Protecionismo x Liberalismo 1 ADRIANE BRUNHEROTTO [email protected] LAURENT LIMA [email protected] THIAGO GALDINO [email protected] Resumo: No comercio internacional os países utilizam de políticas econômicas diversificadas com o objetivo de obter vantagens em busca do bem-estar e desenvolvimento econômico. Dentre as políticas econômicas adotadas, algumas restringem o mercado e outras abrem. A decisão de proteger o mercado interno leva os países a impor medidas que inibam a entrada de produto externo no país e, quando há abertura comercial, o país cria facilidades para que produtos importados entrem no país, mas ambas as decisões trazem também conseqüências que nem sempre garantem o objetivo. Palavras-Chave: Comércio Internacional, Econômicas, Protecionismo, Liberalismo Desenvolvimento Econômico, Políticas Abstract: In the international trade the countries use diverse economic policies in order to gain advantages in search of well-being and economic development. Among the economic policies adopted, some restrict the market and others open. The decision to protect the domestic market leads countries to impose measures that inhibit the entry of foreign products in the country and when there is open trade, the country establishing facilities that imported products enter in the country, but the two decisions also bring consequences that neither always guarantee order. Keywords: International Protectionism, Liberalism Business, Economic Development, Economic Policy, 1. INTRODUÇÃO Desde o início do comércio entre as nações, há a busca incessante do desenvolvimento econômico e bem-estar dos cidadãos. Para isso, os governos adotam diferentes medidas, que são as políticas econômicas, ora protegendo o mercado interno, ora abrindo. Ao adotar medidas protecionistas, que podem ser subsídios a produtores internos ou barreiras à importação, entre outros, os países tentam ajudar o mercado interno a se desenvolver até o ponto em que esteja forte para competir com outros países mais 1 UNIMEP, Faculdade de Gestão e Negócios. Alunos do Curso de Negócios Internacionais. Texto desenvolvido na disciplina de Conjuntura Econômica Brasileira. 1S/2010. desenvolvidos. Essas medidas visão diminuir o número de produtos importados que competem no mercado interno. Quanto ao liberalismo, a função é inversa, os países abrem o mercado para que entrem mercadorias importadas e assim fazem com que os produtores internos se desenvolvam para competir ao pé de igualdade com produtos importados. Existem diversas discussões sobre quais políticas econômicas garantem melhor desenvolvimento dentro de um país ou no comércio internacional, onde são analisados pontos de vista, vantagens e desvantagens do protecionismo e do liberalismo. Nesse artigo vamos abordar as vantagens e desvantagens das políticas econômicas protecionistas e liberais mostrando as conseqüências das mesmas para seus adeptos. A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros de economia e comércio exterior e outras produções acadêmicas como artigos científicos. 2. REFERENCIALTEÓRICO Desde a Antiguidade as nações preocupam-se com o seu desenvolvimento e bemestar do seu povo e o comércio internacional é considerado uma fonte para alcançar esse objetivo. Porém, é só a partir do Mercantilismo, século XVI, das grandes navegações, que surgiram as teorias comerciais que conhecemos e são praticadas até hoje. Segundo Soares (2004) o Mercantilismo fez parte de uma transição histórica, do feudalismo para o capitalismo. Gonçalves et al. (1998) dizem que o Mercantilismo, através da monetização da economia, consolidou o Estado moderno. A era do Mercantilismo foi marcada pelo entesouramento das nações e a preocupação com a riqueza delas. Outra era importante para a economia teve como marco a Revolução Industrial Inglesa, século XVIII. Nesse período houve uma revolução em diversos aspectos da economia, desde o pequeno agricultor até aos donos de capital, dando início a um século de crescimento e progresso industrial. Além do progresso industrial, progrediu também o pensamento econômico, e entre as teorias que buscam explicar o desenvolvimento econômico das nações, figuram entre as pioneiras as difundidas por Adam Smith, teorias tão importantes que perduram até os dias de hoje, como a divisão do trabalho, a teoria das vantagens absolutas, teoria da mãoinvisível e o livre-cambismo, também conhecido como laissez-faire. Smith defendia o liberalismo e dizia que as nações que não impusessem restrições na competição comercial promoveriam o progresso que todos almejavam. Depois de Smith houve e ainda há muitas teorias econômicas que tentam explicar a ciência econômica de um país e suas relações comerciais internacionais. Dentro de todo o histórico econômico das nações, houve aquelas que conseguiram se desenvolver em caráter industrial e outras que mantiveram uma característica no setor primário, ou seja, agrícola, exportando matéria-prima e importando produtos industrializados. Tal fato teve como resultado um maior desenvolvimento de alguns países em relação outros, que mantiveram seu grau de industrialização baixo, sendo mais viável importar produtos de outros países por serem mais baratos do que serem produzidos dentro do próprio país. Nessa situação desfavorável alguns países optaram por “fechar” suas economias, visando protegê-las para garantir seu desenvolvimento, utilizando-se de diversificadas medidas de proteção desde a criação de barreiras comerciais a incentivos às indústrias nacionais enquanto outros optaram por abrir o mercado. 