GENÉTICA DE TRANSMISSÃO: 1ª E 2ª LEI DE MENDEL 13 GENÉTICA DE TRANSMISSÃO 1. LEI DA SEGREGAÇÃO DOS FATORES, 1ª LEI DE MENDEL, OU LEI DA PUREZA DOS GAMETAS Figura 1.1: vagem e flor da ervilha, primeiro vegetal utilizado nos estudos da genética. Fonte: Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. INTRODUÇÃO Apesar de há milhares de anos se tentar explicar como as características genéticas são transmitidas, só no fim século XIX, obteve-se os primeiros resultados significativos a respeito de como essas características são passadas de pais para filhos, surgindo dessa forma o que hoje chamamos de genética de transmissão. Nesse capítulo, falaremos sobre os trabalhos de Mendel, sua metodologia e seus postulados, que serviram de ponto de partida para o entendimento dessa ciência. 1.1. QUEM FOI MENDEL! Gregor Johann Mendel nasceu em 1822, no vilarejo de Heinzendorf, antiga Áustria e hoje República Tcheca, filho de pais agricultores pobres, deve uma criação rural o que facilitou o seu conhecimento sobre os processos de cultivo de plantas, de criação de animais e seu amor pela natureza. A falta de condições 14 financeiras para estudar fez com que Mendel aos 21 anos optasse por um monastério católico na cidade de Brünn (hoje, Brno) para dar continuidade aos seus estudos. Quatro anos mais tarde ordenou-se padre (1847), adotando o nome Gregor pela igreja. Durante, esses quatro anos, Mendel aprendeu ciências agrárias e técnicas de polinização. Entre 1851 e 1853 foi liberado por seus superiores do mosteiro, para cursar na Universidade de Viena o curso de Física, porém assistiu cursos adicionais de química, zoologia, botânica, fisiologia vegetal, paleontologia e de Matemática, do qual, já tinha sido professor numa escola local, próxima ao mosteiro. Também se dedicou ao estudo de técnicas de hibridização em plantas e em especial em ervilhas. Em 1853, quando retornou ao Mosteiro, voltou as suas atividades de monge-professor, agora de física e ciências naturais e começou em 1857, seus experimentos genéticos com ervilha, concluindo-os em 1864. Em 1865 apresentou os seus resultados na Natural History Society local e no ano seguinte, publicou um relato detalhado nas publicações da sociedade. Mendel, porém, ficou na obscuridade por 35 anos, não se sabe se por falta de entendimento do que publicou na época, ou por que os interesses dos cientistas da época estavam voltados para outras questões, como por exemplo, a evolução. Figura 1.2: Gregor Johann Mendel (1822 – 1884). Fonte Klug et. al.,2010 Em 1900, três botânicos, Hugo de Vries na Holanda, Carl Correns na Alemanha e Eric Von TschermaK-Seysenegg na Áustria de forma independente, trabalhando com hibridização em outros vegetais descobriram ao pesquisarem a 15 literatura científica, para corroborar com suas teorias sobre hereditariedade, que Mendel há 35 anos tinha chegado às mesmas conclusões. 1.2. PORQUE MENDEL OBTEVE SUCESSO? Várias foram as causas do sucesso de Mendel, a escolha do material, o seu alto grau de organização científica na escolha da metodologia e seus conhecimentos estatísticos, como conhecedor e professor de matemática por um determinado tempo. O material biológico escolhido por Mendel foram variedades de plantas da espécie Pisum sativum (34 variedades, cedidas por horticultores da região), também chamadas ervilhas-de-jardim ou ervilhas-de-cheiro (figura 1.3), dicotiledôneas de fácil cultivo, podem ser plantadas em jardins experimentais, ou em vasos, em uma estufa. Por apresentarem suas pétalas em forma de quilhas (fechadas) são impedidas de realizarem fecundação cruzada de forma natural, sendo assim, hermafroditas e autofecundantes, o que facilita a obtenção de linhagens puras para uma determinada característica. Porém, é acessível para cruzamentos experimentais de hibridização, originando híbridos férteis. Seu ciclo de vida é curto, podendo originar várias gerações, em pouco tempo. Apresentam, a cada geração, um grande número de descendentes, o que facilita o estudo estatístico dos dados colhidos. Apresentam linhagens com características individuais bem contrastantes, tais como cor dos cotilédones da semente que em uma linhagem é verde e em outra linhagem amarela; altura do pé de ervilha que poderia ser alto (em torno de 2,0 m de altura) ou baixo (em torno de 0,5 m de altura) e assim sucessivamente para as sete características estudas por ele(figura 1.4). 16 Figura 1.3: Flor hermafrodita da ervilha, com identificação das pétalas fechadas em forma de quilha, isolando do meio esterno as estruturas reprodutora masculina e feminina da flor. Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. Figura 1.4: As sete características estudadas por Mendel. Fonte: Griffiths et. al., 2009 Com relação à metodologia, Mendel preocupou-se em trabalhar na observação de uma característica por vez, anotando seus resultados e comparando-os com os das outras seis características estudadas, além de obter, amostras significativas para a análise estatística dos dados, decorrência do grande número de descendentes obtidos em cada geração. 