Revista Sophia Nº 30 - Loja DHARMA da Sociedade Teosófica

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4
Ao leitor
Ouvir e unir
5
A catedral
das luzes
Liane Alves
12
Onde está Deus?
Radha Burnier
16
Educação para
o século 21
P. Krishna
22
Compreendendo
a morte e a vida
N. Sri Ram
26
Apenas ver
Steve Hagen
32
A transformação
pela poesia
José Eduardo
Mendes Camargo
34
Nietzsche e o
homem do futuro
Alan Senior
40
Planejamento
existencial
Ricardo Lindemann
46
Dicas
de livros
Educação para a vida
CAPA: FOTO DE JOSE IGNACIO SOTO
O ritmo acelerado da vida moderna faz com que cada
vez tenhamos menos tempo para a leitura, para a reflexão, e mesmo para cuidar do corpo. No meio do turbilhão que caracteriza nossas vidas, com demandas de toda
natureza, sentimos que algo precisa ser feito, que precisamos mudar, que precisamos buscar alternativas para a
vida tensa e corrida que levamos. É muito comum vermos pessoas agoniadas porque observam o tempo passar, sentem que estão envelhecendo, mas não conseguem
encontrar respostas para suas indagações.
Ricardo Lindemann, em seu segundo artigo sobre Planejamento Existencial, lembra que uma pessoa que não
sabe para onde quer ir provavelmente reclamará de
tudo e talvez nem saiba aproveitar as oportunidades que
apareçam. Faz-se necessário,
portanto, que elejamos os
nossos objetivos nessa vida.
Se estamos navegando no
oceano da vida, precisamos
encontrar o nosso rumo.
Os indianos têm um
conceito muito bonito, representado pela palavra
dharma, que pode ser traduzida por dever ou missão
de vida. Esse conceito está
intimamente ligado ao conceito de ordem universal. De
acordo com a sabedoria dos antigos mestres da Índia, a
vida tem um propósito; existe uma inteligência que rege
todos os acontecimentos e ordena e integra o movimento
de todas as partes que compõe a grande teia da vida. Por
não estarmos plenamente conscientes dessa teia, por estarmos autocentrados, deixamos de perceber o todo e
nos perdemos nos labirintos da vida.
Encontrar o rumo, descobrir o seu dharma é uma das
tarefas mais importantes em nossa vida. O problema é
que ninguém pode nos apontar o caminho. Como dizia
Krishnamurti, a verdade é uma terra sem caminhos. Precisamos encontrar o nosso rumo por meios próprios.
Considerando que é inútil tentarmos usar os livros, os
instrutores e as religiões como bússolas, só nos resta buscar o caminho olhando para o nosso interior. Nesse sentido, a meditação é uma ferramenta de grande valor, pois
permite que nós venhamos a restabelecer o contato com
nossa natureza interior e divina. Ela remove os bloqueios
que impedem que a luz divina ilumine a nossa mente.
Quando estamos em sintonia com a inteligência cósmica, com a grande teia da vida, o propósito de nossas
vidas começa a ficar mais claro. Podemos então planejar
conscientemente nossos passos, percebendo que não estamos sós, que somos células de um corpo maior. Nossa
4
ação torna-se então muito mais efetiva, pois deixamos
de nadar contra a correnteza.
Dentro dessa linha de raciocínio, cabe questionar: se
temos de descobrir as realidades mais profundas da vida
através de uma viagem interior, qual o papel da educação nesse processo? O professor P. Krishna, em seu artigo Educação para o Século 21, mostra que a verdadeira
educação é aquela que desperta nos alunos o amor e a
compaixão. Ele coloca a educação como um instrumento de desenvolvimento da sabedoria, sem a qual o conhecimento intelectual tem pouco valor. Afirma ainda
que a transformação da nossa sociedade e o advento de
um mundo de paz e harmonia só será possível quando
conseguirmos criar crianças, jovens e adultos conscientes e realizados. A educação deve estimular a formação
de mentes sensíveis para os problemas mundiais e não
apenas as questões pessoais e nacionais. Ela deve encorajar a investigação e não a conformidade, a cooperação
no lugar da competitividade.
A educação não deve, no entanto, estar restrita às salas de aula. Vivemos aprendendo. Quando estamos abertos, a vida está sempre nos propiciando novas descobertas. No artigo A transformação pela poesia, José Eduardo
Camargo dá testemunho de como pessoas de todas as classes sociais podem encontrar um significado para suas vidas e se realizarem através da poesia. A beleza e a arte
tocam a nossa sensibilidade. Quem já esteve na Catedral
de Chartres deve ter tido essa experiência. No artigo A
Catedral das Luzes, Liane Alves relata a sua experiência
diante da beleza e do magnetismo desse fantástico monumento gótico. A vida é uma viagem de descobertas. Que
nós estejamos sensíveis e despertos para os belos momentos que ela nos proporciona. Boa leitura!
Eduardo Weaver
Diretor-Presidente da Editora Teosófica
SOPHIA - Ano 8, nº 30 - abr/jun 2010 - Publicação da Ed. Teosófica
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Edição:
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Revisão:
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Tradução:
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Projeto gráfico e diagramação:
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Distribuição nacional:
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* As imagens utilizadas são de exclusiva
responsabilidade do editor-chefe.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
A catedral das
‘‘
luzes
Chartres esconde surpresas que aos poucos vão sendo desveladas.
Verdadeiro código secreto talhado em pedra e vidro, traz do passado formas
cifradas e ainda atuantes no processo de transformação do homem
GUILLERMO OSORIO
‘‘
Liane Alves*
Da janela do trem, é possível distinguir suas torres desiguais e pontiagudas, bem antes de chegar ao vilarejo de Chartres, a 91 quilômetros de Paris. Numa região plana, ela se
ergue como uma montanha de pedra cinza clara contra um
céu normalmente também cinza. Como uma caixa de tesouro contendo pedras preciosas faiscantes, seus vitrais se
transformam em pura luz em seu interior, num processo
que resulta em cores até hoje não reproduzíveis, como o famoso azul cobalto que cobre as vestes da Virgem de Chartres.
SOPHIA
SOPHIA
• •ABRI-JUN/2010
ABRI-JUN/2010
5
6
mente, preferia fazer o percurso
de outra forma, e me apressar em
ir na direção do famoso labirinto
incrustado no chão da entrada da
igreja, para depois seguir em frente e me encantar com os vitrais
da catedral em tons predominantes de azul e rosa. Até aquele
momento, também não sabia que
entrar em Chartres pela cripta fazia parte do percurso dos peregrinos medievais. Mas como era convidada do governo da França, por
meio da Atout France, a agência
governamental do turismo francês,
tinha de fazer o percurso sugerido pela guia local. Foi a minha
sorte. É como realmente se deve
começar a visita.
Ao descer pelos degraus de
pedra, lembrei de uma frase muito marcante: “Para subir aos céus,
é preciso primeiro descer aos infernos, de preferência sob as asas
de um anjo”. O nosso anjo – meu,
do representante da Atout France e de mais duas jornalistas brasileiras – era uma guia que falava
fluentemente o espanhol. Assim,
sob sua liderança, começava a
nossa descida.
É justamente na cripta que se
esconde o primeiro grande mistério de Chartres: as correntes telúricas sobre as quais ela foi fundada. Alguns autores apontam o local como uma colina já considerada sagrada pelos celtas, povo que
habitava o lugar bem antes da época cristã. Situada numa confluência de veios subterrâneos de água
organizados artificialmente sob a
forma de leques, a catedral se assenta sobre um mound, palavra
céltica que designa uma colina
onde se concentram forças de
energia telúrica de grande potência, chamadas de wouivre (ou vril),
na terminologia dos celtas. “O
mound sobre o qual a catedral de
Chartres está construída era um
local sagrado muito antes do cris-
GUILLERMO OSORIO
Se atualmente ela ainda parece
única e magnífica, o que dizer da
profunda impressão que a catedral
causava num peregrino do primeiro milênio? Para ele, Chartres era
tão grandiosa e moderna quanto,
para nós, um prédio de cem andares com vidros espelhados. Isso
sem falar da sua força simbólica e
da sua concepção arquitetônica gerada no espírito gótico, que procurava reproduzir o céu na Terra e
estabelecer uma ponte direta entre o homem e Deus.
Construída sobre as ruínas de
uma igreja românica, a catedral
atual tomou sua forma nos primeiro anos do século XI. Inaugurada
em 1064, imediatamente chamou
a atenção de toda a Europa. Era a
segunda igreja do continente a ser
construída no estilo gótico (a primeira foi a pequena St. Denis, em
Paris), que era uma grande novidade arquitetônica para a época.
Os viajantes peregrinos chegavam
aos milhares ao vilarejo em busca
de conforto espiritual, mas também de cura do corpo físico, pois
a catedral de Chartres tinha a fama
de operar milagres.
Ao contrário de hoje, eles não
entravam pela porta principal do
lado oeste, mas iniciavam seu caminho penetrando na cripta, alguns metros abaixo do piso da catedral, onde estão as paredes da
igreja românica original. Ali ficavam por horas ou dias até se sentirem prontos e purificados para
adentrar a igreja, como num processo iniciático de expurgação e
cura dos seus sofrimentos. Era
como um novo homem que o peregrino entrava na catedral pela
primeira vez, pronto para um contato com um plano espiritual anteriormente inatingível.
Também assim, dirigindo-me à
cripta logo após entrar no espaço
interno do templo, entrei na catedral pela primeira vez. Sincera-
SOPHIA • ABR-JUN/2010
tianismo”, diz Tim Wallace Murphy, autor do livro
O Código Secreto das Catedrais. “Ele era sagrado
muito antes que os druidas lá chegassem, e já era
um centro de peregrinação na época”, afirma. Como
os “vapores” que emergiam de templo de Delfos,
na Grécia, e que colocavam as pitonisas num diferente estado de consciência, as correntes de wouivre do mound de Chartres atuavam no ser humano
como centelha inicial de um processo transformador da consciência.
Segundo especialistas do tema, provavelmente
no neolítico, há milhares de anos, o lugar já deveria ser conhecido como uma espécie de Stonehenge. Os canais subterrâneos de água foram construídos de forma a intensificar conscientemente a energia natural que brotava da terra. “Esses são lugares
onde essa força telúrica extremamente poderosa,
ou spiritus mundi, pode ser detectada. O spiritus
mundi é tão potente que é capaz de despertar o
homem para a vida espiritual. Esse fato era reconhecido desde os tempos druídicos, quando o
mound era chamado de Colina dos Fortes, ou Colina dos Iniciados”, escreveu Tim Wallace-Murphy
na sua obra.
Blanche Mertz, outra
estudiosa do tema, fez
“Situada numa
uma investigação detalhaconfluência de veios
da desse estranho arranjo
subterrâneos de
de canais que ainda hoje
água organizados
existem sob a catedral. Ela
artificialmente sob a
descreve um sistema de
forma de leques, a
catorze canais destinados
catedral se assenta
a amplificar e a intensifisobre um mound,
car os efeitos das correnpalavra céltica que
tes de wouivre. Eles eram
encaminhados para um
designa uma colina
poço, que até hoje pode
onde se concentram
ser visto na cripta. Esse
forças de energia
ponto de confluência
telúrica de grande
energética situava-se exapotência.”
tamente no poço (na cripta) e, acima, no centro do
coro da catedral, onde antigamente estava o altar.
A mesa com as oferendas do pão e do vinho, além
de receber as forças telúricas que vinham de baixo da terra, também era receptáculo de energias
celestes que vinham de cima, intensificadas pelas
abóbodas e proporções precisas da catedral baseadas na geometria sagrada. Portanto, tanto a cripta quanto o altar eram considerados lugares de
iniciação espiritual, beneficiados pelo uso consciente da energia do céu e da terra.
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
7
A guia estava correta em nos conduzir primeiramente à cripta de muitas
capelas e altares. Escura, essa verdadeira igreja parcialmente subterrânea recebe a pouca luz que vem de fora através
de minúsculas janelas. Hoje a cripta é
iluminada artificialmente, mas não com
muita luz, para preservar o seu sentido
de introspecção e recolhimento. É sombria e, para alguns, amedrontadora.
Uma das jornalistas começa a passar mal e se apoia no meu braço. A
guia fala muito rapidamente, numa sucessão de dados históricos e culturais.
Sua voz começa a não ter mais sentido
para mim. Estou meio zonza. Também
percebo que estou quase sem pensamentos quando nos dirigimos ao poço,
no coração da cripta. A água do poço
foi desviada, mas mesmo assim a energia se manifesta intensamente.
Não é raro o visitante sentir-se mal
por causa da atuação poderosa da
wouivre telúrica, ainda presente. É o
que nos conta Sonja Ulrich Klug, no
seu livro A Catedral de Chartres, a geometria sagrada do Cosmos. “Enquanto estava de pé, ao lado do poço, senti uma náusea repentina. Outros membros do grupo também não se sentiram bem. Alguns reclamavam de tontura, outros de mal-estar geral. Quase
todos manifestaram algum tipo de problema psicossomático, embora o poço
estivesse fechado desde o século XVII”,
escreveu ela.
Nilrem (anagrama de Merlin), o misterioso guia da autora na catedral de
Chartres, explica: “As correntes telúricas são muito fortes lá embaixo, não
são? Aquele é um dos pontos magnéticos mais fortes da Terra. Ele faz parte
da cura que as pessoas buscavam na
Idade Média. As correntes intensas
transmitem a sensação de se estar sendo puxado para baixo”.
A cripta atuava como purgatório,
onde o peregrino se livrava de suas
dores, males e sofrimentos. Eram, literalmente, sugados pela terra. Será que
isso estaria acontecendo conosco?
Na cripta, além de rezar para a imagem da Virgem Negra, que não por
coincidência reproduz os traços da imagem egípcia de Ísis e seu filho Hórus,
8
os peregrinos medievais bebiam a água
do poço subterrâneo, considerada milagrosa. Isso quer dizer que, além da
purificação do espírito, eles passavam
pela cura do corpo e sua consequente
mudança de paradigma energético por
meio da ingestão da água dos canais
subterrâneos. Ali rezavam várias missas por dia, na penumbra e sob as graças de Notre Dame-sous-terre, ou Nossa Senhora Subterrânea.
Hoje não existe mais a imagem da
Virgem Negra para quem os peregrinos
rezavam. E há um motivo para isso. A
tradição da veneração da Madona Negra em grutas e criptas é aceita como
pré-cristã, e era muito popular entre os
celtas. A Senhora Escura representava
a força da natureza escondida sob a terra durante o inverno, que posteriormente explodiria em flores e frutas durante
a primavera e o verão. A sua escultura
já era conhecida dos romanos e foi descrita pelo imperador Júlio Cesar como
a Virgini Pariturae, ou a Virgem prestes a dar a luz. Na sua época, ela era
adorada pelos celtas no lugar sagrado
de Carnutum, entre os rios Eure e Loire, exatamente na colina onde hoje está
erigida Chartres.
Provavelmente de origem egípcia –
Ísis também era conhecida como Virgem Negra, e mãe de Hórus, o Sol – a
tradição celta desse culto se espalhou
pelo solo gaulês e seus altares antecedem inúmeras igrejas católicas atuais
dedicadas à Nossa Senhora. A imagem
de Notre Dame-sous-terre, com maior
ou menor variação, ainda se acha presente em muitas catedrais da França,
Itália, Espanha, Alemanha e Polônia.
Os cavaleiros templários, por outros
motivos, também abraçaram o culto à
Madona Negra. Para eles, ela representava a Virgem Oculta, ou Maria Madalena, raiz da descendência de Jesus e
protetora da sua Ordem, de acordo com
vários autores especializados no assunto. Na cripta, que fazia parte da construção românica original que antecedeu
à Chartres, vários vitrais ainda ostentam a cruz templária, também não por
acaso. Portanto, disfarçados sob a aparência de uma intensa devoção à Nossa Senhora, existe a possibilidade de
que vários cultos e crenças fossem sincretizados sob o olhar, muitas vezes
complacente, da Igreja.
Mas nem sempre essa convivência
foi pacífica. A imagem da Notre-Damesous-terre que estava na cripta de Chartres foi queimada num incêndio, talvez
intencional, pois os padres se tornavam
cada vez mais incomodados com os
cultos de origem pagã praticados dentro dos muros de suas catedrais. Foi
substituída por outra, retirada do altar
da cripta, e colocada ao lado de uma
“Hoje não existe mais
a imagem da Virgem
Negra para quem os
peregrinos rezavam.
A tradição da Madona Negra em grutas e
criptas é aceita como
pré-cristã, e era
muito popular entre
os celtas. Era adorada na colina onde
está Chartres.”
CLAUDIO GIOVANNI COLOMBO
O culto à Madona Negra
SOPHIA • ABR-JUN/2010
coluna dentro da catedral. Hoje ela é
conhecida como Notre Dame-sous-Pilier, Nossa Senhora do Pilar, e ainda é
centro de uma devoção extraordinária.
Como outras virgens negras, inclusive Nossa Senhora Aparecida, ela recebeu uma vestimenta em tecido, que
lhe dá uma estranha aparência piramidal. Assim é descrita pelo autor de O
Código Secreto das Catedrais: “A Virgem está vestida de acordo com a tradição, com mantos pesados e ornamentados, formalmente modelados como
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
um triângulo. Se ficarmos em frente do
pilar onde ela está, é possível se detectar um nível tangível de energia, um
lugar de poder dado por Deus onde a
vibração é tão baixa que pode induzir
uma sensação de desfalecimento, indicando que esse também é um ponto
de transformação espiritual.”
Outra Madona Negra iniciática está
em posição equivalente no lado sul do
deambulatório, ou seja, no centro do
vitral de Notre Dame de La Verrière,
vestida por vidros de azul cobalto
produzidos alquimicamente a partir do
ouro, segundo a autora alemã Sonja
Ulrich Klug no livro A Catedral de
Chartres. O local abaixo desse grande
vitral é considerado igualmente outro
ponto de possível transformação espiritual facilitado pelo uso consciente
da energia. Mas talvez o ponto energético mais conhecido no mundo inteiro
onde esse acesso a um nível diferenciado de consciência pode ocorrer, ainda nos dias de hoje, inclusive, é ainda
o labirinto de Chartres.
9
Significados ocultos nas formas
Subindo os degraus e agora lilar para frente e para trás. Nesse
vre da pesada energia da cripta, eu
ponto nos tornamos um elo perfeientrava no espaço reconfortante da
to entre o céu e a Terra. “Tanto no
catedral com o coração leve, como
labirinto de Creta quanto no de
os antigos peregrinos. Dei um susChartres, só um caminho conduz ao
piro de alívio. Meus olhos se acoscentro. Não se pode ficar perdido
tumaram aos poucos com essa ouno labirinto, ainda que seja essa a
tra penumbra, agora repleta de
primeira impressão. Tal fato constienergias celestes, como afirma a tratui mais uma indicação de que o
dição. A catedral é escura para que
labirinto representa o caminho da
os seus vitrais se tornem mais nítialma humana, pois também ela codos e faiscantes, um espetáculo para
nhece um só acesso a Deus”, diz a
os olhos e para o coração. Chegava
pesquisadora Sonja Klug.
agora o momento certo de enconOutros sinais estão ali presentrar o labirinto.
tes: o labirinto tem 365 pedras branPercorrê-lo leva aproximadacas e 273 pedras negras, numa alumente uma hora, mas nem sempre
são ao ano solar e o lunar; os onze
o caminho está livre. Muitas vezes
círculos concêntricos representam
o labirinto é subitamente ocupado
o sistema planetário. Por meio do
por cadeiras de palhinha colocadas
número de voltas, também estão
para a missa ou para eventuais aprerepresentados ali os planetas do sissentações musicais. Infelizmente era
tema solar, o zodíaco, a alma do
esse o caso, e fiquei decepcionada
com essa novidade, porque anteriormente, quando chegamos, o espaço estava de“A catedral é
simpedido. Mesmo assim
escura para que
segui resignadamente a
os seus vitrais se
guia, que ia nos falar dele.
