História da Igreja Cristã até a Reforma

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ALGUNS TÓPICOS SOBRE A HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ
(Antiga) Classe Nossa Identidade
Pb. Rubens Cartaxo
Da Igreja Apostólica a 313 A.D.
As crenças dos cristãos primitivos eram muito simpes: Todos os seus pensamentos
sobre a vida cristã tinham como centro a pessoa de Cristo: Criam em Deus, o Pai; em Jesus
como Filho de Deus, Senhor e Salvador; criam no Espírito Santo; criam no perdão dos pecados
e na eminente 2a vinda de Jesus.
Crer, entretanto, que a Igreja Primitiva era imaculada e sem defeitos é um romantismo
que não encontra respaldo na História da Igreja e nem no Novo Testamento. Aliás, o próprio
Novo Testamento foi escrito tendo em vista as necessidades surgidas no dia a dia da Igreja. As
epístolas, na maioria das vezes, foram escritas para corrigir a postura doutrinária de uma
determinada igreja local ou para combater uma heresia incipiente (Gálatas . Escrita para
combater os judaizantes; I e II Coríntios . Escritas para combater a frouxidão moral dos
cristãos coríntios, bem como disciplinar o uso dos dons espirituais; I e II Tessalonicesses .
Escritas para corrigir distorções no que diz respeito ao que aqueles cristãos acreditavam acerca
da 2a vinda de Jesus.) O Apocalipse foi escrito para alentar uma igreja perseguida,
demonstrando o senhorio de Jesus na História. Os Evangelhos foram escritos cerca de 60 a.D.,
uma vez que a geração que convivera com Jesus estava morrendo e o testemunho escrito é
mais duradouro e menos susceptível a distorções que o testemunho oral.
Como dissemos, a formulação das doutrinas foi gerada pelos desvios da fé. A fim de
definir os que de fato poderiam ser chamados de cristãos, a igreja, frente ao desafio das
heresias, passou a sistematizar pontos doutrinários que exprimiam a “fé que de uma vez por
todas foi entregue aos santos.”
As Perseguições
O primeiro grande desafio da Igreja foram as perseguições. A princípio o governo
romano considerava a Igreja Cristã como uma das seitas do judaísmo, e como tal, uma religio
licita. Posteriormente, com o crescimento do Cristianismo, passou a ver a igreja como distinta
do judaísmo. À medida que crescia, o Cristianismo passou a sofrer cada vez mais oposição por
parte da sociedade pagã e do próprio Estado. A primeira grande perseguição movida pelo
Império deu-se sob Nero. A partir daí, outras perseguições ocorreram, mas elas nem foram de
cunho universal, nem de duração contínua. Muitas vezes dependia do governo provincial. Após
Nero, Domiciano (90-95) moveu curta, mas feroz perseguição aos cristãos. Já no segundo
século, o imperador Trajano estabeleceu a política que norteou as perseguições ao
cristianismo: o Estado não deveria gastar seus recursos caçando os cristãos, mas os que
fossem denunciados deveriam ser levados ao tribunal e instados a negar a Cristo e adorar os
deuses romanos. Quem não o fizesse deveria ser condenado à morte.
Dessa forma, a perseguição não tinha um caráter de política de Estado, mas estava
sempre presente, posto que somente em 313 (séc IV) o cristianismo passou a ser considerada
uma religio licita. Assim, vários foram os mártires cristãos nesse início da igreja: Simeão e
Inácio, no período compreendido entre os reinados de Trajano e Antonino Pio; Policarpo e
Justino, o Mártir, sob o reinado de Marco Aurélio; Leônidas, Perpétua e Felícitas, sob o reinado
de Séptimo Severo; Cipriano e Sexto, durante a perseguição movida pelo imperador Valeriano.
Perseguiram ainda a Igreja os imperadores Décio, Diocleciano e Galério
Basicamente havia duas linhas de oposição ao Cristianismo: popular e erudita. A
oposição popular estava baseada em rumores e falsas interpretações dos ritos cristãos. Era voz
corrente entre o povo que os cristãos participavam de festas onde havia orgias com incestos,
inclusive, interpretando mal o fato de os cristãos se chamarem de irmãos e praticarem o
“ágape”. Cria também o povo que os cristãos comiam a carne de recém-nascidos, isto devido
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ao que ouviam falar sobre a Ceia, na qual comiam a carne de Jesus, juntamente com os relatos
do nascimento de Cristo.
Já os homens cultos da época faziam acusações a partir da própria crença dos cristãos,
tais como, “Por um lado dizem que é onipotente, que é o ser supremo que se encontra acima
de tudo. Mas por outro o descrevem como um ser curioso, que se imiscui com todos os
assuntos humanos, que está em todas as casas vendo o que se diz e até o que se cozinha.
Esse modo de conceber a divindade é uma irracionalidade. Ou se trata de um ser onipotente,
por cima de todos os outros seres, e portanto, apartado deste mundo; ou se trata de um ser
curioso e intrometido, para quem as pequenezas humanas são interessantes.”
Ao povo em geral, a Igreja respondeu chamando-o a ver a conduta moral dos cristãos,
muito superior à dos pagãos. Aos cultos e letrados, a igreja respondeu através dos
Apologistas: Discurso a Diogneto, Aristides, Justino Mártir, Taciano (Discurso aos gregos),
Atenágoras (Defesa dos Cristãos e Sobre a Ressureição dos Mortos), Teófilo (Três livros a
Autólico), Orígenes (Contra Celso), Tertuliano (Apologia), Minúcio Félix (Otávio).
As Heresias
Ao lados das perseguições externas, o Cristianismo enfrentou um inimigo muito mais
terrível, posto que interno, através de heresias, algumas delas propostas por líderes da própria
igreja.
As primeiras heresias enfrentadas pela Igreja vieram dos judeus convertidos, problema
já enfrentado por Paulo na igreja da Galácia. Os ebionitas, eram farisaicos em sua natureza.
Não reconheciam o apostolado de Paulo e exigiam que os cristãos gentios se submetessem ao
rito da circuncisão. No desejo de manterem o monoteísmo do Antigo Testamento, os ebionitas
negavam a divindade de Cristo e seu nascimento virginal, afirmando que Ele só se distinguia
dos outros homens por sua estrita observância da lei, tendo sido escolhido como Messias por
causa de sua piedade legal.
Os elquesaítas, por sua vez, apresentavam um tipo de cristianismo judaico assinalado
por especulações teosóficas e ascetismo estrito. Rejeitavam o nascimento virginal de Cristo,
mas julgavam-no um espírito ou anjo superior. A circuncisão e o sábado eram grandemente
honrados; havia repetidas lavagens, sendo-lhes atribuídos poderes mágicos de purificação e
reconciliação; a mágica e a astrologia eram praticadas entre eles. Com toda probabilidade se
referem a essas heresias a Epístola aos Colossenses e I Timóteo.
O ambiente gentílico também forneceu sua cota de heresias que atingiram a Igreja. O
Gnosticismo, muito embora não possuísse uma liderança unificada e se apresentasse como um
corpo doutrinário amorfo, foi terrível para a Igreja. Já vemos um gnosticismo incipiente no
próprio período apostólico (Cl 2.18 ss; I Tm 1.3-7; 6.3ss; II Tm 2.14-18; Tt 1.10-16; II Pe
2.1-4; Jd 4,16; Ap 2.6,15,20ss). Nesse período, Celinto ensinava uma distinção entre o Jesus
humano e o Cristo, que seria um espírito superior que descera sobre Jesus no momento do
batismo e te-lo-ia deixado antes da crucificação. Vemos João combatendo indiretamente essa
heresia em João 1.14; 20.31; I João 2.22; 4.2,15; 5.1,5-6 e II João 7.
No segundo século, esses erros assumem uma forma mais desenvolvida, muito embora
continuassem como um corpo amorfo. A bem da verdade poderíamos dizer que houve
“gnosticismos”, mas há pensamentos comuns às várias correntes gnósticas. Gnosticismo vem
do grego, “gnosis”, que significa “conhecimento”. Para os gnósticos, a salvação era alcançada
através do conhecimento esotérico de mistérios, os quais só eram revelados aos iniciados.
Dividiam a humanidade em “pneumáticos”, “psíquicos” e “hílicos”. Os primeiros eram a elite da
igreja, os que alcançavam o conhecimento que leva à salvação; os seguintes, eram os cristãos
comuns, que poderiam alcançar a salvação através da fé e das boas obras; os últimos eram os
gentios, irremediavelmente perdidos.
Na cosmovisão gnóstica, tudo que era material era essencialmente mau, e o que era
espiritual era essencialmente bom. Logo, o Deus do Novo Testamento não poderia ser o deus
do Antigo Testamento. O deus do AT era tido como Demiurgo, o criador do mundo visível.
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Ainda na visão gnóstica, entre o Deus bondoso que se revelou em Cristo e o mundo material
havia vários intermediários, através dos quais o homem poderia achegar-se a Deus.
Sendo o corpo mau e o espírito bom, os gnósticos tendiam para dois extremos: alguns
seguiam um ascetismo rigoroso, mortificando a carne, enquanto outros se lançavam na mais
desregrada libertinagem.
Outra heresia que mereceu o combate da Igreja foi a heresia de Márcion, filho do bispo
de Sinope, que parece ter tido duas grandes antipatias: Pelo Judaísmo e pelo mundo material.
Ensinava Márcion, à semelhança dos gnósticos, que Iavé, o Deus do AT não era o Deus do NT,
este, o Deus supremo. Iavé era um deus mau, ou pelo menos ignorante, vingativo, ciumento e
arbitrário. O mundo material e suas criaturas eram criação de Iavé e não do Deus supremo.
Este, entretanto, apiedou-se das criaturas de Iavé e enviou Jesus, que não nasceu de uma
mulher, posto que isso faria com que passasse a ser criatura do deus inferior. Jesus surgiu
como homem maduro no reinado de Tibério, na Galiléia.
Márcion rejeitou o Antigo Testamento, que até então eram as Escrituras aceitas na
Igreja Cristã (o cânon do NT ainda não havia sido elaborado) por serem a palavra de Iavé, o
deus inferior, e formulou um cânon para si e seus seguidores, que constava do evangelho de
Lucas, expurgado do que ele considerava “judaísmo”, e das cartas de Paulo.
Também ensinava Márcion que não haverá juízo final, posto que o Deus amoroso a
todos perdoará. Negava a criação, a encarnação e a ressurreição final.
Márcion chegou a formar uma igreja independente e seu ensino foi de um perigo
terrível para a igreja, que na época não possuía um corpo doutrinário estabelecido e
reconhecido por toda a cristandade.
Como se não bastasse essas heresias, houve também as heresias dos Montanistas e
dos Monarquistas. Os montanismo surgiu na Frígia, por volta do ano 150. Montano afirmava
que o último e mais elevado estágio da revelação já fora atingido. Chegara a era do Paracleto,
que falava através de Montano, e que se caracterizava pelos dons espirituais, especialmente a
profecia. Montano e seus colaboradores eram tidos como os últimos profetas, trazendo novas
revelações. Eram ortodoxos no que diz respeito à regra de fé, mas afirmavam possuir
revelações mais profundas que as contidas nas Escrituras. Faziam estritas exigências morais,
tais como o celibato (quando muito, um único matrimônio), o jejum e uma rígida disciplina
moral.
Já o monarquianismo estava interessado na manutenção do monoteísmo do AT. Seguiu
duas vertentes: o monarquianismo dinâmico e o monarquianismo modalista. O primeiro estava
interessado em manter a unidade de Deus, e estava alinhado com a heresia ebionita. Para
eles, Jesus teria sido tomado de maneira especial pelo Logos de Deus, passando a merecer
honras divinas, mas sendo inferior a Deus. O segundo, também chamado de sabelianismo,
concebia as três Pessoas da Trindade como os três modos pelos quais Deus se manifestava aos
homens.
Reação da Igreja
Face a essas ameaças, internas e externas, a igreja respondeu de várias formas. Vá
vimos que os apologistas responderam às acusações assacadas pelos filósofos e pessoas cultas
ao cristianismo. No plano interno, a igreja primeiro tratou de definir um Cânon, ou seja, uma
lista dos livros considerados inspirados. Nesse período, havia inúmeros evangelhos, cartas,
apocalipses circulando nas mais diversas igrejas. Alguns eram lidos em certas igrejas e não
eram lidos em outras. Com o desafio de Márcion e também da perseguição sob Diocleciano,
onde uma pessoa encontrada com livros cristãos era passível de morte, era importante saber
se o livro pelo qual o cristão estava passível de morte era realmente inspirado. Não houve um
concílio para definir quais os livros nem quantos formariam o NT. Tal escolha se deu por
consenso, tendo alguns livros sido reconhecidos com mais facilidade que outros.
Definiu também a igreja regras de fé, sendo a mais antiga o chamado Credo
Apostólico, o qual resumia aqueles pontos de fé que o cristão genuíno deveria subscrever, e
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era claramente trinitariano (Creio em Deus Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra. Creio
em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito
Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e
sepultado; no terceiro dia ressurgiu dos mortos, subiu ao céu, e está sentado à mão direita de
Deus Pai, todo poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito
Santo, na santa igreja católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados, na
ressurreição do corpo e na vida eterna).