17 1.3. UM EXEMPLO DO EXPERIMENTO DE MENDEL Um dos experimentos realizado por Mendel foi o cruzamento entre uma variedade de ervilhas que durante várias gerações só produzia, por autofecundação, sementes com cotilédones amarelos, com uma variedade que só produzia cotilédones verdes, sendo assim denominadas sementes puras, para essa característica analisada. Em cada experimento Mendel retirava as anteras, estruturas vegetais onde se produz o grão de pólen, de algumas das plantas com cotilédones amarelos, ficando essas variedades só com a estrutura reprodutora feminina. Repetia o mesmo processo com as variedades de cotilédones verdes. Como resultado em cada uma das variedades estudadas existiriam plantas somente com estruturas reprodutoras femininas e outras hermafroditas. Após esse processo de castração, Mendel esperava o amadurecimento reprodutivo das plantas femininas e realizava a fertilização cruzada, retirando o pólen das anteras das plantas de cotilédones verdes e colocando nas plantas femininas de cotilédones amarelos, do mesmo jeito, retirava o pólen das de cotilédones amarelos e fertilizava as femininas de cotilédones verdes (figura 1.5), realizando cruzamentos recíprocos, nos dois casos, os resultados obtidos foram os mesmos: os descendentes, todos nasceram com cotilédones amarelos. Essas plantas resultantes da fertilização cruzada foram denominadas híbridas. Figura 1.5: Polinização cruzada e autofecundação os dois tipos de cruzamentos usados por Mendel. Fonte: Griffiths et. al., 2009 18 O passo seguinte foi deixar as plantas híbridas autofecundarem para se observar a descendência. A característica cotilédone verde que havia desaparecido na geração anterior (híbrida) voltou a aparecer numa proporção aproximada de uma semente de cotilédone verde para cada três com cotilédone amarelo (fig. 1.6). Mendel chamou o 1º cruzamento entre linhagens puras de geração parental, hoje chamada simplesmente geração P, a prole desse 1º cruzamento, descendência híbrida, geração filial 1 ou F1 e os descendentes da autofecundação de F1, geração filial 2, ou F2 e assim sucessivamente. Figura 1.6: Representação esquemática das gerações P, F1 e F2 do cruzamento monohíbrido para a característica cor do cotilédone da semente Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. Completando o experimento, Mendel pegou as sementes com cotilédones verde da geração F2 deixou germinar e autofecundar, obtendo em F3, sementes com cotilédones verdes, já as sementes com cotilédones amarelos da geração F2, ao 19 germinar e autofecundar gerou em 1/3 dos pés de ervilha somente sementes com cotilédones amarelos e em outros 2/3, sementes com cotilédones amarelos e verdes. Mendel repetiu esse experimento, denominado cruzamento mono-híbrido (pois só leva em consideração uma única característica ou caráter por vez), com as outras seis características contrastantes da ervilha-de-jardim, obtendo sempre o mesmo resultado. Em F1, no híbrido, só uma das características aparecia; em F2, a proporção era sempre de aproximadamente 3 com a mesma característica de F1 para 1 com a característica que desaparecia em F1 (fig.1.7). Mendel também vez o cruzamento recíproco entre as plantas híbridas, F1 com as plantas parentais de ervilhas de cotilédones verdes, obtendo na prole a proporção de 1 ervilha de cotilédone amarela, para uma ervilha de cotilédone verde. Hoje esse cruzamento é conhecido como cruzamento teste (fig. 1.8). 20 Plantas F1 (híbrida) Autofecundação de F1(híbridas) Forma das sementes Lisa X Rugosa Sementes lisas Lisas X Lisas 2 Cor dos cotilédones Amarelo X Verde Sementes com cotilédones amarelo Amarelo X Amarelo 3 Cor da flor Violeta X branca Flores violeta Violeta X Violeta 4 Textura das vagens Inflada X comprimida Vagens infladas Inflada X Inflada 5 Cor das vagens Verdes X Amarelas Vagens verdes Verde X Verde 6 Posição das flores Axilar X Terminal Flores axilares Axilar X Axilar Nº de características Geração Parental(pura) ( P) 1 7 Altura do caule Alto X baixo Caule alto Alto X Alto Plantas F2 Razão entre os tipos F2 5474 lisas e 1850 rugosas= 7324(total) 6022com cotilédones amarelo e 2001 com cotilédones verdes= 8023 (total) 705 flores violetas e 224 flores brancas= 929 (total) 882 vagens infladas e 299 vagens comprimidas = 1181 (total) 428 vagens verdes e 152 vagens amarelas= 580 (total) 651 flores axilares e 207 flores terminais= 858 (total) 2,96: 1 3,01: 1 3,15: 1 2,95:1 2,82: 1 3,14:1 787 caule alto e 277 caule baixo = 1064(total) 2,84:1 Figura 1.7: Resultados dos cruzamentos Mendelianos nos quais os genitores diferem em uma característica. Adaptada Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 21 Figura 1.8: Esquema da autofecundação de F1, híbrida, aparecendo na prole a proporção de 3: 1(esquerda) e o cruzamento teste entre F1, híbrida, e a planta de cotilédones verdes dando a proporção de 1:1 (direita). Fonte: Griffiths et. al., 2009 1. 