O seu discurso era bem tratornem mais
dicional e cristão. Pensei
nítidos e faisque deveria buscar outras
cantes, um esfontes para descrevê-lo.
petáculo para
Percorrer o labirinto é
os olhos e para
uma viagem rumo ao ceno coração.”
tro do ser, percurso que é
feito exteriormente e interiormente. O circuambular constante faz o cérebro perder suas rígidas
referências de tempo e espaço. Em
poucos minutos, é possível se caminhar em outro espaço e tempo,
tão concentrados que ficamos em
encontrar a rota certa em suas múltiplas voltas, como as de um cérebro gigante. O percurso fatalmente
chegará ao centro. Ali, segundo medidas feitas por radiestesistas franceses, está presente um altíssimo nível de vibração energética, que
pode, inclusive, fazer o corpo osci10
mundo, o espírito e Deus, segundo
a terminologia empregada pelo filósofo grego Plotino. O centro coloca o homem em ressonância com
o universo físico e espiritual.
O reitor de Chartres, o chefe espiritual da catedral, vem até nós e
nos cumprimenta. Reclamo timidamente que o labirinto esteja ocupado pelas cadeiras. Ele me olha
com um sorriso divertido e diz: “Mas
o centro está completamente livre...”. Olho e vejo realmente que
poderia me dirigir ao ponto central
do labirinto e ali receber sua poderosa energia. Percebi que o percurso do labirinto eu já havia feito
durante toda minha vida e que essa
peregrinação existencial havia me
conduzido para aquele momento.
Esperei a guia falar ainda de todos
os vitrais, de todos os baixos rele-
SOPHIA • ABR-JUN/2010
vos e imagens interiores e exteriores da igreja, que por si só já dariam um livro, para então me dirigir
ao nosso grupo e pedir licença para
permanecer por uns momentos na
catedral em silêncio.
Eles se afastaram e segui na direção do centro do labirinto. Fiquei ali, quieta, por uns vinte minutos. Realmente senti um influxo
poderoso de energia que vinha de
cima. Me banhei nessa força iluminadora, agradeci interiormente,
e me dirigi ao altar. Lembrei-me
das palavras da guia: “Tão importante quanto chegar ao centro é
sair do labirinto, dando os cinco
passos sagrados em direção ao altar”. Fiz isso com toda consciência
e contrição. Agora, sim, eu poderia voltar para o mundo levando
um pouco da luminosidade grandiosa de Chartres.
A Escola de Chartres
O conhecimento por trás dessa
verdadeira máquina de transformação de energia física e espiritual estava nas mãos de um homem: o bispo – e possivelmente iniciado – Fulbert. Foi ele que, em 1007, fez de
Chartres uma escola de pensamento e um centro de peregrinação. O
currículo dos alunos da Escola de
Chartres, todos eles respeitados filósofos e eruditos de vários países
da Europa, incluía o estudo profundo das obras da Antiguidade Clássica da Grécia e de Roma, uma grande novidade para o pensamento medieval, pois durante muitos séculos
elas foram tidas como obras pagãs
indignas de crédito.
A Escola de Chartres foi fundada antes da Universidade de Paris
e alcançou seu apogeu no século
XII. Era considerada uma escola
neoplatônica e funcionava no mesmo lugar onde se erguem as lojinhas de suvenires ao redor da catedral. Mas acredita-se que, além de
filosófica, a Escola de Chartres também era iniciática e divulgadora de
um conhecimento secreto. Em 1020,
após um incêndio na igreja românica de Chartres, Fulbert decidiu
erguer uma nova catedral, com base
no que tinha sobrado da antiga. Era
também uma excelente oportunida-
de para aplicar praticamente o conhecimento alquímico de que ele
era portador numa construção de
vidro e pedra.
A nova catedral foi inaugurada
em 1307, oito anos após sua morte,
mas foi Fulbert que conduziu suas
obras durante quase sessenta anos.
Os próprios moradores a construíram, com base nas instruções dos
mestres artesãos orientados por
Fulbert. Altos impostos, donativos
em trocas de indulgências, doações
das famílias reais e uma peregrinação por toda Europa de um pedaço do véu da Virgem Maria (relíquia até hoje exposta na catedral)
trouxeram os recursos financeiros
necessários para a construção. E,
como um centro de conhecimento
espiritual e esotérico, nela também
se espalham símbolos da alquimia
ou da astrologia, ciências consideradas heréticas. Na sua planta, estrutura e paredes escondem-se proporções oriundas dos números pitagóricos, conhecimento vindo da
tradição iniciática da escola fundada por Pitágoras na Grécia. Esses
números e proporções da geometria sagrada também estão presentes nas 34 voltas do labirinto. Chartres é um mundo de energia conscientemente programada.
Informe-se bem antes de ir
O conhecimento oculto sobre a
Catedral de Chartres não está disponível para o turista comum. É necessário ler e se informar muito
antes de ir para lá. Os guias locais
darão informações interessantes,
mas apenas as “oficiais”, permitidas
pela Igreja (que nem admite sequer
que ali tenha sido um lugar de culto céltico, por exemplo). Há também muitos livros interessantes nas
lojinhas locais. Porém, mesmo que
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
muitos milhões de páginas fossem
escritas sobre a catedral, poderemos
ter certeza de que nem todos seus
segredos seriam desvelados.
Para maiores informações sobre
hoteis, restaurantes e guias locais,
consulte www.franceguide.com.
* Liane Alves é jornalista, tem doctorat de especialité do Institut Français de Presse (Sorbonne
IV) e escreve sobre espiritualidade e comportamento nas revistas Vida Simples e Bons Fluidos.
11
Onde está
‘‘
Deus?
A maravilha e a beleza cercam-nos no florescimento
das árvores, na mudança das estações, no movimento
incessante dos oceanos, na complexidade dos
interrelacionamentos. A evidência de um plano
divino está em tudo à nossa volta
‘‘
12
SOPHIA
SOPHIA •
• ABR-JUN/2010
ABR-JUN/2010
DAWSON TOTH
Radha Burnier*
SOPHIA
SOPHIA •
• ABRI-JUN/2010
ABRI-JUN/2010
Para muitas pessoas, o medo do desconhecido é
a base da crença em deus ou nos deuses. Até serem
encontradas explicações científicas, vários fenômenos da natureza eram cercados de mistério: o trovão
e o raio pareciam ameaçadores; a chegada da escuridão após o pôr-do-sol e os eclipses solar e lunar
eram mágicos. Deidades de vários tipos personificavam as forças da natureza ou simbolizavam o desconhecido no universo, e as pessoas acreditavam que
esses deuses e deusas deviam ser aplacados.
Com o progresso do conhecimento muitos mistérios aparentes foram resolvidos. A ciência começou a se desenvolver no mundo antigo através do
estudo das leis da natureza e da relação entre eventos. Nas civilizações indiana, chinesa, egípcia, caldeia e outras, a astrologia e a astronomia, que eram
uma só ciência, tinham papel importante na explicação dos fenômenos naturais e em trazer racionalidade às mentes assustadas.
Outros aspectos da natureza foram também investigados, como as propriedades de plantas e minerais. Isso levou a tal conhecimento da medicina e
da literatura sobre o tema que, mesmo hoje, ele se
mostra como um celeiro de novas descobertas.
Apesar de tudo isso, para a maioria das pessoas
o desconhecido ainda permanece assustador; muitas coisas estão além da sondagem e da especulação humanas. Só umas poucas mentes receptivas
reconhecem que os reinos transcendentais e misteriosos da existência podem ser explorados subjetivamente e que, logo que se tenha alcançado uma
percepção mais sutil e uma visão mais clara, podese conhecer a verdade de todas as coisas por meio
da experiência direta.
A maioria das pessoas permanece temerosa e
geralmente tenta reduzir o terror do desconhecido
fingindo que ele é cognoscível. Consequentemente, as pessoas de “mente religiosa” estão aptas a dar
forma concreta a Deus e a inventar imagens com
características humanas. A religião organizada, de
modo geral, explorou as pessoas e as tem mantido
num estado de temor – da morte, da existência pósmorte, etc. A hierarquia eclesiástica gosta de ter as
pessoas sob sua dependência, em vez de encorajálas a se transformar e a romper com a consciência
finita, entrando no oceano da infinidade.
O finito, o concreto, o conhecido e o cognoscível dão segurança psicológica não apenas àqueles
que são temerosos porque são ignorantes, mas também àqueles que acumulam conhecimento – inclusive cientistas e ateus que escarnecem dos que acreditam. Eles também se aferram à segurança dos mapas
familiares por eles mesmos desenhados. Sentem-se
perturbados por qualquer desafio às suas certezas.
13
Cientistas estão liderando a exploração de áreas que se pensava estarem
fora dos limites. Eles até mesmo introduziram a palavra Deus em suas especulações. Um artigo do The Guardian
Weekly sobre essa nova tendência diz:
“Quando se busca nas prateleiras de
uma livraria da moda, descobre-se uma
epidemia de busca a Deus.” Isso incomoda porque está acontecendo “mesmo nas áreas dedicadas às ciências”.
Stephen Hawking é chamado de “o
culpado que deu início à nova corrida a
Deus”, em 1988, ao terminar seu livro
Uma breve história do tempo com as
seguintes palavras: “Se encontrarmos a
resposta (...) seria o triunfo último da
razão humana – pois então conheceríamos verdadeiramente a mente de Deus.”
Entre outros que são também “culpados”
está Paul Davies, autor de The Mind of
God, que ganhou o prestigioso prêmio
Templeton, concedido àqueles cujo trabalho realça a compreensão da religião;
e Leon Lederman e Frank Tipler, chamados de “o novo esquadrão de Deus”.
O artigo indaga: “Para onde pode voltar-se um honesto ateu em busca de uma
tranquila consolação científica?”
Por que um ateu quer consolação,
e de quê? Estará buscando conforto
mental nas ideias fixas tanto quanto o
crente? Eles não são diferentes: querem
ambos a segurança do conhecido. Um
leitor escreveu: “A ciência realmente parecia a proteção perfeita contra o incompreensível e o misterioso. (...) É improvável que a nova física resolva o
mistério da vida ou do universo, que
está além do pensamento racional, mas
pode levar-nos além do mundo estéril,
sem cor, criado pela ciência mecanicista dos últimos três séculos.”
A ciência realmente ajudou no progresso da humanidade, libertando-a até
certo ponto da asfixia das crenças e superstições da religião convencional.
Agora ela está começando também a ir
além das posições fixas do pensamento materialista, podendo assim ajudar
as pessoas a emergir das falsas metas
que acompanham essa visão. Mas o
mistério da vida é por demais profundo e sutil para ceder totalmente aos
métodos científicos e à abordagem lógica. Eles podem não trazer o conhecimento da mente de Deus, como espera
14
Hawking. Pode ser necessário desenvolver uma sensibilidade de outro tipo.
“O universo é melhor compreendido quando visto não como uma máquina ou processo, mas como uma obra
de arte em evolução”, como indica um
outro pensador. Esse é um insight num
reino de significado onde razão e percepção estética não estão dissociadas,
mas fundidas, permitindo à consciência tornar-se perceptiva da ordem divina, na qual tanto a beleza quanto o
deleite têm lugar intrínseco. A música
e a matemática são complementares,
como ensinou Pitágoras. A música do
universo é sua matemática. Consequentemente, físicos como Dirac podem dizer: “É mais provável que uma teoria
de beleza matemática seja correta do
que uma teoria feia que se adapte a
alguns experimentos.”
As mentes que acreditam apenas na
razão, excluindo respostas ao que é
amável e bom, podem não estar preparadas para o conhecimento de Deus. A
história religiosa mostra que pessoas
puras e simples podem frequentemente
se tornar perceptivas do sagrado e intuir a verdade com mais facilidade que
os intelectualmente dotados. Existe um
caminho de contato direto com o sagrado (isto é, com Deus), chamado o ou-
tro, o desconhecido e assim por diante,
porque é suprarracional e inefável.
Todos nós já vimos pássaros engajados em construir ninhos que são extraordinárias obras de arte, e formigas
trilhando o caminho de casa carregando um fardo. Quem lhes ensinou essas
habilidades? O pássaro, a formiga e a
flor selvagem, tanto quanto o vasto
universo, contêm o mistério que é Deus,
e ele só se revela àqueles que desejam
se aproximar respeitosamente, com a
mente humilde, nada querendo e consequentemente sem medo.
A verdade é acessível aos puros de
coração e de mente aberta, não às mentes que estão buscando segurança no
conhecido, seja sob a forma de dogma
religioso ou teoria científica. Os buscadores da verdade devem aprender a
deixar de lado o medo e a olhar com
um profundo senso de admiração e humildade. A maravilha e a beleza cercam-nos no florescimento das árvores,
na mudança das estações, no movimento incessante dos oceanos, na complexidade dos interrelacionamentos. Como
escreveu um observador, “a evidência
de um plano divino está em tudo à
nossa volta, na terra, no mar, no céu”,
e as escrituras declaram que céu e terra estão plenos da glória de Deus.
O que é o progresso?
O quanto os seres humanos realmente ajudam a produzir o progresso
com suas invenções? Existem graves
temores sobre o efeito da engenharia
genética. Clérigos, parlamentares, médicos e muitas outras pessoas expressaram séria preocupação a respeito da
produção de “bebês geneticamente projetados”. Justifica-se os pais acreditarem que suas escolhas melhorarão as
coisas para si ou para a humanidade?
O que decide o progresso evolucionário é apenas uma questão de especulação. Alguns pensadores conjecturaram ou intuíram que havia objetivos
embutidos na evolução. Vicornte de
Nouy apresentou essa visão no livro
Human Destiny, publicado há várias
décadas. Outros lhe têm dado apoio
com evidências extraídas de seus próprios estudos biológicos e evolutivos.
Edmund Sinnott, no livro Biology of
the Spirit, escreveu: “Um organismo, à
medida que se desenvolve a partir de
um ovo ou de uma semente, regula de
tal maneira seu crescimento que se
move firmemente rumo à produção de
um indivíduo maduro de uma espécie
definida. Um direcionamento e uma
autorregulação similares são evidentes
nesse comportamento, e assim nos traços mentais. Oferece-se a sugestão de
que essa tendência rumo à busca do
objetivo, manifesta nas atividades tanto do corpo quanto da mente, é uma
característica básica de toda a vida.”
Se a própria evolução tem objetivos embutidos, a não ser que se façam
tentativas para entendê-los, a tecnologia que produz bebês clonados, ou
mesmo porcos ou carneiros clonados,
pode não ser benéfica em longo prazo.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
NICOLE LAWTON
‘‘
‘‘
O pássaro, a formiga e a flor, tanto quanto o vasto universo, contêm o mistério que é Deus, e ele
só se revela àqueles que desejam se aproximar respeitosamente, com a mente humilde
Deveriam pessoas confusas escolher o
tipo de progênie que terão? Que características verão o ulterior desenvolvimento da inteligência superior, da sabedoria e da compaixão? Quem sabe?
Estudos sobre o cérebro humano
avançaram a ponto de fazer algumas
pessoas pensarem que podem mudar as
características psicológicas de pacientes
e clientes. Um repórter escreveu: “À medida que os neurocientistas aprenderem
quais produtos químicos causam determinados traços da personalidade, a tentação de brincar com a natureza será irresistível.” Alguns otimistas e aventureiros no campo da neurociência acreditam até mesmo que, no futuro, estarão
em posição de projetar cérebros.
Até onde podemos ver, a capacidade humana de agir não aumenta junto
com o aumento do conhecimento e das
habilidades tecnológicas. Pode o cérebro insensato, que parece ter tanto talento para causar sofrimento, terminar
projetando cérebros que irão melhorar
os problemas para a espécie humana e
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
para todos os outros seres incorporados na corrente evolutiva?
A destruição da diversidade da Terra é outra causa de preocupação, mas
a grande maioria das nações e das pessoas não está preocupada, e busca um
estilo de vida que torna a destruição
inevitável. Quem seria capaz de adivinhar o futuro do humilde mamífero das
primeiras eras, e imaginar que iria tornar-se algo que propõe redesenhar cérebros por si próprio? Se houvesse oportunidade para alguma outra criatura da
natureza intervir como o homem intervém, talvez ela pudesse destruir aquele humilde mamífero. Clonar e imiscuirse geneticamente nos traços que definem a diversidade das espécies e subespécies pode ser antiprogresso.
O direcionamento na evolução só
pode originar-se da inteligência ilimitada do universo, operando naquela
esfera eterna onde passado, presente
e futuro são um. Os Adeptos dizem
que, para eles, passado, presente e
futuro são como um livro aberto. So-
mente uma consciência assim pode
saber o que é bom, no final das contas. Um cérebro insignificante e uma
mente que nem mesmo reconhece que
existe uma inteligência superior podem dar passos regressivos enquanto
imaginam que existe progresso. Essa
mente pode imaginar-se em posição
de decidir que parte da diversidade do
planeta deve ser preservada ou destruída; que tipo de progênie é melhor
para a vaca, o porco ou o ser humano; como o cérebro deve ser moldado
e como substituir características indesejadas para satisfazer nada mais do
que sua própria vaidade.
Nós, humanos, somos verdadeiramente parte de uma grande família invisível. “Deus sabe mais” é um bom ditado quando sabemos que Deus é a
vida una, a inteligência suprema, sob
cuja visão a direção é clara.
* Radha Burnier é escritora e presidente
internacional da Sociedade Teosófica.
15
Educação
para o
século 21
P. Krishna*
O tipo de indivíduo que produzimos determina o tipo de sociedade em
que vivemos. A criança é educada por
todo o ambiente no qual ela cresce, e
esse ambiente é igualmente determinado pelos pais, professores e a sociedade em torno da criança. Não é possível
produzir uma mudança fundamental na
sociedade a não ser que o indivíduo
seja transformado.
Isso faz surgir a questão: qual é a
nossa visão da educação? Os objetivos podem variar um pouco de país
para país, mas, essencialmente, em
todo o mundo, a educação tem como
objetivo produzir um ser humano que
seja inteligente, versado, trabalhador,
eficiente, disciplinado, esperto, bemsucedido e, espera-se, um líder na sua
área de atuação.
Adolf Hitler tinha todas essas qualidades. As únicas coisas que lhe faltavam eram amor e compaixão. O que
existe em nossa educação atual para
evitar a criação de um Hitler, ou, por
assim dizer, de “pequenos Hitlers”?
O Holocausto, talvez o maior crime do século XX, foi perpetrado num
país que possuía o melhor em ciências, artes, música e cultura, do tipo que
hoje em dia estamos procurando inculcar por meio da educação. O que há
na educação atual para evitar a repetição do holocausto? Talvez estejamos à
beira de um holocausto ainda maior,
no qual toda a humanidade pode ser
eliminada da face da Terra numa guerra nuclear. Estamos nos assegurando de
que o poder que produzimos será usa-
16
do de maneira amistosa e não de maneira demoníaca? Se assim não for, então é irresponsabilidade gerar poder.
Os maiores desafios que a humanidade enfrenta hoje em dia não são devidos à falta de educação. Eles não foram criados por aldeões analfabetos da
Ásia ou da África; foram criados pelas
mentes altamente educadas de profissionais – advogados, homens de negócios, administradores, cientistas, economistas, comandantes militares, diplomatas – que planejam e conduzem governos, organizações e negócios. Sendo
assim, precisamos olhar para o tipo de
educação que estamos ministrando.