3. ECONOMIA EM MACRO E MICRO O estudo da economia se subdivide em duas áreas: a macroeconomia e a microeconomia. Cleto e Dezordi (2002) caracterizam microeconomia como um estudo onde se analisam os agentes econômicos, como famílias, empresas e governo de uma forma individualizada. Garófalo (2004) define microeconomia como a parte do estudo da ciência econômica onde seu foco está situado nas unidades de consumo em relação as empresas e sua produção, bem como a formulação de preços dos diversos bens, serviços e fatores de produção. Já Krugman e Wells (2007) vêem a microeconomia como um estudo focado nos indivíduos e empresas e as conseqüências causadas pelas decisões tomadas de ambos os lados. No estudo da macroeconomia, Cleto e Dezordi (2002) apresentam a macroeconomia como uma interação entre os agentes econômicos e as variáveis econômicas como juros, moeda, cambio, etc. Garófalo (2004) afirma que o estudo da macroeconomia tem interesse no consumo, na renda e na produção da população de uma forma agregada, ou seja, a economia como um todo. Krugman e Wells (2007) afirmam que na macroeconomia os indivíduos e empresas interagem em conjunto para produzir um nível específico de comportamento da economia. 3.1 Macroeconomia e Políticas Econômicas As decisões tomadas no âmbito da macroeconomia interferem diretamente na vida dos cidadãos, essas decisões são baseadas em políticas econômicas que são adotadas pelo Estado. Cleto e Dezordi (2002) entendem por políticas econômicas como as ações que o Estado toma através de instrumentos econômicos, visando atingir objetivos macroeconômicos. E continua que, o objetivo das políticas econômicas é afetar a economia como um todo, por isso, seu campo de estudo é na macroeconomia. Os instrumentos de políticas econômicas podem ser divididos em três grupos: Política Monetária, Política Fiscal e Política Cambial (Cleto e Dezordi, 2002). 3.2 Política Monetária Cleto e Dezordi (2002) afirmam que a lógica da política monetária é controlar a oferta de moeda no país, para determinar a taxa de juros do mercado. Krugman e Wells (2007) acreditam que a política monetária ao longo prazo afeta o nível de preços agregado, mas sem afetar o produto agregado. 3.3 Política Fiscal Referenciado como o principal instrumento de política econômica do setor público por Cleto e Dezordi (2002), é utilizado pelo governo como forma de combater o desemprego e estimular a produção através da organização do orçamento do governo, que são formados principalmente por sua arrecadação (impostos) e seus gastos (despesas do governo). Krugman e Wells (2007) acrescentam que a política fiscal pode ser expansionista ou contracionista, na expansionista há o aumento dos gastos do governo e corte nos impostos, aumentando a demanda agregada e na contracionista ocorre o oposto, o governo reduz seus gastos e aumenta os impostos, diminuindo assim a demanda agregada. 3.4 Política Cambial Também chamado de divisas, o câmbio é utilizado por agentes econômicos que se relacionam no comércio internacional. Empresas que compram e vendem moeda estrangeira, mercadorias, ações (Cleto e Dezordi, 2002). A política cambial pode ser controlada através das taxas de câmbio, que podem ser real ou nominal, e regimes cambiais, que podem ser de câmbio fixo ou câmbio flutuante. 4. PROTECIONISMO x LIBERALISMO A partir das idéias criadas por Adam Smith sobre o liberalismo grandes números de economistas aderiram aos argumentos do livre-comércio como forma de promover o bemestar e o desenvolvimento econômico das nações, e a partir disso os governos de diversos países tem aberto seus mercados para obter ganhos de comércio. Por outro lado, apesar de pequeno, existe ainda um grupo de economistas que não acreditam que o liberalismo possa trazer somente bem-estar e desenvolvimento econômico, sendo adeptos do protecionismo, defendendo que os governos devem adotar medidas para proteger seu mercado interno e que essa proteção proporcionará o desenvolvimento do país que o adote (Gonçalves et al. , 1998). 4.1 Protecionismo Segundo Williamson (1996), proteção se refere às vantagens que os governos oferecem aos produtores internos para concorrer com os produtos vindos do mercado externo, e num sentido mais amplo, impulsionar as exportações. Para obter essas vantagens são adotadas medidas protecionistas, sendo as principais: subsídios, cotas de importação, restrições voluntárias às exportações, e barreiras não tarifárias. Subsídios – Segundo Simões, Pellegrino e Capacle (2006) é definido como pagamentos (diretos ou indiretos) realizados pelo governo para incentivar as exportações ou desestimular as importações. Afirmam também que esses subsídios podem ser concedidos por meio de pagamentos em dinheiro, financiamentos a taxas de juros inferiores a do mercado e redução de impostos. Carvalho e Leite da Silva (2002) dizem que os subsídios equivalem a um imposto negativo, ou seja, reduzem os custos para o produtor e afirmam também que em alguns casos o governo compra em um determinado preço de um fornecedor e revende por menos aos consumidores. Cotas de importação – Com base nos conceitos de Simões, Pellegrino e Capacle (2006) são restrições direta a um determinado produto que pode ser importado, essa cota faz com que o preço do produto importado se eleve e conseqüentemente aumenta a demanda por