GBETH Newsletter Volume 05 Número 13 02 de junho de 2007 Competências em Genética para Profissionais de Saúde GBETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] Erika Maria Monteiro Santos Centro de Pesquisa – Hospital A.C. Camargo Segundo Skirton et al.(2006) a genômica tem um impacto crescente na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças. Com isto, um número maior de indivíduos deve tomar decisões a respeito de sua saúde, tais como realização de teste genético, comunicação à família sobre a ocorrência de uma doença hereditária, realização de testes de prevenção e detecção precoce. De forma distinta das demais Editores Erika Maria M Santos Ligia P Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Erika Maria Monteiro Santos Diretor Científico Gilles Landman Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Ligia Petrolini de Oliveira Tesoureiro Wilson T Nakagawa decisões sobre saúde, as decisões baseadas na informação genética afetam não só o indivíduo, mas sua família. Frente a este cenário, todos os profissionais de saúde devem reconhecer o impacto do conhecimento genômico e devem estar preparados para atender as novas necessidades de cuidado. Para responder a estas necessidades, os profissionais de saúde necessitam desenvolver um conjunto de habilidades básicas para reconhecer indivíduos sob risco genético. Enquanto serviços especializados em genética continuarão a fornecer diagnóstico e aconselhamento genéticos para condições hereditárias, profissionais de saúde quer sejam generalistas, quer sejam especialistas devem equipar-se para lidar com os questionamentos do paciente, reconhecer o impacto da história familiar, oferecer informação sobre a sua área específica e encaminhar indivíduos para profissionais especialistas em genética. É necessário, portanto, garantir o preparo dos profissionais. Um dos movimentos para garantir este preparo é através do ensino por competências, e não mais por conteúdos. Os currículos dos profissionais de saúde são determinados para atender a um conjunto de competências. Competência descreve um comportamento esperado por um profissional no ambiente no qual trabalha. Diversas associações, sociedades e instituições estabeleceram competências em genética a serem compartilhadas pelos profissionais de saúde. Dentre as instituições que estabeleceram competências destaca-se o Sistema Nacional de Competências em Genética para Profissionais de Saúde Saúde do Reino Unido (National Healthcare SystemNHS) que estabeleceu o NHS National Genetics Education and Development Centre que tem como objetivo principal facilitar a educação em genética para todos os profissionais de saúde do NHS. Competência 2: Identificar pacientes sob risco de condições genéticas Esta competência refere-se à identificação de pacientes sob risco de condições genéticas, utilizando conhecimento sobre genética e os sinais e sintomas O NHS estabeleceu nove competências que da doença na sua área de atuação. devem ser desenvolvidas por todos os profissionais de saúde: 1 – Compreender a importância da genética na sua área de atuação. 2 – Identificar pacientes sob risco de condições genéticas. Competência 3: Obter informações sobre a história familiar com múltiplas gerações Esta competência refere-se à necessidade dos profissionais de saúde em obter a história familiar. O NHS adverte que na obtenção dessa informação o 3 – Obter informações sobre a história familiar com múltiplas gerações. profissional necessita considerar o impacto emocional do processo de obtenção da história familiar e 4 – Usar a história familiar para desenhar um também os aspectos culturais. Na medida em que as informações são reveladas e coletadas, o indivíduo heredograma. 5 – Reconhecer em uma família o modo de herança de uma condição genética. pode passar a refletir sobre a própria saúde, e é necessário que o profissional esteja pronto para lidar com as reações do indivíduo. 6 – Avaliar o risco genético. 7 – Encaminhar indivíduos para especialistas de acordo com as suas necessidades de saúde. 8 – Reconhecer as indicações e as implicações de um teste genético. 9 – Comunicar informações genéticas aos pacientes, famílias e equipe de saúde. Competência 4: Usar a história familiar para desenhar um heredograma O heredograma deve fazer parte da história clínica dos pacientes. Recomenda-se que para a realização do heredograma sejam utilizados os símbolos padronizados internacionalmente, no entanto, as instituições podem adotar a sua própria metodologia É importante destacar que não são todos os profissionais que desenvolverão todas e símbolos. as competências – depende da sua área de atuação. A seguir as competências são descritas em detalhe. Competência 5: Reconhecer em uma família o modo de herança de uma condição genética Os profissionais devem reconhecer o modo de herança em uma família através do diagnóstico, Competência 1: Compreender a importância da genética na sua área de atuação Esta competência refere-se à identificação do próprio conhecimento sobre genética, e do reconhecimento do impacto da genética na própria área de prática. informação sobre história familiar ou heredograma. Para o reconhecimento do modo de herança o profissional deve considerar: quem são os indivíduos afetados, como estes indivíduos são relacionados, o mecanismo genético subjacente, a possibilidade da condição ser causada por modos distintos de herança. A identificação do padrão de herança é GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 13 Competências