4. CONCLUSÕES DE MENDEL Após análise estatística dos dados Mendel chegou às seguintes conclusões: 1º) Existem fatores unitários particulados, que funcionam como unidades básicas da hereditariedade (hoje chamamos genes) responsáveis por cada uma das características estudadas e são transmitidas de geração a geração de forma inalterada através dos gametas; (Exemplo: Um fator determina a cor do cotilédone verde e outro fator determina a cor do cotilédone amarelo) 22 2º) Cada planta ou organismo individual possuem um par desses fatores, determinando a característica; (Exemplo cor do cotilédone) 3º) Na hora de formar os gametas só um dos fatores será encontrado nos gametas; 4º) Na fertilização após o encontro do gameta masculino (presente no pólen) com o gameta feminino (presente no pistilo) haverá uma reconstituição do par de fatores. 5º) Cada planta pura, para uma dada característica possuirá um par de fatores iguais; 6º) A planta híbrida apresentará um fator de cada tipo na formação do par; 7º) O fator que não aparece na geração F1, e só volta a reaparecer na geração F2 é dito recessivo, e o fator que determina a característica em F 1 é dito dominante. 1.5. A CORRELAÇÃO ENTRE OS POSTULADOS DE MENDEL E O COMPORTAMENTO DOS CROMOSSOMOS NA MEIOSE As redescobertas dos trabalhos de Mendel em 1900 por Hugo de Vries na Holanda, Carl Correns na Alemanha e Eric Von TschermaK-Seysenegg na Aústria, e sua aceitação pelos cientistas originaram o levantamento de outras questões, tais como: onde se localizam,nas células, os fatores hereditários ? Qual é o mecanismo responsável por sua segregação durante a formação dos gametas. Em 1902,Walter S. Sutton, trabalhando com a formação de gametas em gafanhoto e Theodor Bovari trabalhando de forma independente, com meiose, observaram uma grande semelhança entre o comportamento dos cromossomos na meiose e a segregação dos fatores hereditários (genes) de Mendel, Sutton e Bovari propuseram assim a hipótese de que os fatores hereditários de Mendel estavam localizados em cromossomos homólogos, de tal maneira que sua separação na meiose levaria à segregação dos fatores.(fig. 1.9) 23 Figura 1.9: Representação esquemática da idéia originalmente proposta por Walter S. Sutton e Bovari, em 1902, de que a segregação de um par de alelos resulta da separação dos cromossomos homólogos na meiose. A hipótese foi confirmada e passou a constituir um dos fundamentos da Genética. Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 24 1.6. A TERMINOLOGIA GENÉTICA ATUAL Hoje sabemos que os fatores hereditários de Mendel são os genes, que podem ser representado simbolicamente de várias formas, adotaremos inicialmente, de forma simples, a letra da característica recessiva, na forma minúscula, e em itálico, como símbolo representativo do traço recessivo (por exemplo: Na característica cor do cotilédone, v = fator ou gene que determina a característica ou traço cotilédone verde). O traço dominante da mesma característica (cotilédone amarelo) é representado pela mesma letra, também em itálico, só que maiúscula (V). Os fatores hereditários alternativos que determinam traços diferentes dentro de uma mesma característica (V e v) são denominados alelos. Logo cada planta apresenta dois alelos para uma dada característica (VV ou Vv ou vv). Esses pares de alelos representam o genótipo ou constituição gênica da planta para a característica estudada. Os traços cotilédones amarelos ou cotilédones verdes, variações dentro de uma mesma característica e expressão física dos fatores hereditários, ou genes, é denominado fenótipo. O fenótipo cotilédone amarelo dominante em relação ao fenótipo cotilédone verde, apresenta dois genótipos diferentes, assim representados: VV encontrado em plantas puras ou hoje chamadas homozigotas para essa característica, pois só produzem um tipo de gameta V; e o genótipo Vv, encontrado em plantas híbridas ou heterozigotas, capaz de produzirem dois tipos de gametas V ou v. O fenótipo recessivo, cotilédone verde apresenta um único genótipo vv originando um único tipo de gameta v.(fig. 1.10) 25 Figura 1.10: Esquema de um cruzamento mono-híbrido de ervilha-de-jardim, representando a característica cor do cotilédone Amarelo(V) e verde(v). Adaptada de Klug et. al., 2010. 26 1.7. CRUZAMENTO TESTE O cruzamento teste, feito por Mendel, cruza um fenótipo dominante com um recessivo e serve para identificar se o fenótipo dominante tem genótipo homozigoto ou heterozigoto, quando obtemos toda a prole do cruzamento com fenótipo dominante, podemos chegar a conclusão que o fenótipo dominante é homozigoto, já quando obtemos aproximadamente metade da prole com o fenótipo dominante e a outra metade recessiva o genótipo do fenótipo dominante é heterozigoto. 