a sustentabilidade ao longo do ciclo de vida de edifícios

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A SUSTENTABILIDADE AO LONGO DO CICLO DE VIDA DE EDIFÍCIOS: A
IMPORTÂNCIA DA ETAPA DE PROJETO ARQUITETÔNICO♦
DEGANI, Clarice Menezes (1); CARDOSO, Francisco Ferreira (2)
(1) Pesquisadora Mestranda, Universidade de São Paulo – Escola Politécnica (PCC.USP)
Caixa Postal 61548, São Paulo, SP 05424-970
e-mail: [email protected]. Bolsista da FAPESP
(2) Professor Doutor, Universidade de São Paulo – Escola Politécnica (PCC.USP)
Caixa Postal 61548, São Paulo, SP 05424-970
e-mail: [email protected]
RESUMO
O atual movimento em prol do desenvolvimento sustentável afeta a construção civil. E para a construção de
edifícios tal fato deve-se principalmente ao grande volume e diversidade de componentes nela empregados,
além do longo período de duração de seus produtos, de algumas dezenas de anos.
Para conhecer o desempenho ambiental dos edifícios há que se analisar a interação entre as atividades
desenvolvidas durante todo o seu ciclo de vida e o meio ambiente, identificando os possíveis impactos
ambientais associados.
Considerando ser o projeto o ponto de partida do ciclo de vida de um edifício, espera-se que grande parte das
soluções minimizadoras de seus impactos ambientais parta dos arquitetos responsáveis por esta etapa.
Este artigo pretende identificar os pontos nos quais os projetos arquitetônicos podem influenciar nos impactos
ambientais verificados durante o ciclo de vida dos edifícios. Ele faz isso a partir de uma revisão bibliográfica e
da experiência dos autores em canteiros de obras e avaliações pós-ocupação, analisando as etapas de
planejamento, implantação, uso, manutenção e demolição. Também são referenciados alguns trabalhos e
pesquisas em andamento, bem como práticas já adotadas, todos direcionados à melhoria do desempenho do
edifício quanto à sustentabilidade.
O objetivo é apresentar aos profissionais responsáveis pelo projeto de arquitetura uma visão abrangente das
interferências entre os edifícios e o meio ambiente, apontando algumas soluções que estão ao seu alcance e que
possibilitam a minimização dos impactos ambientais associados às atividades desenvolvidas ao longo do ciclo
de vida dos edifícios projetados.
ABSTRACT
The nowadays movement towards the sustainable development affects civil construction. And concerning
building construction, it reflects the great amount and the diversity of the applied components and also the long
lasting of its products – some decades.
To achieve the necessary buildings environmental performance, an analyze of the interface between the
activities developed during its life cycle and the environment, must be done in order to identify the possible
associated environmental impacts.
Considering that design is the start of buildings life cycle, its wondered that the solutions to minimize that
environmental impacts should come from the architects and designers.
This article intends to identify the points that designers could take to influence on the environmental impacts
verified during buildings life cycle. It was made possible through a literature review and the authors experience
in sites and pos-occupation evaluations, analyzing the planning, execution, use, maintaining and demolition.
Also are presented some researches being developed and environmental practices already adopted, all oriented
to the improvement of the building performance related to sustainability.
The goal is to present to the architects a global vision covering some interference that occurs between buildings
and the environment, pointing some reachable solutions to minimize the environmental impacts associated to the
activities developed during all the life cycle of buildings.
♦
DEGANI, Clarice M.; CARDOSO, Francisco F. A sustentabilidade ao longo do ciclo de vida de edifícios:
a importância da etapa de projeto arquitetônico. In : NUTAU 2002 - Sustentabilidade, Arquitetura e
Desenho Urbano. Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 7 a 11 outubro 2002.
PALAVRAS-CHAVE
Desenvolvimento sustentável, projeto arquitetônico, green building, green design.
INTRODUÇÃO
Da importância de salientar-se o quão significativa é a etapa de projeto arquitetônico para o bom desempenho
ambiental de um edifício, surge o interesse deste artigo. Ele apresenta aos profissionais de arquitetura, mesmo
que sucintamente, as possíveis interferências no meio ambiente das atividades desenvolvidas ao longo do ciclo
de vida dos edifícios. A intenção é apontá-las com o propósito de levantar soluções minimizadoras que estejam
ao alcance dos projetistas.
O edifício é aqui abordado como um produto global, não sendo portanto avaliado o ciclo de vida de cada um de
seus componentes, o que seria objeto de análise mais complexa e abrangendo desde a extração da matéria-prima
e processos de manufatura até o descarte de seu resíduo específico. Assim sendo, são analisadas as interfaces
com o meio ambiente das atividades pertencentes à cada uma das etapas constituintes do ciclo de vida do
produto edifício.
A metodologia empregada para reunir as informações contidas neste artigo envolve breve revisão bibliográfica e
tem como base as experiências dos autores em canteiros de obras e avaliações pós-ocupação. Para apontar o
papel do projetista enquanto agente minimizador dos impactos identificados também foram levantados trabalhos
e pesquisas em andamento, bem como práticas já adotadas, todos voltados à melhoria do desempenho do
edifício quanto à sustentabilidade.