Paralelamente, a igreja percebeu que precisava organizar-se estruturalmente. Definiu
então a sucessão apostólica e o bispo monárquico para garantir a unidade da igreja, surgindo
então o que é chamado de Igreja Católica Primitiva, significando o termo “católica” = universal.
Visto isso, podemos, até aqui, fazer um resumo gráfico do início atribulado da Igreja
Cristã no império romano:
Os Pais da Igreja
O Estado Romano e as heresias encontraram adversários à altura no seio da
IgrejaCristã, seja através de mártires anônimos, que deram suas vidas mas nãonegaram a
Jesus, seja nos homens que começaram a formular as doutrinas muitasdas quais esposamos
até hoje. Estes homens são chamados de Pais da Igreja,cujos ensinos passamos a resumir:
a)IRINEU:Nascido no Oriente e discípulo de Policarpo. Foi bispo de Lion.
EscreveuContraHeresias, no qual investe principalmente contra os gnósticos.
b)HIPÓLITO:Discípulo deIrineu; menos dotado que seu mestre; gostava mais das idéias
filosóficas queIrineu. Provavelmente sofreu o martírio em Roma. Sua principal obra se
chamaRefutaçãode Todas as Heresias,na qual ele contesta os ensinos gnósticos.
c)Tertuliano:Homem de grandeerudição, vívida imaginação e intensos sentimentos. De
gênio explosivo,era naturalmente apaixonado na apresentação do cristianismo. Era advogado
eintroduziu termos e conceitos jurídicos na discussão teológica. Tendia adeduzir que todas as
heresias provinham da filosofia grega, razão pela qual setornou ardente opositor da filosofia.
Seu fervor o levou a unir-se ao montanismono final da vida.
DEUS E OHOMEM:
Consideravam que o erro fundamental dos gnósticos era a separaçãoentre o verdadeiro
Deus do Criador. Há um único Deus, Criador e Redentor. Deusdeu a lei e revelou igualmente o
evangelho. Esse Deus é triúno, uma única essênciaque subsiste em três pessoas.
Tertuliano foi o primeiro a asseverar a tripersonalidade de Deus e a usaro termo
“Trindade”. Em oposição aos monarquianos ele enfatizava o fato deque as três Pessoas são
uma só substância, suceptível de número sem divisão.Entretanto, não chegou à verdadeira
declaração trinitariana, posto queconcebia que uma Pessoa estaria subordinada às outras.
-O homem foi criado à imagem de Deus, sem imortalidade (sem perfeição), mascom a
capacidade de recebê-la no caminho da obediência.
-O pecado é deseobediência e produz a morte; a obediência produz aimortalidade.
-Em Adão, a raça humana inteira ficou sujeita à morte.
Tertulianoafirmava que o mal tornou-se um elemento natural do homem, presente
desde onascimento, e que essa condição passa de uma geração à outra. É o primeiroindício da
doutrina do pecado original.
A PESSOA E A OBRA DE CRISTO:
a)IRINEU: O Logos existira desde toda a eternidade e mediante aEncarnação, o Logos
se fez o Jesus histórico, e daí por diante foiverdadeiro Deus e verdadeiro homem. A raça
humana, em Cristo, como o segundo Adão,é novamente unificada a Deus. A morte de Cristo
como nosso substituto émencionada, mas não ressaltada. O elemento central da obra de Cristo
teria sidosua obediência, com o que foi cancelada a desobediência de Adão.
b)TERTULIANO:O Logos é uma Pessoa independente, gerada por Deus, damesma
substância que o Pai, embora difira deste quanto ao modo de existir comouma Pessoa distinta
Dele.Houve um tempo em que o Filho não existia.OPai é a substância inteira, mas o Filho é
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apenas parte dela, por ter sidogerado. Tertuliano, portanto, não conseguiu desvencilhar-se da
teoria dasubordinação, porém sua formulação foi importante na vinculação dosconceitos de
“substância” e “pessoa” dentro da teologia.
No tocante ao Deus-homem e Suas duas naturezas, Tertuliano foi superior a todos
osoutros Pais, à exceção de Melito, ao fazer justiça para com a perfeitahumanidade de Jesus e
afirmar que cada uma de suas naturezas reteve os seus própriosatributos. Para Tertuliano não
houve fusão, mas a conjunção das duasnaturezas em Jesus. No tocante à morte de Cristo,
embora enfático acerca desua importância, não é muito claro, pois não ressalta a necessidade
desatisfação penal, mas apenas a de arrependimento por parte do pecador. Seuensino é
permeado por certo legalismo. Ele fala da satisfação dos pecadoscometitdos após o batismo
mediante arrependimento ou confissão. Por meio dejejuns e outras formas de mortificação, o
pecador é capaz de escapar da puniçãoeterna.
SALVAÇÃO, IGREJA E AS ÚLTIMASCOISAS
a)IRINEU:Não foi totalmente claro em sua soteriologia. A fé é umpré-requisito para o
batismo,entendendo-se fé não apenas como concordância intelectual da verdade, masincluiria
a rendição da alma, resultando numa vida santa. O homem seriaregenerado pelo batismo;
seus pecados seriam lavados e uma nova vida começariadentro dele.
b)TERTULIANO:O pecador, pelo arrependimento, obtém a salvação pelobatismo. Os
pecados cometidos após o batismo requerem satisfação mediantepenitência, ficando cancelada
a punição após o seu cumprimento. Antevê-se abase do sacramento católico-romano da
penitência.
Com relação à igreja, voltavam ao judaísmo, identificando a igreja(comunhão dos
santos) com a igreja visível (organização), atribuindo a estaa qualidade de canal da graça
divina, fazendo com que a participação nas bênçãosda salvação dependesse de ser membro da
Igreja visível. Devido à influênciado Velho Testamento, também passou para primeiro plano a
idéia de um especialsacerdócio medianeiro.
Emrelação à doutrina da ressurreição da carne, os Pais citados foram seuscampeões,
baseados na ressurreição de Jesus.
Os Pais Alexandrinos
ATeologia Alexandrina, ou Escola de Alexandria, foi uma forma de teologia queapelou
para a interpretação alegórica da Bíblia, e foi formada pela combinaçãoextravagante entre a
erudição grega e as verdades do evangelho. A Escola deAlexandria chegou até a lançar mão de
especulações gnósticas na formulaçãode suas interpretações escriturísticas. Seus principais
expoentes foramClementede Alexandria e Orígenes.
Clemente não era um cristão tão ortodoxo quanto Irineu ou Tertuliano,mas como os
apologistas, buscava uma ponte entre a filosofia da época e a tradiçãocristã. Tinha como
mananciais do conhecimento das coisas divinas tanto asEscrituras quanto a razão humana.
Orígenes nasceu em lar cristão e foi discípulo de Clemente, a quemsucedeu como
catequista de Alexandria. Era o mais erudito dos pensadores daIgreja Primitiva e seus ensinos
eram de natureza assaz especulativa. No final davida foi condenado por heresia. Formulou o
primeiro compêndio de teologiasistemática, chamadoDe Principiis. Nessa formulação,combateu
tanto os gnósticos quanto os monarquianos. Conquanto tenha desejadoser ortodoxo, seus
escritos traziam sinais identificativos do neo-platonismo,sem falar na sua interpretação
alegórica, que abriu caminho para todas asformas de especulação e interpretação arbitrárias.
DEUS E O HOMEM
Orígenes alude a Deus como o Ser incompreensível, inestimável e impassível,que de
nada necessita. Rejeita a distinção gnóstica entre o Deus bom e oDemiurgo ou o Criador deste
mundo. Deus é uno e o mesmo no Velho e no NovoTestamento. Orígenes ensinou a doutrina
da criação eterna. Também ensinou Orígenesque o Deus único é primariamente o Pai, que Se
revela e opera através doLogos, o qual é pessoal e co-eterno com Deus Pai, gerado por Ele por
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um atoeterno. Para Orígenes o Filho é gerado e não produto de uma emanação oudivisão do
Pai. Apesar disso, usa termos que subentendem haver subordinaçãodo Filho ao Pai. Na
encarnação, o Logos uniu-se a uma alma humana, que em suapreexistência se mantivera pura.
As naturezas de Cristo são conservadasdistintas, mas é sustentado que o Logos, pela Sua
ressureição e ascensão,deificou a Sua natureza humana.
Quanto ao Espírito Santo, o ensino de Orígenes se distancia ainda maisda mensagem
bíblica. Ele fala do Espírito Santo como a primeira criatura feitapelo Pai, por meio do Filho.
Além disso, o Espírito não opera na criaçãocomo um todo, e sim somente nos santos. O
Espírito possui bondade por natureza,renova e santifica aos pecadores, e é objeto de adoração
divina.
Os ensinos de Orígenes sobre o homem são bastante incomuns. A preexistênciado
homem está envolvida em sua teoria da criação eterna, pois a criaçãooriginal consistiu
exclusivamente de espíritos racionais, co-iguais eco-eternos. A atual condição do homem
pressupõe uma queda preexistente dasantidade para o pecado, o que deu oportunidade à
criação deste mundomaterial. Os espiritos caídos agora se tornam almas e são revestidos
decorpos. A matéria veio à existência com o propósito precípuo de suprir umahabitação e ser
meio de disciplina e expurgo desses espíritos caídos.
Já Clemente não foi claro na sua exposição do Logos. Em algumas ocasiõesressaltava a
subsistência pessoal do Logos, Sua unidade com o Pai e Sua geraçãoeterna, e em outras O
representa como a razão divina, subordinada ao Pai.Distingue ele entre o Logos de Deus e o
Logos-Filho, que Se manifestou em carne.Clemente não tenta explicar a relação entre o
Espírito Santo e as demaisPessoas da Trindade.
A PESSOA E A OBRA DE CRISTO
Ambos ensinam que o Logos tomou a natureza humana em sua inteireza, corpoe alma,
tendo-se tornado um homem real, o Deus-homem, embora Clemente não tenhaconseguido
evitar totalmente o docetismo. Dizia que Cristo comia, não porqueprecisasse de alimentos, mas
para que Sua humanidade não fosse negada, além deser incapaz das emoções de alegria e
tristeza. Para Orígenes a alma de Cristoera preexistente, como todas as outras almas.
Acerca da obra de Cristo, Clemente alude à auto-rendição de Cristocomo um resgate,
mas não reforça a idéia que Ele foi a propiciação pelospecados da humanidade. Sua ênfase foi
de Cristo como Legislador e Mestre. Aredenção não consistiria tanto em desfazer o passado,
mas em elevar o homem aum estágio ainda mais alto do que o do homem antes da Queda.
Para Orígenes, Cristo foi um médico, um mestre, um legislador e umexemplo.
Reconhecia também o fato de que a salvação dos crentes depende dossofrimentos e da morte
de Cristo. A morte de Cristo é apresentada como vicária,como uma oferta pelo pecado e como
uma expiação necessária. Para Orígenes, ainfluência remidora do Logos se estenderia além
desta vida, não somente osque tivessem vivido sobre a terra e morrido, porém, igualmente,
todos os espíritoscaídos, inclusive Satanás e seus anjos maus. Haverá uma restauração
detodas as coisas.
DOUTRINA DA SALVAÇÃO, AS IGREJAS E AS ÚLTIMAS COISAS.
Os Pais alexandrinos ensinavam o livre-arbítrio do homem, capacitando-oa voltar-se
para o bem e aceitar a salvação oferecida em Jesus Cristo. Deusoferece a salvação, e o homem
tem a capacidade de aceitá-la. Apesar disso, Orígenestambém alude à fé como graça divina.
Seria um passo preliminar necessárioà salvação. Mas isso representaria apenas uma aceitação
inicial da revelaçãodivina, precisando ser ainda elevado ao conhecimento e ao entendimento,
daíprosseguindo para a prática de boas obras, que são o que realmente importam.Orígenes
fala de dois modos de salvação, um mediante a fé (exotérico), eoutro pelo conhecimento
(esotérico). Certamente esses Pais não tinham a mesmaconcepção que o Apóstolo Paulo da fé
e da justificação.
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Orígenes considerava a Igreja como a congregação dos crentes, fora daqual não
haveria salvação. Embora reconhecesse o sacerdócio universal doscristãos, também dizia haver
um sacerdócio separado e dotado de prerrogativasespeciais. Orígenes e Clemente ensinavam
que o batismo assinala o começo danova vida na Igreja, bem como inclui o perdão dos
pecados. Conforme ambos, oprocesso de purificação iniciado na vida do pecador na terra
prossegue após amorte. O castigo seria o grande agente purificador e a cura para o pecado.
Orígenesensina que, por ocasião da morte, os bons entram no paraíso, ou num lugar
onderecebem maior elucidação, enquanto os ímpios experimentam as chamas do juízo,o qual
não se deve ter como punição permanente, porém como um meio depurificação. Clemente
afirmava que os pagãos tinham oportunidade dearrepender-se no hades, e também que a
provação deles só terminaria no diado juízo; Orígenes dizia que a obra remidora de Deus não
cessaria enquantotodas as coisas não viessem a ser restauradas à sua primitiva beleza.
Arestauração de todas as coisas haveria de incluir o próprio Satanás e seusdemônios. Apenas
poucas pessoas entram imediatamente na plena bem-aventurançada visão de Deus; a grande
maioria precisa passar por um processo de purificaçãoapós a morte (Vemos aqui o embrião da
doutrina do Purgatório). Orígenesmostrou tendência por espiritualizar a ressurreição. Parece
que eleconsiderava como ideal o estado incorpóreo, apesar de crer numa ressurreiçãocorporal.
O Desvio Católico
Pb. Rubens Cartaxo
Os problemas e desafios enfrentados pela Igreja Cristã a partir do final do século
I, e principalmente nos séculos II, III e IV, serviram para moldar a liturgia, a estrutura
organizacional e a teologia da igreja.

