Fiorella Del Bianco Tema: estratégias para o desenvolvimento de novos mercados. Objetivo: apresentar duas estratégias complementares: marketing lateral e oceano azul, as quais possuem o mesmo enfoque principal: soluções inovadoras para o desenvolvimento de novos mercados devido à saturação de mercados maduros. Abriremos nosso curso com um módulo que aborda a apresentação de duas modalidades atuais de estratégias, desenvolvidas por autores consagrados no mercado, como uma proposta para a atual realidade competitiva vivenciada pelas empresas em seus mercados cada vez mais saturados e com pouca possibilidade de diferenciação. Segundo Kotler e Trias de Bes (2004), em seu livro: “Marketing lateral”, essas estratégias direcionam o profissional de marketing à criação de novos mercados e referem-se a “uma abordagem revolucionária para criar novas oportunidades em mercados saturados” e, de acordo com Kim e Mauborgne (2005) em seu livro “A estratégia do oceano azul”, esta é uma “estratégia eficaz para sair da concorrência sangrenta e encontrar novos espaços no mercado.. O que mais atrai nossa atenção é a coincidência no direcionamento dessas estratégias, desenvolvidas por autores diferentes, em momentos diferentes, sob análises distintas, porém que convergem para a mesma finalidade levando o profissional de marketing ao desenvolvimento de estratégias para novos mercados e para segmentos de não-clientes. A abordagem inovadora refere-se ao direcionamento das estratégias aos não-clientes. Algo efetivamente inusitado, com sua importância evidenciada pela publicação desses dois livros, praticamente na mesma época, alertando para a utilização dessas estratégias. Compartilhamos esta reflexão através do módulo inicial para que você tenha a oportunidade de aproveitar os demais conceitos e opções estratégicas dos próximos módulos também sob a ótica da criação de novos mercados e para não-clientes. Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi 11 Por qual motivo, atualmente, é tão difícil ter sucesso com um lançamento? Segundo Kotler e Trias de Bes (2004) cada uma das categorias de produtos existente possui dúzias de subcategorias. A quantidade de variedades em uma mesma categoria é assustadora. Assustadora em seu sentido literal, por exemplo, , imagine-se diante de uma gôndola de iogurtes no mercado, a sua frente aquela imensidão de diferentes marcas, sabores, tipos de embalagem, batidos com sucos de frutas ou mais consistentes, com pedaços de frutas ou sem pedaços, na linha de sobremesas como flans ou como um alimento leve, saudável e natural para o café da manhã. Agora, seja realista e responda: - Você nunca sentiu certa angústia diante de tantas opções, com a difícil tarefa de ter que optar por uma delas? Pois bem, esse sentimento, por vezes angustiante, que nos acomete quando estamos no papel de consumidores no exato momento da escolha de um produto, dentre milhares de opções disponíveis em uma mesma categoria, é o que denominamos como um mercado saturado pela alta competitividade. Kotler e Trias de Bes (2004) afirmam que o trabalho do marketing hoje é muito diferente daquele realizado nos anos 60 ou 70. Atualmente, os consumidores podem satisfazer quaisquer de suas necessidades com os produtos disponíveis no mercado, pode-se afirmar inclusive que as suas necessidades estão hipersatisfeitas. Kim e Mauborgne (2005) também chamam a nossa atenção para o fato de que nessas últimas três décadas a quantidade de setores multiplicou-se. Há 30 anos, setores como telefonia celular, biotecnologia, entregas expressas, cybercafés, vídeos domésticos, para mencionar apenas algumas, não existiam ou não possuíam nenhuma expressividade. Agora, mude o enfoque da análise, projete-se para o futuro e responda quantos setores inovadores, não conhecemos hoje e que surgirão nas próximas décadas? O ritmo de inovações e principalmente desenvolvimento de novos setores vêm diminuindo seus passos. E qual é o motivo? O pensamento estratégico do mercado tem se desenvolvido no universo do oceano vermelho; ou seja, possui um enfoque militar que pretende identificar as melhores opções para derrotar o inimigo em um território conhecido. Essa batalha sangrenta desenvolve-se em um território denominado por Kim e Mauborgne (2005) como oceano vermelho, enquanto as estratégias do oceano azul representam a criação de novos espaços em mercado inexplorados. Esses autores apresentam um quadro comparativo que deixa claro as vantagens competitivas adquiridas com a criação de oceanos azuis, porém a realidade do mercado de forma geral reflete a busca pelo crescimento no âmbito dos oceanos vermelhos. 