SUSTENTABILIDADE E DESEMPENHO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS
Pelos grandes desafios que têm ainda que ser enfrentados em nosso país em termos de infra-estrutura,
construção habitacional, etc., o desenvolvimento da construção civil é imprescindível. Porém, diante do tema
sustentabilidade, há que se adotar novos critérios para a concepção e desenvolvimento dos projetos construtivos
e também os de reabilitação, os quais vêm ganhando espaço no Brasil, uma vez que os edifícios começam a
atingir seus limites de desempenho ao uso.
A Agenda 211 consolida a idéia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente devem constituir
um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do padrão tradicional de crescimento econômico, tornando
compatíveis duas grandes aspirações da atualidade: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que
permanecem em patamares insatisfatórios de renda e de riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente
saudável pelas futuras gerações (Assembléia Geral das Nações Unidas, 1992).
Segundo o United States Green Building Council2, um empreendimento com bom desempenho ambiental é
caracterizado por ter minimizados, e até mesmo eliminados, os seus impactos negativos no meio ambiente e em
seus usuários. O conselho avalia o desempenho ambiental de edifícios sob cinco enfoques: planejamento
sustentável da área construída; economia de água e eficiência em sua utilização; eficiência energética e emprego
de energia renovável; conservação de materiais e fontes de recursos; e qualidade do ambiente interior (United
States Green Building Council, 2002).
Interessante também a abordagem da empresa de arquitetura Doerr Architecture3. Segundo ela, todo projeto de
empreendimento requer mudanças nos sistemas naturais preexistentes e o consumo de energia e insumos, e por
conseguinte um projeto totalmente "verde" não seria possível. Entretanto, todo projeto apresenta-se como uma
oportunidade, e até mesmo responsabilidade, para o aperfeiçoamento do desempenho ambiental dos
empreendimentos. Segundo Doerr (2002), o desafio da sustentabilidade é complexo e inclui a forma com que
são obtidos os recursos utilizados, como é atingido o seu aproveitamento máximo e considerada a eliminação da
idéia de desperdício.
Segundo o programa "Brown is Green" da Brown University4, um empreendimento ambientalmente responsável
tem reduzidos os impactos dos processos construtivos e os ocorridos durante a sua vida útil. Os seus indicadores
de bom desempenho ambiental incluem a redução da carga energética empregada nos sistemas de aquecimento,
1
Agenda 21 é o documento elaborado em consenso entre governos e instituições da sociedade civil de 179 países e aprovado em 1992,
durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. A Agenda 21 traduz em propostas
de ações o conceito de desenvolvimento sustentável.
2
Organização americana. Home page disponível em: <www.usgbc.org>.
3
Premiado escritório de arquitetura situado no Colorado, EUA. Home page disponível em: <doerr.org>.
4
Universidade localizada em Providence, Rhode Island. Disponível em: < www.brown.edu/Departments/Brown_Is_Green/greenarch>.
Acesso em: abril 2002.
refrigeração e iluminação, e também a seleção dos materiais utilizados dando preferência aos não tóxicos,
renováveis, ou que contenham componentes reciclados.
Apenas para fornecer uma noção de valores dos recursos naturais consumidos, John (2000) aponta como
destinados à construção civil de 14% a 50% da totalidade de recursos naturais extraídos, conforme o país. A
título de exemplo, segundo o autor, no Brasil as estimativas são escassas, porém considerando serem produzidos
ao ano aproximadamente 35 milhões de toneladas de cimento Portland, e assumindo o traço médio de 1:6 em
massa na sua mistura com agregados, pode-se estimar um consumo anual de 210 milhões de toneladas de
agregados, somente na produção de concretos e argamassas.
Os principais impactos ambientais decorrentes da extração de recursos naturais são a escassez e extinção de
fontes e jazidas, além de alterações na flora e fauna do entorno destes locais de exploração.
Além da ciência dos impactos ambientais dos empreendimentos ao longo de seu ciclo de vida, e que serão
apontados neste artigo, existem alguns fatores externos que podem impulsionar o setor rumo à sustentabilidade.
São eles algumas exigências relacionadas a aprovações legais de empreendimentos e processos licitatórios, e
também algumas restritivas a financiamentos.
ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS AO CICLO DE VIDA DE EDIFÍCIOS
Segundo a associação francesa denominada Association Haute Qualité Environnementale (HQE, 2001), a
interação do edifício com o meio ambiente se dá em momentos distintos de sua existência e envolve diferentes
agentes da cadeia produtiva, dentre os quais os projetistas.