Quando assim se faz, fica claro que
estamos produzindo seres humanos assimétricos, muito avançados em intelecto mas quase primitivos em outros
aspectos da vida: grandes cientistas e
engenheiros que podem enviar seres
humanos à lua mas que podem ser brutais com suas esposas ou vizinhos; seres humanos que possuem uma vasta compreenP. Krishna no Brasil
são do modus operandi
do universo mas que têm
O professor P. Krishna é orador
convidado da Escola Teosófica Inpouca compreensão de
ternacional, no Paraíso na Terra,
si mesmos.
em Brasília, de 28 de junho a 4 de
Como educadores, dejulho. O tema do evento é Teosovemos aceitar que, quanfia e a transformação da sociedado oferecemos conhecide. Ele também ministrará palestra na Sociedade Teosófica em
mento, é também nossa
Brasília, sobre A busca da feliciresponsabilidade oferecer
dade, no dia 3 de julho às 18h15.
sabedoria, ou despertá-la,
No Centro de Estudos Krishnapara ser empregada cormurti estão programadas duas palestras, sempre às 16h: no dia 27
retamente. Nossa educade junho, A arte do diálogo; no
ção atual não tem prestadia 4 de julho, É o ego uma iludo atenção séria a essa
são? Informações: (61) 3226-0662.
responsabilidade.
SOPHIA
SOPHIA • ABR-JUN/2010
ABR-JUN/2010
OLTIN DOGARU
‘‘
A criança aprende a partir daquilo que vê acontecer à sua
volta, e não daquilo que falamos na sala de aula. Ela absorve os
valores vistos, não aqueles sobre os quais se fala.
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
‘‘
17
Um novo modo de ensinar
Como devemos modificar nossa visão da educação para este século 21? Que tipo de mente devemos almejar produzir? Que valores
devemos tentar inculcar? A prescrição não deve ser idêntica para todos os países, e culturas diferentes
devem prosseguir com sua maneira particular. Mas esboços genéricos podem ser enunciados.
Criar uma mente global,
não uma mente nacionalista
Somos todos cidadãos do mundo
e compartilhamos a terra como nosso habitat comum. O que afeta uma
parte do mundo hoje em dia deve
preocupar todos nós. Assim, precisamos ter uma mente que tenha sentimento para com todo o mundo, e
não apenas para com um país.
a criança, já que o medo mata a
investigação e a iniciativa.
Cultivar a cooperação,
não a competição
A atual ênfase mundial na fama
é irracional e egoísta. Somos todos
interrelacionados, interdependentes
e pouco daquilo que é realmente significativo pode ser alcançado só e
isoladamente. O trabalho em equipe e a habilidade para trabalhar harmoniosamente com os outros são
mais importantes que a realização
individual. A cooperação é a essência da democracia. Trabalha-se não
para o lucro ou recompensa pessoal, mas para o bem-estar de toda a
comunidade, com amor em vez de
arrogância. É importante que cada
indivíduo faça o melhor que puder,
mas não é importante que seja melhor que o outro. Somos amigos, irmãos e irmãs, não rivais. Se algo de
bom acontece ao meu irmão, eu me
regozijo com ele. O senso de competição que estamos encorajando nas
crianças hoje em dia leva à inveja,
ao ciúme e à rivalidade. Cultiva as
sementes da divisão entre os seres
humanos e destroi o amor e a amizade. Portanto, é nocivo. A impor-
Enfatizar não apenas o
desenvolvimento econômico,
mas também o humano
A educação não deve considerar as crianças como matéria-prima
para se alcançar o progresso econômico de uma nação. Ela deve se
preocupar com o desenvolvimento
de todos os aspectos do ser humano – físico, intelectual, emocional
e espiritual –, para que viva criativamente e feliz como parte do todo.
A bondade deve ser valorizada acima da eficiência.
Pode ser inconveniente para os
adultos, mas é importante que as
crianças cresçam com perguntas e
não com respostas. Em cada idade
as perguntas serão naturalmente diferentes, mas a habilidade para inquirir e para aprender por si mesmo é mais importante do que obedecer e seguir inquestionavelmente o que é dito. Não deve haver
medo no nosso relacionamento com
18
PAOLO FERLA
Encorajar a investigação,
não a conformidade
SOPHIA • ABR-JUN/2010
tância que temos dado ao fato de se
ganhar medalhas de ouro está baseada em propaganda e ilusão. Importa
realmente saber qual ser humano
pode pular um milímetro mais alto
do que os outros?
Criar uma mente que
aprenda, em vez de uma
mente aquisitiva
O despertar da inteligência é mais
importante que o cultivo da memória, tanto na vida comum quanto na
vida acadêmica. Se dermos informação à criança contribuímos para o
“A competição que encorajamos nas crianças leva à inveja e à rivalidade, cultiva as
sementes da divisão e destroi
o amor e a amizade.”
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
seu conhecimento, mas inteligência
é a habilidade de aprender por si
mesmo. Aquilo que é ensinado é limitado, mas o aprendizado é infinito. As maiores coisas na vida são
aquelas que não podem ser ensinadas, mas que podem ser aprendidas. O sentimento de amor, respeito, beleza e amizade não pode ser
ensinado, mas, tal qual a sensibilidade, pode ser despertado, e esta é
uma parte essencial da inteligência.
A habilidade para discernir por si
próprio o que é verdadeiro e o que
é falso também é inteligência. É importante criar uma mente que nem
aceite nem rejeite uma opinião ou
uma visão muito rapidamente, mas
que permaneça com o questionamento: “Será verdade?”
Criar uma mente ao mesmo
tempo científica e religiosa,
no verdadeiro sentido
Infelizmente separamos a busca
científica da busca religiosa da humanidade e, no processo educativo,
concentramo-nos apenas na primeira. Elas são duas buscas complementares: uma para a descoberta da ordem que se manifesta no mundo
externo de matéria (energia, espaço
e tempo), e a outra para a descoberta da ordem no mundo interno de
nossa consciência (paz, harmonia,
virtude). Ao equivocadamente compararmos religião com crença criamos um antagonismo entre ciência
e religião. Mas ambas são buscas
pela verdade em dois aspectos complementares de uma única realidade, que é composta tanto de matéria quanto de consciência.
Uma mente que seja puramente
racional, científica e intelectual
pode ser extremamente cruel e destituída de amor e compaixão. Uma
que seja apenas religiosa (estritamente falando) pode ser extremamente emocional, sentimental, supersticiosa e, portanto, neurótica.
Por isso devemos almejar criar uma
mente que seja científica e religiosa ao mesmo tempo – uma mente
que seja inquiridora, precisa, racional e cética, mas que ao mesmo
tempo tenha senso de beleza, de
maravilha, de estética, de sensibilidade, de humildade, e percepção
das limitações do intelecto.
Sem esse equilíbrio entre emoção e intelecto, a mente não é verdadeiramente educada. Compreender a si mesmo é tão importante
quanto compreender o mundo. Sem
uma compreensão profunda de
nossos relacionamentos com a natureza, as ideias e a sociedade, e
sem o profundo respeito pela vida,
a pessoa não é realmente educada.
19
Desenvolvimento holístico
A virtude, que é o florescer da bondade na consciência humana, é um
subproduto do autoconhecimento. Não
é algo que possa ser praticado mecanicamente como uma habilidade.
A consciência humana possui várias faculdades ou capacidades. Tentei
agrupar palavras que usamos comumente para descrevê-las, em quatro
categorias. Muitas delas se sobrepõem,
mas aquelas dentro de uma categoria
parecem ter uma base comum e diferirem fundamentalmente daquelas em
outra categoria:
Com base no sentimento: alegria, beleza, maravilha, estética, humor, arte,
música, poesia, literatura, amor, empatia, afeição, compaixão, amizade.
Apego, desejo, temor, ódio, ciúme,
ira, violência.
Além do pensamento e do sentimento: intuição, insight, visão, sabedoria, silêncio, meditação, paz, harmonia, compreensão, inteligência (não
do pensamento).
SIMONA BALINT
Intrínseco: percepção, consciência,
observação, atenção.
Com base no pensamento: conhecimento, memória, imaginação, razão,
análise, crítica, ciência, matemática,
linguagem, concentração, inteligência (do pensamento), vontade.
Essa classificação é apenas para a
conveniência da discussão. A lista não
é exaustiva; pode-se adicionar a ela
várias outras palavras. As categorias
também não são exclusivas, uma vez
que pensar, sentir e observar ocorrem
simultaneamente em nossa consciência
e também interagem entre si.
Atualmente a educação enfatiza
muito as faculdades baseadas no pensamento e não dá o mesmo valor às
baseadas no sentimento. Para o desenvolvimento holístico do indivíduo é importante que haja uma profunda compreensão de todas as faculdades acima, e que sejam desenvolvidas de maneira equilibrada. Isso significa que para
cultivar uma faculdade não devemos
prejudicar ou danificar uma outra. Não
“Na nova visão da educação não estamos apenas assumindo a responsabilidade de ministrar
informação e habilidades, mas também de despertar a sensibilidade e a criatividade, que são
despertadas na criança se houver a atmosfera correta na escola eSOPHIA
no lar.”
• ABR-JUN/2010
20 20
cola é aquela onde as crianças são felizes, não aquela que atinge os melhores resultados em termos acadêmicos.
A verdadeira responsabilidade da
educação é revelar à criança toda a
beleza da vida, e existe grande beleza
na arte, na literatura, na ciência, na matemática, na música, nos jogos e nos
esportes, na natureza e nos relacionamentos – na verdade, em todos os aspectos da vida. Temos uma ideia razoavelmente boa do que significa para
uma árvore estar plenamente coberta
de flores. Mas inquirimos seriamente o
que significa para a consciência humana estar plenamente desabrochada? Será
que a educação não deve ajudar-nos a
descobrir isso por nós mesmos?
Existem várias dificuldades em se
ministrar esse tipo de educação. A maior delas é que nós
mesmos não o tivemos. Portanto, precisamos questionar
nossos métodos, e não apeA educação deve se preocupar com a
nas repetir o que nossos proarte de viver criativamente, muito mais
fessores e pais faziam. É prevasta do que a pintura, a música ou a
ciso que sejamos originais, indança. Equiparamos qualidade de vida a
teligentes e criativos.
padrão de vida, e a medimos em termos
Nossas mentes estão
de produto interno bruto ou renda per
condicionadas
ao sistema
capita. Mas será a qualidade da vida deantigo,
à
visão
antiga;
portanterminada apenas pela casa em que moto, nós próprios somos os
ramos, o carro, o alimento ou as roupas?
obstáculos no caminho do
Será que a qualidade de nossa mente não
novo. A pessoa deve estar inafeta muito mais a qualidade de nossa
tensamente perceptiva desse
vida? Uma mente que está constantemenfato e, portanto, não apenas
te preocupada, chateada, invejosa ou frusensinar, mas também aprentrada não pode colaborar para uma vida
der a se libertar do passado.
com qualidade.
Na nova visão da educaQuando educamos não para o desenção não estamos apenas asvolvimento econômico, mas para o desumindo a responsabilidade
senvolvimento humano, devemos nos prede ministrar informação e haocupar com a felicidade do indivíduo
bilidades, mas também de
como um todo, no qual o bem-estar e o
despertar a sensibilidade e a
conforto físicos são uma parte pequena
criatividade, que são despermas necessária. Muito mais importante é
tadas na criança se houver a
a habilidade para trabalhar com alegria,
atmosfera correta na escola e
sem se comparar com os outros. Quando
no lar. É nossa responsabiliensinamos as crianças a trabalharem por
dade criar essa atmosfera –
uma recompensa e não pela alegria do
uma atmosfera de trabalho
trabalho, ensinamos-lhes a separar o tracooperativo, com alegria e
balho do prazer. Uma mente assim só é
amizade, trabalhando muito,
energizada quando existe recompensa;
mas sem ambição pessoal ou
caso contrário, vive num estado de aborqualquer sentido de rivalidarecimento. A arte de viver consiste em desde; uma atmosfera de aberfrutar de tudo que se faz, independentetura, de questionamento, de
mente dos resultados que se possa obter.
investigação e de alegria em
se pode usar o medo e a punição para
fazer os estudantes trabalharem mais,
já que isto destroi a investigação, a inteligência e a iniciativa. Também não
se deve usar comparação e competição como incentivo, uma vez que isso
destroi o amor e promove a agressão.
Não se deve oferecer recompensas, uma
vez que isso cultiva a ganância e a insensibilidade.
Que incentivo devemos nós, professores, usar para fazer com que os
alunos aprendam? O desafio é revelar
a beleza do tema à criança para que a
educação torne-se um processo alegre,
e não uma tarefa árida a ser realizada.
Se aceitarmos esse desafio, devemos
descobrir maneiras de tornar a educação alegre e interessante. Uma boa es-
A arte de viver
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
aprender juntos. Isso significa que nós
próprios devemos viver e trabalhar dessa maneira. A criança aprende a partir
daquilo que vê acontecer à sua volta, e
não daquilo que falamos na sala de
aula. A criança absorve os valores vistos, não aqueles sobre os quais se fala.
Intelectualmente nós, adultos, devemos saber mais do que as crianças,
mas nas questões mais amplas da vida
enfrentamos os mesmos problemas, as
mesmas dificuldades que elas – aborrecimentos, preocupações, medo, hábitos, conflitos, desejos, frustrações e
violência. Portanto, devemos aprender
juntamente com a criança, e não apenas ensinar. Isso demanda grande honestidade, humildade, sensibilidade e
paciência. Essa é a nossa dificuldade –
ser educadores desejosos de aceitar esse
desafio, e não buscar uma saída fácil.
Não existe essa saída. As verdades mais
profundas vêm a uma mente reflexiva
sob a forma de insights que não podem ser ensinados por uma outra pessoa. Nada se pode fazer para criar insights, mas não se deve bloqueá-los com
uma mente ambiciosa e imperativa que
não tem tempo para parar e observar.
Essa visão da educação para o século XXI apoia-se muito no trabalho e
na vida de Maria Montessori e de Krishnamurti, que enfatizaram a necessidade de se educar todo o ser humano, e
não apenas o intelecto. A partir dessa
visão, Montessori desenvolveu certos
métodos e técnicas para crianças pequenas. Mas as técnicas e os materiais
que ela desenvolveu só têm significado quando o professor compartilha da
visão de vida que ela possuía.
Uma escola não é uma escola Montessori só porque adota o uso dessas
técnicas e desses materiais. A técnica
não cria a visão; é a visão que cria a
técnica. É importante encontrar essa
visão de vida e verdadeiramente viver
dessa maneira. A não ser que a educação ajude o estudante a fazer isso,
ela tem muito pouca significação. Devemos ser estudantes toda a nossa
vida, vivendo com questões profundas
e fundamentais.
* P. Krishna é físico, escritor e ex-reitor do Centro
Educacional de Rajghat, Fundação Krishnamurti,
Varanasi, Índia.
21
MARTIN ROTOVNIK
‘‘
É a purificação da natureza integral do ser humano que faz florescer
a independência espiritual, e isso verdadeiramente é liberdade.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
22
‘‘
Compreendendo
a morte e a
N. Sri Ram*
Um dos mais famosos diálogos de
Platão é o que relata a morte de Sócrates. Quando seus amigos entraram na
prisão, viram Sócrates esfregando a
perna, que acabara de ser libertada dos
grilhões. O notável a respeito de sua
conduta foi que ele não fez qualquer
queixa; apenas teceu considerações
sobre a extraordinária alternância e
conexão entre o prazer e a dor na vida.
Disse que houve uma experiência de
dor, mas agora que estava livre dos grilhões, havia prazer. Se um de nós estivesse em sua situação, pergunto-me que
tipo de sentimento ou pensamento teríamos nutrido.
A conversa continuou, várias ideias
foram trocadas, e quando se aproximou
a noite, Sócrates recebeu a taça de veneno que bebeu calmamente. Quando
o veneno começou a fazer efeito ele
descreveu o avanço da morte sobre o
corpo, a partir dos pés, etapa por etapa. Após discutir sobre a natureza da
alma, Sócrates explicou quais as metas
buscadas pelo verdadeiro filósofo, e por
que a morte lhe é bem-vinda.
Um dos amigos sugeriu que a alma
pode ser da mesma natureza da harmonia. Se o corpo pode ser comparado a um alaúde, a alma pode ser a
música produzida pelo instrumento.
Essa visão, embora invista a alma com
dignidade e beleza, não lhe confere
um status independente. Parece propor o que se poderia chamar de teoria
epifenomenalista: o corpo é a realidade, várias atividades acontecem nele,
particularmente as cerebrais, e a alma,
embora possua uma natureza de harmonia, é simplesmente produto dessas atividades. Mas, quando o instrumento estivesse danificado, não mais
haveria música.
Muitas coisas ocorrem na natureza
de uma maneira aparentemente contrária aos fatos reais, como o nascer e o
pôr-do-sol. O argumento de que a alma
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
vida
ou a mente – por enquanto colocandoas juntas – são apenas um tipo de imagem refletida das atividades no campo
material do cérebro, embora plausível,
pode também ser contraditório com
relação aos fatos. O que parece ocorrer, à primeira vista, pode não ser a verdade básica ou subjacente.
Os argumentos apresentados para
a preexistência da alma são ideias que
desde então se tornaram famosas como
parte da filosofia platônica. Houve referência à antiga crença de que a alma
que nasce nesse mundo voltou de um
outro mundo para o qual o homem vai
quando morre. É claro que esse é um
conceito amplamente aceito na Índia,
mas ele também existiu no pensamento antigo entre outros povos.
A sugestão foi de que os mortos
originam-se dos vivos; os vivos originam-se dos mortos. É um fenômeno de
ocorrência cíclica, como o sono e a vigília, o que está de acordo com a regra
de que os opostos se geram reciprocamente. Morrer e nascer constituem um
par de opostos. Mas o modo como estão unidos, de tal maneira que um evento acarreta o outro, aparentemente não
foi aprofundado. Platão tinha o hábito
de às vezes lançar uma ideia profundamente sugestiva e impressionante, para
depois deixar que os outros continuassem a investigá-la por si mesmos.
Outro argumento referia-se a uma
ideia de Sócrates de que todo conhecimento verdadeiro é uma reminiscência,
uma lembrança do cérebro físico. A
alma deve ter existido e possuído um
conhecimento específico antes de ser
unida ao corpo; a evidência disso seria
o fato de compreendermos conceitos
como justiça, beleza, igualdade, etc, e
essas ideias não se originarem de percepções dos sentidos. Portanto, elas devem já ter estado integradas ao conhecimento da alma.
As percepções dos sentidos – ouvir
sons, ver que algo é vermelho ou preto,
que algo é alto ou baixo – são todas
ideias comparativas. Meramente baseando-se nessas percepções não se pode
desenvolver noções de beleza, justiça,
moralidade, etc. Portanto, conhecimento e ideias devem ter uma fonte diferente. Ademais, se a alma existia independentemente antes do nascimento, então
ela não pode morrer com o corpo.
Sócrates também expressou que a
alma não pode ter uma natureza constituída de vários fatores, pois assim a
sua condição se modificaria. Ela deve
ter uma natureza imutável. Muito embora uma alma possa ser mais desenvolvida que outra, a natureza essencial
de ambas deve ser a mesma. Um conjunto de fatores variáveis é passível de
mudança, ao passo que aquilo que é
simples, ou seja, a parte imortal do
homem que reencarna, deve permanecer essencialmente a mesma.
A afirmação seguinte foi de que a
alma deve ter a natureza da vida. Não
pode ser uma abstração, uma projeção
da mente. A alma deve ser da mesma
natureza da deidade, para assegurar a
crença em sua imortalidade. Somente a
divindade pode ser imortal, e aquilo que
não é divino deve ser mortal.