Perseguições e heresias: Estrutura da igreja.

Bispo monárquico

Heresias e controvérsias teológicas: Teologia da igreja.
 Favorecimento imperial/oficialização do cristianismo: Ascetismo
(monasticismo)

Legalismo - Ênfase nos sacramentos (batismo e ceia)

Invasões bárbaras: Paganismo na igreja.
Já no final do século II era corrente a idéia de que o batismo lavava pecados.
Dentro do ideal asceta, surge a idéia de que o celibato era uma condição
superior à de casado. Ao mesmo tempo, desenvolvia-se a idéia de que a mulher era
inferior ao homem (Jerônimo, Ambrósio, Agostinho, Tertuliano).
A partir do século III começa-se a construção e embelezamento dos templos
cristãos.
No século III, já se apresentava a idéia de que Cristo estava presente na Ceia,
de sorte que o crente tinha comunhão corpórea com Cristo. Ao mesmo tempo, a Ceia
também era vista como um sacrifício que movia o coração de Deus em favor dos
comungantes.
Ainda no século III, surge a doutrina do sacerdote como um intermediário entre
os fiéis e Deus.
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Fortalece-se o ofício do bispo. Sucessão episcopal. Dons espirituais são
transmitidos através da ministração episcopal.
cristão.
Entrada de inúmeros pagãos inconversos na igreja. O paganismo entra no culto

Santos (mártires, apóstolos e figuras relevantes)
 Peregrinações aos lugares de nascimento dos santos e à Terra
Santa (esta peregrinação trazia perdão para os pecados) - Helena, mãe de
Constantino.
 Relíquias (pedaços dos corpos dos santos, pertences, fragmentos
da cruz, da arca de Noé, etc.)
Doutrina agostiniana da Igreja Católica.

Os primeiros bispos foram escolhidos pelos apóstolos
 A igreja detém os méritos salvadores de Jesus - sacramentos
são meios de graça.
A obrigação do sacerdócio celibatário torna-se lei no século IV.
MARIOLATRIA:
 Clemente, Jerônimo e Tertuliano: Virgindade eterna de Maria
(antes, durante e após o parto)

Agostinho: Maria não cometeu nenhum pecado.

Mãe de Deus (Q e o t o k o s )

a Maria)
Oração de Efraim Sírio (c. 306-373) - Primeira invocação formal

Fins do século IV: Mariolatria estabelecida

Meados do séc V - A principal de todos os santos

Durante o séc V: festas religiosas ligadas a Maria
 A Festa da Anunciação (25 março) Anunciação de anjo
sobre o nascimento de Jesus.
 Candelária (2 fevereiro) Purificação após o nascimento
de Jesus.
 Assunção (15 agosto) Ascenção ao céu sem ter morrido.
 Em 590, Maria ocupava uma posição singular no culto da
Igreja Romana.
 A virgindade de Maria era um apoio ao ideal monástico.
Engrandecimento do bispo
Leão I (440-461) "O Primeiro Papa"
de
Roma
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Século
V
-
Pretensão
Petrina
A Igreja Romana como depositária dos méritos salvadores de Cristo. Ser salvo
significava ser batizado, permanecer na igreja e participar dos sacramentos. A
excomunhão significava perdição eterna.
Gregório I - Purgatório; Igualdade autoritativa entre a Escritura e a
tradição
Sétimo Concílio Geral (787) "Se, a partir desta data, algum bispo consagrar
um templo sem santas relíquias, ele será deposto como transgressor das tradições
eclesiásticas".
Controvérsias Teológicas de 313 a 589
Constantino:
 Iniciou a conquista do Império ainda durante as perseguições de Décio
e Galério.
 Influenciou para que Galério promulgasse o Édito de Tolerância, que
tolerava a religião dos cristãos.
 Visão do labarum cristão: “In hoc signo vince” - Vitória sobre Maxêncio
em Ponte Mílvio em 312 Þ Constantino Imperador do Ocidente. Em 313 é assinado
o Édito de Milão, que estabelecia a liberdade religiosa no Império.

Romano.
Vitória sobre Licíno (324) Þ Constantino Imperador de todo Império
 Propósito de Constantino: Salvar a civilização greco-romana. Utilizou o
Cristianismo como cimento para agregar o império.

Intenso favorecimento ao Cristianismo.
A TRINDADE
1. A CONTROVÉRSIA ARIANA
a) ÁRIO: Presbítero de Alexandria

Preocupado em salvaguardar a unidade de Deus

Cristo tem substância diferente da substância do Pai

Cristo foi criado e é subordinado ao Pai

Merece honras divinas, mas não é Deus.
b) ATANÁSIO: Diácono e depois, Bispo de Alexandria

Campeão da ortodoxia

Três pessoas e uma substância

Cristo é da mesma substância que o Pai
 Preocupado com a questão da salvação: se Cristo não fosse Deus,
como poderia salvar o homem?
1.1 CONCÍLIO DE NICÉIA (325)
9
 O imperador necessitava de uma religião unida para que tivesse um
império unido. Concílio convocado pelo Imperador
 3 partidos em disputa: Arianos, representados por Eusébio de
Nicomédia; Ortodoxos, representados por Alexandre, bispo de Alexandria,
auxiliado por Atanásio; Conciliadores, cujo principal representante era Eusébio de
Cesaréia, assessor de Constantino para assuntos religiosos.

Formulação ariana rejeitada pelo Concílio de Nicéia Þ Credo de Nicéia
A controvérsia ariana continuou após o Concílio de Nicéia. Eusébio de Nicomédia,
aparentado com o Imperador, conseguiu revogar o exílio de Ário e permitir a livre
pregação do arianismo. Atanásio, que permaneceu firme na defesa da doutrina da
Trindade, sofreu cinco exílios. Os imperadores posteriores a Constantino favoreceram o
arianismo. A Igreja Cristã, principalmente no Oriente nesse período era, pelo menos,
semi-ariana. O Ocidente, entretanto, influenciado pelas doutrinas de Irieneu e
Tertuliano, acolheram a formulação de Nicéia nos Concílios de Roma (341) e Sárdica
(343). Outros concílios foram convocados no Oriente, buscando uma fórmula de
consenso, mas o Ocidente estava irredutível. Mais uma vez o Imperador, desta vez
Constâncio, lançou o peso de sua autoridade e forçou os bispos do Ocidente nos
Concílios de Arles e Milão (355) a assinarem credos arianos. A causa nicena,
entrementes, não fora abandonada, gigantes como Basílio, o Grande, Gregório de Nissa
e Gregório Nazianzeno através de livros e cartas escritas mantiveram a luta. Convocado
para Constatinopla (381), um novo Concílio Ecumênico reafirmou o Credo de Nicéia com
a retirada do parágrafo dos anátemas. A definição do Credo Niceno como ortodoxia da
Igreja Cristã se deu no Concílio de Calcedônia (451). Resolvida a controvérsia acerca da
natureza divina de Cristo, surgiu a controvérsia da natureza divina do Espírito Santo. No
Concílio de Toledo (589) o Ocidente asseverou que o Espírito procede do Pai e do Filho,
o que não foi aceito pelo Oriente e foi o ponto de discórdia que fez com que a igreja se
cindisse em Oriental e Ocidental em 1054.
2. CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA
Após a formulação do Concílio de Nicéia, surgiu outra controvérsia, desta feita
acerca das duas naturezas de Cristo: Seria Cristo só divino, só humano ou humano e
divino?
a) APOLINÁRIO. Bispo de Laodicéia

Preocupado em evitar a separação das duas naturezas de Cristo.
 Afirmou que o espírito do homem Jesus foi substituído pelo Logos de
Deus e que o Logos dominava o corpo e a alma de Jesus.
 Exaltação da divindade de Cristo, mas minimizava Sua verdadeira
humanidade.
(381)

Sua doutrina foi oficialmente condenada no Concílio de Constantinopla
b) NESTÓRIO. Patriarca de Constantinopla
 Enfatizava a humanidade de Cristo. Para Nestório, as duas naturezas
de Cristo conviviam lado a lado, numa união mais mecânica que orgânica.
10
 Cristo era um homem perfeito moralmente associado à divindade.
Cristo era mais portador de Deus que Deus-homem.
c) CIRILO. Maior opositor de Nestório.
 Conjunção inseparável das duas naturezas, formando uma natureza
composta;
 Impersonalidade e dependência da varonilidade, que o Logos usa como
instrumento;

unidade e continuidade da Pessoa em Cristo
 Terminologia não clara. Deu margem aos ensinos de Êutiques, cujos
seguidores foram chamados de monofisistas.
d) ÊUTIQUES. Monge