Em linhas gerais, o ciclo de vida do produto edifício contempla as seguintes etapas:
S
PLANEJAMENTO - fase inicial do ciclo de vida de um edifício na qual o empreendimento está
sendo concebido. Nesta etapa são realizados estudos de sua viabilidade física, econômica e financeira, além de
estarem sendo elaborados os seus projetos e especificações, e ainda a programação do desenvolvimento das
atividades construtivas;
S
IMPLANTAÇÃO - é a fase da construção propriamente dita, da produção do produto edifício;
S
USO - é a fase de operação do empreendimento, etapa em que o mesmo é ocupado por seus usuários;
S
MANUTENÇÃO - é a fase cuja atividade tem origem na necessidade de reposição de componentes
que atingiram o final de sua vida útil e de manutenção de equipamentos e sistemas, ou então na necessidade de
correção de falhas de execução, patologias, ou ainda para a modernização do empreendimento e sua adequação à
alterações de comportamento do usuário ou à sua finalidade;
S
DEMOLIÇÃO - é a fase de inutilização do produto edifício através de um processo de desmonte.
Em cada uma destas fases do ciclo de vida dos edifícios são desenvolvidas atividades que podem interagir com
o meio ambiente. Para descrever estas interferências utilizou-se os conceitos de aspectos ambientais e impactos
ambientais definidos pelas normas internacionais da série ISO 14000.
Segundo a NBR ISO 14001:1996: "Aspecto ambiental é o elemento das atividades, produtos ou serviços de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente. Impacto ambiental é qualquer modificação do meio
ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma
organização".
Complementando, segundo a NBR ISO 14004:1996: "A relação entre aspectos ambientais e impactos é uma
relação de causa e efeito. Um aspecto ambiental se refere a um elemento da atividade, produto ou serviço da
organização que pode ter um impacto benéfico ou adverso sobre o meio ambiente. ... Um impacto ambiental se
refere à alteração que ocorre no meio ambiente como um resultado do aspecto".
Conforme Anexo A da NBR ISO 14001:1996: "É recomendado que as organizações determinem quais são seus
aspectos ambientais, levando em consideração as entradas e saídas associadas às suas atividades, produtos e/ou
serviços atuais, e passados, se pertinentes. .... É recomendado que o processo para a identificação dos aspectos
ambientais significativos associados às atividades das unidades operacionais considere, quando pertinente, (a)
emissões atmosféricas; (b) lançamentos em corpos d'água; (c) gerenciamento de resíduos; (d) contaminação do
solo; (e) uso de matérias-primas e recursos naturais; (f) outras questões locais relativas ao meio ambiente e à
comunidade".
Analisando as atividades presentes em cada uma das fases do ciclo de vida dos edifícios, foram identificados os
seguintes aspectos ambientais, representados nas Figuras 1, 2, 3, 4 e 5.
5
Associação francesa denominada Haute Qualité Environnementale.
Figura 1 - Aspectos ambientais de entrada e saída dos processos empreendidos nas atividades
desenvolvidas na fase de planejamento de um edifício residencial
Restritivas legais
Informações
relativas ao
entorno
PLANEJAMENTO
PROJETO
PROGRAMAÇÃO
Requisitos
clientes
ANÁLISE TERRENO
(sondagens)
Consumo de água
e energia
Especificação do
produto
Definição logística
canteiro
Dimensionamento
equipe de produção
Ruídos
Vibrações
Queima de
combustível
Emissão efluentes
líquidos
Consumo de mão
de obra
Emissão material
particulado
Figura 2 - Aspectos ambientais de entrada e saída dos processos empreendidos nas atividades
desenvolvidas na fase de implantação de um edifício residencial
Consumo
recursos naturais
IMPLANTAÇÃO
Consumo
recursos
manufaturados
ATIVIDADES DE
PRODUÇÃO
Consumo de água
e energia
Queima de
combustível
Consumo de mão
de obra
Abastecimento de
materiais no
canteiro
Ruídos
Vibrações
GESTÃO RECURSOS
HUMANOS
GESTÃO
SUPRIMENTOS
Emissão efluentes líquidos
Emissão material
particulado
Emissão resíduos sólidos
Perdas e desperdício
Emissão de gases
Remoção de moradias
Supressão da vegetação
Rebaixamento do lençol
subterrâneo
Figura 3 - Aspectos ambientais de entrada e saída dos processos empreendidos nas atividades
desenvolvidas na fase de uso de um edifício residencial
Consumo de bens
manufaturados
duráveis e não
duráveis
HIGIENE PESSOAL
Consumo
alimentos e
produtos diversos
LIMPEZA (dependências
internas e externas, e de
equipamentos e sistemas)
Consumo de água
e energia
CONDICIONAMENTO
DE AR (aquecimento e
refrigeração)
USO
Consumo de gás
Emissão efluentes líquidos
(esgoto e águas servidas)
Lixo doméstico
Criação de ambientes
internos poluídos
Risco da geração de faíscas
onde há gás disperso
Risco de vazamento de CFC
