PIRÂMIDES DO EGITO VERSÃO ATUALIZADA L P Baçan Edição Eletrônica: L P B Edições http://www.acasadomagodasletras.net Direitos exclusivos para língua portuguesa: Copyright © 2014 L P Baçan Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por forma alguma ou qualquer meio sem a expressa autorização do autor. 2014 O EGITO E AS PIRÂMIDES Os egípcios entendiam suas construções como uma manifestação de seu poder, da estabilidade e de sua civilização e, em algumas ocasiões, a volta ao passado, a um tempo de glórias e riquezas que era seu consolo nos períodos de crise. Desde a Antiguidade, desenvolveu-se um fascínio por esse tipo de edificação, cuja compreensão e função, dentro da cultura que a criou, a dos faraós, têm sido estudada ao longo dos séculos. Ano após ano, centenas de publicações tentam, de alguma forma, interpretar e explicar a existência das pirâmides, construindo as mais mirabolantes teorias e especulações. Nada fica provado e as interrogações a respeito desse mistério aumentam a cada dia, com novas descobertas de novos detalhes sobre esses edifícios misteriosos. Considerando a sua importância e o desconhecimento ainda geral sobre elas, é necessário conhecer os aspectos principais já descobertos e aceitos sobre as pirâmides, começando por sua origem e pela função que lhes deu origem. Gregos e romanos descreveram, com propriedade e proximidade, aspectos importantes das pirâmides, que interpretavam como um aspecto curioso da cultura egípcia. Aristóteles, em sua obra Política, afirmou que o objetivo da construção de pirâmides era o de manter a população ocupada, evitando que conspirasse contra o Faraó. Teorias circularam por Roma, a partir principalmente do século IV a.C. Para os romanos, a cultura do Egito exercia uma poderosa atração, havendo um verdadeiro culto a tudo que fosse egípcio. Amuletos e objetos egípcios eram valorizados e requisitados durante o Império Romano, que adotou, inclusive, algumas das divindades egípcias, como foi o caso de Ísis. Nobre romanos usaram a forma piramidal em suas tumbas. Durante a Idade Média, as pirâmides foram identificadas com os depósitos de cereais construídos por José, conforme narrado na Bíblia. Foi durante o Renascimento, que os estudos sobre as pirâmides foram se tornando sistematizados, a partir da recuperação dos relatos clássicos. Esses estudos foram facilitados pelas facilidades de comunicação que foram surgindo, unindo Ocidente e Oriente. Causavam enorme interesse os debates sobre a construção desses monumentos, os tesouros neles ocultos, as salas secretas e seus objetivos, tudo isso temperado com um toque de tragédia, fruto das lendas de maldições e de seres fantásticos que habitavam aqueles recantos e tenebrosos e ainda de todo desconhecidos. Com o Romantismo, após a expedição de Napoleão ao Egito e, em especial, com a onda de orientalismo que começou a se formar no século XIX e gradativamente invadiu o Ocidente, foram se estabelecendo as bases de uma ciência que passou a ser conhecida como egiptologia. Foi assim configurado um conjunto de ideias sobre esses monumentos, cuja única função era de caráter mortuário. Sua construção nada mais era do que o reflexo de uma sociedade escravizada pelo poder absoluto de faraós despóticos, apegados à ideia da imortalidade, incapazes de aceitarem o mesmo fim comum reservado aos mortais e membros de seu povo. O Egito passou a se identificar com as pirâmides como um componente de sua cultura e de sua história, mas é importante ter em mente que as Grandes Pirâmides são marcos de um período definido, conhecido como Império Antigo ou Reino Antigo. Desse tempo, poucas informações restaram e muitos mitos foram criados, pois as investigações se concentraram nessas construções maiores. Nesse período, entre 2630 e 1640 a.C., surgiram essas construções, dentre as quais as três mais famosas e que até hoje intrigam o mundo todo. A mais antiga já conhecida data da III dinastia e era constituída por mastabas sobrepostas formando degraus, idealizadas Imhotep, figura importante do reinado do faraó Djoser. Essa é, inclusive, a única pirâmide concluída desse tipo hoje conhecida. A partir da IV dinastia, as pirâmides passaram a ter as paredes inclinadas e não mais em forma de degraus. As últimas datam da XII dinastia. As pirâmides do Império Médio foram pequenas e sem qualidade. As do Império Novo são consideradas meros adornos das tumbas dos artesãos de Deir el-Medina. As pirâmides foram sendo construídas ao longo de toda a civilização faraônica, mas são aquelas, erigidas na planície de Gizé, únicas das sete maravilhas do mundo antigo ainda visíveis, que concentram todo o interesse, encerrando o apogeu de uma evolução científica e filosófica, que se iniciou nos princípios dessa cultura. Para entendê-las, é preciso conhecer sua origem, porque foram adotadas como elemento mortuário, e o conjunto arquitetônico em que se acham inseridas. Não devem ser admiradas apenas pelo seu tamanho e detalhes de sua construção, mas pelo esforço administrativo e pela organização que envolveram sua construção. Hoje em dia, ao se observar a construção de um edifício, utilizando-se das mais modernas técnicas de engenharia e os mais modernos equipamentos, não há como não valorizar e admirar o feito daquele povo, num tempo em que a tecnologia nem sonhava em contar com os recursos hoje à disposição de projetistas, engenheiros e operários. INCLUDEPICTURE "K:\\- EBOOKS\\MY BOOKS\\DOCUMENTARIOS\\PIRAMIDES DO EGITO\\image002.jpg" \* MERGEFORMAT \d Tumbas de Deir el-Medina UM RESUMO HISTÓRICO Para se entender como tudo começou, é preciso inicialmente conhecer um pouco das crenças religiosas dos egípcios. Segundo elas, o ser humano era formado por quatro elementos: o ba, a alma; o ka, ou duplo, réplica imaterial do corpo, o khu, centelha do fogo divino e o kat, o corpo propriamente dito. Como acreditavam na vida após a morte, julgavam que esses elementos precisavam ser conservados depois do falecimento. O ba e o khu, elementos espirituais, eram conservados através das orações. O corpo, moradia do ka, precisava ser preservado e protegido. Por esse motivo, o túmulo, sendo a casa do morto, tinha de ser mantido intacto para assegurar a imortalidade. Mais importante que suas casas (residências temporais) eram, para eles, seus túmulos, local onde esperavam passar a eternidade. As tumbas pré-históricas eram cobertas por montes de areia e de pedras soltas, mas o vento do deserto varria a areia, descobrindo-as. Os chacais cavavam por entre as pedras, devorando os cadáveres. Isso exigiu que os egípcios tornassem suas tumbas mais seguras, tornando possível preservar adequadamente os corpos enterrados. A partir da primeira dinastia, os egípcios aprenderam a construir as mastabas, uma tumba de teto plano e paredes inclinadas, feitas com adobe e recobertas com ladrilhos. No início, essas construções eram feitas especialmente para pessoas de elevada posição social e para os reis. Foi, portanto, de grande importância essa crença dos antigos egípcios no surgimento e desenvolvimento das técnicas de construção de túmulos cada vez mais sofisticados. Se depois da morte o espírito dos mortos continuava vivendo, era preciso proporcionar todo o necessário para que desfrutassem adequadamente a vida ultraterrena. Durante o Império Antigo somente os faraós tinha direito de desfrutar a vida futura. Próximo do Império Novo, onze séculos mais tarde, todos os egípcios podiam participar desse privilégio anteriormente restrito aos nobres. Os ricos tinham seus corpos embalsamados e lhes eram fornecidas provisões no local onde ficará seu Ka, que supostamente escapava de seu corpo, quando de sua morte. Além disso, o morto tinha que ser julgado pelo deus Osíris (deus das trevas), que admitia suas virtudes ou seus pecados. Com isso, outorgava-lhe uma vida eterna renovada ou o sentenciava a uma segunda e definitiva morte. Embalsamar um cadáver envolvia uma complicada liturgia funerária que podia demorar até setenta dias, dependendo da classe social da pessoa. A de um pobre durava um ou dois dias. O espírito do morto podia habitar seu corpo, por isso os embalsamadores buscavam conservavam o máximo possível dos restos mortais para toda a eternidade. Para tanto, usavam compostos de sais especiais e resinas que preservavam e secavam o corpo, convertendo-o numa múmia enrugada. Após isso, recheavam-no e o envolviam com finas tiras de linho. O corpo era, depois, entregue à família e a múmia era submetida à cerimônia de "abertura da boca". Assim, preparado para comer, beber e falar, o morto estava pronto, finalmente, para ser levado a sua sepultura. No lugar mais alto da sociedade egípcia antiga se encontrava o faraó, que era deus e rei numa só pessoa. O faraó era, portanto, a encarnação dos deuses e a alma do Estado. Como os egípcios faziam grandes preparativos para vida depois da morte e como quanto mais importante fosse o morto, mais esmero se dedicava a ele, deduz-se que os preparativos mais acurados e meticulosos para a outra vida eram aqueles dedicados ao faraó. A primeira coisa que fazia um novo faraó era encomendar logo a construção de sua tumba, que podia até não estar pronta no dia de sua morte. A grande preocupação, tratando-se de um deus e do rei, era abrigar o Ka do faraó num local protegido de saqueadores de cadáveres e dos tesouros fabulosos que acompanhavam o morto, atendendo a um princípio básico que sustentava a civilização egípcia: o da vida eterna dos faraós. Um antigo texto religioso adaptado estabelece esse poder faraônico no seguinte diálogo: "Oh, Aton, quanto tempo durará minha vida?" Responde o deus: "Tu estás destinado a viver milhões e milhões de anos, toda uma vida de milhões". Para satisfazer as necessidades de sua vida de milhões de anos, os reis projetaram tumbas e templos mortuários que deveriam durar para todo o sempre. Com efeito, a tumba se chamava comumente "casa da eternidade". O povo egípcio trabalhava com entusiasmo na construção dos monumentos que seriam as tumbas de seus governantes mortos, pois acreditavam que eles tivessem origem divina e que deviam tratá-los e supri-los como tal. Atualmente, dois mil anos depois da extinção dessa cultura, sobrevivem muitos monumentos e tumbas, as pirâmides gigantescas que mantêm vivos os nomes dos antigos reis e correspondem exatamente à ideia expressada pelos egípcios, a de que pronunciar o nome da pessoa morta é trazê-la de volta à vida. Foi a partir dos primórdios da sua civilização, portanto, que soberanos e nobres egípcios passaram a ser sepultados em câmaras funerárias cavadas na terra. Sobre elas, a estrutura baixa, de paredes verticais e teto achatado, com uma base retangular, feita de tijolos comuns de lama, cozidos ao sol foram ganhando dimensão e variações nos detalhes e nos enfeites, mas não no formato. Mastabas Com o tempo, os egípcios passaram a utilizar pedra na construção desses túmulos, mantendo as paredes ligeiramente inclinadas, formando pirâmides truncadas. As construções foram aumentando de tamanho e de altura, com o acréscimo de vários degraus, até que atingissem a forma hoje conhecida das pirâmides. Nesses túmulos, os mortos mumificados eram enterrados com roupas, objetos pessoais e alimentos, necessários na próxima vida. O PRINCÍPIO - AS MASTABAS A palavra mastaba é de origem árabe, significando banco, porque sua imagem, sobressaindo-se das areias do deserto, lembram os bancos baixos construídos na parte externa das casas egípcias atuais, onde os moradores se acomodam para tomar café com amigos ou visitantes. Esses monumentos antigos, quando foram construídos, tinham suas faces voltadas para os quatro pontos cardeais. Na ilustração a seguir, é possível visualizar como eram feitos esses túmulos primitivos, que deram origem às pirâmides. Esquema de uma Mastaba Localização de Saqqara Acima do solo, sobressai-se a parte superior, que constitui o formato de banco, que deu origem ao nome dessa construção. A partir dessa projeção, há um poço (A) que avança pelo interior rochoso, até a câmara funerária (B), onde se encontrava o sarcófago (C). Após o funeral, a entrada dessa câmara era fechada com pedras e poço disfarçado, para preservar o cadáver mumificado. O historiador Maurice Crouzet assim descreve essas construções: na face oriental da mastaba, abria-se um primeiro compartimento, a capela (D) do culto dirigido ao defunto; exatamente acima do sarcófago, o seu mobiliário comportava, antes de tudo, a mesa para as oferendas (E), colocada ao pé de uma estela (espécie de coluna destinada a ter uma inscrição). Atrás desta estela, outro cômodo penetrava na mastaba: era o corredor (F), onde eram colocadas as estátuas do morto (G). A estela marcava, então, o limite de dois mundos, o dos vivos e o dos mortos; não se comunicavam entre si, salvo por uma estreita fenda da altura de um