2 Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi Na Figura 1, é possível observar que a grande maioria dos lançamentos de negócios ocorre em oceanos vermelhos, porém a lucratividade obtida nesse mercado saturado e hiper-fragmentado é pouco significativa quando comparada ao impacto sobre o lucro proporcionado pelo lançamento de negócios em oceanos azuis. Figura 1 – Lucratividade obtida com lançamentos nos dois tipos de oceanos Fonte: Kim e Mauborgne (2005, p. 7). Figura 1.1 Conseqüências da criação de oceanos azuis sobre o lucro e o crescimento. As empresas que conseguem quebrar o paradigma da atuação baseada na rivalidade direta em mercados conhecidos, lutando contra seus inimigos, ou concorrentes e entram em novos mercados, obtêm todas as vantagens proporcionadas pelo pioneirismo e inovação representados na forma de um significativo ganho de lucratividade. Em comparação com os conceitos de Kotler e Trias de Bes (2004), as estratégias de marketing lateral representam a criação de oceanos azuis e as clássicas estratégias do marketing vertical representam a atuação em oceanos vermelhos. Feita essa analogia, é mais fácil o entendimento das colocações apresentadas por Kotler e Trias de Bes sobre as estratégias de marketing tradicionais, denominadas como Marketing vertical: • O processo de marketing tradicional é uma seqüência: inicia-se com a identificação de necessidades para que sejam estabelecidas as pessoas e as situações que se tornarão o mercado potencial. • A utilização de um mercado pré fixado permite o estabelecimento de um escopo competitivo e o acompanhamento desse mercado (tamanho, variação e market share); • A escolha de um mercado para a atuação é a base para o desenvolvimento das estratégias de segmentação e posicionamento e para a definição do marketing mix. Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi 33 • A repetição do processo de segmentação em busca da ampliação de market share leva à hiper-fragmentação dos mercados (novos segmentos ou nichos), reduzindo as possibilidades de lançamento de produtos inovadores e isso pode se transformar em perda de oportunidades para as empresas. Desta forma, para as empresas, a zona de conforto encontra-se na utilização do processo de hiper-fragmentação através do lançamento de mais e mais variedades (novos ingredientes, sabores, características, designs, embalagens etc.), implicando em poucas modificações nos processos de produção, mantendose em uma mesma categoria de produtos, em que o campo de batalha é conhecido. Cria-se assim um ciclo que pode ser comparado a uma corrida armamentista: como os novos lançamentos subtraem as vendas de outras marcas da mesma categoria, os concorrentes se vêm forçados a retaliar com a mesma estratégia. A fragmentação multiplica-se, exponencialmente, ao mesmo tempo em que o tempo de vida dos produtos necessariamente torna-se cada vez mais curto. Desta forma, os mercados estão cada vez mais fragmentados e cada nicho menos lucrativo. O volume adicional de cada novo produto é incremental e não substancial à empresa. A mente do consumidor está saturada e se a marca não trouxer uma real novidade, ou valor especial, será ignorada. Quando definimos um mercado para nosso produto, temos a vantagem da possibilidade de conhecer a “arena”, em que atuaremos e quem são nossos concorrentes. Isso significa que essa definição exclui os mercados nãopotenciais, por exemplo, um produto desenvolvido para o segmento alvo de adultos obviamente não contemplará o mercado de bebês. O público de bebês representa um segmento de mercado não-potencial na definição das características do produto e na definição das estratégias do marketing mix. É natural a preocupação com a exata definição do mercado no qual desejamos atuar. Quando conhecemos em profundidade quem são nossos consumidores, onde estão e “contra quem” estamos concorrendo, o desenvolvimento das estratégias de marketing são facilitadas. Em seus livros, tanto Kotler e Trias de Bes como Kim e Mauborgne defendem a ruptura desse paradigma convencional através da busca por mercados desconhecidos. Ou seja, a adoção do marketing lateral e de estratégias para a criação de oceanos azuis. O que é marketing lateral? Ele ocorre quando produtos são gerados fora de sua categoria fixa ou de seu mercado. Ou seja, o pressuposto do marketing lateral é criar uma nova categoria ou um novo mercado. A empresa seleciona determinada oferta que deverá ser suficientemente transformada, tornando-a apropriada à satisfação de novas necessidades, novas pessoas ou novas situações não consideradas anteriormente. 