Sócrates exortou seus amigos a adquirirem virtudes e sabedoria nessa
vida. Aproximava-se o momento de sua
morte, mas ele continuava a falar de
maneira natural e tranquila, como o fizera em qualquer outro dia de sua vida.
Ele disse: “O verdadeiro filósofo é aquele cuja mente está direcionada para a
verdade e a virtude.”
A palavra filósofo, e também a palavra filosofia, mudaram bastante de significado desde aqueles tempos antigos.
Hoje em dia pensamos num filósofo
como alguém que analisa e argumenta
durante muito tempo, às vezes indefinidamente, sua tese particular; a vida que
ele vive nada tem a ver com sua habilidade e atividade intelectual. Mas não era
essa a visão de antigamente. No sentido
literal da palavra, filosofia é amor à verdade, e amor sempre implica ação.
23
A felicidade vem da pureza
24
O filósofo esforça-se para cultivar
a alma, dando atenção àqueles assuntos que são de interesse da alma, como
a verdade, a virtude e assim por diante. Ao fazer isso, ele já se separou do
seu corpo. E como abandonou todo o
apego aos prazeres que vêm através do
corpo, a morte é nada mais que uma
saída por uma porta aberta. As coisas
que nutrem a alma são o bem, a retidão, a verdade, a beleza. Sócrates disse: “Aproxima-se muito da morte aquele
que não se importa com os prazeres
do corpo.” Pode-se usufruir os prazeres que surgem momentaneamente, mas
não se deve desejá-los com ansiedade.
Afastando-os do campo das preocupações e interesses da pessoa, quase se
chega à morte. É nesse sentido que o
filósofo deseja a morte, mesmo enquanto vive. Isso é semelhante ao ensinamento de Krishnamurti, embora ele não
fale da morte como uma saída bemvinda, mas de morrer aqui e agora para
o próprio passado e para todas as experiências à medida que surgem.
O filósofo, cujo interesse está centrado na virtude e na sabedoria, purifica, assim, sua inteligência, de modo que
se torna livre de toda mácula, de todo
elemento estranho. É a purificação da
natureza integral do ser humano que
faz florescer a independência espiritual, e isso verdadeiramente é liberdade.
Expressando de outra maneira, é
verdadeiramente descartando o próprio
passado que o homem transforma-se
num novo ser. A entidade que está atuando no momento é uma criatura que
viaja ao longo de uma linha de continuidade e que tem em sua constituição
muitas coisas derivadas do passado.
Transformar-se em um novo ser é libertar-se do passado, de modo que ele
não mais direcione o presente. Esse tipo
de morte realmente torna a vida menos embaraçada e opressiva; as percepções tornam-se mais agudas e a inteligência mais concentrada, semelhante
a uma chama. É um estado de pureza
interior onde se atinge a mais elevada
qualidade de atuação de cada aspecto
do ser. Toda substância em estado puro
exibe seu pleno potencial.
Como razão para estar disposto a
morrer, Sócrates comentou que estaríamos muito bem no local para onde
iríamos, sob a orientação de bons mestres e em meio a amigos. As pessoas
gostam de estar em ambientes familiares. Se um homem dedicou sua vida à
filosofia, pode ter certeza de que estará bem situado. Será feliz na proporção da pureza de sua mente.
Não se deve confundir felicidade
com prazer. A felicidade vem da pureza da mente e do coração e surge naturalmente; não precisamos procurála. Se é que algum dia vamos conhe-
“A alma deve ter
existido e possuído
um conhecimento
específico antes de
ser unida ao corpo.
Se ela existia independentemente, antes do nascimento,
então não pode morrer com o corpo.”
BARUNPATRO
A verdade, se sua natureza for tal
que evoque amor, terá que produzir
uma mudança importante na pessoa,
desviando-lhe o interesse das coisas
dos sentidos, que são efêmeras, simples prazeres e divertimentos, para as
coisas nobres e verdadeiras. Era esse
o conceito antigo de um filósofo. Porque sua mente está direcionada à verdade e à sabedoria, o filósofo, disse
Sócrates, é aquele “que está disposto
e pronto para morrer”. Portanto, a
morte lhe é bem-vinda.
É assim que ele explicava seu contentamento sobre a perspectiva de partir desse mundo. Mas ele também disse que não é correto cometer suicídio.
Seu argumento contra o suicídio é algo
curioso: nesse mundo estamos numa
espécie de prisão, vivendo sob grandes limitações. É um mundo no qual
predomina mais a ignorância que a sabedoria, mas dele não devemos fugir
antes que recebamos permissão para
fazê-lo. A saída da prisão pode ser
muito bem-vinda, mas não devemos
nos evadir dela por nossa própria iniciativa. Foi feita também a afirmativa
de que ninguém tem direito de posse
sobre o corpo. Essa não seria a visão
geralmente sustentada pela maioria
das pessoas, mas temos a responsabilidade de usar o corpo de maneira
correta e de mantê-lo em boas condições, que é precisamente o ponto de
vista expresso no livro Aos Pés do Mestre, de Krishnamurti.
Quando a vida é vivida de maneira
apropriada, direcionada às finalidades
que são as metas da alma (e não os
desejos do corpo), então a filosofia ou
a vida do filósofo “é apenas um longo
ensaio sobre a morte”.
Sócrates explica que as pessoas em
geral ignoram o sentido com o qual o
filósofo recebe a morte. Não significa
que ele queira livrar-se do corpo, mas
que tem um sentimento amistoso com
relação à morte. Ele tem esse sentimento porque não dá muita importância à
satisfação dos apetites físicos. A maioria dos homens estima o valor das coisas pelo prazer que podem auferir, mas
a meta do filósofo é libertar-se tanto
quanto possível do domínio do corpo.
SOPHIA
SOPHIA •• ABR-JUN/2010
ABR-JUN/2010
cer a natureza de algo em sua essência, conhecer a sua realidade verdadeira e não meramente a aparência,
teremos de estar separados do corpo
e contemplar as coisas em si através
da alma. Somente a visão e a sabedoria da alma pode proporcionar a essência da verdade com relação a qualquer coisa existente.
O Bhagavad Gita refere-se aos “conhecedores da essência das coisas”,
sendo a qualidade essencial de uma
coisa aquilo que a torna diferente de
tudo mais. A essência, a coisa em si, só
pode ser conhecida através da alma, e
jamais através dos sentidos. Enquanto
SOPHIA
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
ABRI-JUN/2010
vivemos, nós nos aproximamos muito
do conhecimento dessa essência, quando não mantemos quaisquer relações
ou comunicação com o corpo, exceto
para o que for absolutamente necessário – isto é, quando deixamos de ser
dependentes do corpo, de ser influenciados por seus apetites, impulsos e paixões. Em outras palavras, todo o esforço da filosofia, no sentido antigo da
palavra, é a libertação da alma em relação ao corpo, e isso pode ser alcançado nessa vida. Não é algo que deva
ocorrer por um processo da natureza,
mas que pode ser produzido através da
inteligência da própria pessoa.
Quando se é livre da dependência
do corpo, quando essa mudança ocorre em sua totalidade, então morte e vida
são a mesma coisa para o homem real,
sendo o homem real a alma; viver ou
morrer não faz diferença para ele. Isso
também lembra a afirmação no Bhagavad Gita de que “os sábios não lamentam nem os vivos e nem os mortos”. É possível chegar a um estado interior no qual a alma usa o corpo como
instrumento, sem se apegar a ele.
* Filósofo e teósofo, conferencista
internacional e ex-presidente internacional
da Sociedade Teosófica.
2 52 5
Apenas
PUKEYCOW
ver
26
SOPHIA • ABR-JUN/2010
Steve Hagen*
Atualmente parece que nós, humanos modernos, conseguimos tudo, menos qualquer possibilidade de uma crença objetiva. O mistério e a magia da natureza nos abandonaram. Não
vemos grande significação em cada objeto, cada lugar e cada
sonho. Em outras palavras, Deus não é um argumento convincente para nós. O estudo objetivo do mundo fez com que ele
se tornasse um mundo de matéria sem vida. Indagamos até se
nós também somos sem vida – isto é, sem alma. Indagamos se
a mente será uma máquina, um computador, um bit de programação biológica preso num hardware protoplasmático.
Essas perguntas levam inevitavelmente a outras maiores: o
que somos? O que estamos fazendo aqui? Como o mundo pode
ser do modo como é? O mundo é um local estranho – inconcebivelmente estranho.
Descobertas da física moderna – por exemplo, a de que um
elétron é ao mesmo tempo uma partícula e uma onda – apresentam-se como contradições que parecem estar entretecidas
no próprio tecido da realidade física. Elas destruíram as nossas
noções de senso comum sobre como o mundo é feito e como
funciona.
Estamos enfrentando uma crise de conhecimento, pois, quando examinamos cuidadosamente a textura da realidade física,
não temos como conceber essa realidade.
Portanto, o conhecimento do que é real
“Devemos viver
deve ser questionado. Se não sabemos o
que é real, em que sentido podemos dicom a visão, não
zer que temos qualquer conhecimento?
com o pensamenComo podemos distinguir o conhecimento. Devemos viver e
to da crença?
agir a partir do
O consenso é que o conhecimento
todo, não da pardeve ser diferente da simples crença. Conte. Devemos deixar
tudo, ninguém foi capaz de definir conheo mundo vir a
cimento de uma maneira que genuinamente o distinga da crença.
nós, não nos lanApós séculos de debate, definimos coçarmos sobre ele.”
nhecimento como uma “crença verdadeira, justificada” – até que, como todas as
definições anteriores, essa também recebeu um golpe mortal
em 1963, quando o filósofo Edmund Gettier mostrou que a
pessoa pode ter uma crença verdadeira, justificada, e contudo
não saber em que acredita. Seu argumento: digamos que um
homem acredita ver uma ovelha no campo, mas na realidade
trata-se de um cachorro. Além do cachorro, existe realmente
uma ovelha no campo, mas o homem não a vê. Os três critérios para o conhecimento (crença, justificação e verdade) foram encontrados, mas não podemos dizer que essa pessoa
realmente sabe que há uma ovelha no campo, já que seu
conhecimento baseia-se em ter confundido uma ovelha com
um cachorro.
Desde então outras pessoas apresentaram novas ideias e
acrescentou-se um quarto critério – o de que o conhecimento é
uma crença verdadeira, justificada, irrevogável e “sem defeitos”. Mas esse quarto critério não nos aproxima do conhecimento e da certeza.
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
27 27
Nosso problema surge de insistir
em confiar no que pensamos, imaginamos e concebemos (ou seja, acreditamos) e não no que vemos, experienciamos e percebemos (ou seja, conhecemos). Ignoramos o que de fato
conhecemos e nos aferramos àquilo
em que acreditamos, insistindo que o
que acreditamos é o que conhecemos.
Porém, a crença só surge quando
não há conhecimento, quando não temos certeza. Se eu me aproximar de
você com a mão fechada e disser que
tenho uma joia dentro dela, enquanto
eu mantiver a mão fechada sua mente permanecerá num estado de incerteza. Faria sentido você se referir à
joia na minha mão como uma crença.
Não faria sentido falar disso como fato
conhecido. Você pode acreditar ou
não, mas, sendo a relidade o que é –
absoluta, independente do que se pensa –, aquilo em que você acredita não
importa. Enquanto minha mão permanecer fechada, você não pode ter certeza. A mente que acredita existe sempre num estado de dúvida.
Não se pode confiar que a crença
revele a verdade. A verdade só pode
ser conhecida diretamente, sem qualquer mediação. Mas o que podemos
fazer para ir além da crença, para chegar à certeza que somente a verdade
pode prover?
A resposta é observar cuidadosamente o que acontece à nossa volta –
e notar que as crenças e histórias mentais jamais explicam plenamente o que
ocorre. Após o longo sono do modo
de pensar habitual, a mente é, então,
subitamente transformada, ao chegar
a uma nova percepção.
Nossos olhos devem permanecer
abertos tempo suficiente para que possamos ser subitamente tocados por uma
nova experiência, uma nova percepção,
que abale o pensamento habitual e as
velhas e conhecidas histórias.
Devemos ver com um outro olhar
aquilo em que acreditamos e de que
começamos a duvidar. É sempre possível duvidar de qualquer conceito ou
crença. Devemos duvidar até não confiar mais nas nossas idéias das coisas,
28
e, em vez disso, apenas olhar e ver.
Devemos duvidar até ter certeza de
que não deixamos passar nada em
branco, não construímos nada, não
estamos prestando atenção a nada.
Devemos duvidar até não estar mais
presos a qualquer ideia.
Mas não podemos parar aí. Se escolhermos alguma outra crença, descobriremos novamente que, no que diz
respeito à verdade, ainda somos tão
ignorantes como sempre fomos. Ainda não nos libertamos da confusão que
habita em nossa história.
Só conseguimos nos libertar dessa confusão com uma estrutura de
mente aberta e inquiridora, sempre
em guarda para não insistir demais
em alguma crendice particular, não
importa quão bem “justificada” ela
seja. Se a nossa busca for autêntica,
não podemos começar com nenhuma suposição ou conceito. Se o fizermos, jamais obteremos um vislumbre da verdade.
Devemos olhar o mundo com
atenção. Vê-lo sem qualquer tendência mental – sem conceitos, crenças,
preconceitos, suposições ou expectativas. Fazer isso é estar plenamente desperto. Devemos enfrentar nossa ignorância honestamente e apenas ver a sua natureza. Devemos
simplesmente aprender a apenas ver
o que se apresentado na experiência. Ao fazer isso percebemos que
manter nossas crenças é um profundo erro conceitual. Devemos confiar somente no que vemos, não no
que pensamos. Assim podemos despertar para a realidade. Nós erramos
ao empacotar nossas percepções – ao
conceituar. Esse é precisamente o
ponto onde saímos dos trilhos e nos
afastamos da realidade.
Jeremy Campbell, em The Improbable Machine, diz: “A mente
apoia-se no passado para transformar um mundo criado num mundo
sensível, e o processo é tão natural
e fácil que dificilmente notamos que
está acontecendo.” De modo semelhante, a mente apoia-se no passado para transformar um mundo sem
BILL CLINTON
Dúvidas e incertezas
“O mundo criado
pela totalidade é
um mundo incrivelmente interessante de pessoas
vivas, árvores
vivas, água viva,
rochas vivas, nuvens vivas, estrelas
vivas. É um mundo
de extrema beleza.”
objetos num mundo de coisas e ideias. Ela transforma o mundo percebido num mundo de conceitos. Como
observa Campbell, geralmente não
baseamos nossos julgamentos em experiências reais (percepção), mas em
nossa experiência empacotada (conceitual). Ao “interpretar o bizarro
como normal, enfraquecemos nossa
capacidade de aprender a partir da
experiência”. Na verdade, quase não
prestamos atenção à experiência direta. Jogamos fora a percepção em
favor do conceito.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
A beleza e o poder estão em todos nós
Nossos problemas surgem simplesmente do fato de não vermos. Inconsciente e desnecessariamente nós nos
confundimos, embora geralmente não
examinemos nossas visões o bastante
para ver o quanto estamos confusos.
Contudo, temos o poder de a qualquer
momento simplesmente ver nossa situação como ela é.
Ver é manter a boca fechada – não
ter dúvidas quanto à nossa consciência
discriminadora, nosso ego, nossa intenção. Simplesmente ver é tudo o que é
necessário para lidar com nossa situação de maneira total. A inabilidade (ou,
mais exatamente, a relutância ou recusa) de ver os fatos é o problema humano básico.
Ao surgir uma questão qualquer na
vida, nós frequentemente nos dividimos
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
em campos separados. Quando isso
acontece, o próprio mundo passa a
existir em campos separados. Negociamos com conceitos e rotulamos as coisas, e depois nos apegamos aos rótulos. No entanto, se aquietarmos o diálogo interior que ocorre continuamente, não ficaremos confusos.
Se você não está convencido de que
conversamos com nós mesmos o tempo todo, faça uma experiência simples.
Sente-se aprumado numa cadeira e foque a atenção na respiração durante
cinco minutos. Apenas observe a respiração e nada mais. Se observar seu
conteúdo mental nesses cinco minutos,
notará que sua atenção vagou para longe muitas vezes. A mente tagarelou e
brincou com inúmeros objetos.
Essa caçada mental não é necessa-
riamente ruim. É, na verdade, a consciência humana normal. Para ver apenas
a verdade e a realidade, no entanto, é
necessário compreender que a mente,
quando não está sendo examinada, tagarela incessantemente. Geralmente
não nos damos a oportunidade de observar isso.
Não estou sugerindo desligar o diálogo interior. Isso não pode ser feito –
pelo menos não diretamente. Não podemos pará-lo gastando energia e aplicando força de vontade. O aquietamento da mente só acontece por meio da
atenção plena. Ter a mente quieta é simplesmente ver por si mesmo, ver a situação, colocar de lado julgamento e avaliação e apenas ver.
Isso não significa ignorar nossas reações e sentimentos, nem as opiniões e
29
respostas dos outros. Mas não devemos
nos prender num debate interminável,
se desejamos perceber a verdade. Se nossa mente se engaja num debate, devemos perceber que ela está engajada num
debate. Se nossa mente favorece uma
visão, devemos simplesmente ver que
estamos favorecendo uma visão entre
muitas. Só a visão direta evita que fiquemos insanos – ou seja, que percamos de vista a realidade.
Só quando observamos com atenção podemos saber como a mente funciona. Começamos a notar que tentar
alcançar algo leva a mente a uma enorme confusão. Se estivermos atentos,
descobriremos que no ato de ver nós
já nos fundimos com a realidade.
A percepção da realidade acontece
através do ver, não do conceituar. O
ponto fundamental é a resolução de
despertar e de constantemente se dedicar a apenas ver. É suspender o julgamento e se desembaraçar do tagarelar
incessante da mente. Apenas ver é o
fim da crença de que isso significa aqui-
30
lo. É reconhecer que isso jamais pode
significar aquilo, porque é apenas o
“isso” imediato. Simplesmente ver, antes de conceituar.
Pode parecer que é impossível simplesmente ver – ou que isso nos tornaria estúpidos ou ingênuos. Mas não é o
caso. Apenas ver é a mais elevada expressão da mente racional. É a mente
verdadeiramente aberta, fluida, tolerante, magnânima – é sabedoria.
A mente que não retém qualquer
visão está pronta para receber o que
quer que se aproxime. Ela também conhece sua própria ignorância. A mente
que percebe isso não é a mente comum,
temerosa, rígida, que desesperadamente
busca ajustar o mundo aos pensamentos conhecidos.
Segundo a teoria da relatividade de
Einstein, a natureza básica do universo
não é a de um conjunto de partículas
constituintes interagindo. Ela pode ser
descrita como um campo universal cuja
qualidade mais essencial é a totalidade
ininterrupta em fluxo de movimento.
Isso sugere que o todo é uma noção
primária, enquanto as partes são abstrações do todo; a noção mecanicista
tradicional da constituição do mundo
a partir de partes que existem separadamente é posta de cabeça para baixo.
A teoria quântica infere que existem elos de ação invisíveis entre cada
objeto e seu ambiente. Isso significa que
a distinção entre observador e observado, necessária na visão mecanicista,
não pode ser mantida nem mesmo em
relação à matéria inanimada – muito
menos em seres conscientes.
O todo não pode ser analisado em
partes separadas com interações pré-designadas. Na verdade, o todo organiza-se
e até mesmo cria as partes. Esse comportamento aproxima-se mais do organismo
do que do mecanismo. O mundo criado
pela totalidade é um mundo incrivelmente
interessante de pessoas vivas, árvores vivas, água viva, rochas vivas, nuvens vivas, estrelas vivas. É um mundo de extrema beleza. É um mundo no qual é muito
fácil viver, se lhe permitirmos vir até nós
SOPHIA • ABR-JUN/2010
em seus próprios termos.
