VARIAÇÕES MENSAIS E INTERANUAIS DE PRECIPITAÇÃO

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Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias
VARIAÇÕES MENSAIS E INTERANUAIS DE PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO
MUNICÍPIO DE OURO PRETO D’OESTE/RO, AMAZÔNIA OCIDENTAL
Andreza Pereira Mendonça*
Felipe Rocha de Carvalho
Francisco Felipe Gomes de Sousa
Kécio Gonçalves Leite
Letícia Carvalho Pivetta Fend
*Instituto Federal de Rondônia – Câmpus Ji-Paraná
[email protected]
RESUMO
Neste artigo, apresenta-se uma análise de dados de precipitação pluviométrica coletados
e fornecidos pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC)
localizada no município de Ouro Preto d’Oeste, a 10,727º S e 62,237º W, distante 30 km
de Ji-Paraná/RO. O conjunto de dados analisados compreende uma série histórica de
medidas de precipitação referente ao período de 1982 a 1999, obtidas através de um
pluviômetro do tipo Ville de Paris. Como resultado, identificou-se uma média anual de
precipitação igual a 1939 mm, uma influência dos fenômenos El Niño e La Niña nos
volumes anuais de precipitação no período, bem como uma sazonalidade da precipitação
na região, que permite distinguir duas estações do ano bem definidas, sendo que o
período de novembro a abril concentra 80% da precipitação anual na região.
Palavras-chave: Precipitação. Amazônia. Medida.
RESUMEN
Este artículo presenta un análisis de los datos de precipitación recogidos y
proporcionados por la Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC),
ubicado em la ciudad de Ouro Preto d'Oeste, situada en 10,727° S, 62,237° W, a 30 km
de Ji-Paraná/RO. El conjunto de datos analizado comprende una serie de medidas de
precipitación que se reportan al periodo 1982-1999, obtenida a través de un pluviómetro
del tipo Ville de Paris. Como resultado, hemos identificado una precipitación media anual
igual a 1939 mm, una influencia de El Niño y La Niña en los volúmenes anuales de
precipitación en el periodo y la regularidad de la precipitación en la región, lo que permite
distinguir dos estaciones del año ya determinadas, siendo que el periodo de noviembre a
abril reúne 80% de la precipitación anual en la región.
Palabras Clave: Precipitación. Amazonia. Medida.
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1 INTRODUÇÃO
A precipitação pluviométrica é um componente do ciclo hidrológico e se define como
a água que chega à superfície da Terra, proveniente da atmosfera. A medida de
precipitação é obtida, segundo a WMO (2008), considerando-se a altura da lâmina de
água equivalente sobre uma superfície plana de 1 m 2, e tomando como inexistente a
infiltração, a evaporação e o escoamento superficial.
No contexto amazônico, historicamente a precipitação apresenta uma sazonalidade,
concentrando alto índice pluviométrico em determinados meses do ano (SALATI, 2001;
NOBRE et al., 2007). No entanto, nos últimos anos tem ocorrido secas severas ou
inundações das bacias hidrográficas da região. Segundo Salati (2001), tais alterações no
equilíbrio dinâmico da atmosfera amazônica estão relacionadas a variações climáticas de
causas naturais, tais como os fenômenos El Niño e La Niña, ou originadas por ações
antrópicas de mudanças regionais e globais no uso do solo e de emissão de gases de
efeito estufa em larga escala. De acordo com Oliveira (2001), o fenômeno El Niño
consiste no aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o que pode acarretar secas
prolongadas na região amazônica. Já o La Niña consiste no resfriamento das águas do
Oceano Pacífico, podendo elevar a quantidade de precipitação na região amazônica.
Mudanças climáticas globais podem afetar diretamente os índices de precipitação na
região amazônica. Nesse sentido, Nobre et al. (2007) afirmam que mudanças climáticas
globais representam um risco para o ciclo hidrológico amazônico, uma vez que o aumento
de temperatura poderá provocar maior evaporação e maior transpiração das plantas, o
que levará a uma aceleração do ciclo hidrológico na alternância de períodos chuvosos e
secos. E, segundo Nijssen et al. (2001), se houver uma diminuição ainda mais severa de
precipitação durante a estação seca, o impacto das mudanças climáticas no regime
hidrológico na Amazônia será ainda mais agravado.