4 Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi São os chamados mercados não-potenciais, conforme denominam Kotler e Trias de Bes (2004). A grande vantagem desse tipo de inovação é a criação de um novo mercado ao invés da busca por um novo nicho em um mercado já existente. Vejamos alguns dos exemplos apresentados por Kotler e Trias de Bes (2004) de empresas que criaram novas categorias de produtos para se desenvolverem, este é o processo denominado marketing lateral. • Cereal em barras: a empresa americana chamada Hero, com pouca participação na categoria de cereais para o café da manhã, teve a idéia de redefinir a sua utilização: um lanche saudável para qualquer hora do dia; dessa forma, fundiu a idéia das barras de chocolate (já conhecidas dos consumidores) com os cereais matinais (alimentação saudável), criando um novo posicionamento, uma nova conveniência e uma nova forma de uso = nova categoria de produtos para o mesmo mercado, visando também a novos mercados, ou a mercados nãopotenciais com o produto original modificado. Cer eais • Kinder Ovo: com o mercado de guloseimas saturado pelo excesso de fragmentação (doces, gomas, lanches e chocolates de todos os tipos e tamanhos), com o Kinder Ovo (formato inovador), que trás um brinquedo para colecionar em seu interior, a empresa Ferrero criou uma nova categoria até hoje não imitada. Kimberly ovo A quantidade de chocolate é apropriada para o consumo de uma criança e o brinquedo a distrai de forma que não pede por mais chocolate – são dois fatores que asseguraram aos pais e às crianças a preferência pela nova opção. O Kinder Ovo acrescentou a necessidade de “brincar” a de “comer”. O novo posicionamento estabelecido criou uma nova conveniência e nova forma de uso = nova categoria de produtos para o mesmo mercado com um novo produto. • Reality show Big Brother: antes da estréia do Big Brother, as opções ao telespectador eram os jogos realizados em programas de auditório pelos apresentadores, contando com alguns participantes convidados e regras préestipuladas. Com o novo formado reality show, não há script, competição específica e duração restrita. Os telespectadores observam o comportamento e atividades diárias das pessoas que estão dentro da casa e votam em seus preferidos. Big Br ther Brasil Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi 55 O Big Brother é líder de audiência em diversos países. Será que um novo programa de jogos teria conseguido o mesmo sucesso, realizando as alterações possíveis em seu produto básico? Provavelmente não. Dessa forma o Big Brother apresenta um novo posicionamento, criando uma nova conveniência para os telespectadores de jogos convencionais e para um mercado não-potencial de pessoas que não assistiam aos programas de auditório = nova categoria de produto para o mesmo mercado e novos mercados com um novo produto. + Repertório ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Conheça mais algumas estratégias consideradas como marketing lateral, através da modificação do mercado, do produto ou dos elementos do marketing mix: • Mercado, como por exemplo, empresas de rádio-táxi, passam a oferecer serviços de entrega de encomendas para B2B. Ao utilizar os táxis para transportar encomendas, além de pessoas, o mercado foi ampliado (= novo público alvo). • Produto, como por exemplo, uma empresa francesa de laticínios criou o queijo Kidiboo – tipo de queijo adocicado e cremoso em formato de picolé que fez com que crianças comessem queijo como sobremesa (= Produto modificado para um novo público alvo). • Marketing mix, como por exemplo, uma empresa espanhola desejava aumentar o tamanho de seu mercado de vendas de frutas. Passou a associá-la à prática esportiva. Foram instaladas máquinas de venda de laranjas, bananas e maças em academias de ginástica – objetivo: comer frutas para repor energias após a prática esportiva (= modificação na distribuição). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O marketing vertical e o marketing lateral são complementares! • O Marketing vertical cria vantagens competitivas através da inovação dentro de um mercado predefinido. • O Marketing lateral resgata necessidades, usos, públicos-alvos ou situações que foram descartados no momento da definição do mercado. Neste caso, o produto precisa ser modificado. • Em mercados maduros e no longo prazo, as inovações produzidas pelo marketing vertical resultam em um baixo volume incremental e podem provocar canibalização entre os produtos da mesma empresa. • O volume de vendas, no marketing lateral, é totalmente incremental em função da inovação, sem necessariamente afetar outros mercados, ou pode reduzir o volume de outros produtos genéricos considerados como concorrentes indiretos (por exemplo: Kinder Ovo – roubou mercado dos demais chocolates). 