1.8. OS QUADROS DE PUNNETT Reginald C. Punnett construiu um diagrama que facilita visualização de um cruzamento, nesse diagrama representamos os gametas masculinos em uma coluna ou linha. Os gametas femininos, são representados dependendo dos masculinos: caso os masculinos estejam representados em uma coluna os femininos são representados em uma linha, mas se os masculinos foram representados em uma linha os femininos ficam em uma coluna. No diagrama também visualizamos como resultado do encontro gamético o genótipo e fenótipo dos descendentes. (fig. 1.11). 27 Figura 1.11: Representação do Cruzamento-teste de uma só característica utilizando o quadrado de Punnett: Em (a), a planta genitora Cotilédone amarelo é homozigota, mas, em (b), a genitora Cotilédone amarelo é heterozigota. O genótipo de cada planta alta da P1 pode ser determinado por meio do exame da prole, quando cada uma é cruzada com a planta baixa homozigota. recessiva. Adaptada de Klug et. al., 2010. 28 1.9. EXEMPLOS DE HERANÇA MONOGÊNICA OU MONO-HIBRIDISMO EM OUTROS ORGANISMOS 1.9.1.HERANÇA DO TIPO DE FOLHA EM COLEUS BLUMEI (CÓLEO) Na planta Coleus blumei, utilizada na ornamentação de jardins, a característica que determina a forma da borda das folhas : crenada(levemente ondulada) ou lobadas (profundamente recortada) é determinado por um par de genes. onde o gene que determina folha lobada é dominante sobre o que determina folha crenada.(fig. 1.12) Figura 1.12: Representação esquemática entre plantas de Coleus blumei (foto) de folhas lobadas e folhas crenadas. Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 29 1.9.2. HERANÇA DO TIPO DE ASA EM DROSOPHILA MELANOGASTER A mosca Drosophila, também chamada mosca-do-vinagre ou mosca-dabanana também apresenta características determinadas por um único par de genes, um exemplo é o tipo das asas, onde os fenótipos asa longa (ou selvagem) e asa vestigial (ou mutante), ao serem cruzados produzem em F 1 toda a prole com asas longas e em F2 mantém a proporção Mendeliana de 3/4 asas longa para 1/4 asa vestigial. (fig. 1.13) Figura 1.13: Representação do cruzamento entre Drosophilas selvagens de asas longas e mutantes de asas vestigiais (na foto, aumento ≈ 17X). Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 30 1.9.3. HERANÇA DA SENSIBILIDADE AO PTC NA ESPÉCIE HUMANA Uma herança com padrão de herança monogênica na espécie humana é a sensibilidade ao PTC (droga denominada feniltiocarbamida, ou feniltiouréia), pessoas que são sensíveis ao PTC sentem um gosta amargo na boca quando são colocados em contato com soluções de PTC, e outras pessoas nada sentem quando em contato com a droga. Sensibilidade ao PTC é dominante em relação à insensibilidade. (fig. 1.14) Figura 1.14: Representação esquemática do cruzamento entre uma mulher sensível ao PTC e um homem insensível ao PTC (Feniltiocarbamida). Adaptado de :Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 31 1.10. HEREDOGRAMAS, GENEALOGIAS, ÁRVORES GENEALÓGICAS OU PEDIGREE Na espécie humana fica muito difícil determinar se um fenótipo é hereditário ou não e qual o padrão de herança de uma dada característica, já que não é possível se fazer cruzamentos experimentais e a prole resultante é muito pequena, para que se tenha uma boa análise estatística, além disso, a possibilidade de se estudar o comportamento de um determinado traço por várias gerações em uma família é pouca provável, já que, às vezes aquele traço só se manifesta na idade adulta, depois dos 40 anos. O meio tradicional para o estudo de determinadas características hereditárias em uma família é a construção de uma árvore familiar ou heredograma, indicando a presença ou ausência de um traço em questão para cada membro de cada geração. As genealogias são representações gráficas convencionadas pelos geneticistas das relações de parentesco entre os indivíduos de uma família. (fig.1.15) 32 Figura 1.15: Símbolos comumente empregados na representação gráfica de genealogias. Fonte: Lima, Celso P.,1984 33 1.10.1. ANÁLISE DE GENEALOGIAS Os heredogramas nem sempre são precisos para diagnosticar o tipo de herança que estamos trabalhando, já que, o tamanho da amostra é pequeno e a elaboração muitas vezes depende de informações prestadas pelo probando ou propósito (isto é, pelo indivíduo afetado que atraiu a atenção dos pesquisadores), ou por seus parentes que muitas vezes não estão tão interessados em colaborar de forma mais efetiva, ou ainda, a história da família pode ser falseada porque o investigador muitas vezes se baseia em dados que depende da memória de quem os fornece. Para que se possa interpretar com menor chance de erro os dados é necessário muitas vezes analisar vários genealogias referentes aquele fenótipo que se está estudando. Alguns critérios que não são rígidos, mas, que ajudam na identificação de padrões de herança quando analisamos heredogramas. Como se reconhece a herança autossômica (característica monogênica onde os genes encontram-se em cromossomos autossômicos) dominante (fig. 1.16) 1) A