de utensílios e
manufaturados em geral
ILUMINAÇÃO
Comportamento
usuários
VIVÊNCIA
Desprendimento de fibras
de fibrocimento e
provenientes de elementos
decorativos
Emissão de radônio das
estruturas de concreto
Figura 4 - Aspectos ambientais de entrada e saída dos processos empreendidos nas atividades
desenvolvidas na fase de manutenção de um edifício residencial
MANUTENÇÃO
Consumo
recursos naturais
Consumo
recursos
manufaturados
Consumo de água
e energia
Queima de
combustível
Consumo de gás
Consumo de
mão de obra
Emissão efluentes líquidos
GESTÃO DE
SUPRIMENTOS
GESTÃO DE
RECURSOS HUMANOS
ATIVIDADES DE
CORREÇÃO DE
FALHAS
ATIVIDADES DE
REPOSIÇÃO DE
COMPONENTES
MANUTENÇÃO DE
EQUIPAMENTOS E
SISTEMAS
MODERNIZAÇÃO
Risco da geração de faíscas
onde há gás disperso
Risco de vazamento de CFC
de equipamentos e sistemas
Ruídos
Emissão material
particulado
Emissão resíduos sólidos
Perdas e desperdício
Emissão de gases
Figura 5 - Aspectos ambientais de entrada e saída dos processos empreendidos nas atividades
desenvolvidas na fase de demolição de um edifício residencial
DEMOLIÇÃO
Ruídos
Vibrações
Consumo de
energia
PLANEJAMENTO
DESMONTE
Queima de
combustível
ATIVIDADE DE
DESMONTE
Consumo de mão
de obra
GESTÃO RECURSOS
HUMANOS
REMOÇÃO DE
RESÍDUOS
Emissão efluentes líquidos
Emissão material
particulado
Lançamento de
fragmentos
Saída de grande volume
de resíduos sólidos
Emissão de gases
Risco da geração de
faíscas onde há gás
disperso
Risco de vazamento de
CFC de equipamentos e
sistemas
Para os aspectos ambientais identificados, observa-se seus efeitos diretos sobre o meio ambiente – seus impactos
ambientais - sob a ótica dos seguintes fatores: (a) condições de saúde, bem estar, segurança e qualidade de vida
humana; (b) comportamento dos ecossistemas; (c) recursos naturais ou ambientais e seu aproveitamento; (d)
atividades sociais e econômicas; (e) patrimônio natural e cultural. Sob este enfoque, esta pesquisa identifica
como significativos os seguintes impactos ambientais adversos associados ao ciclo de vida de edifícios
residenciais:
S
IMPACTO NO MEIO FÍSICO – alteração das propriedades físicas do solo; contaminação química do
solo e água; alteração das condições de estabilidade do solo; esgotamento de jazidas minerais; indução de
processos erosivos; emissão material particulado respirável; contaminação por gases; poluição sonora; aumento
quantidade de sólidos dissolvidos na água; poluição lençóis subterrâneos; alteração dos regimes de vazão;
escassez de energia elétrica e água.
S
IMPACTO NO MEIO BIÓTICO – interferência na fauna; interferência na flora; alteração na dinâmica
dos ecossistemas.
S
IMPACTO NO MEIO SÓCIO-ECONÔMICO – alteração na qualidade paisagística; alteração nas
condições de saúde; incômodo para a comunidade; alteração do tráfego nas vias locais; pressão sobre suportes
urbanos; alteração nas condições de segurança; interferência em bens edificados; geração de resíduos perigosos
e não perigosos; aumento volume de aterros sanitários; obstrução de córregos e vias pluviais (enchentes);
geração de emprego e renda; aumento das despesas do município; interferência drenagem urbana; perda de solos
férteis para depósito de entulho.
Dentre estes impactos ambientais adversos sobressaem-se: a poluição gerada e o esgotamento de recursos
naturais.
Poluição e esgotamento de recursos naturais
A indústria da construção civil, em geral, produz os bens de maiores dimensões físicas do planeta e,
consequentemente, é bem elevado o volume de recursos por ela consumidos. Sendo alta a quantidade de
recursos aplicados, também o será a quantidade de resíduos gerados, especialmente durante as etapas de
execução e demolição. Considera-se também significativo o elevado consumo de energia elétrica e água
praticado atualmente pela população, o qual em parte também deve-se à não eficácia de nossas edificações.
São vários os aspectos ambientais identificados durante o ciclo de vida de edifícios residenciais cujo impacto
ambiental é a poluição. A geração de resíduos sólidos e líquidos em todas as fases do ciclo de vida de um
edifício residencial ocasiona a poluição do solo, sobrecarregando os aterros sanitários e, também, a poluição das
águas pela emissão de efluentes líquidos. Atribui-se às perdas e desperdícios, grande parte da responsabilidade
pelo elevado volume de resíduos descartados na fase de construção.
Nota-se que qualitativamente os resíduos provenientes das fases de implantação, manutenção e demolição
também podem conter substâncias perigosas, como adesivos, tintas, óleo, baterias, biocidas incorporados a
madeiras tratadas, sulfatos provenientes da dissolução de gesso, e outros, agravando o impacto da contaminação
do solo, águas e ar.
