóricos brasileiros. Contudo, a
Filosofia do século XX afirma que a história é descontinuada, afirmando que não há cultura,
mas há muitas culturas.
8.5 O FIM DA FILOSOFIA?!
No século XIX pensava-se que no futuro a ciência seria o imperativo e que todos os
conhecimentos e todas as explicações seriam dadas por ela. Desse modo, a Filosofia não teria
sentido ou necessidade. Contudo, no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as ciências
não possuem princípios totalmente certos e seguros para as investigações e que os resultados
podem se duvidosos.
Os princípios, métodos, conceitos e os resultados da ciência podem ser equivocados ou
desprovidos de fundamentos. Neste caso, a Filosofia voltou a firma-se como importante para a
compreensão e interpretação crítica das ciências, discutindo a validade de seus princípios,
procedimentos de pesquisa, resultados e modos de exposição dos dados ou conclusões.
Foi, essencialmente, a falta de rigor das ciências que levaram o filósofo Husserl a propor
que a Filosofia fosse o estudo do conhecimento rigoroso da possibilidade do próprio
conhecimento científico.
O que podemos perceber nos escritos de Marilena Chauí, é que a Filosofia, ainda que por
um longo período tenha sido deixada de lado pela ciência, no século XX retorna ao seu posto e
assume com propriedade que toda investigação científica está apoiada por uma visão filosófica,
39
que justifica e ampara os métodos e procedimentos. A Filosofia desde sua origem é ciência. É
descoberta.
Para Lawrence Sklar (2005) o papel da filosofia não é o de funcionar como fundamento
ou extensão das ciências, mas como sua observadora crítica. O papel da filosofia da ciência
seria assim o de clarificar essas relações conceituais e é o de descrever os métodos usados pelas
ciências e explorar as bases de justificação desses métodos, isto é, compete à filosofia mostrar
que os métodos são apropriados para encontrar a verdade na disciplina científica em questão.
----------------------------------------------Texto para leitura e análise: Positivismo, ciência e progresso: uma provocação
De autoria de Renato Chaves Azevedo. 2010.
A Promessa
No final do século 18, a maior parte dos cientistas responsáveis pela grande revolução científica
europeia, como Descartes, Galileu e Newton já haviam morrido, mas seu legado permanecia, e a Ciência
ocidental continuava passando por um período muito fértil. No entanto, ela ainda era vista como
apenas mais uma forma de conhecer a natureza, e não como a melhor forma de fazê-lo. A Ciência ainda
não tinha o poder de legitimar o que era verdade e o que não era, já que o misticismo e o conhecimento
religioso ainda tinham um grande poder explicativo na sociedade. Nesse contexto surgiu uma corrente
filosófica de afirmação do conhecimento científico como sendo o único conhecimento autêntico e, mais
do que isso, do homem (e não Deus) como sendo o produtor desse conhecimento. Ou seja, o positivismo
é uma corrente filosófica que nos redime do pecado original de Adão e Eva e, mais do que isso, prega
que temos mesmo que nos banquetear na Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
August Comte (1798-1857), o “pai do positivismo”, escreve a obra que inaugura essa corrente filosófica,
o Curso de Filosofia Positiva. Nesse livro, Comte formula sua Lei dos Três Estados, que parte do
princípio de que a humanidade está evoluindo, avançando de uma época bárbara e mística para outra
civilizada e esclarecida. Comte explica que essa evolução intelectual humana tem três fases muito bem
definidas: a fase teológica, em que todos os fatos são explicados pelo sobrenatural (Deus); a fase mística
ou metafísica, em que o homem começa a pesquisar a realidade, mas ainda com um viés sobrenatural
muito forte (criam-se categorias alegóricas como “a Natureza”, “o Povo”, etc.); e a fase científica ou
positiva, que seria o apogeu do intelecto humano. Os outros dois estados do conhecimento são apenas
degraus pelos quais a humanidade teve que passar para atingir o estado mais elevado, em que o homem
explica os fenômenos naturais por leis gerais que ele mesmo descobre a partir do estudo da natureza.
Dessa forma, para os positivistas o progresso da humanidade estaria intimamente relacionado com o
progresso da Ciência. O conhecimento positivo (a Ciência) é o auge da evolução intelectual humana,
então devemos investir nesse tipo de conhecimento e abandonar de vez a teologia e a metafísica, pois
somente o conhecimento positivo poderá tirar a humanidade da ignorância e da superstição e colocá-la
no caminho do progresso.
40
A Aposta
Por algum motivo, Comte e seus seguidores foram ouvidos. Foram muito ouvidos. O positivismo ganhou
muita força. O lema positivista está estampado em nossa bandeira nacional, que diz “Ordem e
Progresso”. A humanidade apostou boa parte de suas fichas na ideia de que para progredir seria
necessário investir na Ciência.
Alguns séculos depois, aqui estamos. Agora temos satélites monitorando nosso planeta e chegamos à
Lua. Temos super computadores com internet e carros ultra velozes. Sequenciamos o DNA dos
organismos e trocamos genes entre eles. Temos geladeira, microondas, ar condicionado, chuveiro
quente, telefone celular, GPS, viajamos de avião e frequentamos cinemas 3D. Fizemos descobertas
médicas que aumentaram bastante a nossa expectativa de vida. Certamente temos uma vida muito mais
confortável do que Comte e seus contemporâneos tiveram, e isso é fruto do investimento que a
humanidade fez na Ciência.
Progresso?
Mas, será que podemos dizer que a humanidade progrediu? Não podemos esquecer que enquanto alguns
fazem fila para comprar o iPad no primeiro dia, mais da metade da população da Terra não tem
saneamento básico. Andamos nas ruas e vemos pessoas sem comida, sem teto, sem escolaridade e sem
esperança. O que é o progresso da humanidade? Ser capaz de inventar robôs que deixam milhões de
pessoas desempregadas? Inventar tranqueiras supérfluas que menos de 10% da população mundial tem
dinheiro pra comprar? Às vezes me parece que os bons e velhos índios, que andavam descalços na mata
e não tinham energia elétrica estavam muito na nossa frente em termos de “progresso humano”.
A pergunta que fica é: será que valeu a pena? E, se valeu, será que ainda vale a pena continuar investindo
bilhões de dólares todo ano e sacrificar milhares de espécies e habitats para que a Ciência continue
avançando? Aparentemente os positivistas estavam errados. O investimento no conhecimento científico
não trouxe progresso pra humanidade (se entendermos que a humanidade consiste de todos os seres
humanos, e não somente daqueles que têm boas condições econômicas). Talvez, inclusive, tenha
agravado ainda mais as desigualdades e reforçado alguns preconceitos. Será que não está na hora de
procurar uma outra forma de progredir? Porque eu não acho que uma sociedade que tem gente morrendo
de fome possa ser considerada uma sociedade evoluída, não importa quão poderosos seus computadores
sejam.
41
[ATIVIDADE 8]
Caro (a) Acadêmico (a)!
Leia, analise e reflita sobre o texto de autoria de Renato Charles Azevedo. Depois
exponha, de modo dissertativo, suas ideias sobre as questões que envolvem a
inovação da ciência e a vida na sociedade atual.
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Artigo: O sofrimento da insatisfação dos desejos e a sedução da sociedade de consumo.
Disponível: http://www.revistavoluntas.com.br/uploads/1/8/1/8/18183055/v5-n1-1-2014art5-bitterncourt_renato_nunes.pdf
Vídeos:
Desenvolvimento cientifico-tecnológico e sociedade. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=bXFWuVP6gzI
Sociedade, Tecnologia e Inovação - Aula 1 - Criatividade e evolução. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=c77J1BZnCiY
AULA 9
9 ÉTICA E SOCIEDADE
Neste capítulo, registramos o tema a ser estudado com um texto de autoria de Joelma
Coêlho dos Santos, Ranessa Lira Teixeira, Nory Lana Godinho de Souza (disponível no
site
http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/).
Acesso em 17/07/2016.
O texto foi escolhido por suas qualidades de exposição sobre as relações entre ética,
filosofia e vida social. Vamos ao texto:
42
Existe uma profunda ligação entre ética e filosofia: a ética nunca pode deixar de ter como
fundamento uma concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste como um ser social
e histórico. Dentre os vários conceitos com os quais a ética trabalha e que pressupõe um prévio
esclarecimento filosófico, como os de liberdade, necessidade, valor, consciência, vamos dar ênfase ao
de sociabilidade, ou seja, como a ética deve estar inserida nas relações humanas em sociedade.
A ação humana é fruto de uma escolha entre o certo e o errado, e entre o que é bom e o que é
mal. O indivíduo procura se basear em parâmetros socialmente aceitos que lhe permite conviver com as
outras pessoas, em outras palavras, ele busca sempre se guiar pelos conceitos que norteiam a prática dos
valores positivos e das qualidades humanas. A ética não somente serve de base para as relações humanas,
mas, trata também das relações sociais dos homens na medida em que os filósofos consideram a ética
como base da justiça ou do direito, e até mesmo das leis que regulam a convivência entre todos que
vivem na sociedade.
Primeiramente para entendermos sobre a ética devemos pelo conceito filosófico entender que é
a área que investiga o comportamento humano em suas relações entre si, considerando conceitos
utilizados para avaliá-las como: valor, virtude, justiça, moral, bem, normas morais, dever, liberdade e
principalmente responsabilidade; promove também reflexões sobre a busca humana pelas melhores
formas de agir, viver e conviver. De forma mais específica, segundo Gilberto Cotrim,
A ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana, que é o comportamento moral... A ética tem também preocupações
práticas. Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer. Como filosofia prática, isto é, disciplina teórica com preocupações
práticas, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser (COTRIM, 2004, p.264).
Como teoria filosófica, a ética se caracteriza como estudo das ações individuais dos homens,
cuja finalidade consiste em elaborar uma orientação normativa para as ações humanas que seja
estabelecido como bem. Com o filósofo grego Aristóteles a ética passou a ser a “ciência do moral”, ou
seja do caráter e das disposições do espírito. Enfatizamos que a ética é um conjunto de argumentos que
são utilizados pelos indivíduos para justificar suas ações, solucionando com diferentes problemas em
que há o conflito de interesses com bases em argumentos universais. Ou salientamos que a ética é uma
filosofia responsável por estudar a moral, contestando e identificando o que podemos chamar de regras
morais vigentes, as quais são alteradas com o tempo. A Ética como teoria filosófica tem por objetivo
estudar o comportamento dos indivíduos frente aos apelos morais da sociedade em que este vive. Ela se
manifesta de diferentes maneiras conforme a cultura, costumes e hábitos de determinadas populações.
As reflexões da ética abrangem aspectos da vida pública e das leis estabelecidas no plano social
para a existência humana. Envolvem questões ligadas ao direito, ao poder, a cidadania e a política, e
abrange também aspectos da vida privada, analisando algumas questões morais de foro íntimo ligadas
as condutas e escolhas de indivíduos em nosso cotidiano, e são elas que determinam o modo como cada
um convive consigo próprio e com os outros.
As respostas filosóficas para as questões éticas variam no tempo e no espaço, e ainda apresentam
uma característica fundamental que envolve a posição dos indivíduos em relação ao valor e as virtudes
que são defendidos em seu meio cultural. Com isso, os filósofos investigam o que leva diferentes grupos
sociais a se enfatizarem sobre questões e valores semelhantes, sem ignorar que, os significados
atribuídos a eles nem sempre são os mesmos. Há filósofos que concebem o homem como um ser dotado
de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas e como elas
deveriam ser. Alguns acreditam que as diversas tendências culturais e individuais atuam sempre sobre
a capacidade comum entre os seres humanos e são determinantes da formação do caráter e da
personalidade. E há filósofos que afirmam a existência da liberdade, ressaltando sempre que, apesar da
pressão de costumes e leis, nós sempre podemos refletir sobre as questões éticas e sobre a moral
aprendida, e que, segundo eles, há uma possibilidade que nos faz responsáveis por nossas próprias
escolhas e que nos permite contribuir para a renovação com as normas com que nos deparamos no dia
a dia.
Nos tempos áureos da filosofia grega a justiça e todas as demais virtudes éticas eram políticas e
sociais, o que denota uma certa inseparabilidade entre a ética e política, ou seja, está relacionado entre
a conduta do indivíduo e os valores da sociedade.
No pensamento dos Antigos filósofos a existência humana só pode ser pensada em sociedade
onde os seres humanos aspiram ao bem e a felicidade, que só pode ser alcançada pela conduta virtuosa.
43
Além disso, existe uma preocupação constante com a busca dos valores morais inscritos no interior do
próprio homem, como acreditava Sócrates. Dessa forma – para ser ético – o homem deveria entrar em
contato com a sua própria essência, a fim de alcançar a perfeição. O homem, como qualquer ser, busca
a sua perfeição, que acontecerá quando sua essência estiver plenamente realizada. E como afirma
Mondin, “A ética ou moral... é o estudo da atividade humana com relação a seu fim último que é a
realização plena da humanidade” (1980, p.91)
Sócrates, que se tornou símbolo da própria filosofia, dedicou atenção especial as questões éticas,
sendo que ele julgava o ser humano que era dotado de uma natureza racional e voltada para o bem. Ele
tentava sempre compreender a essência das virtudes e do bem, tal como a justiça, a prudência, a coragem,
e entre outras. Sócrates de alguma forma procurava saber dos cidadãos atenienses sobre a virtude, a
essência, saber se uma conduta é boa ou não, e porque o bem é uma virtude e o mal um erro, e com tudo
isso as perguntas ética-socráticas não estão destinadas somente ao indivíduo, mas também a sociedade.
Pode-se resumir a ética dos antigos em pelo menos dois aspectos: o agir em conformidade com a
razão e a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética
é uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia entre o mesmo
e os valores coletivos.
Na Idade Média a Filosofia sofrerá uma forte influência da tradição cristã. Uma vez, que todos
os Filósofos deste período são teólogos, bispos, abades e padres. Dessa forma a filosofia permanecerá,
ao longo de todo período medieval, subordinada a teologia, de tal modo, que é impossível separar o
pensamento filosófico da tradição grega, do pensamento teológico cristão. Neste caso a vida ética era
definida por sua relação espiritual e interior com Deus e pela caridade com o seu próximo, por meio da
revelação divina. A ética cristã se fundamenta no amor, no qual foi colocado como primeiro e maior
mandamento: o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo. É no amor que o cristianismo
encontra sua realização espiritual mais profunda e as bases fundamentais para a vida em sociedade.
Os primeiros filósofos cristãos procuravam conciliar fé e razão como instrumento de análise e
reflexão. A partir desse pressuposto a filosofia insurge no campo da ética cristã, como tentativa de
justificar seus princípios e normas de comportamento, se submetendo a lei divina revelada pelas
Sagradas Escrituras implicando uma determinação racional do próprio conteúdo sobrenatural da
Revelação, mediante uma disciplina específica, a teologia dogmática (veja mais em: Filosofia Cristã:
Interioridade e Dever).