característica ocorre igualmente em homens e mulheres; 2) Indivíduos afetados são sempre filhos de casais em que pelo menos um dos cônjuges é afetado; dessa forma, um casal normal nunca tem filhos afetados (a não ser por mutação que é raro ou por penetrância incompleta); 3) A característica ocorre em todas as gerações sem pular nenhuma; Figura 1.16: Heredograma representativo de uma característica autossômica dominante. Fonte: Klug et. al.,2010 34 Como se reconhece a herança autossômica recessiva (fig.1.17) 1) Os dois sexos são igualmente afetados; 2) Os indivíduos afetados geralmente são filhos de pais normais; 3) Dentre os irmãos do propósito, os indivíduos afetados e normais distribuem-se na proporção de 3 normais para 1 afetado; 4) Os indivíduos afetados geralmente resultam de cruzamentos consangüíneos. Como se reconhece a herança recessiva ligada ao sexo (herança monogênica onde os genes encontram-se numa porção do cromossomo sexual X que não tem homologia no Y) (fig.1.18) 1) Mulheres afetadas são muito mais raras do que homens afetados; 2) Homens afetados geralmente têm filhos normais; 3) Os indivíduos afetados são filhos de mulheres normais que, por sua vez, são filhas de homens afetados; em outras palavras, a anomalia passa de avô 4) para neto, através de suas filhas que são portadoras do gene. Figura 1.17: Heredograma representativo de uma característica autossômica recessiva. Fonte: Klug et. al.,2010 35 Figura 1.18: Heredograma representativo de uma característica ligada ao sexo recessiva. Fonte: Lima, Celso P.,1984. Como se reconhece a herança dominante ligada ao sexo (fig. 1.19) 1) A característica marcante deste tipo de herança é o fato de que os homens afetados têm todas as suas filhas afetadas, embora nenhum de seus filhos o seja; 2) As mulheres heterozigotas transmitem as características à metade de seus descendentes, sejam meninos ou meninas. 3) As mulheres afetadas homozigotas transmitem as características a todos os seus descendentes. 4) Este tipo de herança só pode ser reconhecido pela descendência dos homens afetados; se não existir descendência deles torna- se impossível reconhecer este tipo de herança, visto que ela se assemelha à herança autossômica dominante. 36 Figura 1.19: Heredograma representativo de uma característica ligada ao sexo dominante. Fonte: Lima, Celso P.,1984 1.11. A BASE MOLECULAR DA SEGREGAÇÃO E EXPRESSÃO MONOGÊNICA 1.11.1. COMO SURGEM OS ALELOS! Quando falamos em alelos até agora não nos preocupamos com a estrutura e função desses alelos somente como eles se segregam e se comportam em relação aos outros alelos. Mas, a nível molecular como surgem os diferentes alelos? Esses alelos são resultantes de mutações de alelos denominados selvagens, que se caracterizam por aparecer em maior freqüência na população. Os alelos resultantes de alterações no DNA do alelo selvagem são ditos, alelos mutantes. Existem vários tipos de mutações, (que serão estudadas em outro capítulo), porém, as mutações só são visíveis quando elas alteram o gene, de tal forma, que como conseqüência altere o fenótipo. Um novo fenótipo resulta de uma mudança na atividade funcional do produto celular (proteína) especificado pelo respectivo gene. Esses genes (ou alelos) mutantes podem ser em relação ao alelo selvagem dominante ou recessivo. Quando a mutação altera o alelo selvagem e ele diminui ou perde a função essa mutação é denominada mutação de perda de função, se a perda for completa é formado um alelo denominado alelo nulo e o fenótipo determinado por esse alelo é geralmente recessivo. Em outros casos, a mutação altera o alelo selvagem formando alelos mutantes com um aumento na atividade funcional em relação a atividade funcional 37 do alelo selvagem , aumentando assim, a quantidade do produto gênico, nesse caso, denominamos a mutação de mutação de ganho de função, e o fenótipo resultante geralmente é um fenótipo dominante. Como já havia falado existem várias formas de representação dos alelos, a primeira mais simples, usada por Mendel, onde se representa o fenótipo dominante com a letra maiúscula e em itálico, do fenótipo recessivo e o recessivo com letra minúscula e em itálico. Outra notação, determinada quando Morgan e Bridges estudavam cor do olho em Drosophila, que pode ser usada para representar o alelo selvagem e o alelo mutante é a primeira letra ou a combinação de duas ou três letras do traço mutante em maiúsculo ou minúsculo, quando representa respectivamente fenótipos mutantes dominantes e recessivos, acrescidos de um sinal sobrescrito + para representar o alelo selvagem ou simplesmente para simplificar, o sinal + para o alelo selvagem e o mutante com a letra inicial ou com a combinação de duas ou três letras. Quando se está representando o genótipo utiliza-se uma barra separando os alelos de um mesmo locus em cromossomos homólogos. (fig. 1.20 a e b) Tabela representando os genótipos e fenótipos para a cor do corpo