Quanto à poluição também são observadas: (a) poluição atmosférica decorrente principalmente da emissão de
material particulado respirável, nas fases de implantação e demolição, e da emissão de CO2 e CFC, provenientes
da possibilidade de ocorrência de incêndios, perfurações de equipamentos e alguns utensílios domésticos, nas
fases de uso, manutenção e demolição; (b) poluição sonora detectada durante as fases de implantação,
manutenção e demolição, a qual afeta diretamente a comunidade vizinha, causando desconforto; (c) poluição do
ar interior, detectada durante a fase de uso do edifício, por meio da criação de ambientes internos poluídos pelo
condicionamento do ar, por poluentes emitidos pelos materiais empregados, pelo solo ou até mesmo pelas
atividades relacionadas ao uso e operação de equipamentos e produtos de limpeza, como por exemplo
compostos orgânicos voláteis, microorganismos patogênicos, poeiras, partículas e fibras, radônio, dentre outros.
O outro impacto ambiental significativo abordado refere-se ao esgotamento de recursos naturais decorrente
especialmente do consumo elevado da matéria prima. Dados mais concretos relatam que, de modo geral, o
volume de água, energia e matérias-primas utilizados pela construção civil corresponde a pelo menos um terço
do total consumido anualmente por toda a sociedade (John, 2000).
Dentre os recursos naturais empregados salienta-se o consumo de energia elétrica e de água durante a etapa de
uso do edifício. É importante mencionar que além da educação dos usuários a solução para a minimização deste
consumo estaria na própria concepção dos projetos de edifícios, isto porque as atividades que geram maior
consumo de energia são aquelas destinadas à iluminação de ambientes, operação de equipamentos (elevadores,
aparelhos eletrodomésticos, aquecedores de água, etc.) e condicionamento de ambientes internos, todas
definidas em projeto.
PANORAMA ATUAL
Felizmente, já existe uma movimentação do setor de projetos em direção à melhoria do desempenho do edifício
quanto à sustentabilidade. Podem ser destacados os seguintes movimentos e práticas já adotadas por empresas
de arquitetura, bem como trabalhos e pesquisas em andamento:
HQE (Haute Qualité Environnementale)6 – importante movimento francês em prol da edificação com
Elevada Qualidade Ambiental. É conduzido pela associação de mesmo nome, que congrega o conjunto de
agentes envolvidos, como a administração pública direta, as entidades de fornecedores de produtos e serviços
(planejamento, projeto, obra), ministérios interessados pela questão, instituições de pesquisa, etc., num total de
40 representações.
A Associação HQE, fundada em 1996, define 14 objetivos ambientais para as edificações, agrupados em quatro
temas: (a) eco-construção (integração do edifício à vizinhança; escolha integrada dos produtos, sistemas e
processos de construção; canteiro de obras com baixo impacto ambiental); (b) eco-gestão (gestão da energia;
gestão da água; gestão dos rejeitos; gestão da limpeza e manutenção); (c) conforto (conforto higrotérmico;
conforto acústico; conforto visual; conforto olfativo); (d) saúde (qualidade sanitária dos ambientes; qualidade
sanitária do ar; qualidade sanitária da água).
Estes 14 objetivos ambientais deram origem a um referencial de certificação das características de elevado
desempenho ambiental, a ser aplicada a empreendimentos (HQE, 2001). Trata-se de uma proposta de
certificação que tem como mérito explicitar os objetivos através de exigências e de propor identificadores
operacionais para avaliá-los.
S
AFNOR XP P01-010-1 "Qualité environnementale des produits de construction" – norma francesa
por meio da qual os fabricantes de produtos de construção começam a determinar e a informar as características
ambientais de seus diferentes produtos (AFNOR, 2001). Porém, mesmo na França ainda são poucos os produtos
para os quais tais informações já são disponíveis.
S
6
Disponível em: <www.assohqe.org>.
BREEAM7 e LEED8 - esquemas de avaliação e certificação ambiental de edifícios. Podem ser
utilizados como checklist, por meio do qual obtém-se a classificação do desempenho ambiental do edifício,
avaliado pela sua comparação com outros modelos (benchmarking). Estes esquemas servem como guias para
projeto estimulando a competição pelo "verde", a consciência ambiental dos consumidores e a transformação do
mercado.
S
FIEC9 - Charter for the Environment – declaração de princípios elaborada em maio de 2000, cujo
objetivo é promover as atividades construtivas que respeitem o meio ambiente, incentivando as seguintes
questões: (a) uso de materiais recicláveis ou sua reutilização; (b) estabelecimento de soluções técnicas
alternativas que suportem a política ambiental européia; (c) apoio e promoção de programas de treinamento que
evidenciem a 'consciência ambiental civil' às pessoas jovens nos cursos de treinamento em construção; (d)
promoção e proteção do patrimônio cultural europeu; (e) melhoria do uso eficiente da energia, encorajando
políticas que busquem a modernização de equipamentos e plantas industriais, a fim de melhorarem o padrão
ambiental urbano; (f) uso de Sistemas de Gestão Ambiental pelas empresas de construção; (g) maximização de
esforços para reduzir emissão de gases nocivos; (h) aprimoramento das suas políticas ambientais; (i) aplicação
de política de construção sustentável; (j) redução de danos causados pelos canteiros de obras; (k) contribuição
das empresas de construção do oeste europeu com seu conhecimento adquirido, a fim de nivelarem por toda a
Europa as regulamentações ambientais; (l) estabelecimento de um código de boas práticas na disposição de
resíduos.