homem. A estela era esculpida, de maneira que desse a impressão de uma porta — donde o seu nome de estela falsa porta — e, por vezes, na sua moldura, destacava-se uma estátua: era o morto, que voltava para o meio dos vivos. Ou, então, havia uma trapeira, que se abria por cima das folhas da porta e por onde despontava um busto: por ela estava o morto espiando o visitante. Sepultura, depósito de estátuas, capela: eis as três partes essenciais constitutivas de um túmulo. As mastabas dos ricos tornavam-se mais complexas pela existência de compartimentos anexos, mais ou menos numerosos. Falsa porta dos santuários Nos túmulos dos príncipes e reis, essa complexidade era ainda maior. As paredes das capelas eram revestidas de baixos-relevos e pintadas com cenas do cotidiano e dos ritos funerários. As crenças dos egípcios davam a entender que a existência dessas cenas lhes permitiria usufruir, após a morte, tudo o que possuíam em vida. Havia também inscrições de caráter religioso e mágico que auxiliariam o morto em sua viagem até o mundo dos mortos. Essas capelas, às vezes de grandes dimensões, passaram a ser construídas em pedra. No corredor, compartimento antes muito simples, passaram a ser colocadas, além das estátuas do morto, também as de seus familiares, feitas em madeira, em pedra calcária e granito. Nesse aposento, colocavam-se também os objetos pessoais necessários à existência material do ka. A maior concentração desse tipo de túmulo é encontrada na região de Saqqara, mas muitas delas podem ser encontradas em Dahshur e Gizé, onde os faraós construíram grandes mastabas junto de suas pirâmides, destinadas a parentes próximos. Uma das mastabas mais antigas é do período da I dinastia, muito simples em sua constituição. Abaixo do nível do solo foi aberta uma cova rasa, de formato retangular, coberta de madeira. Paredes a dividiam em cinco compartimentos distintos. Imagina-se que o compartimento do centro abrigasse um ataúde de madeira e, as demais, os bens pessoais do defunto. Na projeção acima do solo, havia uma estrutura de tijolos bem maior, dividida em 27 saletas, que teriam abrigado, um dia, vasilhames contendo vinho e alimentos, além de instrumentos de caça e objetos de uso diário. As paredes externas inclinavam-se para dentro, a partir da base. Dois muros paralelos de tijolos rodeavam a construção, toda ela decorada com padrões geométricos coloridos, pintados sobre um fundo branco. O curioso, mas não surpreendente é que, próximo da mastaba, havia uma cavidade em forma de barco, revestida de tijolos, destinada a abrigar uma embarcação de madeira para no além-túmulo. Mastabas como essa buscavam copiar as casas dos nobres e os palácios reais, confirmando a crença de que a vida continuaria no além-túmulo. As saletas representavam cômodos da casa e, fato curioso, não havia corredores, pois os egípcios acreditavam que o espírito do morto podia se movimentar livremente, livre das barreiras de natureza material. Os criados eram enterrados em pequenas mastabas, enfileiradas do lado de fora dos muros da tumba principal, para que continuassem servindo seus senhores após a morte. Alguns acreditam que esses acompanhantes eram enterrados vivos. Outros admitem que a morte se dava por envenenamento voluntário. Em Saqqara, foi encontrada uma enorme tumba subterrânea com quase 120 metros de comprimento, dividida em mais de 70 câmaras, distribuídas dos dois lados de um amplo corredor central. A partir da IV dinastia, as mastabas passaram a ser construídas de pedra e não mais de tijolos. A FORMA PIRAMIDAL A forma atual das pirâmides começou quando o faraó Djoser, da III dinastia, entre 2630 e 2611 a.C., delegou a seu primeiro ministro e arquiteto Imhotep a tarefa de construir um túmulo de pedra, que até então era usada apenas em partes isoladas da construção dos túmulos. Esse arquiteto superpôs seis mastabas, cada vez menores, criando a primeira pirâmide de degraus conhecida. Essa construção foi feita numa extensão de terras elevadas em Saqqara, nas proximidades da cidade de Mênfis e de um cemitério de mastabas, usado ao longo das duas primeiras dinastias. Essa construção foi depois imitada por faraós da mesma dinastia, dando início a uma sequencia de outras que culminariam, em seu apogeu, com as três grandes pirâmides, até hoje admiradas, estudadas e comentadas. Mastaba Pirâmide de Degraus Nem tudo foi perfeição na história das construções das pirâmides. Um exemplo interessante é a pirâmide do primeiro faraó da IV dinastia, Snefru, cujo reinado se estendeu de 2575 e 2551 a.C.. Erigida em Dahshur, essa construção havia sido planejada para ter a forma característica, mas, desconhece-se o motivo, o resultado final a tornou conhecida como pirâmide torta. Tudo indica que o faraó não ficou satisfeito com o resultado e mandou construir outra pirâmide, dois quilômetros ao norte da primeira, hoje conhecida como pirâmide vermelha, por causa da cor do calcário usado em sua construção. Pirâmide torta O apogeu dessas edificações foi atingido por Keóps, segundo faraó da IV dinastia, que reinou de 2551 a 2528 a. C. Seu pai, o faraó Snegru, havia erigido uma grande pirâmide. Para superá-lo em grandeza, Keóps escolheu, como local de repouso eterno, o planalto próximo do deserto, a aproximadamente oito quilômetros de Gizé. Ali ergueu uma grande pirâmide, hoje conhecida como a Grande Pirâmide ou Primeira Pirâmide de Gizé, por seus números fantásticos, começando com sua base, que ocupa mais de 50 mil metros quadrados. É, ainda hoje, a mais polêmica de todas as pirâmides. A magnificência dessa construção esteve apenas ameaçada quando o faraó Kéfren, irmão de Queóps, quarto rei da IV dinastia, que reinou de 2520 e 2494 a.C., mandou construir sua pirâmide, hoje considerada a segunda maior do Egito antigo. Se não superou o irmão em tamanho, talvez o tenha em superado em outros aspectos, como o revestimento de pedra calcária e granito vermelho e a escultura de seu rosto, feita no conjunto rochoso próximo, hoje conhecido como a famosa Esfinge de Gizé. Um fato intrigante a respeito dessa pirâmide é que o sarcófago encontrado em seu interior estava vazio. O corpo do faraó jamais foi encontrado. Miquerinos, filho de Kéfren, neto de Keóps, quinto soberano da IV dinastia, que reinou entre 2490 a 2472 a.C., erigiu a terceira das mais famosas pirâmides. Embora sem a grandeza das construções de seus ascendentes, a obra de Miquerinos impressiona por sua altura superior a 66 metros, maior que um prédio de 20 andares. Apesar de tudo que já foi descoberto, teorizado, concluído e especulado sobre o assunto, ainda não se sabe com absoluta certeza os motivos que nortearam essas construções. O entendimento mais comum está ligado a aspectos religiosos das crenças dos povos do Egito antigo. Para eles, o corpo deveria durar para sempre, pois acreditavam na sobrevivência após a morte. Assim, conservar o corpo físico era um ponto essencial na conquista da imortalidade. Essa conservação exigia que tudo o que fosse necessário deveria ser suprido ao longo do tempo, após a morte. Assim, os túmulos receberam uma atenção toda especial, por seu papel de receptáculo do corpo físico à espera da nova vida. Apesar de o formato ter evoluído das mastabas originais até as grandes pirâmides, seu objetivo principal não mudou ao longo dos três milênios da história egípcia. Se o objetivo da construção puder ser assim sintetizado e até aceito pela maioria, as coisas se tornam um pouco mais complicadas quando se tenta concluir de que forma elas foram construídas. Apesar da vasta quantidade de exemplos da arte pictórica egípcia e de textos descritivos terem sido encontrados, mostrando os vários aspectos da cultura daquele povo, jamais foi encontrado nenhum – nenhum mesmo – registro pictórico ou textual descrevendo ou explicando como as pirâmides foram planejadas e construídas. As conclusões até agora aceitas, quando fala de pirâmides, afirmam que uma das sete maravilhas do mundo antigo, situada no Egito, as Grandes Pirâmides, foram obras dos faraós Keóps, Kéfren e Miquerinos, e que as mais de oitenta outras pirâmides parecem ser cópias da pirâmide original de Keóps, que lhes serviu de modelo. Mas, mesmo ainda hoje, há perguntas que não foram satisfatoriamente respondidas, pelo menos capazes de satisfazerem espíritos mais inquietos e questionadores. Quem construiu essas pirâmides? Apesar da história e da arqueologia atribuírem essas construções aos egípcios, isso não satisfaz, já que, mesmo hoje em dia, com a tecnologia existente, seria difícil construí-las tal como estão. Quando a fachada do Templo de Abu-Simbel foi removida, para preservá-lo da enchente causada pela construção da represa de Assuã, foram necessários quase cinco anos de trabalho, envolvendo uma empresa formada por seis sociedades de cinco países distintos (Alemanha, Egito, Itália, França e Suécia) que, para mover blocos de 20 toneladas, recorreu ao uso de potentes e enormes helicópteros de carga. E como os egípcios moveram blocos como esses, usando uma tecnologia rudimentar, mas altamente eficiente? Há uma teoria muito interessante sobre as pirâmides que afirma que Keóps, Kéfren e Miquerinos simplesmente mandaram gravar seus nomes nas três Grandes Pirâmides, que já existiam naquela época. Os esforços dos egípcios da época resultaram nas pirâmides toscas e mal feitas ainda hoje existentes. Como base para essa teoria, é citado um manuscrito existente na Biblioteca de Oxford, na Inglaterra, onde consta que um rei egípcio, chamado Surid, que governou muito antes do Dilúvio, foi quem ordenou a construção da Grande Pirâmide. Para ter elementos e poder pesar com certa propriedade o que representam essas três enormes e misteriosas estruturas é preciso conhecer um pouco a respeito delas. Inicialmente, estão localizadas a sudoeste da Cidade do Cairo. A mais bem conservada e maior de todas elas é a de Keóps. Sua construção foi feita com 2.600.000 blocos de pedra, pesando ente 2,5 e 15 toneladas, perfazendo um peso total estimado de 6.500.000 toneladas. Sua altura é de 139 metros, equivalente a um prédio de 45 andares. Sua base ocupa uma superfície de 52.900 metros quadrados. Dentro dela, há três câmaras não muito grandes. A Câmara do Rei situa-se na parte superior. No meio, fica a Câmara da Rainha e, na parte inferior, a Câmara do Inframundo. Nessas câmaras, as pedras que formam as paredes estão tão perfeitamente ajustadas que não se pode passar um fio de cabelo por entre as juntas. A pirâmide de Keóps é considerada monumento apenas, já que nenhum corpo foi localizado em seu interior... até agora. Acredita-se que essa pirâmide, assim como as outras, tiveram um revestimento vermelho ou dourado, para contrastar com a paisagem do deserto, mas o passar dos anos e a ação da areia desgastou essa cobertura. Heródoto narra que, quando visitou a Egito, observou que no revestimento da pirâmide havia inúmeras inscrições em una escrita desconhecida, feitas pessoas cujos nomes os egípcios da época já não se recordavam mais. Com aquelas inscrições, segundo ele, podia-se preencher o equivalente a umas dez mil páginas manuscritas. A se acreditar no que escreveu Heródoto, é fatal que surja a indagação: que civilização deixou essas inscrições? Por ventura os habitantes da desaparecida Atlântida? Não se perca de vista o fato de que, segundo a teoria, essas pirâmides foram construídas antes do Dilúvio Universal. A Esfinge de Gizé, tão antiga quanto as pirâmides, mede 70 metros, com uma altura de 20. Está localizada bem próximo das pirâmides e se pode ver, em sua face, o que seriam sinais produzidos pela erosão marinha. Um estudo realizado nela, usando a prova do carbono14, concluiu que ela foi construída há 14.000 anos aproximadamente. O Dilúvio Universal aconteceu há cerca de 5.000 anos. Heródoto narra que lhe foi indicada a existência de una câmara profunda na pirâmide de Keóps, a 60 metros abaixo de sua base. Vários autores árabes citam em seus escritos que, a uma determinada profundidade abaixo da pirâmide, existem portas subterrâneas, que ligam o mundo exterior com o mundo interior. Narra também que havia uma entrada para o mundo subterrâneo através da Esfinge. A Esfinge de Gizé Isso confirmaria os rumores existentes de que, na parte posterior da Esfinge, foi descoberta uma pequena câmara que continha vários restos humanos de pessoas que haviam tentado encontrar a passagem para o mundo subterrâneo e haviam ficado presas ali. Essa câmara foi vedada e sua existência e localização vêm sendo mantida em sigilo absoluto. O historiador romano Amiano Marcelino, que viveu entre 330 e 400 de nossa era, afirmou que, nas pirâmides egípcias, existiam passagens subterrâneas e refúgios construídos por homens que conheciam os antigos mistérios. Essa afirmação parece encontrar respaldo no Livro dos Mortos, que também menciona a