em Drosophila que apresenta o alelo mutante recessivo e fenótipo ébano e o alelo selvagem dominante e+ fenótipo cor cinza. Fenótipos Genótipos e+/e+ ou +/+ Homozigoto cinza (tipo selvagem) e+/e ou +/e Heterozigoto cinza (tipo selvagem) e/e ou e/e Homozigoto ébano ( tipo mutante Figura 1.20a: Representação de notação para designar genótipos e alelos selvagens e mutantes recessivo. Adaptada de Klug et.al., 2010 38 Tabela representando os genótipos e fenótipos para a forma da asa em Drosophila que apresenta o alelo mutante dominante Wr fenótipo asa rugosa e o alelo selvagem dominante Wr+ fenótipo asa lisa. Genótipos Fenótipos Wr/Wr Asa rugosa (tipo mutante) Wr/Wr+ Asa rugosa (tipo mutante) Wr+/Wr+ Asa normal (tipo selvagem) Figura 1.20b: Representação de notação para designar genótipos e alelos selvagens e mutantes dominantes. Adaptada de Klug et.al., 2010 2. 2ª LEI DE MENDEL OU LEI DA SEGREGAÇÃO INDEPENDENTE Mendel após trabalhar na observação de uma característica por vez começou a fazer experimentos com plantas que diferiam em duas características. Ele cruzou a variedade de plantas que produziam sementes amarelas lisas, e que por autofecundação só originavam plantas com sementes amarelas lisas, portanto puras para as características cor e forma da semente, com a variedade de plantas verdes rugosas também puras para essas características com o objetivo de analisar como se comportavam as duas características ao mesmo tempo na hora de formar os gametas e a prole. Vamos usar as seguintes notações nos cruzamentos para representar os genótipos que incluem dois pares de alelos que se encontram em cromossomos homólogos distintos para as características: cor do cotilédone da semente; V (Amarela) e v (verde) e forma da semente; R (Lisa) e r (rugosa), logo o genótipo da planta com sementes amarela lisa pode ser assim representado VV RR e o da planta verde rugosa vv rr. Ao cruzar essas duas linhagens Mendel obteve em F1 todas as plantas com semente amarelas lisas, indicando que os dois traços, amarelo e liso são dominantes em relação à verde e rugoso com o seguinte genótipo Vv Rr. Essas Plantas F1 ele deixou autofecundar e resultou em todas as possibilidades de combinações nas proporções; 9/16 plantas amarelas lisas, 1/16 plantas verdes 39 rugosas, semelhantes aos fenótipos parentais, 3/16 plantas amarelas rugosas e 3/16 plantas verde lisa. (fig. 1.21 e 1.22) Figura 1.21: Os cruzamentos de Mendel entre ervilhas que produziram sementes amarelas e lisas e ervilhas que produziram sementes verdes e rugosas. Fonte: Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. Mendel também usou o cruzamento teste (cruzamento do di-híbrido com o duplo recessivo) com o intuito de demonstrar que cada gameta do di-híbrido é formado por um alelo do par V ou v e do par R ou r e que essas combinações gaméticas apareciam em uma mesma proporção, indicativo de segregação independente.(fig.1.23) 40 Figura 1.22: Representação simbólica dos resultados de um cruzamento entre uma variedade de ervilhas com sementes amarelas e lisas e uma variedade com sementes verdes e rugosas. Fonte: Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. 41 Figura 1.23: Representação do cruzamento teste de plantas de ervilhas amarela lisa (F 1) com o duplo recessivo (verde rugosa). Adaptado de Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. Mendel fez outras combinações entre as sete características estudadas por ele, em todas elas obteve os mesmos resultados e com esses resultados Mendel chegou às seguintes conclusões:z 1. Cada característica é controlada por um par de alelos que se segregam na hora de formar os gametas; 2. Cada um dos pares segrega (separa) de forma independente do outro 3. na hora de formar os gametas, logo a alelo V pode estar em um gameta junto com o alelo R ou com r e o alelo v pode vir em um gameta tanto junto com o alelo R ou com r, as chances desses encontros são as mesmas e essas combinações são feitas de forma aleatória. 42 Após as conclusões, Mendel enuncia o que chamamos 2ª lei de Mendel ou Lei da segregaç~o independente: “Os alelos de genes diferentes segregam-se, ou distribuem-se, independentemente uns dos outros.” Além dos experimentos com uma característica, cruzamentos monohíbridos, ou duas características ao mesmo tempo, cruzamentos di-híbridos, Mendel fez experimentos com três características ao mesmo tempo, cruzamento esse chamado tri-híbrido e observou que a segregação independente também é aplicada nesses casos. Depois de 1900 quando os trabalhos de Mendel foram redescobertos, as leis de Mendel foram testadas em várias outras plantas e animais, os resultados obtidos vieram para validar o trabalho de Mendel quase que de forma geral. A exceção à lei de segregação independente é quando os dois ou mais pares de alelos que determinam as características se encontram em um mesmo cromossomo homólogo. 