Alguns destes resultados apontados na literatura foram identificados na análise dos
dados apresentados neste artigo, a partir de uma série histórica de dados de precipitação,
referente ao período de 1982 a 1999, coletados e disponibilizados pela Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) do município de Ouro Preto d’Oeste,
distante cerca de 30 km de Ji-Paraná.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para a análise do regime de chuvas da região central do estado de Rondônia,
utilizou-se como fonte de dados o boletim técnico (SCERNE et al., 2000) referente ao
período de 1982 a 1999, disponibilizado pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira (CEPLAC) localizada a 10,727º S e 62,237º W, no município de Ouro Preto d’
Oeste, na BR-364, km 325. A instituição conta com um espaço reservado para a coleta de
dados meteorológicos, onde técnicos realizam medidas diariamente, desde o ano de
1982.
Na estação meteorológica da CEPLAC, os aparelhos utilizados para a medição se
encontram em uma área retangular gramada. Dentre os instrumentos meteorológicos da
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estação, encontram-se o abrigo meteorológico, o pluviógrafo, o pluviômetro, o tanque
classe A, o heliógrafo, os geotermômetros e o actinógrafo.
O pluviógrafo é um instrumento para se averiguar a incidência de chuva ao longo
do tempo. Em suma, ele registra o momento em que está chovendo em uma dada região.
O sensor capta a presença de chuva e envia os dados para o registrador, que registra os
dados em um diagrama denominado pluviograma. Durante a estação chuvosa da região,
os dados são coletados três vezes ao dia, sendo uma coleta às 8h, uma às 14h e a outra
às 20h.
O pluviômetro, que neste caso é o do tipo Ville de Paris, é o instrumento mais
comumente utilizado para se medir o volume de chuvas (Figura 1). O coletor apara a água
precipitada que, após a chuva, é depositada em uma proveta graduada, através da qual é
feita a medição e são coletados os dados. Todas as medições foram feitas diariamente. A
unidade de medida utilizada é o milímetro, e a conversão de unidades do valor observado
na proveta, em mL, para mm, é estabelecida a partir da fórmula
, onde P é a
precipitação em milímetros, V é o volume em mililitros de água captada, e A é área da
superfície coletora em centímetros quadrados, sendo válida a relação
.
Figura 1: Pluviômetro do tipo Ville de Paris da estação da CEPLAC em Ouro Preto
d’Oeste.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando-se a variação interanual do acumulado de precipitação, conforme
exposto na figura 2, observa-se, no período de 1982-1999, uma média anual de
precipitação igual a 1939 mm, sendo que o máximo observado no período foi de 2339
mm, em 1986, e o mínimo observado foi de 1487 mm, ocorrido no ano de 1997. Assim, a
série de dados analisada possui uma amplitude de 852 mm.
Nota-se também, segundo a figura 2, que os anos de 1983, 1985, 1986, 1989, 1992
e 1996 apresentaram um acumulado de precipitação superior a 2000 mm. Por outro lado,
verifica-se que nos anos de 1987, 1990, 1991, 1995, 1997 e 1999 ocorreu um acumulado
de precipitação inferior à média (1939 mm).
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Figura 2: Total anual de precipitação (em mm) em Ouro Preto d’Oeste, no período de
1982-1999.
A precipitação na região de coleta dos dados nesses anos pode ter sido influenciada
pela ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña. Tais fenômenos ocorrem a cada quatro
ou sete anos em relação ao fenômeno antecedente, sendo que os anos de 1986-1987,
1991-1992, 1993-1994 e 1997-1998 foram anos de ocorrência do El Niño (MCPHADEN,
1993; PIDWIRNY, 2006). Correlacionando estas informações com os dados apresentados
na figura 2, verifica-se que os anos de 1987, 1991 e 1997, com acumulado de
precipitação inferior à média, foram anos de El Niño. Por sua vez, ocorreu o La Niña nos
anos de 1983-1984, 1984-1985, 1988-1989, 1995-1996 e 1998-1999 (MCPHADEN, 1993;
PIDWIRNY, 2006). Assim, interagindo estas informações com os dados apresentados na
figura 2, verifica-se que os anos de 1983, 1985, 1989 e 1996, com acumulado de
precipitação superior à média, foram anos de La Niña.
Ressalte-se que, embora McPhaden (1993) tenha previsto a ocorrência de La Niña
para os anos de 1998 e 1999, o volume de chuvas não foi tão intenso nesses anos quanto
o esperado. Isso pode ter ocorrido devido ao fato de que o fenômeno La Niña pode
ocorrer em intensidades variadas.
