Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita

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Programa IV
Unidade 6
Sub-unidade 1
ESDE
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
AS PENAS ETERNAS
As tradições de diversos povos registram a crença, muitas vezes intuitiva, de castigos
para os maus e recompensas para os bons, na vida de além-túmulo. Diante da imortalidade
da alma, com efeito, a razão e o sentimento de justiça levam à compreensão de que tratamento diferenciado deve ser dado aos homens pelas leis divinas, de conformidade com a natureza das obras que executaram durante a vida no corpo físico.
Todavia, a tese da eternidade das penas reservadas àqueles que infringem as leis do
bem e do amor, e, em conseqüência, a existência do inferno, não resistem à análise objetiva.
O raciocínio lógico conduz à seguinte premissa: se o Espírito sofre em função do mal
que praticou, sua infelicidade deverá ser proporcional à falta cometida. O homem, dentro das
limitações que caracterizam sua vida, em especial se consideramos a teoria de uma única experiência na matéria, não teria condições de perpetrar crimes cujas conseqüências se prolongassem ao infinito, de modo a justificar a existência de tormentos eternos.
Cumpre considerar também que a condenação perpétua não se coaduna com a idéia
cristã da sublimidade, da justiça e da misericórdia divina. Jesus testemunhou a Bondade e o
Amor de Deus, ao afirmar que o “(...) Pai celeste (...)” não quer “(...) que pereça um só
(...)” (07) de seus filhos, e ao recomendar em outra oportunidade: “(...) Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos tomeis filhos do vosso Pai celeste,
porque Ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre os justos e injustos. (...)
Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” (06)
A razão, por outro lado, conduz à consideração de que Deus é um ser infinito em suas
perfeições. “(...) É impossível conceber Deus de outra maneira, visto como, sem a infinita
perfeição, poder-se-ia conceber outro ser que lhe fosse superior. Para que seja único acima
de todos os seres, faz-se mister que ninguém possa excedê-lo ou sequer igualá-lo em qualquer coisa. Logo, é necessário que seja de todo Infinito. (...)” (03) Sendo, portanto, infinitamente sábio, justo e misericordioso não se pode crer que tenha criado seres para serem eternamente desgraçados, em virtude de uma falta passageira, conseqüência natural da imperfeição do homem.
A doutrina das penas eternas surgiu das idéias primitivas de um Deus irado e vingativo, a quem o homem atribuiu as características de sua inferioridade, O fogo eterno é somente
uma figura de que o homem se utilizou para materializar a idéia do inferno, de modo a ressaltar sua crueldade, por considerar o fogo como o suplício mais atroz e que produz o tormento mais efetivo. Tal sorte de conceitos serviu, em certo período da história da Humanidade, para controlar as paixões da infância da razão. Porém, não serve ao homem do século da
inteligência, que nela não pode ver sentido lógico.
Jesus utilizou-se de figuras do inferno e do fogo eterno para colocar-se ao alcance da
compreensão dos homens da época. Valeu-se de imagens fortes para impressionar a imaginação de homens que pouco podiam entender das coisas do Espírito, e cuja realidade estava
mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes impressionavam os sentidos físicos. Em
muitas outras oportunidades enfatizou o ensino de que o Pai é misericordioso e bom e de que
a Sua vontade é que, daqueles que foram confiados a Jesus, nenhum se perca. (08)
Desse modo, a Justiça Divina se manifesta na vida dos seres não para a mera punição,
mas com o objetivo maior do redirecionamento ao bem. Deus criou os seres para progredir
continuamente em conhecimento e amor. Essa evolução se produz através de diversas experiências no plano físico e no plano espiritual. A dor é o estímulo de que se vale a Providência
Divina para despertar a vontade de renovação e, assim, impulsionar o progresso. A infelicidade é, pois, conseqüência natural da imperfeição do Espírito e existe em virtude de suas necessidades de evolução.
O sofrimento não é eterno, pois o mal também não o é, de vez que todos foram criados
para o aperfeiçoamento maior. À medida que o ser progride em amor e sabedoria o sofrimento vai-se atenuando. “(...) Dia virá em que a consciência mais denegrida experimentará,
no íntimo, a luz radiosa da alvorada (...)” (10) do amor de Jesus.
Felicidade e infelicidade são proporcionais às realizações e conquistas efetivas pelos
homens em suas experiências evolutivas.
A consciência harmonizada com a Vontade Divina reflete o Amor Sublime e objetiva
o Bem, vivendo a paz interior e a felicidade em sua plenitude. O homem em desequilíbrio
interior, ao contrário, ao se voltar para o mal, infringindo os códigos universais do amor, incorre nos mecanismos da Justiça Divina que, através da dor ou do sofrimento, o estimula ao
reajuste e à reparação de seus erros.
Do homem é que depende a duração de seu sofrimento. Quanto mais cedo se utilizar
de seu livre-arbítrio para evoluir, mais cedo ele se libertará do jugo da dor.
No Universo não há lugares reservados para o inferno, pois a dor opera a renovação do
homem trabalhando em seu próprio coração. Há, no entanto, lugares de penitência no plano
invisível, em que o sofrimento se apresenta sob diversas formas e intensidades. São os locais
em que se reúnem Espíritos inferiores em evolução e que, pelo contato mútuo de seus vícios,
magoam-se reciprocamente, mais do que o faziam quando jungidos ao corpo físico, pois nestes se vêem limitados pela matéria, e pelas regras da vivência social. Contudo, esses lugares
não se assemelham ao inferno em sua tradicional acepção, pois se constituem em agrupamentos provisórios, sujeitos às modificações que lhes são impostas pelos mecanismos da reencarnação e pela lei do progresso, e que se extinguirão com a evolução dos seres que os freqüentam, quando, de acordo com as promessas de Jesus, “(...) haverá um rebanho e um pastor.”(09)
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FONTES DE CONSULTA
01 - KARDEC, AlIan. Doutrina das penas eternas. In:_. O Céu e o Inferno Trad. De Ma
nuel Justiniano Quintão. 37. ed. Rio [ Janeiro]: FEB, 1991. Item 02, pág. 68.
02 - Item O7, pág.72.
03 - ltem lO, pág.74.
04 - Item 21, pág. 81.
05 - As penas futuras segundo o Espiritismo. ln:_. O Céu e o Inferno Trad. de Manuel Jus
tiniano Quintão. 37. ed. Rio [ Janeiro]: FEB, 1991. Item 33, pág. 100.
06 - O NOVO TESTAMENTO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E O LIVRO DOS
SALMOS. Trad. por João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil,
1974. Mateus, 5:44 a 48, pág. 15.
07 - Mateus, 18:14, pág. 52.
08 - João, 6:39, pág. 247.
09 - João, 10:16, pág. 265.
10 - XAVIER, Francisco Cândido. Evolução. ln:_. O Consolador 17. ed. Rio
[Janeiro]:FEB, 1995. 2 Parte. Cap. 05, questão 244, pág. 146.
Texto Extraído do Programa IV do ESDE Editado Pela FEB
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