existência de portas para o mundo subterrâneo. Há citações, inclusive, que lembram a descrição de naves. Para os egípcios, esses habitantes do mundo subterrâneo eram tidos como Deuses. Vejamos algumas dessas citações: Capítulo LXVI: "Oh, vós, Guardiões das Portas, deixaime passar! (...) Sigo em frente, até a luz do Dia Eterno!" Capítulo CXLII. "O defunto chegará a ser um Deus entre os Deuses do Mundo Inferior. Em toda a Eternidade, os Guardiões das Portas, não o obrigará a voltar atrás, sua carne e seus ossos serão os de um homem que não passou pela morte". Capítulo CII. "Espíritos Guardiões das Portas do Pacificador dos Dois Mundos (Mundo Superior ou Exterior e Mundo Inferior ou Subterrâneo)." Capítulo LXXXI. "Chego junto às grandes divindades do Mundo Inferior e as contemplo em silêncio". Capítulo L: "Na Mansão dos Milhões de Anos, Ra está sentado em seu trono. Detrás dele, em pé, estão as Hierarquias divinas e os Espíritos dos rostos velados que operam na região do Eterno Chegar a Ser. Eles regulam o curso das coisas, absorvendo o mais supérfluo. Eles dão voltas no céu com seu Disco de Fogo, movido em seu próprio movimento." Capítulo CI: "Eu falarei com o Disco Solar e com os seres de luz." Capítulo CXII: "Eis que chega Ra, acompanhado de quatro divindades superiores. Todos percorrem o Céu na Barca Solar." O PERÍODO ÁUREO DAS PIRÂMIDES A construção de pirâmides atingiu seu auge no período áureo entre a III e a VI dinastias, que vai de 2630 a 2150 a.C. Praticamente todos os faraós desse tempo e suas rainhas foram sepultados em tumbas com o formato piramidal. A partir daí, nas dinastias seguintes, esses monumentos foram gradativamente perdendo seu esplendor arquitetônico e mesmo seu significado religioso. A maioria das construções da época áurea foi feita à beira do deserto, a oeste do rio Nilo, próximo de Mênfis, num espaço de terra limitado ao sul pela localidade de Meidum e, ao norte, pela de Abu Rawash. Uma curiosidade cerca o nome hoje atribuído a essas construções que, em egípcio, recebia o nome simples mer, sem maiores referências quanto ao seu significado. Os gregos deram a esses monumentos o nome de pyramis, cujo plural era pyramides, resultando na palavra pirâmide em português. Essa palavra, no grego, no entanto, era simplesmente o nome de um doce feito com farinha de trigo. Talvez os gregos comparassem esses monumentos, vistos ao longe, com o que lhes parecia ser um enorme bolo. Mapa da região e vista das três grandes pirâmides de Gizé. Essas construções obedeceram a um rigor geométrico que até hoje intriga e causa espanto. Orientadas em relação aos pontos cardeais e, encerram intrincados conhecimentos matemáticos e astronômicos. Tudo isso, no entanto, acabou sofrendo com a ação do tempo e dos saqueadores, perdendo muito de seu significado e de seu esplendor original. Mesmo assim, essas imensas estruturas, construídas com enormes blocos de pedra, talhados e sobrepostos em forma degraus, causam admiração e respeito. Originalmente, no entanto, com seus blocos cobertos por um revestimento uniforme de pedra calcária, formando uma superfície plana e polida, deveriam ser uma vista magnífica e impressionante. Ainda hoje, parte desse revestimento de pedra calcária pode ser visto no topo da pirâmide de Kéfren, dando uma pálida ideia do que deve ter sido a beleza antiga desses monumentos. As pirâmides eram parte de um conjunto arquitetônico que templos, capelas, túmulos de familiares e dignitários do faraó. Nas proximidades desse conjunto, ficavam as mastabas dos membros da família e dos cortesãos, formando enormes cemitérios. Complexo incluindo pirâmide principal, secundária e templos. Não se pode perder de vista que essas construções tinham o objetivo original de glorificar as divindades e o faraó, considerado um deus ainda em vida e cultuado após a morte. Templos eram erguidos junto às pirâmides, unidos a elas através de uma galeria. Nesses locais eram celebrados cultos fúnebres ao faraó morto. Divididos em dois setores distintos, os templos tinham uma ala pública e outra particular. No primeiro, cortejos de fiéis vinham de todo o país trazer oferendas. No segundo, tinham acesso apenas o clero e membros da família real. Embora apresentassem diferenças arquitetônicas marcantes, esses tempos mantinham sempre os mesmos componentes. À entrada havia um vestíbulo, seguido de um pátio aberto, de onde se viam nichos para estátuas, depósitos e o santuário. Em Gizé, foram encontrados fragmentos de quase meio milhar de estátuas, que enfeitavam originalmente o complexo compreendendo as três pirâmides. No interior dos templos, o santuário era usado exclusivamente por sacerdotes. Havia uma porta oculta com um altar sob ela. Os alimentos e oferendas ali depositados eram, mais tarde, recolhidos e compartilhado pelos sacerdotes. Os templos localizados nas proximidades do rio ao Nilo recebiam procissões fluviais, dispondo de ancoradouros para os barcos e ligados ao rio por meio de um canal. AS FERRAMENTAS RUDIMENTARES Os egípcios executaram obras primas com instrumentos por demais rudimentares. Desenvolveram uma arte majestosa, exposta nos sepulcros que construíram, nas decorações, no mobiliário. Essa arte é uma fonte inesgotável de conhecimento de suas crenças, esperanças e ideais. Como já foi comentado anteriormente, um faraó do Império Antigo, tão logo subia ao trono, começava a projetar aquela que seria a sua tumba. A grande burocracia envolvendo construtores e arquitetos se punha em movimento. Cada aldeia enviava sua cota de trabalhadores aos canteiros ou ao local da edificação. Os armazéns reais providenciavam ferramentas e roupas. A tarefa enfrentava pelos operários e arquitetos era colossal. Uma ideia desse trabalho pode ser obtida com o que foi a construção da pirâmide de Queóps. Essa grande pirâmide, com mais de dois milhões de blocos de pedra, foi feita num lapso de tempo de vinte e três anos, duração do reinado desse faraó. Segundo relatos de Heródoto, que visitou o Egito, apesar do árduo trabalho, os operários se sentiam satisfeitos de trabalhar para o rei, sentindo-se como se participassem de um festivo e interminável festival em homenagem a um deus. Queóps havia ordenado, inicialmente, uma pirâmide menor, com a câmara funerária profundamente escavada no leito rochoso, abaixo da base. À medida que cresciam suas aspirações como faraó, crescia também seus projetos para a pirâmide. Quando ele morreu, em 2567 a.C., em seu palácio, seu cadáver foi embalsamado, segundo os demorados rituais da época, depois envolto em tiras de linha. Ao cabo das numerosas cerimônias, que duraram várias semanas, seu corpo foi sepultado na Grande Pirâmide. Inicialmente, seu corpo foi levado pelo rio Nilo até Gizé, onde havia sido construída a colossal pirâmide, rodeada de edificações secundárias. O cadáver foi preparado para o enterro no Templo do Vale, ao sul do monumento. No dia do enterro, os sacerdotes encabeçavam a comitiva, enquanto os operários levavam um barco funerário com o ataúde contendo a múmia do rei. Atrás vinham outros operários, trazendo uma lancha (embarcação a vela), pronta para viagens mais distantes. As duas embarcações foram enterradas ao lado da pirâmide. Barco funerário Ainda hoje, muitos pesquisadores acreditam que foram usados escravos na construção das pirâmides. Heródoto, o historiador grego, relata que ouviu dos sacerdotes, durante sua visita, que cem mil escravos haviam trabalhado na obra, em períodos de três meses cada um. Outra corrente afirma, no entanto, que foram usados apenas quatro mil operários na edificação da pirâmide, enquanto outros se ocupavam com o transporte de materiais e outras tarefas no canteiro de obras. Esses operários trabalhavam em grupos de até vinte homens, subindo os blocos de pedra por rampas, para acomodá-los em seu lugar definitivo. Finalmente, desde o cume até a base, ao longo dos cento e quarenta e sete metros de cada um dos lados, pedreiros talharam os blocos para alisar as laterais da pirâmide. Não há como negar que as pirâmides foram construídas com o trabalho rude das pedreiras de calcário, sem citar que alguns blocos eram de granito e certamente exigiram muito empenho para serem movimentados. Tudo começava com a extração e o corte dos blocos de pedra calcária existentes nas redondezas, que depois eram revestidas com uma pedra fina e branca, vinda dos canteiros de Tura, a treze quilômetros de Gizé, a oeste do Nilo, próximo das colinas de Mugattan. Para o revestimento interior foi empregado granito, extraído das pedreiras de Assuã, a novecentos e sessenta quilômetros de distância. Extração dos blocos de pedras Os pedreiros usavam cinzéis de cobre, temperados a fogo, para abrir a pedra calcária e pouco a pouco separavam um bloco atrás do outro da rocha. Essa pedra tem a tendência de se partir em partes horizontais, o que foi aproveitado pelos pedreiros, alargando as fissuras. O granito é muito mais duro e foram utilizadas serras e cinzéis de cobre, além de instrumentos feitos de uma rocha ainda mais dura que o granito. Usando essas ferramentas, os pedreiros abriam brechas nas paredes da pedreira, depois enfiavam nelas cunhas de madeira, umedecendo-as com água. A madeira se dilatava e desprendia fragmentos que eram lapidados em seguida, com as ferramentas primitivas. Cada bloco era separado, então, pelos quatro lados, depois cortado na base. Ali mesmo era realizado um desbaste superficial e o trabalho definitivo era feito no local da construção, usando cinzéis de cobre. Em seguida, o bloco era levado para seu local definitivo, o que demandava outro trabalho extraordinário. Ferramentas rudimentares usadas pelos operários egípcios Os egípcios apenas dispunham de ferramentas primitivas para extrair os enormes blocos de pedra e cortálos no tamanho exato. Conheciam o ouro e o cobre, mas o ouro era muito maleável para cortar a pedra. Os operários usavam, então, ferramentas de cobre e instrumentos feitos com uma rocha conhecida como dolerita. Muitos homens se encarregavam, nos canteiros de trabalho, de manter amolados as serras, cinzéis e talhadeiras de cobre. Os instrumentos para medir e nivelar eram feitos com cordas ou com tiras de couro e varas. Ainda hoje podem ser observadas as marcas deixadas pela dolerita pedra usada nos canteiros. A dolerita é um termo usado para designar rochas de cor intermediária e escura, textura fina, impossíveis de serem definidas se são gabro ou diorito. Sua origem magmática a torna incrivelmente dura e. por isso, era usada para desbastar o granito. Os outros instrumentos usados eram os martelos de madeira para golpear os cinzéis e para inserir as cunhas de madeira ou cobre no granito, separando os blocos. Carpinteiros egípcios Serra feita de cobre para cortar os blocos de pedra mais mole. Com elas os carpinteiros cortavam os enormes troncos roliços usados para acomodar os blocos de pedra em seus lugares. Plainas feitas com folha de cobre para desbastar a madeira e dar-lhe acabamento. Níveis feitos com bastões unidos por um cordel, usados para se certificar de que as faces dos blocos estavam planas. Brocas que giravam, movidas por meio de um arco, atado a um cilindro, que se movimentava em vaivém como o arco de um violino. Era usado para fazer móveis e ferramentas de madeira. Histórica e aparentemente, essas foram as ferramentas usadas pelos operários egípcios para levantar as colossais pirâmides... Teria isso sido realmente possível? O PROJETO ARQUITETÔNICO Os arquitetos da enorme pirâmide tiveram que escolher um local apropriado no deserto. Como estrutura inicial para a tumba, escolheram uma colina rochosa. Os topógrafos marcaram, então, o lugar da base, de forma que resultasse num quadrado perfeito. Em seguida, os arquitetos ordenaram aos operários que escavassem terraços em forma de degraus nas ladeiras irregulares da colina. Esses terraços, que serviriam de fundação para os blocos de pedra, tinham de ser exatamente horizontais. Para assegurar isso, os construtores abriram trincheiras cheias de água ao redor da base. Usando o nível da água como referência, nivelaram uma superfície de cinco hectares. Esse trabalho foi tão perfeito que, entre o ângulo noroeste e o sudeste da pirâmide há uma diferença de centímetros apenas. Os egípcios da época não tinham níveis de bolha, mas sabiam que a água sempre descobre seu nível. Fazendo um canal ao redor do local a ser ocupado pela pirâmide, desviaram para ele as águas do rio Nilo, através de uma calha. Segundo Heródoto, a água converteu o local da futura pirâmide numa ilha. Usando esse sistema, toda a superfície da base da pirâmide foi nivelada. Segundo estudos feitos, há um erro ínfimo no nível da plataforma situada sob a pirâmide, que se eleva ligeiramente em direção ao ângulo sudeste. Esse erro pode ter sido provocado por um forte vento, soprado no dia em que se