COMBATE A BACTÉRIAS Trocadeantibióticos evitaresistência

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19 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Injeção de vírus
contra a tuberculose
Vacina desenvolvida no Canadá poderá ser aplicada com a BCG e aumentar a proteção em adultos.
Durante testes, a imunização também aumentou a quantidade das células de defesa dos voluntários
» ISABELA DE OLIVEIRA
esquisadores canadenses divulgaram hoje, na
revista Science Translational Medicine, os resultados dos primeiros testes
feitos com uma vacina que pode aumentar a eficiência da
imunização contra a tuberculose. Projetada na McMaster University, em Ontário, para ser
aplicada após a vacinação inicial com a BCG, a terapia obteve
boas respostas em testes de fase
1 com humanos. A BCG é a única imunização disponível contra a doença. A que está em teste, chamada de AdHu5Ag85A,
não provocou efeitos colaterais
relevantes nas cobaias e ainda
aumentou a quantidade de células de defesa.
Embora consiga imunizar
com sucesso bebês e crianças, a
BCG encontra dificuldades em
proteger adultos contra a infecções pulmonares causadas
pela bactéria Mycobacterium
tuberculosis, agente também
P
chamado de bacilo de koch e causador da tuberculose. Os testes
clínicos foram realizados com 24
homens e mulheres saudáveis,
sendo que alguns haviam sido
previamente imunizados. Todos
receberam uma única dose da
AdHu5Ag85A e nenhum resultado adverso considerável foi registrado. A vacina conseguiu potencializar dois tipos de linfócitos T
auxiliares, os CD4+ e CD8+, em
especial no grupo que já havia sido vacinado com a BCG.
Zhou Xing, um dos pesquisadores da McMaster University,
explica que a vacina foi desenvolvida a partir do adenovírus
recombinante humano tipo 5, o
AdHu5. Esse tipo de vírus quando manipulado é capaz de expressar um antígeno da bactéria
causadora da tuberculose para
ativar as células T — responsáveis pela imunidade celular e
pela produção de anticorpos. “A
vacina AdHu5Ag85A foi um sucesso. Também demonstrou ser
eficiente quando usada de forma independente e como uma
otimizadora da BCG em murinos, porquinhos-da-índia , cabras e bovinos com tuberculose
pulmonar”, disse Xing.
Luiz Castello-Branco, diretor
científico da Fundação Ataulpho de Paiva, única produtora
da BCG no Brasil, explica que a
nova vacina está longe de chegar ao mercado, pois o estudo
clínico ainda está na primeira
fase. Segundo o médico, que
não participou do estudo, na fase 1, é verificada a segurança e a
ação imunogênica do produto.
O projeto ainda precisará passar
por duas etapas, quando será
verificada a ação do imunizador
em doentes, crianças e grandes
populações.
“Há pouco tempo, tínhamos
um modelo de vacina que estava bem evoluída, já na fase 2.
No início do ano, ela foi testada
e parecia ser uma boa coadjuvante à BCG, dada como reforço. Era também feita com vírus,
produzida por pesquisadores
da Universidade de Oxford, mas
obteve resultados ruins. Essa
48%
Taxa de eficácia
em adultos da BCG,
única vacina disponível
contra a tuberculose
vacina produzida pelos canadenses pode ser algo interessante, mas ainda não podemos
avaliar se ela poderá realmente
ajudar. Eu espero que sim”, diz
Castello-Branco.
Problema mundial
Xing destaca quer a tuberculose continua sendo uma das
principais causas infecciosas de
morte no mundo. Cerca de 1,4
milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da doença e um
terço da população mundial está
infectada de forma latente pela
bactéria. Há anualmente entre 8
a 9 milhões de novos casos de tuberculose registrados no mundo,
sendo os soropositivos os mais
suscetíveis à doença. Pelo menos
um terço dos pacientes com AIDS não resiste a ela.