Assim como Sócrates e Platão, o bispo, teólogo e filósofo do início da Idade Média, Santo
Agostinho, foi um homem profundamente voltado para a sua interioridade, uma vez que é nessa
interioridade que podemos realizar nosso encontro com Deus e nossa verdadeira essência. É dentro desta
perspectiva de uma filosofia introspectiva que Agostinho agrega uma série de conceitos fundamentais.
Os filósofos medievais herdaram elementos da tradição filosófica grega, reconfigurando-se no interior
de uma ética cristã e tal como Santo Agostinho, a filosofia de São Tomás de Aquino representa uma
aproximação entre fé e razão mas, neste caso, usando o pensamento aristotélico como base fundamental.
Inspirado na filosofia aristotélica e amparado na visão cristã de mundo, Aquino reflete sobre a conduta
ética que é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar, referindo-se,
ao que é possível e desejável para um ser humano. A ética tomista também deve ser trabalhada no âmbito
da sociedade. Analisando a natureza humana, resulta que o homem é um animal social (político) e,
portanto, forçado a viver em sociedade com os outros homens. A primeira forma da sociedade humana
é a família, de que depende a conservação do gênero humano; a segunda forma é o Estado, de que
depende o bem comum dos indivíduos. Sendo que apenas o indivíduo tem realidade substancial e
transcendente, se compreende como o indivíduo não é um meio para o Estado, mas o Estado um meio
para o indivíduo. Segundo Tomás de Aquino, o Estado não tem apenas função negativa (repressiva) e
material (econômica), mas também positiva (organizadora) e espiritual (moral). Embora o Estado seja
completo em seu gênero, fica, porém, subordinado, em tudo quanto diz respeito à religião e à moral, à
Igreja, que tem como escopo o bem eterno das almas, ao passo que o Estado tem apenas como escopo o
bem temporal dos indivíduos.
Mas não foi apenas na antiguidade e na Idade Média que os filósofos tiveram essa preocupação
ética e social. Longe de pretender fazer uma análise sistemática das mais diferentes visões filosóficas
sobre o assunto vamos apenas ressaltar as duas correntes que já mencionamos no início do texto. A
primeira sobre a qual já falamos, corresponde às ideias de filósofos como Sócrates e Santo Agostinho
que acreditam que o ser humano é dotado de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para
44
avaliar como as coisas e como elas deveriam ser e, desta forma, a questão de como devemos nos
comportar e agir em sociedade passa por uma questão de foro íntimo e espiritual, introspectivo, que
pode ser resumida na frase: “conhece-te a ti mesmo”. Mas essa visão não é a única e filósofos há que
acreditam que que as diversas tendências culturais são determinantes da formação do caráter e da
personalidade e por isso dão uma ênfase maior em como os aspectos sociais e culturais são determinantes
das relações humanas.
Um exemplo desta perspectiva nós encontramos no século XIX, com o filósofo alemão Friedrich
Hegel, que aprofundou de maneira ímpar a perspectiva Homem – Cultura e História, sendo que a ética
deve ser determinada pelas relações sociais. Como sujeitos históricos culturais, nossas ações devem ser
determinadas pela harmonia entre vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural. O homem
é visto como sujeito histórico-social, e como tal sua ação não pode mais ser analisada fora da
coletividade, por isso a ética ganha um dimensionamento político: uma ação eticamente boa é
politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça e distribuição igualitária do poder entre os
homens. O ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito,
que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis
do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição. E os grandes problemas éticos se
encontram em três momentos da eticidade que são a família, a sociedade civil e o Estado, e uma ética
concreta não pode ignorá-los (VALLS, 1994).
Em relação à sociedade civil os problemas atuais continuam os mais urgentes: referem-se ao
trabalho e à propriedade. Não é um problema ético a falta de trabalho, o desemprego, as formas
escravizadoras do trabalho, quando a maioria não recebe as condições mínimas nem de salário nem de
infra estrutura para sobreviver? Em relação ao Estado, os problemas, éticos são muito ricos e complexos.
A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito. As
leis, a Constituição, as declarações de direitos, a definição dos poderes, a divisão destes poderes para
evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas
fundamentais.
Uma outra perspectiva de uma moral social encontramos no sociólogo Emile Durkheim. A
comparação que Durkheim faz da sociedade com um organismo biológico traz ricas analogias. A
sociedade é um imenso corpo social, como um “organismo biológico” (o conjunto das instituições
sociais formam este corpo), possuindo vários órgãos (entre eles: a família, o Estado, a escola, a Igreja),
cada qual com suas funções específicas de modo que a “anatomia social” será saudável se todos os
órgãos funcionarem bem. Durkheim leva essa analogia ainda mais além quando afirma que a partir do
momento em que um desses órgãos deixa de funcionar convenientemente, todo corpo social se ressente
e adoece. E o que torna saudável uma sociedade, fazendo com que ela funcione harmoniosamente, é a
existência de uma moral social. Cabe aos indivíduos desenvolver planos de ação que possam influir na
transformação dos aspectos deficientes da sociedade a partir de valores que possam orientar,
efetivamente, a conduta social dos indivíduos. Vale destacar aqui, a importância que a ideia
de solidariedade representa no pensamento do sociólogo francês. A solidariedade, dentro do contexto
das regras morais e sociais, pode e deve contribuir para a harmonia da sociedade.
Enfim, qual a contribuição que a Filosofia e, por sua vez, a Ética, podem oferecer para nós,
homens e mulheres do século XXI? No momento histórico em que vivemos existe um problema éticopolítico grave. O Brasil sempre quis ser visto o país dos justos, da democracia, da ética acima de tudo,
porém não é bem essa a realidade vivida por todos (veja mais em: Ética na democracia brasileira).
Verifica-se uma realidade conflitante fundamentada em uma crise de sentido e de valores que se
apresenta na vida pessoal e nas relações sociais das pessoas. A partir desse contexto percebe-se uma
inquietação acerca do sentido da vida e do papel do “ser no mundo”, vindo assim a reaparecer com mais
força o interesse pelo tema da ética, enquanto coluna vertebral da reflexão sobre a conduta do ser
humano e seus valores. Não é suficiente para o homem comum e contemporâneo superar a crise da ética
atual conhecendo o outro e suas necessidades para se chegar a sua convivência harmônica. Não há como
superar esta crise sem um modelo de ética voltada para uma comunidade, como na polis grega. Hoje se
aposta no individualismo, na competição, na sociedade do espetáculo e do consumo.
Acerca das reflexões sobre o ponto de vista dos filósofos, fica claro o entendimento sobre a ética,
sendo um elemento imprescindível na sociedade. Somos formados por princípios e valores que estão
relacionados a nossa cultura e esses fatores são essenciais, para a formação do nosso caráter no que diz
45
respeito a nossa conduta ética e moral de modo que, irremediavelmente, o que se entende por Filosofia
e Ética está relacionado ao conhecimento e comportamento do indivíduo na sociedade.
Referências Bibliográficas
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. 15ª Ed. São Paulo: Saraiva 2004.
MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Tradução de J. Renard. São
Paulo: Paulus, 1980.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos,
177). Em nosso website você encontra uma resenha da obra de Álvaro Valls: acesse o link: O que é
Ética (resenha).
----------------------------------------------------------------------------------A história (e a humanidade) tratou de formar muitas concepções sobre o termo ética as
quais exercem influências em nossos pensamentos, sobre o que é certo e o que é errado, o que
é bom e o que é ruim. Tais concepções não devem ser vistas como um conjunto fixo de
prescrições, mas identificadas em seu contexto histórico e temporal. Neste sentido, os
pensadores como Sócrates, Kant, Marx e até mesmo a própria Igreja Católica são referenciais
de compreensão e de entendimento da ética em cada uma das épocas correspondentes.
Vejamos as principais reflexões que o texto propõe:
 Questões que envolvem a escolha entre o bem e o mal – a moral.
 O significado e importância da ética na sociedade.
 O papel do ser humano no mundo contemporâneo.
46
[ATIVIDADE 9]
Caro (a) Acadêmico (a)!
Escolha uma, entre as três questões apresentadas acima e elabore uma redação
apresentando sua visão sobre o tema.
OBS: O trabalho deve compor uma lauda com fonte Times, tamanho 12.
Sugestões de leituras complementares:
Artigos:
A importância do comportamento ético nas organizações. Disponível:
http://www.unioeste.br/campi/cascavel/ccsa/IISeminario/trabalhos/a%20import%C3%A2nci
a%20do%20comp.%20%C3%A9tico%20nas.......pdf
Cultura organizacional e ética empresarial: dois pesos, duas medidas? Disponível:
https://maldeiaexploratoria.files.wordpress.com/2009/08/cultura-organizacional-e-eticaempresarial-dois-pesos-duas-medidas.pdf
47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS – FILOSOFIA
BARNES, J. Filósofos pré-socráticos. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BRASIL. Relatório para a Unesco. Educação – Um tesouro a descobrir. 2010. (Jacques Delors
– Presidente), 2010. 43p.
CHAUÍ, Marilena. Cidadania cultural o direito à cultura. São Paulo: Editora Perseu
Abramo, 2006.
_______.Conformismo e resistência. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
D’OTTAVIANO, Ítala M.L.; FEITOSA, Hércules de A. Sobre a história da lógica, a lógica
clássica e o surgimento das lógicas não-clássicas. V Seminário Nacional de História da
Matemática. UNESP, Rio Claro, 2003.
GASPARETTO JUNIOR, Antônio. Filosofia e Política. Info Escola. Disponível:
http://www.infoescola.com/filosofia/filosofia-politica/. Acesso em 28/07/2016.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
HOBUSS, João. Introdução a História da Filosofia Antiga. [Recurso eletrônico], 2014. 172p.
Disponível: http://nepfil.ufpel.edu.br/dissertatio/acervo/12.pdf.
KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Editora Brasiliense, 25ª ed. 2000.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura – um conceito antropológico. 11.ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1996.
LUCKESI, Cipriano C.; PASSOS, Elizete S.. Introdução à filosofia. 7 ed. São Paulo: Cortez,
2012.
TEIXEIRA, Anísio. Filosofia e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de
Janeiro, v.32, n.75, jul./set. 1959. p.14-27.
TOMELIN, Janes F.; SIEGEL, Norberto. Cadernos de Filosofia. Indaial-SC: Editora Asselvi.
2004, 68p.
UNESP.
Introdução
à
lógica
contemporânea.
2013.
Disponível:
http://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/RicardoTassinari/2013ILC.pdf,
48
SOCIOLOGIA
Caderno de Estudos
UNIDADE I
Breve Introdução ao Campo Sociológico
Sociologia Geral
Ciência e Sociologia – Controle e estratificação
Mobilidade e mudanças sociais
UNIDADE II
O sistema empresarial moderno: suas tendências
Visão sociológica da Teoria das Organizações
UNIDADE III
Cultura Organizacional
Sociologia do processo produtivo
Sociologia do poder
Professora/Autora
Marinilse Netto, Dra.
49
APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS
Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!
Para facilitar a sua compreensão, organizamos este Caderno de Estudos de Sociologia em
três unidades. Esta primeira unidade divide-se em quatro temas/assuntos:
 Breve Introdução ao Campo Sociológico
 Sociologia Geral
 Ciência e Sociologia – Controle e estratificação
 Mobilidade e mudanças sociais
Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande
importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a
possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre
o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.
De modo geral, a disciplina está voltada para compreensões gerais sobre o campo
Sociológico, dando ênfase para questões que tratam da origem e conceito de fato social, da
modernidade e seus contornos. Busca, ainda, identificar o objeto de estudo da Sociologia e
entender elementos como coerção e o controle social, mobilidade e mudanças sociais.
Vamos aos estudos!
AULA 10
10 BREVE INTRODUÇÃO AO CAMPO SOCIOLÓGICO
“A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma
série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que balizam a
conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade é um produto dela.”
(Emile Durkheim).
Augusto Comte (1798-1857) é, tradicionalmente, considerado “pai” da Sociologia, pois
foi esse pensador que mencionou pela primeira vez a palavra “Sociologia”, no ano de 1839 em
seu curso de Filosofia Positiva. Contudo, foram os estudos de Emile Durkheim (1858-1917)
tornaram a Sociologia uma ciência o que o designa “pai da Sociologia acadêmica”.
50
Estudos no campo da Sociologia se preocupam com a vida social humana, grupos e
sociedades, com enfoque no comportamento desses sistemas, ou seja, como funcionam, que
tipo de normas e padrões estabelecem, como e por que ocorrem suas transformações.
Ao entrar nos estudos sociológicos desenvolvemos nossa capacidade de pensar, nos
distanciando de ideias ou visões preconcebidas. O grande desafio aceito pela Sociologia é o de
investigar a ligação que existe entre o que a sociedade faz de nós, seres humanos e o que nós
fazemos de nós mesmos.
Mas, registra-se, a preocupação pela compreensão do comportamento humano no
campo social é recente. Foi somente no século XIX que pesquisadores da área, ou os “cientistas
sociais”, se empenharam em investigar, entre outras questões, como as ações com origem em
motivações individuais podem ser estendidas a ações coletivas, como regras ou normas de
conduta são incorporadas e internalizadas pelos indivíduos e em especial, como a prática
coletiva determina o comportamento de diferentes grupos sociais, aproximando-os ou
separando-os.
A Sociologia desenvolve estreita relação com outras disciplinas como a Antropologia –
que estuda as culturas humanas antigas; a História – que estuda o passado e o presente dos
grupos sociais, estabelecendo uma comparação entre os fatos atuais e os fatos antigos; a
Economia – que estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens
materiais e; a Política – que estuda instituições ou organizações cujas estruturas e processos de
ação se aproximem de um governo, em complexidade e interconexão.
Sociologia: autoconsciência crítica da realidade social.
Ciência que estuda os fenômenos sociais.
Vejamos a seguinte situação
51
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos em uma jaula, em cujo centro
pôs uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia
as escadas para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água
fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia
subir a escada, os outros o enchiam de pancadas. Passado mais algum tempo,
nenhum macaco subiu mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então
os cientistas substituíram um dos macacos. A primeira coisa que ele fez foi
subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a
escada. Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo ocorre, tendo o
primeiro substituto participado, com entusiasmo na surra ao novato. Um
terceiro macaco foi trocado e repetiu-se o fato. Um quarto e finalmente, o
último dos veteranos foi trocado. Os cientistas ficaram então com um grupo
de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio,
continuavam a bater naquele que tentasse alcançar as bananas. Se fosse
possível perguntar a algum deles porque batia em quem tentasse subir a
escala, ele diria: não sei... as coisas sempre foram assim por aqui. (Autoria
atribuída a Albert Einstein).
---Veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2WkazAAuKnk
Essa narrativa nos coloca em uma perspectiva social muito corriqueira e que se repete
em muitos tempos históricos e sociedades. É muito comum as pessoas seguirem tipos de
comportamento ou procedimentos sem a autorreflexão crítica. Ano após ano, cultuamos
hábitos, costumes que nos foram ensinados sem sabermos bem quais são suas utilidades e
objetivos. Também assimilamos novos hábitos, os chamados ‘modismos’ pelo simples fato de
nos sentirmos incluídos em determinado grupo social e sua cultura.