fixavam os níveis do terreno. A direção da pirâmide foi feita com muito cuidado. Está direcionada de modo que seus lados coincidam com os quatro pontos cardeais. Os astrônomos egípcios eram muito hábeis em seu trabalho e parecem ter alinhado o local, baseando-se na posição de alguma estrela importante. Astrônomos modernos encontraram uma notável coincidência entre a disposição das três maiores pirâmides, localizadas em Gizé, alinhadas em relação à Nebulosa de Orion, como se pode ver na ilustração a seguir. Pirâmides de Gizé e Orion Traçar os ângulos retos nos cantos das pirâmides não deve ter sido muito difícil para os egípcios, que já sabiam que os triângulos retângulos têm um ângulo de noventa graus e, com certeza, tinham esquadros de madeira semelhantes aos usados pelos pedreiros modernos. Com a mesma técnica eram capazes de assegurar que um bloco de pedra estivesse perfeitamente enquadrado. Esse trabalho feito pelos arquitetos da pirâmide de Queóps foi tão perfeito que os lados da colossal estrutura apresentam uma diferença ínfima de menos de vinte centímetros. Por seu tamanho, a Grande Pirâmide mereceu ser uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, tanto pelo seu interior, com passagens, corredores, túneis de ventilação, grande galeria e câmara real, como pelo seu exterior majestoso e imponente. Seus construtores demonstraram um admirável talento e uma técnica perfeita para projetar e construir os interiores que resistissem ao peso descomunal das pedras postas em cima deles. Tudo isso através de artifícios eu desviavam o peso dos blocos superiores, de forma que o peso total não se apoiasse totalmente sobre o teto da câmara real. Como precaução, antes do início da construção da pirâmide propriamente dita, foi construída uma câmara funerária em um dos extremos do promontório central, para o caso de o faraó vir a falecer antes do término das obras. À medida que a construção continuava, foi erguida outra câmara, com a mesma função da anterior, mas agora no seu local definitivo, no centro da pirâmide, quarenta e dois metros abaixo do solo. A entrada da pirâmide foi posicionada no lado norte, a pouco menos de dezessete metros de altura e foi tão bem disfarçada que desafiou exploradores e arqueólogos durante muito tempo. Ela começa com uma passagem descendente, em um ângulo de vinte e seis graus, até a primeira câmara funerária, destinada a ser usada temporariamente, caso o faraó morresse antes do término da pirâmide. Até o nível do solo, há outra passagem, oculta por uma porta de pedra, que sobe de forma abrupta. O teto é tão baixo que é preciso percorrê-lo agachado. Essa passagem termina em um corredor que conduz a uma segunda câmara funerária, chamada de Câmara da Rainha, ainda que nenhuma mulher tenha sido sepultada ali. A passagem ascendente chega à chamada Grande Galeria, medindo quarenta e seis metros de largura por oito e meio de altura, com bancos dos dois lados. Esse recinto foi selado com três grandes blocos de granito, que rolaram sobre plataformas montadas sobre esses bancos. A galeria foi construída de forma que vigas freassem os blocos de pedra. Quando as vigas foram removidas, as pedras deslizaram, e lacraram o corredor. Tão extraordinárias foram essas medidas que, durante quatrocentos anos, serviram para enganar os profanadores de tumba. Não impediram, porém, que a tumba fosse violada. A múmia e os tesouros foram, finalmente, levados. Interior da Grande Pirâmide No fim da Grande Galeria está localizada a câmara funerária definitiva, um aposento de cinquenta metros quadrados, cujo teto, a seis metros de altura, é formado por nove blocos colossais de granito. Desse aposento, saem dois orifícios ascendentes, que terminam no exterior da pirâmide, nos lados norte e sul, sendo provável que fossem de origem ritual, servindo como entrada e saída para o espírito do faraó. Na câmara havia um sarcófago de pedra muito grande, que não deve ter sido levado até lá através da estreita passagem de entrada. Como os blocos de pedra que lacram o acesso a Grande Galeria, com certeza foram postos ali durante a construção. Naquela época, os trabalhos parecem ter transcorrido sem problemas ou dificuldades e a obra foi finalizada satisfatoriamente. O mais impressionante de tudo, porém, é que, apesar de tudo que já se estudou e descobriu sobre a pirâmide, ela continua mantendo o mistério de sua construção, alimentado por questões jamais respondidas satisfatoriamente. Mesmo hoje, com toda a tecnologia a sua disposição, o homem não consegue entender a perfeita simetria, construção e arquitetura utilizada para essas construções. Em meados dos anos oitenta, um grupo japonês assumiu a tarefa de construir uma réplica em menor escala da Grande Pirâmide. As dificuldades foram tantas que acabaram abandonando o projeto. Assim, as pirâmides egípcias continuarão gerando dúvidas e criando mistérios sobre sua verdadeira origem e sobre a complexidade de sua construção. Estudiosos e cientistas continuam tentando decifrar essa tecnologia, usada há muitos séculos, mas nenhum dado positivo pôde ser acrescentado até agora. Enquanto isso, impávidas e majestosas, as pirâmides continuam criando teorias e alimentando dúvidas com seus segredos e mistérios. As pirâmides continuam sendo motivo de admiração e interesse. A majestade tem perdurado e continuará assim até que o tempo finalmente apague todos os vestígios dessa obra monumental. As ilustrações a seguir demonstram essa ação do tempo, que vem corroendo lentamente as pedras seculares e nada há que se possa fazer para evitar isso. Desgaste A MALDIÇÃO DAS PIRÂMIDES Desde a descoberta da primeira tumba egípcia, lendas vêm sendo criadas a respeito de maldições e tragédias, ocorridas com profanadores e pesquisadores. O cinema e os escritores de mistério aproveitaram muito bem essas coincidências, criando histórias que até hoje permanecem no limite entre a realidade e a ficção. Ninguém pode afirmar com certeza se as maldições realmente existem ou que foram apenas uma sequencia fortuita de acontecimentos fatais. Na década de vinte, a arqueologia mundial comemorou uma descoberta fantástica. Após uma série de investigações efetuadas no Vale dos Reis, egiptólogos lograram descobrir, intacta, a tumba de um faraó absolutamente desconhecido de todos, morto e mumificado há mais de três mil anos. A alegria durou pouco, no entanto. O precioso achado foi se juntar a outros acontecimentos que levavam os incrédulos cientistas às portas do oculto e do sobrenatural. Os acontecimentos foram se sucedendo e logo se chagava à terrível constatação: quem ingressava na câmara funerária ou entrava em contato, de alguma forma, com a múmia, morria misteriosamente. Nos seis anos seguintes a esse descobrimento, trinta e cinco pessoas morreram e, apesar das mais sólidas teorias científicas a respeito do assunto, a maldição da múmia havia ganhado essa batalha. Múmia egípcia Quando o arqueólogo inglês Howard Carter abriu a câmara funerária de Tutancâmon, às cinco horas da tarde de 17 de fevereiro de 1923, entre os valiosos tesouros de ouro e as vasilhas repletas de grãos que rodeavam o sarcófago, a comitiva de cientistas descobriu uma estela de barro opaca com uma sentença escrita em hieróglifos: "A morte atingirá quem perturbar o sono do faraó." Não é de se estranhar que a maioria das tumbas dos reis das dinastias do Egito antigo contivessem advertências desta natureza. Mesmo assim, sabe-se que quase todos os túmulos foram transformados em câmaras vazias, sem múmias, estelas, vasilhas de grãos e, obviamente, os objetos preciosos. Isso ocorreu muito antes das descobertas modernas desses monumentos. Pouco se sabe, portanto, que terríveis consequências sofreram os que desobedeceram as advertências dos sacerdotes egípcios. Tudo o que se tornou conhecido a partir da primeira década do século XX, quando começaram as pesquisas arqueológicas sistemáticas, estava baseado em lendas, nas narrativas que corriam de boca em boca, contando os padecimentos horríveis deste ou daquele saqueador de tumbas. Falava-se também das maldições que acompanhavam determinados objetos, encontrados numa certa câmara funerária, ao lado de uma múmia. Tudo não passava de comentários e de histórias contadas ao redor das fogueiras, sob o céu do deserto. Fora assim, até aquela tarde do dia 17 de fevereiro de 1923, quando Carter e seu séquito de arqueólogos e funcionários entraram na tumba onde Tutancâmon havia descansado, longe do mundo dos vivos, durante 3.259 anos. A busca pelo túmulo havia sido prolongada e extenuante. Em 1916, já trabalhavam no projeto. O Vale dos Reis era um cenário de guerra, coberto por montes de entulho que haviam sido criados após inúmeras escavações inúteis. Os estudiosos da época afirmavam que nada mais seria encontrado ali, mas Carter estava decidido a continuar. Na verdade, estava mesmo obcecado pelo túmulo de um faraó desconhecido, sobre quem só havia vagas referências e alguns objetos com seu selo. As escavações continuaram ao longo dos anos e nada de concreto era encontrado. Em 1922, o inglês resolveu tentar uma última cartada, voltando a cavar num local, junto a um grupo de cabanas, onde já trabalhara alguns anos antes. A primeira coisa que ordenou foi a remoção daquelas cabanas. Quando as escavações se iniciaram no local onde elas estavam assentadas, surgiu a primeira surpresa: o primeiro degrau de uma escada até então desconhecida. Isso renovou as esperanças do pesquisar. Os degraus foram sendo descobertos e limpos, até o décimo sexto. Diante dele, então, surgiu uma porta. Uma abertura foi feita nela e uma lâmpada foi introduzida, revelando uma passagem obstruída. Carter interpretou isso como sinal da existência de um túmulo a seguir. Os trabalhos continuaram febrilmente. A porta foi ultrapassada e o corredor foi desobstruído, revelando outra porta, cujo lacre original fora rompido e refeito. Isso poderia indicar que saqueadores já haviam visitado o local e carregado seus tesouros. Carter não esmoreceu e os trabalhos continuaram ansiosamente, mas sem muitas esperanças de encontrar o local intacto. Quando abriu a última porta, no entanto, encontrou uma sala repleta de objetos deslumbrantes e maravilhosos, elaborados com arte e perfeição, incluindo um trono todo trabalhado e revestido de ouro. Examinando o local, localizou outras duas portas. Por um buraco, constatou que uma delas tampava uma sala igualmente repleta de preciosidades como a primeira, revelando uma terceira porta, que lhe parecia inexpugnável. Vencendo a curiosidade e a ansiedade, Carter decidiu lacrar o local e fechar a entrada com entulho, enquanto corria atrás de mais recursos, de ferramentas e especialistas para continuar. Meses depois, o trabalho recomeçou. Na primeira sala foram catalogados e removidos em torno de seiscentos objetos. Só após esvaziar aquela sala, Carter pode avançar para a sala seguinte e abrir a terceira porta. Ali todos os seus sonhos se tornaram realidade. Dentro dela encontraram uma urna, depois outra e, ao fim, quatro urnas, uma dentro da outra, todas lindíssimas. O trabalho de desmontar e remover essas urnas pôde, então, abrir a terceira porta. Lá o sonho se completou. Extasiados, encontraram uma enorme urna dourada, quase do tamanho da sala. Dentro dela outra urna, dentro dessa segunda uma terceira e a seguir uma quarta. Todas belíssimas. O cuidadoso e trabalhoso desmonte e o transporte das urnas levaram oitenta e quatro dias. Finalmente, no interior da quarta urna havia um sarcófago de pedra. Um guindaste foi usado para levantar a tampa de pedra. Um véu de linho escondia a máscara do faraó, feita de ouro polido, incrustada de vidro e pedras coloridas. O ataúde tinha a forma do corpo. Além dessa primeira máscara, havia duas outras, com seus respectivos ataúdes. A última máscara era um esplendor, feita de ouro batido pesadíssima. Atrás dela estava a múmia do jovem faraó, deformada, carbonizada e endurecida pelo excesso de resinas utilizado. Especialistas foram absorvidos no trabalho e chegou-se ao detalhe de estabelecer a idade das flores encontradas na tumba. Oito anos foram dedicados ao estudo cuidadoso dos quase dois mil objetos encontrados ali. Sarcófago e máscara de Tutancâmon Alguns meses antes, quando Carter descobriu o corredor em cujo extremo se encontrava o sarcófago do faraó, os habitantes do deserto ficaram alarmados. Uma cobra, considerada um animal protetor pelos sacerdotes egípcios, havia devorado o canário de Carter. O que para ele foi um caso fortuito que apenas o entristeceu, para os herdeiros das antigas tradições do povo do Rio Nilo, era um prenúncio de terríveis e futuras catástrofes. Semanas depois da abertura e da entrada na câmara mortuária, enquanto o mundo da arqueologia celebrava o triunfo de um dos seus, os meios ocultistas se preparava para ingressar