Atividade solar e suas implicações na Terra Pelo Dr. Enos Picazzio Dentre as estrelas, o Sol é considerado uma estrela anã de temperatura moderada (5.500ºC). Mas, se comparado ao nosso planeta, ele é enorme: seu diâmetro é aproximadamente 109 vezes maior e sua massa equivale a de quase 333 mil Terras. Sozinho, ele concentra 99,9% de toda a matéria do Sistema Solar. Como as demais estrelas, o Sol produz energia transformando hidrogênio em hélio. A cada segundo, ele converte 600 milhões de toneladas de hidrogênio em 596 milhões de toneladas de hélio e libera energia equivalente a 40 bilhões de milhões de toneladas de TNT. A produção dessa energia ocorre no núcleo do Sol e ela pode gastar cerca de 1 milhão de anos para chegar até a parte externa visível do Sol, que denominamos fotosfera (palavra de origem grega que significa esfera de luz). Olhar para o Sol sem a proteção adequada de um filtro solar pode causar danos irreversíveis aos olhos. Um dos fenômenos característicos da fotosfera é a mancha solar. Ela é mais escura porque sua temperatura é menor que a da fotosfera. As manchas estão associadas a campos magnéticos bem mais intensos que o campo magnético terrestre nos polos. Fotosfera solar com algumas manchas. Coroa solar no eclipse de 01/08/2008. (http://xjubier.free.fr/si(Marshall Space Flight Center) te_stickers/solar_corona_shape/2008_08_01_Druckmuller.jpg) Durante um eclipse solar total, o disco lunar encobre a fotosfera e expõe a atmosfera solar. Ela é composta de duas partes. A baixa atmosfera é de cor avermelhada, por isso é denominada cromosfera (esfera colorida). Sua temperatura pode chegar a 25.000°C. A alta atmosfera, denominada coroa solar, é muito mais quente. Sua temperatura ultrapassa 1.000.000°C. Durante um eclipse solar, a coroa é vista sem auxílio de instrumento e sua cor é branca. Não há perigo em se observar a coroa solar durante a totalidade. Aparentemente o Sol é um astro calmo. As diferenças nas condições climáticas durante as estações sazonais não são provocadas pela variação da Naturale dezembro/janeiro - 2012 luminosidade do Sol, nem pela variação anual da distância da Terra ao Sol. As estações sazonais são consequência da variação na distribuição da insolação provocada pela inclinação do eixo de rotação da Terra. No entanto, quando a análise da variação climática é feita em longa escala de tempo nota-se uma correlação entre as variações climáticas e o comportamento do Sol. Além de luz e calor, o Sol emite elétrons e prótons em quantidades iguais e, em menor escala, hélio e outros elementos químicos de maior massa. Esse fluxo de matéria ionizada (portanto portadora de carga elétrica) é denominado vento solar. O vento solar permeia o espaço e incide sobre a Terra e os demais planetas. Uma das consequências dessa interação é vista na Terra como auroras polares: aurora boreal no hemisfério norte e aurora austral no hemisfério sul. As auroras variam em intensidade e ocorrência durante um ciclo de aproximadamente 11 anos. Durante esse ciclo a quantidade de manchas solares também varia entre um máximo e um mínimo. Quando a quantidade de manchas é máxima, as auroras são mais frequentes e mais intensas. Nessa época o Sol está em máxima atividade. Na época de atividade solar mínima há poucas manchas solares, ou mesmo nenhuma, e as auroras polares são mais raras e pouco intensas. A variabilidade cíclica do número de manchas já é conhecida desde o século XVII, mas foi em 1843 que Samuel Heinrich Schwabe (1789-1875) comprovou o ciclo após 17 anos de observação. Em 1849 Rudolf Wolf (1816-1893) propôs uma fórmula para avaliar a quantidade de manchas solares, que ficou conhecida por Número de Wolf. O ciclo entre 1755 e 1766 analisado por Wolf foi definido como “ciclo 1”. Atualmente estamos no ciclo 24, que começou em 2008 e terminará em 2019. O estudo do ciclo solar relativo ao período anterior ao analisado por Wolf pode ser feito avaliando a quantidade de carbono 14 (14C), usado para datação de fósseis) em troncos de árvores de grande longevidade. O 14C é produzido quando raios cósmicos (núcleos de elementos químicos, principalmente de hidrogênio e hélio, que se movimentam pelo espaço cósmico com velocidades próximas a da luz) colidem com o nitrogênio 14 (14N) na atmosfera. A quantidade de raios cósmicos que penetram a atmosfera terrestre é maior quando o Sol está em baixa atividade e diminui à medida que o Sol vai se tornando mais ativo. Quanto mais intenso for o vento solar, mais ativada ficará a magnetosfera, dificultando ainda mais a penetração dos raios cósmicos. 