10.1 FATO SOCIAL
De acordo com Emile Durkheim são os instrumentos sociais e culturais que determinam
na vida de um indivíduo em suas maneiras de agir, pensar e sentir, obrigando-o a se adaptar às
regras da sociedade. Os fatos sociais existem, independente da vontade do indivíduo e em sua
tese, Durkheim cita que o fato social está na percepção do indivíduo, que é condicionada por
realidades sociais que impõem limites do comportamento a fim de ser aceito pela sociedade.
Durkheim presenciou um tempo em que algumas das mais importantes criações da
sociedade moderna foram criadas, a invenção da eletricidade, do cinema, dos carros de passeio,
entre outros. Nesse período reinava certo otimismo em relação as novas descobertas e inovações
52
científicas, contudo, o sociólogo estava empenhado em investigar os problemas de ordem
social, para tanto, propôs regras de observação e de procedimentos para sua investigação.
Neste sentido, de acordo com Durkheim, o fato social deve atender a três características:
A generosidade – ocorre quando os fatos sociais são coletivos, desse forma, atingem toda a
sociedade; A exterioridade – é a característica que denomina os fatos sociais exteriores ao
indivíduo e que já estão organizados quando ele nasce; A coercitividade – relaciona-se com o
poder ou ainda a força que os padrões da cultura de uma determinada sociedade exercem e são
impostos aos indivíduos, obrigando-os a cumprir determinados padrões.
Do mesmo modo que a Biologia e a Física estudam os fatos da natureza, a Sociologia
pode fazer o mesmo com os fatos sociais. “A análise sociológica desdobra-se, assim, em uma
série de procedimentos comparativos que procuram confrontar os fenômenos sociais concretos
em toda a variedade de sua manifestação”. (MUSSE, 2011, p.8).
Emile Durkheim abordou a educação como um fato social. Para Durkheim a criança, ao
nascer, traz consigo somente a sua natureza individual e a sociedade trata de ensiná-la a viver
no convívio com outros seres. Segundo seus escritos, “a sociedade encontra-se, a cada nova
geração, na presença de uma tábua rasa sobre a qual é necessário construir novamente”.
A educação, segundo sua tese, é utilizada na sociedade - principalmente para os jovens –
como “um esforço contínuo para impor às crianças maneiras de agir, de pensar e de sentir” que
tem na coletividade. Nesta visão, a escola exerce um caráter de coerção no comportamento do
indivíduo.
Também a cultura, pois os fenômenos podem incentivar ou suscitar diferentes tipos de
sentimentos e reações entre as pessoas, por exemplo, os casos de linchamentos (ação deliberada
de pessoas comuns) com acusados de algum tipo de crime, as manifestações populares contra
regimes autoritários ou antidemocráticos que levam multidões para as ruas gritando palavras de
ordem ou ainda, estádios de futebol e a cultura do xingamento ao time ou ao juiz. De acordo
com Musse (2011, p.11) “Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores
ao indivíduo, mas também dotados de um poder imperativo e coercitivo em virtude do qual se
impõem a ele, quer queira, quer não”.
Para Emile Durkheim a Sociologia é o estudo dos Fatos
Sociais. Os Fatos Sociais tem características próprias que os
distinguem pelos que são estudados por outras ciências.
53
Vejamos um exemplo de Fato Social segundo a visão de Durkheim:
- Se um aluno ou uma aluna chegasse à escola vestido com roupas diferentes dos demais,
certamente ficaria numa situação muito desconfortável: os colegas ririam dele/dela, o professor
lhe daria uma enorme bronca e provavelmente o diretor o/a mandaria de volta para vestir uma
roupa adequada. Existe um modo de vestir que é comum, que todos seguem, que não é
estabelecido pelo indivíduo. Quando ele/ela entrou no grupo, já existia tal norma e quando
ele/ela sair, a norma provavelmente permanecerá. Quer a pessoa goste, quer não, vê-se obrigada
a seguir o costume geral. Se não o seguir, sofrerá uma punição.
Vocês lembram esse fato social?
Foi publicado no site R7 em 07/11/2009 às 19h28: atualizado em: 07/11/2009 às 20h18 e
disponível no endereço http://noticias.r7.com/educacao/noticias/uniban-anuncia-expulsao-dealuna-que-usou-vestido-curto-20091107.html.
54
Agora que demos os primeiros passos para a compreensão do campo da Sociologia, realize a
atividade 10.
[ATIVIDADE 10]
Selecione (escolha) uma matéria que circulou em jornais, redes sociais ou
outro meio de informação e comunicação nesta semana. Apresente-a
estabelecendo sua crítica pessoal. Você pode escolher o tema de sua preferência:
política, esportes, educação, cultura, etc... Mencione os seguintes dados: título da
matéria, autor (a), a fonte. Mas não esqueça, estabeleça uma apresentação crítica
sobre o assunto que você selecionou.
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Livro: Emile Durkheim – Fato social e divisão do trabalho. Ricardo Musse comenta. (versão
online). Disponível:
http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/352563/mod_resource/content/1/MUSSE%2C%20Ri
cardo%3B%20DURKHEIM%2C%20%C3%89mile%2C%20Fato%20social%20e%20divis%C3
%A3o%20do%20trabalho.pdf
Artigo:
Vídeos:
Teorias e Pensadores da Sociologia - Auguste Comte. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=hCZatEhnEH0
O Fato Social - E. Durkheim. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=f-rYZI3zR8I
11 SOCIOLOGIA GERAL
AULA 11
A história é um elemento importante para entendermos qualquer tipo de fenômeno
(conforme vimos na aula anterior, a História é um campo de estudo muito próximo ao campo
da Sociologia). Não conseguimos entender algo sem estabelecer contato com a sua história,
assim, vamos iniciar nosso estudo dessa aula a partir do surgimento da modernidade (como um
fenômeno social), exatamente no período em que a Sociologia surge.
55
11.1 O QUE É A MODERNIDADE?
A modernidade é um período de tempo que se caracteriza pela realidade social, cultural e
econômica vigente no mundo. Ao tratarmos da era moderna, pré-moderna ou ainda a pósmoderna, fazemos referência à ordem política, à organização de nações, a forma econômica que
essas adotaram, entre outras características.
É comum nos referirmos à nossa realidade como moderna, o que está tão naturalizado em
nossa cultura que passou a ter o mesmo sentido de contemporâneo (ou seja, o que coexiste em
um mesmo período de tempo).
A literatura entende que, como a passagem de um período de tempo para outro ocorre o
rompimento de pensamento ou visões de mundo. Neste sentido, eventos que deram início ao
movimento que culminou com a Revolução Francesa se tornam palco da superação de
pensamento e da mentalidade que impregnaram o período medieval. O rompimento com o
pensamento ‘escolástico’, método de pensamento ligado aos códigos da Igreja Católica, e o
estabelecimento da razão como forma de construção de conhecimento, caracterizam-se como
primeiros passos em direção à construção do pensamento do período moderno.
O desenvolvimento da Revolução Francesa teve como base a construção ideológica do
Iluminismo. A ideia iluminista de que o conhecimento verdadeiro está na experiência a partir
dos sentidos (empiria), estabeleceu a razão e a ciência como o modo verdadeiro de se chegar
ao conhecimento do mundo. A monarquia francesa (com base na tradição fundamentalmente
teológica) e seu poder garantido pela providência divina foram derrubados. Surge o princípio
de igualdade que, mais tarde, seria o ponto de partida para os movimentos pela democracia nas
Américas.
O filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596-1650) foi um dos principais
pensadores desse período. Em sua mais emblemática obra, denominada ‘Discurso do método’,
Descartes apresenta o método cartesiano, direcionando o caminho a ser trilhado para a
construção do conhecimento cientifico: a evidência, a análise, a síntese e a enumeração.
Nessa direção, o pensamento racional e o método cartesiano tornam-se base para a
revolução industrial. A Europa passava por grandes transformações originadas pelas guerras, o
que exigiam uma produção de bens materiais em maior escala. Há uma severa modificação na
estrutura social, também as relações entre indivíduos tornam-se complexas, pois, havia uma
nova realidade.
O sentido de ‘mundo agrário ou rural’ e ‘meio urbano’ passa a ser reconfigurado. O
contexto dá origem a conflitos nunca antes vivenciados entre os indivíduos, por exemplo, nas
56
relações de trabalho. Não podemos deixar de citar as questões que envolvem conflitos
ideológicos. O pensamento tradicional, ‘amarrado’ as ideias teológicas ou religiosas são
abandonadas. Max Weber (1864-1920) nomeou esse período como o processo de
“desencantamento do mundo”, no qual o sujeito moderno deixa de lado suas crenças e tradições
religiosas e passa a seguir explicações baseadas na razão.
A complexa situação das sociedades modernas fez com que o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman (1999) definisse que uma das principais características da modernidade é a busca pela
ordem. Após o estabelecimento da ordem veio a busca pelo progresso.
Aqui apresentamos apenas um recorte da enorme trajetória histórica que culminou com o
rompimento de padrões e o surgimento de novas ideias e fenômenos sociais. É possível perceber
a complexidade que envolve os caminhos pelos quais o pensamento humano e nossas
organizações sociais passaram e ainda passam. O mundo moderno está em constante reinvenção
e, assim como já aconteceu, chegará um momento em que este período também será rompido e
outro nascerá.
11.2 O OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA
Por suas características interpretativas, no campo da Sociologia, o pesquisador sociólogo
define e elege o que ele entende como sendo o objeto da Sociologia. Ao definir o seu objeto, o
sociólogo cria uma linguagem que transmite a sua própria teoria, articulada a uma metodologia,
que dará a “forma” de como o pesquisador realizará a sua pesquisa.
57
A Sociologia busca debruçar-se sobre
os agentes de transformação social
para melhor entender as diferentes
organizações sociais, não apenas como
forma de justificar os fatos e
acontecimentos, mas também como
meio para compreender o presente e
projetar o futuro.
Augusto Comte
(1798-1857)
Max Weber
(1864-1920)
Karl Max
(1818-1883)
Segundo Oliveira (2004) a atitude científica em Sociologia se dá a partir da constatação
de um problema social. Ao observar os fatos e a realidade dos indivíduos e grupos, suas
relações, o pesquisador formula uma hipótese de explicação e, ao final, profere leis ou
tendências de que um fato ocorre por motivos ‘tais e tais’.
Já vimos que Emile Durkheim focou seus estudos na análise dos fatos sociais. Augusto
Comte pesquisava a sociedade para compreendê-la, desejando que fosse organizada e
reformada. Nesta visão, os estudos da sociedade deveriam ser feitos com espírito científico e
objetividade.
Karl Marx se empenhou em investigar as classes sociais. Embora ele não tenha vivido
para ver a aplicação de suas ideias, seu trabalho teve grande influência na formação dos regimes
comunistas, no início do século XX. Cria a ideologia socialista para contrapor ao capitalismo.
Para Marx cada época histórica é construída a partir de um tipo de produção econômica,
organização de trabalho e controle da propriedade, desenvolvendo sua própria dinâmica.
Entender sua obra é um exercício complexo pois o pensador aborda em suas teses, a filosofia,
política, história, religião e economia. A partir dos estudos de Marx a Sociologia assume uma
postura mais crítica.
58
“Ao desenvolver os métodos para o aumento da mais-valia, Marx mostra criticamente
que a mais-valia é produzida nas organizações pelo emprego da força do trabalho. O capital
compra a força de trabalho e paga em troca de salário”. (SILVA; PAULINI, 2004. p.39).
Max Weber, considerado um dos fundadores dos estudos sociológicos moderno, estava
preocupado em compreender a sociedade a partir do indivíduo. Afirmou que a Sociologia deve
sempre buscar compreender os fenômenos “no nível do significado” dos indivíduos, ou seja, o
que os indivíduos veem e sentem durante as ações que exercem na sociedade. “Também é
necessário examinar o contexto cultural criado quando os atores sociais interagem” dizem Silva
e Paulini (2004, p.41).
“Nem todo tipo de contato entre pessoas tem caráter social,
senão apenas um comportamento que, quanto ao sentido, se
orienta pelo comportamento de outras pessoas. Um choque entre
dois ciclistas, por exemplo, é um simples acontecimento do
mesmo caráter de um fenômeno natural. Ao contrário, já
constituiriam 'ações sociais' as tentativas de desvio de ambos, o
xingamento, a pancadaria ou a discussão pacífica após o
choque”. (MAX WEBER)
Ao definir características da ação social, Max Weber organizou-as em quatro diferentes
tipos: (1) Ação social racional com relação a um objetivo; (2) Ação social racional com relação
a valores; (3) Ação social tradicional e; (4) Ação social emotiva ou afetiva.
1) Ação racional com relação a um objetivo: Determina uma ação que envolve
racionalidade lógica. O indivíduo possui um objetivo e calcula como conseguirá atingilo. Contudo, o fato dele não alcançar sua meta, não retira da ação a busca por um objetivo
e sua racionalidade.
2) Ação racional com relação a valores: O indivíduo age racionalmente não para alcançar
um objetivo, mas para preservar um valor. Esse tipo de comportamento pode parecer
irracional, mas é o indivíduo que dá sentido à ação e não o observador. Nesse caso, o
indivíduo está defendendo algo que lhe é importante ou de valor.
3) Ação afetiva ou emotiva: Não há aqui, objetivos a serem alcançados ou valores a serem
preservados. O que caracteriza a ação do indivíduo é seu estado emocional.
4) Ação tradicional: O indivíduo age de acordo com alguma convenção tradicional,
incorporada em seu comportamento. Um costume, um hábito que ele não sabe explicar
quando foram internalizados. Ele não racionaliza sua ação e não procura saber quais as
consequências da ação.
A partir dessa classificação, Weber salienta que as condutas humanas não podem ser
classificadas de modo exato. Os quatro tipos de ação social não são puros e nem isoladas na
realidade humana.
59
Também a conduta do cientista é uma ação social com relação a um valor, que neste caso
seria a verdade. A verdade é um valor construído ao longo da história em diferentes contextos
sociais e culturais. Para Max Weber, A crença no valor da verdade científica não procede da
natureza, mas é produto de determinadas culturas.
Conforme você pode observar caro (a) acadêmico (a), trouxemos um apenas uma pequena
dose do que é, em seu todo, o campo sociológico. Há outros autores que buscaram, nas décadas
que se seguiram a completar o campo, acrescentando novas ideias e visões da sociedade. Isso é
tema para a próxima aula.
[ATIVIDADE 11]
Exemplifique, a partir das quatro categorias de Max Weber, ações humanas que
correspondem a: (1) Ação social racional com relação a um objetivo; (2) Ação social
racional com relação a valores; (3) Ação social tradicional e; (4) Ação social emotiva ou
afetiva. Use ações do cotidiano. Reflita como nossas ações podem ter correspondência
com a classificação do autor.