numa década tão brilhante quanto o ouro da máscara que cobria o rosto do legendário faraó. Lorde Carnavon, uma espécie de playboy inglês da época, amante da boa vida e das aventuras, sócio capitalista de Carter em suas andanças pelo Egito, morreu em um hospital do Cairo. Fora um dos primeiros a ingressar na tumba de Tutancâmon. Picado no rosto por um mosquito, foi vítima de uma ferida infecciosa inesperada, que o pôs em coma febril. Ao fim de uma agonia de treze dias, morreu e sua morte deixou alarmados os egípcios que acreditavam na maldição do faraó. Antes de expirar, Carnavon confessou a sua irmã que Tutancâmon o havia chamado e que iria se reunir com ele. No momento exato de sua morte, seu cão de estimação, na Inglaterra, morreu fulminado por um infarto inesperado. A morte de Lorde Carnavon desencadeou em todo o mundo uma febre inesperada por tudo que se referisse ao ocultismo. Espíritas de todas as partes informaram que haviam mantido contato com sacerdotes do Egito antigo, portadores de terríveis mensagens de alerta a respeito das forças desencadeadas com a profanação do túmulo. A maldição da múmia se transformou em tema central de todas as manifestações. A literatura e o cinema se apropriaram do assunto, dando-lhe um caráter ainda mais sensacionalista. Não faltaram motivos para a lenda crescer. O arqueólogo Arthur Mace, do grupo de Carter, morreu inexplicavelmente, após um coma profundo, no mesmo hotel em que Carnavon anunciara ter tido um encontro com Tutancâmon, que o convidou a segui-lo. Joel Woolf, amigo do investidor inglês e proprietário das primeiras fotos feitas na câmara mortuária, morreu de causas desconhecidas. O mesmo acabou acontecendo com Richard Bethell, secretário de Carter. Máscara mortuária de Tutancâmon À longa e aterradora lista de mortos, vítimas da suposta maldição da múmia, logo se juntou a irmã de Lorde Carnavon, chamada Aubrey Herbert, que se suicidou em Londres. Após ela, a esposa do lorde, Almina, morreu repentinamente logo após uma visita à tumba. O doutor Archibald Reid, que havia sido encarregado de fazer as radiografias da múmia, faleceu inesperadamente, sem causa aparente. Lee Stack e George Gould morreram também após visitar o local onde estava localizada a câmara mortuária. Vários diretores de museus, médicos, arqueólogos e pessoas ligadas aos homens que entraram naquela tumba também morreram inexplicavelmente. Após seis anos do descobrimento do túmulo, trinta e cinco outras pessoas haviam morrido de forma misteriosa. Todas elas tinham em comum apenas uma coisa: a maldição da múmia de Tutancâmon. Esse faraó adolescente, que não havia merecido uma linha sequer nos tratados de história, perpetuou-se simplesmente porque teve a sorte de não ter sua tumba saqueada anteriormente, tornando conhecida e comprovada a sua maldição. Antes disso, em 1879, havia sido descoberta a múmia de um sacerdote chamado Khapah Amon. Em sua tumba foi encontrada a seguinte maldição: "A cobra que está sobre minha cabeça se vingará com chamas de fogo quem perturbar meu corpo. O invasor será atacado por bestas selvagens, seu corpo no terá túmulo e seus ossos serão lavados pela chuva". Um inglês chamado Lorde Harring foi esmagado por um elefante. Seu corpo foi abandonado e suas carnes e ossos dispersos pelas intensas chuvas que se abateram sobre o local. Era o colecionador que havia comprado a múmia de Khapah Amon, o sacerdote em cuja tumba fora encontrada a maldição. As histórias sobre as maldições provocadas pelas múmias egípcias foram crescendo, colhendo exemplos em toda parte, participando de todos os acontecimentos fatídicos que ocorreram a partir daquela época. Até a tragédia do Titanic foi atribuída à maldição de uma múmia, capaz de afundar o navio que era considerado o mais seguro do mundo na sua época. Conta-se que um dos passageiros que morreram afogados, Lorde Canterville, levara para seu camarote, próximo da ponte de comando, a múmia de uma pitonisa que vivera durante o reinado de Amenófis IV. Num dos braços da múmia havia um bracelete com os seguintes dizeres: "Desperta de tua prostração e o raio de teus olhos aniquilará todos aqueles que quiserem se apoderar de ti". Quer fossem de caráter sobrenatural ou uma coincidência explicável cientificamente, o fato é que não foram poucas as mortes estranhas, vinculadas ao descobrimento do túmulo de Tutancâmon e de outras múmias também. Como era de se esperar, a origem dessas mortes foi investigada por mentes científicas, inconformadas com as explicações que consideravam absurdas de maldições e vinganças que atravessaram os séculos. Falaram-se, então, de venenos cujas propriedades tóxicas foram preservadas ao longo do tempo, de gases tóxicos criados nas câmaras lacradas pela decomposição e pelo isolamento, de fungos tóxicos depositados nas tumbas pelos sacerdotes, interessados em manter afastados os profanadores. O conceituado British Medical Journal, uma publicação científica inglesa, defendeu a teoria de que Lorde Carnavon morreu ao manusear uma vasilha contendo um fungo patogênico chamado histoplasma capsulatum. Para novos argumentos ao debate científico, há alguns anos um físico nuclear chamado Bulgarini afirmou que os egípcios já conheciam a energia atômica e, sob esse aspecto, havia a possibilidade de que tivesse usado urânio radiativo para proteger seus faraós dos profanadores de tumbas. Passado o período áureo da egiptologia, já faz muito tempo que não se fala mais na maldição da múmia. Os incrédulos ganharam, aparentemente, a batalha já que qualquer nova descoberta ou comentário sobre o assunto é rapidamente esquecido. O assunto parece não mais encontrar eco nos espíritos materialistas do século XXI. Analisando friamente o assunto, pode-se até aceitar que as teorias científicas sobre venenos, gases, fungos e radioatividade expliquem algumas das mortes. Até mesmo os suicídios podem ser levados a crédito da sugestão produzida pela repercussão dada ao assunto. Em suma, as coincidências são possíveis, mas uma soma tão grande de coincidências é muito mais do que simples casualidade. É algo em que se deve pensar com atenção. Outra máscara mortuária de Tutancâmon QUEM CONSTRUIU AS PIRÂMIDES? Essa pergunta tem sido debatida desde há muito tempo por egiptologistas e historiadores. Se observarmos atentamente um desses monumentos, fica difícil acreditar que qualquer um deles tenha sido construído durante o tempo de vida de um faraó. Heródoto, o historiador grego que escreveu sobre o assunto há pouco mais de 2.500 anos, é considerado o mais conhecido cronista e historiador da era das pirâmides egípcias. Segundo seus cálculos, a mão de obra necessária à construção da pirâmide de Queóps teria sido superior a 100.000 trabalhadores. Ocorre que ele visitou essa pirâmide 2.700 anos após sua construção. Egiptologistas modernos acreditam que ele exagerou em suas contas e que esse número não tenha ultrapassado 20.000 operários. Dois arqueólogos e egiptologistas, Mark Lehner e Zahi Hawass, dedicaram esforços no sentido de resolver de uma vez por todas esse quebra-cabeça, descobrindo onde essa massa de trabalhadores viveu, durante o período da construção. Finalmente conseguiram localizar a área exata onde os operários moravam e puderam aprender mais sobre seu trabalho, seu cotidiano e até mesmo se eram escravos ou homens livres, servindo alegremente seu faraó. Mark escavou as padarias que presumivelmente alimentaram esse exército de trabalhadores. Zahi escavou o cemitério principal dessa gente toda, pois é de se supor que, ao longo de 20 anos de construção, muitos devam ter morrido e sido sepultados ali mesmo. Acredita ele que em Gizé morou uma multidão esquelética de trabalhadores que ali labutavam o ano todo. Durante o fim do verão e meses do início do outono, durante a inundação anual dos campos pelas cheias do Nilo, um enorme contingente de mão de obra aparecia em Gizé para trabalhar na construção. Esses fazendeiros e aldeões locais se juntavam ali para trabalhar para o rei-deus deles, construindo os monumentos que abrigariam sua divindade eternamente. Isso assegurava, a esses trabalhadores temporários, a própria vida após a morte e também beneficiaria, como um todo, o futuro e a prosperidade do Egito. Eles podem ter sido bem trabalhadores dispostos, uma mão de obra que trabalhava com enorme motivação, para o benefício do homem, do rei e do país. Mark declarou, numa entrevista que foi para o Egito em 1972 e acabou ficando por lá por treze longos anos. Apesar de ter sido influenciado inicialmente por teorias fantásticas a respeito da origem e da construção das pirâmides, acabou se convencendo de que todo o trabalho havia sido feito pelas mãos do homem e que as marcas disso estavam por toda parte para quem quisesse ver. Segundo ele, egiptologistas e arqueólogos estavam denegrindo a cultura antiga, afirmando que os egípcios antigos eram primitivos e que os construtores das pirâmides e da Esfinge eram uma raça muito sofisticada e tecnologicamente desenvolvida. Essas afirmações menosprezavam o trabalho de pessoas cujos nomes, corpos, relações familiares, ferramentas e padarias foram de fato encontrados e pesquisados. Sempre que esse cientista voltava a Gizé, dizia que seu respeito aumentava por essas pessoas e por aquela sociedade capaz dessa obra monumental. Quando indagado sobre as afirmações de Heródoto de que cem mil homens trabalharam nas obras da Grande Pirâmide, em três turnos, Mark Lehner observa que o texto daquele historiador é impreciso e que não fica claro se eram cem mil homens se revezando em três turnos ininterruptos ou se foram um total de cem mil homens envolvidos em toda a construção. Mark comenta, então, a respeito de um projeto para reconstruir uma pirâmide em pequena escala, documentado num filme. Confessa inicialmente que toda a tecnologia da época não pôde ser reproduzida porque não havia como reproduzir a antiga sociedade que criou essa tecnologia. Assim, os blocos de pedra foram transportados por caminhõescaçambas ao invés das barcaças que haviam cruzado o Nilo. Não foram reproduzidas, portanto, as embarcações que transportaram os blocos de sessenta toneladas das pedreiras de Assuã, justamente porque o objetivo era estudar a habilidade para usar certas ferramentas específicas, técnicas e operações empregadas, sem testar o projeto da construção como um todo. Uma das coisas que mais o impressionaram, entretanto, foi o fato de que, em vinte e um dias, doze homens descalços, morando ao ar livre no deserto oriental, abriu uma nova pedreira e dela extraíram cento e oitenta e seis blocos. Fizeram isso com o auxílio de uma manivela de ferro, enrolando um cabo para retirar a pedra da parede da pedreira. Além disso, todas suas ferramentas eram de ferro. Na construção original, todo esse trabalho foi feito a mão, sem o auxílio de manivelas, conforme ilustrações da época. Ferramentas egípcias primitivas Mesmo assim, grosso modo, concluiu que se doze homens descalços, vivendo num abrigo precário dia e noite, puderam extrair cento e oitenta e seis blocos de pedra em vinte e um dias, era fácil usar a matemática simples para concluir que não teria sido muito difícil para um grupo maior, mesmo usando a precária tecnologia da época, fornecer trezentos e quarenta blocos de pedra diariamente, ao longo dos vinte anos que durou a construção da pirâmide da Grande Pirâmide de Queóps. Não fica claro, porém, nas afirmações desse cientista, de que forma foi administrado esse inevitável congestionamento causado pelo transporte diário de trezentos e quarenta blocos enormes nem como e onde foram armazenados. Estendendo um pouco mais os cálculos matemáticos simples propostos por ele, esses blocos diários teriam de ser carregados e postos em seus lugares à média de pelo menos quatorze a cada hora, o que significaria em torno de um bloco a cada quatro minutos e meio. Novamente surge aqui outro problema de caráter administrativo: como controlar esse contingente de equipes de trabalho, movendo rapidamente blocos pesando toneladas pirâmide acima? Como fazer se trezentos e quarenta blocos tinham de subir rapidamente as rampas, arrastados por um batalhão de homens que, seguramente, deveria produzir naquelas rampas um movimento de tráfego jamais alcançado, mesmo hoje, pelas maiores metrópoles do mundo? Mark confessa que foi questionado pelo uso das ferramentas de ferro, principalmente pela manivela usada para afastar os grandes blocos da parede da pedreira. Segundo ele, o não uso dessa ferramenta poderia ser suprido pela força física de vinte homens, o que elevaria a equipe a um total de trinta e dois homens. Corrigindo os cálculos, a cota diária de blocos poderia ser extraída por um contingente de aproximadamente mil e duzentos homens, sem muitas dificuldades para o transporte, já que eram extraídas de pedreiras próximas do canteiro de