6 Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi • A principal vantagem do marketing lateral é atacar mercados a partir de fora (com produtos substitutos), superando o problema da fragmentação que ocorre em todos os mercados maduros como resultado dos processos do marketing vertical. Vejamos as principais diferenças e aplicabilidades para o marketing vertical e para o marketing lateral: Fonte: Kotler e Trias de Bes (2004, p.93). Tabela 5.1 Comparação das situações mais apropriadas para cada tipo de marketing. Adaptado pela autora. Verifica-se, dessa forma, que o marketing lateral não é um substituto do marketing vertical, e sim uma opção de estratégia que visa manter a empresa competitiva quando atinge a maturidade estabilizada de seus produtos em seus respectivos ciclos de vida. Assim a cada aplicação do marketing lateral, com a definição de um novo mercado ou de uma nova categoria de produto a ser lançada em um mercado anteriormente considerado não-potencial, ocorre também a determinação de nova arena para atuação, na qual serão desenvolvidos os processos e estratégias do marketing vertical, iniciando assim um novo ciclo de vida com o lançamento de um novo produto. Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi 77 Você encontrará o detalhamento das estratégias para o desenvolvimento do processo de marketing lateral, com maior enfoque a partir do capítulo 6, no livro: KOTLER, Philip; TRIAS DE BES, Fernando. Marketing lateral: uma abordagem revolucionária para criar novas oportunidades em mercados saturados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. A criação de oceanos azuis Para a criação de oceanos azuis Kim e Mauborgne (2005, p. 61), também enfatizam que “ao vasculhar por entre os diferentes grupos de adquirentes, as empresas podem desenvolver novos insights sobre como redesenhar suas curvas de valor, para focar um grupo até então ignorado”. As empresas devem direcionar sua atenção aos grupos de não-clientes, identificando e construindo pontos em comum sobre o que é importante e valorizado por esses clientes potenciais. Nas análises realizadas por Kim e Mauborgne (2005), as empresas criadoras de oceanos azuis não recorrem ao paradigma da concorrência como referência para a diferenciação. Ao invés de tentar superar a concorrência, concentram seus esforços em tornar a concorrência irrelevante entrando em mercados ainda inexplorados. Vejamos os principais aspectos que definem as estratégias do oceano vermelho e as estratégias do oceano azul, no comparativo a seguir: Fonte: Kim e Mauborgne (2005, p. 17). Figura 1.3 Estratégia do oceano vermelho versus estratégia do oceano azul, com adaptações da autora. 8 Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi Os autores exemplificam a estratégia de criação de oceanos azuis com a proeza estratégica do Cirque du Soleil. Em um universo que compreende a existência de dois tipos de mercado, os oceanos vermelhos, em que encontram-se absolutamente todos os setores de mercado existentes hoje e os oceanos azuis a espera de exploração, os quais abrangem todos os setores ainda não existentes, o Cirque du Soleil percebeu que para que sejam bem sucedidas, as empresas devem parar de competir umas com as outras, essa é a melhor maneira de superar os concorrentes. Assim, eles conseguiram se destacar sem conquistar fatias da demanda já existentes na indústria circense, a qual sempre se concentrou no público infantil. O Cirque du Soleil criou um novo espaço de mercado inexplorado, desenvolvendo características únicas e inconfundíveis, tornando a concorrência irrelevante e atraindo um novo perfil de freqüentadores: adultos e clientes empresariais, dispostos a pagarem preços superiores para desfrutar uma experiência de entretenimento única. A programação oferecida não se enquadra em um espetáculo circense, nem em uma produção teatral clássica, o novo empreendimento passou a oferecer a diversão e a vibração do circo com características de sofisticação intelectual e riqueza artística do teatro, rompendo as fronteiras existentes entre esses dois mercados anteriormente tão distintos. Dessa forma, passou a atrair a atenção dos apaixonados por circo e também dos não-clientes de circo: um público adulto freqüentador de teatro. O Cirque du Soleil eliminou aspectos típicos dos circos, mas que perderam a importância para muitos dos clientes, como os espetáculos com animais, os quais geravam altos custos de manutenção e questionamentos cada vez maiores sobre a exploração dos animais e os picadeiros na forma de vários círculos. Foram mantidos, entretanto, fatores-chave, como a tenda, os palhaços e as acrobacias, modificando suas formas de pastelão para atuações mais encantadoras e refinadas, com lonas glamourosas e uma grande preocupação com o conforto interno para os usuários. Suas produções, ao estilo dos shows da Broadway, possuem diversos espetáculos, cada qual com suas músicas e desempenho visual. O novo conceito do Cirque du Soleil apresenta o melhor do circo com o melhor do teatro, eliminando e reduzindo tudo o que não agrega valor e eleva os custos, sua estratégia de preços é equivalente à média dos ingressos de teatro e muito superior aos dos circos. Cirque du Soleil consegue proporcionar valor sem precedentes com a criação de um oceano azul como uma nova forma de entretenimento ao vivo. Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi 99 E ao final o que é o Cirque du Soleil? Um circo? Um teatro? Espetáculo da Broadway, ópera, balé? O Cirque du Soleil conseguiu estabelecer elementos específicos que vieram dessas categorias, tornando-se ao mesmo tempo um pouco de todas as suas fontes de inspiração e nenhuma delas em sua plenitude. Ou seja, criou um oceano azul em um espaço de mercado inexplorado o qual, até momento, ninguém havia explorado. De acordo com Kim e Mauborgne (2005) o processo para o desenvolvimento de uma nova curva de valor para a criação de oceanos azuis se traduz em quatro ações principais: reduzir; eliminar; elevar e criar, conforme ilustrado na Figura 2 a seguir: Figura 2 – Modelo das quatro ações para a criação de oceanos azuis Fonte: Kim e Mauborgne (2005, p. 29). Figura 2.2 Modelo das quatro ações. As respostas a essas questões devem ser criteriosamente analisadas e, com base nessas decisões estratégicas, elabora-se o roteiro com as ações que darão origem à matriz das quatro ações para a criação de oceanos azuis. Vejamos como foi utilizada a matriz: eliminar-reduzir-elevar-criar pelo Cirque du Soleil para a criação de seu oceano azul: 10 Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi Essas ações devem ser complementadas com três qualidades essenciais que as estratégias de oceano azul devem possuir: foco, singularidade e mensagem consistente. A matriz do Cirque du Soleil apresenta foco pela nitidez de seu posicionamento, afastando-se da lógica convencional dos circos; possui singularidade por seu pioneirismo e inovação transformando a concorrência em algo irrelevante, no novo oceano azul criado não existem concorrentes com a mesma proposta; apresenta mensagem consistente com sua estratégia, na transmissão de seus novos atributos – elegância, refinamento, glamour, conforto – como principais atrativos e diferenciais. Todo o diferencial estratégico, desenvolvido na criação de oceanos azuis ao longo do tempo, segundo Kim e Mauborgne (2005), possibilita que essas estratégias permaneçam em média 10 a 15 anos sem enfrentar grandes desafios, porém, futuramente, imitadores conseguirão abocanhar parte do oceano azul. Enquanto a curva de valor da empresa inovadora ainda possuir foco, singularidade e mensagem consistente, ela deve preocupar-se em realizar melhorias operacionais e de expansão ampliando o máximo possível seus ganhos com o oceano azul, mas deve ficar atenta para não cair na armadilha da concorrência sangrenta, seu foco de atenção deve permanecer no cliente, todo cuidado deve ser tomado para que a preocupação com a concorrência não passe a ser o centro do pensamento e das ações estratégicas para que não ocorra uma migração para o oceano vermelho. Futuramente, com a intensificação da rivalidade, a oferta superará a demanda e a batalha sangrenta inevitavelmente ocorrerá, e as águas antes azuis ficarão vermelhas e será esse o momento para desbravar novos oceanos azuis. A realidade do mercado, contudo, exige que as empresas naveguem com sucesso em ambas as águas, pois elas sempre coexistirão. Para conhecer com mais detalhes e como atuar com as estratégias para a criação de oceanos azuis, leia o livro: KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi 1111 Bibliografia básica KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. KOTLER, Philip; TRIAS DE BES, Fernando. Marketing lateral: uma abordagem revolucionária para criar novas oportunidades em mercados saturados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Bibliografia complementar KOTLER, Philip. Administração de Marketing: a edição do novo milênio. 10.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. KOTLER, Philip. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. São Paulo: Futura, 1999. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Estratégias de marketing lateral e do oceano azul / Anhembi Morumbi ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 12 ○ ○ ○ ○ BIBLIOGRAFIA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ANOTAÇÕES _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 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