Sugestões de leituras e vídeos complementares:
Livro: OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens
do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007.
Site: Site do Ministério da Fazenda. Disponível:
http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/200bspe-divulga-relatorio-sobre-a-distribuicaoda-renda-no-brasil
Vídeos:
O que é a modernidade?. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=jZCDmsbBnTU
Aula 35 - Filosofia e Sociologia - Pós - Modernismo ou Modernidade Líquida - Parte I.
Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=6vaBUqnhrm8
12CIÊNCIA E SOCIOLOGIA
AULA 12
CONTROLE E ESTRATIFICAÇÃO
Com o avanço do conhecimento da sociedade, as ciências sociais foram divididas em
diversas áreas do saber.
60
Desde o século XIX o campo as Sociologia produziu um importante conjunto de
conceitos, ideias e categorias, contudo, por sua complexidade e variedade, seria difícil
contemplar todas as suas premissas neste Caderno de Estudos.
Selecionamos, de modo reduzido, conceitos fundamentais registrados pela literatura,
dando destaque para aqueles que são mais circulares no estudo dos fenômenos sociais, no
campo das organizações.
12.1 COERÇÃO SOCIAL
Do latim ‘coercĭo’, coerção é uma pressão que se exerce sobre uma pessoa para
forçar/obrigar a uma conduta ou uma mudança na sua vontade.
Conforme registramos na aula anterior, ao explicar a ideia de fato social, Emile Durkheim
já expressava a condição coercitiva inerente às relações sociais ao dizer que os fatos sociais
possuem um poder coercitivo. Nos diferentes tipos de grupos sociais (também nas
organizações), observamos que existe uma grande dificuldade de o indivíduo lutar contra a
força que os fatos exercem, conformando-se às regras do grupo social a que pertence.
12.2 INSTITUIÇÕES SOCIAIS
A existência e manutenção das instituições sociais em uma sociedade vincula-se a ideia
de que há organização social e que esta é estruturada. As instituições sociais são identificadas
de acordo com sua capacidade de equilíbrio e de identificação de seus objetivos fundamentais.
No âmbito das ciências sociais, a estrutura social é formada pelas organizações que
compõe a sociedade, as quais são emergentes e/ou determinantes das ações dos indivíduos. A
estrutura social é o sistema de estratificação socioeconômico (como a estrutura de classe),
instituições sociais, ou outras relações padronizadas entre grandes grupos sociais. Numa
microescala, ela pode ser descrita como normas que formam o comportamento de indivíduos
pertencentes a um sistema social.
A ideia de estrutura social apareceu desde o pensamento clássico da sociologia pela
necessidade de compreender as relações sociais através de uma sistematização dos elementos
que compõem a sociedade. Estes elementos formam então uma estrutura.
A Sociologia apresenta como requisitos básicos para a compreensão estrutural das
sociedades as seguintes necessidades: As instituições econômicas, políticas e governamentais,
de família e parentesco, religiosas e educacionais.
61
12.3 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E CLASSE SOCIAL
Por estratificação social entende-se a distribuição de indivíduos e grupos em camadas
hierarquicamente superpostas em uma sociedade. Essa distribuição ocorre pela posição social
que os indivíduos ocupam, pelas atividades que eles exercem e pelos papeis que desempenham
na estrutura social.
Estratificação social por ser defina como a classificação dos indivíduos em grupos com
base em condições socioeconômicas comuns. “A maneira pela qual se estratifica uma sociedade
depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente. E a maneira pela qual os
homens se reproduzem socialmente está diretamente ligada ao modo pelo qual eles organizam
a produção econômica e o poder político” (IANNI, 1973, p.11).
Trata-se das formas de divisão das sociedades em classes ou estratos de forma que essas
divisões se organizem numa hierarquia de poder, prestígio ou privilégio. A literatura da
sociologia geral e de introdução à sociologia costuma caracterizar quatro principais tipos de
estratificação social: escravidão, estados, castas e classe social e status. Estas formas de divisão
social são antigas na sociedade, constituem-se grupos que caracterizam as sociedades
industriais que se desenvolveram a partir das revoluções Industrial e Francesa (séculos XVIII e
XIX).
De acordo com Oliveira (1997, p.71):
Podemos dividir a sociedade capitalista em dois grupos, segundo suas situação em
relação aos elementos da produção: proprietários e não proprietários dos meios de
produção. As relações de produção dão origem a duas camadas sociais diferentes. A
essas camadas damos o nome de classes sociais. Classicamente, designamos essas
classes sociais como burguesia e proletariado. Apesar de ser correntemente usada para
designar as camadas sociais em vários momentos da história da humanidade, esta
designação é aplicada com maior precisão para a sociedade capitalista. Assim, o
prestígio social, o poder político e a capacidade de consumo de luxo, de modo geral,
são privilégios dos proprietários dos meios de produção.
Podemos dizer que as pessoas estão distribuídas nas seguintes camadas: (1) alta (classe
A); (2) média (B); (3) ou inferior (C), as quais correspondem a graus diferentes que envolvem
além da riqueza, poder e prestígio social.
Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são definidas pela situação
dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. Assim, os grandes empresários,
donos de terras, banqueiros e grandes comerciantes estão no topo da sociedade. Já, os
trabalhadores, por disporem somente de sua força de trabalho, estão na parte inferior da
sociedade. Vale dizer ainda que em nossa sociedade, há indivíduos que alcançam poder e
62
prestígio (e novas posições sociais) através da política, da religião, da militância social, entre
outros.
Há três tipos de estratificação social:
 ESTRATIFICAÇÃO ECONÔMICA: Definida pela posse de bens materiais, de
capital. Isso faz com que existam pessoas ricas, pobres e em situações intermediárias.
 ESTRATIFICAÇÃO POLITICA: Estabelecida pela posição de mando na sociedade
(grupos que tem poder e grupos que não tem).
 ESTRATIFICAÇÃO
PROFISSIONAL: Baseada
nos
diferentes
graus
de
importância atribuídos a cada profissional pela sociedade.
Importante registrar que todos os aspectos de uma sociedade – economia, política, social,
cultural, etc. – estão interligados. Desse modo, os vários tipos de estratificação não podem ser
entendidos de modo separado. Outra questão importante é que a composição de sociedades
estratificadas socialmente é um fenômeno histórico. As diferenciações sociais, de definem suas
características ocorrem em um processo histórico que em sua própria lógica. Desse modo não
podem ser considerados fenômenos “naturais”, derivados de alguma lógica exterior ao próprio
ser humano. São processos construídos por agentes humanos que se opõem, sob a forma de
grupos, no campo do conflito.
Pessoas que ocupam altas posições econômicas, em geral, também têm poder e
desempenham posições profissionais valorizadas socialmente. Há sociedades em que os
indivíduos nascem em uma camada social considerada mais baixa e podem alcançar, com o
decorrer do tempo, e com apoio de vários fatores, uma posição social mais elevada. Contudo,
existem sociedades em que, mesmo usando sua capacidade e esforço, o indivíduo não consegue
alcançar uma posição social mais elevada.
A divisão da sociedade em castas é determinada a partir
da hereditariedade. As castas se definem de acordo com a
posição social que determinadas famílias hindus ocupam. Fator
que estabelece um tipo de “hierarquia” social marcada por
privilégios e deveres.
63
Classe social define-se como conjunto de agentes sociais nas mesmas condições no
processo de produção e que têm afinidades políticas e ideológicas. As classes sociais e a ordem
social estão determinadas pela situação de mercado e pelas relações econômicas, sendo que o
poder também é determinado economicamente.
Fonte: Elaboração com base em Ianni (1973). (Blog cafécomsociologia.com).
Faixas Salariais x Classe Social - Qual a sua classe social?
Atualizado em 30.06.2016 08:41 por Thiago Rodrigo Alves Carneiro com
564518 visualizações.
Há vários critérios para definir classes sociais, sem uma predileção
específica na literatura. Saiba mais sobre dois dos critérios mais utilizados:
o critério Brasil e o critério por faixas de salário-mínimo.
Duas visões relevantes sobre Classes Sociais
Atualmente, muitas e muitas pesquisas sobre consumo costumam relatar
hábitos segundo as classes sociais. Entretanto, a metodologia de cálculo e
caracterização de cada uma das classes é bastante difusa e há, atualmente,
pelo menos duas visões relevantes:
(1) ABEP - Associação Brasileiras de Empresas de Pesquisa, mais
conhecida como Critério Brasil.
(2) IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, utilizado no censo
populacional.
12.4 CONTROLE SOCIAL
Entende-se por controle social o conjunto de meios e de recursos que as sociedades ou
grupos usam para convencerem os indivíduos a se sentirem conformados com as normas
definidas por estas mesmas sociedades ou grupos. Os meios podem ser de origem positivo ou
negativa. De modo geral, constituem-se de recursos usados para coibir, restringir ou ainda
64
impedir que ocorram, por parte individual ou coletiva, ações não vinculadas as normas
estipuladas. Agem de modo a motivar e incentivar a adesão do maior número possível de
indivíduos.
O controle social, como forma de regulamentar as ações individuais e coletivas, buscando
consenso a partir de normas e padrões determinados, são exercidos a partir de: conjunto de
mecanismos de sanções e punições (externo ao indivíduo/grupo) e o disciplinamento dos
membros desde as primeiras socializações de maneira que estes internalizem e mentalizem
aquelas normas fundamentais da ordem social (controles internos).
65
Vejamos a matéria publicada no jornal O Estadão.
[ATIVIDADE 12]
Classe A tem maior fatia da renda do País
Estudo com base nos dados da Receita Federal aponta que a distribuição de renda é pior que a
mostrada pelos números da Pnad
Luiz Guilherme Gerbelli,
O Estado de S.Paulo
16 Janeiro 2016 | 20h00
A distribuição de renda no Brasil é pior do que se imaginava. Um estudo elaborado pela
Tendências Consultoria Integrada mostrou que a classe A – famílias com rendimento superior a
R$ 14.695 – detém uma fatia ainda maior da massa de renda nacional.
O levantamento elaborado pelos economistas Adriano Pitoli, Camila Saito e Ernesto Guedes foi
feito com base nos dados da Receita Federal e mostrou que as 2,5 milhões de famílias da classe A
são responsáveis por 37,4% da massa da renda nacional. Nos dados mais conhecidos, obtidos por
meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), estimava-se que os mais ricos
tenham 16,7% da renda nacional.
Os economistas chegaram ao novo número sobre distribuição de renda com base numa espécie de
Pnad ajustada. O ajuste foi feito analisando a renda de duas formas. Para as famílias com ganhos
de até cinco salários mínimos, foram utilizados os dados tradicionais da Pnad. Para as faixas mais
ricas, o estudo levou em conta as declarações de Imposto de Renda.
“Todo mundo sabia que a desigualdade de renda no Brasil era enorme, mas ela é muito maior do
que se imaginava”, afirma Adriano Pitoli.
Dados omitidos. A vantagem de analisar os dados da Receita para as classes mais ricas é explicada
pelo fato de a Pnad ser declaratória e, portanto, limitada para mensurar dados envolvendo fontes
de renda com ativos financeiros e aluguéis. “As pesquisas declaratórias (como a Pnad) são
ineficientes para capturar a renda de aplicações financeiras, aluguéis e ganhos de capital”, afirma
Pitoli. “Na verdade, ninguém tem esses números de cabeça”.
O exercício da Tendências deixa evidente a dificuldade da Pnad em apurar o tamanho da
desigualdade brasileira. Nas famílias com renda entre cinco e dez salários mínimos, a massa de
renda apurada pela Pnad é 13% menor do que mostra o dado da Receita Federal. A diferença é
crescente conforme o topo da pirâmide se aproxima.
Na faixa de brasileiros com ganhos acima de 160 salários mínimos, a massa de renda captada pela
Pnad é 97% menor do que os dados obtidos pela análise do Imposto de Renda.
“A desigualdade com base nos dados da Pnad é menor do que mostram os dados da Receita”,
afirma Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. “Existe
uma dificuldade da Pnad em captar a renda da fatia mais rica da população”.
Abismo entre classes. O estudo da consultoria Tendências também chegou a outras duas
conclusões relevantes: o abismo entre as classes sociais é maior do que se imaginava e as classes
A e B são um pouco maiores do que indicavam as pesquisas tradicionais.
Pela Pnad tradicional, a classes A responde por 2% do total das famílias brasileiras, e a classe B,
por 12,6%. Nos dados ajustados pela consultoria, a fatia das classes aumenta para 3,6% e 15%,
respectivamente.
Com relação ao distanciamento entre as classes sociais, o estudo da consultoria apontou que a
renda das famílias da classe A é 40,9 vezes maior do que as da classe D/E. Na Pnad original, a
diferença apurada era de 23,3 vezes. “A intenção do estudo não é substituir os dados da Pnad e da
Receita. O exercício é continuar olhando a Pnad para as classes de menor renda, e na faixa das
classes de maior renda fazer os ajustes para eliminar o viés da omissão de renda”, afirma Pitoli.
Responda: Na sua opinião quais são as principais causas que levam a população
brasileira a tamanha desigualdade social?
66
Sugestões de leituras e materiais complementares:
Artigo: Controle Social. Notas em torno de uma noção polêmica.
Disponível:
http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/controlesocialnotasemtornodeumanocaopolemica.pdf
Site: Site do Ministério da Fazenda. Disponível:
http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/200bspe-divulga-relatorio-sobre-a-distribuicaoda-renda-no-brasil
Vídeo:
Sociologia Descomplicada: Direito e Controle Social. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=1wSOrQ8M1Rw
13MOBILIDADE E MUDANÇAS SOCIAIS
AULA 13
Como um campo de estudo da Sociologia, usado para a compreensão das formas pelas
quais os diferentes grupos humanos distinguem os integrantes de uma mesma cultura, a
mobilidade permite compreender as vias e possibilidades de troca, ascensão ou rebaixamento
que um determinado indivíduo possui no grupo social.
Neste sentido, mobilidade social significa o fenômeno em que um indivíduo (ou um
grupo) que pertence à determinada posição social transita para outra, de acordo com o sistema
de estratificação social.
Conforme vimos na aula anterior, estratificação social indica a existência de diferenças
e/ou desigualdades entre indivíduos de determinada sociedade. Indica a existência de grupos de
pessoas que ocupam posições diferentes.
Na era moderna, a disseminação dos valores liberais transformaram o conceito de
mobilidade social em uma meta política para as nações guiadas por princípios democráticos.
Os números de desenvolvimento social e econômico enxergam na mobilidade ascendente um
claro indício do acúmulo e distribuição menos desigual da riqueza entre a população. Contudo,
não podemos restringir a concepção de mobilidade somente à variação das condições materiais
que uma pessoa tem ao longo de sua vida.
A mobilidade é mais frequentemente medida de forma quantitativa em termos de
mudança de mobilidade econômica, tais como mudanças na renda ou riqueza, mas em algumas
culturas, a posição social de um indivíduo pode estar ligada à sua descendência familiar ou
algum tipo de função política ou religiosa desempenhada. Existem dois tipos de mobilidade
social: horizontal e vertical.