obras da pirâmide. É importante lembrar que a extração dos blocos implicava em tarefas distintas, como desprender grandes partes da parede da pedreira, cortar e desbastar os blocos depois dar-lhes um primeiro e precário acabamento que, por mais simples que fosse, exigia um trabalho extenuante. Sem querer simplificar essa obra grandiosa, vamos acrescentar um complicador natural: a luz do dia. Esse detalhe reduz o trabalho nas pedreiras para, no máximo, dez horas diárias, exigindo a extração e finalização de trinta e quatro blocos por hora, um bloco a cada dois minutos, no máximo. Sem querer ser exagerado, é impossível acreditar que isso poderia ser feito por apenas mil e duzentos homens. Grupo de operários preparando os blocos de pedra Mark esclarece que, baseado no mapeamento feito, pelos exames, pelas observações, pelo tipo de solo, onde estavam localizadas a pedreira e a pirâmide, onde a rampa estava construída, por tudo isso, enfim, é que concluiu que o número de homens por ele estimado seria suficiente para mover os blocos. Quanto ao ritmo da entrega e do assentamento dos blocos, não vê como uma impossibilidade para os egípcios daquela época. A opinião de Zahi Hawass sobre quem construiu a pirâmide de Queóps em nada difere dessa. Segundo ele, confirmam suas afirmações as descobertas feitas no local. As evidências enumeradas por ele são muitas, como as padarias que forneceram alimentos aos operários até os nomes de inspetores que trabalharam na obra. Ao todo, foram relacionados vinte e cinco títulos ligados a essas pessoas. Para Zahi, não resta a menor dúvida que os egípcios construíram as pirâmides, pois os estudos feitos datam a construção de quatro mil e seiscentos anos, durante o reinado de Queóps. Acrescenta, ainda, que esta pirâmide faz parte de um complexo espalhado por todo o Egito, totalizando cento e quatro pirâmides com superestruturas e outras cinquenta e quatro com subestruturas. Foram os egípcios e os esqueletos deles estão lá para provar. Foram examinados pelos estudantes e doutores e todos foram unânimes em defini-los como membros da raça dos egípcios e não de outra qualquer, muito menos de extraterrestres. Quanto às narrativas de Heródoto, afirmou que tudo o que ele menciona em seu livro foi de ouvir dizer. Quem se dispor a visitar uma obra grandiosa como as pirâmides certamente terá que estar preparado para ouvir os maiores exageros a respeito do assunto e não deve dar crédito a tudo que guias exagerados contarem a respeito. Lendas e histórias são criadas e transmitidas com facilidade e, como se sabe, quem conta um conto aumenta um ponto. É o que se pode deduzir da opinião desse pesquisador. Segundo seus estudos, as pessoas envolvidas na construção da pirâmide de Queóps totalizaram trinta e seis mil pessoas, longe do número exagerado informado por Heródoto, que foi de cem mil. Essas conclusões foram baseadas no tamanho do projeto, no tamanho das tumbas e na extensão do cemitério descoberto no local. Ali foram encontrados seiscentos esqueletos de pessoas identificadas como egípcios comuns, encontrados em outros cemitérios do Egito. Muitos desses esqueletos apresentam evidências de que receberam tratamento de emergência, indicando a ocorrência de acidentes durante a construção. Doze deles mostram sinais de acidentes em suas mãos. Outro mostra claramente que uma pedra, possivelmente, caiu sobre uma de suas pernas. Ela foi amputada e esse homem ainda viveu quatorze anos depois disso. Uma equipe do Centro de Pesquisa Nacional radiografou esse esqueleto e pôde determinar a sua idade, bem como a o período estimado de calcificação do osso, no local da amputação. Os esqueletos encontrados eram de homens na faixa entre os trinta e os trinta e cinco anos. Foram esses egípcios que seguramente construíram as pirâmides, afirma Zahi. Grupo de operários trabalhando com malhos e cinzéis Reconhece, porém, que nenhum livro ou inscrição explicou exatamente como se deu todo o processo de construção. Todos os teóricos afirmam, por exemplo, que as pedras foram trazidas de Tura, a aproximadamente cinco milhas a leste da pirâmide, o que não é verdade. Os blocos foram trazidos do planalto, exceto as pedras da cobertura, que vieram de Tura, e o granito da câmara funerária, que foi trazido de Assuã. Um dos pontos chaves para identificação da pirâmide é uma inscrição posicionada acima da câmara mortuária de Queóps, indicando-a como o túmulo desse faraó. Algumas pessoas afirmavam que essa inscrição era falsa. Zahi informa que visitou o local, iluminando-o como jamais fora iluminado antes. Todas as inscrições puderam ser lidas uma a uma. Os trabalhadores envolvidos na construção da Grande Pirâmide foram divididos em grupos e cada grupo tinha um nome e um inspetor. Esses nomes foram escritos na câmara. Algo como uma espécie de pichação moderna, resultando em inscrições como "amigos de Queóps". Era uma forma dos participantes deixarem registrado que estiveram ali e que participaram daquele trabalho considerado de muita importância para eles e para todo a sua nação. Era algo de que se orgulhavam, um projeto nacional do qual todos tinham de participar e queriam participar, já que não eram forçados a isso. Hawass lembra apropriadamente que, para serem feitas, essas inscrições exigiram que seus autores tivessem entrado na pirâmide. Estão presentes em todas as cinco câmaras e são diferentes das outras inscrições deixadas no exterior da construção. Não há como justificar a existência dessas inscrições, a não ser que tenham sido postas lá por ninguém menos que os operários. Foram feitas num local acessível apenas com o uso de uma plataforma ou de um andaime. Ninguém se daria ao trabalho de fazê-las ali, quando poderia deixá-las registradas nas paredes, sem necessidade de qualquer outro transtorno. Não há que se negar o mérito desses dois arqueólogos, que escavaram ao redor das pirâmides, buscando a verdade a respeito do assunto. As evidências enumeradas, no entanto, ainda hoje não convencem. Um canteiro de obras que durou vinte anos, envolvendo não menos do que trinta mil operários, trabalhando de sol a sol, deixou para a posteridade um cemitério com apenas seiscentos esqueletos. É impossível analisar tudo que se refere às pirâmides sem se usar números. Talvez este seja o erro comum a todos os pesquisadores. Haveria a necessidade de se abstrair da frieza dos números e buscar respostas em outras áreas, mas não há como fugir à constatação. As normas de trabalho deveriam ser muito rígidas e os cuidados extremos, para somente ocorrer uma morte na obra a cada doze dias. Quanto às inscrições, elas provam apenas que, naquela câmara mortuária, foi enterrado, um dia, um faraó chamado Queóps. Isso é inquestionável e não é o cerne de toda a questão. A dúvida era se essa pirâmide já existia antes e foi usada como túmulo pelo rei. Que houve obras ali durante o seu reinado e que gente circulou, viveu, comeu pão e morreu, ninguém duvida. A natureza do trabalho deles é que suscita dúvidas. Estiveram ali adaptando uma tumba na construção já existente ou realmente a construíram inteiramente? TEORIAS E MISTÉRIOS DA GRANDE PIRÂMIDE Mark Lehner e Zahi Hawass, o diretor geral de Gizé, explicaram como isso foi possível naquele tempo, recriando, inclusive, o processo de construção. Segundo eles, as três pirâmides menores, próximo da Grande Pirâmide são provavelmente tumbas para os parentes do sexo feminino, como as rainhas de Queóps. As teorias, no entanto, não param por aí. Um número limitado de católicos e protestantes estava convencido de que a pirâmide era uma mensagem do próprio Deus, falando do Messias. Para se defender essa teoria, é preciso concluir que o construtor era alguém muito versado sobre a Terra e que teve a sua disposição uma tecnologia além da que nós possuímos hoje. O projetista da Pirâmide também deveria ter, da forma mais ampla possível, conhecimento e controlo sobre o futuro para saber quando e onde a pessoa mais importante na história da humanidade nasceria, quando morreria e que impacto causaria no destino das pessoas a partir de sua morte. Segundo outra teoria de caráter religioso, a pirâmide conteria a mensagem da vinda do Messias esperado pelos judeus. Depois dessas, fica fácil passar para a teoria de que os construtores da Grande Pirâmide foram visitantes vindos de outro planeta. Se tinham conhecimento avançado para realizar viagens intergalácticas, com certeza seria fácil erigir a construção. Mas com que objetivo eles o fariam, se não deixaram nenhuma mensagem clara de suas intenções? Teria sido apenas uma base temporária? Mas porque essa geometria específica? Porque um próximo do deserto, e não outro, mais aprazível e com recursos naturais mais à mão? Um sábio chamado Sitchin foi um dos defensores mais famosos das teorias de astronautas. Acreditava que os visitantes teriam sido os habitantes do décimo segundo planeta de nosso sistema solar, um planeta que completa sua órbita ao redor do sol só uma vez a cada três mil e seiscentos anos e que estará novamente perto de terra em 2013. Um extraterrestre chamado Annunaki criou o gênero humano por manipulação genética. Sitchin está convencido de que os viajantes espaciais estrangeiros voltarão à Terra em breve. Sitchin tem muitos seguidores, entre eles inclui-se um general americano. Afirma ele que o local da aterrissagem já está definido em uma área chamada de Eridu, no Iraque. O motivo principal que impediu a captura de Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo porque estava oculto numa pirâmide construída por essa raça visitante. Os americanos não ousaram bombardear o local por causa do inestimável valor histórico, e estratégico, do local. Bauval e Gilbert são fundadores da teoria de Orion, uma ramificação da teoria dos astronautas, publicada num livro chamado "O Mistério de Orion." A tese central deles é que as três pirâmides menores estão alinhadas precisamente como as 3 estrelas da Nebulosa de Orion, e que as linhas dentro da pirâmide apontam diretamente para Orion. As pirâmides de Gizé reproduziam o destino de Duat, o Rei. Longe de ser uma tumba, a pirâmide indicava o ponto de partida da viagem do Rei às estrelas, de onde ele viera. A maioria das teorias que defendem a construção pelos astronautas antigos concorda que a grande pirâmide foi construída há dez mil anos, o que é quase o dobro do tempo de existência aceito pela egiptologia tradicional. Graham Hancock, em "Impressões Digitais dos Deuses", demonstra que o desgaste produzido pela ação da água, encontradas nas pirâmides, deveria ter sido produzido há muito mais tempo, já que, a partir de quatro ou cinco mil antes atrás é que o clima em Gizé se tornou árido demais para que isso ocorresse. As cheias do Nilo jamais atingiriam o nível nem produziriam a ação comentada por esse estudioso. Tom Smith apresenta evidência que apoiam a teoria de que as pirâmides têm pelo menos cinco mil anos e não mais do que onze mil. Para ele, os construtores fizeram parte de uma civilização de humana primitiva, que surgiu há aproximadamente seis mil anos atrás. As Pirâmides de Gizé e a Esfinge são as únicas relíquias desse povo. Edgar Cayce também estava convencido de que 10.000 AC é a data correta. Foi ele quem criou uma teoria nova na qual a Atlântida faz o papel central na construção das pirâmides. Mas se a Grande Pirâmide não era uma tumba, o que era então? Um estudo feito Zecharia Sitchin, em 1980, realçou a relação geográfica entre Gizé e uma plataforma de pedra colossal em Baalbek, no Líbano. A conclusão era que as pirâmides de Gizé seriam as balizas que guiavam os pilotos das espaçonaves para o local de aterrissagem em Baalbek. Alan F. Alford foi ainda mais longe, convencido de que a pirâmide era um depósito de água para uma fábrica química de gases. Algumas teorias basearam seus fundamentos na matemática antiga e na astronomia, envolvendo cálculos mirabolantes de todas as naturezas. Terrance G. Nevin elabora sua teoria baseada na importância do olho de hieróglifo egípcio à compreensão matemática da pirâmide. Bruce A. Rawles compartilha essa perspectiva desenvolvendo uma Geometria Sagrada. Joseph Edward Batter realizou um estudo matemático detalhado no qual o papel principal é desempenhado pelo pi, equivalente 3,1416. Deixando de lado essas especulações, é interessante descobrir quem abriu a câmara do rei pela primeira vez na história. A hipótese mais provável é de que tenha sido o Califa Abdullah Al Manum, que em 820 d.C, procurando o tesouro de Queóps, descobriu a câmara da rainha e a do rei, além de várias passagens. Na Câmara do Rei ele encontrou apenas um caixão de granito vazio. Desde então, as pessoas desejam saber se aquele era, na realidade, um sarcófago, ou se Queóps jamais foi enterrado nessa pirâmide. Caixão de granito do túmulo de Queóps As passagens também deram