em Genética para Profissionais de Saúde realizada para: decidir quais indivíduos e famílias se específico. Os profissionais devem assegurar que beneficiem com cálculo do risco genético, seguimento o indivíduo tomou a decisão de submeter-se a um e teste genético; responder aos questionamentos teste genético com o conhecimento adequado e com dos indivíduos e encaminhar adequadamente os consentimento informado. indivíduos a profissionais especializados. Competência 9: Comunicar informações genéticas aos Competência 6: Avaliar o risco genético pacientes, famílias e equipe de saúde A avaliação do risco genético pode incluir (a) Esta competência refere-se a comunicação da determinar o nível de risco a partir da associação informação genética aos pacientes e famílias sob risco entre um diagnóstico conhecido e informação sobre de uma condição genética e a comunicação adequada a história familiar; (b) interpretação do risco com da informação genética a outros profissionais da equipe base nos resultados familiar; (c) cálculo do risco envolvidos no cuidado a estes pacientes e famílias. genético, particularmente, quando realizado por É importante que na comunicação da informação um especialista em genética; (d) uso de aplicativos e genética sejam consideradas a origem, linguagem ferramentas para avaliação do risco genético. e capacidade de compreensão e preferências dos indivíduos. Esta competência é aplicável a todos os Competência 7: Encaminhar indivíduos para especialistas de acordo com as suas necessidades de saúde Os profissionais devem ser capazes de identificar indivíduos que se beneficiem da assistência de especialistas. Ao decidir qual indivíduo referir para um especialista, o profissional deve considerar: (a) os riscos e dificuldades daqueles que cuidam do indivíduo; (b) a extensão das necessidades do indivíduo; (c) a probabilidade de deterioração da condição; (d) os riscos aos quais o indivíduo será submetido; (e) o risco genético aos membros da família; (f) a urgência das ações. profissionais da equipe. A informação genética pode incluir: (a) causa da condição genética; (b) modo de herança; (c) implicação para outros membros da família; (d) implicações sobre decisões reprodutivas; (e) disponibilidade do teste genético. A comunicação sobre a informação genética deve ser não diretiva. Como mencionado anteriormente, outras organizações estabeleceram competências e currículos. Além do estabelecimento das competências, foram lançadas diversas iniciativas educacionais, disponíveis em sites que estão apresentados nesta newsletter e também na página de links do site do GBETH. O GBETH, que tem como um dos objetivos a educação dos profissionais, também deve fazer Competência 8: Reconhecer as indicações e as implicações de um teste genético Um teste molecular pode ter utilidade em situações particulares, mas pode não ser clinicamente apropriado para todos os pacientes com uma determinada condição. Os profissionais devem parte deste movimento e oferecer sua contribuição. Contamos com a colaboração de todos os profissionais do grupo para desenvolvermos estas atividades. Bibliografia ser aplicável apenas aos membros da equipe de saúde National Genetics Education and Development Centre. UK – National Workforce Competences for Genetics in Clinical Practice for Non-Genetics Healthcare Staff: Draft Competence Framework. Available at: <URL http://www.geneticseducation. nhs.uk> Accessed 20 May 2007. Skirton H, Coviello D, Lewis C, Kent A, Cerratto N. Core competences in genetics for health professionals in Europe. Available at: <URL http://www.eurogentest.org> Accessed 20 com papéis definidos e que receberam treinamento May 2007. reconhecer as indicações de um teste molecular, e as implicações do resultado de um teste molecular para o paciente e seus familiares. Esta competência pode GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 13 Competências em Genética para Profissionais de Saúde LINKS Association of Genetic Nurses and Counsellors Organização do Reino Unido que representa enfermeiras, aconselhadores genéticos e outros profissionais não-médicos que trabalham com genética clínica. http://www.agnc.org.uk/ Canadian Association of Genetic Counsellors Organização canadense que reúne aconselhadores genéticos, enfermeiras, médicos e assistentes sociais. http://www.cagc-accg.ca/ EuroGenTest Projeto da União Européia com o objetivo de estabelecer padrões para o teste genético, discutir o impacto de novas tecnologias e educação de profissionais e pacientes. http://www.eurogentest.org/ National Coalition for Health Professional Education in Genetics Organização dos Estados Unidos que tem o objetivo de preparar os profissionais para a revolução genômica. http://www.nchpeg.org/ PHG Foundation Fundação internacional e independente que tem como objetivos: identificar o potencial da ciência em beneficiar a saúde; contribuir para a integração da ciência na medicina e serviços de saúde; promover o desenvolvimento de sistemas e políticas para avaliar novas tecnologias advindas da pesquisa; promover a educação para a aplicação responsável e efetiva da ciência biomédica na saúde. http://www.phgfoundation.org/ The National Genetics Education and Development Centre Departamento do NHS (Sistema Nacional de Saúde) do Reino Unido que tem como objetivo facilitar a integração da educação em genética no treinamento de todos os profissionais de saúde do NHS. http://www.geneticseducation.nhs.uk/ GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 13