2.1. A MEIOSE E A 2ª LEI DE MENDEL Sabemos que em um organismo diplóide cada um dos pares de homólogos é constituído por cromossomos de origem paterna, proveniente do gameta masculino e o outro, de origem materna, proveniente do gameta feminino. As plantas de ervilhas possuem 14 cromossomos, ou seja, 7 pares de homólogos e Mendel fez experimentos com 7 características ou traços distintos. Os pares de alelos que determinam cada uma das características mendelianas se encontram distribuídos nesses cromossomos. Cada uma das características estudada em um par de homólogos. Os cromossomos homólogos na meiose segregam-se independentemente levando junto os pares de alelos mendelianos. Estudos posteriores que analisaram outras características das plantas de ervilha, não conseguiram obter sempre os mesmos resultados de Mendel a conclusão para isso é que características que estão em um mesmo par de cromossomos homólogos segregam juntas na hora de formar os gametas (fig. 1.24) 43 Figura 1.24 Representação esquemática da segregação independente dos cromossomos homólogos na meiose, responsável pela segregaçáo independente dos genes situados em diferentes pares de homólogos. Em uma célula duplo-heterozigótica, há duas possibilidades para a migração dos cromossomos, o que caracteriza a segregação independente. Fonte: Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 44 3. APLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS DE MENDEL Se a base genética de uma característica é conhecida, os princípios de Mendel podem ser usados para prever o resultado dos cruzamentos. Existem três procedimentos analíticos que são parte das pesquisas genéticas cotidianas e são utilizados para se fazer a análise de proporções fenotípicas. Essa análise pode ser feitas por dois caminhos ou prevendo os genótipos dos genitores a partir das proporções fenotípicas da prole, ou as proporções fenotípicas da prole tendo-se o conhecimento dos genótipos dos genitores. 3.1. O QUADRADO DE PUNNETT O método utilizado até agora “o quadrado de Punnett”, representados na figura 2.3 e 2.4, é muito útil em situações que envolvem 1 ou 2 pares de genes, pois dá uma visualização dos gametas formados pelos genitores e a representação de todos os encontros gaméticos possíveis na formação da prole, resultando nos genótipos. Podendo-se chegar às proporções fenotípicas quando se sabe a relação de dominância entre os alelos que compõem os genótipos. Porém se torna muito trabalhoso usarmos esse método quando passamos a ter 3 ou mais pares de alelos determinando três ou mais características ao mesmo tempo. Com 3 pares de alelos, resultantes do cruzamentos de 2 linhagens uma homozigota dominante com uma homozigota recessiva, teríamos um tri-híbrido em F1. Esse F1 produziria 8 tipos diferentes de gametas(fig. 1.25) que se for cruzado com outro igual a ele também formará 8 diferentes tipos de gametas, gerando 8X8 = 64 genótipos, no quadrado de Punnett. 45 Figura 1.25: Representação esquemática da segregação independente de 3 pares de alelos originando os oito tipos de gametas. Adaptada de Amabis, José M.,Martho, Gilberto R., 2006. 3.2. O MÉTODO DA LINHA BIFURCADA Caracteriza-se por representar os fenótipos ou genótipos resultantes do cruzamento de cada uma das características estudadas em linhas que se bifurcam, em cada elo da bifurcação colocam-se os fenótipos ou genótipos de um dos cruzamentos. (fig. 1.26a e 1.26b) 46 Cruzamento: Vv Rr Bb X Vv Rr Bb Segregação de gene Segregação do Segregação do Fenótipo combinados de para cor do cotilédone gene para forma gene para cor da todos os três genes da semente casca da semente da semente 3 Cinzas 27 altas, lisas, cinzas 1 Branca 9 altas, lisas, brancas 3 Cinzas 9 altas,rugosas,cinzas 1 Branca 3 altas,rugosas,brancas 3 Cinzas 9 baixas,lisas,cinzas 1 Branca 3 baixas,lisas,brancas 3 Cinzas 3 baixas,rugosas,cinzas 1 Branca 1 baixa,rugosa,branca 3 Lisas 3 Altas 1 Rugosa 3 Lisas 1 Baixa 1 Rugosa Figura 1.26a: O método da linha difurcada para prever o resultado de um cruzamento envolvendo 3 genes que se distribuem independentemente em ervilhas. A proporção fenotípica é dada pelo produto de cada cruzamento individualmente. Adaptado de Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. 47 Cruzamento: Segregação de gene para cor do cotilédone da semente 1 VV 2 Vv 1 vv Vv Rr X Vv Rr Segregação do gene para forma da semente 1 RR Proporção dos Genótipos combinados de 2 pares de genes. 1 VV RR 2 Rr 2 VV Rr 1 rr 1 VV rr 1 RR 2 Vv RR 2 Rr 4 Vv Rr 1 rr 2 Vv rr 1 RR 1 vv RR 2 Rr 2 vv Rr 1 rr 1 vv rr Figura 1.26b: O método da linha difurcada para prever o resultado de um cruzamento envolvendo 2 genes que se distribuem independentemente em ervilhas. A proporção genotípica é dada pelo produto de cada cruzamento individualmente. Adaptado de Snustad, D.Peter; Simmons, Michael J.,2008. Observando as figuras acima vamos perceber que quando montamos a linha bifurcada para os genótipos fica bem mais difícil manejar. Levando em conta só duas características di-híbridas, já obtemos 3n onde n é igual ao número de características heterozigotas e 3 é o número de genótipos distintos em cada cruzamento mono-híbrido, caso tenhamos 3 pares de genes (cruzamento trihíbrido) teríamos 33= 27 genótipos diferentes. 