margem a muita discussão. As descobertas feitas pelo robô UPUAT-2, de Rudolf Gantenbrink, proibido pelo governo egípcio de continuar a investigação, mostram que esse capítulo ainda não foi devidamente encerrado. Diversos aspectos arquitetônicos no interior da câmara funerária, passagens e outros detalhes jamais foram explicados adequadamente. Compartimentos no teto ainda não foram compreendidos. A passagem estreita existente do topo da galeria principal e ligada à câmara é de origem e utilidade desconhecidas. Os quatro compartimentos restantes foram relacionados como tendo uma função puramente estrutural, tendo sido lacrados desde que a pirâmide fora construída. Só podiam alcançados através de túneis e barreiras removidas com explosivos. Uma estela localizada na tumba indica a Esfinge e a Grande Pirâmide, além das outras estruturas encontradas no planalto, já existiam muito tempo antes de Queóps assumir o trono, conforme citado no livro "Impressões digitais dos Deuses". A autenticidade dessa estela é negada por muitos estudiosos, mas nenhuma argumentação sólida fundamenta essas afirmações. Em resumo, as pirâmides continuam em pé, ostentando seus mistérios e dando origem às teorias. Quem sabe no ano próximo de 2013 tenhamos a oportunidade de comprovar o acerto ou o absurdo de, pelo menos, uma delas... Depois de todas essas teorias, talvez seja o momento exato de acrescentar algumas informações esclarecedoras a respeito delas. O efeito é devastador. Muito mais do que esclarecer, aliás, essas informações tem o condão de confundir e suscitar ainda mais dúvidas e questionamentos a respeito das "coincidências" que se somam incomodamente, a despeito de todos os protestos dos egiptólogos tradicionais e seus métodos científicos. Para começar, é perturbador saber que a altura da Pirâmide de Queóps, multiplicada por um bilhão, corresponde aproximadamente à distância Terra ao Sol, algo próximo dos cento e cinquenta milhões de quilômetros. Se a terra fosse uma grande laranja e usássemos uma enorme faca para cortá-la exatamente a partir do centro da Grande Pirâmide, dividindo continentes e oceanos, obteríamos duas metades exatamente iguais. Para quem está habituado aos conceitos matemáticos, esta é fácil: a circunferência (região de um plano limitada por uma círculo) da pirâmide, dividida pelo dobro de sua altura, tem como resultado o famoso número de Ludof, o pi, igual a 3,1416. O que dizer dessas coincidências? Até hoje, todas as tentativas de recriar réplicas em escala menor da Grande Pirâmide, utilizando os parcos recursos disponíveis na época, falharam. Alguns estudiosos ousam mesmo afirmar que, em pleno século XXI, nenhum arquiteto, por mais capacitado que fosse, tendo a sua disposição todos os modernos recursos técnicos disponíveis em todas as partes do mundo, seria capaz de construir algo semelhante à Pirâmide de Queóps. O desafio imposto pelos cento e cinquenta metros de altura, pelas mais de trinta e um milhões de toneladas e pelos dois milhões de blocos gigantescos seria uma empreitada além da capacidade de um evoluído e altamente capacitado técnico do Terceiro Milênio. O trabalho seria insano: recortar os blocos nas pedreiras, desbastá-los e prepará-los para que se encaixasse de tal forma que um fio de cabelo não passaria entre eles, transportá-los até a construção e montá-los perfeitamente encaixados. Depois, designar artistas para efetuar minuciosos desenhos coloridos ao longo de todas as paredes e galerias. Logicamente o trabalho seria facilitado pelo uso de potentes lâmpadas elétricas que iluminariam os interiores escuros como se estivessem à luz do sol. Nada comparado ao que foi feito pelos artistas egípcios, usando tochas que... incrivelmente, não deixaram nenhum vestígio de fuligem, fumaça ou cinzas na tinta fresca! Ninguém até hoje aceitou o desafio. Ninguém até hoje ousou financiar essa obra monumental. Pensando assim, fica difícil aceitar que as pirâmides, como um todo, tenham sido apenas e tão somente meros túmulos para encerrar a vaidade humana e o desejo de imortalidade dos faraós. Para finalizar, uma dimensão do trabalho que representaria, naquele tempo, a movimentação dos imensos blocos de pedra pode ser deduzida da reprodução de uma imagem pictórica daquele período. Uma imagem mostra o que parece ser o transporte de uma grande estátua. Na imagem recortada se pode perceber a ação de um operário, molhando o caminho por onde deslizará o trenó, carregando a estátua com aproximadamente dez metros de altura. Notese o número de homens envolvidos, apenas no foco central da cena. Quantos mais estariam envolvidos na tarefa? Imagine o mesmo trabalho, rampas acima, arrastando blocos de pedra à razão de um a cada dois minutos. Nem a melhor guarnição de guardas de trânsito conseguiria administrar isso! É por isso que, quanto mais se estuda as pirâmides, mais dúvidas elas provocam! O transporte de uma estátua Todas essas especulações às perguntas sem respostas são reforçadas por ocorrências fortuitas que vieram acrescentar novos pontos de interrogação a todo esse emaranhado de enigmas. É preciso lembrar que os hoje conhecidos corredores e as câmaras localizadas no interior da Grande Pirâmide de Queóps, somente foram descobertos por obra do acaso. Um enorme bloco de pedra, que bloqueava o Corredor Ascendente, ruiu naturalmente. Se isso não tivesse ocorrido, como deveria ter sido o propósito inicial dos construtores, essa passagem jamais seria conhecida. Esse acontecimento faz supor que, com toda certeza, não apenas na pirâmide de Queóps, mas em todas as outras, deve haver dezenas ou centenas de passagens e corredores ainda desconhecidos, protegidos por blocos de pedra cuja remoção fatalmente implicaria em danos irreparáveis a todo o conjunto. Aonde levariam, o que conteriam, ninguém sabe ainda e não há como descobrir. Há algum tempo, uma equipe de pesquisadores utilizou um pequeno robô para investigar as estreitas passagens existentes na pirâmide de Queóps, mas o trabalho foi interrompido e proibido, após as primeiras e inquietantes descobertas, que indicavam a existência de estruturas estranhas, semelhantes a armadilhas. O pequeno robô e as estranhas estruturas Essa hipótese encontra respaldo na comprovação de que, na Pirâmide Torta, foram encontrados enormes blocos de pedra fechando uma das câmaras. Removê-la implicaria em pôr em risco toda a pirâmide e ninguém jamais correria esse risco extremo. AS NOVAS TEORIAS TEORIAS E INDAGAÇÕES Diante de todas as indagações ainda sem respostas levantadas sobre a Grande Pirâmide e, por extensão, sobre todas as pirâmides, estudiosos continuam pesquisando e buscando respostas. Para aumentar essa confusão toda, há um trecho do relato de Heródoto, onde ele narra o seguinte: "Foi um trabalho realmente complexo o da construção da pirâmide. Para levar o cascalho aos diversos planos empregavam-se máquinas feitas de pequenos pedaços de madeira e situadas em diferentes alturas. Ao chegar o cascalho ao primeiro plano, era colocado em outra máquina, que o levava para a segunda, onde outra máquina o transportava para a máquina terceira, e assim sucessivamente, até o alto do monumento." Novas teorias a respeito do assunto surgem a todo momento, procurando explicar como foi possível erigir, num espaço de tempo de vinte anos, uma estrutura com dois milhões e seiscentos mil blocos enormes de pedra. A área de atuação desses estudiosos não limita sua participação no debate. Há teorias formuladas por ufólogos e por religiosos, por arquitetos e por ocultistas. Uma das teorias mais recentes e interessantes já surgidas é a de um químico famoso, chamado Joseph Davidovits, professor da Universidade de Toronto, no Canadá, diretor do Instituto de Ciências Arqueológicas Aplicadas da Universidade Barry, da Flórida. Sua fama adveio de sua descoberta mais importante, a química dos geopolímeros, revolucionária criação aplicada à construção civil. Seus argumentos e suas conclusões são perturbadoramente sólidos. Em sua tese, Davidovits nega todas as afirmações da arqueologia clássica, afirmando categoricamente que as serras de cobre podiam cortar madeira, mas jamais poderiam cortar o tipo de granito resistente usado na Grande Pirâmide. Com os implementos de cobre que a arqueologia tradicional admite terem sido usados, os egípcios não teriam conseguido cortar as centenas de milhares de blocos de calcário num tempo de vinte anos. Outro tipo de metal não foi usado porque o uso do bronze só surgiu no Egito quase um milênio depois da construção da Grande Pirâmide. O ferro só apareceria bem mais tarde, no Império Novo e, mesmo assim, era muito raro. Davidovits reforçou os argumentos de que aquelas construções são anteriores à época do reinado de Queóps e que a prova mais evidente de que foi usada uma tecnologia sofisticada muito diferente da existente na época é a datação feita em 1987, usando o método do radiocarbono. Os resultados indicaram que a Grande Pirâmide era quase quinhentos anos mais antiga do que o admitido pela egiptologia clássica, que, obviamente, contestou veementemente essa afirmação científica. Outro aspecto apontado por Davidovits é que, diferentemente do que afirma a egiptologia tradicional, o tamanho dos blocos se mantém ao longo de toda a construção. Os blocos da parte superior não são menores do que os da base. Afirma ele que existem centenas de enormes blocos, menores apenas do que as pedras da base. Esses blocos pesam entre quinze e trinta toneladas e estão localizados à altura aproximada da câmara funerária do faraó, a chamada Câmara do Rei. Proporcionalmente, são tão grandes que equivalem o tamanho de dois degraus da pirâmide. Afirma ainda que há, nitidamente, dezenove flutuações nas alturas dos degraus e dez medidas perfeitamente uniformes nos comprimentos. Para chegar a essa constatação, Davidovits mediu cerca de dez por cento da área da pirâmide. Diz ele textualmente: "Elimina-se, dessa forma, toda possibilidade de que os blocos foram cortados em tamanhos aleatórios, determinados por rachadura e outras características do leito rochoso. Tentativas de explicar a preparação e uso de blocos de dimensões tão uniformes, baseadas na hipótese de corte, depararam com enormes dificuldades. Este grau de uniformidade exclui totalmente a possibilidade de corte com instrumentos primitivos." Para reforçar essa argumentação, dois arqueólogos e arquitetos, George Perrot e Charles Chipiez, após analisar as esculturas egípcias do Império Antigo, levantaram a seguinte questão: "Como conseguiram os escultores cinzelar essas rochas tão duras? Ainda hoje, isto é muito difícil, mesmo usando os melhores cinzéis de aço temperado. O trabalho é muito lento e difícil, e o artista se vê obrigado a parar com frequência para afiar o gume do cinzel – que se torna rombudo em contato com a pedra – e, em seguida, retemperá-lo. Os contemporâneos de Quéfren – e todos concordam com isto – não possuíam cinzéis de aço. Essa questão ganha uma importância perturbadora quando se observa que, ao longo do Império Novo e mesmo nas épocas posteriores, os egípcios jamais voltaram a realizar trabalhos semelhantes, apesar de já disporem de instrumentos mais resistentes, feitos de bronze. Esse fato tem incomodado os pesquisadores, que não encontraram ainda respostas para essa indagação. Champollion, o pesquisador que conseguiu decifrar os hieróglifos, manifestou sua surpresa diante da qualidade inferior das estruturas construídas durante o Império Novo. Roziere, um geólogo que fez parte da equipe de cento e cinquenta cientistas que foram levados ao Egito por Napoleão, estimou que apenas nas pirâmides de Gizé havia mais blocos de pedra do que em todas as obras feitas nos períodos seguintes. E diga-se ainda que, segundo estimativas do geólogo de Roziere, um dos 150 cientistas que acompanharam Napoleão ao Egito, há mais pedras nas pirâmides de Gizé do que em todas as obras construídas no Egito nos mil e quinhentos anos que constituem o Império Novo, o Período Tardio e o Período Ptolomaico juntos. Outra constatação intrigante é a de que os monumentos levantados a partir do Império Novo usaram variedades de pedras mais fáceis de serem trabalhadas e, por conseguinte, mais apropriadas ao tipo de ferramentas de que disponham. Material rochoso duro como o usado nas pirâmides não foi encontrado nessas obras posteriores. Nos templos de Luxor, Karnak, Edfu, Esna e Dendera usaram um arenito chamado psamito (designação comum aos arenitos ou rochas sedimentares clásticas formadas de elementos que, embora finos, são visíveis a olho desarmado, como, por exemplo, a argila, o saibro, o arenito, formadas de fragmentos de outras rochas) Esse arenito não resiste a uma pressão mais forte e, com certa frequência, pode ser arranhado com a unha apenas. Não se deve perder de vista que esse material mais fácil de ser