Visita de um anjo - Milícia da Imaculada

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Milícia da Imaculada____________________________________________________________
Visita de um anjo
A casa da Abóbora está quase no centro da vila. Nada mudou desde o tempo
em que, menina, aí habitava Lúcia, a prima dos irmãos Marto, a maior dos três
pastorzinhos.
O sol já está alto quando aí chegamos e os meus dois fidelíssimos guias,
Miguel e Frutuoso, aos quais se ajuntaram outros rapazes do lugar, batem à
porta daquela casa, Aí mora a irmã mais velha de Lúcia, Maria dos Anjos,
mulher paciente e cortês, de olhos negros e honestos.
A acolhida é cordial e um sorriso aberto e sincero ilumina o rosto do cunhado
de Maria e do sobrinho de doze anos, ao saberem que sou italiano. O olhar se
volta espontâneo para um quadro do papa Pio XII com sua bênção
autografada.
A sala de estar é sobriamente é sobriamente mobiliada: uma mesa, uma
cadeira, alguns quadros de santos nas paredes nuas.
Acompanhados pelo sobrinho de doze anos, saímos em direção ao pátio e
chegamos à eira. Há um delicioso perfume nesse lugar, especialmente quando
alguém pisa na muita de menta selvagem, que cresce entre os tremoços e a
grama amarela pelo sol. O panorama também é encantador. Lá em baixo, em
todo o vale, sobre o verde empoeirado das oliveiras, há um reflexo de prata
que contrasta com o verde escuro dos pinheirais.
A Alguns passo da eira existe um velho poço, muito precioso, sendo uma das
fontes de água nessas montanhas.
Está coberto de várias placas de granito que servem de assento. Aí, durante
longas horas, à sombra de três oliveiras, as crianças ficavam conversando ou
apenas contemplando os terrenos cobertos de estopa.
Foi aí que, num dia de verão de 1916, enquanto estavam brincando
tranquilamente, após terem levado para casa as ovelhas e tendo-as confinado
durante as escaldantes horas da sesta, apareceu pela segunda vez o Anjo.
“O que é que vocês estão fazendo? , perguntou-lhes. “Rezem, rezem muito! Os
Corações de Jesus e de Maria têm planos de misericórdia para vocês.
Ofereçam constantemente ao Altíssimo oração e sacrifícios”.
“Como é que devemos nos sacrificar?”, perguntou Lúcia. “De tudo aquilo que
vocês conseguirem, ofereçam um sacrifício ao Senhor, como ato de reparação
pelos pecados com os quais Ele foi ofendido e de súplica pela conversão dos
pecadores. Assim vocês atrairão a paz sobre a pátria de vocês.
Eu sou o Anjo da guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitem e suportem
com submissão os sofrimentos que o Senhor lhes enviar”.
O tempo urge, já é tarde, mas eu não quero deixar escapar a ocasião de me
encontrar com pessoas do lugar e de fotografar lugares, pessoas e, entre
estas, a madrinha de batismo de Lúcia, a senhora Maria Rosa Marto, que
juntamente com o marido José Henriquez, vieram ao meu encontro,
cumprimentando-me com um largo sorriso.
O moinho abandonado.
Quase correndo, com passo decidido, chegamos ao Cabeço, pequeno monte
coroado por um moinho de vento, próximo à casa velha, ao ocidente de
Aljustrel. Aí, as crianças receberam a visita do Anjo pela primeira e terceira vez.
A primeira vez foi na primavera de 1916.
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Depois de terem comido a refeição frugal e recitado o rosário, as três crianças
começaram a brincar. De repente, uma forte rajada de vento fez com que
erguessem a cabeça e vissem desenhando no ar uma imagem branca, que ia
ao encontro deles como levadas ao vento. Parecia um rapaz de 15 anos mais
ou menos, de beleza sobre-humana.
O Anjo lhes disse estas palavras: “Não tenham medo, eu sou o Anjo da paz,
rezem comigo”. E ajoelhando-se, se prostrou-se até tocar o chão com a fronte,
repetindo três vezes: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e te amo! Peço-vos
por aqueles que não crêem, não adora, não esperam e não vos amam”.
Depois, disse: “Rezem assim Os Corações de Jesus e de Maria estão atentos
ao som das súplicas de vocês”.
E desapareceu.
Na terceira vez, ele estava mais bonito do que de costume, resplandecente,
ofuscante, parado no ar diante deles. Segurava na mão um cálice com uma
Hóstia em cima. Deixou essas coisas suspensas no ar, enquanto se prostrava
no chão, rezando: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos
adora profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e
Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os tabernáculos da terra, em
reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferença com os quais Ele mesmo foi
ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Sagrado Coração e do Coração
Imaculado de Maria, vos peço a conversão dos pobres pecadores”.
Ele rezou essa oração por três vezes. Depois, levantando –se, pegou de novo
o cálice e a Hóstia, e ajoelhando-se no chão rochoso, levantou o disco branco
diante de si, dizendo: “Tomem e bebam o Corpo e Sangue de Jesus Cristo,
horrivelmente ultrajado pelos homes ingratos. Façam reparação pelos crimes
deles e consolem o Deus de vocês”.
Em Seguida, erguendo-se novamente, deu a comunhão ao três Pastorzinhos,
dando a Hóstia para Lúcia e o conteúdo do cálice para Jacinta e Francisco.
Já era uma hora da tarde. O sol a pino no céu e eu sentia os membros
cansados e indolentes, mas o que importava?
O mistério de Fátima estava para ser desvendado, levando-me àquela
atmosfera sobrenatural que dissipava as incertezas do primeiro momento e me
repetia a eterna linguagem de misericórdia e de amor.
A volta foi rápida; Miguel e Frutuoso foram almoçar, pois já estavam atrasado
várias horas. Na pensão, mergulhei na onda de tantas coisas vistas, e procurei
compreender a linguagem de Fátima: a linguagem que Deus revela aos
humilde e simples de coração e que esconde aos soberbos e presunçosos de
cabeça.
Na capela das aparições, a minha oração se encaminhou para o
agradecimento e o reconhecimento.
Frei Luíz Faccenda
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