48 3.3. O MÉTODO MATEMÁTICO Um método alternativo ao quadrado de Punnett e o da linha bifurcada, e mais rápido, é baseado no princípio da probabilidade. Probabilidade é a chance de um determinado evento ocorrer, entre dois ou mais eventos possíveis. Por exemplo, qual a probabilidade de em um nascimento obtermos um menino? O número de eventos possíveis (minha amostra) são dois a criança ou é menino ou é menina. Logo a probabilidade de que seja menino é 1 em 2 ou 1/2. Eventos aleatórios são eventos que têm a mesma chance de ocorrer quando comparados com outros eventos possíveis dentro de uma probabilidade. Eventos independentes são eventos em que a ocorrência de um evento não afeta a probabilidade do outro evento ocorrer. Exemplo: o nascimento de cada filho é um evento independente já que nascimento do 1º não afeta ou não interfere no nascimento do 2º e assim sucessivamente, ou em um cruzamento entre um casal de heterozigotos, a probabilidade da mulher produzir gametas não interfere na probabilidade do homem também produzir. Eventos mutuamente exclusivos são eventos que quando um ocorre o outro não pode ocorrer ao mesmo tempo. Um bom exemplo dentro da genética para isso é o nascimento de uma criança, ela não pode ser ao mesmo tempo menina e menino. Ou ele é menina ou ela é menino. Logo esses eventos são mutuamente exclusivos. Em estatística existem 2 regras básicas que são necessárias para a resolução dos exercícios para cálculo das proporções genotípicas e fenotípicas da prole, são elas a regra dos produtos (ou regra do “e”) e a regra da soma (ou regra do “ou”). A regra do produto diz: “A probabilidade de dois eventos independentes ocorrerem juntos (ao mesmo tempo) é igual ao produto das probabilidades de cada um deles”. Exemplo: Uma mulher teve 2 crianças, qual a probabilidade que a primeira seja menina e o segunda seja menino? Em cada nascimento a probabilidade de ser menino ou de ser menina é a mesma, 1/2, e o nascimento de cada filho é um evento independente já que nascimento do 1º não afeta ou não 49 interfere no nascimento do 2º. Logo a probabilidade da mulher ter o 1º menina e o 2º menino é igual ao produto das probabilidades individuais (1/2X1/2=1/4) A regra da soma diz: “A probabilidade de dois eventos mutuamente exclusivos ocorrerem é igual a soma das probabilidades de cada um ocorrer”.Exemplo; Qual a probabilidade de em um nascimento nascer uma menina ou um menino? A probabilidade é a soma das probabilidades individuais (P(menino=1/2))+ (P(menina=1/2)) = (1/2 + 1/2)= 1. 3.3.1. USANDO AS REGRAS DE PROBABILIDADE PARA REALIZAR CRUZAMENTOS. 1. Em um cruzamento monogênico, qual a probabilidade de obtermos indivíduos heterozigotos do cruzamento de um casal de heterozigotos com genótipos Aa? Cruzamento: ♀ ♂ A 1/2 a 1/2 Aa X Aa A a 1/2 1/2 AA aA 1/2x1/2=1/4 1/2x1/2=1/4 Aa Proporção genotípica Proporção fenótípica 1/4 AA 1/4+2/4 = 3/4 A_ Fenótipo dominante 1/4 + 1/4 Aa= 2/4 1/4 = aa aa 1/2x1/2=1/4 1/2x1/2=1/4 1/4 = aa Fenótipo recessivo 50 2. Do cruzamento de duas plantas com genótipos Aa BB Cc Dd Ee X Aa Bb Cc dd Ee qual a probabilidade de obtermos na prole um descendente com o seguinte genótipo: aa Bb Cc Dd ee Resposta: Como cada característica segrega independente (são eventos independentes); já que estamos considerando que se encontram em cromossomos homólogos diferentes; poderemos achar a probabilidade individual em cada cruzamento Aa X Aa. BB X Bb, Cc X Cc, Dd X dd e Ee X Ee e depois multiplicar cada uma das probabilidades. Aa X Aa = 1/4 aa; BB X Bb = 1/2 Bb; Cc X Cc = 1/2 Cc; Dd X dd = 1/2 Dd; Ee X Ee = 1/4 ee. P( aa Bb Cc Dd ee)= P(aa)XP(Bb)XP(Cc)XP(Dd)XP(ee)= 1/4X1/2X1/2X1/2X1/4= 1/128 3.3.2 QUANTOS GENÓTIPOS DISTINTOS UM CRUZAMENTO PRODUZ? As regras de probabilidades podem ser facilmente utilizadas para prever quantos genótipos ou fenótipos diferentes podem surgir na prole de linhagens parentais complexas com quatro cinco ou mais pares de genes. Exemplo: No cruzamento de tetra-híbrido quantos genótipos e quantos fenótipos diferentes podem ter? Cruzamento tetra-híbrido: Aa Bb Cc Dd X Aa Bb Cc Dd. Cada cruzamento individual gera 3 genótipos diferentes AA, Aa, aa e dois fenótipos diferentes o dominante e o recessivo.podemos utilizar a fórmula 3n onde n é o número de características individuais, ou seja o número de genótipos diferentes é: 34 = 81; já o número de fenótipos é 2n= 24 = 16. Em um cruzamento teste Aa Bb Cc Dd X aa bb cc dd; cada cruzamento individual produz 2 tipos de genótipos o Aa e o aa e também dois tipos de fenótipos o dominante e o recessivo, nesse caso a mesma fórmula pode ser usada tanto para calcular o genótipo quanto o fenótipo 2 n = 24 = 16 51