CMYK Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 19 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 3 de outubro de 2013 Injeção de vírus contra a tuberculose Vacina desenvolvida no Canadá poderá ser aplicada com a BCG e aumentar a proteção em adultos. Durante testes, a imunização também aumentou a quantidade das células de defesa dos voluntários » ISABELA DE OLIVEIRA esquisadores canadenses divulgaram hoje, na revista Science Translational Medicine, os resultados dos primeiros testes feitos com uma vacina que pode aumentar a eficiência da imunização contra a tuberculose. Projetada na McMaster University, em Ontário, para ser aplicada após a vacinação inicial com a BCG, a terapia obteve boas respostas em testes de fase 1 com humanos. A BCG é a única imunização disponível contra a doença. A que está em teste, chamada de AdHu5Ag85A, não provocou efeitos colaterais relevantes nas cobaias e ainda aumentou a quantidade de células de defesa. Embora consiga imunizar com sucesso bebês e crianças, a BCG encontra dificuldades em proteger adultos contra a infecções pulmonares causadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, agente também P chamado de bacilo de koch e causador da tuberculose. Os testes clínicos foram realizados com 24 homens e mulheres saudáveis, sendo que alguns haviam sido previamente imunizados. Todos receberam uma única dose da AdHu5Ag85A e nenhum resultado adverso considerável foi registrado. A vacina conseguiu potencializar dois tipos de linfócitos T auxiliares, os CD4+ e CD8+, em especial no grupo que já havia sido vacinado com a BCG. Zhou Xing, um dos pesquisadores da McMaster University, explica que a vacina foi desenvolvida a partir do adenovírus recombinante humano tipo 5, o AdHu5. Esse tipo de vírus quando manipulado é capaz de expressar um antígeno da bactéria causadora da tuberculose para ativar as células T — responsáveis pela imunidade celular e pela produção de anticorpos. “A vacina AdHu5Ag85A foi um sucesso. Também demonstrou ser eficiente quando usada de forma independente e como uma otimizadora da BCG em murinos, porquinhos-da-índia , cabras e bovinos com tuberculose pulmonar”, disse Xing. Luiz Castello-Branco, diretor científico da Fundação Ataulpho de Paiva, única produtora da BCG no Brasil, explica que a nova vacina está longe de chegar ao mercado, pois o estudo clínico ainda está na primeira fase. Segundo o médico, que não participou do estudo, na fase 1, é verificada a segurança e a ação imunogênica do produto. O projeto ainda precisará passar por duas etapas, quando será verificada a ação do imunizador em doentes, crianças e grandes populações. “Há pouco tempo, tínhamos um modelo de vacina que estava bem evoluída, já na fase 2. No início do ano, ela foi testada e parecia ser uma boa coadjuvante à BCG, dada como reforço. Era também feita com vírus, produzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, mas obteve resultados ruins. Essa 48% Taxa de eficácia em adultos da BCG, única vacina disponível contra a tuberculose vacina produzida pelos canadenses pode ser algo interessante, mas ainda não podemos avaliar se ela poderá realmente ajudar. Eu espero que sim”, diz Castello-Branco. Problema mundial Xing destaca quer a tuberculose continua sendo uma das principais causas infecciosas de morte no mundo. Cerca de 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da doença e um terço da população mundial está infectada de forma latente pela bactéria. Há anualmente entre 8 a 9 milhões de novos casos de tuberculose registrados no mundo, sendo os soropositivos os mais suscetíveis à doença. Pelo menos um terço dos pacientes com AIDS não resiste a ela. O Brasil está entre os 20 países de maior carga de tuberculose no mundo, com cerca de 72 mil novos casos e 4,5 mil mortes por ano. Os estados mais atingidos são Rio de Janeiro e Amazonas. Castello-Branco explica que a mortalidade de crianças relacionada à bactéria, como meningite tuberculosa, foi reduzida drasticamente desde que a vacina começou a ser aplicada na década de 1930. “Para as crianças, portanto, há um claro benefício. No entanto, a eficácia da BCG nos adultos é de cerca de 48%.” Segundo Lindivânia Brandão, coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em 2011, a média de cura da doença no Brasil foi de 75,4% e de 83% no DF. Ela destaca que o grande dificultador do combate à doença, principalmente por parte dos adultos, é o abandono do tratamento. “É longo, dura seis meses. Ao perceberem uma melhora no primeiro mês, os pacientes acabam abandonando os medicamentos. Além de vacinas, precisamos de um tratamento supervisionado que instrua melhor a comunidade”, conclui Lindivânia. COMBATE A BACTÉRIAS Departamento de Biologia de Sistemas/Divulgação Troca de antibióticos evita resistência No uso prolongado de antibióticos, há o risco de que as bactérias criem resistência ao medicamento, comprometendo o resultado da terapia. Um grupo de pesquisadores dinamarqueses reforça a eficácia de uma espécie de pegadinha com esses micro-organismo: alterar a substância usada contra a patologia antes que eles fiquem mais fortes. Em experimentos seguindo essa lógica, os resultados foram significativos. Os testes focaram na Escherichia coli, uma bactéria comum no intestino humano. “Ela tem variantes patogênicos que podem causar uma ampla gama de doenças, como infecções do trato urinário e meningite. Além disso, é cada vez mais difícil de tratar a E. coli devido ao aumento da resistência às drogas”, diz Lejla Imamovic, autora da pesquisa, que foi divulgada, há uma semana, na revista Science Translational Medicine. De acordo com Imamovic, observou-se que, quando a E. coli desenvolve resistência a uma droga, ela se torna geralmente sensível a várias outras. Esse fenômeno é chamado de sensibilidade de garantia e serve como base para a proposta de alteração precoce de medicamento. A bactéria estudada Lejla Imamovic, pesquisadora do Departamento de Biologia de Sistemas da Universidade Técnica da Dinamarca reage de forma diferente a 23 antibióticos. Por meio de um programa de computador, os cientistas identificaram mais de 200 possíveis combinações de CMYK » PAULO LIMA Por isso a necessidade de avaliação de outros remédios o quanto antes. Assim, erradicase a resistência à droga. Se uma segunda rota de tratamento não for bem-sucedida, o primeiro tratamento pode ser retomado” medicamentos que poderiam ser usadas para “desviar” o tratamento da resistência. “Por isso a necessidade de avaliação de outros remédios o quanto antes. Assim, erradicase a resistência à droga. Se uma segunda rota de tratamento não for bem-sucedida, o primeiro tratamento pode ser retomado. Isso resulta na morte de agentes patogênicos que são sensíveis à droga”, explica a pesquisadora. Há 60 anos A ideia da troca de antibióticos logo após o diagnóstico de patologia surgiu na década de 1950, mas, de acordo com Imamovic, caiu em desuso após o fortalecimento da indústria farmacêuticas. A retomada da prática, no entanto, demanda cautela. Os pesquisadores fizeram o estudo apenas in vitro e focaram o experimento na E. coli. “Nós esperamos que a sensibilidade de garantia seja útil para pacientes que sofrem de infecções bacterianas crônicas, como a fibrose cística. Mas essas expectativas devem ser confirmadas em estudos clínicos posteriores. Estamos em busca de realizar novos testes o quanto antes”, diz Imamovic.