produtos nacionais. Carvalho e Leite da Silva (2002) entendem como cotas de importação restrições feitas sobre a quantidade ou o valor das importações e podem ser fixadas através de acordos bilaterais ou decisões unilaterais. Restrições voluntárias as exportações - Dizem Simões, Pellegrino e Capacle (2006) que essas restrições ao contrário das cotas de importação, são impostas pelo exportador, ou seja, através de negociações bilaterais o país exportador se propõe a reduzir suas exportações para o mercado importador. Carvalho e Leite da Silva (2002) afirmam que mesmo que o país exportador esteja interessado em aumentar suas vendas ele deve restringi-las porque se não poderá sofrer restrições mais severas. Barreiras não tarifárias – Para Simões, Pellegrino e Capacle (2006) na prática essas barreiras são impostas através de regulamentos sanitários e de saúde, normas técnicas, padrões de segurança, dificuldades com documentações entre outras burocracias estatais. Carvalho e Leite da Silva (2002) acrescentam que as barreiras não tarifárias nem sempre visam reduzir as importações. 4.2 Liberalismo Ellsworth (1974) mostra que no liberalismo, quando o comércio é livre, os consumidores sempre conseguirão obter um produto pelo menor preço possível, porque há uma constante disputa entre os produtores para conseguir mercado e sempre buscarão ganhar esse mercado se especializando na produção do produto, para oferecêlo pelo menor preço. Em outras palavras, o livre-comércio permite que as pessoas consigam aproveitar as vantagens obtidas por meio dessas trocas comerciais. Krugman e Obstfeld (2001) afirmam que a colocação de barreiras ao livre-comércio ocasiona numa perda de eficiência, onde as empresas que são protegidas não são forçadas a se desenvolverem e buscar melhorar a qualidade dos produtos produzidos para competir com o mercado externo. Acrescentam outro argumento para o livrecomércio, que as indústrias de um país adepto ao liberalismo têm mais oportunidades de adquirir conhecimentos e inovações através da troca comercial. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde a Antiguidade o comércio internacional é um meio para que as nações troquem mercadorias e moeda para obter ganhos de comércio e se desenvolver. É fato também que nem sempre esses ganhos acontecem, pode acontecer o contrário e a nação “quebrar”, porém o problema não é o comércio internacional, mas sim nas medidas e ações que os países tomam para se relacionar com outras nações e também no controle da sua economia interna. A macroeconomia ensina que as decisões tomadas pelo Estado interferem diretamente na vida dos cidadãos e, portanto, devem ser analisadas conforme a situação econômica e social do país. A adoção de idéias liberalistas é muito forte entre economistas desde Adam Smith, porém já se mostrou vulnerável em governos que adotaram o livre-comércio. E a crescente vertente de economistas que se “curvaram” ao protecionismo é pequena, porém, tem seus argumentos favoráveis que podem ser vistos na prática. A economia não é uma ciência exata e os economistas utilizam de análises econômicas dos países como ferramenta para ajudar os governos a tomar as melhores decisões. Assim sendo, não há como afirmar que o protecionismo é melhor que o liberalismo ou vice-versa, pois, depende de fatores econômicos e sociais e da situação em que o país se encontra, assim como os ideais liberais podem ser bom para um país e para outros não. Entendemos que não há como um país se “fechar” totalmente porque isso impossibilita o desenvolvimento e a troca de conhecimento e tecnologias e também um país não pode ser governado sem impor nenhuma restrição ou barreira à entrada de produtos estrangeiros, pois, pode haver um descontrole no mercado interno e a indústria nacional poderá “quebrar-se”. Concluímos que as nações devem fazer todas as análises econômicas - sociais e através das três esferas das políticas econômicas impor restrições em determinados setores e em outros abrir e facilitar o comércio entre as nações. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, M. A. de; LEITE DA SILVA, C. R. Economia Internacional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 65, 70, 72-73. CLETO, C. I.; DEZORDI, L. Políticas econômicas. Economia empresarial. 1 ed. Curitiba: RPC, 2002, v. 1, p. 15-24. ELLSWORTH, P. T. Economia internacional. Teoria e prática, desde o mercantilismo até a formação do mercado comum europeu. Tradução José Luiz Silveira Miranda. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1974. p. 227. GARÓFALO, G. de L. Manual de economia. In: Considerações sobre a microeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 101. GONÇALVES, R. et al. A nova economia internacional: Uma perspectiva brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. p. 9, 39. KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à economia. Tradução Helga Hoffmann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 468, 648. SIMÕES, R. C. F.; PELLEGRINO, A. C. G. T.; CAPACLE, V. H. Manual de comércio exterior. In: Câmbio e política comercial no Brasil. São Paulo: Alínea, 2006. p. 157-158. SOARES, C. C. Introdução ao comércio exterior: Fundamentos teóricos do comércio internacional. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 21. WILLIAMSON, J. A economia aberta e a economia mundial: Um texto de economia internacional. Tradução José Ricardo Brandão. Rio de Janeiro: Basic Books, 1996. p 70.