trabalhado e entalhado foi usado quando o uso do ferro já era conhecido no Egito. Abu Simbel foi escavado numa montanha de arenito macio, enquanto o calcário usado em Gizé vinha de Tura, muito mais duro e difícil de trabalhar. Além disso, outra diferença gritante chama a atenção, quando se compara essas construções As construções feitas a partir do Império Novo usam, em sua maioria, blocos de pequenas dimensões contra os enormes blocos usados nas pirâmides de Gizé. Ainda segundo Davidovits: "As pirâmides do Império Antigo consistem fundamentalmente em calcário abundante e carcaças fósseis, um material heterogêneo, de corte extremamente difícil. Templos de fins da XVIII dinastia (1400 anos a.C.) são encontrados por todo o Egito. Foram construídos com calcário branco muito macio, mesmo quando erigidos em regiões inteiramente graníticas, como no sul. Após a XVIII dinastia, o emprego de calcário macio cedeu finalmente lugar ao arenito mole. Arenito de Silsilis, no sul do Egito, foi usado para construir os templos de Karnak, Luxor e Edfu, à época do Império Novo. O material é homogêneo, mole e fácil de desbastar. Nisso reside a grande contradição tecnológico do Egito: numa ocasião em que as ferramentas eram de pedra e cobre, utilizou-se um volume enorme de variedades duras de pedra, mas assim que foram adotados o bronze e o ferro, os egípcios usaram apenas os materiais mais frágeis. Há mais do que prova abundante para confirmar a existência de dois diferentes métodos de construção em alvenaria, usados em épocas distintas e com resultados muito diversos.” Isso não chocaria de forma alguma se não fosse um exemplo único de como uma tecnologia involuiu com o passar do tempo, ao invés de evoluir, como ocorreu com todas as tecnologias, em todas as culturas, ao longo da História da Humanidade, desde a descoberta do fogo. Nada disso é explicado pela egiptologia tradicional. Mais instigante ainda foram os resultados do trabalho de uma equipe de geoquímicos alemães, que desenvolveu um projeto para analisar os métodos de extração utilizados historicamente nas pedreiras do Egito. Contrariando todas as expectativas, não descobriram vestígios de que essas pedreiras tenham sido exploradas antes de 1600 a. C. A pergunta é fatal: como foram retiradas as pedras usadas nas pirâmides? Uma das descobertas mais importantes feitas por essa equipe foi a de que o método de extração de blocos de pedra usando cunhas de madeira nunca fora empregado pelos egípcios, mas, sim, pelos romanos, durante a ocupação. Como argumento para isso é apontado o fato de que, num método tosco e rudimentar como aquele, fatalmente o volume de perdas, resultando em blocos imprestáveis, teria sido enorme e gerado uma montanha de detritos que seria detectada ainda hoje. Outro aspecto importante das conclusões feitas por Davidovits refere-se à teoria do uso de rampas para o transporte dos blocos de pedra. Historicamente, os romanos introduziram as polias no Egito e o uso da roda teve início a partir do Império Médio. Assim, a única opção conhecida para o transporte dos blocos era o uso de rampas. Só que isso, ao invés de ser uma solução, acaba resultando novas questões, uma vez que não foram encontrados vestígios de nenhuma rampa capaz de receber o tráfego resultante da construção da Grande Pirâmide. Os vestígios encontrados indicam a presença de pequenas rampas, destinadas possivelmente a facilitar a escalada da pirâmide. A famosa estela de Tura, encontrada nas pedreiras por arqueólogos no século XIX mostrava um bloco de pedra sobre um trenó, puxado por parelhas de bois. Sobre isso, argumentou Davidovits: "(A estela de Tura) ...não constitui prova aceitável em apoio à teoria tradicional de construção, uma vez que foi erigida aproximadamente mil anos após a construção da Grande Pirâmide. A estela de Tura e outros documentos usados para apoiar a teoria tradicional são produtos de uma sociedade que explorava tecnologia diferente da de seus ancestrais. Todas as civilizações duradouras e bem sucedidas forçosamente tiveram tecnologias novas e outras que declinaram." A dedução é inevitável. Descartando qualquer intervenção divina ou atuação de seres de outros planetas, de passagem pela terra, é preciso reconhecer que uma tecnologia totalmente desconhecida foi usada na construção das pirâmides de Gizé. Uma tecnologia que, ao arrepio da história, desapareceu inexplicavelmente. Davidovits leva isso em consideração e cita fatores que podem ter provocado o desaparecimento dessa tecnologia. Entre eles, há os períodos de anarquia ocorridos na história do Egito, as invasões estrangeiras, o desastroso incêndio da Biblioteca de Alexandria, as profanações e saques dos túmulos, que empregaram técnicas destrutivas, como explosivos e aríetes. Para ele, não há como negar que "uma grande tecnologia esquecida foi usada na construção das pirâmides." A RESPOSTA Davidovits afirmou: "...a ciência que tornou possível as pirâmides foi a química, ou mais exatamente, sua precursora, a alquimia." Tudo começou quando, há milhares de anos atrás, por volta de 4000 a.C., um curioso ou um sábio misturou dois pós de minerais diferentes, a crisocola e o natrão, aquecendo em seguida. O resultado foi um esmalte duro, com uma brilhante cor azul. A essa técnica passou a ser aplicada em contas e pedras. Ninguém desconhece hoje o fato de que os antigos egípcios usaram com frequência a crisocola e lápislazúli para produzir esmaltes. A palavra usada para esses produtos é muito significativa: ari-kat (feito pelo homem, sintético). Essa constatação é importante para se entender que, naquela época, é perfeitamente possível que os construtores já conhecessem a arte de fabricação e o emprego do cimento. E isso é comprovado porque, em vários locais da Grande Pirâmide foi encontrado cimento que, mesmo que quase com cinco mil anos de idade, encontrava-se ainda em boas condições. A argamassa usada – e isto é incrível – é em muito superior ao cimento usado hoje em dia na construção civil moderna. A prova disso encontra-se nos monumentos egípcios, onde foi usado o cimento Portland para reparos. Após cinquenta anos, esse cimento já estava rachado e degradado. Toda essa farta argumentação apresentada por Davidovits, dentro de seus estudos, vem respaldar a seguinte tese: "Se os egípcios antigos possuíam capacidade de produzir cimento de qualidade excepcionalmente alta, o que os impediria de adicionar ao mesmo carcaças fósseis a fim de produzir concreto calcário de primeiríssima qualidade? A resposta é que nada os impediu. Demonstrarei adiante que os blocos da pirâmide não são pedra natural, mas, na verdade, concreto de calcário de qualidade excepcionalmente alta — pedras sintéticas — moldadas diretamente no local. Os blocos consistem de cerca de 95% de pedregulho de calcário e de 5 a 10% de cimento. Constituem imitações de calcário natural, fabricados segundo a antiquíssima tradição de produção alquímica de pedras. Nenhum corte de pedra ou exaustivas operações de arrastamento ou levantamento foram jamais necessárias à construção das pirâmides." Para comprovar, basta revisar as evidências já encontradas no que se refere à construção das grandes pirâmides. Os egípcios tinham ferramentas de cobre, que facilmente podiam ser usadas para serrar e aplainar madeira. Usando troncos de árvores do Líbano, não tiveram dificuldade alguma para trabalhá-los e extrair tábuas que foram empregadas como moldes. Carpinteiro extraindo tábua Para fabricar cimento era necessária a cal, que era obtida do aquecimento do calcário, da dolomita ou da magnesita em fornos. Essa prática já vinha sendo usada desde há dez mil anos atrás. O cascalho de calcário necessário à fabricação dos blocos era retirado das pedreiras, sem maiores preocupações quanto a sua uniformidade ou cuidados com sua extração. Davidovits assim explica o processo todo: "Água, provavelmente trazida tão perto quanto possível por um canal, era usada para inundar o leito rochoso de Gizé e saturá-lo e facilitar a desagregação. O calcário de Gizé torna-se tão macio quando saturado, que pode ser facilmente quebrado em pedaços, quando inserido nele um tarugo de madeira. O corpo da Grande Esfinge foi esculpido, à medida que o calcário lamacento era apanhado em baldes para a fabricação dos blocos da pirâmide. Homens chapinhando em calcário molhado, lamacento, enquanto trabalham sob o calor do deserto, faz muito mais sentido do que quebrando pedra nas pedreiras em um deserto quente e poeirento, como exigido pela teoria tradicional." O endurecimento da massa era conseguido em algumas horas, com o uso de minerais arsenicais e outros tipos de minerais tais como a turquesa e a crisocola. Esses minerais foram retirados em quantidades enormes das minas do Sinai, numa época que corresponde ao período de construção das Grandes Pirâmides de Gizé. Outros minerais necessários, como a alumina, eram retirados da lama do rio Nilo, e o natrão, encontrado em abundância nos desertos e nos lagos salgados, muito usados também no processo de preparação das múmias. A comprovação de que essa teoria é se sustenta pode ser encontrado no resultado do trabalho de uma equipe de pesquisadores que, em 1974, tentou encontrar câmaras ocultas na pirâmide de Queóps. O projeto teve de ser interrompido porque havia tanta umidade no interior da pirâmide que obstruía a transmissão das ondas eletromagnéticas. O fato surpreendeu os pesquisadores, pois a pirâmide está construída em solo rochoso, de calcário natural, que de Gizé é relativamente seco e apenas concreto poderia estar saturado de umidade, fenômeno também observado nas estruturas modernas construídas com essa tecnologia. Davidovits que os blocos de pedra que pesquisou possuíam uma camada superior mais fraca, menos densa e mais erodida. Explica-se esse fato porque, ao produzir a argamassa, os agregados mais pesados acomodavam-se no fundo do molde. Isso foi observado em todos os blocos que analisou. Além disso, o fato de os blocos seguirem um padrão de medição indica claramente que foram usados moldes padronizados para os diversos estágios da pirâmide. O resultado final dessa moldagem eram blocos que se assentavam perfeitamente, não deixando espaço para a passagem de um fio de cabelo que fosse. Heródoto, em sua obra, jamais declarou que os blocos de pedra haviam sido talhados e transportados pirâmide acima. Fala de cascalho e a palavra grega usada por Heródoto, no original de seu relato, foi mechane, que indica algo inventado ou fabricado. Na época, era uma palavra genérica, usada para expressar uma tecnologia que o grego desconhecia e que lhe foi narrada por alguém que não estivera presente durante a construção e que sabia dos detalhes apenas por ouvir falar. Onde Heródoto cita que foram usadas máquinas na construção, Davidovits afirma que eram moldes e que o mesmo trecho, substituindo-se a palavra máquina por molde, resultaria no seguinte texto coerente: "Foi um trabalho realmente complexo o da construção da pirâmide. Para levar o cascalho aos diversos planos empregavam-se moldes feitos de pequenos pedaços de madeira e situados em diferentes alturas. Ao chegar o cascalho ao primeiro plano, era colocado em outro molde, que o levava para o segundo, onde outro molde o transportava para o terceiro, e assim sucessivamente, até o alto do monumento." Até que surgisse outra teoria mais sólida, a hipótese de Davidovits era perfeitamente aceitável, desvendando os mistérios que envolveram a construção das Grandes Pirâmides. Que mistérios ainda se escondem em seus túneis, passagens e câmaras secretas é um capítulo que apenas o tempo poderá desvendar. Por que a Pirâmide de Queóps estava vazia ou onde está o corpo desse faraó, entre outras, são questões que continuarão desafiando o tempo. E o tempo é algo que as pirâmides têm sabido enfrentar até agora. Modernamente, novas pistas surgiram com uma série de teorias que podem ser englobadas numa só: a Teoria dos Antigos Astronautas. Essa teoria liga as pirâmides à passagem pela Terra de antigos astronautas, vindos de outras galáxias e que, de certa forma, influenciaram os destinos da humanidade e deixaram marcas de sua passagem por toda parte, principalmente nessas misteriosas construções. Que métodos ou mecanismos usaram continuam mistério, mas a mais interessante dedução é a que inverte drasticamente a cronologia das pirâmides. Embora controversa, essa teoria tem até sua lógica, quando se tem em mente que poderiam ter sido construídas por um povo com limitado conhecimento para a época e ferramentas rústicas. Em resumo, os egípcios já encontraram as pirâmides prontas. Suas tentativas de recriá-las resultaram nos projetos fracassados que hoje ainda são considerados os precursores das construções. O certo é que as pirâmides continuam com seus mistérios, gerando teorias, mas nenhuma explicação definitiva.