67

Mobilidade social horizontal: gerada por uma alteração de posição provocada por
fatores geracionais (geração) ou profissionais, contudo, não implica uma mudança de
classe social. A mobilidade ocorre dentro da mesma classe.
 Mobilidade social vertical: gerada por uma alteração de classe social que pode
acontecer de forma ascendente (de uma classe baixa para outra superior) ou descendente
(de uma classe alta para outra inferior).
Há autores que afirmam que uma sociedade estratificada é aquela onde não se verifica a
mobilidade social. Em uma sociedade estruturada dessa forma, um determinado indivíduo
mantém a sua classe social, independentemente das circunstâncias.
Mobilidade social no Brasil
A mobilidade social no Brasil tem crescido rapidamente nas últimas
décadas, e segundo dados do IBGE, de 1970 até 2000, aumentou para 63%.
Apesar disso, não é possível afirmar que a mobilidade social é sinônimo de
igualdade social. A sensação que existe muitas vezes no Brasil é que a
classe média está desaparecendo, enquanto as classes alta e baixa estão
crescendo. O grande problema no Brasil é que a grande maioria sobre
pouco na "escada" social, enquanto uma pequena percentagem sobre
muito.
O mercado de trabalho atual exige trabalhadores mais qualificados, o que
implica uma educação com mais qualidade e mais especializada. A falta de
qualificação dos trabalhadores funciona como um freio para a mobilidade
social, porque indivíduos pouco qualificados estão desempregados ou não
conseguem empregos que permitam alcançar uma classe social mais
elevada. Assim, o investimento na educação e enriquecimento profissional
da população é um fator essencial para fomentar a mobilidade social e
diminuir a desigualdade verificada atualmente.
Fonte: http://www.significados.com.br/mobilidade-social/. Acesso em 31/07/2016.
Por mudança social entendemos as transformações das sociedades e do seu modo de
organização, ocasionas por uma ruptura ou quebra de paradigma. Por exemplo, eventos como
a abolição da escravatura, o êxodo rural, os retirantes brasileiros que fogem da seca, a evolução
dos meios de transporte, as tecnologias de informação e comunicação como rádio, tv, telefone
e internet, são apenas alguns exemplos de acontecimentos que transformam, ou transformaram,
a sociedade. Constituem-se, desse modo, ocorrências de mudança social. Pelos eventos citados,
podemos notar que as mudanças sociais são constantes e afetam o desenvolvimento, o modo de
pensar dos indivíduos e a organização das sociedades.
Vejamos os diferentes pontos de vista sobre mudança social, segundo os sociólogos, ao
longo dos tempos:
68

Augusto Comte - admitia a importância da mudança desde que a ordem não fosse afetada.

Max Weber - a principal causa da mudança da sociedade está na origem do capitalismo,
especialmente como resultado do progresso e da urbanização.

Karl Marx - acreditava que as condições econômicas e a luta entre as classes são a principal
causa da mudança social.

Emile Durkheim - a mudança social é resultado das relações de trabalho e descarta a
necessidade de revoluções.
Nos tempos atuais, a internet é citada como uma das principais causas da transformação
das sociedades, isso se dá, não só pela sensível mudança na forma como as pessoas se
comunicam ou recebem informações, mas, sobretudo, sobre os principais benefícios que a
internet pode gerar em nossa vida diária. Esse é o assunto para a nossa próxima atividade.
[ATIVIDADE 13]
Em qualquer mudança social há uma série de consequências benéficas e outras
menos benéficas para a sociedade.
De acordo com Manuel Castells “A rede é a infraestrutura de nossas vidas”.
“Somos anjos e demônios. Viver na internet tem um perigo: nós mesmos”.
[Disponível: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/06/1293805-somos-anjos-e-demoniosna-internet-diz-o-sociologo-manuel-castells.shtml. Acesso em 31/07/2016.]
Caro (a) Acadêmico (a)!
Na sua opinião, quais foram as principais mudanças (benéficas e menos
benéficas que a internet trouxe para a sociedade?
Sugestões de leitura e vídeos complementares:
Artigo: Tendências tecnológicas de alto impacto para 2016, segundo a Gartner
Disponível: http://idgnow.com.br/ti-corporativa/2015/10/26/10-tendencias-tecnologicas-dealto-impacto-para-2016-segundo-a-gartner/
Vídeos: Clássicos da Sociologia Karl Marx. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=I2AZAbg1rLw
Videoaula de Sociologia - Mudanças Sociais. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=XRZ6KpiWVvE
69
Caderno de Estudos
UNIDADE II
O sistema empresarial moderno: suas tendências
Visão sociológica da Teoria das Organizações
Professora/Autora
Marinilse Netto, Dra.
70
APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS
Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!
Estamos nos dirigindo para a segunda unidade deste Caderno de Estudos de Sociologia.
Nossos estudos serão guiados por dois temas/assuntos:

O sistema empresarial moderno: suas tendências

Visão sociológica da Teoria das Organizações
Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande
importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a
possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre
o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.
De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade mostram como a Sociologia
percebe as questão que envolvem o sistema empresarial do período moderno, identificando
quais são suas principais tendências. Por fim, o estudo desta unidade vai percorrer uma visão
sociológica da Teoria das Organizações.
Iniciando...
14 O SISTEMA EMPRESARIAL MODERNO: SUAS TENDÊNCIAS
AULA 14
O cenário empresarial atual é caracterizado por significativas transformações
tecnológicas, organizacionais, informacionais, culturais e sociais. A competição da era
industrial transformou-se na era da competição pela informação. É certo que o conhecimento é
hoje, a matriz que move toda e qualquer empresa que está preocupada com as tendências
mundiais. Para tanto, elegemos três questões vinculadas ao desenvolvimento de sistemas
empresariais competitivos e inovadores, que acompanham as tendências modernas na área
organizacional, a seguir:
14.1 A INTELIGÊNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA
71
Segundo Davenport e Prusak (2000), nos últimos anos, as organizações passaram a
valorizar a experiência e o know-how de seus funcionários – isto é, aquilo que eles conhecem
ou sabem. Foi um longo período até as empresas perceberem que perdiam o conhecimento
gerado dentro da organização, por exemplo, com o afastamento (demissão, morte,
aposentadoria) do funcionário. Ou seja, um conjunto de conhecimentos subjacentes, adquiridos
em rotinas e práticas da produção (de bens e serviços) e no relacionamento (com clientes e com
fornecedores), são perdidos, sem que tivessem sido compartilhados ou ainda sistematizados.
Neste sentido, desenvolve-se a visão da importância de criar e implantar processos que
criem, armazenem, organizem, compartilhem, disseminem e usem o conhecimento produzido
e utilizado na empresa de modo sistemático, explícito, confiável e acessível à comunidade da
organização. Todos esses aspectos contribuem para a capacidade competitiva da organização.
É preciso investir em conhecimento e para tanto, é necessário que a cultura organizacional
esteja aberta para a inovação, flexível e não opressora.
14.2 A CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
De acordo com Davenport e Prusak (1998, p.6) o conhecimento “é uma mistura fluída de
experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual
proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e
informações”. Tem origem e é aplicado na mente das pessoas. Pragmático, Sveiby (1998, p.44)
define conhecimento como “uma capacidade para agir”. Stanoevska-Slabeva (2002) considera
o conhecimento como um estado interno dos seres humanos resultante da ação de ‘entrada e
processamento’ da informação que ocorre durante a aprendizagem e na realização de tarefas.
O conhecimento é sempre pessoal segundo Michael Polanyi (2009, p.14). Caracteriza-se
como “uma ação interna que somos totalmente incapazes de controlar ou até mesmo de
perceber”. Para explicitar sua acepção, Polanyi cita a figura de um grande iceberg explicando
que sua forma aparente, na superfície, representa o conhecimento explícito e a parte submersa
corresponde à sua dimensão tácita. De difícil ou por vezes, impossível explicitação, o
conhecimento tácito constitui-se a base de sustentação daquilo que se mostra, do que é explícito.
Essa analogia ilustra seu pensamento de que todo saber é tácito ou enraizado em um
conhecimento tácito.
Segundo Nonaka (2008, p.45) “converter o conhecimento tácito em conhecimento
explícito significa encontrar uma forma de expressar o inexpressável”. Entretanto, Takeuchi e
72
Nonaka (2008, p.20) argumentam que “o conhecimento não é explícito ou tácito. O
conhecimento é tanto explícito quanto tácito” (...) e “não são apenas complementares um ao
outro, como também interpenetrantes” (p.22).
Há uma dimensão “técnica”, de razoável potencial de explicitação, que engloba as
habilidades informais (know-how), bem como as atividades manuais e habilidades
concretas, os insigths, derivados da experiência corporal. Há também uma dimensão
“cognitiva” que representa a visão de mundo, incluindo os valores, as emoções,
crenças e modelos mentais. (TAKEUCHI; NONAKA, 2008)
O conhecimento explícito é codificado, pode ser encontrado, assimilado e utilizado. Por
suas características, representa um acúmulo de experiência na organização (memória), é um
tipo de conhecimento que pode ser posto à disposição e transmitido ou compartilhado de modo
sistemático e rotineiro, dispondo de formas acessíveis de busca e de reprodução (difusão e/ou
disseminação).
14.3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E GESTÃO DO CONHECIMENTO
De acordo com Senge (1999) a palavra ‘learning’ (aprender) é derivada do termo que
significa “trilha” ou “sulco na terra”. ‘To learning’ significa aumentar a capacidade através da
experiência. Os processos de aprendizagem ocorrem no tempo e em contextos cotidianos. A
aprendizagem gerada nesse contexto pode ser difícil de ser sistematizada, mas possui muito
valor, pois gera novos conhecimentos que por conseguinte, maior capacidade de ação eficaz em
contextos relevantes para aquele que aprendeu.
O conceito de gestão do conhecimento surgiu no início da década de 1990 e, segundo
Sveiby (1998, p. 3), “a Gestão do Conhecimento faz parte da estratégia empresarial.”
Em suma, a Gestão do Conhecimento deve ter por finalidade utilizar o conhecimento
para que, por meio do desenvolvimento de suas competências, possa promover e
incentivar nas pessoas e empresas o desenvolvimento de uma cultura voltada para o
desenvolvimento sustentável. Essa cultura será a direcionadora de condutas para a
criação, compartilhamento e disseminação do conhecimento da sustentabilidade na
prática, com a preocupação de satisfazer as necessidades das gerações atuais e futuras.
(FIALHO et al., 2008, p.84).
Para compreender a Gestão do Conhecimento, deve-se iniciar descrevendo os conceitos
de dado, informação e conhecimento. Nesta direção podemos dizer que para uma organização,
dado é o registro estruturado de transações e é uma informação bruta, uma descrição exata de
algo ou de algum evento. Os dados em si não são dotados de relevância mas são importantes
para o processo seguinte, transformá-los em uma informação. Informação é uma mensagem
(audível ou visível), transmitida por um emitente e recebida por um receptor. O conhecimento
que deriva desse processo é uma mistura de dados e de informações e é estruturado e
73
contextualizado. É a informação que ‘passa pelos filtros - modelos mentais’ e possibilita a
ampliação do conhecimento.
Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/1642566/. Acesso em 01/08/2016.
O objetivo principal da Gestão do Conhecimento é aproveitar os recursos que já existem
na organização. Otimizando tempo e custos. A Gestão do Conhecimento também indica que os
funcionários busquem conhecer e empregar as melhores práticas, ou seja, experiências que
estão legitimadas. Através da aprendizagem contínua, a organização exercita a sua competência
e inteligência coletiva para responder ao seu ambiente interno (objetivos, metas, resultados) e
externo (estratégia). Nas “organizações que aprendem as pessoas expandem continuamente sua
capacidade de criar resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas
de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e onde as pessoas estão
constantemente aprendendo a aprender coletivamente.” (SENGE, 1999, p. 21).
74
[ATIVIDADE 14]
Importância da Tecnologia da Informação para as organizações.
Esta atividade pode ser realizada em duplas. Convide um/uma colega e
estudem juntos esse tema.
Faça uma pesquisa e apresente as razões pelas quais as TIs são
importantes tendências para a competitividade e inovação das empresas
neste século.
Sugestões de leitura e vídeos complementares:
Artigo: Gestão do conhecimento: uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação
do conhecimento. Disponível: http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n2/a15v33n2.pdf
Vídeos:
Tipos de Conhecimento - Tácito e Explícito. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=bWHonmRAS6M.
Gestão do Conhecimento - a importância de compartilhar!
https://www.youtube.com/watch?v=emFo3jyXGnQ.
15 VISÃO SOCIOLÓGICA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES
AULA 15
Podemos dizer que três autores tiveram grande importância na construção do pensamento
sociológico nas organizações. Max Weber (elaborou um estudo sistemático sobre as
organizações modernas), Robert Merton (partindo dos estudos de Weber analisou o tipo ideal
de burocracia, destacando seus elementos prejudiciais) e, por fim Michel Foucault (estudou
sobre as relações de poder e o controle das instituições sobre os indivíduos).
75
Nossos estudos desta aula estão centrados nestes três autores e está baseado na publicação
de Marcia Londero (1999).
15.1 PERSPECTIVA DE MAX WEBER
Max Weber dá enfoque para a burocracia, registrando-a como uma perspectiva histórica
por meio de um paralelo entre a mecanização da indústria e as formas burocráticas de
organização.
Burocracia é empregado por Weber para explicar um modelo organizacional considerado
por ele com ‘ideal’. A idealização se dá pelo sistema ser racional, eficiente, por possuir regras
claras que devem ser seguidas.
Em seu sentido etimológico, ‘burocracia’ tem origem no hibridismo da palavra francesa
‘bureau’ (escritório) e do grego ‘cracia’ (administração). O termo designa a administração da
coisa pública por funcionários de repartições sujeitos a rígida hierarquia e disciplina. Por vezes,
o termo burocrático é visto como sinônimo de lento, contudo, pode-se dizer que a lentidão é um
efeito da tramitação burocrática.
Para Weber as organizações disseminam formas de coordenar atividades e tarefas, de
um modo constante no tempo e no espaço. Em sua teoria sobre ‘administração racional legal’,
o autor entende a legitimidade da autoridade legal, apoiada na competência do funcionário.
Segundo ele, as pessoas deviam ser escolhidas para o exercício das atividades conforme sua
aptidão ou formação, explicando-as as regras já existentes na organização. O conjunto de regras
compõe o estatuto da organização.
O termo burocracia empregado por Weber é utilizado para descrever um modelo
organizacional ideal, eficiente em termos administrativos e não no sentido pejorativo
comumente utilizado hoje, cita Dias (2008, p.78).
Weber percebia a estrutura organizacional fortemente hierárquica, estando a
centralidade da gestão no topo da organização. Segundo seus estudos, as grandes organizações
modernas são por natureza, constituídas pela concentração do poder, de forma burocratizada.