7 O ciclo solar influencia significantemente o clima na Terra. Quando o Sol está no período de atividade mínima as temperaturas médias são mais baixas. Temperaturas médias mais elevadas estão correlacionadas com ciclos solares mais longos. Entre 1645 e 1715 o número de manchas ficou bem abaixo do normal. Essa anomalia ficou conhecida como Mínimo de Maunder, em homenagem a Edward W. Maunder, que estudou como as latitudes das manchas solares mudam com o tempo. A Pequena Era Glacial pode estar (pt.wikipedia.org/wiki/Minimo_de_ Maunder) relacionada a essa calmaria solar. Nesse período, a vegetação da Groenlândia passou de verdejante a tundra. Finlândia e Islândia perderam parte significativa de sua população. Na Inglaterra, o Tamisa congelou, assim como os canais holandeses. As geleiras nos Alpes cobriram aldeias inteiras, matando milhares de pessoas. O mar em torno da Islândia ficou recoberto por gelo. Em período de alta atividade, as tempestades solares são mais frequentes e bem mais intensas. Explosões violentas ejetam grande quantidade de matéria coronal (gás aquecido e magnetizado, conhecido como plasma) que permeia o espaço interplanetário. Ao chocar-se com a magnetosfera terrestre, esse plasma pode provocar a indução de correntes elétricas altíssimas que podem repercutir de forma dramática nas atividades cotidianas como comunicação por satélites, sistemas de posicionamento por GPS, rede de transmissão de energia elétrica e outros. Por conta de um fenômeno desses, em 1989 a província de Quebec sofreu um apagão que durou cerca de nove horas. Esses fenômenos tendem a ocorrer em regiões mais próximas dos pólos terrestres, onde o campo magnético terrestre é mais intenso. Ejeção da matéria coronal, vista em 02/12/2002. (Observatório Espacial SOHO, ESA/NASA) Visto da superfície terrestre, não temos consciência da hostilidade do ambiente espacial, mesmo nas proximidades da Terra. No solo estamos protegidos pela atmosfera e pela magnetosfera. Apesar de ser uma fina camada de gás, a atmosfera protege a vida absorvendo a radiação ultravioleta solar, aquecendo a superfície através da retenção de calor (efeito estufa) e reduzindo variações bruscas de temperatura entre o dia e a noite. Embora a magnetosfera terrestre possa estar ajudando as partículas energizadas do Sol a eliminar uma fração diminuta da atmosfera, ela atua como um escudo protetor contra a ação devastadora do vento solar. Marte já teve atmosfera densa e a perdeu porque não possuía uma magnetosfera estável e duradoura. Essas características terrestres associadas a outras e à distância da Terra ao Sol é que possibilitaram o surgimento dos primeiros seres e a diversidade da biosfera. Mas as condições de habitabilidade não devem durar para sempre. Na medida em que envelhece, o Sol tornase mais brilhante, mais quente e mais ativo. Em futuro muito distante as condições ambientais na Terra serão inóspitas à vida. O Sol está na metade de sua vida. Quando entrar na fase de declínio final, daqui a quatro e meio bilhões de anos, ele expandirá e se tornará uma estrela gigante e avermelhada. Nesse momento a Terra estará imersa nele, aquecida a milhares de graus Celsius. Este será o destino do nosso planeta. Dr. Enos Picazzio, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP os n a 5 2 ruptos er r no a pre o sem m o c e a! meir a pri inint 98,7 Mhz A rádio do jeito que você gosta! (35) 3622-4649 Sempre levando até você notícias relevantes e músicas de qualidade. www.jovemfm.com.br (programação ao vivo pela internet e atualização diária de notícias) e-mail: [email protected] 8 Naturale dezembro/janeiro - 2012