A natureza humana de Cristo fora absorvida pela natureza divina

O corpo de Cristo não era consubstancial com o nosso

Cristo não era humano no sentido estrito da palavra

Condenado pelo Concílio de Constantinopla (448)
2.1 CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA (451)
 Estabeleceu a fórmula da Cristologia aceita até hoje nas igrejas
Católica e Protestante.
 Cristo era vero homem e vero Deus, completo em suas duas naturezas,
tendo duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem
separação.
 Concílio de Calcedônia não finalizou a controvérsia. Os seguidores de
Cirilo e Êutiques abandonaram a igreja católica primitiva. Até hoje existem no
Egito, Líbano, Turquia e Rússia igrejas monofisistas. João Damasceno estruturou a
doutrina cristológica da parte oriental da igreja, afirmando que o Logos assumiu a
natureza humana.
PAIS PÓS-NICENOS
Atanásio
Gregório de Nissa
Jerônimo
Basílio, o Grande
Ambrósio
Agostinho
Gregório Nazianzeno
João Crisóstomo
Fatos Históricos Relevantes
- Entrada de muitos pagãos na igreja - Monasticismo
- Reação pagã com Juliano, o- Teodósio I torna o Cristianismo a religião
Apóstata
oficial do Império (380)
- Invasões bárbaras na parte- Queda de Roma frente aos visigodos de
ocidental do império
Alarico (410)
A Fé Protestante
A palavra "protestante", de acordo com a definição do dicionário se refere a "um membro de
11
uma das igrejas cristãs que terminaram se separando da Igreja católica Romana desde o
século XVI; batistas, presbiterianos, congregacionais, e alguns outros; ou se refere a ‘uma
pessoa que protesta’". O termo "protestante" não é um termo pejorativo. A palavra é derivada
do latim, da preposição PRO, que significa "para", e o infinitivo TESTARE, "testemunho". Um
protestante é, então, uma testemunha – um protestante é uma testemunha de Jesus Cristo e
da Palavra de Deus. O protestantismo não é meramente o protesto contra a corrupção
eclesiástica e o falso ensino; é o renascimento da fé bíblica, um renascer do cristianismo do
Novo Testamento, com uma ênfase positiva nas doutrinas das Escrituras.
Mas historicamente o termo "protestante" se originou na Segunda Dieta Imperial Alemã
de Speyer (1529) quando os príncipes luteranos leram um "Protesto" contra a decisão da Dieta
que declarava que a fé Católica Romana era por lei a única fé. A primeira Dieta de Speyer tinha
decidido que o governante de cada estado estava livre para seguir a fé que sentisse ser a
correta. Este "protesto" era ao mesmo tempo, uma objeção, um apelo e uma afirmação:
"Qual é a igreja verdadeira e santa? ... Não há nenhuma pregação
ou doutrina segura senão aquela que permanece fiel à Palavra de Deus.
Segundo o mandamento divino, nenhuma outra doutrina deve ser pregada.
Todo texto das santas e divinas Escrituras deve ser elucidado e explicado
por outros textos. Esse Livro Santo é necessário, em todas as coisas, para o
cristão; brilha claramente na sua própria luz e é vista iluminando as trevas.
Estamos resolutos, pela graça de Deus e com a Sua ajuda, a
permanecermos exclusivamente na Palavra de Deus, no santo evangelho
contidos nos livros do Antigo e do Novo Testamento. Somente essa Palavra
deve ser pregada, e nada que seja contrário a ela. É a única verdade. É o
juiz certo de toda doutrina e conduta cristã. Não pode nos enganar nem
lograr".
Dessa forma, os luteranos e outros defensores da Reforma passaram a ser chamados e
conhecidos como "protestantes".
O Protestantismo surgiu em uma época difícil, de escuridão espiritual e de escândalos
no seio da Igreja. O povo vivia na ignorância das Escrituras, cheios de superstições, crendices,
e alheios às verdades do Evangelho. O culto a Deus era um emaranhado de invenções
humanas. O povo "não conhecia ao Senhor" (Juízes 2:10). Os líderes espirituais eram incultos
e viviam na imoralidade. O celibato não funcionava e desde os Papas até ao mais simples
sacerdote, muitos estavam envolvidos com relacionamentos ilícitos, com amantes e até filhos.
A corrupção do papado estava ligada à riqueza e ao poder. Há claros relatos de perseguições
aos que se levantavam em alguns locais procurando obedecer e viver de acordo com as
Escrituras. Foi o caso do Papa Inocêncio VIII que ordenou a execução dos Valdenses. A
escandalosa perseguição da Inquisição que fez com que Thomas Tacomado, chefe da
Inquisição espanhola, queimasse vivos 10 mil pessoas presas a uma estaca. O escândalo das
Cruzadas onde milhares de pessoas foram exterminadas com o pretexto da necessidade de se
apossar da "maior relíquia", a cidade de Jerusalém. São pequenos exemplos da negritude da
Igreja medieval. São manchas inapagáveis na história da Igreja.
INDULGÊNCIAS: A DEFLAGRAÇÃO
A base doutrinária para a existência de indulgência era o ensino da Igreja de que ela
tinha a custódia (a guarda) dos Tesouros dos Méritos que foram adquiridos pelos grandes
santos que haviam excedido as boas obras necessárias para a salvação. Esse excesso de
méritos se tornava uma fonte que a Igreja poderia distribuir aos que estavam deficientes
espiritualmente, os pecadores necessitados. Isso era feito através de um certificado assinado
pelo Papa que era adquirido pelo povo e assim se obter os méritos que necessitavam desta
"caixa de méritos", deste tesouro de méritos. Foi nos anos de 1460 a 1470 que o Papa Sixtus
IV declarou os benefícios das indulgências para os que haviam ido para o purgatório. Como
fruto da ignorância espiritual e da sede de riqueza e poder por parte da Igreja, surgiram a
venda das indulgências onde a salvação era comprada por dinheiro. Esse dinheiro era dividido
12
entre os banqueiros da época, o Papa, e uma parte ficava com o mais talentoso vendedor de
indulgências: Tetzel. Na venda destas indulgências havia variedade de preços, pois Tetzel era
hábil e criou um meio de atingir os ricos e pobres. Quem era rico dava mais e os pobres davam
menos, mas todos davam.
Era outono de 1517 quando começaram as vendas destas indulgências. O anúncio era
de que os compradores poderiam obter remissão dos pecados das pessoas queridas que já
haviam morrido e ido para o purgatório. Consequentemente pessoas faziam esforços
tremendos para libertarem seu queridos dos tormentos do purgatório (lugar de punição
temporal pelos pecados) e tivessem a entrada no céu assegurada. Para isso bastava comprar
os certificados assinados pelo Papa. Tetzel repetia sempre o "jingle": "Assim que a moeda no
cofre tilintar, alma do purgatório saltará".
Informações destas atividades de Tetzel chegaram ao conhecimento de um professor
de Teologia da Universidade de Wittemberg que as recebeu completamente consternado, mas,
provocando sua ira. Seu nome era Martinho Lutero. Ele já havia refletido muito sobre sua
condição de pecador e sua incapacidade para ser salvo através de obras meritórias e havia
chegado a conclusão, pelas Escrituras, que a salvação é pela graça de Deus somente.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero, inflamado, desafiou a Igreja
protestando de uma forma que ficaria marcada na história da Igreja perpetuamente. Foi à
frente da porta da igreja do castelo de Wittemberg com um documento na mão e um martelo
na outra, e afixou na porta uma lista com 95 protestos escritos em latim contra a venda das
condenáveis e antibíblicas indulgências. Lutero anunciava ao povo que eles estavam sendo
cruelmente enganados. A imprensa escrita que havia sido inventada por Gutemberg foi de
muita importância para a divulgação das teses de Lutero em toda Europa, sendo traduzidas
para vários idiomas. Com isso, a venda de indulgências caiu muito e fez "doer" muito o bolso
da Igreja. Isso provocaria a Dieta de Worms onde Lutero mais tarde seria julgado pelos seus
escritos e convicções.
Naquela época a Igreja ensinava que o perdão dos pecados poderia ser conseguido
através do sacramento da penitência, quando o padre, representando Jesus, absolvia o
pecador que confessava seus pecados e dava uma contribuição à Igreja como penitência.
Lutero queria uma reforma na Igreja; queria trazê-la de volta às Escrituras para restaurar a
pureza da fé. Não queria se tornar fundador de uma igreja separada. Lutero soube depois que
a corrupção já havia atingido a cúpula de Roma e que o Papa Leão X e Albrecht, o arcebispo de
Mainz haviam organizado a venda das indulgências.
LUTERO E SUAS DÚVIDAS
Lutero nascera de um lar pobre e, contrariando seus pais, desejou ser sacerdote. Era
um homem sincero e desejoso de conhecer a Deus e Sua salvação. Mas sua visão de Deus era
a de um juiz implacável que condena o homem pecador merecidamente. Era um homem
angustiado que buscava sua salvação através de obras, do isolamento em um monastério,
através de jejuns e orações; fazia confissões diárias mas não se sentia aceito por um Deus que
é todo justiça.
Quando Lutero celebrou sua primeira missa, um grande vexame aconteceu. Toda sua
família estava presente inclusive seu pai, o velho Hans Lutero, que já havia aceito a idéia de
seu filho tornar-se um sacerdote. Lutero começou a cerimônia com firmeza e equilíbrio. Mas
quando chegou o momento da oração de consagração, quando haveria, segundo o ensino
católico, o grande milagre da transubstanciação, o monge agostiniano vacilou. Parecia
congelado no altar; seus olhos estavam vidrados, suava bastante e um silêncio tomou conta da
congregação. Seus lábios tremiam e não conseguia articular nenhuma palavra. Não tinha
condições de continuar e voltou à mesa onde os convidados da família estavam e sentou-se.
Foi arruinada a cerimônia, desonrada a família e a si mesmo.
Por que aconteceu isso? Lutero explica:
"Com que linguagem posso dirigir-me a tal majestade? ...Quem sou
eu, para que levante meus olhos e minhas mãos até a majestade divina?
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Os anjos O rodeiam. À Sua sombra a terra treme. E posso eu, um
miserável, dizer: ‘Quero isto, peço aquilo?’. Porque sou pó e cinzas e cheio
de pecados e estou falando do vivente, eterno e verdadeiro Deus".
Na verdade, Lutero tinha um grande conflito que o perseguiu por muito tempo. Era
uma pedra de tropeço para ele. Ele odiava a expressão "justiça de Deus" mas amava a palavra
"Evangelho" (Boas Novas). Como conciliar as duas coisas? Pensava o Dr Lutero: "Como posso
ser Salvo?". Como poderia ele libertar-se da justiça santa e justa de um Deus que condena não
só o pecado, mas aquele que comete o pecado? Por seus próprios esforços? Isso ele já vinha
tentando há muito tempo e frustrado via que era totalmente ineficaz. Lutero conhecia as
Escrituras e sabia que "todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como
trapo da imundícia..." (Isaías 64:6). Não eram seus pecados que eram como trapo de
imundícia, mas suas obras de justiça. Lutero via que estava perdido porque o homem não
tem justiça própria. Seus atos são corrompidos e Deus é santíssimo para aceitar qualquer coisa
contaminada. No céu só entra santos e justos. Como poderia ser salvo? Esta foi a grande
pergunta dos Reformadores. Mas a Bíblia teria a resposta que Lutero tanto desejava.
Ele estava ensinando a Epístola aos Romanos quando se deparou com o versículo 17 do
primeiro capítulo desta epístola extraordinária: "...visto que a justiça de Deus se revela no
evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé". Seus olhos foram abertos
porque viu que a expressão que odiava, "justiça de Deus", era revelada no que ele mais
amava, "no evangelho". Ele viu pela primeira vez a conexão entre as duas coisas. Viu primeiro
que havia uma diferença entre Lei e Evangelho. Ele buscava justificação nas obras da Lei. Mas
a Lei só exige, só condena. Ele buscava justificação nas obras da lei, mas ela só vem e "se
revela no evangelho" mediante a fé. Ele creu em Cristo como o seu justificador e passou a
amar o que odiava: a justiça de Deus. Percebeu que justiça de Cristo (Sua obediência passiva
e ativa) havia sido creditada em "sua conta". Ele compreendeu que a justificação do pecador é
pela fé em Cristo e assim somos declarados justos: "O justo viverá por fé". Agora Lutero se
regozijava na salvação pela fé somente. A sua confiança na obra de Cristo dava-lhe o descanso
que tanto desejava. Por isso disse: "...esta expressão de Paulo tornou-se para mim a plena
verdade, uma porta para o paraíso". Sua justiça não era a sua, mas a de Cristo.
Como pois aceitar vendas de indulgências para se conseguir salvação? Por isso Lutero
detonou suas armas contra os erros de uma Igreja desviada da verdade. Ele deflagrou uma
reforma que já havia sido tentada por alguns que haviam sido mortos e considerados hereges
como foi o caso de Dr. John Hus, na Boêmia (queimado na estaca); com Savanarola em
Florença, Itália (queimado em praça pública), e teria acontecido anteriormente também (como
aconteceu com outros) com o erudito Dr. John Wycliffe (Inglaterra), a "Estrela D‘Alva da
Reforma", caso não morresse de derrame cerebral.
QUEM SÃO OS EVANGÉLICOS
Sendo um movimento bíblico e não uma religião organizada, os evangélicos têm
existido desde os tempos dos Apóstolos. Pela providência de Deus, sempre tem havido os que
rejeitam as tradições inventadas por homens, para crerem na mensagem da Bíblia concernente
à salvação pela graça de Deus.
O acontecimento mais notável dos evangélicos teve lugar no século XVI com a Reforma
Protestante. Este ocorreu porque alguns sacerdotes católicos e outros eruditos da época
começaram a estudar a Bíblia seriamente para entender com mais precisão o ensino original de
Jesus e dos Apóstolos. Descobriram sérias diferenças entre a Palavra de Deus e a Igreja
Católica. Protestaram sobre estas diferenças insistindo que a Igreja obedecesse à Bíblia. Porém
a igreja os rejeitou. Isso nos faz lembrar Jeremias 6.16: "Assim diz o Senhor: Ponde-vos à