A figura 3 apresenta o número de dias com chuva em cada ano, no período de
1982-1999, referentes à região do estudo. Nota-se uma variação interanual do número de
dias com chuva, em que a série de dados apresenta uma amplitude igual a 30 e média
igual a 133 dias, sendo que o maior número de dias com chuva, igual a 147, ocorreu nos
anos de 1982, 1986 e 1991. Por outro lado, os anos de 1987 e 1998 apresentaram a
menor quantidade de dias com chuva, sendo de 117 dias.
Quanto à variação mensal do número de dias com precipitação, pode-se verificar,
conforme apresentado na figura 4, que o mês de janeiro é o que apresentou maior média
da quantidade de dias com chuva, no período de 1982 a 1999, na região de coleta dos
dados. Por outro lado, o mês de julho apresentou a menor média de dias com chuva,
sendo inferior a 2 dias.
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Figura 3: Variação interanual da quantidade de dias com chuva em Ouro Preto d’Oeste,
no período de 1982-1999.
Figura 4: Médias mensais do número de dias com precipitação em Ouro Preto D’Oeste
no período de 1982-1999.
Figura 5: Média mensal de precipitação na região de Ouro Preto D’Oeste,no
período de 1982-1999.
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Quanto à variação mensal do índice de precipitação da região do estudo, verifica-se,
conforme observado na figura 5, uma variabilidade sazonal acentuada. De acordo com as
médias mensais do período em análise (1982 a 1999), o semestre que compreende os
meses de novembro a abril concentra 80% da precipitação anual, restando 20% da
precipitação anual para o semestre de maio a outubro.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados permitiu evidenciar variações mensais e interanuais do
acumulado de precipitação na região de Ouro Preto d’Oeste, no período de 1982 a 1999.
Observou-se uma variação interanual do número de dias com chuva e a sazonalidade da
precipitação mostrou-se bem definida na região do estudo, podendo ser caracterizada por
uma estação chuvosa (novembro a abril) e uma estação seca (maio a outubro).
Identificou-se também uma influência dos fenômenos El Niño e La Niña na
incidência de precipitação. Finalmente, observou-se um total anual médio de precipitação
igual a 1939 mm, característico da região amazônica.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(CEPLAC) pelo fornecimento dos dados.
REFERÊNCIAS
MCPHADEN, M. J..Toga-Tao and the 1991-93 El Niño-Southern Oscillation Event.
Oceanography, v. 6, p. 36-44, 1993.
NIJSSEN, B., O'DONNELL, G. M.; HAMLET, A.F.; LETTENMAIER, D. P. Hydrologic
sensitivity of global rivers to climate change. Climate Change, v. 50, p. 143-175, 2001.
NOBRE, C. A.; SAMPAIO, G.; SALAZAR, L.. Mudanças climáticas e Amazônia. Ciência e
Cultura, v. 59, n. 3, pp. 22-27, 2007.
OLIVEIRA, G. S.. O El Niño e Você - o fenômeno climático. São José dos Campos:
Transtec, 2001. Disponível em: http://www6.cptec.inpe.br/enos/Oque_el-nino.shtml.
Acesso realizado em 18 de novembro de 2009.
PIDWIRNY, M.. El Niño, La Niña and the Southern Oscillation. Fundamentals of
Physical
Geography,
2006.
Disponível
em:
http://www.physicalgeography.net/fundamentals/7z.html.Acesso realizado em 18 de
novembro de 2009.
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SALATI, E. Mudanças climáticas e o ciclo hidrológico na Amazônia. In:
FLEISCHRESSER, V. (ed.). Causas e Dinâmica do Desmatamento na Amazônia.
Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF, p.153-172, 2001.
SCERNE, R.M.C.; SANTOS, A. O.; SANTOS, M. M.; NETO ANTÓNIO, F. Aspectos
Agroclimáticos do Município de Ouro Preto D'Oeste – RO: atualização qüinqüenal.
CEPLAC/SUPOR.BoletimTécnico n. 17, 48p, Bélem-PA: 2000.
WMO - World Meteorological Organization. Measurement of Precipitation. In: WMO Guide
to Meteorological Instruments and Methods of Observation. Seventh Edition. 2008.
Disponívelem:
http://www.wmo.int/pages/prog/www/IMOP/publications/CIMOGuide/CIMO%20Guide%207th%20Edition,%202008/CIMO_Guide-7th_Edition2008.pdf.Acesso realizado em 09 de outubro de 2009.
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