S
Austin Green Building Program - programa arquitetônico voltado à sustentabilidade, elaborado pelo
grupo dirigido pelo arquiteto Pliny Fisk e pelo Center for Maximum Building Potential, em Austin, no Texas,
EUA. O programa permite o aprendizado de construtores sobre diversas soluções ecológicas 'eco-options',
ensinando não somente práticas sustentáveis, mas também introduzindo materiais alternativos e ideias para
redução do consumo energético10.
S
HOK (Hellmuth, Obata + Kassabaum) – situada em em St. Louis, nos EUA, é a primeira empresa de
arquitetura a ganhar o prêmio "Designing a Sustainable and Secure World" do Global Green USA. Segundo ela
"o impacto da construção ao meio ambiente é forte, e somente quando começamos a nos educar para o
desenvolvimento de projetos sustentáveis, é que descobrimos realmente como nossas edificações são poluidoras,
e a partir deste fato, os projetistas entendem seu papel como uma grande oportunidade de mudar este cenário".
Esta empresa procura demonstrar a seus clientes que um projeto verde não precisa custar mais do que um
convencional. Além disso, a empresa conta com um banco de dados, alimentado através de suas pesquisas,
contendo uma série de 'materiais verdes' que ficam disponíveis em sua Intranet para a consulta de arquitetos,
programadores e desenhistas11.
A empresa considera a sustentabilidade como parte da solução de projeto para os seguintes aspectos: (a) seleção
e desenvolvimento de empreendimentos que promovam comunidades harmoniosas com o meio ambiente; (b)
desenvolvimento de projetos flexíveis que aumentem a longevidade do empreendimento; (c) uso de materiais
apropriados; (d) melhoria da eficiência energética enquanto garante o conforto térmico; (e) redução dos
impactos ambientais decorrentes do uso energético; (f) uso de estratégias naturais para proteger e recuperar
fontes de água; (g) conservação da água e consideração de seu reuso; (h) promoção da saúde do usuário e
conforto do ambiente interno; (i) planejamento da reciclagem durante a construção, demolição e uso do
empreendimento.
S
Doerr Architecture – escritório de arquitetura americano autor da lista de verificação para residências
denominada "Green Architecture Checklist: Residential", contemplando os seguintes aspectos (Doerr
Architecture, 2002): (a) Green siting and land use: propõe a construção de novos empreendimentos em áreas já
urbanizadas e desenvolvidas, preservando as demais localidades; projetos de múltiplo uso, nos quais as
residências se integram ao uso comercial, reduzindo poluição decorrente dos meios de transporte; implantação
de edificações em locais de fácil acesso ao transporte público, vias para bicicletas e pedestres, minimizando o
uso do automóvel; inclusão de home-offices nas residências; renovação de edificações antigas ao invés de
demoli-las; distâncias curtas das edificações às estradas e linhas de serviço; construção em locais que já tenham
sido prejudicados; edificação situada de modo a preservar a vegetação existente; (b) Green building design:
otimização do espaço interno; eficiência no consumo energético através do melhor aproveitamento da luz
natural, altos níveis de isolamento térmico, janelas refletoras do calor, e vedações justas; utilização de energia
renovável (aquecimento solar, iluminação natural, resfriamento natural); otimização no uso de materiais por
S
7
Esquema inglês; o primeiro a avaliar e certificar ambientalmente os edifícios. Disponível em: <products.bre.co.uk/breeam/breeam1.html>.
Leadership in Energy & Environmental Design - esquema americano. Disponível em: <www.leadbuilding.org>.
FIEC Fédération de l'Industrie Européenne de la Construction - entidade representativa do setor da construção de diversos portes e
especialidades de 25 países europeus. Disponível em: <www.fiec.org>. Acesso em: março 2002.
10
Devido ao sucesso do programa, outros projetos 'residential green building' foram iniciados em Portland, Denver, Seattle e em outras
cidades ambientalmente conscientes dos EUA. Disponível em: <www.ci.austin.tx.us/greenbuilder>. Acesso em: março 2001.
11
Retirado de artigo publicado em: www.brown.edu/Departments/Brown_Is_Green. Acesso em: março 2001.
8
9
meio da simplificação da geometria do edifício; inserção no projeto de facilidades para os usuários praticarem a
reciclagem de seus resíduos; consideração da captação de águas de chuva para uso na irrigação dos jardins, por
exemplo, ou então das águas servidas de lavatórios, chuveiros ou lavagem de roupas; eficiência no consumo de
água e na baixa manutenção; (c) Green materials: evitar o uso de equipamentos mecânicos e isolantes que
contenham componentes químicos que agridam a camada de ozônio, tais como HCFC; emprego de materiais
produzidos na região próxima ao empreendimento, reduzindo custos e poluição decorrentes de seu transporte;
adoção de materiais recicláveis ou provenientes de reciclados; seleção de fornecedores responsáveis,
especialmente de madeira; evitar materiais que desprendam gases poluentes tais como produtos compostos por
formaldeídos e compostos orgânicos voláteis (VOCs); (d) Green equipment: estímulo ao uso de lâmpadas e
dispositivos elétricos de alta eficiência, tais como as lâmpadas fluorescente; redução do dimensionamento de
aquecedores nos casos do uso da energia solar; uso de dispositivos eficientes que controlem o consumo da água
e a demanda dos sistemas de esgoto.