Em relação ao processo de racionalização da modernidade, segundo Weber, este
‘forçaria’ ainda mais a burocratização organizacional e atingiria todas as esferas sociais. Para o
autor, todas as decisões partem de princípios racionais, sendo o caminho mais eficiente para se
chegar aos objetivos. À medida que as tarefas foram se tornando mais complexas, foi necessário
mais medidas de controle e de gestão, de modo a lidar com a complexidade.
76
Vale registrar ainda que, para Max Weber, a superioridade técnica do sistema e
racionalização legal era comparada à precisão das máquinas mais modernas e sofisticadas, o
que garantiria a eficiência nas organizações.
15.2 ROBERT MERTON E AS CRÍTICAS À BUROCRACIA
Sociólogo americano, Robert Merton (1910-2003) viu na teoria de Max Weber grandes
possibilidades de pensar mais profundamente sobre a questão da burocracia e é dele os estudos
que propõe refletir sobre as ‘disfunções prejudiciais no funcionamento da burocracia’.
Para Merton, a obediência às regras possuem grandes chances de virar o fim em si
mesmo, ou seja, a rigidez pode paralisar o funcionário quando este precisa tomar alguma atitude
ou resolver determinado problema através de soluções já registradas e disponíveis. O
funcionário perde a flexibilidade, característica humana. Em outras palavras, as normas
regulamentos, muito enfatizados pela teoria da burocracia, não podem por si só moldar o
comportamento das pessoas.
Merton chamou de disfunções da burocracia as consequências não previstas da mesma
proposta pela teoria inicial de Max Weber, ou ainda um desvio ou exagero (MERTON apud
CHIAVENATO, 2003). São disfunções:
1. Internalização das regras e apego aos regulamentos;
2. Excesso de formalismo e de papelório;
3. Resistência às mudanças;
4. Despersonalização do relacionamento;
5. Categorização como base do processo decisório;
6. Superconformidade às rotinas e aos procedimentos;
7. Exibição de sinais de autoridade;
8. Dificuldade de atendimento a clientes e conflitos com o público.
Em função do cumprimento das regras, seria perigoso perder o objetivo. Merton previu
a possibilidade da existência de tensão entre o público e a burocracia, pois a burocracia
engendra-se por regras e padrões estabelecidos, tornando-se difícil na resolução de casos que
necessitam de um tratamento especial (que fogem às regras).
77
15.3 MICHEL FOUCAULT – RELAÇÕES DE PODER E CONTROLE
Michel Foucault (1926-1984) centrou seus estudos nas questões de controle social e
processos de disciplinarização e normalização. Foucault investigou essas questões em
manicômios e prisões, estendendo seus estudos para o campo das instituições organizacionais.
Segundo sua teoria, as organizações modernas funcionam em espaços físicos especialmente
planejados para seus fins e objetivos, contudo existem características gerais em todas elas. A
organização dos espaços físicos decorados de modo padronizado, o uso de uniformes e crachás
são estratégias criadas com o objetivo de facilitar o controle do tempo o do espaço nestes
ambientes.
Há ainda a distribuição de cargos nos espaços físicos. Altos cargos ocupam espaços
maiores e mais confortáveis, no caso de edifícios a distribuição de cargos e salas obedece a uma
hierarquização. Outra questão que demonstra a distância entre os baixos e altos cargos pode ser
evidenciada nos organogramas das organizações.
O controle do tempo e a produtividade são elementos de poder dentro da organização e
de acordo com Foucault há uma forte correlação entre saber e poder. A escola, o hospital, a
prisão, o abrigo para menores etc. não são instituições politicamente neutras. Nós é que
acreditamos que elas são neutras, legítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na
legitimidade e na eficácia dos saberes científicos – como a pedagogia, a medicina, o direito, o
serviço social – que lhes dão sustentação.
Por sua complexidade, a teoria de Foucault merece mais atenção em nossos estudos.
Estudaremos um pouco mais sobre sua obra e ideias em nossa próxima unidade de estudos,
especificamente na aula sobre Sociologia do poder.
Ao final desse estudo caro (a) acadêmico (a), realize a atividade abaixo.
78
[ATIVIDADE 15]
A vontade de formalizar as atividades nas micro e pequenas empresas é um
sentimento natural entre os empresários. Afinal, as normas, procedimentos e rotinas
são bastante úteis para que os funcionários trabalhem de forma mais organizada na
busca pelos resultados.
No entanto, o lado negativo desse tipo de iniciativa é que, em meio a tantas regras a
serem cumpridas internamente a empresa pode acabar reduzindo a sua capacidade de
reagir de forma mais ágil às constantes mudanças do mercado lá fora.
Veja a noticia no site: http://blog.bling.com.br/5-dicas-para-reduzir-os-processos-eburocracia-dentro-da-minha-empresa/.
- Comente as cinco dicas para diminuir a burocracia indicadas pelo site.
Sugestões de leituras complementares:
Artigo: A Cultura Organizacional e a Burocracia: a influência de um ambiente burocrático
dentro de uma organização. Disponível:
http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/forumadm/article/viewFile/770/70.
Livro: Sociologia da burocracia. Disponível:
http://coloquioepistemologia.com.br/site/wp-content/uploads/2013/03/1-Sociologia-daburocracia.pdf.
Vídeos:
16 OUTROS ASPECTOS DA VISÃO SOCIOLÓGICA NAS ORGANIZAÇÕES
AULA 16
Como aspectos importantes que a Sociologia elege na análise das organizações. podemos
indicar a importância da comunicação em todos os setores e grupos de trabalho e as relações
interpessoais. Tanto a questão da comunicação, quanto as relações interpessoais interferem nos
processos organizacionais, pois estão ligados, não somente a técnica ou tecnologia, mas,
sobretudo, a aspectos comportamentais dos diferentes indivíduos envolvidos e a competência
funcional.
79
Sobre o primeiro item, faremos a leitura de trechos de uma longa entrevista com
Margarida M. Krohling Kunsch, Professora-titular da ECA-USP. A professora coordena os
cursos de Relações Públicas e de Pós-Graduação Lato Sensu de Gestão Estratégica em
Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Dirige atualmente a ABRAPCORPAssociação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas e
é membro do Conselho Consultivo da Aberje. A entrevista foi organizada pelo Grupo de
Estudos sobre Práticas de Recepção a Produtos Mediáticos – ECA/USP – Novos Olhares.
Vejamos:
[Texto 1]
Novos Olhares: O desenvolvimento urbano-industrial no Brasil, sobretudo a partir dos anos 1940,
trouxe consigo o desenvolvimento de uma pluralidade de organizações empresariais na esfera da
produção, tanto quanto no âmbito da comunicação social, das novas mídias, necessidades e demandas.
Nesse percurso de mais de meio século, como esse nexo entre desenvolvimento empresarial e
comunicação deu marcas à atualidade da comunicação organizacional?
Margarida Kunsch: Foi justamente com o processo de industrialização que se deu a largada para a
prática efetiva da comunicação nas organizações. Os passos mais significativos começaram a serem
dados na década de 1950, com a política industrial desenvolvimentista de Getúlio Vargas, que foi
incrementada por seu sucessor, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Grandes empresas multinacionais
passaram a se instalar no país. Elas criaram os seus departamentos de relações públicas, trazendo as
experiências de suas matrizes. No âmbito interno das empresas, o jornalismo empresarial ganhou força
com a produção dos boletins informativos. As agências de propaganda procuraram se estruturar para
atender bem a seus clientes, que faziam altos investimentos em comunicação massiva. Para tanto,
também montaram também suas divisões de relações públicas. Assim, a comunicação empresarial no
Brasil de fato começou a se destacar com a aceleração do desenvolvimento econômico, político e social.
Mas, na época, ainda não se falava em comunicação empresarial ou comunicação organizacional. O que
ocorria era uma atuação bastante estanque de jornalismo empresarial e de relações públicas. De qualquer
forma, foi com essas duas áreas que teve início a comunicação organizacional. Esta se expandiu a partir
do final da década de 1960, principalmente a partir dos anos 1980, tanto no mercado profissional quanto
no campo acadêmico. Hoje, podemos dizer, nos encontramos em um estágio bastante avançado nesse
setor. Voltando um pouco no tempo, não podemos nos esquecer de que a comunicação organizacional,
é fruto de sementes lançadas já na Revolução Industrial do século XIX, que ensejaria grandes e rápidas
transformações em todo o mundo. Ela, com a consequente expansão das empresas, provocou mudanças
radicais nas relações de trabalho, nas maneiras de produzir e nos processos de comercialização. Nesse
contexto é que se deve buscar o surgimento da propaganda, do jornalismo empresarial, das relações
públicas e da própria comunicação organizacional como um todo. O incremento da industrialização
obrigou as empresas a criarem formas de comunicação com o público interno, por meio de publicações
dirigidas especialmente aos empregados, e com o público externo, por meio de publicações centradas
na divulgação dos produtos, diante da concorrência que ia se expandindo e dos novos processos de
comercialização que iam se estabelecendo. A propaganda foi pioneira em buscar formas de comunicação
mercadológica com o mundo exterior. A comunicação com o público interno iniciou-se com um formato
predominantemente informativo. Com a evolução chegamos ao contexto de hoje, de uma comunicação
inserida na era de uma nova revolução, a digital, e com uma integração cada vez mais efetiva das
diferentes áreas.
Novos Olhares: Hoje há um bom número de termos e conceitos que dão conta dessa relação entre
comunicação e organizações. Na verdade, que objeto define e distingue o campo da comunicação
organizacional hoje?
Margarida Kunsch: Costumo ver comunicação organizacional como uma macro área no Brasil e numa
perspectiva integrada. No entanto, essa visão abrangente que hoje se tem passou por toda uma evolução
ao longo da história. Primeiro a área tinha nomes como relações públicas, jornalismo empresarial e
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assessoria de imprensa. Depois se passou a falar em comunicação empresarial, terminologia ainda muito
utilizada no mercado profissional. Há ainda os que preferem chamá-la de comunicação corporativa,
relações institucionais, assuntos corporativos etc. Apesar da evolução dos estudos e das práticas, as
organizações ainda adotam muitos adjetivos para dizer algo que, a meu ver, é bastante substantivo. A
comunicação nas organizações tem um significado profundo, que ultrapassa a visão meramente
instrumental e técnica. Para mim, o termo “comunicação organizacional” é mais abrangente, envolvendo
todas as organizações e não só as empresas, como sugere a expressão “comunicação empresarial”. A
comunicação organizacional possui fundamentos teóricos capazes de dar sustentação à prática cotidiana.
Seu conceito se assemelha ao que se entende por comunicação corporativa, pressupondo a e existência
de um corpus único e de um “todo”. Acredito que estamos caminhando para configurar definitivamente
uma epistemologia do campo, com bases conceituais consolidadas.
Novos Olhares: A incorporação feita entre nós de modelos de estruturação das organizações segundo
práticas e experiências do capitalismo internacional, trouxe consigo a necessidade de incorporação
correlata de seus modos de estruturação e gestão da comunicação? Há um pensar-fazer que define a
dimensão especifica do nexo comunicação-organização entre nós?
Margarida Kunsch: Já contamos com uma literatura diversificada sobre as várias vertentes, que
contempla desde as linguagens das mídias institucionais, técnicas e instrumentos, até a questão do
planejamento e da gestão estratégica da comunicação organizacional e das relações públicas. As
organizações, na sociedade de hoje, para fazer frente a todos os desafios da complexidade
contemporânea, necessitam planejar, administrar e pensar estrategicamente a sua comunicação. Não
basta pautar-se por ações isoladas de comunicação, meramente táticas, para resolver questões, gerenciar
crises e gerir produtos, sem uma conexão permanente, bem pensada, com a análise ambiental e as
necessidades dos públicos.
Novos Olhares: A perspectiva de que toda ação humana tem uma racionalidade que envolve meios e
fins, fez com que a comunicação muitas vezes possa perder sua significação de processo social e se ater
à ferramenta, matriz do termo “meios de comunicação”. Como a comunicação organizacional dá conta
dessa racionalidade meios/fins, processo social/instrumento?
Margarida Kunsch: A comunicação organizacional, como já falei, precisa ser entendida como uma
área abrangente e complexa, não como uma simples transmissão de informação. Uma das formas para
entender essa comunicação, além de todos os conceitos disponíveis, é considerá-la nas suas dimensões
humana, instrumental e estratégica, tanto em nível acadêmico, para estudar e compreender as
organizações, como nas práticas cotidianas. A comunicação, em primeiro lugar, tem que ser entendida
como parte inerente à natureza das organizações. Estas são formadas por seres humanos que se
comunicam entre si e que, por meio de processos interativos, viabilizam o sistema funcional. Só assim
elas conseguirão sobreviver e atingir seus objetivos num contexto de diversidades e de transações
complexas. Sem comunicação as organizações não existiriam. Há uma equivalência entre comunicação
e organização. A dimensão instrumental é a mais presente e predominante nas organizações. A
comunicação nessa perspectiva é vista praticamente como uma espécie de “depósito” ou um “contêiner”.
Linda Putnam e outros autores usam a metáfora do conduíte. Ou seja, a comunicação é considerada
como um canal ou uma via de envio de informações. O foco está nas mídias internas e externas. O setor
ou departamento de comunicação atua com ênfase na divulgação de notícias, de forma puramente
técnica e tática. Na dimensão estratégica, a comunicação é considerada parte integrante da gestão das
empresas, como fator de resultados, que agrega valor à organização aos negócios. Ela é valorizada em
todos os sentidos e conta com altos investimentos.
-----------------------------
O texto a seguir foi escrito por Cássia Cristina Nunes de Cerqueira, sob orientação da
Profª Esther Cosso - Faculdade Nossa Cidade - Gestão de Recursos Humanos. Carapicuíba –
SP.
[Texto 2]
A importância das relações interpessoais nas organizações
A comunicação hoje é tudo, saber se comunicar é fundamental e para o sucesso de uma organização isso
é imprescindível. Chiavenato (2010, p.417) diz: “A informação não é tangível nem mensurável, mas é
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um produto valioso no mundo contemporâneo porque proporciona poder.” Diante do exposto vê-se que
o mundo gira em torno da comunicação e da informação e para que uma organização tenha sucesso é
necessário que a comunicação seja clara, direta e transparente assim como as relações interpessoais.
Para que a comunicação seja clara é necessário que se tenham boas relações. É fundamental ter um bom
relacionamento entre os pares, pois isso contribui não somente para uma boa convivência no dia a dia,
mas também para um bom clima e influencia diretamente de forma positiva no resultado da organização.
Segundo Chiavenato (2010) um gestor gasta 80% do seu tempo em comunicação, diante disto nota-se o
quanto é importante a relação do gestor para com os colaboradores e como o gestor é um exemplo a ser
seguido, se ele tem um bom relacionamento com todos influência de forma positiva os colaboradores a
terem também um bom relacionamento entre si.