margem no caminho e vêde, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por
ele e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos".
Este movimento protestante segue até os dias de hoje, talvez com mais de 55 milhões
de membros no mundo. Os evangélicos aceitam a Bíblia como a única autoridade no tocante à
14
doutrina e práticas religiosas. A Igreja Católica, contrariamente, aceita a tradição, os concílios
e os decretos do Papa como autoridade final.
Princípios que caracterizam os verdadeiros Evangélicos ou Protestantes
1) SOLA SCRIPTURA – Somente a Escritura
Esta foi a grande marca que deu à Reforma o seu princípio regulador. Os Evangélicos
defendem como verdade que só a Bíblia é a única regra de fé e prática. Só ela é completa,
perfeita, clara, autoritativa, inerrante e inspirada pelo Espírito Santo. Nada mais. Crêem, como
Paulo, que toda a Escritura é "inspirada por Deus"; que a Bíblia é o guia para a salvação e que
é através da Palavra escrita de Deus que o crente se torna "perfeitamente habilitado para toda
boa obra" (II Tm 3:17). Um evangélico atribui à Bíblia exatamente a mesma autoridade que
Jesus Cristo atribuiu à Bíblia de Sua época. Disse Jesus: "Não penseis que vim revogar a Lei ou
os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o
céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra"
(Mateus 5:17-18). Jesus falou isso porque a liderança religiosa judaica havia acrescentado
muitas coisas à Lei que fora entregue diretamente por Deus a Moisés. Eram tradições rabínicas
(apesar de cheia de superstições) consideradas no mesmo nível de autoridade com as
Escrituras. A Igreja Católica também é um grande exemplo de como criar, pela tradição, aquilo
que não existe nas Escrituras e que continuam até hoje. Fatos:
Ano 300 – Oração pelos mortos
Ano 300 - Sinal da cruz
Ano 300 - Uso de Velas
Ano 375 - Veneração dos anjos e santos falecidos
Ano 394 – A missa, como celebração diária
Ano 431 – Começo da exaltação de Maria ( o termo "Mãe de Deus" foi-lhe aplicado pela
1ª vez)
Ano 500 – Sacerdotes começam a se vestir de forma diferente
Ano 526 – Extrema unção
Ano 593 – Doutrina do Purgatório, estabelecida por Gregório I
Ano 600 – Latim usado para orações e no culto
Ano 600 – Orações feitas a Maria, santos mortos e anjos
Ano 607 – Título de Papa, ou bispo universal dado a Bonifácio III
Ano 607 – Beijar os pés do Papa
Ano 750 – Poder temporal dos Papas
Ano 786 – Adoração da cruz, imagens e relíquias
Ano 850 – Água Benta misturada com uma pitada de sal e abençoada pelo sacerdote
Ano 890 – Adoração de São José
Ano 995 – Canonização dos santos mortos
Ano 998 – Jejum nas sextas feiras e durante a quaresma
Ano 1050 – A Missa, gradualmente transformada em sacrifício com freqüência
obrigatória
Ano 1079 – Celibato obrigatório dos sacerdotes
Ano 1190 – Venda de indulgências
Ano 1215 – Confissão Auricular de pecados a um sacerdote e não a Deus
Ano 1220 – Adoração da hóstia
Ano 1229 – A Bíblia proibida aos leigos
Ano 1215 – Doutrina da Transubstanciação
Ano 1414 – O Cálice da Eucaristia foi tirado do povo e este não mais o tomava
Ano 1439 – Purgatório proclamado como dogma pelo Concílio de Florença
Ano 1439 - A doutrina dos Sete Sacramentos
Ano 1545 – A tradição da Igreja é declarada de autoridade igual à da Bíblia pelo
Concílio de Trento
Ano 1546 – Adição de livros apócrifos às Escrituras, depois do Concílio de Trento
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Ano 1854 – Dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
Ano 1870 – Infalibilidade Papal
Ano 1950 - Ascensão corporal de Maria
Sendo assim, os evangélicos ficam do lado de Jesus na questão da autoridade da Bíblia e
renunciam a autoridade das tradições humanas. Esta é uma das grandes diferenças com a
Igreja de Roma. Quando Jesus debateu com os fariseus, Ele respondeu às suas críticas com a
seguinte acusação: "... E assim invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa tradição"
(Mateus 15:6). Jesus muitas vezes ia de encontro às tradições dos homens mas Ele cumpria,
mantinha e defendia a Palavra de Deus. No Sermão do Monte Jesus mostrou claramente a
confiança que os judeus depositavam na tradição rabínica quando disse: "Ouvistes o que foi
dito aos antigos...Eu porém vos digo... (Mateus 5:21-22). Desta forma Jesus se opunha aos
ensinamentos tradicionais dos rabinos que haviam pervertido a Palavra de Deus através de
falsas interpretações. É como se Cristo dissesse: "Esqueçam o que os rabinos lhes ensinaram e
ouçam o que lhes digo, pois a minha palavra é a Palavra de Deus".
Lutero combateu a venda de indulgências e das outras superstições da Igreja medieval
pois não tinham respaldo bíblico. Combater os erros como fez Lutero, ainda hoje, trará
conseqüências penosas e perseguições. O Papa e o imperador se voltaram contra Lutero e os
príncipes da Alemanha receberam ordens para investir contra ele. O Papa exigiu que Lutero se
apresentasse em Roma para responder às acusações que pesavam contra ele. Lutero, no
entanto, tinha um protetor, Frederico o Sábio, Príncipe da Saxônia. Frederico sabia que Lutero
não receberia um tratamento justo em um tribunal em Roma. Se ele tivesse de ser julgado,
que fosse em um tribunal na Alemanha. Finalmente, tudo foi organizado, e em abril de 1521, o
"Santo Imperador Romano", Carlos V foi à pequena cidade de Worms, na Alemanha, onde ele
havia convocado uma assembléia imperial.
Em Worms, estavam unidos os bispos, arcebispos, príncipes do Império,
representantes das cidades livres e bem no alto, acima de todos, estava o augusto Carlos V,
Rei da Espanha e chamado "Santo Imperador de Roma".
Diante daquela assembléia imponente, no dia 17 de abril de 1521, estava o humilde
clérigo agostiniano, Martinho Lutero, vestido com seu capuz de monge, de pé, diante de uma
mesa onde estavam folhetos e vários tratados escritos e publicados por ele. Seu inquisidor era
Johann Von Eck, assistente do Arcebispo de Trier. Eck mandou que Lutero reconhecesse
publicamente a autoria de toda aquela literatura. Corajosamente Lutero o fez. Quando a Lutero
foi solicitado se retratar das suas "heresias", pediu, para surpresa de todos, um certo tempo
para refletir e escrever uma resposta formal. Teria Lutero desistido? Surpresa e tensão, porque
Lutero antes de sua chegada havia dito:
"Esta será minha retratação em Worms: ‘Anteriormente disse
que o Papa é o vigário de Cristo. Me retrato. Agora digo que o Papa é
o adversário de Cristo e o apóstolo do diabo’ ".
Foram-lhe concedidas 24 horas para preparar sua resposta. Na solidão daquela noite,
aquele homem de Deus escreveu uma das orações mais comoventes jamais escrita:
"Oh Deus, Deus todo poderoso e eterno! Quão terrível é o
mundo! Olha como sua boca se abre para tragar-me, e quão
pequena é minha fé em ti!... Oh! A debilidade da carne, e o poder de
Satanás! Se eu tenho de depender de alguma força deste mundo –
tudo está terminado... O toque dos defuntos tem soado... A sentença
tem sido pronunciada...Oh Deus! Oh Deus! Oh Tu, meu Deus! Ajudame contra toda a sabedoria deste mundo. Falo e te imploro; tu podes
fazê-lo...por teu próprio e vigoroso poder...A obra não é minha, mas
tua. Não tenho que meter-me nisto... Não tenho nada pelo que
contender com estes grandes homens do mundo! De bom grado
16
passaria meus dias em alegria a paz. Porém, a causa é tua...E é
justa e eterna! Oh Deus! Ajuda-me! Oh Deus fiel e imutável! Não
descanso no homem. Seria em vão. Qualquer coisa que seja do
homem é cambaleante, qualquer coisa que proceda dele deve
fracassar. Meu Deus! Meu Deus! Não ouves? Meu Deus! Não estás
mais vivo? Não, tu não podes morrer. Só estás te escondendo. Tu me
tens elegido para este trabalho. Eu sei!... Portanto, oh Deus, cumpre
com Tua vontade! Não me abandones, por teu bem amado Filho,
Jesus Cristo, minha defesa, meu escudo, e minha fortaleza.
Senhor...onde estás?...Meu Deus, onde estás?... Vem! Rogote, estou pronto...Olha-me preparado para oferecer minha vida por
Tua verdade...sofrendo como um cordeiro. Porque a causa é
santa...É Tua própria causa...Não vou deixar-te ir! Nem sequer por
toda a eternidade! E mesmo que todo o mundo se enchesse de
demônios e este corpo, que é obra de Tuas mãos, tivesse quer ser
lançado, pisoteado, cortado em pedaços,...reduzido a cinzas, minha
alma é Tua. Sim, eu tenho Tua própria Palavra que me assegura.
Minha alma te pertence, e morará contigo para sempre! Amém! Ó,
Deus, envia Tua ajuda. Amém".
No dia seguinte aquele monge desconhecido estava diante da Assembléia para
pronunciar o discurso que mudou o curso da história e modificou a Igreja para sempre. O
mundo e a Igreja jamais foram os mesmos depois que Lutero fez sua declaração arrebatadora:
"Desde que vossa serena majestade e vossas senhorias
buscam uma resposta simples, eu a darei assim, sem chifres nem
dentes. A menos que seja convencido pelo testemunho das Escrituras
ou por mera razão (pois não confio nem no Papa nem nos Concílios,
pois é bem sabido que eles freqüentemente erram e se contradizem),
eu estou atado pelas Escrituras que já citei, e a minha consciência
está cativa à Palavra de Deus. Eu não posso e não irei me retratar de
nada, já que não é seguro nem correto agir contra a consciência".
Lutero estava arriscando sua vida por Cristo. Outros que tomaram atitude semelhante
haviam sido queimados como hereges como foi o caso de Hus por ordem do Concílio de
Constança 100 anos antes (John Hus também havia protestado contra as indulgências mesmo
antes de Lutero). Lutero teve a garantia do Imperador de que poderia sair de Worms em
segurança. Mas a partir daquele momento seria considerado herege e um fora-da-lei. Lutero foi
excomungado.
SOLA SCRIPTURA é o princípio daqueles que acreditam que nada mais será
acrescentado ou tirado das Escrituras. É o princípio que considera a Bíblia como infalível
Palavra de Deus. Nem mesmo novas revelações do Espírito devem ser aceitas (se houvessem).
O cânon está completo. A consciência de um evangélico, de um protestante está cativa às
Escrituras.
Desde a época de Lutero que um verdadeiro evangélico não aceita revelações novas.
Lutero, ao voltar do Castelo de Warburg, onde traduziu a Bíblia para o alemão, teve de lutar
contra fanáticos que se diziam "profetas carismáticos" e recebiam revelações especiais de
Deus. Eles diziam: "Deus me falou assim...". Mas os evangélicos reformados crêem que a
Palavra de Deus está completa e que o final da época apostólica é o final da revelação. Não
pensar assim contraria a própria profecia de grandes profetas ainda do Velho Testamento:
Daniel 9:24 e Zacarias 13:1-5.
A Confissão de Fé de Westminster feita por teólogos protestantes do século XVII é clara
quanto a esta posição:
17
"Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória
dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na
Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se
acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito,
nem por tradições dos homens".
Pouco tempo depois daquele evento histórico em Worms, em várias partes do mundo cristão,
outros se voltaram para a Bíblia e descobriram as verdades que estavam obscurecidas há
séculos por trás das tradições eclesiásticas. Na Suíça, o grande reformador de Genebra, João
Calvino, surge como um grande baluarte da Reforma. Ele disse: "Os profetas não falavam por
vontade própria, eles eram instrumentos do Espírito Santo usados para dizer apenas o que era
enviado dos céus". Mas "O Profeta" final já veio – Jesus Cristo (Hebreus 1:1-2). O verdadeiro
protestante, o verdadeiro evangélico, insiste que todo e qualquer assunto seja testado pela
autoridade de SOLA SCRIPTURA. Ela é a única autoridade da fé cristã e da prática da vida, a
"fé que uma vez foi dada aos santos" (Judas 3). Por isso um evangélico não acredita em
palavra "infalível" dos Papas nem dos Concílios nem em novas revelações. Só na Palavra de
Deus escrita.
É SOLA SCRIPTURA que nos diz como devemos cultuar Deus e não nossas invenções
humanas. Na sua essência, a Reforma Protestante foi uma reforma do culto.
SOLA SCRIPTURA é o fundamento da Fé Cristã. Se neste século a Igreja falhar em
pregar e praticar SOLA SCRIPTURA, está na hora de uma nova Reforma.
2) SOLA GRACIA – Somente a Graça
É o segundo grande slogan de alerta da Reforma. Lutero e seus sucessores todos se
ajuntavam em torno deste grande pilar. Os verdadeiros evangélicos se baseiam na Escritura
para afirmar que o homem pecador não tem qualquer esperança de salvação pelo seu próprio
esforço. São firmes em defender o que a Escritura apresenta: "Pela graça sois salvos, por meio
da fé – isto não vem de vós, é dom de Deus – não de obras, para que ninguém se glorie"
(Efésios 2:8-9).
O protestantismo nega todos os esquemas de salvação que promovem o homem e suas
atividades religiosas como meio de ganhar a vida eterna e o perdão.
Esta questão era óbvia para Lutero: É o homem que inicia e ajuda no perdão divino, ou
é Deus quem providencia, inicia, efetua e completa o círculo completo da salvação de
pecadores perdidos, para que a glória tenha de ser atribuída somente à Sua graça soberana?
Para Lutero a segunda opção era a verdadeira. Lutero respondeu ao humanista católico,
Erasmus, que escrevera uma obra defendendo o livre-arbítrio (Diatribe); respondeu
escrevendo sua famosa obra "A Escravidão da Vontade" ou "Nascido Escravo" (editora FIEL),
enfatizando a prioridade da graça divina na salvação. Lutero insistia que um pecador era tanto
incapaz de providenciar um remédio salvífico, como também incapaz de se apropriar do
remédio que foi providenciado. Lutero viu que a única forma que poderia fazer ruir um sistema
já tão inculcado na mente das pessoas e de peso como o católico Romano, onde eram
enfatizadas práticas como compra de indulgências, peregrinações, penitências e outros, era