S
Filosofia 'Building Green' – criada nos EUA, promove o uso de produtos recicláveis e melhor
adaptáveis ao meio ambiente em projetos e durante a execução de edifícios sustentáveis, observando sua
viabilidade econômica e sua adaptação à comunidade local. As estratégias propostas são implementadas pelas
empresas que demonstram preocupação com a utilização das fontes de recursos e impactos gerados ao meio
ambiente12.
Atualmente podem ser encontrados, em alguns sítios da Internet, bancos de dados e informações referentes à
movimentação do setor segundo esta filosofia. Como exemplo: a própria home page do United States Green
Building Council13, o Green Building Resource Guide14, o Greenbuilder15, e o OIKOS Green Building Source16.
Também surgem softwares contendo banco de dados de materiais, recursos para a eficiência energética de
edifícios e ainda ferramentas para avaliar a sua performance ambiental. São exemplos: AthenaTM Sustainable
Materials Institute, GBTool Green Building Tool, Hot 2000TM, Green Building Advisor e LEEDTM Rating
System.
S
Pesquisas acadêmicas no Brasil - as preocupações atuais no campo da pesquisa voltado ao
desenvolvimento sustentável na construção civil são: (a) redução do desperdício; (b) melhoria da qualidade do
produto; (c) reciclagem de resíduos; (d) projetos voltados ao desenvolvimento sustentável; (e) aumento da
durabilidade de componentes (Angulo, 2000). Também encontra-se em andamento, à semelhança dos esquemas
BREEAM e LEED, o projeto BRAiE17 voltado à elaboração de metodologia para avaliação dos impactos
ambientais gerados por edifícios comerciais brasileiros.
Sobre a reciclagem, observa-se um crescente número de pesquisas voltadas ao reaproveitamento de resíduos da
construção civil, bem como de resíduos de outras indústrias para serem aplicados na construção civil. Também
são relevantes as pesquisas voltadas à eficiência energética e à racionalização do consumo de recursos
consumidos pelas instalações diversas constituintes das edificações.
A IMPORTÂNCIA DA ETAPA DE PROJETO ARQUITETÔNICO
A partir da identificação dos aspectos e impactos ambientais das atividades desenvolvidas ao longo do ciclo de
vida dos edifícios, e também do panorama atual verificado em empresas e organizações que atuam em prol das
edificações sustentáveis, podem ser verificadas várias oportunidades de influências positivas dos projetos
arquitetônicos.
FASE DE PLANEJAMENTO: nesta etapa a coleta de informações referentes ao entorno e à área na qual o
empreendimento será implantado é a tarefa mais relevante e deve ser priorizada pelo arquiteto. Partirão destes
dados as especificações globais do produto edifício.
Assim, a região deverá ser investigada além das exigências e regulamentações atuantes naquela localidade,
devendo ser contempladas a existência de mananciais e lençóis subterrâneos, o papel da vegetação local, as
características da fauna e flora, bem como da comunidade presente.
FASE DE IMPLANTAÇÃO: é na etapa de implantação do edifício que irão aparecer as primeiras
conseqüências decorrentes dos recursos selecionados. É evidente, portanto, a necessidade da seleção consciente
de recursos que considerem suas características e métodos construtivos associados – não agressores ao meio
ambiente durante o transporte, descarga no canteiro, armazenagem e aplicação – e a sua procedência, por meio
da qualificação de fornecedores responsáveis.
12
Informações obtidas em: www.motherearthnews.com/building. Acesso em: setembro 2000.
Disponível em: <www.usgbc.org>.
14
Disponível em: <www.greenguide.com>.
15
Disponível em: <www.greenbuilder.com>.
16
Disponível em: <www.oikos.com>.
17
Projeto BRAiE em desenvolvimento na UNICAMP com apoio da FAPESP.
13
Isto significa que devem ser escolhidos materiais e componentes que gerem pouco ou nenhum resíduo que possa
ser lançado ao solo, águas ou ar; e ainda que seja dada preferência a materiais recicláveis ou que contenham
componentes reciclados; sendo também importante a escolha de materiais de comércio disponível nas
proximidades do canteiro, evitando-se assim longos percursos para transporte.
Outros fatores a serem observados pelos projetistas e cujos impactos surgirão na etapa de implantação do
edifício referem-se aos métodos construtivos adotados. A prioridade deve ser dada aos processos construtivos
que gerem consumo mínimo de energia e água e àqueles de fácil controle, a fim de evitar perdas decorrentes do
desperdício.
Durante a implantação também deve ser função do arquiteto projetar de forma a compensar ou evitar a remoção
de moradias, supressão de vegetação e rebaixamento de lençóis freáticos, evitando interferir no sistema de
drenagem urbana e alterações nos regimes de vazão existentes.