Visto em sua totalidade, o mundo é
apreendido como uma paz dinâmica.
Em outras palavras, a paz já está aqui.
Ela faz parte do universo. Não precisamos criá-la. Nada pode ser feito para
estabelecê-la, pois já é parte da natureza do todo. Temos uma escolha: podemos destruir a paz ou deixá-la como
está. Quando tentamos estabelecer a
paz, é mais provável que criemos a
guerra. A paz está estabelecida, mas
precisamos reconhecê-la e simplesmente deixá-la estar.
Não há como chegar à paz. A paz e
é exatamente isso, bem aqui, antes de
avaliarmos, decidirmos, concebermos,
escolhermos. Se queremos paz, simplesmente devemos nos tornar paz. Não
temos o poder de fazer o universo viver. Ele já está vivo. Podemos, no entanto, aceitar o universo. Nossa tarefa
é permitir esse todo. É onde está nosso
poder como seres humanos.
A ação cuida de si própria
MAREK BERNAT
“A percepção da realidade acontece através do ver, não do
conceituar. O ponto
fundamental é a resolução de despertar e
de constantemente se
dedicar a apenas ver.
É suspender o julgamento e se desembaraçar do tagarelar
incessante da mente.”
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
E quanto à ação? Como agir
num mundo que está constantemente mudando, constantemente revigorado e novo? Será
possível agir antes de avaliar,
decidir, conceber, escolher?
Antes de mais nada, é impossível não agir. Tudo que se
faz, diz, pensa ou decide é ação.
Escolher não agir também é uma
ação. O mundo está mudando
o tempo todo. Mesmo que você
fique parado na corrente, está
interagindo com as coisas que
fluem em volta.
Cada um de nós tem uma escolha. Podemos agir a partir da
confusão, dos desejos, das respostas automáticas às circunstâncias, da ganância, da ira, da ilusão – ou podemos apenas agir.
Podemos apenas agir ao simplesmente ver o mundo como ele é
na realidade, e não como gostaríamos, imaginaríamos ou conceberíamos que fosse.
Gandhi, ao pegar um trem,
viu uma de suas sandálias escapulir do pé e cair próxima aos
trilhos. O trem começou a se
mover e não lhe deu tempo de
a recuperar. Ele imediatamente
tirou a outra sandália e a jogou
junto da primeira. Quando um
passageiro perguntou por que,
Gandhi respondeu: “Agora,
quem as encontrar terá um par.”
Essa história ilustra o que é
a ação antes da decisão e da escolha. É a ação que nasce da
liberação, da total liberdade da
mente. É a ação em conformidade com o mundo, à medida
em que as coisas acontecem.
Devemos viver com a visão,
não com o pensamento. Devemos viver e agir a partir do
todo, não da parte. Devemos
deixar o mundo vir a nós, não
nos lançarmos sobre ele.
A questão é simplesmente
estar desperto. É aí que o foco deve
estar. Com isso você pratica a “reta
ação”. Qualquer coisa menos que
isso e você está agindo a partir de
uma idéia – um conceito. Você está
desafiando a realidade, como se o
mundo estivesse morto. Uma vida
assim é dolorosa.
Basta agir baseado simplesmente no que vemos. Quando prestamos atenção às reais percepções,
em vez de aos conceitos – esperanças, temores, metas, desejos e
histórias individuais e culturais –
não é preciso de nenhuma receita,
nenhum conjunto de mandamentos. A ação que cresce a partir do
ver é naturalmente apropriada à situação, qualquer que ela seja.
Isso quer dizer que você não
está se aferrando mais às suas
crenças e opiniões preferidas.
Você está pronto para se livrar delas quando notar que não funcionam e que são fonte de dor e ansiedade. O foco sempre retorna a
simplesmente estar desperto. É
desse modo que vamos nos salvar e salvar o mundo.
Quando agimos baseados no
que é, não no que esperamos, ou
pretendemos, não mais precisamos seguir um conjunto de diretrizes, porque temos uma visão
clara da realidade e do universo. Temos a evidência verdadeira de nossos próprios olhos e de
nossa própria experiência para
nos guiar. Uma vez que reconheçamos a verdade que está (e que
sempre esteve) perante nós, podemos agir num relacionamento
direto com tudo o que é, a partir
de tudo que é. Logo que você
olhar para a situação, agirá da
maneira apropriada. A ação cuidará de si própria.
* Steven Hagen é escritor, estudante e
praticante de Budismo desde 1967.
31
José Eduardo Mendes Camargo*
Em 1990, inspirado por um amigo
de infância, boêmio e autodidata, iniciei uma nova fase em minha vida e
descobri na poesia a companheira ideal na forma de externar meus sentimentos, de me relacionar com a vida, com
as pessoas e com o mundo.
Aos poucos fui sentindo que a poesia começava a fazer parte de meu cotidiano. Tanto que comecei a escrever
poemas e declamar em família, nas reuniões com amigos e até no ambiente
profissional.
Por acreditar na poesia como um instrumento para promoção da paz e da
não-violência, fundei o Instituto Usina
de Sonhos em minha cidade natal, Dois
Córregos, no interior paulista. Com a
ajuda de um grupo de professoras, realizei um trabalho nas escolas da rede
pública de ensino semeando os valores
da paz nos corações infanto-juvenis.
Em pouco tempo, eram 78 voluntárias engajadas nesse programa, que
atendeu ao todo 4 mil crianças na faixa etária entre 7 e 14 anos. O projeto
sensibilizou entidades de renome, e não
demorou muito para que obtivéssemos
o reconhecimento da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos
(Abrinq) e da Unesco, órgão da Nações
Unidades para o Desenvolvimento da
Cultura. Em seguida, o Ministério da
Cultura (Minc) referendou o trabalho da
Usina de Sonhos.
A contribuição da poesia nos processos de ensino e aprendizagem teve efeitos diretos no desenvolvimento das nossas crianças em Dois Córregos. Num censo escolar oficial, realizado recentemente
no Brasil, a cidade ficou entre os seis melhores sistemas de rede pública que ministram a educação fundamental.
O bom desempenho escolar dos
nossos alunos nos incentivou a levar a
poesia além das salas de aula, e, por
meio de um projeto que denominamos
Entre Versos, aprovado pela Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo, com
a parceria da Prefeitura de Dois Córregos, a poesia foi disseminada além da
rede pública de ensino, penetrando também na indústria, na área rural, na igreja, no presídio, nos estabelecimentos co-
merciais e mesmo nos hospitais.
Os efeitos dessa transformação sociocultural estão presentes na cidade, em
poemas escritos nos muros e fachadas
dos prédios públicos, em recitais nas fábricas e nos concursos de poesias.
É assim que hoje, entre os homens
simples do campo, encontramos cortadores de cana levando o caderno de
poesias entre suas ferramentas de trabalho. Eles são vistos escrevendo poemas nas horas de descanso. O mesmo
vem acontecendo entre os trabalhadores nas indústrias locais.
Nas igrejas e nos templos religiosos a poesia também foi acolhida com
fervor durante a realização de seus cultos. No presídio feminino de Dois Córregos, a arte atravessou as grades e se
tornou instrumento de reflexão e mesmo de recuperação para algumas das
internas, que deixaram seus poemas nas
paredes do cárcere, como símbolo de
renovação e coragem para as que ficaram. Nas ruas, o visitante poderá topar
com um comerciante trovador. Defronte
as lojas, vendedores procuram, em versos e trovas simples, atrair os clientes.
‘‘
FRED FOKKELMAN E JONRIV
Não vivemos apenas por utilidade e funcionalidade, e sim por amor,
transformar o ser humano, favorecendo seu potencial criador,
32
SOPHIA • ABR-JUN/2010
presentes nomes consagrados, como
Gabriel o Pensador e Paulo Bonfim, o
“príncipe dos poetas”.
Como consequência desse trabalho,
Dois Córregos está ficando conhecida
no estado de São Paulo como a capital
da poesia.
Por intermédio da cultura, em especial da poesia, está sendo possível demonstrar que não vivemos apenas por
utilidade e funcionalidade, e sim por
amor, deslumbramento, sonho e mistério, e que a poesia pode transformar o
ser humano, favorecendo seu potencial
criador, sua formação integral, e seu
compromisso com a paz e a não-violência. Recentemente tivemos uma das maiores provas desse fato em um concurso
interno de poesia promovido pela FIESP,
com alunos do SESI e do SENAI de São
Paulo, quando 94 mil crianças e jovens
inscreveram seus poemas sobre o tema
O planeta pede socorro.
Sei que as convenções de paz podem ser facilmente quebradas, mas estou convicto de que um ser humano
que tenha escrito um poema na vida
dificilmente pegará numa metralhado-
deslumbramento, sonho e mistério. A poesia pode
sua formação integral e seu compromisso com a paz
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
ra. E, como dizia Dom Helder Câmara,
“quando sonhamos sozinhos é apenas
um sonho, mas quando sonhamos junto com outras pessoas, é o começo de
uma nova realidade”.
* José Eduardo Mendes Camargo é poeta, empresário, professor de jiu jitsu, vice-presidente do Centro das Indústrias do Estado de
São Paulo (CIESP), diretor do Comitê de Cultura da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (FIESP) e diretor da União Brasileira de Escritores (UBE).
‘‘
No restaurante local pode-se pedir
um “Trivial a Thiago de Mello”, e depois ir até a sorveteria e pedir um “Vinicius de Morais”, sorvete criado para homenagear o famoso poeta. No hospital
público, a poesia também é remédio
para pacientes e instrumento útil na mão
dos médicos e enfermeiras, levando otimismo e esperança aos enfermos. Nas
contas mensais de consumo de água são
publicados poemas vencedores de concursos que ocorrem periodicamente entre os cidadãos dois-correguenses.
São realizados na cidade muitos
eventos envolvendo a poesia, entre eles
workshops e festivais. As três primeiras
edições do festival contaram com a presença de palestrantes renomados, como
Affonso Romano de Sant’Anna, Alice
Ruiz, Arnaldo Antunes, Arthur Nestrovski, Frederico Barbosa, José Miguel
Wisnik e Menalton João Braff, todos
premiados com o Jabuti (o mais conceituado premio literário brasileiro),
além de Raul Zurita, um dos mais conceituados poetas chilenos da atualidade. Na quarta edição do festival, que
se realizará em maio próximo, estarão
33
Nietzsche
e o homem do
futuro
Alan Senior*
KRZYSIUC
O famoso Overman (Übermnsch) do filósofo alemão Friedrich
Wilhelm Nietzsche (1844-1900), foi
escrito para nos inspirar a criar “o
novo, o único e o incomparável”
em nós mesmos e nas artes, e para
descobrir o real significado de
nosso ser. Traduzi-lo como “superhomem”, como na antiga peça popular de 1903 Man and Superman,
de George Bernard Shaw, ou o
herói das histórias em quadrinhos
de Jerry Siegel e Joe Schuster (que
apareceu pela primeira vez em
1938), dá a impressão errada,
como o fez a série televisiva de
ficção científica Andrômeda, que
tinha personagens chamados nietchianos que faziam uso de procriação seletiva, engenharia genética e nanotecnologia para se
transformarem em Übermensch.
Essas interpretações estão por demais afastadas da ideia de Nietzsche, que queria dizer “homem superior”, a transcendência do homem como ele existe atualmente
para produzir algo completamente diferente.
Para Nietzsche, a secularização
na sociedade europeia tinha efetivamente “matado” o Deus cristão
que servira como significado e valor para o Ocidente por mais de
3 43 4
mil anos. O que era preciso era
um novo tipo de vida individual
além do prazer e da dor, para
combater o que o filósofo sentira
como “cansaço mundial” nos idos
de 1880, quando, para muitas
pessoas, a vida parecia não ter
propósito, importância ou significado. O que ele teria sentido se
vivesse no século 21? Os termos
que usou para descrever a sociedade ocidental, como valores decadentes, degenerescência, corrupção e niilismo, teriam sido aplicados com uma ênfase dez vezes
maior à nossa era.
No prólogo ao poema-prosa
Also Sprach Zaratustra (Assim
Falou Zaratustra, 1883-5), o personagem principal de Nietzsche
declara que o que busca não são
discípulos mas companheiros, a
quem chama de “amigos criadores e regozijadores”. Assim, não
se deve de modo algum pensar no
Übermensch como o super-homem da lenda, mas como um símbolo da humanidade futura que
transcendeu a fadiga desse mundo com alegria e abundância. Esse
também não é um ideal além do
nosso alcance (superior), porém
algo mais nobre e mais elevado –
nada menos que um processo de
autotransformação, de “nascer novamente” com o sacrifício do
SOPHIA • ABR-JUN/2010
‘‘
Para Nietzsche, a secularização na sociedade europeia tinha
“matado” o Deus cristão que servira como
significado para o
Ocidente. Era preciso
combater o “cansaço
mundial”, quando a
vida parecia não ter
propósito, importância
ou significado. O que
ele teria sentido se vivesse no século 21?
‘‘
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
35
velho eu. Talvez tenha sido isso o que
Blavatsky sentiu quando fez aquele vaticínio otimista no final de A Chave para
a Teosofia (que parece tão distante em
nosso mundo maltratado pela guerra),
de que “a Terra será um céu no século
21 em comparação com o que é agora”.
Deus morreu, disse Nietzsche; sendo assim, o overman (homem superior)
pode agora viver de maneira a afirmar e
valorizar a vida, tendo transcendido o
eu. Isso levará àquilo que está além de
nós, que pode apenas ser experienciado, não ensinado. Ele faz Zaratustra declarar que os chamados caminhos para
a verdade não existem. Também não faz
convite aos crentes, fazendo eco a Blavatsky ao perguntar: “O que tem de bom
e para que serve a crença, que nada tem
a ver com a verdade?”
Assim, as pessoas devem descobrir
seus próprios eus singulares e incomparáveis, recusando-se a serem enqua-
36
dradas, comprometidas ou castradas
pela era atual. Como todos os grandes
instrutores, Nietzsche só pode apontar
o caminho: “Mostrar-lhes-ei o arco-íris
e a escada que leva ao Übermensch.”
Os “filhos do futuro” devem ser mudados para sempre, para se tornarem “o
que (verdadeiramente) são”; ele nos
exorta a “vivermos como se o dia estivesse aqui”.
Nietzsche fala frequentemente sobre
a força de vontade, um elemento importante de sua filosofia e uma tentativa
para entender a motivação no comportamento humano. Ele também sugere em
vários textos que essa força de vontade
é um elemento muito mais importante
que a pressão pela adaptação ou pela
sobrevivência. Numa composição posterior, aplica o conceito a todas as coisas vivas, sugerindo que o ajustamento
e a luta pela sobrevivência é uma necessidade instintiva secundária na evo-
lução, menos importante que o desejo
de expandir o próprio poder. Nietzsche,
então, levou esse raciocínio mais adiante, transformando a ideia de matéria
como centro de força em matéria como
centro de força de vontade, buscando
prescindir inteiramente da teoria da
matéria, que ele via como sobrevivente antiquado da metafísica da substância. Alguns comentaristas viam a noção da força de vontade como “o elemento do qual deriva tanto a diferença
quantitativa das forças relacionadas
quanto a qualidade que se transforma
em cada força nessa relação”, uma doutrina da síntese das forças.
A ideia que Nietzsche tinha da força de vontade pode também ter sido
uma resposta à “vontade de viver” de
Schopenhauer, que considerava todo o
universo e tudo nele contido como guiado por uma primeva vontade de viver; isso resultaria no fato de que todas
SOPHIA • ABR-JUN/2010
Krishnamurti, como
Nietzsche, liga a mente ao
tempo – “milhões de anos
de condicionamento nos
nossos cérebros antigos que
funcionam no tempo”.
HERMAN BRINKMAN
as criaturas desejam evitar a morte e procriar. No
entanto, Nietsche
acreditava que tanto os seres humanos quanto os animais realmente
buscam o poder; viver é necessário
para promover esse
poder, obtido na
luta e na guerra
competitiva. Aqui
ele parece ter sido
influenciado pelo
seu grande conhecimento dos antigos livros gregos de
Homero, onde herois e nobres não
apenas buscavam
autopreservação;
na verdade, frequentemente morriam bastante jovens,
arriscando tudo na batalha por amor
ao poder e à glória.
Mas as pessoas também gostariam
de saber se, enquanto formulava e modificava suas ideias, Nietzsche estudou
filosofia oriental, a exemplo do Livro
Brahmânico de Evocação, onde consta: “O poder pertence àquele que sabe.”
Essa força de vontade, diz o AtharvaVeda, é a mais elevada forma de oração – intensa, interna e pura. Esse é o
verdadeiro poder discriminatório, livre
da ilusão e que leva à iniciação (não
muito distanciado da idéia de Nietzsche sobre o homem superior, especialmente quando esse texto oriental diz
que a força de vontade torna-se um
poder vivo, destituído de propósitos
egoístas ou mundanos, alcançado como
de costume, tendo o homem realizado
removido “o véu que oculta o verdadeiro conhecimento de sua visão”).
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
Filosofia oriental
Quando Nietzsche escreveu sobre
verdade, tempo, força de vontade e
sobre a mulher, teria ele encontrado o
“poder ígneo” chamado kundalini na
literatura oriental, também chamado de
o poder ou a mãe do mundo, o eterno
princípio feminino, a verdadeira força
criativa? Contudo, a aspiração de uma
mulher continuaria a ser, para ele, dar
à luz um Übermensch, e seus relacionamentos com os homens deveriam ser
julgados segundo esse padrão.
Podemos ver como Blavatsky difere radicalmente de Nietzsche quando
diz que a vontade é posse exclusiva do
ser humano, separando-o do desejo instintivo no reino animal. É a progênie
do divino, o Deus no homem, diferente do desejo (a força motriz da vida animal). Blavatsky enfatiza também que o
desejo não deve ser confundido com a
vontade; os dois devem ser separados
onde a vontade é transformada em guia,
firme e constante, distinta do sempre
mutante e instável desejo. Tanto a vontade quanto o desejo são criadores, mas
a vontade opera inteligentemente, e o
desejo cega e inconscientemente.
Estaremos, portanto, centrados na
imagem de nossos desejos, pergunta
Blavatsky, ou criamos a nós mesmos à
semelhança do divino, através da vontade? Essa vontade, enfatiza ela, deve
ser despertada, fortalecida e transformada no guia absoluto do corpo, ajudando a purificar o desejo até que ele
esteja centrado no eterno. Ela acrescenta: “O conhecimento e a vontade são
as ferramentas para a realização desta
purificação.”
Enquanto isso, Krishnamurti pergunta se é possível viver nossas vidas
sem a operação da vontade, que vê
como “o próprio movimento do desejo”. Ele faz objeção a qualquer sistema
de controle, e, como Nietzsche, liga a
mente ao tempo e ao condicionamento – “milhões de anos de condicionamento nos nossos cérebros antigos que
funcionam no tempo”.
No momento em que você disser
“eu quero”, está no tempo. Quando
você diz “devo fazer isso”, também está
no tempo. Tudo que fazemos envolve
tempo; nossos cérebros estão condicionados não apenas ao tempo cronológico, mas também ao tempo psicológico. Krishnamurti acreditava que o propósito da meditação é descobrir por si
mesmo se o pensamento como tempo
pode parar. Ele via o pensamento simplesmente como a reação da memória,
nascido da memória; nossa consciência é o que somos – nossas ansiedades, temores, lutas, humores, desesperos, prazeres, e assim por diante. Tudo
isso é resultado
do tempo.
Isso nos traz
de volta ao conceito básico de
Nietzsche, o tema
da recorrência.