O Brasil está entre os 20 países de maior carga de tuberculose no mundo, com cerca de 72
mil novos casos e 4,5 mil mortes por ano. Os estados mais
atingidos são Rio de Janeiro e
Amazonas. Castello-Branco explica que a mortalidade de
crianças relacionada à bactéria,
como meningite tuberculosa,
foi reduzida drasticamente desde que a vacina começou a ser
aplicada na década de 1930. “Para as crianças, portanto, há um
claro benefício. No entanto, a
eficácia da BCG nos adultos é de
cerca de 48%.”
Segundo Lindivânia Brandão, coordenadora do Programa
de Tuberculose da Secretaria de
Saúde do Distrito Federal, em
2011, a média de cura da doença
no Brasil foi de 75,4% e de 83%
no DF. Ela destaca que o grande
dificultador do combate à doença, principalmente por parte
dos adultos, é o abandono do
tratamento. “É longo, dura seis
meses. Ao perceberem uma melhora no primeiro mês, os pacientes acabam abandonando
os medicamentos. Além de vacinas, precisamos de um tratamento supervisionado que instrua melhor a comunidade”,
conclui Lindivânia.
COMBATE A BACTÉRIAS
Departamento de Biologia de Sistemas/Divulgação
Troca de antibióticos
evita resistência
No uso prolongado de antibióticos, há o risco de que as
bactérias criem resistência ao
medicamento, comprometendo
o resultado da terapia. Um grupo de pesquisadores dinamarqueses reforça a eficácia de uma
espécie de pegadinha com esses
micro-organismo: alterar a substância usada contra a patologia
antes que eles fiquem mais fortes. Em experimentos seguindo
essa lógica, os resultados foram
significativos.
Os testes focaram na Escherichia coli, uma bactéria comum no intestino humano. “Ela
tem variantes patogênicos que
podem causar uma ampla gama
de doenças, como infecções do
trato urinário e meningite. Além
disso, é cada vez mais difícil de
tratar a E. coli devido ao aumento
da resistência às drogas”, diz Lejla
Imamovic, autora da pesquisa,
que foi divulgada, há uma semana, na revista Science Translational Medicine.
De acordo com Imamovic,
observou-se que, quando a E.
coli desenvolve resistência a
uma droga, ela se torna geralmente sensível a várias outras.
Esse fenômeno é chamado de
sensibilidade de garantia e serve como base para a proposta
de alteração precoce de medicamento. A bactéria estudada
Lejla Imamovic, pesquisadora do
Departamento de Biologia de
Sistemas da Universidade Técnica
da Dinamarca
reage de forma diferente a 23
antibióticos. Por meio de um
programa de computador, os
cientistas identificaram mais de
200 possíveis combinações de
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» PAULO LIMA
Por isso a necessidade
de avaliação de outros
remédios o quanto
antes. Assim, erradicase a resistência à droga.
Se uma segunda rota de
tratamento não for
bem-sucedida, o
primeiro tratamento
pode ser retomado”
medicamentos que poderiam
ser usadas para “desviar” o tratamento da resistência.
“Por isso a necessidade de
avaliação de outros remédios o
quanto antes. Assim, erradicase a resistência à droga. Se
uma segunda rota de tratamento não for bem-sucedida,
o primeiro tratamento pode
ser retomado. Isso resulta na
morte de agentes patogênicos
que são sensíveis à droga”, explica a pesquisadora.
Há 60 anos
A ideia da troca de antibióticos logo após o diagnóstico de
patologia surgiu na década de
1950, mas, de acordo com Imamovic, caiu em desuso após o
fortalecimento da indústria
farmacêuticas. A retomada da
prática, no entanto, demanda
cautela. Os pesquisadores fizeram o estudo apenas in vitro e
focaram o experimento na E.
coli. “Nós esperamos que a sensibilidade de garantia seja útil
para pacientes que sofrem de
infecções bacterianas crônicas,
como a fibrose cística. Mas essas expectativas devem ser confirmadas em estudos clínicos
posteriores. Estamos em busca
de realizar novos testes o quanto antes”, diz Imamovic.
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