atacar a raiz da controvérsia. Era uma questão de livre graça versus livre arbítrio. Até mesmo
Erasmus foi levado a confessar: "Você, e você somente, enxergou um mecanismo sobre o qual
tudo gira e aponta para este alvo, para este ponto vital: livre arbítrio versus graça de Deus".
O homem pensa que é livre, mas não sabe que está escravo do pecado e de satanás.
Jesus disse "...Todo o que comete pecado é escravo do pecado" (Jo 8:34). O homem possui
um tipo de liberdade, é claro; é livre para fazer o que quer, mas o que ele quer é pecar porque
os seus desejos são pecaminosos e o levam cada vez mais para longe de Deus amando o
pecado e por fim morrendo nele. O grande pregador inglês do século XVIII, George Whitefield,
dizia que o livre arbítrio do homem só o leva para o inferno. Tudo isso porque sua vontade é
escrava da sua natureza corrompida pelo pecado. A escravidão do homem é tão completa que
ele fica alegremente desapercebido da sua condição de escravo.
Lutero refletia sobre esta condição e a descrevia desta maneira:
18
"Eu creio que não posso por minha própria razão ou força, acreditar
em Jesus Cristo meu Senhor, ou buscá-lo; mas o Espírito Santo me
chamou através do Evangelho, me iluminou pelos seus dons, e me
santificou e preservou na verdadeira fé; da mesma maneira Ele
chama reúne, ilumina e santifica toda a Igreja da terra, e preserva a
sua união com Jesus Cristo na verdadeira fé...".
Este é o Evangelho da graça, da SOLA GRACIA! Pecadores que não merecem nada além da ira
de Deus, ganham o privilégio de gozar do Seu favor, pois aprouve ao Senhor ser gracioso para
com pessoas que só mereciam sua condenação.
Para um evangélico, que tira a sua doutrina exclusivamente da Bíblia, a salvação é um
presente de Deus, imerecido, dado a pessoas indignas. "...a graça de Deus se manifestou
salvadora..." (Tito 2:11).
Livre graça é a necessidade gritante da igreja na presente hora. SOLA GRACIA tem que
ser o chamado supremo da Igreja em nossos dias e não uma decisão humana, uma
manipulação humana, ou métodos seculares do homem moderno para ganhar convertidos
feitos por ele, mas sim o antiquado método evangélico. Somente pela graça soberana é a
mensagem que captura e transforma os corações de pecadores pelo poder do Espírito Santo.
3) SOLA FIDE – Somente a Fé
Os evangélicos afirmam que a Bíblia é a única verdade autoritativa e que a salvação é
unicamente pela graça de Deus. Isso suscita uma pergunta fundamental? Como uma pessoa
pode receber esta salvação? Como uma pessoa pode ser aceita por Deus? Era essa a questão
que queimava na mente de Lutero e que o levou quase ao desespero.
Lutero não se tornou monge por opção. O biógrafo de Lutero, Roland Baiton conta certo
episódio de sua vida:
"Em um sufocante dia de julho de 1505, um viajante solitário
estava andando com dificuldade por um caminho ressequido das
redondezas da vila de Stotternheim. Era um homem jovem, de baixa
estatura, porém robusto, e vestia uma roupa de estudante
universitário. Enquanto se aproximava da vila, o céu escureceu. De
repente caiu uma chuva e que logo se transformou em uma
estrepitosa tormenta. Um raio rasgou a escuridão e lançou o homem
por terra. Lutando para levantar-se, gritou aterrorizado: ‘Santa Ana,
ajuda-me e serei um monge!’.
O homem que
repudiaria o culto aos
monge, mais tarde iria
Igreja católica, mais
catolicismo medieval.
identificaria os Papas
Martinho Lutero".
assim invocou a uma santa, mais tarde
santos. Aquele que fez votos de tornar-se
renunciar ao monasticismo. Um filho leal da
tarde faria em pedaços a estrutura do
Um servo devoto do Papa, mais tarde
com o Anticristo. Porque este jovem era
Pouco depois desta experiência, Lutero fez seus votos. Deixou seus estudos das leis e
ingressou no monastério agostiniano de Emfurt, para desilusão de Hans, seu pai, que desejava
ver seu filho um advogado. No monastério dedicou-se a um tipo de vida rigorosamente
austera. Passava noites sem dormir e dias em jejum e orações chegando a formas severas de
auto flagelação, castigando severamente seu corpo e rejeitando até mesmo a provisão de um
cobertor fazendo-o quase morrer congelado. Como não podia passar nem um dia sem pecar e
sabia que seus pecados tinham de ser perdoados, buscava diariamente o confessionário para
buscar absolvição e achar a aceitação de Deus. Ao contrário dos outros, passava horas
confessando seus pecados. Em uma ocasião chegou a passar seis horas confessando os
pecados do dia anterior.
Ele disse depois:
19
"Eu era um bom monge e seguia a regra da minha ordem tão
estritamente, que posso dizer que, se alguma vez um monge chegou
ao céu por sua vida monástica, esse fui eu. Todos meus irmãos no
monastério, que me conheciam, me apoiavam. Se houvesse
continuado por mais tempo, me teria matado com vigílias, orações,
leituras e outros trabalhos".
Lutero buscava justificação para ser salvo, porém, cada vez mais se tornava alienado
de Deus. Como os fariseus da época de Jesus, buscava sua própria justiça. Por isso disse mais
tarde: "...Eu...estava sendo atormentado perpetuamente". A visão de Lutero era de um Deus
que não passava de um juiz extremamente severo e irado. Podemos imaginar que Lutero fosse
um "pouco louco", mas na verdade o que ele tinha em mente era a grande verdade da justiça
de um Deus que é santo. Lutero sempre foi uma pessoa extremamente sábia e inteligente. Era
conhecido como alguém que se sobressaia no conhecimento dos pontos difíceis das leis. Era
considerado um gênio nas leis. Tinha uma compreensão superior da lei. Por isso aplicava esse
conhecimento, de uma forma astutamente legal à Lei de Deus e viu coisas que a maioria das
pessoas normalmente passam por cima. As pessoas, quando muito, acham que são, de fato,
pecadoras e infringidoras da Lei, mas que também todo mundo é assim. Desse modo concluem
que Deus deve fazer "vista grossa" contra seus pecados porque ninguém é capaz de ser
perfeito.
Mas Lutero não via desta forma. Se Deus fosse assim, como pensam, teria de
comprometer Sua própria santidade. Deus não rebaixa Seus próprios padrões santos para
acomodar-se a nós pecadores. Ele é santo, totalmente reto e justo. Lutero via a diferença
entre um Deus que é tudo isso e nós, opostamente pecadores imundos e injustos. Este era o
dilema de Lutero e que devia ser o dilema muitos. Por isso ele fazia a pergunta fundamental da
Reforma: "Como pode um homem injusto sobreviver à presença de um Deus justo?". Lutero,
ao contrário do jovem rico que conversou com Jesus, sabia que lhe faltava não apenas uma
coisa, mas muitas coisas, pois a Lei de Deus exige perfeição total. Ele sabia o homem pecador
não pode entrar no céu. A menos que entendesse o evangelho, morreria no inferno. Se o
homem não for coberto com a justiça de Cristo estará perdido eternamente.
Enquanto todos estavam tranqüilos, Lutero dizia:
"Sabem vocês que Deus habita em luz inacessível? Nós,
criaturas débeis e ignorantes, queremos sondar e entender a
majestade incompreensível da insondável luz da maravilha de Deus.
Nos aproximamos; nos preparamos para nos aproximar. Que
tremendo é, então, que Sua majestade venha e nos faça em
pedaços!".
Mas felizmente ocorreu a experiência religiosa essencial que Lutero tanto desejava.
Deus deu-lhe a resposta. Não foi através de uma "luz interior", uma revelação extra Bíblia, um
raio, ou alguma experiência de êxtase, não, mas foi na quietude de seus estudos, no exame
das Escrituras. Na chamada "experiência da torre" Lutero mudou sua vida e o curso da história
do mundo. Deus o fez entender a Sua misericórdia sem comprometer a Sua justiça santa.
Na Universidade de Wittemberg, Martinho Lutero recebeu a responsabilidade de fazer
estudos de trechos bíblicos e, em 1515, dois anos antes de afixar as suas 95 teses contra as
indulgências, ele iniciou uma série de palestras na Epístola aos Romanos. Nesse tratado de
Paulo ele descobriu o coração do Evangelho.
"Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e
também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no
Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé"
(Romanos 1: 16-17).
Ele mesmo descreve sua experiência:
20
"Eu anelava grandemente entender a epístola de Paulo aos
Romanos e nada se interpunha no caminho exceto uma expressão,
"a justiça de Deus", porque eu a tomei como que significando essa
justiça pela qual Deus é justo e trata com justiça ao castigar o
injusto. Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável,
estava diante de Deus como um pecador com a consciência
conturbada e não tinha nenhuma confiança em que meus méritos
podiam apaziguá-lo. Portanto, eu não amava a um Deus justo e
irado, mas o odiava e murmurava contra Ele. Não obstante, me
agarrava ao amado Paulo e tinha um grande anelo em saber o que
ele queria dizer.
Refleti noite e dia até que vi a conexão entre a justiça de
Deus e a afirmação de que ‘o justo viverá por fé’. Então compreendi
que a justiça de Deus é aquela retidão pela qual, através da graça e
somente da graça de Deus, Ele nos justifica pela fé. Neste ponto me
senti renascer e senti que havia entrado através de portas abertas ao
paraíso. Toda Escritura tomou um novo significado, e, enquanto
anteriormente a ‘justiça de Deus’ me havia enchido de ódio, agora
chegou a ser para mim inexplicavemente algo doce em um amor
maior. Esta passagem de Paulo chegou a ser para mim a porta do
céu...
Se tu tens a fé verdadeira de que Cristo é teu Salvador,
então, no momento tens um Deus de graça, porque a fé te guia até
dentro do coração e da vontade de Deus, para que possas ver uma
graça pura e um amor transbordante. Isto é contemplar a Deus com
uma fé que podes olhar Seu coração paternal e amigável no qual
agora não há ira nem falta de graça. O crente que vê a Deus como
irado não o vê corretamente, mas que olha sob uma cortina como se
uma nuvem viesse sobre seu rosto".
O que Lutero estava dizendo é que não conseguia conciliar "a justiça de Deus" que
odiava, com o "Evangelho" que amava. Mas o texto de Romanos fala exatamente que a
"justica vem pelo evangelho". Isso o perturbou. Como entender? Então ele percebeu que a
justiça de Deus é revelada em Cristo (o Evangelho), quando realiza Sua obra por pecadores
merecedores da condenação e ira de Deus e os cobre com Sua justiça. Assim, Deus nos vê,
não como pecadores, mas como santos e nos declara justos diante da Sua Lei. O mérito é
todo de Cristo, a justificação é algo que vem de fora, é alienígena, não é obra nossa; a obra de
Cristo é a base de nossa justificação. Esta verdade é a primeira parte da questão de Lutero,
mas a resposta completa chegou quando ele percebeu, no texto, que esta justificação, que
esta "justiça que vem pelo Evangelho" nos é entregue por fé e não por obras. É de "fé em fé"
porque "o justo viverá por fé". Não é por obras como pensam todas as demais religiões. Agora
podemos entender o que Paulo diz em Romanos 4.2-5:
"Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se
gloriar, porém não diante de Deus. Pois que diz a Escritura? Abraão
creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que
trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como dívida.
Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a
sua fé lhe é atribuída como justiça".
A obra de Cristo nos traz a plena absolvição, que tanto Lutero almejava. Agora Deus
nos trata como se nunca tivéssemos cometido pecado algum ou jamais tivéssemos sido
pecador. E Deus nos trata como se nós pessoalmente tivéssemos cumprido toda a obediência
21
que Cristo cumpriu por nós. Mas, não é nossa fé que merece a absolvição. Não somos justos
perante Deus graças a nossa fé. Somos justos perante Deus graças a obra de Cristo na Cruz e
cumprindo toda a Lei. Mas a questão é que só podemos possuir esta justificação pela fé
somente.
Temos que definir bem o que é a fé. A fé não é uma boa obra nossa que nos faz
merecer o perdão. Mas fé é, por assim dizer, a mão com a qual recebemos a justiça de Cristo.
Somos justos e recebemos absolvição, não por causa de nossa fé (na verdade ela nos foi dada
por Deus – Efésios 2:8), nem sem ela, mas por meio da fé. A fé é o instrumento com que
abraçamos a Cristo.
"O justo viverá por fé". Este foi o grito de guerra da Reforma Protestante. A idéia de
que a justificação é só pela fé (SOLA FIDE), só pelos méritos de Cristo, era tão central ao
Evangelho que Lutero a chama de "o artigo sobre o qual a Igreja se mantém de pé ou cai".
Lutero sabia que era o artigo sobre o qual ele se mantinha de pé.
Uma vez que Lutero entendeu o ensino de Paulo em Romanos, ele nasceu de novo. O
peso da sua culpa foi quitado. Seu tormento enlouquecedor terminou. Isto foi tão significativo
para este homem, que ele foi capaz de enfrentar o Papa, o concílio, o príncipe e o imperador e
se fosse necessário, o mundo inteiro. Lutero havia passado pelas portas do paraíso e nada o
faria voltar atrás. Ele foi um protestante que sabia do que estava protestando! SOLA
FIDE! Que esta verdade se transforme numa epidemia tal em nossa nação que faça o povo
desesperar pela bênção da justificação pela fé somente.
4) SOLUS CHRISTUS
Nós falamos com freqüência das 95 teses de Martinho Lutero, porém lembramo-nos
também que Zwinglio escreveu 67 teses, apenas seis anos depois de Martinho Lutero! Estas
teses, ou afirmações teológicas exaltam a Cristo: "A suma do Evangelho é que o nosso Senhor
Jesus Cristo, o verdadeiro Filho de Deus, tornou conhecida a nós a vontade de seu Pai celestial
e nos redimiu da morte eterna por Sua inocência, e nos reconciliou com Deus" (Tese 2).
"Portanto, Cristo é o único meio de salvação para todos que eram, são e serão salvos" (Tese
3). "Quem quer que seja que procure ou que mostre outra porta, erra; sim, é um assassino de