Aponta para o
fato de tudo ter
ocorrido antes, e
que, de algum
modo, tudo sempre é. Dentro dessa recorrência das
coisas está um
contínuo reexperienciar, por meio
do qual o ciclo
“Nietzsche via o
dos eventos consuniverso como um
tantemente volta
círculo com um
a se suceder. Tal
número definido
qual Krishnamurti, Nietzsche estade mudanças que
va preocupado
continuamente
em ir além das revoltam a ocorrer.”
corrências por
meio de um grau
de consciência
mais elevado que é capaz de transformar, extraindo energia do pensamento comum para criar, conforme dizia
ele, “o pensamento dos pensamentos”.
Isso nos altera dramaticamente, determinando novas emoções e novos desejos, criando assim um novo senso
de realidade. Então todos os problemas da vida comum desaparecem à
luz da consciência superior, levando
ao desaparecimento de nosso sentimento comum de “eu”.
Nietzsche via o universo como um
círculo que consistia de um número
37
38
VIKTORS KOZERS
definido de mudanças que continuamente voltam a
ocorrer. A atividade é eterna, mas o número de produtos e estados é limitado. Assim, não é possível o
desenvolvimento de um número incalculável de estados a partir de uma dada quantidade de energia,
isto é, o quantum de energia que é o universo.
Sendo assim, a repetição estava fadada a acontecer
mais cedo ou mais tarde – estados exatamente semelhantes retornando no ciclo do vir a ser, no interior da roda do processo cósmico. Então, como em
alguns aspectos da reencarnação, toda dor, prazer,
amigo, inimigo, esperança, erro ou movimento pode
ser experienciado mais uma vez. É como O Dia da
Marmota, filme de Hollywood onde a mesma coisa
se repete interminavelmente em ciclos repetitivos e
desagradáveis, à medida que “giramos e giramos
no mesmo círculo de aflições”, que na verdade tem
origem em nós mesmos. Se nossas vidas estão girando incessantemente em repetição absoluta, todo
potencial permanece não realizado no círculo das
reações habituais. Mas “aquilo que jaz acima de
nós não está no futuro do tempo que passa”, afirmou Maurice Nicoll (1884-1953), pioneiro em medicina psicológica e professor das filosofias de
Gurdjieff e Ouspensky.
O simples passar dos dias não nos levará até
essa coisa, pois podemos permanecer na mesma
parte do mundo psicológico durante todos os anos
que ainda nos restam, se continuarmos a pensar
sempre da mesma maneira e a agir com a mesma
autossatisfação. O tempo então passará, mas psicologicamente permaneceremos parados, sempre
girando em torno do mesmo círculo no espaço interno, com diminuição do prazer.
A questão permanece: será possível esvaziar totalmente todo o conteúdo de nossa consciência, que foi
construído ao longo do tempo, e ter um insight completo de toda a natureza de nós mesmos? Isso implica
não ter motivo ou lembrança, apenas percepção instantânea da constituição da consciência. Entrar no agora é ir além da repetição, enfatiza Nicoll, e quando a
ilusão da passagem do tempo nos abandona, quando
vamos além desses estados sempre repetitivos e de
reação perpétua (onde é aliviada cada dor, alegria,
pensamento e emoção), então estamos livres de tudo
que é pequeno, trivial e absurdo.
Logo que o homem compreenda que está aqui
embaixo no tempo e espaço para despertar para
outro estado de si mesmo, tudo que lhe acontece,
seja bom ou ruim, passa a ter um novo significado.
Passamos então da repetição absoluta, da ilusão do amanhã e do círculo do hábito, das aparências e do tempo passageiro, para um novo tipo de
conhecimento, autotransformação e realização do
todo. A humanidade atinge a maturidade, chegando a um ponto de transição quando uma outra forma de vida é encontrada.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
A vida no aqui e agora
Devemos compreender que estamos aqui em dois sentidos – sentados nesse aposento, nesse local, lendo isso, e também aqui experienciando nosso humor atual, nossa reação,
nosso sentimento. Reconhecendo isso,
somos submetidos a pelo menos algo
no agora, no tempo externo. Então
podemos compreender um pouco a
respeito do significado maior, retirado daquelas trivialidades e
absurdos que dominam
nossas vidas. Isso equiva“A criação do munle a “nos tornarmos aquilo
do começa em nós
que somos”, com a vida limesmos. Não podevre de preconceito e premos conhecer a nós
julgamento na experiência
mesmos a não ser
do momento, e isso envolque nos voltemos
ve pensar além do tempo,
para dentro. Então
fora do tempo, vendo as
as ilusões criadas
coisas de modo diferente
no tempo começae dando uma interpretação
totalmente nova a tudo que
rão a nos deixar e a
acontece em nossas vidas.
vida começará a
De outro modo permaentrar no agora.”
necemos na ilusão, com a
vida levando-nos para longe – ora para cima, ora para baixo –
pensando apenas em termos de tempo, que faz com que fixemos nossos
olhos sempre no amanhã que jamais
chega – pois sempre é amanhã. Assim, vivemos adiante de nós mesmos,
jamais aqui, jamais no local onde verdadeiramente estamos, o único local
onde alguma coisa real pode acontecer – no agora.
Para mudar nossas vidas devemos
mudar a nós mesmos; esses esforços
permanecem como um ponto de força no círculo da vida. As escolhas que
fazemos devem ir além do hábito, já
que a vida eleva-se somente por meio
das retas escolhas e do reto pensamento. Essa afirmação do “momento”
está acima do julgamento e é uma precondição para a autotranscendência,
quando somos liberados de nossas
concepções comuns de tempo em termos de passado, presente e futuro. O
momento é eterno, além da mudança,
da decadência, do movimento incesSOPHIA • ABRI-JUN/2010
sante e do vir a ser, e pode levar à
humanidade de Nietzsche, transfigurada e renascida.
Em resumo, o momento presente não
é o agora no sentido comum, diz Nicoll,
citando Kark Barth – é o momento “que
qualifica e transforma o tempo, sem o
qual estamos todos dormindo”. E acrescenta: “Nosso futuro é o nosso próprio
crescimento no agora, não no amanhã
do tempo passageiro.” O autoconhecimento de que fala Nietzsche está, de
modo semelhante, focado em alcançar
o agora, onde a pessoa está desperta para
a sua realidade. Se pudéssemos penetrar na realidade eterna de nosso ser, encontraríamos a única solução para cada
situação, contida no verdadeiro sentido
de nossa própria existência cuja causa é
interna, resumida no crescimento desse
sentimento do agora.
Isso não tem absolutamente raízes no tempo, pois a criação do mundo começa em nós mesmos. Não podemos conhecer a nós mesmos a não
ser que nos voltemos para dentro,
para longe das percepções dos sentidos. Então as ilusões criadas no tempo que passa começarão a nos deixar
e a vida começará a entrar no agora.
Estaremos no centro das coisas. A responsabilidade é nossa.
A declaração final em As Três Verdades, mencionada no livro A Doutrina Secreta, Blavatsky enfatiza: “Cada
homem é seu próprio legislador absoluto, dispensador de glória ou de miséria para si próprio. Aquele que decreta
sua vida, sua recompensa, sua punição.”
Portanto, é possível ir além desses estágios recorrentes que estão sempre a
se repetir, porque o mundo é uma série de transformações mentais potenciais, alcançáveis e radicais; caso contrário, nossas vidas deveriam estar sempre fundadas na reação. Para repetir a
recomendação de Nietzsche, “viva
como se o dia estivesse aqui”.
* Alan Senior é conferencista da Sociedade
Teosófica na Escócia e editor da revista Circles.
39
‘‘
Ricardo Lindemann
é engenheiro civil e
astrólogo, licenciado em Filosofia
pela UFRGS, presidente dos Sindicato dos Astrólogos de
Brasília e membro
do Conselho Mundial da Sociedade
Teosófica Internacional. Lindemann
escreve regularmente para SOPHIA.
40
SOPHIA • ABR-JUN/2010
STEPHEN EASTOP
Astrologia e mistérios
‘‘
Sem a execução –
o laboratório de
experiência no
mundo externo –
torna-se difícil
descobrir se as
necessidades são
reais ou meras
fantasias, projeções ilusórias da
imaginação.
Planejamento
existencial
Ricardo Lindemann
“Para aquele navegador que não
sabe a que porto se dirige, todos os
ventos parecem desfavoráveis.” Assim
dizia Sêneca, referindo-se ao fato de
que se uma pessoa não sabe para onde
quer ir, provavelmente reclamará de
tudo e talvez nem saiba aproveitar as
oportunidades que apareçam. Para alguns, até o conhecimento antecipado
de períodos favoráveis e desfavoráveis
– que a Astrologia pode oferecer –, torna-se de pouca utilidade prática simplesmente por não terem objetivos definidos ou carecerem de uma percepção clara de prioridades.
Para auxiliar o leitor a definir objetivos claros, elaborei um exercício de
planejamento existencial, que foi o
tema desta coluna no número anterior
de SOPHIA. Em síntese, o exercício significa: estabelecer esses objetivos num
plano (1) físico, (2) emocional, (3)
mental, (4) espiritual e (5) profissional;
e estabelecer uma escala de prioridades e até mesmo um cronograma, ou
seja, prazos, datas e limites para execução de cada estágio, com base, se
possível, no cálculo astrológico dos diversos períodos favoráveis e desfavoráveis do indivíduo.
Se existem objetivos definidos com
uma escala de prioridades e seu respectivo cronograma, então um plano
de vida foi estruturado. Por mais rudimentar que possa ser, ele se torna a
sua hipótese de trabalho. Além disso,
a importância da repetição do exercício reside no despertar progressivo da
intuição e em descobrir o que realmente
a pessoa necessita para realizar sua vocação e sua felicidade.
É pela execução desse plano que
se relaciona o mundo interno dos nossos ideais, sonhos e objetivos com a
realidade dos fatos, buscando suprir,
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
a partir do planejamento existencial,
as diversas necessidades da pessoa.
Sem a execução – o laboratório de
experiência no mundo externo – torna-se difícil descobrir se as necessidades são reais ou meras fantasias,
projeções ilusórias da imaginação.
Colhendo o fruto das ações interagese com as leis da natureza e aprende-se na escola da vida. Caso contrário, pode-se ficar eternamente alienado na onipotência dos sonhos e projeções ilusórias, sem chance de descobrir a verdade.
É executando o plano e eventualmente atingindo o objetivo que se descobre se aquilo é realmente o que se
quer. Essa constatação pode remeter a
pessoa não apenas a um feedback e a
uma reavaliação do cronograma e da
escala de prioridades, mas até mesmo
a reavaliar seus objetivos e, portanto,
suas reais necessidades.
(Parte 2)
Frequentemente verifica-se contradições entre o plano e a execução. Porém, a própria tomada de consciência
da contradição é o começo da libertação. Há pessoas que planejam uma
coisa mas fazem exatamente o contrário; parecem estar boicotando a si mesmas. Obviamente, a oportunidade tem
um momento exato; não agir com prontidão e coerência com o que foi planejado indica que eventualmente a pessoa está se boicotando ou não sabe bem
ao certo o que quer.
Portanto, o fator de insucesso não
é necessariamente externo, mas frequentemente interno. Se a pessoa não
sabe o que quer, ou diz que quer uma
coisa mas faz exatamente o contrário,
ela tem que investigar porque está se
boicotando; investigar quais bloqueios
do inconsciente a impedem de agir coerentemente com as decisões tomadas
racionalmente no nível consciente.
Coragem para viver um ideal
Estando clara a importância da
observação atenta das necessidades
para se formular o plano de vida,
passa-se ao estágio da sua execução,
que é o nosso campo de experiência. Entretanto, vamos descobrir que,
para chegar a esse estágio, temos
que ter coragem para vencer certos
medos, pois se corre sempre o risco
de colidir com uma desilusão. Para
chegar à experiência é preciso vencer o medo do fracasso e depois o
medo da perda do êxito conquistado. O medo do fracasso é mais próprio da adolescência; o medo da perda do êxito é próprio de quem já
conquistou algo, sendo mais conhecido como acomodação.
Ambos os casos geram ansiedade, caracterizada pelo apego que a
pessoa tem ao que já conquistou
ou o medo de não conseguir algo
melhor. Buda dizia que o problema não é apenas não ter alguma
coisa, mas, tendo-a, ficar dependente dela. Apego causa ansiedade.
Mas, se uma pessoa não tem coragem de correr riscos para viver
seus ideais, não está realmente vivendo; está sendo vivida pela acomodação ou pelo medo. A ansiedade cresce quando a pessoa continua a sonhar e transforma o ideal
numa fantasia distante para mera
contemplação, sem coragem de se
comprometer a vivê-lo.
41
Descartando hipóteses falsas
A pessoa que teve a coragem de
realizar seu objetivo pode encontrar o
sabor da realização, mas se, ao contrário, encontrar a desilusão, deveria logo
perceber que escolheu uma hipótese
falsa. É justamente aqui que as escolhas de objetivos feitas conscientemente
facilitam identificar a hipótese falsa. Algumas pessoas acham que planejar a
vida é uma coisa artificial, que o importante é seguir o caminho espontâneo da emoção de cada momento. Essas pessoas, porém, na medida em que
não escolheram racionalmente um plano de vida como hipótese de trabalho,
caso cheguem a uma desilusão, nem
sempre conseguem isolar as variáveis
da equação com rapidez. Sua tendência é projetar a culpa do fracasso nos
outros. Mas o fato é que elas se permitiram ser iludidas, escolhendo inconscientemente uma hipótese falsa.
Uma desilusão implica necessariamente na existência de uma ilusão prévia; uma frustração indica que havia
uma expectativa que não se realizou.
Nesse sentido, pareceria lógico que,
com o devido desapego, a pessoa desenvolvesse a capacidade de ver o que
é (em sânscrito, sat), ver as coisas como
elas são – o que vem a ser o começo
da sabedoria. De sat deriva a palavra
sânscrita satya, que significa verdade,
aquela que dissolve maya, ou a ilusão.
Assim, a pessoa compreenderia, a partir da desilusão, que a sua ação foi estruturada sobre uma fantasia. Por isso
dizia Cristo: “Conhecereis a verdade, e
a verdade vos libertará” (João 8:32). Essa
compreensão é libertadora e produz
uma modificação na percepção de necessidades existenciais da pessoa e na
sua escala de valores; então ela toma
uma nova hipótese e não repete mais
o mesmo erro, libertando-se para sempre da hipótese falsa.
É muito comum as pessoas ficarem
desenvolvendo mágoa ou sentimento
de frustração com relação a ações que
não foram tão bem-sucedidas ou que
não trouxeram os resultados esperados,
em vez de chegar à simples conclusão
de que escolheram uma hipótese falsa
ou baseada em uma fantasia. A dificuldade costuma ser a de faltar imparcia-
42
lidade para começar de novo com uma
nam ser os teus deveres, e tu vês que
nova hipótese, tendo percebido que se
eles não o são, tu tens simplesmente que
escolheu mal. Se a pessoa alcançar esse
discordar dessas pessoas suave mas firnível de desapego, a experiência valeu
memente. Tu tens de decidir. Tu podes
a pena, mesmo que ela não tenha chefazer assim correta ou erroneamente, e
gado ao sucesso esperado – porque
se for erroneamente tu sofrerás, mas a
descartar uma hipótese falsa, do ponto
decisão tem de ser tua.” Parece que essa
de vista científico, já é conhecimento
é a maneira de desenvolver o discernipositivo. Trata-se de uma ilusão a memento; caso contrário, a pessoa tenderá
nos para a pessoa cair no futuro. Ela
infantilmente a pôr a culpa nos outros,
não se enganará mais quando de fato
mas não relacionará a verdadeira causa
assimilar essa experiência.
com o seu respectivo efeito.
Nesse sentido, toda hipótese e toda
É importante perceber também que
experiência são válidas, mas é claro que
não basta ter sorte. Dos 40 ganhadores
mais válida é a experiência estruturada
da loteria que o Fantástico investigou,
conscientemente por uma hipótese, e
dez anos depois 39 estavam mais pomais rapidamente a pessoa se libertará
bres do que antes. Não colocaram os
de uma fantasia na medida em que a
valores conscientemente apoiados na
hipótese falsa for identificada com claexperiência; não estruturaram conscienreza. Nesse processo, o planejamento
temente uma escala de prioridades; não
existencial sempre é útil como catalisasouberam revisar seus valores, quando
dor, acelerando a identificação das causas escolhidas
ou hipóteses falsas do plano cuja execução falhou.
O sabor da experiência
Evidentemente, as esSe a pessoa colher um sabor, ao invés de um
colhas de uma pessoa são
dissabor, isso quer dizer que ela não se desiludiu
limitadas pelas circunstânde imediato. No entanto, isso garantiria que a hicias, que podem ser interpótese é verdadeira? Parece mais prudente dizer,
pretadas à luz do carma
como fazem os epistemólogos, que se trata de
maduro que se pode ler no
uma hipótese “não falsa”, a melhor hipótese de
mapa astral, como veremos
trabalho até então encontrada. Ela passa a ser
mais adiante. Por outro
aquela que se sustentará como a que melhor relado, a ideia fundamental
solve as necessidades existenciais em questão.
do carma é que a própria
Mas, se a pessoa não for além do plano da sensapessoa semeou as causas
ção, que traz ou o sabor ou a desilusão, não pocujos efeitos ela colhe agoderá chegar à assimilação do conteúdo, que nesra. Infelizmente, algumas
se caso passa a ser o saber que está contido por
pessoas projetam a culpa
detrás do sabor.
de suas frustrações em terDo verbo latino sapere, que quer dizer tanto
ceiros e ficam a nutrir másaber quanto sabor, pois tem dupla conotação, é
goas e ressentimentos, seja
derivada a palavra sabedoria, que, portanto, sigda mãe (a eterna culpada
nifica um tipo de saber que vem do sabor da próna psicologia), seja do pai,
pria experiência. Não pode vir dos livros a sabedas autoridades, da polítidoria. Então, afirma-se que, ao sentir o saber pelo
ca, seja mesmo de Deus,
sabor direto da experiência, é através dessa exdos astros, do destino, da
periência que a pessoa tem o contato com a lei
vida, do mundo etc.
existencial que rege o fenômeno, ou seja, a sabePor isso é tão importandoria leva a pessoa, através desse contato direto,
te que a pessoa assuma a
à descoberta das suas reais necessidades. Poderesponsabilidade por suas
se então mover montanhas, como diz a passapróprias escolhas, como
gem da Escritura, porque a pessoa tem fé que
dizia Annie Besant: “Se as
realmente aquela necessidade é decisiva e real
pessoas tentarem impor
para ela. Quando uma pessoa realmente sabe o
sobre ti o que elas imagique quer, movimenta montanhas.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
Carma, destino e livre-arbítrio
Esse importante tema está mais
amplamente desenvolvido no livro de
nossa autoria, A Tradição-Sabedoria:
Uma Introdução à Filosofia Esotérica,
da Editora Teosófica, onde se encontra
uma citação de Annie Besant, que numa
paráfrase invertida, parece fazer referência à citação de Sêneca anteriormente mencionada:
A ação vigorosa é sempre sábia. Não
importa se ela parece não resolver, vocês terão diminuído o peso contra vocês. Cada esforço tem seu pleno resultado, e quão mais sábios vocês forem, melhor vocês podem pensar, desejar e agir.
[Esses três verbos, em linguagem astrológica, correspondem respectivamente
ao signo solar, também chamado de signo do mês; ao signo lunar, também chamado de signo do dia; e ao signo ascendente, também chamado de signo da
hora de nascimento. R.L.].