FASE DE USO: Na etapa de uso do empreendimento também surgem conseqüências relacionadas aos materiais
especificados nos projetos de arquitetura. Os materiais e mobiliários definidos no projeto arquitetônico devem
considerar a durabilidade e facilidade de manutenção, além da observância da não criação de ambientes internos
poluídos.
Outro impacto negativo que pode surgir durante o uso seria o consumo superior e desnecessário de energia e
água, os quais podem ser solucionados na etapa de projeto arquitetônico por meio da adoção de sistemas
eficientes de iluminação, ventilação e condicionamento de ar (aquecimento e refrigeração), bem como de
dispositivos para economia de energia e água associados às instalações prediais. Também a escolha do sistema
de aquecimento de água deve considerar a disponibilidade local de sistemas à gás ou o aproveitamento da
energia solar.
Também é interessante a presença de sistemas de coleta de lixo eficientes que permitam a triagem feita pelo
próprio usuário, e até mesmo estudar a possibilidade de se reaproveitar as águas servidas, por exemplo, para a
irrigação de jardins.
FASE DE MANUTENÇÃO: A previsão em projeto de possibilidades de expansão e modernização futuros do
empreendimento é papel do arquiteto, evitando-se assim demolições parciais desnecessárias e viabilizando o
reaproveitamento de componentes. Ao executar um projeto de reforma devem ser priorizadas as ações que
minimizem ao máximo as interferências do entorno, principalmente em locais que permaneçam em
funcionamento na ocasião da reforma. Salienta-se que as opções de um projeto de reforma devem adequar-se às
modificações do meio, à durabilidade e buscar sempre a reabilitação do empreendimento, preservando ao
máximo o já edificado.
Para a manutenção eficiente é muito importante que o acesso às instalações hidráulicas, elétricas e sistemas de
condicionamento de ar e aquecimento de água seja facilitado e esta também é uma atribuição do projeto de
arquitetura compatibilizado com os projetos de instalações. É muito importante a coordenação de projetos de
arquitetura com os demais, pois é daí que garante-se a eficiência de cada um deles e que se manifestará nas
etapas de planejamento, implantação, uso e manutenção.
As atividades de manutenção, reforma e reabilitação de empreendimentos devem aperfeiçoar os edifícios
introduzindo sistemas elétricos, hidráulicos e de ventilação eficientes no que diz respeito ao uso dos recuros,
sobretudo água e energia.
FASE DE DEMOLIÇÃO: Também são características sustentáveis de um projeto arquitetônico aquelas que
viabilizam uma demolição racional, isto é, um processo de desmonte consciente e comprometido com a
definição de materiais e componentes reaproveitáveis, não frágeis, duráveis, e se possível desmontáveis. Ainda
deve ser observado o mercado para a reciclagem destes componentes, significando que devam ser tomados
cuidados especiais às peças de demolição que possuem mercado para reciclagem. Muito cuidado também deve
ser tomados com os sistemas que possam desprender gases inflamáveis ou que contenham CFC.
CONCLUSÃO
São inúmeros os benefícios que o enfoque na sustentabilidade traz ao meio ambiente a partir do momento que os
projetistas adotam a postura preventiva durante as decisões de projeto, desde as especificações de materiais a
serem empregados, até a qualidade de ar interno na fase de utilização dos empreendimentos e a saúde dos
ocupantes, passando inclusive pela influência da localização do empreendimento e caracterização dos sistemas
de iluminação, condicionamento de ar e aquecimento da água. Não somente o projeto arquitetônico, mas
também os de engenharia, têm seu papel a desempenhar.
Muitas ações nesse já vêm sendo feitas nesse sentido, pelo por entidades governamentais e não governamentais,
inclusive no Brasil. Também os profissionais e as empresas de projeto, de modo isolado ou através de suas
entidades de classe (IAB, IE, sindicatos, etc.), começam a agir.
Tais ações não podem ser entididas como isoladas, mas devem fazer parte de um conjunto de iniciativas
setoriais, que passam pelos outros agentes da cadeia produtiva. Fabricantes de produtos, construtores,
projetistas, instituições de ensino e pesquisa, clientes e usuários, etc. devem se unir no sentido de chegar a
construções mais sustentáveis. Isso passa pelo desenvolvimento de conceitos, mas também de métodos,
ferramentas e produtos, assim como pela conscientização e pela formação de profissionais e de usuários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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caractéristiques environnementales des produits de construction - Partie 1 : méthodologie et modèle de
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Paulo, 2000. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
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sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável. ECO 92. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em:
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ambiental – Especificações e diretrizes para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 1996. 14p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14004:1996. Sistemas de gestão
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32p.
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Disponível em: <doerr.org/html/GreenChecklistResidential.doc>. Acesso em: abril 2002.
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São Paulo.
UNITED STATES GREEN BUILDING COUNCIL. An Introduction to the US Green Building Council and the
LEEDTM Green Building Rating System. Washington, DC. March, 2002. Disponível em:
<www.usgbc.org/USGBCCintroSLIDES.ppt>. Acesso em: abril 2002.
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