E a relação interpessoal é imprescindível pois todo trabalho é feito em equipe, direta ou indiretamente,
um depende do trabalho do outro, é uma cadeia de relações e se não há um relacionamento bom entre
as pessoas o resultado também não será bom.
A relação interpessoal nas organizações é bom para o bem estar de cada colaborador pois trabalha mais
disposto e feliz sabendo que tem suporte e pode contar com seus pares para desenvolver seu trabalho e
também para tratar de outros assuntos, mesmo porque essa relação é muito importante pois os
colaboradores passam maior parte do tempo em seu local de trabalho.
Contudo para que o clima esteja bom e as relações sejam boas a organização precisa agir de forma
transparente para com seus colaboradores, fazer valer sua cultura organizacional se a mesma prega esses
valores, precisa de uma postura firme e ativa do gestor que esteja disposto a ajudar a resolver os
problemas que possam vir acontecer e antes de mais nada o respeito ao próximo, saber respeitar as
adversidades, as diferenças, as vontades e a cultura do outro. A partir do respeito tudo é possível e tudo
se alcança.
[ATIVIDADE 16]
Fale sobre a importância da Comunicação e da Relação interpessoal
argumentando como estão relacionadas nos processos produtivos e nas
relações organizacionais.
Escreva um texto de no mínimo, uma lauda, usando a letra Times, nº12.
Sugestões de site e vídeos complementares:
Site: Race Comunicação. http://www.racecomunicacao.com.br/blog/a-importancia-dacomunicacao-para-as-empresas/
Vídeos:
4 dicas para melhorar relacionamentos interpessoais na empresa. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=vJDxdSBv_M8
Você em Foco - Relações Interpessoais. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=0wS-ApAoCPs.
A importância da Comunicação Interna na empresa - Fernando Coelho 1. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=VcJ-f6491Gc
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Caderno de Estudos
UNIDADE III
Cultura Organizacional
Sociologia do processo produtivo
Sociologia do poder
Professora/Autora
Marinilse Netto, Dra.
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APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS
Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!
Estamos nos dirigindo para a terceira e última unidade deste Caderno de Estudos de
Filosofia. Nossos estudos serão guiados por três temas/assuntos:
 Cultura Organizacional
 Sociologia do processo produtivo
 Sociologia do poder
Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande
importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a
possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre
o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.
De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade buscam explicar o que é cultura
organizacional, seus aspectos gerais e elementos que podem contribuir com o ambiente
corporativo. Vamos estudar também o papel da Sociologia no processo produtivo e conhecer
autores e seus estudos que tratam da questão do poder no campo social.
Vamos lá!
17 CULTURA ORGANIZACIONAL
AULA 17
Por cultura organizacional ou cultura corporativa entende-se um conjunto de hábitos e
crenças estabelecidos através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhados por
todos os membros da organização. Refere-se ao sistema de signos (e seus significados)
compartilhados por todos os indivíduos do grupo, os quais distinguem determinada
organização.
A essência da cultura de uma organização se expressa pelo modo como a empresa faz
seus negócios, gerencia seus clientes e funcionários. Ainda pode-se perceber a cultura
organizacional pelo grau de autonomia ou liberdade existente em suas unidades ou setores bem
como, o grau de lealdade expresso pelos funcionários. Na cultura organizacional estão
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expressas as percepções dos proprietários, gerentes e funcionários, refletindo a ‘mentalidade’
que predomina na organização.
Desse modo, a cultura organizacional representa e expressa às normas informais e não
escritas que orientam o comportamento dos indivíduos e grupos em seu cotidiano, as quais
devem guiar ações para o alcance dos objetivos organizacionais. É a cultura organizacional que
define a missão e os objetivos da organização, por isso, deve estar alinhada com todos os
aspectos que regem as decisões e ações organizacionais, como o planejamento, a organização,
a direção e controle das tarefas, entre outras questões importantes.
De acordo com Kissil (1998) a revitalização e a inovação são fatores importantes para as
empresas, e de certo modo só se consegue isso mudando a cultura da organização. Para tanto,
a empresa deve ter seus objetivos claros, definidos, formalmente estabelecidos e orientados em
médio e longo prazo. Tais procedimentos devem necessariamente ser compartilhados com
todos os funcionários, em diferentes níveis de ação que podem ser reuniões formais ou
informais, rodas de conversa, etc.
Segundo matéria publicada no site Veja Sociologia gerenciado por Reinaldo Dias
(http://vejasociologia.blogspot.com.br/p/a-cultura-organizacional.html):
As principais funções da cultura organizacional são:
1. Estabelece limites;
2. Transmite um senso de identidade;
3. Facilita o compromisso;
4. Fortalece a estabilidade;
5. Dar sentido ao modo de fazer as coisas;
6. Influencia o comportamento;
7. Aumenta a interação;
8. Expressa a memória histórica da organização;
9. Constitui um fator de aglutinação;
10. Permite a adaptação ao ambiente externo;
11. Expressa o caráter distintivo da organização.
Quanto às características da cultura organizacional, pode-se dizer que:
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1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Cada uma tem sua própria cultura;
É aprendida através da experiência do grupo;
Está implícita na estrutura formal da organização;
As modificações que ocorrem são em geral lentas;
Tem uma tendência de se perpetuar;
É aceita pela maior parte dos membros;
É transmissível aos novos membros.
O autor cita ainda que, entre as estratégias para uma mudança cultural pode-se indicar:
‘descongelar’ a velha cultura; capitalizar os momentos propícios, tornar o alvo de mudança
concreto e claro, manter certa continuidade com o passado, criar segurança psicológica,
selecionar, modificar e criar formas culturais apropriadas – táticas de socialização e cultivar
lidere carismáticos.
Vejamos alguns aspectos da cultura organizacional do Google:
Você, com certeza, já deve ter ouvido falar ou acessado o maior site de buscas do mundo: o Google.
O Google, formado por Larry Page e Sergey Brin, é uma empresa multinacional de serviços online
e software dos Estados Unidos. Além de criar o buscador mais famoso do mundo, dentre seus
serviços destacam-se o Gmail, o Blogger, o GTalk, o Google Earth, o Google Translate o Orkut, o
YouTube, e também serviços de publicidade na internet como AdWords e AdSense.
Você também já deve ter ouvido falar sobre a cultura dessa empresa. Afinal, em que mundo você
pode levar seu cachorro para trabalhar, escolher o horário que quer chegar e sair do trabalho, ter
um café da manhã balanceado, definir o momento e o local para realizar suas atividades, ter à
disposição mesas para jogos durante o expediente, ter uma verba destinada à decoração de sua
mesa, poder agendar sessões de massagem e ioga durante o expediente, reservar uma sexta-feira
por trimestre para que os colaboradores saiam juntos para se divertir, entre muuuitos outros
benefícios? Esse é o Google!
O calendário da empresa é marcado por diversas festas, ora para celebrar datas comemorativas,
ora apenas para que os colegas se reúnam.
Partida de pingue-pongue ao lado do diretor-geral na
América Latina, Alexandre Hohagen / Fonte: Época Negócios
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“Os benefícios existem para que os funcionários se sintam cuidados e em casa. Aqui, seu chefe
não vai brigar por você estar jogando o expediente, mas sim por não tê-lo chamado [...] Com
tantas mentes brilhantes, é preciso ter menos regras”, brinca o diretor de Recursos Humanos da
empresa para a América Latina em 2009, Sr. Deli Matsuo.
Além de tantos benefícios, a empresa trabalha para que as “mentes brilhantes” permaneçam
brilhantes, incentivando a atualização e aprimoramento de conhecimento por meio da verba
destinada à educação, concedida para que os funcionários possam fazer cursos de línguas, MBA’s
ou cursos de pós-graduação. Cada colaborador pode, ainda, gastar 20% do seu tempo (o que
equivale a um dia por semana) para se dedicar a projetos pessoais.
--------------------------------------
A partir desse exemplo, podemos perceber que a cultura exprime a identidade da
organização. Isso quer dizer, é aquilo que mantêm a integridade de um sistema. Mudanças
internas ou externas podem ocasionar tanto a preservação quanto a perda da identidade da
organização. Quanto maior o potencial da empresa, tanto maior é a sua vocação para manifestar
sua identidade própria. Para o filósofo Aristóteles, “Nós somos o que fazemos repetidas vezes.
Portanto, a excelência não é um ato, mas um hábito”.
[ATIVIDADE 17]
Os elementos que compõem a identidade de uma organização social são,
necessariamente a definição da:
VISÃO - MISSÃO - VOCAÇÃO
Pesquise e apresente (cada um em separado) o que são, as suas
características principais. Indique como esses elementos contribuem com a
cultura organizacional.
Sugestões de leituras e vídeo complementares:
Artigos:
Cultura organizacional em organizações públicas no Brasil. Disponível:
http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n1/v40n1a05.pdf.
Cultura organizacional – uma revisão de literatura. Disponível:
http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0441.pdf
Vídeos: Cultura Organizacional - Professor Luis Octavio Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=dgPWiiaHmB4
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18 SOCIOLOGIA DO PROCESSO PRODUTIVO
AULA 18
Para essa aula, faremos nossos estudos guiados por um texto escrito por Pedro Inácio
Amor, e divulgado no site http://www.sinprodf.org.br/.
O texto foi escrito em maio de 2013. Apresenta as relações entre o estudo da sociologia que analisa as interações sociais nos sistemas implantados e vigentes no Brasil e - o modo
produtivo brasileiro. O texto não está na íntegra, selecionamos o trecho que dá destaque a
questão do estudo planejado.
O sistema produtivo brasileiro
Podemos ver que de acordo com todo o processo histórico do Brasil, incluindo as qualidades e defeitos,
nós acabamos por criar um novo modo de produção, mais baseado na consciência ingênua de nosso
próprio povo para não dizer de nós mesmos. É verdade que ele é por demais dependente, mas mesmo
assim tem uma forma própria de ser, completamente diverso dos outros existentes no mundo, tanto
ocidental quanto oriental. Dentre outras, por coexistirem juntos todos os modos de produção além da
grande miscigenação da população brasileira.
Considerando a mobilidade social como uma das medidas da dinâmica e desenvolvimento social de um
país, uma sociedade estagnada sob esse aspecto apenas reproduz sua estrutura social dia após dia, pouco
ou quase nada oferecendo de progresso social. Para que esse almejado progresso aconteça é necessário
a passagem de indivíduos ou grupos de um nível social a outro. No nosso caso brasileiro isso só acontece
como exceção à regra e nunca como etapa de um processo de desenvolvimento. O tipo de mobilidade
aqui existente é apenas o circular, onde os grupos de mesmo nível se intercalam nas posições prédefinidas como em um jogo de cartas marcadas.
Por exemplo, quando o Governo JK decidiu realizar a construção na nova capital, escolheu como roteiro
o “Relatório da Missão Cruls” apontando como local ideal o Planalto Central onde a vida era
provinciana, conservadora e centrada em valores tradicionais. No processo de construção de Brasília,
muitas pessoas migraram para esta região, atendendo o chamado do Presidente Juscelino, para realizar
o fato notório: promover o desenvolvimento brasileiro, reduzindo 50 anos em 5 como “candangos”
acreditando que estavam realizando uma verdadeira mobilidade social. De fato houve mobilidade social,
mas só para poucos – a exceção da regra, porque a maioria veio a constituir as camadas populares do
Distrito Federal. E ainda hoje está separação existe. Só para recordarmos, podemos passar uma rápida
olhada na forma de ocupação existente na cidade, como as habitações do Lago Sul ou dos condomínios
fechados, se contrapondo aos aglomerados populacionais de São Sebastião, Recanto das Emas, quadras
1000 da Samambaia, Cidade Estrutural ou Águas Lindas de Goiás, uma autêntica periferia do Entorno
de Brasília.
A perspectiva do desenvolvimento sustentável
Para clarear a questão do desenvolvimento recorremos aqui a Pedro Demo em seu livro: Sociologia ,
uma introdução crítica.
“A sociologia do Terceiro Mundo gira em grande parte em torno da questão do desenvolvimento e há
para isso uma razão muito própria: entre as utopias aqui cultivadas, uma das mais importantes é a do
desenvolvimento, ou, dito pelo reverso, a busca de superação da dependência e da pobreza
socioeconômica e política.
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Há uma distinção importante, hoje geralmente feita entre crescimento e desenvolvimento. Crescimento
significa acumulação de capital, aumento da produção, progresso industrial, incremento da riqueza
material e, assim por diante, apanhando a dimensão propriamente econômica. Desenvolvimento
significa a dimensão propriamente social e, em nosso sentido, mudança na organização da desigualdade
social, tanto dentro do País, quanto em seu relacionamento com os outros. Pode haver crescimento sem
desenvolvimento, embora dificilmente se pudesse imaginar o contrário, pelo menos dentro do
capitalismo onde a desigualdade social é profundamente condicionada pela infraestrutura de ordem
econômica.
De certa forma, muitos autores admitiriam que o capitalismo somente consegue crescer, e nisto possui,
como próprio Marx dizia, uma face positiva e progressista. Trata-se da superação do modo de produção
feudal, a introdução da grande indústria, o incremento da riqueza, condições essenciais para se chegar
ao reino da abundância. Todavia, não conseguiria desenvolver-se, já que, na sua interpretação baseada
na mais-valia, seria impensável sem o acirramento das classes.
Esta visão condensa-se num dos produtos mais típicos desta discussão, que é a questão da dependência.
Quando dizemos que um País é subdesenvolvido, dizemos sobretudo que é dependente. A dependência
mais importante é a econômica, porque o Terceiro Mundo realiza o “sobre-trabalho” necessário à
reprodução do sistema capitalista central. A dependência se consolida nas transações do comercio
externo, onde o Terceiro Mundo entra como perdedor oficial: preços impostos pelos países
industrializados centrais, compra por parte deles de matéria-prima barata, sustentação de monopólios
para impedir industrialização auto-sustentada, e assim por diante.”
Vivemos atualmente uma situação diferente do que vivíamos no início da primeira década do século
XXI. Nosso país hoje ocupa a 6ª posição entre as maiores economias mundiais. Mas a distribuição da
renda continua nos mesmos patamares. Claro que houve uma grande ascensão social que marcou nossa
sociedade a partir do governo Lula, mas ainda temos gritantes diferenças de concentração de renda.
O planejamento e a ação
Todo esse conteúdo nos auxilia a confirmar a necessidade de estabelecer uma estratégia de planejamento
a longo prazo, nos moldes dos países do Primeiro Mundo, que nos permita consolidar nosso
desenvolvimento e sustentá-lo ao longo de décadas. Os planejamentos em execução no Brasil do século
XXI, já são mais duráveis e podem durar 20, 30, 50 anos. Como isso está acontecendo, nossa história
toma um rumo diferente como no caso que se segue.
Em 21 de abril de 1960, Brasília era inaugurada como ”a capital da nova esperança“ – a realização do
sonho místico de Dom Bosco. Com mais alguns anos já estavam instaladas nesta região pessoas dos
mais
variados
lugares
do
Brasil
e
também
do
mundo.