Se vocês olharem o carma dessa
maneira, ele nunca os paralisará, mas
sempre os inspirará. [Eu particularmente me filio àquela escola de pensamento astrológico que diz astra inclinant
non necessitant – os astros inclinam,
mas não determinam. A autora está aqui
a dizer que as pessoas têm uma visão
determinista (de que já “estava escrito”
nas estrelas, maktub, que o destino é
imutável, inexorável) acabam paralisadas por essa concepção. R.L.]
‘Mas’, dirão vocês, ‘há certas coisas,
apesar de tudo, nas quais o destino é
mais forte do
que eu’. Vocês
podem, algu“Colhendo o fruto
mas vezes, endas ações interageganar o destise com as leis da
no, quando
natureza e aprende-se na escola da
vida. Caso contrário, pode-se ficar
eternamente alienado na onipotência
dos sonhos e projeções ilusórias, sem
chance de descobrir
a verdade.”
JULIA FREEMAN-WOOLPERT
começaram a fracassar; e, assim, foram
até o fim pondo a culpa no destino.
O ciclo dos astros fornece ocasiões
favoráveis e desfavoráveis; cabe ao indivíduo avaliar as prioridades perante
suas necessidades existenciais. Eventualmente é preciso reavaliar as necessidades e a escala de valores, para que
não se diga depois que “era feliz e não
sabia”. Muitas vezes a pessoa tem na
mão períodos de sorte e não sabe aproveitá-los porque não está estruturada
para isso, ou porque jogou a oportunidade fora, porque “o que entra fácil sai
fácil”. Mesmo quando as experiências
oferecerem circunstâncias não tão favoráveis, diz o ditado popular que
“Deus fecha uma porta, mas abre outra”. Se a pessoa tiver definidas as cinco áreas alternativas de objetivos, quando uma área não estiver favorável, poderá aproveitar as outras. A vida sempre oferece algum caminho aberto.
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
43
não podem enfrentá-lo face a face.
Quando navegando com ventos contrários, o navegante não pode mudar
o vento, mas pode mudar a direção
das velas. A direção do navio depende
da relação das velas com o vento, e,
por meio de um bordejo cuidadoso,
pode-se quase que navegar contra um
vento adverso, e, com um pequeno trabalho a mais, chegar ao porto desejado. [Ou seja, aqui a autora está respondendo à questão de Sêneca de que
se a pessoa sabe a que porto deseja
chegar, poderá, dentro de certos limites, modificar o destino. Talvez essa
seja a maior motivação da vida, ou seja,
aprender com a experiência; talvez por
isso o espírito vem à matéria, porque
na mera abstração do plano mental seja
indistinguível se uma coisa é uma necessidade real ou fantasia; talvez somente através da experiência isso possa ser descoberto. Talvez se possa até
dizer que essa é a necessidade da encarnação, senão nós poderíamos apenas ficar com os anjinhos, tocando liras nos céus e lendo livros de filosofia, mas isso não é suficiente para desenvolver a sabedoria. R.L.].
Isso é uma parábola a respeito do
carma. Se você não pode mudar sua
sorte, mude a si mesmo, e encontre-a
num ângulo diferente; você irá deslizando com sucesso onde o fracasso
parecia inevitável. ‘Yoga é habilidade na ação’ (Bhagavad Gita II – 50),
e essa é uma maneira pela qual o homem sábio governa seus astros ao invés de ser governado por eles. [Esse é
o princípio fundamental do livre-arbítrio na astrologia, mas ele depende
de quanto o indivíduo conquistou em
sabedoria. R.L.]
Nas coisas que são realmente inevitáveis, e nas quais você não pode mudar sua atitude, permaneça firme. Elas
são muito poucas. Quando houver um
destino tão poderoso que você possa
apenas curvar-se ante ele, mesmo então aprenda com ele, e daquele destino você colherá uma flor de sabedoria que talvez uma sina mais feliz não
o permitisse colher. E assim, em todas
as ocasiões, nós descobrimos que podemos enfrentar e conquistar e, mesmo na derrota, podemos colher a flor
da vitória.
44
SOPHIA • ABR-JUN/2010
‘‘
A ideia fundamental do carma é que a própria pessoa semeou as causas
cujos efeitos ela
colhe agora.
Por isso é tão
importante assumir a responsabilidade por
suas escolhas.
Astrologia e o carma maduro
CHRISTOPHE LIBERT
‘‘
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
Dizia C. W. Leadbeater: “É provável que, na maioria dos casos, a maneira e o momento exato da morte não
sejam fixados antes nem no momento
do nascimento. Os astrólogos dizem
que, em muitos casos, não podem prever a morte. Eles mencionam que em
certas épocas as influências maléficas
são fortes, e que a pessoa poderá morrer, mas, se não morrer, sua vida continuará até outra ocasião em que os aspectos malignos novamente a ameaçarão e assim por diante.” Annie Besant
complementa: “O carma maduro (...)
pode ser esboçado no horóscopo por
um astrólogo competente.” Evidentemente, aprender a ler “a linguagem de
Deus através das estrelas” pela astrologia está mais ao alcance de todos, para
conhecer o carma, do que desenvolver
a clarividência, embora seja sempre
conveniente salientar que pela astrologia não se pode conhecer todo o carma do indivíduo, mas somente aquela
fração chamada carma maduro ou
prarabdha karma.
Além da ajuda da astrologia, através desse exercício de planejamento
existencial, feito repetidamente, a mente vai-se tornando cada vez mais lúcida e descobrindo quais são suas verdadeiras motivações nessa vida, quais são
seus mais profundos objetivos e ideais
ou, como preferem outros, qual seria a
missão do indivíduo nessa encarnação.
Como resultado, tendo coragem de
vivê-los, ele terá uma vida mais profunda, mais intensa e mais feliz. Porque cada um vem a esse mundo, segundo a configuração do mapa astral
de nascimento, para descobrir alguma
coisa, para aprender uma lição específica, ou talvez várias, mas também específicas para aquele estágio de desenvolvimento daquele indivíduo, resultante do que a própria pessoa semeou,
como disse São Paulo: “Tudo que o homem semear; isso também ele colherá”
(Gálatas 6:7).
Assim, ao fazer as escolhas conscientemente, pode-se reduzir muito
sofrimento. A intenção do exercício
é trazer as hipóteses que as pessoas
já têm no inconsciente, pois elas não
poderiam se desiludir se não tivessem
ilusões previamente. Elas não poderiam se frustrar se não tivessem antes
expectativas, só que essas expectativas podem ter sido inconscientes. Trazendo, pela prática do exercício, essas expectativas ou hipóteses inconscientes ao plano da consciência,
pode-se encurtar o caminho de eventuais sofrimentos.
Assim também dizia a minha querida professora Emma Costet de Mascheville, conforme consta na contracapa do seu livro Luz e Sombra (Ed.
Teosófica), cuja leitura recomendo aos
interessados em astrologia: “Através do
estudo da astrologia, aprendemos a
não culpar, mas a compreender, a não
ser infelizes ou revoltados, mas a conhecer a nós mesmos e ao nosso próximo, encontrando a harmonia da vida
e religando-nos à fonte da luz.” Também considerei, no seu respectivo prefácio: “As dificuldades do cálculo astronômico sempre tornaram a verdadeira ciência milenar da astrologia inacessível ao grande público, mas a era
da informática vencerá esse obstáculo, facilitando o estudo de mapas astrais individuais e produzindo evidências em um volume estatisticamente
irrefutável. Dessa forma, obrigará a
ciência contemporânea a adequar seus
paradigmas pelo peso dos fatos, dignando-se a investigar imparcialmente
a astrologia. Como respondeu Isaac
Newton ao descobridor do cometa
Halley, que questionava as bases da
astrologia: ‘Senhor, eu a tenho estudado, o senhor não!’”
“Uma enorme transformação ocorrerá em nosso mundo quando, pela
pressão das evidências, a humanidade
compreender que o destino, ou o carma maduro, existe e pode ser lido pelos ângulos dos astros no céu; que o
universo é ordenado e não um mero
fruto caótico do acaso; e que há um
profundo significado pedagógico em
tudo que nos acontece, porque é o efeito de nossos pensamentos, ações e desejos do passado.”
Esta é uma síntese do capítulo 28 do livro A
Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios
(Ed. Teosófica), de Ricardo Lindemann
45
Conheça as publicações da
O Fim da Divindade
Mecânica
John David Ebert (comp.)
Este livro revela as mudanças radicais que têm alterado a nossa maneira de
olhar o mundo. Trata-se de
uma transformação cultural
revolucionária. No entanto,
até agora parte dela tem
ocorrido inconscientemente,
como se suas partes não
formassem um todo.
Esta obra oferece ao leitor uma maneira de enxergar
o todo. A visão científica e a
religiosa, antes separadas, se
reencontram. Como resultado, percebemos de uma
maneira nova e abrangente
qual é o nosso lugar no universo.
Em O Fim da Divindade
Mecânica, oito pensadores
das mais diferentes áreas
expressam suas visões sobre
o mundo, compartilhando o
hábito de pensar de modo
criativo, multidimensional,
inovador e não-dogmático:
Deepak Chopra (A Ioga do
Desejo); Ruper Sheldrake (O
Envelhecimento das Células e
a Física dos Anjos); Stanislav
Grof (O Nascimento, a Morte
e o que está Além); Lynn
Margulis (A Evolução de
Gaia); Ralph Abraham (Os
Alicerces do Caos); Brian
Swimme (Deus e o Vácuo
Quântico); Terence
McKenna (A Etnobotânica) e
William Irwin Thompson (A
Imaginação da Cultura).
46
Vida e Morte de
Krishnamurti
Mary Lutyens
Krishnamurti foi descoberto por C.W. Leadbeater
quando ainda garoto, com a
aura mais pura que o clarividente já vira. O jovem foi
apresentado ao mundo
como um novo instrutor
espiritual da humanidade,
mas não aceitou que o proclamassem como o novo
messias, sustentando que
seu único objetivo era tornar os homens absoluta e
incondicionalmente livres.
Ao longo de toda a vida,
até a sua morte em 1986,
Krishnamurti viajou pelo
mundo fazendo conferências, diálogos e debates sob a
perspectiva mais profunda
da consciência que transcende o pensamento, em
cada um de nós.
Histórias Zen
Paul Reps (comp.)
Estabelecido na China por
Bodhidharma, o Zen-Budismo
é um ensinamento especial,
sem palavras, que, estando
além de qualquer escritura,
aponta para a essência do ser
humano, buscando a iluminação direta da sua natureza
espiritual.
Histórias Zen reúne quatro
coletâneas de histórias ligadas
à sabedoria do Zen-Budismo.
Admirada em todo o mundo,
esta obra coloca o leitor em
contato direto com a substância do êxtase, o satori, a plenitude da consciência que não
pode ser descrita por meio de
palavras. Livre de especulações intelectuais, o livro transforma a experiência direta da
percepção do êxtase, estimulando no leitor a intuição imediata da realidade universal.
O Homem, sua Origem
e Evolução
N. Sri Ram
“O homem é o microcosmo que reflete em sua
constituição o macrocosmo.”
Este livro é uma investigação sobre o enigma do
homem. O que ele é? Qual
a sua origem? Como se
processa a evolução?
Trata-se de uma boa
introdução à antropologia
teosófica, com destaque
para diversas abordagens,
nas quais o homem é visto
como um peregrino espiritual, uma chispa divina e
uma inteligência em busca
de uma maior expressão da
sua natureza mais sutil.
Neste estudo, essas questões fundamentais são analisadas à luz dos princípios
teosóficos.
Aos Pés do Mestre • Jiddu Krishnamurti
Este livro é uma fonte de inspiração espiritual. Trata-se de
uma pequena porém extraordinária obra, por sua simplicidade, profundidade e poder de síntese. Desde 1910 foi traduzida
em 27 línguas e apreciada em dezenas de países.
Em edição de bolso, Aos Pés do Mestre mostra as condições em que o autoconhecimento é possível. Aqui, o jovem
Krishnamurti revela o caminho espiritual que liberta dos sofrimentos criados pela mente, abrindo a percepção para a unidade da vida divina em todos os seres e em todas as coisas.
SOPHIA • ABR-JUN/2010
Editora Teosófica
Autocultura à Luz
do Ocultismo
I. K. Taimni
A evolução ocorre no
curso de longas eras, até
chegar um tempo em que o
indivíduo finalmente compreende e diz: “eu não esperarei
pela mudança”. Então ele
percebe as contradições em
sua vida e toma o seu destino
em suas próprias mãos. Este
é o começo da autocultura.
I. K. Taimni, professor e
pesquisador de Química versado também em Filosofia
Oriental, apresenta nesta
obra uma das mais claras e
profundas descrições da atuação da consciência e dos
métodos que levam ao desenvolvimento dos poderes latentes no homem. A autocultura, enquanto ciência oculta,
acelera a libertação pelo autoconhecimento.
Sete maneiras fáceis de
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SOPHIA • ABRI-JUN/2010
Você Colhe o que Planta
Antonio Geraldo Buck
O Hino de Jesus
G. R. S. Mead
Sussuros da Outra Margem
Ravi Ravindra
Compenetrando-se das
sutilezas inerentes ao carma, afeiçoando-se aos
múltiplos matizes coloridos
e precisos com que essa lei
se manifesta, somos surpreendidos pelos segredos
íntimos que ela vem nos
contar. Rasgam-se véus
obscuros em nossas mentes, ilumina-se a razão, e
germina a luz afetiva do
recôndito de nossas almas,
vislumbrando o alvorecer
de horizontes dignos de
serem vividos em sintonia
com o plano divino.
De modo prático e
simples, o leitor perceberá
como o carma faz parte de
cotidiano, e os recursos a
serem utilizados para viver
em sintonia consigo mesmo e com o cosmo.
O Hino de Jesus é um
rito gnóstico, uma celebração dos mistérios da luz. É,
sem dúvida, um dos primeiros ritos cristãos. Esta
obra apresenta interessantes e elucidativos comentários ao “hino” cuja autoria
é atribuída a Jesus pelos
antigos gnósticos e por
pesquisadores e especialistas alemães e ingleses. O
autor, G. R. S. Mead, foi um
destacado investigador e
tradutor da literatura hermética e do gnosticismo,
além de estudioso das origens do Cristianismo. Ele
viveu em Londres, onde
trabalhou com H. P. Blavatsky e seguiu sua sugestão para se dedicar ao tema
da gnosis, a fonte de inspiração do Cristianismo.
Este livro é uma longa
meditação em torno de um
tema: o mistério da nossa
existência. O autor confronta
as duas maiores tradições
religiosas com perguntas
desafiadoras: “Quem sou eu?
A salvação virá do alto ou do
meu interior?” Segundo Ravi
Ravindra, “necessitamos de
ajuda para escutar nossas
próprias perguntas”.
Depois de assinalar as
múltiplas diferenças que podem ser notadas entre as
tradições judaico-cristã e
indiana, além de alguns poucos elementos em comum, o
autor conclui que é necessário algo mais que o dogma
religioso formal se desejamos
“responder ao chamado”, ou
seja, identificar “este que
sussurra da outra margem”.
Algo mais é necessário à
medida que continuamos
nossa peregrinação do solitário ao solitário, de forma que
possamos chegar a conhecer
“essa pessoa divina que está
além do além”.
Ilustrado com parábolas,
pequenas histórias e ricas
metáforas, este livro
estimulante oferece muitos
ângulos novos na busca do
sentido da vida.
Editora Teosófica
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47
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pelo número! Ligue grátis: 0800-610020
Peça
1. Além do Despertar - Textos do Mestre
Hakuin sobre Meditação Zen: 23,00
2. Alvorecer da Vida Espiritual, O - Murillo
Nunes de Azevedo: 25,00
3. Apolônio de Tiana - G. R. S. Mead: 23,00
4. Aprendendo a Viver a Teosofia, Radha
Burnier, R$ 31,00
5. Aspectos Espirituais das Artes de Curar Dora van Gelder Kunz: 39,00
6. Autocultura à Luz do Ocultismo - I. K.
Taimni: 37,00
7. Caminho do Autoconhecimento, O - Radha
Burnier: 11,00
8. Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett,
Vol. 1 - Mahatmas K. H. e M.: 45,00
9. Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett,
Vol. 2 - Mahatmas K. H. e M.: 48,00
10. Cartas dos Mestres de Sabedoria - C.
Jinarajadasa: 38,00
11. Chamado dos Upanixades, O - Rohit
Mehta: R$ 37,00
12. Chave para a Teosofia, A - H. P. Blavatsky:
34,00
13. Chegando Aonde Você Está - A Vida de
Meditação - Steven Harrison: 31,00
14. A Ciência da Astrologia e as Escolas de
Mistérios - Ricardo Lindemann: 49,00
15. A Ciência da Meditação - Rohit Mehta:
35,00
16. Ciência do Yoga - I. K. Taimni: 43,00
17. Conheça-te a Ti Mesmo - Valdir Peixoto: 15,00
18. Conquista da Felicidade, A - Kodo
Matsunami: 23,00
19. Consciência e Cosmos - Menas Kafatos &
Thalia Kafatou: 34,00
20. Contos Mágicos da Índia - Marie Louise
Burke: 21,00
21. Criança Encantada, A [livro de bolso] - C.
Jinarajadasa: 11,00
22. Dentro da Luz - Cherie Sutherland: 31,00
23. Desejo e Plenitude - Hugh Shearman:
15,00
24. Despertar da Visão da Sabedoria, O Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama: 22,00
25. Despertar de Uma Nova Consciência, O Joy Mills: 17,00
26. Doutrina do Coração, A - Annie Besant:
18,00
27. Em Busca da Sabedoria - N. Sri Ram:
26,00
28. Escolas de Mistérios, As - Clara Codd: 33,00
29. Estudos Seletos em A Doutrina Secreta Salomon Lancri: 21,00
30. Fim da Divindade Mecânica, O - John
David Ebert (comp.): 33,00
31. Fotos de Fadas - Edward L. Gardner: 17,00
32. Fundamentos da Filosofia Esotérica - H. P.
Blavatsky: 15,00
33. Gayatri - O Mantra Sagrado da Índia - I.
K. Taimni: 26,00
34. Gnose Cristã, A - C. W. Leadbeater: 32,00
35. Helena Blavatsky - Sylvia Cranston: 63,00
36. Hino de Jesus, O - G. R. S. Mead: 13,00
37. Histórias Zen - Paul Reps (comp.): 27,00
38. Homem: sua Origem e Evolução, O - N. Sri
Ram: 17,00
39. Ideais da Teosofia, Os - Annie Besant:
23,00
40. Idílio do Lótus Branco, O - Mabel Collins:
20,00
41. Inteligência Emocional - As Três Faces da
Mente - Elaine de Beauport & Aura Sofia
Diaz: 47,00
42. Introdução à Teosofia - C.W. Leadbeater:
15,00
43. Investigando a Reencarnação - John
Algeo: 24,00
44. Libertação do Sofrimento, A - Alberto
Brum: 21,00
45. Luz e Sombra - Emma Costet de
Mascheville: 16,00
46. Luz no Caminho - Mabel Collins: 11,00
47. Meditação - Sua Prática e Resultados Clara M. Codd: 15,00
48. Meditação - Um Estudo Prático - Adelaide
Gardner: 22,00
49. Meditações: Excertos das Cartas dos
Mestres de Sabedoria - Katherine A.
