Boletim Técnico ANO 4 | NÚMERO 29 | JUNHO DE 2016 Análise do sequenciamento do Exoma humano Denomina-se Exoma o conjunto de éxons que compõem o Estudos estimam um rendimento diagnóstico entre 16 e material genético de um indivíduo, constituindo a porção 50% com a análise do Exoma (30% em média). Contudo, o do genoma que efetivamente codifica proteínas. Em restante dos dados está repleto de variantes de significado humanos corresponde a 1% de todo o DNA, ou seja, incerto ou desconhecido (Variant of Unclear Significance – aproximadamente 22 mil genes do total da sequência VUS) sendo, portanto, prudente a reanálise periódica. genômica haploide (cerca de 30 megabases). Apesar de Diferentemente da análise do genoma, o Exoma é capaz de 98% do DNA corresponder a genes não codificantes, as detectar diminutas variações de cópia (p. ex. Indels), sendo variações do Exoma estão relacionadas à maior parte dos considerado atualmente a ferramenta com melhor fenótipos custo-benefício em casos em que testes genéticos associados a doenças Mendelianas (ou hereditárias). padronizados falham ao estabelecer o diagnóstico de uma doença potencialmente Mendeliana. Um genoma diploide humano possui cerca de 3,5 milhões de variações nucleotídicas (SNPs) e 1000 variações de No entanto, é importante salientar que a análise das números de cópias (Copy Number Variation – CNVs; >500 pb) variações de número de cópias (por CGH-array ou em relação a um genoma de referência. Aproximadamente SNP-array) 20 a 25 mil destas variações estão envolvidas na especialmente quando o fenótipo não é específico de uma codificação de proteínas, sendo que em 10 mil há alteração condição genética conhecida e quando a história familiar de um aminoácido e destes, entre 50-100, formam não indica um padrão de herança ligada ao X ou recessiva proteínas truncadas ou perdas de variantes funcionais. Tais (p. ex. pais consanguíneos). Além disto, diante da análise estimativas são baseadas apenas em cerca de 5 a 10% dos de um painel atualizado com resultado negativo, não é genes reconhecidamente causadores de doenças. mandatório a realização do Exoma, a menos que o clínico deve ser considerada antes do WES, tenha forte suspeita do seu diagnóstico genético ou tenha Uma revisão manual deste grande número de variações ocorrido alterações no fenótipo do paciente. torna-se impraticável, sendo fundamental o auxílio da informática e estatística para a seleção das variações de maior Para a solicitação do Exoma, além do conhecimento clínico impacto sobre o indivíduo. Diante disso, o sequenciamento e genético, é necessário reconhecer características como a completo do Exoma (Whole Exome Sequencing – WES) foi adequação, acessibilidade, utilidade e aceitabilidade do escolhido como técnica a ser utilizada para decodificar este paciente e dos familiares com relação ao exame. Sugere-se emaranhado químico e converter em informação linear, que o clínico possua os conhecimentos básicos na possibilitando a interpretação destas sequências de forma a avaliação genética tanto do paciente quanto do teste, estabelecer quais podem ser patogênicas, benignas ou saber interpretar cada alteração independente da fatores de proteção. pré-interpretação laboratorial ou análises automatizadas e prestar o aconselhamento genético adequado para tais validação biológica ou estatística da alteração encontrada. alterações. Portanto, é fundamental o aconselhamento Este é o caso em que ocorre segregação de uma variante genético pré-teste com assinatura do termo de em uma família ou em três ou mais indivíduos com as consentimento esclarecido por um médico geneticista ou mesmas características. clínico reconhecidamente habilitado. A constante atualização do clínico sobre o registro de Atualmente, a utilização clínica do Exoma tem se variações nas bases de dados doença-específica e o restringido por divulgação de resultados de variações conhecimento dos catálogos de ontologia clínica e gênica, patogênicas já conhecidas ou em genes essencialmente auxiliam na busca ativa de informações. Quando constituídos por uma condição genética. A utilização desta compartilhadas, corroboram com outros profissionais e ferramenta como uma prática de pesquisa para novos pacientes na sua jornada através da busca de um genes ou variações de significado incerto não tem sido diagnóstico fidedigno, especialmente quando se trata de amplamente aplicada na clínica por causa da escassez de doenças ou variações raras. OLIVEIRA, Guilherme de Macêdo Residência em Genética Médica - Instituto Fernandes Figueira - Fiocruz Mestre em Medicina - Instituto Oswaldo Cruz - Fiocruz Graduado em Medicina - Faculdade de Medicina de Petrópolis Experiência nas áreas de Genética Clínica e Genômica Atua como consultor em Genética Médica e Sequenciamento de Nova Geração Referências Bibliográficas: 1. Gonzaga-Jauregui C, Lupski JR, Gibbs RA. Human genome sequencing in health and disease.Annu Rev Med. 2012;63:35-61. doi: 10.1146/annurev-med-051010-162644. 2. Volk A, Conboy E, Wical B, Patterson M, Kirmani S. Whole-Exome Sequencing in the Clinic: Lessons from Six Consecutive Cases from the Clinician's Perspective. MolSyndromol. 2015 Feb;6(1):23-31. doi: 10.1159/000371598. Epub 2015 Feb 3. 3. Smith LA, Douglas J, Braxton AA, Kramer K. Reporting Incidental Findings in Clinical Whole Exome Sequencing: Incorporation of the 2013 ACMG Recommendations into Current Practices of Genetic Counseling. 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