Comparando-se o passado e o presente observam-se muitas transformações ocorridas em nosso meio.
Elas são de várias ordens como cultural, social, ambiental, política e econômica. Elas foram tão grandes
que muitos referenciais do passado tornaram-se inadequados para a compreensão desta aventura pósmoderna chamada Brasília.
Pensando no avanço das relações de produção que por aqui se implantaram e prestando atenção no caos
do final do século XX, ou melhor, na “desordem estabelecida” tão bem percebida por Mounier na
primeira metade do século, identificamos um caminho pensado para este modo brasileiro de produção
que é a improvisação de todos os outros modos de produção, objetivando atingir a velocidade de um
raio na obtenção dos lucros rápidos ligados à vida fragmentária de tempos determinados e ao mito da
ascensão social que nasce da necessidade de explicar o mundo para poder dominá-lo afugentando assim
o medo e a insegurança.
Aconteceu um fato histórico concreto e preponderante que mudou completamente o cenário brasileiro.
Lula foi eleito presidente da república e governou o Brasil dois mandatos consecutivos e ainda fez sua
sucessora, a presidenta Dilma. Esse fato aconteceu exatamente no início do da primeira década do século
XXI. Como houve neste governo uma redistribuição da riqueza nacional, modificando o produto interno
bruto (PIB) através da distribuição da cesta básica para mais de 12 milhões de brasileiros.
89
Conclusão
Por esta razão acreditamos ser possível levantar uma crítica ao sistema produtivo brasileiro centrado na
base do conhecimento e da criatividade e improvisação para a realidade atual, lembrando da concepção
evolutiva do pensamento, observando que o universo está em ordem, como “suspeitava” Heráclito de
Éfeso, dizendo que não podemos tomar banho duas vezes na água do mesmo rio, porque nem nós, nem
o rio somos os mesmos e sim que tudo é um eterno devir.
Hoje, temos a possibilidade de refletir o passado da sociedade humana, ao mesmo tempo em que
antevemos um futuro vindouro de construção coletiva com o advento da comunicação global em tempo
real que nos permite estabelecer até mesmo aqui no Brasil um sistema de produção competitivo e de alta
qualidade como o caso de alguns produtos nossos como a fibra ótica, do feijão da EMBRAPA e da
codificação das plantas medicinais, realizado no Brasil, por brasileiros mas que não conseguimos manter
devido a desleal concorrência do primeiro mundo. Para que isso seja possível é necessário estabelecer
um novo paradigma para nossa realidade atual.
“Paradigmas são ‘sínteses’ científicas, filosóficas ou religiosas que servem de referência modelar para
determinada época ou grupo humano. São exemplos a filosofia de Platão, a teologia de São Tomás de
Aquino, a concepção política de Maquiavel, a filosofia de Descartes, a física de Newton, o liberalismo
e o marxismo. Eis os pilares da visão de mundo ou cosmovisão de todos nós que habitamos a esquina
onde termina o segundo milênio e se inicia o terceiro.” (FREI BETTO em A Obra do Artista – Uma
visão holística do Universo)
Neste contexto, é indispensável uma nova abordagem do processo produtivo para nos orientar tanto na
pesquisa quanto na execução de metas para explicar as variáveis naturais que influem nesse processo,
bem como esboçar um mecanismo dialético de produção, ação e reflexão através do qual possamos
elaborar um sistema dinâmico. A isso chamamos planejamento durável. Nosso horizonte deve se
estender por décadas ao invés de biênios ou triênios.
Enfim, ousamos perguntar sobre a desordem estabelecida no sistema econômico brasileiro que provoca
contradições em tal proporção que chega a preocupar os ricos por estarem muito ricos.
Retomando a perspectiva acadêmica, frisamos que a ação educativa é um processo amoroso de
incorporação da linguagem, assim como de agregação de valores. Educar é amar, assim como viver.
Saber é poder. Por isso nossa ação pedagógica realizada hoje tem sem dúvida alguma, um verdadeiro
sentido dialético e reordenar nossos atos.
Pedro Inácio Amor
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[ATIVIDADE 18]
“Hoje, temos a possibilidade de refletir o passado da sociedade humana, ao mesmo
tempo em que antevemos um futuro vindouro de construção coletiva com o advento
da comunicação global em tempo real que nos permite estabelecer até mesmo aqui no
Brasil um sistema de produção competitivo e de alta qualidade como o caso de alguns
produtos nossos como a fibra ótica, do feijão da EMBRAPA e da codificação das
plantas medicinais, realizado no Brasil, por brasileiros mas que não conseguimos
manter devido a desleal concorrência do primeiro mundo. Para que isso seja possível
é necessário estabelecer um novo paradigma para nossa realidade atual”.
Você concorda com a argumentação do autor? Justifique sua resposta com
uma argumentação estruturada a partir do texto lido.
Sugestões de leitura e vídeos complementares:
Artigo: A sociologia, a realidade e o sistema produtivo brasileiro. Disponível:
http://www.sinprodf.org.br/a-sociologia-a-realidade-e-o-sistema-produtivo-brasileiro/
Vídeos:
A racionalização na produção capitalista. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=865c5Yb6WZI
Empresa brasileira se destaca na produção de alta tecnologia. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=rqD1xQRaXtg
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19 SOCIOLOGIA DO PODER
AULA 19
Na vida social, poder é a capacidade de produzir ou contribuir para resultados que
afetam significativamente um ou vários indivíduos. Por exemplo, na política, poder é a
capacidade de impor algo sem considerar nenhum tipo de desobediência. O poder político,
quando reconhecido como legítimo e sancionado como executor da ordem estabelecida, se
assemelha a autoridade. O poder se expressa nas diversas relações sociais, e onde existem
relações de poder, existe política, e a política se expressa nas diversas formas de poder.
O exercício do poder está vinculado à cultura de grupos sociais, pois são eles que
estabelecem aquilo que tem ou não valor em determinado contexto. Segundo o sociólogo
americano Talcott Parsons (1902-1979) poder é a capacidade dos sistemas sociais realizarem
objetivos coletivamente e o poder não é uma questão de coerção ou dominação, mas é originado
no potencial dos sistemas sociais em coordenador atividades humanas e recursos, como modo
de atingir seus objetivos.
O filósofo Thomas Hobbes (1588- 1679) registrou em seus estudos que o poder possui
três perspectivas: (1) Unilateral (de causalidade linear) – é o mais explícito. Grosso modo, essa
perspectiva nos leva a pensar que poder é a capacidade que podemos ter de obrigar alguém a
fazer o que nós queremos que ele/ela faça. (2) Bidimensional (de causalidade por propensão) –
é implícito. Existe mas não possui visibilidade. É a situação efeito-causa. (3) Tridimensional
(de persuasão) – é complexo, pois as razões podem não estar claramente definidas. Esse tipo de
poder é muito usado pela política.
Poder é o direito de deliberar, agir, mandar e, dependendo do
contexto, exercer sua autoridade, soberania, a posse de um
domínio, da influência ou da força.
Poder é um termo que se originou a partir do latim ‘possum’, que
significa “ser capaz de”.
Segundo a sociologia, poder é a habilidade de impor a sua
vontade sobre os outros.
Existem diversos tipos de poder: o poder social, o
poder econômico, o poder militar, o poder político, entre outros.
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Entre os pensadores que contribuíram em estudos sobre o tema podem ser citados,
Michel Foucault, Max Weber e Pierre Bourdieu. Nesta aula vamos aprofundar o conceito de
poder de Michel Foucault e conhecer o pensamento do sociólogo Pierre Bourdieu.
19.1 MICHEL FOUCALT E O PODER
Michel Foucault é considerado o filósofo contemporâneo dos mais polêmicos, isso se
dá por seu histórico de tentativas de suicídio e seu grave olhar crítico de si mesmo. Sobre o
tema poder, segundo os estudos de Foucault, esse não está localizado somente em uma
instituição ou em documentos políticos e jurídicos. No que se refere ao poder, direito e verdade,
sob a análise de Foucault, existe um triângulo em que cada item mencionado (poder, direito e
verdade) se encontra nos seus vértices.
Foucault cita que as relações de poder em diferentes tipos de instituições (escolas,
prisões, quartéis), foram marcadas pela disciplina: “mas a disciplina traz consigo uma maneira
específica de punir, que é apenas um modelo reduzido do tribunal” (FOUCAULT, 2008, p.149).
É pela disciplina que as relações de poder se tornam observáveis, e é por meio da disciplina se
estabelecem as diferentes relações: opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivopersuadido, entre outras.
93
A partir dos diferentes papeis que a sociedade pode apresentar, há, segundo Foucault,
duas tecnologias de poder, divididas em duas séries:

Série corpo - organismo/disciplina/instituições, que são os mecanismos disciplinares;

Série população - processos biológicos (que são os mecanismos regulamentares)
/Estado.
A tecnologia, segundo seus estudos, que não está entrada no corpo, mas na vida, pois
agrupa os efeitos de massa próprios de uma população. Efeitos de massa dizem respeito a
eventos que conseguem agregar maior número possível de pessoas que assimilam ideologias,
perspectivas, atitudes, em consenso.
De acordo com Foucault, a modernidade forçou duas questões fortemente interligadas:
o poder disciplinar (no âmbito dos indivíduos) e a sociedade estatal (no âmbito do coletivo).
19.2 PIERRE BOURDIEU – POSIÇÃO SOCIAL E PODER
Pierre Bourdieu é um dos mais importantes pensadores do século XX. Sua produção
intelectual, desde a década de 1960, estende-se por uma extensa variedade de objetos e temas
de estudo. Crítico mordaz dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, Bourdieu
construiu um importante referencial no campo das ciências humanas.
A maior parte de seus críticos, numa leitura parcial de seus trabalhos, classifica-o como
um teórico da reprodução das desigualdades sociais. Para ele, os condicionamentos materiais e
simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de
interdependência.
A posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas de nosso
capital (dinheiro, bens) mas na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em
cada momento histórico. Bourdieu salienta que a sociedade ocidental capitalista é uma
sociedade hierarquizada, organizada segundo uma divisão de poderes extremamente desigual.
Para o autor, existe uma ordem relacional e sistêmica no social. Neste sentido, a
estrutura social é vista como um sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto
pelas relações materiais e/ou econômicas (salário, renda) como pelas relações simbólicas
(status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos.
Como recursos/poderes, Bourdieu cita: o capital econômico (renda, salários, imóveis),
o capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital
social (relações sociais que podem ser revertidas em capital, relações que podem ser
94
capitalizadas) e por fim, mas não por ordem de importância, o capital simbólico (o que
vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra).
O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de um sistema de disposições de
cultura (nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), denominado por
ele ‘habitus’.
[ATIVIDADE 19]
Entre no site da Revista PLURAL – Revista de Ciências Sociais da USP,
Endereço: http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/77125/80994.
1) Leia o artigo: Os efeitos do discurso: saber e poder para Michel Foucault e
Pierre Bordieu.
2) Identifique as convergências e divergências nos estudos de cada um dos
autores citados.
Sugestões de vídeos complementares:
Pierre Bourdieu - Cultura del Poder. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=qgkLuEESV2g
Michel Foucault Por Ele Mesmo - (Michel Foucault Par Lui Même). Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=Xkn31sjh4To
Michel Foucault (Globo Ciência). Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=WwViBuMD5RI.
Ser Ou Não Ser - Foucault e as relações de poder. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=lLCXhefM2i4
95
20 REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS ESTUDADOS
AULA 20
Caro(a) Acadêmico(a)!
Estamos chegamos ao fim de nossos estudos. Vimos assuntos importantes para a
compreensão dos campos da Filosofia e da Sociologia, contudo, quero lembrá-los que são
recortes da variedade e profundidade que cada um dos campos apresentados possui. Vale dizer
ainda que os textos e autores escolhidos expressam as minhas convicções nos campos
apresentados. Por isso, não deixe de dar uma olhada nos materiais selecionados como
complementares. Esses materiais podem ajuda-lo (a) a compreender os temas sob outras visões
e paradigmas.
Espero que nossas aulas e atividades tenham contribuído com a sua formação acadêmica,
ainda, com a compreensão da vida e dos mecanismos que regem o mundo atual.
Temos ainda a atividade final do Caderno de Estudos. Essa aula e atividade possuem um
formato diferente das anteriores. Faremos uma atividade coletiva onde escolheremos (por
consenso) um dos temas estudados e realizaremos um fórum de debate online. Veja como
organizei a atividade:
Fórum de Debate:
[ATIVIDADE 20]
Em nossa última aula faremos um debate online a partir de um tema (entre aqueles
que foram estudados) e de modo coletivo, reflexivo e participativo, debateremos
suas principais fundamentações ou ainda dúvidas que possam existir sobre o tema.
1) Escolha do tema-assunto;
2) Verificação da presença online de todos os acadêmicos;
3) Primeira rodada:
(a) Lançamento das questões problematizadoras (pela professora)
(b) Argumentação a partir dos estudos e sua visão de mundo (pelos/as
acadêmicos/as);
4) Segunda rodada:
(a) A partir das argumentações apresentadas, serão lançadas no fórum
virtual, duas questões e cada um de vocês terá o tempo de (no máximo)
15 minutos para a resposta, por escrito.
96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS – SOCIOLOGIA
BAUMAN, Zygmunt; Modernidade e ambivalência / tradução Marcus Penchel. — Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
BERNARDES, Cyro. & Marcondes C. Reynaldo. Sociologia aplicada à administração. 5 ed.
São Paulo: Saraiva, 2003.
CASTRO, Celso A. Pinheiro de. Sociologia aplicada à administração. 2 ed. São Paulo: Atlas,
2003.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2003. 632 p.
COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1997.
DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Larry. Conhecimento organizacional - como as
organizações gerenciam seu capitual o intelectual. 8ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
DIAS, Reinaldo. Sociologia das Organizações. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. 273 p.
FIALHO, Francisco A. P.; MONTIBELLER FILHO, Gilberto; MACEDO, Marcelo;
MITIDIERI, Tibério da C. Gestão da sustentabilidade na Era do Conhecimento: o
desenvolvimento sustentável e a nova realidade da sociedade pós-industrial. Florianópolis:
Visual Books, 2008. 160p.
IANNI, Octavio. Teoria de estratificação social: leitura de sociologia. São Paulo: Editora
Nacional, 1973.
LONDERO, Marcia. Ciências sociais na organização. Curitiba: IESDE/BRASIL S.A, 1999.
160p.
NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Teoria da criação do conhecimento organizacional.
In: TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do Conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008.
p.54-90.
OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução a sociologia. 24 ed. São Paulo, 2004.
POLANYI, Michael. The tacit dimension. University of Chicago Press edition, 2009.
SENGE, Peter. M. A Quinta disciplina: caderno de campo - estratégias e ferramentas para
construir uma organização que aprende. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.
STANOEVSKA-SLABEVA, K. The concept of knowledge media: The past and future. St.
Gallen, Suiça: University of St. Gallen, 2002.
SVEIBY, Karl Erik. A nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do Conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008. p.5490.
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