almas e um ladrão" (Tese 4). "Cristo é o cabeça de todos os crentes que são o Seu corpo e
sem Ele o corpo está morto" (Tese 7). "Cristo é o único mediador entre nós e Deus" (Tese 19).
"Cristo é a nossa justiça" (Tese 22).
Um ponto que os reformadores enfatizaram foi que nós só temos um meio de acesso a
Deus e um único advogado, um só mediador, um só caminho: Jesus Cristo. Porque Ele se fez
homem unindo as duas naturezas divina e humana e se tornou o mediador que o próprio Pai
constituiu entre nós; porque não há ninguém, nem no céu, nem na terra ou entre os homens
que nos ame mais do que Cristo. "...pois Ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homem..." e "...em todas as cousas se tornasse semelhante
aos irmãos..." (Filipenses 2:6-7 e Hebreus 2:17).
Nós não podemos buscar outro mediador entre nós e Deus porque só Jesus nos amou a
ponto de dar Sua vida por nós, quando nós éramos ainda inimigos de Deus (Romanos 5:8 e
10). Além do mais, a Bíblia diz que só Jesus está à direita do Pai com toda autoridade
intercedendo por Seu povo. A quem Deus Pai ouvirá antes de Seu Filho? Ou quem o Pai ouvirá
além do Seu Filho? Quem está mais próximo de Deus do que Seu Filho?
Somente por falta de confiança em Cristo os homens começaram a buscar os santos
que já morreram. Eles mesmo quando vivos rejeitaram qualquer manifestação de veneração
ou de mediação (Atos 10:26; Atos 14:15). Muitos querem dizer que nós não podemos nos
achegar a Deus em orações porque somos indignos. Mas a Bíblia nos diz que Jesus tornou-se
"...em todas as cousas...semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote
nas cousas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois naquilo que
ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados"
(Hebreus 2:17,18). Diz ainda mais que devemos ir a Deus pois "Tendo, pois, a Jesus, o Filho
22
de Deus como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa
confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.
Acheguemos-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de
recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" (Hebreus 4:1416). É a Escritura que nos manda ter intrepidez para "entrar no Santo dos santos, pelo
sangue de Jesus.. aproximemo-nos ...em plena certeza de fé..." (Hebreus 10:19-22). É Jesus
que vive intercedendo por Seu povo (Hebreus 7:24-25). Nós não poderíamos nos aproximar de
Deus, sem Cristo, pois Ele é "fogo consumidor". Mas o crente está coberto com a justiça de
Cristo. Sua obra foi suficiente.
Então, do que precisamos mais? Jesus mesmo disse certa vez: "Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6). Os protestantes não
buscam outro advogado, outro mediador porque aprouve a Deus nos dar Seu Filho para
realizar esta obra mediadora. O próprio Jesus nos orientou a que buscássemos o Pai em
oração, mas em Seu nome (em nome de Jesus). Por meio dEle somente, é que podemos ir à
presença de Deus. Ele é o perfeito mediador. Não existe outro.
Nossos antepassados reformados desembaraçadamente proclamavam: "Solus Cristus"
(somente Cristo). Em Cristo há vida; fora de Cristo há morte. Sem Ele nada podemos fazer,
por meio dEle podemos tudo. Fora de Cristo Deus não pode ser senão um fogo eterno e uma
chama que consome; em Cristo Ele é um Pai gracioso. Isso é doutrina da Reforma, pois
somente em Cristo a justiça de Deus pode ser satisfeita, isto é, por Sua obediência ativa e
passiva.
5) SOLI DEO GLORIA - Só a Deus toda glória.
Este era mais um dos slogans da Reforma Protestante. De fato, podemos dizer que este
slogan prende em si mesmo toda a essência da Reforma. Esta afirmação resgatou o propósito
de vida das pessoas, que estava soterrado sob o entulho da tradição religiosa medieval e da
teologia antropocêntrica de Tomás de Aquino. O ponto que este slogan defende é que só Deus
deve ser glorificado em nossa salvação, no louvor e nas nossas vidas.
Porque fomos salvos só pela graça, que só vem de Cristo, só pela fé, não existe
nenhum lugar onde possamos dizer que ajudamos a Deus, ou fizemos algo em prol da nossa
salvação. A reforma recuperou a afirmação bíblica da Total Depravação do Homem e que desde
o seu nascimento este homem é incapaz de fazer qualquer coisa para ser salvo diante de
Deus. Mesmo todas as obras boas, feitas por aquele que não foi regenerado, são pecado. A
nossa justiça é como trapos de imundícia, como Isaías registrou. Ele disse que a nossa
justiça, as nossa boas ações são inaceitáveis diante de Deus pois estão manchadas pelo
pecado
Eu e você, não somente precisamos da justiça de Cristo para pagar o preço dos
nossos pecados, mas precisamos de Cristo para pagar por tudo aquilo que fizemos pensando
que era bom; no entanto eram apenas trapos de imundícia diante do nosso Deus. Existem
tantos pecados em nossa "boas ações", que merecemos o castigo eterno e a condenação de
Deus. Mas quando Deus dá a uma pessoa a fé para olhar para a cruz de Cristo e dizer, "isto
foi por mim", esta pessoa imediatamente passa à condição de justificada, declarada justa,
pura. Tudo isto pode parecer não ter sentido, que não é verdade. A sua consciência pode
tentar dizer que Deus ainda tem muitas exigências a fazer para que você seja declarado justo.
Os seus amigos podem dizer que isto não faz sentido e concluem: "Então, se isto for verdade,
você pode viver qualquer tipo de vida e ainda ser salvo no final, isto não está certo!".
Estas pessoas não compreenderam o evangelho.
O Evangelho tem um efeito completamente diferente. O que a Lei nunca poderia
conseguir – a verdadeira obediência vinda do coração e amor por Deus e pelo próximo –
isto o Evangelho conseguiu. Cristo não só pagou o preço dos nossos pecados e zerou a nossa
dívida para com Deus, mas cobriu-nos com Sua justiça; Sua justiça foi imputada em nós,
creditada em nossa conta. Mesmo quando ainda somos pecadores, ainda assim, estamos
23
justificados. O evangelho foi além e derrubou a ditadura das nossas paixões carnais que nos
deixavam buscando apenas a nossa própria alegria, a nossa própria salvação e a nossa
própria glória. Diante disso nós não podemos ser egocêntricos. Para dizer a verdade, Calvino
reclamava dos crentes da idade média que viviam tão preocupados e sobrecarregados com a
tarefa de salvar as suas próprias almas, e se tornaram tão zelosos de boas obras para ter uma
vida piedosa, que se esqueciam do próprio Deus, sua Majestade, Sua glória, e de amar ao
próximo e querer bem aos seus irmãos.
Se Deus nos escolheu antes da Criação do mundo; se Ele nos redimiu quando
ainda éramos seus inimigos ("éramos por natureza filhos da ira" - Ef.2:3); se Ele nos vivificou
quando nós estávamos mortos espiritualmente, perguntamos: de que o homem pode se
vangloriar? Ou para que o crente viver angustiado como Lutero, antes de se converter? Deus
agora nos vê como justos. Agora estamos livres para amar e servir a Deus e aos nossos
vizinhos, sem medo de sermos castigados e sem a necessidade de buscarmos
recompensa. Buscar recompensa é dizer que somos merecedores e isso "apaga" a glória de
Deus.
Aproveitando este tema, este é exatamente o motivo pelo qual muitos afirmam não
poder acreditar na doutrina bíblica da Eleição Incondicional. Parafraseando o que diz certo
teólogo (arminiano) do passado: "Esta doutrina tira toda a motivação do crente buscar a
santificação, que é o medo do castigo e a busca de uma recompensa".
Se este teólogo tivesse com a razão, isto faria à nossa religião o que fez aos monges
medievais, reclusos nos mosteiros: nossas vidas seriam impulsionadas apenas por motivos
egoístas! Será que a vida cristã é salvar o seu próprio "pescoço" e viver correndo atrás
de medalhas de "honra ao mérito" no céu?
Os reformadores, Martinho Lutero e João Calvino pregavam o evangelho bíblico que
havia sido soterrado e não era mais pregado aos cristãos. Como conseqüência, os ouvintes
estavam acostumados com uma espiritualidade centrada no homem, uma espiritualidade
egocêntrica, própria da idade média e, por incrível que pareça, própria da nossa época.
Quando eles pregaram o evangelho, a mensagem genuinamente bíblica, de repente, as
atividades do dia-a-dia, da vida comum, passaram a ter um novo significado, uma nova
motivação. Não era uma vida piedosa separada e enclausurada do mundo que iria agradar a
Deus (gnóstica). Jesus disse em Sua oração sacerdotal: "Não peço que os tires do mundo, e,
sim, que os guardes do mal" (João 17:15) Enclausurar-se num gueto espiritual não foi
uma ordem divina. Deus nunca ordenou que, para agradá-lo, os crentes teriam que se isolar
do mundo! Não, os Reformadores insistiam que santos são todos aqueles que, nos seus
afazeres diários, ordenhando vacas, construindo casas, assando pães, homens e mulheres
comuns, vivendo vidas normais, os advogados, cientistas... se dedicam a ser o melhor
possível nas suas obrigações, funções ou trabalhos, com o propósito de dar honra e glória
ao nome de Deus. Neste sentido, santo é aquele que, com fidelidade, atende ao chamado de
Deus para ser o melhor possível onde Deus o colocou. "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de
todo coração, como para o Senhor, e não para homens" (Colossenses 3:23)
Os historiadores modernos ficam extasiados quando observam os efeitos da
Reforma Protestante no homem comum daquela época. A sociedade moderna que se
desenvolveu no Novo Mundo, teve muito a ver com o que os Reformadores ensinaram. A
Reforma protestante, podemos dizer, "liberou a energia" do homem e da mulher comum. Criou
a "Escola Pública Universal"; transformou governos em democracias; pronunciou a bênção de
Deus sobre todos os que levassem uma vida digna, com trabalho honesto, isto numa época em
que a sociedade pregava que a pobreza era o viver mais perto de Deus, que era bom ser
pobre. Os Reformadores ensinaram que Deus fica feliz e abençoa o trabalho bem feito dos
seus filhos que honram-no agindo responsavelmente e produtivamente; fazendo o melhor. Mas
longe deles a idéia de esquecer os pobres ou discriminá-los.
24
 A Reforma com sua ênfase em dar glórias a Deus e se importar com o
próximo, cuidando do pobre, mobilizou a sociedade para, através do serviço ao
próximo, cuidar daqueles que o governo não tinha a intenção ou interesse em cuidar.
 Ao mesmo tempo a Reforma gerou artistas de renome como Johan Sebastian
Bach, que ao final de cada uma das suas composições escrevia: "SOLI DEO GLORIA".
Junto a ele, outros nomes surgiram como Mendelssohn (compositor, pianista e regente
alemão) Rembrandt (maior artista e pintor holandês do século XVII), Vernier
(matemático francês do século XVII), Herbert, John Bunyan (puritano, homem simples,
que escreveu o famoso livro O Peregrino) e grandes eruditos nas universidades.
Os reformadores aplicavam esta verdade de "Só a Deus Toda Glória" em suas vidas
práticas. Eles davam grande ênfase à vocação da pessoa. Enfatizavam que cada pessoa devia
glorificar a Deus através de sua vocação secular. Lutero já havia ensinado o sacerdócio
universal dos crentes e os que criam nisso aprofundaram esta verdade. Mesmo os estudiosos
marxistas do século XX deram crédito aos calvinistas puritanos por terem elevado a moral da
classe trabalhadora da Inglaterra naquele período (Século XVII). Ao invés de darem
simplesmente recursos às pessoas pobres, eles organizaram muitas sociedades, sistemas, para
que as pessoas aprendessem uma vocação. Ensinavam que as pessoas tinham sido criadas por
Deus para servir de acordo com os propósitos deste Deus. Que elas tinham sido criadas à
imagem e semelhança de Deus sem distinção de classe. Diziam que quando uma pessoa
estava varrendo a sua casa devia fazê-lo de forma responsável, pois era para glória de Deus
e avanço do Seu Reino.
Dessa forma os pobres começaram a sentir um novo senso de dignidade e a
desenvolver seus talentos que Deus havia concedido. Assim, os crimes, a violência caíram
tremendamente naquela época. Criaram sociedades de voluntários para ajudarem e darem
treinamento e qualificação aos pobres. Fundaram hospitais de caridade e tudo tinha um
propósito: viver para glória de Deus.
Protestantes reformados começaram a criar a Associação de Arte, de Ciências, de
Cultura, através de toda a Europa. Nos Estados Unidos as grandes Universidades que foram
fundadas com o propósito de anunciar ao mundo e às novas gerações esta postura
Reformada, são conhecidas e respeitadas até hoje: Harvard, Dartmouth, Yale, Princeton,
Brown e outras. Tudo para que Deus continuasse a ser glorificado enquanto os homens
buscavam ser o melhor em suas profissões.
Mas, hoje, a maior ênfase é na glória humana. Evangélicos insensivelmente pragmatas,
afirmam que a Reforma estava errada pois era centrada em Deus e não no homem. Eles
insistem que o propósito do Evangelho é: "Santificar a busca egoísta do homem". Dizem
mais: que o grande defeito do cristianismo moderno é "o fracasso em proclamar o Evangelho
de um modo que possa satisfazer a necessidade mais profunda de cada pessoa, ou seja, o
anseio espiritual pela glória humana".
Com toda esta ênfase que ouvimos hoje nos meios de evangélicos, daquilo que o
homem é capaz de fazer com o poder do seu pensamento positivo e livre e de suas
capacidades próprias, será que a glória ao nome de Deus está sendo um assunto estudado
nas Igrejas Evangélicas dos nossos dias? Será que a Igreja que está se preparando para o
século XXI está dando glórias ao nome de Deus? Será que temos hoje uma igreja aplicando
este princípio da Reforma onde Deus é glorificado em todos os atos do crente ou será que
precisamos de reforma novamente?
A situação de hoje é a mesma da Igreja Católica da Idade Média, estão acrescentado
algo às Escrituras. Isto motivou a Reforma. Precisamos de reforma novamente. A glória de