Beechey (comp.) [livro de bolso] - 11,00
50. Meditação Taoísta - Thomas Cleary
(comp.): 20,00
51. Mundo Oculto, O - A. P. Sinnett: 30,00
52. Natal dos Anjos, O - Dora van Gelder
Kunz - 11,00
53. Ocultismo Prático - Helena Blavatsky: 11,00
54. Ocultismo, Semi-ocultismo e Pseudoocultismo - Annie Besant: 12,00
55. Pensamentos para Aspirantes ao Caminho
Espiritual - N. Sri Ram: 20,00
56. Pés do Mestre, Aos - J. Krishnamurti: 11,00
57. Poder da Sabedoria, O - Carlos Cardoso
Aveline: 25,00
58. Poder da Vontade, O - Swami
Budhananda: 12,00
59. Poder Transformador do Cristianismo
Primitivo, O - Raul Branco: R$ 20,00
60. Potência do Nada, A - Marcelo Malheiros:
23,00
61. Preparação para Yoga - I. K.Taimni: 22,00
62. O Processo de Autotransformação - Vicent
Hao Chin Jr.: 33,00
63. Princípios de Trabalho da Sociedade
Teosófica - I. K.Taimni: 12,00
64. Raja Yoga - Wallace Slater: 20,00
65. Regeneração Humana - Radha Burnier: 21,00
66. Rumo a uma Mente Sábia e uma Sociedade
Nobre - Radha Burnier e outros: 18,00
67. Sabedoria Antiga, A: 37,00
68. Sabedoria Antiga e Visão Moderna Shirley Nicholson: 32,00
69. Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada, A Geoffrey Hodson: 67,00
70. Saúde e Espiritualidade - Geoffrey Hodson: 14,00
71. Segredo da Autorrealização, O - I. K. Taimni: 20,00
72. Senda Graduada para a Libertação, A Geshe Rabten: 14,00
73. Senda para a Perfeição, A Geoffrey Hodson: 15,00
74. Suprema Realização através da Ioga, A Geoffrey Hodson: 29,00
75. Sussurros da Outra Margem Ravi Ravindra: 23,00
76. Teatro da Mente, O Henryk Skolimowski: 24,00
77. Teia de Maya, A - Atapoã Feliz: 17,00
78. Teosofia como os Mestres a Vêem Clara Codd: 33,00
79. Teosofia Simplificada - Irving Cooper: 19,00
80. Tradição-Sabedoria, A - Pedro Oliveira
e Ricardo Lindemann: 19,00
81. Três Caminhos para a Paz Interior Carlos Cardoso Aveline: 25,00
82. Tudo Começa com a Prece - Madre Teresa de
Calcutá: 23,00
83. Vegetarianismo e Ocultismo - C. W.
Leadbeater - Annie Besant: 18,00
84. Vida de Cristo, A - Geoffrey Hodson: 43,00
85. Vida e Morte de Krishnamurti Mary Lutyens: 35,00
86. Vida Espiritual, A - Annie Besant: 26,00
87. Vida Interna, A - C. W. Leadbeater: 39,00
88. Visão Espiritual da Relação Homem & Mulher,
A - Scott Miners (comp.): 31,00
89. Viveka-Chudamani - A Jóia Suprema da
Sabedoria - Shankara: 27,00
92. Vivência da Espiritualidade, A - Shirley
Nicholson: 13,00
91. Você Colhe o que Planta Antonio Geraldo Buck: 15,00
92. Wen-tzu - A Compreensão dos Mistérios Ensinamentos de Lao-tzu: 29,00
93. Yoga - A Arte da Integração Rohit Mehta: 41,00
94. Yoga do Cristo - No Evangelho de São
João, A - Ravi Ravindra: 33,00
RECORTE OU TIRE CÓPIA DESTE CUPOM E ENVIE PARA: EDITORA TEOSÓFICA - SGAS Q. 603, CONJ. E, S/Nº - BRASÍLIA-DF - CEP 70.200-630
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PEDIDO DE LIVRO - ACRESCENT
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PARA
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ARQUIVO / ED. TEOSÓFICA
A origem da palavra theosophia é
grega e significa
sabedoria divina.
A Sociedade Teosófica moderna
busca a sabedoria
não pela mera
crença, mas pela
investigação da
verdade na natureza e no homem.
O que é a
Sociedade Teosófica
A Sociedade Teosófica foi fundada em Nova Iorque, em 17 de novembro de 1875, por um grupo de
pessoas, entre as quais se destacaram
a russa Helena Petrovna Blavatsky e
o norte-americano Henry Steel Olcott,
que foi seu primeiro presidente. Posteriormente, a sede internacional foi
transferida para a Índia, na cidade de
Chennai, antiga Madras, onde se encontra atualmente localizada.
Com mais de um século de existência, a Sociedade Teosófica espalhou-se por todo o mundo, com se-
Não há religião
superior à
verdade
Esse é o lema da Sociedade Teosófica. Ele não significa que a Sociedade se imponha como portadora
da verdade; quer dizer que o laço
que une os teosofistas não é uma
crença comum, mas a investigação
da verdade em relação às diversas
religiões, à filosofia ou à ciência.
SOPHIA • ABRI-JUN/2010
des em mais de sessenta países. Está
dividida em Seções Nacionais, que se
compõem de Lojas e Grupos de Estudos. Seus objetivos são:
Formar um núcleo da Fraternidade Universal da Humanidade, sem
distinção de raça, credo, sexo, casta
ou cor.
Encorajar o estudo de Religião
Comparada, Filosofia e Ciência.
Investigar as leis não-explicadas da
natureza e os poderes latentes no
homem.
A Sociedade Teosófica estrutura-se sobre o princípio da fraternidade universal. Seus objetivos apontam na direção de uma livre investigação da verdade.
Uma vez que essa investigação só
pode ser realmente empreendida em
uma atmosfera de liberdade, a Sociedade assegura aos membros o direito
à plena liberdade de pensamento e
expressão, dentro dos limites do respeito para com os demais.
Membros de diversas religiões se
filiaram à Sociedade Teosófica, man-
tendo, ao mesmo tempo, suas tradições. Considerando que ela não é uma
religião, muito menos uma seita, somente o respeito à liberdade de pensamento torna possível a convivência harmônica que favorece a investigação e o aprendizado.
Sabedoria
viva
A origem da palavra theosophia
é grega e significa, etmologicamente, sabedoria divina. Quem primeiro utilizou esse termo foi Amônio
Saccas, em Alexandria, no Egito, no
século III d.C, que, juntamente com
seu discípulo Plotino, fundou a Escola Teosófica Eclética. Esses filósofos neoplatônicos não buscavam
a sabedoria apenas nos livros, mas
através de analogias e correspondências da alma humana com o
mundo externo e os fenômenos da
natureza. Assim, a Sociedade Teosófica moderna, sucessora dessa antiga escola, almeja a busca da sabedoria não pela mera crença, mas
pela investigação da verdade que se
manifesta na natureza e no homem.
49
Sociedade Teosófica no Brasil
Capitais
Brasília-DF - SGAS Q. 603, cj. E, s/nº. CEP:
70200-630. Tel: (61) 3226-0662.
Loja Alvorada: Reuniões 6ª, 19h30.
Loja Brasília: Reuniões 4ª, 19h. E-mail:
[email protected]
Loja Fênix: Reuniões 3ª, 19h. E-mail:
[email protected]
Coordenadoria das lojas de Brasília - programação pública conjunta: sáb., 14h30 a 21h30.
Belém-PA
Loja Annie Besant: R. Tiradentes, 470, Reduto. CEP 66053-330. Fone: (91) 3242-6978. Reuniões: 5ª, 19h.
Belo Horizonte-MG
Loja Bhagavad Gotama: Av. Afonso Pena, 748,
26º andar. CEP: 30130-300. Tel: (31)3222-5934.
E-mail: bhagavad@sociedadeteosofica. org.br.
Reuniões: domingos, 16h.
Campo Grande-MS
Loja Campo Grande: R. Pernambuco, 824, S.
Francisco. CEP: 79010-040. Tel: (67) 3025-7251
ou 9982-8106. E-mail: [email protected].
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Curitiba-PR
Loja Libertação: R. XV de Nov., 1700, 2º andar, s.
5. CEP: 80050-000. Tel: (41) 3037-5586, 3363-8312.
Reuniões: 4ª, 19h45 (membros); 5ª 19h e sáb. 16h
(público). E-mail: [email protected]
Loja Paraná: R. Dr. Zamenhof, 97, Alto da
Glória. CEP: 80030-320. Tel: (41) 3254-3062.
Reuniões: 3ª, 20h.
G.E.T. Dario Vellozo: Rua 13 de Maio, 538,
Centro, CEP 80510-030. Reuniões: domingos,
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Florianópolis-SC
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3333-2311, 3231-8933, 9960-0637 (Adolfo)
Fortaleza-CE
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Site: www.lojadharma.org.br. Reuniões: 4ª, 20h
(membros); sábado, 17h e 19h (público).
Loja Jehoshua: Praça Osvaldo Cruz, 15, Ed.
Coliseu, s. 2108, Centro. CEP: 90030-160. Tel.:
(51) 3328-4448. Reuniões: 3ª, 20h. E-mail:
[email protected]
Recife-PE
Loja Estrela do Norte: R. Diogo Álvares, 155,
Torre. CEP: 54420-000. Tel: (81) 3459-1452. Reuniões: domingo, 16h. E-mail: lojaestreladonorte
@sociedadeteosofica.org.br
Rio de Janeiro-RJ
Loja Augusto Bracet: R. General Roca, 380/
102, bl. B, Tijuca. CEP: 20521-070. Tel: (21) 25699978. Reuniões: 4ª, 15h.
Lojas Conde de Saint Germain, Jinarajadasa,
Nirvana, Perseverança e Rio de Janeiro: Av. 13
de Maio, nº 13, s. 1.520, Centro, Cep 20031-000.
Tel: (21) 2220-1003.
Loja Conde de S.Germain: Reuniões 2ª, 15h.
Loja Jinarajadasa: Reuniões 3ª, 17h.
Loja Nirvana: Reuniões 6ª, 17h30.
Loja Perseverança: Reuniões 5ª, 14h30.
Loja Rio de Janeiro: Reuniões sáb. 16h30.
Salvador-BA
Loja Kut-Humi: R. das Rosas, 646, Pq. N. S. da Luz,
Pituba. CEP: 41810-070. Tel: (71) 3353-2191 / 99191065. E-mail: [email protected].
Site: www.sociedadeteosofica.org.br/teobahiaReuniões: sáb., 16h.
São Paulo-SP
Loja Amizade: R. Mituto Mizumoto 301, Liberdade. CEP: 01513-040. Tel: (11) 3271-3106. Reuniões: 3ª, 20h.
Loja Liberdade: R. Anita Garibaldi, 29, 10º andar. CEP: 01018-020. Tel: (11) 3256-9747. Reuniões: 6ª, 20h. E-mail: [email protected] e [email protected]
Loja Raja Yoga: R. Mituto Mizumoto 301, Liberdade. CEP: 01513-040. Tel: (11) 3271-3106.
Reuniões: 6ª, 20h. E-mail: lojarajayoga@
sociedadeteosofica.org.br
Loja São Paulo: R. Ezequiel Freire, 296, Santana
(imediações metrô Santana). CEP: 02034-000. Tel:
(11) 5661-1383. Site: groups.yahoo.com/ group/
ltsp-sampa. E-mail: ltsp-sampa-owner@
yahoogroupps.com. Reuniões: dom., 17h30.
Vitória-ES
Loja Sabedoria Universal: Tel: 3340-028 (Sr. Alcione). E-mail: [email protected]. Reuniões:
1ª terça do mês, 20h.
Loja Sabedoria Universal: R. Coração de Maria,
215, ap. 801, Praia do Canto, CEP 29.100-013.
G.E.T. Blavatsky - Espaço Luz: R. Odete de
Oliveira Lacourt, 610, Loja 1, Jardim da Penha.
CEP 29060-050. Tel (27) 3227-8249. E-mail:
[email protected]. Reuniões: 3ª, 19h30.
Outras cidades
15h. E-mail: [email protected]
Juiz de Fora-MG
Loja Estrela D’Alva: Av. Barão do Rio Branco,
2721, s. 1006, Centro. CEP: 36025-000. Tel: (32)
3061-4293. Reuniões: 2ª, 4ª, sáb., 18h15.
Lavras-MG
G.E.T. Lavras: R. Barão do Rio Branco, 79. CEP:
37200-000. Tel: (35) 3821-2151. Reuniões: 5ª, 20h.
Mogi das Cruzes-SP
Loja Raimundo Pinto Seidl: Rua Bráz Cubas, 251,
sala 14, 1º andar, Centro. CEP: 08715-060. Tel: (11)
4799-0139. Reuniões: sábado, 15h30.
Niterói-RJ
Loja Himalaya: R. da Conceição 99, s. 207,
Centro. CEP 24020-090. Tel: (21) 2710-3890,
2611-6949. Reuniões: 2ª, 19h.
Piracicaba-SP
Loja Piracicaba: R. Sta Cruz, 467, Alto. CEP: 13416763. Tel: (19) 3432-6540. Reuniões: 3ª e 5ª, 20h. Email: [email protected].
Praia Grande-SP
Águas de São Pedro-SP
G.E.T. Águas de São Pedro: Rua Pedro Boscariol
Sobrinho, nº 95, SP. CEP: 13525-000. Telefone: (19)
3482-1009. Reuniões: 5ª, 20h.
Bragança Paulista-SP
Loja Alaya: R. Teixeira, 505, Taboão. CEP 12900000. Tel: 4032-5859. Reuniões: 6ª, 20h. E-mail:
[email protected]
Campina Grande-PB
G.E.T. Sírius: R. Clementino Siqueira, 34, Jardim Tavares (lateral do restaurante Tábua de
Carne). CEP: 58.402-070. Tel: (83) 3055-1770.
Reuniões: dom., 16h30. E-mail: [email protected] ou [email protected]
Campinas-SP
G.E.T Lótus Branco: Caixa Postal 3835, Av.
João Erbalato, 48, ACF Castelo, CEP 13070-973.
Reuniões: sábados, 15h, fones: (19) 3027-1224
/ 8815-2970. E-mail: [email protected]
Cataguases-MG
Loja Unicidade: R. Coronel João Duarte, 78, s.
204. CEP: 36770-000. Tel: (32) 3421-8601/(32)
3421-2600/(32) 9111-8181 e (32) 9984-1164. Reuniões: 3ª, 20h, sáb., 19h . E-mail: [email protected]
Criciúma-SC
G.E.T. Mabel Collins: Cx P. 263, CEP 88801-970.
Tel: (48) 3433-0380 / 9904-2080. Reuniões: 1º sábado do mês, 15h.
Franca-SP
G.E.T. Consciência: R. Jardinópolis, 508. CEP 14405065. Tel: (16) 3723-5676. Reuniões: domingo, 15h. Email: [email protected]
Joinville-SC
Loja Shanti-OM: R. Eugênio Moreira, 114, Anita
Garibaldi. CEP: 89202-100. Tel: (47) 3433-3706. Reuniões: 4º domingo do mês, 19h.
Juazeiro do Norte-CE
G.E.T. Ashrama: R. Santa Rosa, 835, Salesianos. CEP:
63010-440. Tel: (88) 3511-2905. Reuniões: domingo,
Get Thoth: R.Maurício José Cardoso, 1086, Forte.
CEP 11700-140. Tel: (13) 3474-5180. Reuniões: 2ª,
20h.E-mail: [email protected]
Ribeirão Preto-SP
G.E.T. Ahimsã: R. São José, 342, Centro. CEP
14015-080. Tel: (16) 3024-1755/(16) 34219867 . R e u n i õ e s : s á b a d o , 1 5 h . E - m a i l :
[email protected]
São Caetano do Sul-SP
G.E.T. do Grande ABC: R. Marechal Deodoro, 904, Santa Paula. CEP 09541-300. Tel: (11)
4229-7846 . Reuniões: 3ª, 20h. E-mail:
[email protected]
São José dos Campos-SP
Loja Vida Una: R. República do Líbano, 385, Jd.
Oswaldo Cruz, S. J. dos Campos, SP. CEP: 12216-590.
Tel: (12) 3941-1205, 3941-9741. Reunião: 2ª 19h. Email: [email protected]
Uberlândia-MG
G.E.T. Uniconsciência: Av. Cesário Alvim, 619,
(Espaço Samsara). CEP: 384000-098. Tel: (34) 32149522/8871-3383. Reunião: dom., 17h.
Se você gostou de SOPHIA, vai adorar
os programas da Sociedade Teosófica
e União Planetária. Eles falam de
ciência, religião, filosofia, arte, a união
entre os povos e o fim das fronteiras.
ACOMPANHE!
Canais comunitários
BELO HORIZONTE (MG)
NET (Canal 13) – 2ª, 0h; 3ª, 23h;
6ª, 0h; sab., 23h; dom., 18h.
BRASÍLIA (DF)
NET (Canal 8) –
Diariamente às 22h.
CAMPINAS (SP)
NET (Canal 8) – 2ª, 20h30;
4ª, 15h30.
CAMPO GRANDE (MS)
NET (Canal 4) –
Diariamente, 20h às 23h.
DIADEMA, SANTO ANDRÉ,
SÃO BERNARDO,
SÃO CAETANO (SP)
TV VIVAX (Canal 96) –
Diariamente, 21h.
FLORIANÓPOLIS (SC)
NET (Canal 4) – 3ª e 4ª, 19h; 5ª,
17h30.
FOZ DO IGUAÇU (PR)
NET (Canal 99) – Diariamente,
21h às 8h. TVA (Canal 20) –
Diariamente, 21h às 8h.
GOIÂNIA (GO)
NET (Canal 12) – 2ª a 6ª, 21h às
13h do dia seguinte;
sáb., 12h às 13h de 2ª.
LAURO DE FREITAS (BA)
RCA (Canal 99) – 2ª, 8h, 9h, 17h,
21h, 4h; 3ª, 5ª e sáb., 8h, 9h, 21h;
4ª e 6ª, 8h, 9h, 17h, 21h, 4h;
dom., 8h, 9h, 21h e 4h.
MACEIÓ (AL)
BIG TV (Canal 12) –
2ª a 6ª, 9h às 11h.
MARÍLIA (SP)
NET (Canal 15) – Diariamente,
11h às 12h e 17h às 19h.
MANDAGUAÇU, MARIALVA,
MARINGÁ, PAISSANDU E
SARANDI (PR)
TV CIDADE – (Canal 12) – 2ª, 9h,
14h30, 20h; 3ª e 6ª, 2h15, 9h,
16h30; 4ª, 0h, 9h; 5ª, 9h, 20h;
sáb., 11h, 16h30; dom., 7h.
PETRÓPOLIS (RJ)
Tech Cable (Canal 19) –
3ª, 12h; 5ª, 13h e 23h.
PORTO ALEGRE (RS)
NET (Canal 6) – 2ª, 5h.
PORTO VELHO (RO)
Cabo TB (Canal 16) –
Diariamente, 10h.
RECIFE (PE)
TV CABO MAIS (Canal 14) –
2ª a 6ª, 21h às 23h; sáb. e dom.,
16h às 18h.
RIO DE JANEIRO (RJ)
NET (Canal 6) – 2ª a 6ª às 22h.
Sáb. e dom. às 17h, 19h e 22h.
SALVADOR (BA)
NET (Canal 15) –
Diariamente, 24 horas.
NOVA FRIBURGO (RJ)
RCA (Canal 69) – Diariamente,
14h e 23h.
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)
TV VIVAX (Canal 72) – 2ª a 6ª,
9h às 10h. NET (Canal 3) – 2ª a 6ª,
9h às 10h.
PAISSANDU (PR)
TV CIDADE – Sociedade
Teosófica e União Planetária:
diariamente, 23h.
UBERLÂNDIA (MG)
NET (Canal 7) – Diariamente, 10h,
14, 18h30 e 23h até 8h do dia
seguinte.
Veja a TV Supren pela Internet (24 horas por dia, todos os dias):
www.tvsupren.com.br
Pedidos de DVDs: (61) 3368-1752 • Informações: www.tvsupren.com.br
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