Deus está dividida e obscurecida. Quando é o homem que faz e não Deus, não podemos
dizer Soli Deo Gloria. Dizer que só a Escritura é a única regra de fé e prática e a ela não se
acrescenta nada mais, mesmo que um anjo com todo seu explendor apareça dizendo
novidades, aí está a Glória de Deus.
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Quando se ensina presciência em lugar de predestinação; quando se diz que o homem
tem livre arbítrio; quando se afirma que Cristo morreu por todos os homens e que este homem
é quem decide a sua salvação; que o frágil homem é mais forte do que o Espírito Santo
resistindo-o na Sua obra de convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo; quando se afirma
que o crente pode ser "desregenerado", "desjustificado" e "desantificado", a graça é destruída
e por se enfatizar o homem e não a Deus, não podemos afirmar Soli Deo Gloria.
Certa vez, em um programa de rádio, nos Estados Unidos, Dr. Michael Horton
perguntou a Dr. James Boyce: "Se a glória de Deus não é o objeto em foco, o que a substitui?"
A resposta sábia foi: "Nós vamos dar glória a alguém; ou damos a Deus ou aos homens. ...ou
louvamos a Deus ou endeusamos a nós mesmos e glorificamos a nós mesmos...construindo
nosso próprio reino".
Como podemos falar na glória de Deus na salvação se o homem seria um parceiro
deste Deus na sua salvação. Deus não tem parceria com o homem no seu pacto eterno
de salvá-lo. O Pacto divino para salvar o homem é feito com o Filho e os crentes são apenas
herdeiros deste pacto. A iniciativa e o mérito é todo de Deus, da Trindade Santa. É Deus
quem começa a boa obra e a completa. Foi Ele que disse: tudo está consumado! O amar de
antemão, o predestinar para salvação, o chamar de forma eficaz, o justificar pela imputação da
justiça de Cristo, e o glorificar na eternidade é o plano gracioso de salvação. Deus não divide
Sua glória com ninguém - "A minha glória não darei a outrem" (Is.48:11).
Quando a igreja cria metodologias pragmáticas, técnicas inovativas para fazer o
número dos membros crescer baseadas na força do homem, a glória de Deus é desfeita,
"apagada". A Igreja de hoje é tolerante, benevolente e só enfatiza o positivo; o sermão é breve
e divertido. Isso descarta o método do próprio Jesus que enfatizava a pregação e o ensino
sérios, como algo que O ocupou em todo Seu ministério.
A ênfase na auto-estima, hoje, tem sido evidenciada grandemente e sutilmente.
Quando divido a glória da salvação com Deus, estou elevando minha auto-estima e não
negando-me a mim mesmo. O negar-se a si mesmo foi a exigência de Cristo e uma
marca do eleito de Deus (ITs.1:3). O hino que deve-se cantar hoje não é "Você tem valor",
mas é "Servo inútil sem valor, mas pertenço ao meu Senhor".
A glória da minha justificação é de Deus, os méritos são de Cristo. Só a Deus toda
glória por nossa justificação que é por fé; fé que ele mesmo nos dá gratuitamente. Isso nos
faz lembrar as palavras de Cristo: "Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, por que
ocultastes estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos" (Mt.11:25).
Deus escolheu os fracos para envergonhar os fortes; as pessoas humildes, as desprezadas, as
que nada são para reduzir a nada as que são, com um propósito: Afim de que ninguém se
glorie diante de Deus, pois só este merece a glória (I Co 1:26-29). E nesta humilhação do
homem, os crentes, os que são de Cristo, para estes, Cristo é nossa sabedoria – a loucura do
Evangelho torna-se sabedoria pois é o próprio Deus encarnado se oferecendo a si mesmo para
salvar pecadores. Esta sabedoria está incluindo três coisas:
1. justiça: Cristo nos justifica com sua morte na cruz e sua obediência à Lei.
2. santificação: Cristo nos santifica. Jamais poderíamos nos santificar por nossas
próprias forças - "...desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem
efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fl.2:12-13).
3. redenção: Cristo pagou o preço de resgate com Seu sangue no Calvário.
Para que?
Para que o homem veja que ele não fez nada e por isso não tem do que se vangloriar.
Assim a glória é toda de Cristo.
Na doutrina protestante o homem é diminuído e Cristo é elevado. A Confissão de Fé de
Westminster expressa que Deus pré-ordenou todas as coisas para Sua própria glória, bem
como estabelece isso como sendo o fim principal do homem.: "O fim principal do homem é
glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" (Breve Catecismo pergunta 1). Isso porque a Bíblia
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diz: "Por que dele e por meio dele e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória
eternamente. Amém" (Romanos 11:36).
Manoel Canuto (Coordenador do Projeto Os Puritanos)
O CALVINISMO NO BRASIL
Pb. Rubens Cartaxo
Situação Religiosa: Catolicismo romano extremamente enraizado: mais de 300 anos de
dianteira católica na América Latina.
TENTATIVAS DE IMPLANTAÇÃO DO PROTESTANTISMO NO BRASIL
1555 - 1560: Invasão francesa no Rio de Janeiro (Villegaignon) - colonos huguenotes e
católicos
- 12 pastores comissionados por Calvino
- dissensões internas e perseguições aos huguenotes enfraqueceram a colônia, que foi
posteriormente destruída pelos portugueses.
- Confessio Fluminense: 1a confissão de fé protestante produzida no Brasil (Jean du Bordel)
1630 - 1654: Invasão holandesa no Nordeste
- Escolas e missionários foram colocados em pontos estratégicos, com o intuito de ganhar os
amerídios, mas sem muito sucesso. As conversões entre os católicos foram menores ainda.
- 1635: Reúne-se o 1o Sínodo Reformado da América.
- Expulsos os holandeses, o Brasil fechou-se para o protestantismo durante 150 anos.
SITUAÇÃO MUNDIAL NO INÍCIO DO SÉC. XIX
- O Império português estava em decadência
- A Inglaterra, após destruir as esquadras francesa e espanhola, torna-se a senhora dos
mares-1805- e dá os passos para tornar-se a nação mais poderosa do século XIX.
- Fuga da família real portuguesa para o Brasil - pressões da Inglaterra para abertura dos
portos (1810) - Comerciantes ingleses no Brasil - o tratado previa permissão para que os
estrangeiros construíssem locais de adoração. Era proibido, porém, que tivessem aparência de
igrejas e o uso da cruz no exterior dos templos.
- 1823: liberdade de culto aos estrangeiros. Proibição de fazer prosélitos. Cemitérios
protestantes
- 1o templo protestante no Brasil: anglicano-1819
- Imigrantes protestantes: sem impacto missionário na sociedade brasileira.
- Reação católica foi maior sobre os conversos brasileiros
- 1836: início da capelania evangélica aos marinheiros americanos: Obadiah M. Johnson, Justin
Spaulding e Daniel Kidder (metodistas, fundam a 1a igreja metodista no Brasil - 1836), Morris
Pease-1848, James Cooley Fletcher (presbiteriano) - 1851.
O CALVINISMO NO BRASIL
Congregacionais:
- Dr. Robert Reid Kalley (1809-1888)
- missionário entre refugiados portugueses nas Índias Ocidentais Britânicas e na Ilha da
Madeira.
- Chega ao Brasil em 1855 - trabalho entre os estrangeiros residentes em Petrópolis.
Conversão de 2 nobres: D. Gabriela A. Carneiro Leão e sua filha Henriqueta. Þ proibição de
fazer prosélitos e de exercer a medicina.
- intervenção do Imperador D. Pedro II a favor do médico escocês.
- seu mais importante trabalho foi a implantação de uma igreja protestante brasileira autosuficiente: Igreja Evangélica (Fluminense).
- sua esposa, Sarah Poulton Kelly, é autora de inúmeros hinos e tradutora de outros tantos.
Presbiterianos:
1859: A Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos resolve enviar o jovem
pastor Asbel Green Simonton ao Brasil como missionário. Simonton chega ao Brasil em 12 de
27
agosto de 1859.
- Simonton funda o primeiro jornal evangélico brasileiro: Imprensa Evangélica.
1860: Alexander L. Blackford no Brasil
1861: Francis J. C. Schneider
12/01/1862: os 2 primeiros convertidos são aceitos para a comunhão.
1862: 1a igreja presbiteriana do Brasil é organizada (Catedral Presbiteriana do Rio)
Francis Schneider muda-se para Rio Claro para trabalhar junto aos colonos alemães problemas
1863: Blackford muda-se para São Paulo - em visita ao interior encontra-se com o Pe José
Manoel da Conceição.
1864: José Manoel da Conceição converte-se
1865: José Manoel da Conceição é ordenado o 1o ministro protestante brasileiro. Torna-se um
grande difusor do evangelho (presbiterianismo).
Brotas: Várias conversões.
1880: Rev. John Boyle faz várias viagens pelo interior do Brasil, fazendo colportagem de
Bíblias. É o início da missão presbiteriana no interior do Brasil. O esforço deste e de outros
missionários estabeleceram a denominação presbiteriana no Brasil.
- Nas primeiras décadas, a polêmica entre protestantes e católicos foi a tônica. São famosos os
polemistas Álvaro Reis, Eduardo Carlos Pereira e Ernesto Luiz de Oliveira, que debatiam pelos
jornais com o jesuíta Leonel Franca.
História da Igreja Presbiteriana do Brasil
Dr. Alderi Souza de Matos
Atualmente existem no Brasil várias denominações de origem reformada ou calvinista.
Entre elas incluem-se a Igreja Presbiteriana Independente, a Igreja Presbiteriana
Conservadora e algumas igrejas criadas por imigrantes vindos da Europa continental,
tais como suíços, holandeses e húngaros. No entanto, a maior e mais antiga
denominação reformada do país é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Ao mesmo tempo,
convém lembrar que, já nos primeiros séculos da história do Brasil, houve a presença de
calvinistas em nosso país.
I. Primórdios do Movimento Reformado no Brasil
1. A França Antártica
Os primeiros calvinistas chegaram ao Brasil ainda no começo da nossa história. No final
de 1555, um grupo de franceses liderados por Nicolas Durand de Villegagnon instalou-se
em uma das ilhas da Baía da Guanabara. Um ano e meio mais tarde, chegou à "França
Antártica" um grupo de colonos e pastores reformados enviados pelo próprio João
Calvino, em resposta a um pedido de Villegagnon. No dia 10 de março de 1557 esses
evangélicos realizaram o primeiro culto protestante do Brasil, e possivelmente do Novo
Mundo. Eventualmente, surgiram desavenças teológicas entre Villegagnon e os
calvinistas. Cinco deles foram presos e forçados a escrever uma declaração de suas
convicções. O resultado foi a bela "Confissão de Fé da Guanabara." Com base nessa
declaração, três dos calvinistas foram executados e outro foi poupado por ser o único
alfaiate da colônia. O quinto autor da confissão de fé, Jacques le Baleur, conseguiu fugir,
mas foi preso e mais tarde enforcado. Entre os que conseguiram retornar para a França
estava o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde tornou-se pastor e escreveu a célebre
obra Viagem à Terra do Brasil (1578).
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2. O Brasil Holandês
A próxima tentativa de introdução do calvinismo no Brasil ocorreu em meados do século
XVII por meio dos holandeses. No contexto da guerra contra a Espanha, a Companhia
das Índias Ocidentais ocupou o nordeste brasileiro por vinte e quatro anos (1630-1654).
O mais famoso governante do Brasil holandês foi o Conde João Maurício de NassauSiegen, que aqui esteve por apenas sete anos (1637-1644). Embora os residentes
católicos e judeus tenham gozado de tolerância religiosa, a igreja oficial da colônia era a
Igreja Reformada da Holanda, que realizou uma grande obra pastoral e missionária. Ao
longo dos anos foram criadas 22 igrejas e congregações, dois presbitérios (Pernambuco
e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Além da assistência
aos colonos europeus, a igreja reformada fez um notável trabalho missionário com os
indígenas. Ao lado da pregação e ensino, houve a preparação de um catecismo na língua
nativa. Outros projetos incluíam a tradução das Escrituras e a ordenação de pastores
indígenas, o que não chegou a efetivar-se. Com a expulsão dos holandeses, as igrejas
nativas vieram a extinguir-se e por um século e meio desapareceram os vestígios do
calvinismo no Brasil.
3. O Protestantismo de Imigração
O protestantismo em geral e o presbiterianismo em particular puderam estabelecer-se
definitivamente no Brasil somente após a chegada da família real, em 1808. Em 1810,
Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado de Comércio e Navegação, cujo artigo XII,
pela primeira vez em nossa história, concedeu liberdade religiosa aos imigrantes
protestantes. Logo, muitos deles começaram a chegar de diversas regiões da Europa,
entre eles reformados franceses, suíços e alemães. Em 1827, por iniciativa do cônsul da
Prússia, foi fundada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, que
congregava luteranos e calvinistas.
Durante várias décadas, o calvinismo ficou restrito às comunidades imigrantes, sem
atingir os brasileiros. Os poucos pastores reformados ou presbiterianos que por aqui
passaram limitaram suas atividades religiosas aos estrangeiros. Tal foi o caso do Rev.
James Cooley Fletcher, um pastor presbiteriano norte-americano que teve uma longa e
frutífera ligação com o Brasil a partir de 1851. Ele deu assistência religiosa a marinheiros
e imigrantes europeus, procurou aproximar o Brasil e os Estados Unidos nas áreas
diplomática, comercial e cultural, e escreveu o livro O Brasil e os Brasileiros, publicado
em 1857. Por meio de seus contatos com políticos e intelectuais brasileiros, Fletcher
contribuiu indiretamente para a introdução do protestantismo no Brasil. Foi por sua
sugestão que o missionário congregacional inglês Robert Reid Kalley veio para o Brasil
em 1855. Finalmente, o presbiterianismo foi implantado entre os brasileiros pelo Rev.
Ashbel Green Simonton, que aqui chegou em 1859.
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Fonte: Igreja Presbiteriana do Brasil
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